Capítulo Oito
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Dentro do carro de aplicativo o silêncio entre os dois reinava. Nenhuma palavra havia sido dita, nem por %Adam%, nem por %Ellie%. Ambos estavam sentados no banco de trás do carro, com suas cabeças escoradas na janela. %Ellie% tinha os fones do celular no ouvidos, mas ela nem sabia que música estava ouvindo, ela simplesmente só queria evitar que %Adam% pudesse tocar no assunto.
Os pensamentos dela revivem o beijo de segundo em segundo, e ela sentia o coração agitado dentro do peito.
O silêncio do carro fazia parecer que o som de seus pensamentos ecoava ainda mais alto. Tudo o que ela conseguia pensar era no momento que haviam compartilhado no elevador — no calor do corpo de %Adam%, no toque dos lábios dele, na forma como seus corações pareciam bater no mesmo ritmo por um breve instante.
Ela balançou a cabeça, tentando afastar a lembrança.
"Isso não devia ter acontecido", repetia para si mesma, quase como um mantra. Mas por mais que dissesse isso, não conseguia ignorar o que sentira. O beijo a deixou mais confusa do que nunca. Desde que %Adam% começou a se afastar, ela tentava aceitar que eles tinham se distanciado e que ele agora estava com Emma. Era mais fácil acreditar que a amizade deles havia simplesmente mudado.
Mas, naquele momento, no elevador, tudo desmoronou. %Ellie% nunca havia enxergado %Adam% com outros olhos além da amizade. Ele sempre fora seu melhor amigo, alguém em quem ela confiava completamente, mas nada além disso. Então, por que ela havia deixado aquele beijo acontecer? Por que seus lábios ainda formigavam com o contato, como se estivessem aguardando por mais? E por que, mesmo agora, sentada no banco de trás do carro, ela ainda respirava ofegante, com o coração descompassado?
%Ellie% fechou os olhos e tentou organizar os pensamentos. O beijo a pegara de surpresa, mas não fora apenas o impulso do momento, o choque do elevador parando ou o susto de %Adam% esbarrando nela. Não. Havia algo mais profundo, algo que ela não conseguia explicar, que a fez retribuir o beijo ao invés de se afastar. Ela não parava de pensar na sensação dos lábios dele nos seus, no calor de seus corpos próximos, como se uma faísca tivesse acendido algo que estava adormecido dentro dela.
"Por que fiz isso?", pensava ela. Não era como se tivesse algum sentimento romântico por %Adam% antes disso... ou será que tinha e simplesmente nunca havia percebido? O pensamento a deixava ainda mais confusa. %Ellie% sempre achou que conhecia seus sentimentos em relação a ele, mas agora, depois daquele momento, ela não sabia mais. O que mais a incomodava era o fato de que o beijo parecia ecoar em sua mente de novo e de novo, e cada vez que se lembrava, seu corpo respondia com uma mistura de nervosismo e desejo.
Ela mordeu o lábio, tentando reprimir essas sensações.
"Foi um erro", disse para si mesma, embora soubesse que seu corpo e seus sentimentos não concordavam. O beijo havia despertado algo, e, agora, ela não sabia como voltar atrás.
Enquanto o carro seguia pelas ruas tranquilas, %Adam% também se perdia em seus pensamentos. Assim como %Ellie%, ele mal registrava o silêncio ao redor ou a cidade passando pela janela. Tudo o que conseguia pensar era no beijo. O gosto dos lábios dela ainda estava presente nos seus, e a lembrança do toque delicado dos corpos no elevador parecia marcada em sua pele. Ele sentia um turbilhão de emoções que o confundia.
%Ellie% sempre fora sua amiga mais próxima, quase uma irmã, alguém com quem ele sempre pôde contar. Mas o que havia acontecido? Por que ele permitiu que aquele beijo acontecesse? Pior ainda, por que o desejou tanto no momento em que aconteceu? Ele queria afastar esses pensamentos, voltar a vê-la como sua melhor amiga, mas o beijo abriu uma porta que ele não sabia se poderia ou queria fechar.
Emma era divertida, carinhosa, e parecia se importar genuinamente com ele. Nas últimas semanas, eles estavam se conhecendo melhor, e %Adam% gostava disso. Havia algo leve e fácil no relacionamento com Emma — não havia pressão, e ele se sentia confortável ao lado dela. Ela o fazia rir, eles compartilhavam muitos gostos e, acima de tudo, Emma era constante, segura. Ele sabia onde estava pisando quando estava com ela.
Mas por que, então, a lembrança do beijo com %Ellie% o abalava tanto? Ele gostava de Emma, e essa certeza deveria ser suficiente. Contudo, o que aconteceu no elevador voltou a plantar uma dúvida dentro dele, uma dúvida que ele não sabia como lidar. Ele estava comprometido em fazer as coisas funcionarem com Emma, mas agora não podia deixar de se perguntar o que realmente ainda sentia por %Ellie%.
%Adam% suspirou silenciosamente, sentindo o peso da situação se acumular sobre seus ombros.
"Foi só um beijo", ele disse a si mesmo, tentando racionalizar, mas no fundo sabia que não era apenas isso. Ele ainda estava atraído por %Ellie% de uma forma que nunca havia admitido, nem para si mesmo. O problema era:
o que fazer agora? Ele não queria magoar Emma, especialmente agora que estavam começando algo que poderia ser importante. Mas e quanto a %Ellie%? Ela era mais do que uma amiga, mais do que apenas uma pessoa com quem ele compartilhava memórias e risadas. Agora, ela era uma incógnita em sua vida, uma linha que ele não sabia se deveria ou poderia cruzar.
Quando o carro parou na rodoviária, o motorista anunciou a chegada com um breve “
chegamos”. %Ellie% foi a primeira a se mexer. Sem dizer uma palavra, ela retirou os fones dos ouvidos e, apressada, abriu a porta, saindo para o lado de fora. %Adam% observou enquanto ela se inclinava para pegar as malas, mesmo sabendo que estavam pesadas demais para ela carregar sozinha.
Sem se importar com a dificuldade, %Ellie% começou a puxar suas malas. O esforço visível em seus movimentos deixava claro que ela não conseguiria ir muito longe daquela forma, mas ainda assim, não pediu ajuda. O silêncio entre eles, que havia começado no carro, continuava a pesar no ar. %Adam% segurou a alça de sua própria mochila, pronto para ir ajudá-la, mas hesitou.
Ele sabia que %Ellie% precisava de espaço. Desde o elevador, algo havia mudado entre eles, e ela parecia tão confusa quanto ele. Talvez fosse melhor deixá-la processar aquilo sozinha, pelo menos por agora. %Adam% abriu a porta do outro lado e saiu devagar, observando-a caminhar à frente. As malas pesadas se arrastavam pelo chão, e ele sabia que, se ela continuasse assim, logo teria que parar para descansar. Mas ele preferiu esperar.
Com as mãos nos bolsos, %Adam% a seguiu a uma distância segura, dando-lhe o espaço que ela claramente desejava. Enquanto caminhava, ele não conseguia evitar o conflito dentro de si. Cada passo era uma lembrança do beijo no elevador, do modo como ela reagiu, do silêncio que se instalou entre eles. Ele sabia que, cedo ou tarde, teriam que falar sobre isso, mas agora não era o momento.
%Ellie%, por sua vez, continuava avançando, determinada a se distanciar o máximo possível, mesmo com a mala atrapalhando. %Adam%, atrás dela, suspirou. Talvez o tempo sozinho fosse exatamente o que ambos precisassem.
%Ellie% finalmente parou de andar quando encontrou um lugar vazio perto do portão onde eles aguardariam o ônibus. Com um suspiro cansado, ela largou a mala e se sentou em um dos bancos de metal. Seus ombros estavam tensos, e ela abaixou a cabeça, passando as mãos pelos cabelos. A confusão ainda fervilhava em sua mente, mas, pelo menos por enquanto, ela precisava de um pouco de descanso.
%Adam% a observou de longe, sentindo um aperto no peito ao vê-la tão abatida. Ele sabia que o que tinha acontecido no elevador estava pesando em ambos, e a distância entre eles parecia maior do que nunca. Ele não queria deixá-la sozinha, mas também sabia que ela precisava de tempo. Mesmo assim, não podia simplesmente ficar parado.
Ele se aproximou devagar, percebendo que %Ellie% não notava sua presença. O som dos anúncios da rodoviária e das pessoas ao redor preenchia o silêncio. %Adam% olhou para ela, com o rosto apoiado nas mãos, e tomou uma decisão.
— Vou buscar algo para a gente tomar um café, ok? — ele disse em voz baixa, sem esperar uma resposta.
%Ellie% apenas assentiu com a cabeça, sem levantar os olhos. %Adam% respirou fundo e se virou, caminhando em direção a uma pequena cafeteria perto da área de espera.
Enquanto esperava na fila, %Adam% refletia sobre o que deveria fazer. O beijo não saía de sua cabeça, mas ele sabia que não podia ignorar o fato de que estava conhecendo Emma. Ela era carinhosa, sempre atenciosa, e ele gostava de estar com ela. Mas, ao mesmo tempo, havia algo em %Ellie% que o atraía de uma maneira que ele não conseguia entender.
Depois de pedir dois cafés e alguns croissants, %Adam% voltou para onde %Ellie% estava sentada, esperando que, com um simples gesto, pudesse amenizar o clima tenso entre eles.
%Adam% se aproximou de %Ellie%, equilibrando os dois cafés e o pacote de croissants nas mãos. Ele parou na frente dela, hesitando por um instante, antes de estender um dos copos e o croissant.
— Aqui, achei que a gente podia comer alguma coisa enquanto espera.
%Ellie% levantou a cabeça devagar, seus olhos finalmente encontrando os dele. Ela pegou o café e o croissant com um breve aceno de cabeça, agradecendo em silêncio.
— Obrigada — murmurou, quase inaudível, antes de dar um pequeno gole no café.
%Adam% sentou-se ao lado dela, deixando a mala ao seu lado, e começou a comer o próprio croissant. O silêncio entre os dois permaneceu denso, quase palpável, mas nenhum deles parecia saber como quebrá-lo.
%Ellie% mastigava distraída, o sabor da comida passando despercebido. Sua mente ainda estava presa no beijo, nas sensações confusas que ele despertara. O silêncio entre eles, embora desconfortável, parecia ao mesmo tempo necessário. Talvez estivessem tentando processar o que significava aquele momento no elevador.
%Adam%, por sua vez, também não sabia o que dizer. A presença de %Ellie% ao seu lado o deixava inquieto, mas ele respeitava o espaço que ela parecia precisar. Eles ficaram assim por alguns minutos, dividindo o café e o croissant, mas sem trocar mais do que olhares breves e furtivos.
***
Dentro do ônibus, o silêncio entre %Adam% e %Ellie% continuava. Eles haviam escolhido assentos lado a lado, como sempre faziam, mas desta vez a distância entre os dois parecia maior do que nunca, mesmo que fisicamente estivessem tão próximos.
%Adam% colocou os fones de ouvido, buscando alguma distração. Ele mexeu no celular, procurando uma playlist que pudesse ajudá-lo a apagar os pensamentos que insistiam em rodopiar na sua mente, especialmente o beijo. Assim que a música começou a tocar, ele fechou os olhos, inclinando a cabeça para trás, na tentativa de relaxar.
%Ellie%, por sua vez, permaneceu quieta, olhando pela janela por alguns minutos, mas sem realmente ver a paisagem. Sua mente estava agitada demais para se concentrar em qualquer coisa ao redor. Eventualmente, seus olhos vagaram até %Adam%.
Ele estava com os olhos fechados, seu rosto sereno, como se tivesse conseguido encontrar algum tipo de paz, diferente da turbulência que ela sentia por dentro. %Ellie% o observou em silêncio. Seus traços fortes e definidos, o perfil familiar que ela conhecia tão bem… de repente, ela percebeu que estava analisando cada detalhe de seu rosto de um jeito que nunca tinha feito antes.
E então, como um trovão, o beijo voltou à sua mente. Ela se lembrou do choque inicial, da maneira como os lábios dele encontraram os dela, do calor que se espalhou pelo corpo de ambos e da forma como o tempo pareceu parar por um breve momento. Seu coração começou a acelerar novamente. Por que ela havia deixado aquilo acontecer? E por que, agora, mesmo depois de todo o desconforto e silêncio, seus lábios ainda formigavam ao lembrar do contato?
%Ellie% suspirou baixinho, desviando o olhar de %Adam%. Ela nunca o havia visto de outra forma, além de seu melhor amigo. Mas agora, após aquele beijo, tudo parecia diferente, mais complicado.
A confusão em sua mente era inegável.
A viagem até Tobermory transcorreu em um silêncio pesado, quebrado apenas pelo som suave da estrada e o barulho distante da música que %Adam% escutava em seus fones de ouvido. %Ellie% continuava a olhar pela janela, observando a paisagem que mudava gradualmente, mas sem realmente absorver os detalhes. Seus pensamentos giravam em torno do beijo, e toda vez que ela tentava afastá-lo da mente, ele voltava com mais força.
%Adam%, por outro lado, tentava se concentrar na música, mas não conseguia escapar da lembrança do que havia acontecido. O silêncio entre eles, que antes era confortável, agora parecia desconfortável, uma barreira que ambos não sabiam como atravessar. Ele pensava em Emma, na conexão que estavam criando, e em como tudo parecia certo com ela... até o beijo com %Ellie% confundir completamente seus sentimentos outra vez.
Horas se passaram sem que trocassem uma palavra, ambos presos em seus próprios pensamentos, evitando qualquer interação que pudesse trazer à tona o que estava entre eles. O ônibus fez algumas paradas rápidas, mas eles preferiram ficar em seus lugares, sem vontade de sair.
Quando finalmente chegaram a Tobermory, o som das rodas do ônibus sobre o asfalto irregular os tirou de seus devaneios. %Ellie% foi a primeira a se levantar, pegando sua bagagem antes de %Adam% ter a chance de ajudar. Ela saiu na frente, empurrando sua mala com dificuldade, mas preferindo lidar sozinha com isso. %Adam%, percebendo que talvez ela precisasse de um pouco de espaço, deixou que ela fosse, observando-a de longe enquanto pegava suas próprias coisas.
O ar fresco de Tobermory parecia carregado de novas tensões, e ambos sabiam que aquela viagem não seria apenas uma escapada tranquila.
***
Ao descerem do ônibus, o clima entre %Adam% e %Ellie% ainda era tenso, e o silêncio continuava a dominar. Cada um pegou suas malas e começou a caminhar em direções opostas. Por um breve momento, %Ellie% hesitou, sentindo o peso da situação, mas logo decidiu continuar em frente.
Agora que os pais de %Adam% haviam se mudado de casa e não eram mais vizinhos dos pais de %Ellie%, isso trouxe um certo alívio para ambos. Antes, o fato de morarem tão perto um do outro sempre os aproximava, mas agora essa distância geográfica parecia refletir a distância emocional que ambos sentiam, depois do beijo.
%Adam% seguiu pelo caminho conhecido até a nova casa de seus pais, que ficava mais afastada da rua principal de Tobermory. Enquanto caminhava, ele sentiu uma onda de alívio por não ter que passar na frente da casa de %Ellie%, algo que antes parecia tão natural, mas agora só traria mais confusão. Ele estava ansioso para se distrair e, talvez, entender melhor tudo o que estava sentindo.
%Ellie%, por sua vez, se dirigiu para a casa dos pais, sentindo o alívio de saber que %Adam% não estaria ali, como de costume. A ideia de ter tempo e espaço para processar tudo, sem se esbarrar com ele a qualquer momento, era reconfortante. Ela precisava de distância para reorganizar seus pensamentos e entender por que o beijo tinha mexido tanto com ela.
Mesmo sabendo que inevitavelmente se encontrariam durante a estadia na cidade, ambos se apegaram à sensação temporária de que, pelo menos por enquanto, estavam afastados o suficiente para respirar.
%Adam% chegou à nova casa de seus pais e foi recebido calorosamente. Sua mãe o abraçou com força, comentando o quanto ele havia emagrecido desde a última visita, enquanto seu pai, mais reservado, o cumprimentou com um tapinha no ombro. Eles rapidamente começaram a conversar sobre as novidades da cidade e o novo trabalho de seu pai. %Adam% se sentiu acolhido e confortável, mas não pôde evitar que seus pensamentos voltassem a %Ellie% e ao que havia acontecido entre eles. Ele tentou afastar essas preocupações, concentrando-se nas histórias que sua mãe contava sobre os vizinhos e a vida tranquila em Tobermory.
Enquanto isso, %Ellie% chegou à casa de seus pais, sendo recebida com a mesma empolgação. Sua mãe estava animada para ouvir todas as novidades, perguntando sobre o trabalho e a vida na cidade grande. O pai de %Ellie%, sempre mais descontraído, fez brincadeiras sobre a enorme mala que ela trouxe, o que arrancou algumas risadas. Mesmo cercada por esse carinho, %Ellie% sentia uma certa inquietação no peito. Ela se sentia em casa, mas sua mente ainda estava presa ao beijo, às emoções confusas que surgiram, e a %Adam%.
Embora ambos estivessem imersos nas conversas familiares, as lembranças e perguntas sobre o que aconteceria a seguir entre eles eram inescapáveis.
***
Naquela noite, na casa dos pais de %Ellie%, um jantar simples mas acolhedor estava preparado. A mesa estava arrumada com cuidado, e o cheiro de comida caseira preenchia o ambiente. %Adam% chegou pouco depois, e foi calorosamente recebido pelos pais de %Ellie%.
— %Adam%! — a mãe de %Ellie%, Sra. %Jones% o abraçou com entusiasmo. — Quanto tempo! Estávamos com saudades de te ver por aqui.
— É bom ver vocês também. — %Adam% respondeu, sorrindo de forma educada enquanto trocava um aperto de mão firme com o Sr. %Jones% — Vocês também têm feito falta.
— Olha só, ele nem parece mais um garoto! — o pai de %Ellie% disse com uma risada, o tom familiar e carinhoso de sempre. — Tobermory fica mais alegre quando você está por aqui.
%Ellie% observava a cena, tentando sorrir, mas o nervosismo por dentro era palpável. Os pais de %Adam% sempre tinham sido parte da vida dela, como os próprios pais, então quando eles chegaram, o tratamento foi igualmente caloroso. A mãe de %Adam%, sorridente, abraçou %Ellie% com carinho, enquanto o pai fazia seus comentários amigáveis sobre como ela cresceu desde que eram vizinhos.
— E então? Estão animados para o acampamento de amanhã? — a Sra. Hayes perguntou, enquanto todos se acomodavam ao redor da mesa. — Como nos velhos tempos!
%Ellie% trocou um olhar rápido com %Adam%, ambos mantendo sorrisos tensos.
— Sim, claro! — %Ellie% respondeu com entusiasmo forçado, mexendo na comida com o garfo. — Vai ser ótimo, mal posso esperar.
%Adam% assentiu, tentando esconder o desconforto.
— Vai ser bom voltar lá com vocês — ele disse, forçando uma certa leveza na voz. — Faz muito tempo que não acampamos juntos.
— É verdade — o pai de %Ellie% riu. — Os dois eram inseparáveis, passavam o tempo todo explorando as trilhas e tentando pescar alguma coisa.
Ambos riram baixinho, mas a tensão era palpável. Nenhum deles conseguia parar de pensar no beijo, e no que isso significaria para o acampamento, agora que tudo estava diferente.
Com o jantar prestes a ser servido, as mães de %Adam% e %Ellie% se levantaram da mesa, rindo enquanto se dirigiam para a cozinha para finalizar os preparativos.
— Deixa que a gente termina aqui, vocês fiquem à vontade — disse a Sra. %Jones%, já ocupada organizando algumas travessas. A mãe de %Adam% a acompanhou, e logo as duas estavam trocando receitas e histórias antigas na cozinha.
Os pais dos dois também começaram a se envolver numa conversa animada sobre esportes, algo que sempre conectava as famílias.
— E o hockey? A temporada está boa? — o Sr. %Jones% perguntou ao pai de %Adam%, que imediatamente entrou no assunto.
A conversa foi se desenrolando em torno de jogos de hockey e futebol, mas rapidamente ficou claro que %Adam% e %Ellie% estavam meio deslocados. Sentados lado a lado no sofá da sala, o clima entre eles era pesado, ainda mais agora que estavam praticamente sozinhos. O som abafado das vozes dos pais ecoava na sala de jantar, mas os dois mal conseguiam se concentrar em qualquer coisa além do silêncio entre eles.
%Ellie%, inquieta, mexia no cabelo, evitando olhar para %Adam%. Ele, por sua vez, passava os dedos nervosamente pelas calças, sem saber como iniciar uma conversa depois de tudo que aconteceu. Ambos estavam tão cientes do beijo que parecia ser a única coisa que preenchia o ar ao redor deles.
Depois de alguns segundos que pareceram uma eternidade, %Adam% finalmente respirou fundo, quebrando o silêncio.
— Isso está meio esquisito, né? — ele murmurou, mantendo o tom baixo para que os pais não ouvissem.
%Ellie% desviou o olhar, mordendo levemente o lábio antes de responder.
— É... um pouco — ela admitiu, o coração acelerando. — Mas não podemos deixar isso atrapalhar o fim de semana, certo?
%Adam% assentiu lentamente, mas o desconforto em seu rosto era evidente.
— Claro. A gente precisa... sei lá, relaxar e tentar não pensar muito nisso. — Ele coçou a nuca, visivelmente tenso. — Pelo menos, é o que eu estou tentando fazer.
Os dois trocaram um olhar rápido, e %Ellie% tentou dar um sorriso que não alcançou seus olhos. As coisas não seriam fáceis dali em diante, mas ambos sabiam que teriam que manter as aparências, pelo menos até o fim de semana acabar.
***
O jantar finalmente estava servido, e todos se reuniram ao redor da mesa. A comida estava impecável, como sempre, preparada com o carinho que as mães de %Ellie% e %Adam% sabiam dedicar a cada prato. Conversas fluíam naturalmente, envolvendo todos na mesa em risadas e memórias.
— A comida de vocês continua imbatível! — elogiou o pai de %Adam%, rindo enquanto pegava mais uma porção de lasanha. — Se eu tivesse isso todos os dias, estaria perdido.
— Ah, imagina! — a mãe de %Ellie% respondeu, orgulhosa. — Mas fico feliz que você goste.
Entre conversas sobre os velhos tempos, histórias de infância e atualizações sobre o que cada um andava fazendo, o clima na mesa parecia muito mais leve do que o que %Adam% e %Ellie% haviam experimentado momentos antes. Eles se esforçavam para interagir normalmente, ainda que de vez em quando os olhares se cruzassem e a tensão entre os dois se fizesse presente, ainda que sutil.
Quando todos terminaram de comer, os pais começaram a se levantar, satisfeitos com o jantar.
— Eu ajudo a arrumar a cozinha — disse o pai de %Ellie%, levando os pratos para a pia.
— Ah, deixa isso com os jovens — sugeriu a mãe de %Adam%, piscando para %Ellie% e %Adam%. — Eles podem se encarregar disso enquanto a gente descansa um pouco.
— Claro, sem problemas — %Adam% respondeu rapidamente, levantando-se. Ele já se dirigia para a pia quando completou: — Eu lavo a louça.
%Ellie%, sem pensar muito, também se levantou.
— Eu ajudo — disse, pegando os pratos restantes da mesa e seguindo %Adam% até a cozinha.
Assim que ficaram sozinhos na cozinha, o som abafado das conversas dos pais foi substituído pelo correr da água na pia. %Adam% começou a lavar os pratos em silêncio, enquanto %Ellie% secava e os guardava nos armários. Eles trocavam poucos olhares, mas o clima parecia ligeiramente menos tenso, como se a rotina de limpar a cozinha oferecesse uma distração temporária.
— Obrigada por ajudar com isso — %Adam% disse de repente, sem olhar diretamente para ela.
%Ellie% apenas deu um breve sorriso, assentindo.
— Não tem de quê. É o mínimo que eu posso fazer depois de um jantar tão bom.
O silêncio voltou a se instalar, mas dessa vez, era menos desconfortável. Mesmo com a lembrança do beijo ainda pairando entre eles, os dois pareciam encontrar um breve momento de normalidade. %Ellie% observava as mãos de %Adam% trabalhando na louça, e por um instante, se perguntou se algum dia conseguiria olhar para ele do mesmo jeito de antes, sem lembrar da intensidade que compartilharam no elevador.
Por enquanto, aquele silêncio confortável, ainda que cheio de coisas não ditas, era suficiente para os dois.