Dahlia Negra


Escrita porStephanie Pacheco
Revisada por Natashia Kitamura


CAPÍTULO UM

Tempo estimado de leitura: 24 minutos

  Tudo aconteceu como um filme passando por seus olhos. Em um instante, o caos estava instaurado para todos os lados, uma fenda gigantesca cortava os céus, mostrando inúmeras camadas dele, e criaturas de todos os universos estavam posicionados em uma barreira, ansiando passaram por ela porque todas tinham um alvo em comum: Peter Parker, o amigão da vizinhança.
  Ou, pelo que ele havia entendido, uma das versões dele. Aquilo era bastante confuso.
  Quem é que ia imaginar a existência de mais de um Peter Parker?
  Ele não tinha imaginado, mas estava adorando aquilo.
  A sensação de adrenalina era maior do que qualquer uma experimentada há muito tempo e não era apenas por estar enfrentando vilões de realidades alternativas. Para aquele Peter, era como se de repente as coisas tivessem voltado a ter sentido. Salvar o mundo tivesse um sentido, um propósito antes esquecido nas profundezas de sua mente, sufocado pela dor.
  Mais do que isso, ali, em meio àqueles que sentia serem seus irmãos, era como se Peter estivesse completo novamente. Como se o vazio desde a partida de sua amada Gwen Stacy fosse um pouquinho preenchido.
  No entanto, por mais completo que se sentisse, aquele não era o seu lugar. Aquele universo não era dele, pertencia a outro Peter Parker.
  Durante milissegundos decisivos, desejou internamente que houvesse alguma forma de continuar ali, mas sabia que não era possível. Não podia bagunçar a realidade daquela forma e o Peter daquele universo precisava fazer aquele sacrifício.
  Um sorriso saudoso se formou em seus lábios assim que se afastou do Parker mais velho, aquele que em poucas horas lhe passou todos os ensinamentos que ele precisava, ou talvez uma boa parte deles, mas havia coisas das quais nem se dera conta.
  Não queria voltar porque não tinha para quem voltar, mas quando o momento chegou, uma pontada de esperança sussurrou em seu ouvido que ele estava pronto e no fim das contas acabaria achando idiota toda a ideia de continuar em outro universo diferente do seu.
  E, vai saber, talvez existissem magos e todas aquelas coisas em seu mundo, ele só precisava dar uma procurada.
  Esperou ser puxado com força, sugado por um redemoinho ou até mesmo que fosse sentir todas as suas células queimarem ao atravessar a fenda dos multiversos. Peter até mesmo cogitou que ficaria tonto com imagens passando rapidamente ao seu redor, mas nada daquilo aconteceu.
  Na verdade, foi como se ele tivesse piscado. Num instante estava diante de outras duas versões de si mesmo, no seguinte, voltou a ser apenas ele.
  Havia acontecido do mesmo jeito em sua ida, por que mesmo esperava algo diferente na volta?
  Riu de si mesmo. Aquilo já não importava mais.
  Não se surpreendeu muito ao ver a noite de New York recebê-lo de braços abertos. Quando Peter partiu, estava em seu lugar favorito da cidade, o alto do Empire State Building, e não foi surpreendente ter voltado exatamente para lá.
  Deixou que o suspiro preso ecoasse de seus lábios e estava prestes a retomar o que ele sabia fazer melhor, proteger a cidade, quando seu cérebro começou a processar todas as coisas que havia acabado de presenciar.
  Ele havia saído de seu universo para ajudar um Peter mais novo, na companhia de um Peter mais velho, a deter vilões que ambos já haviam enfrentado.
  Não, deter não era o termo certo. Sua missão era curar aqueles vilões.
  E ela foi bem-sucedida. Todos os vilões foram de fato curados.
  Teria aquilo afetado o seu universo?
  O quanto?
  Seria possível que aquele passado tivesse sido alterado?
  Se sim, aquilo poderia significar que…
  — Gwen.
  O nome escapou pelos lábios de Peter em um murmúrio de esperança e, sem parar para pensar em mais nada, ele simplesmente lançou uma de suas teias em direção ao prédio mais próximo.
  Seu coração estava disparado enquanto praticamente voava entre as construções, tudo passava como um borrão simplesmente porque o foco dele era apenas um.
  Quando parou na entrada do cemitério, o frio percorreu a espinha de Peter Parker e um medo absurdo tomou conta de si.
  No entanto, o medo não o paralisava, muito pelo contrário, era o gás para que ele seguisse em frente.
  E foi o que Peter fez.
  Ele podia escutar o eco de seus sapatos batendo contra o chão, por mais que outros sons noturnos tomassem conta do ambiente.
  Sua respiração foi ficando cada vez mais descompassada conforme seus olhos passavam pelas lápides e ele lia os nomes, mesmo sabendo exatamente onde estava aquela onde havia deixado sua amada e seu coração.
  Parou a poucos metros dela, fechando os olhos rapidamente e os apertando com força. Um nó de nervosismo se formou em sua garganta e parecia que a qualquer momento seu coração pularia de seu peito.
  Em mais um surto de coragem, Parker se aproximou daquela lápide e assim que seus olhos bateram no nome ali escrito, foi como se ele sentisse toda a dor novamente.
  Não importava quantas alterações acontecessem em seu universo, nada traria sua Gwen de volta.
  E constatar aquilo quase o fez desabar novamente.

🕷

  — Está atrasado, não vou pagar por isso! — A voz de Jameson despertou Peter de seus pensamentos e só então ele se deu conta de que havia voltado ao modo automático.
  Ele fazia aquilo como uma forma de abafar a dor que sentia.
  E odiava.
  — Parker! Estou falando com você!
  Aquilo o fez piscar os olhos rapidamente, focando no editor chefe do Clarim Diário e tentando encontrar alguma pista do que exatamente ele estava falando.
  Pela expressão desgostosa do homem, não era muito difícil de acertar.
  — Você está demitido, Parker! Rua! — Jameson repetiu, ainda mais irritado pela falta de respostas.
  Peter balançou a cabeça em negação.
  — Não pode me demitir, senhor. Eu não sou seu empregado fixo. — Teria rido da situação se Jameson não parecesse prestes a explodir em sua frente. — E se não pagar pelas fotos, vou vendê-las para alguém que faça isso.
  Tudo bem, ele devia ter guardado o último comentário para si.
  — O que foi que você disse? Não vou aceitar esse tipo de coisa no meu jornal! Você está…
  — Vamos pular para a parte que eu te mostro mais essas fotos — as colocou em cima da mesa, vendo os olhos do chefe faiscarem — e você me paga o dobro do que costuma pagar.
  Aquele era um movimento ousado, mas Peter realmente precisava do dinheiro e as fotos estavam em ângulos realmente bons.
  Isso que ele nem tinha posado para elas.
  Mais uma vez, Peter quis rir, não apenas por seus pensamentos, mas porque Jameson estava vermelho a ponto de desconfiar que a cabeça do homem voaria do corpo a qualquer segundo.
  — O dobro do preço? Ficou maluco? — Pegou as fotos e foi olhando uma por uma. — Feito! Agora some da minha frente, preciso pensar na manchete para desmascarar esse salafrário.
  Parker saiu de dentro da sala e, enquanto entrava no elevador, acabou soltando uma risada que morreu em um suspiro.
  Tudo estava ridiculamente igual.
  No entanto, não era porque estava tudo igual, que precisava ser péssimo, certo? O Peter mais velho tinha o ajudado a ver que ainda havia algo de especial nele.
  Ele era espetacular.
  Aquilo devia valer alguma coisa.
  Decidiu então que visitaria sua tia May, passaria com ela o tempo que não passava desde o dia que se mudou. Era mais seguro se ele se mantivesse afastado, mas a verdade era que sentia saudades dela e, no fim das contas, Peter não precisava enfrentar tudo completamente sozinho.
  Parker mais uma vez se distraiu em sua própria cabeça e só se deu conta de que havia deixado o prédio do Clarim Diário quando abriu a porta e sentiu o vento de New York bater contra o seu rosto.
  Colocou as mãos nos bolsos do casaco, de repente sentindo falta também do skate que havia aposentado já fazia algum tempo, então seguiu para a direita.
  Ou ao menos ele tentou fazer isso, porque, no mesmo instante, sentiu seu corpo colidir com outro um tanto mais leve e mais baixo que o dele.
  Parker levou um milésimo de segundo para perceber que havia esbarrado em uma mulher e mais um para segurá-la pelos ombros, impedindo sua queda.
  A moça arregalou os olhos em sua direção e rapidamente se soltou de Peter, puxando a blusa para baixo como se tivesse se erguido demais ou algo do tipo.
  — Oh, me desculpe. Eu estava completamente distraído e não vi você vindo — a fala dele saiu assim que seus olhos focaram no rosto da garota.
  Ela abriu um sorriso fraco.
  — Tá tudo bem. Eu também estava. — Deu de ombros. — Obrigada por me salvar de uma queda que seria épica. — Piscou para ele, então se virou e começou a andar na direção contrária, a passos tão rápidos que Parker mal conseguiu respondê-la.
  — Não tem de quê. — Peter coçou a nuca, completamente confuso com o que havia acabado de acontecer, mas ele não tinha tanto tempo assim para entender, então tratou logo de imitar o dar de ombros dela e retomar seu plano.

🕷

  A campainha precisou ser tocada por umas três vezes antes que tia May finalmente a atendesse. E assim que abriu a porta, mal conseguiu disfarçar a surpresa em ver o sobrinho.
  — Peter! Que surpresa você aqui! Aconteceu alguma coisa?
  Uma pontada de culpa fez Parker desviar o olhar para baixo, então ele suspirou e negou com a cabeça, voltando a encarar a tia.
  — Não posso mais fazer uma visita? — brincou, abrindo os braços e não tardando a sentir a mulher agarrá-lo em um abraço apertado. — Desculpe não ter vindo antes, tia May, eu…
  — Você não precisa se explicar para mim, querido. As coisas não estão fáceis, eu já imagino. — O apertou um pouco mais, então o soltou para encará-lo no rosto, analisando cada uma das feições de Peter. — Você está dormindo direito? Está comendo?
  Parker riu.
  — Claro que estou, mas achei que seria uma boa ideia matar as saudades da sua comida. Eu aceito até aquele seu bolo de carne.
  Automaticamente, uma expressão saudosa tomou conta das feições de May e eles trocaram um olhar cúmplice.
  — Entre, querido, e não me fale mais nesse bolo de carne! Não acredito que você e seu tio me enganaram por anos dizendo que gostavam dele! — resmungou, então fez um gesto para que o sobrinho a acompanhasse até a cozinha.
  Peter puxou uma cadeira para se sentar e ficou observando cada canto do lugar. Nada ali havia mudado também, mas pela primeira vez ele sentiu seu coração aquecer com aquilo.
  Tia May continuava ali por ele.
  Por que havia se esquecido daquilo?
  — Me desculpe. — As palavras escaparam antes mesmo que ele pudesse se controlar.
  May, que estava retirando alguns ingredientes do armário, se virou para olhá-lo com uma confusão bem nítida.
  — Por ter te deixado sozinha.
  — Já falei que não precisa disso, Peter. Eu entendo. Passei pelo que você passou.
  De fato, ela havia passado. May havia perdido Ben já fazia alguns anos.
  No entanto, pela forma como a tia o olhou, estava claro que ela não esquecia daquilo por nenhum minuto sequer.
  Parker suspirou.
  — E como anda a faculdade? — ela puxou assunto, ligando o fogão e colocando a panela com água ali.
  — Ah, tá ótima. Me ofereceram essa vaga de professor assistente, mas ainda tô pensando no assunto e…
  — Peter, isso é maravilhoso! — As feições de May se iluminaram e só por isso ele cogitou aceitar de fato a proposta.
  O problema era que Parker não fazia ideia de como conseguiria conciliar dois empregos enquanto bancava o amigão da vizinhança.
  — Peter!
  Piscou os olhos rapidamente ao notar que tinha se perdido pela milésima vez em pensamentos, enquanto a tia o olhava curiosa.
  — Desculpe. Eu estava pensando em umas coisas aqui.
  — Me diga que aceitou o emprego, Peter Parker! — A mulher estreitou os olhos em sua direção e o homem estremeceu, o que era bastante cômico.
  Afinal, ele lutava contra vilões e estava ali, tremendo com um olhar sério da tia May.
  — Tudo bem, eu vou pensar em aceitar, mas só porque a senhora tá insistindo.
  — Vai pensar? — May colocou a mão na cintura.
  — Preciso ter certeza de que vou dar conta disso. Eu já tenho um emprego, tia May.
  — Naquele jornal que só fala mentiras sobre o Homem Aranha? Suponho que te pagam bem demais, certo?
  Peter não conseguiu evitar o pequeno sorriso que se formou em seus lábios. Ver a tia defendê-lo, mesmo que ela ainda não soubesse da identidade do cabeça de teia, não tinha preço.
  Por alguns instantes, a conversa silenciou entre os dois e o ambiente foi tomado pelos sons das panelas no fogo e da televisão, onde passava o noticiário local.
  — E aconteceu novamente. As autoridades identificaram aquela que seria a quarta vítima do ser encapuzado que anda assolando as ruas de New York.
  Parker franziu o cenho ao ouvir aquilo.
  Ser encapuzado? Vítimas?
  Quando foi que aquilo começou a acontecer?
  Ele não se lembrava de nada daquilo acontecendo quando partiu em sua missão para ajudar o Peter Parker mais novo.
  — Segundo informações, a quarta vítima é ninguém mais, ninguém menos, que Hank Winston. O homem era procurado pela polícia por cometer diversos crimes, dentre eles homicídio e estupro.
  Espera, a vítima era um assassino?
  Mas o quê…
  — Esse é o quarto procurado pela polícia que é encontrado morto e em condições bastante similares. E devido à presença de um item em comum, o possível justiceiro encapuzado ganhou um nome. Quem será o próximo alvo do Dahlia Negra?
  — Dahlia Negra? Sério? — Parker resmungou, avaliando se aquele de fato era um bom nome para um justiceiro.
  E por que aquilo era relevante, afinal de contas?
  — Em que planeta você esteve, Peter? Os noticiários não falam mais em outra coisa. Me surpreende que não tenham pedido fotos dele para o jornal — May comentou, enquanto mantinha sua atenção voltada para a panela de molho que mexia.
  O que foi ótimo. Parker a olhou boquiaberto.
  Não, ninguém havia pedido aquelas fotos pra ele, ou ao menos não havia se dado conta disso.
  Mas como Peter não tinha a mínima ideia sobre essa história de Dahlia Negra, sendo que estavam falando daquilo o tempo todo?
  Alguma coisa de fato havia mudado em seu universo, afinal.
  — É claro que eu sei sobre o Dahlia Negra, tia May. O senhor Jameson só tem o alvo dele muito bem definido para pensar em qualquer outro. — Deveria se sentir mal por mentir, mas não se sentia, afinal, não havia como explicar para a mulher que ele havia viajado pelo multiverso sem correr o risco de deixá-la maluca.
  — E o Homem Aranha? — Aquela pergunta fez Peter erguer seu olhar para a tia, mas ainda assim ela não mudou sua posição.
  — O que tem ele? — Parker coçou a nuca, fingindo não entender.
  — Ele não está atrás desse justiceiro?
  — Como eu poderia saber disso, tia May? — O homem riu, o que finalmente atraiu a atenção da mulher.
  — Você não é o fotógrafo do Homem Aranha? — Ergueu uma sobrancelha em sua direção e Peter teve a sensação engraçada de que May sabia de algo.
  — S-sim. Claro! Eu tiro fotos dele — afirmou prontamente, vendo um sorrisinho se formar nos lábios da tia.
  — Pois então. Eu imagino que se ele estiver atrás desse justiceiro, a sua câmera não terá problemas em descobrir.
  — Não mesmo. Talvez ele só esteja esperando a hora certa de agir. — Deu de ombros.
  — Bom, a hora é essa.
  Por um segundo, Peter sentiu vontade de desabafar e contar tudo para a tia.
  Então a imagem de Gwen morta em seus braços mais uma vez assombrou seus pensamentos.
  Todas as pessoas que sabiam da identidade do Homem Aranha sofriam as consequências e ele não podia fazer aquilo com a tia.
  Tão súbita quanto veio, a vontade passou.

🕷

  Peter não queria ir até a faculdade naquele dia. Sentia falta da companhia de tia May e conseguia perceber no olhar dela que era recíproco.
  Ela foi cabeça dura quando ouviu a sugestão dele de passarem o restante do dia juntos e insistiu que Parker fosse cuidar de seus compromissos. May entendia que ele era um rapaz ocupado e estava tudo certo, nada a faria amá-lo menos.
  O sorriso terno da tia ficou gravado em seus pensamentos enquanto os vultos dos prédios passavam ao redor de Peter. Prometeu para si mesmo fazer de tudo para visitar a mulher com mais frequência e permitiu então que seus pensamentos seguissem para a notícia que o havia deixado em estado de alerta.
  Ele tinha certeza de que não havia nenhum Dahlia Negra quando partiu para sua mais recente aventura e isso deixava bem claro que sua realidade não estava tão inalterada quanto imaginava.
  O que mais havia mudado?
  Sentindo a necessidade de descobrir, Parker mal conseguiu prestar atenção às aulas que teve e praticamente correu até a biblioteca assim que teve a chance.
  A ampla quantidade de computadores e o acervo repleto das mais variadas edições de jornais foram alguns dos motivos que o levaram até aquele lugar além de qualquer outro.
  Também havia o fato, é claro, de que ele precisava de um ambiente rigorosamente silencioso, onde a chance de algo interrompê-lo ou alguém bisbilhotar o que ele fazia era muito pequena.
  E Peter Parker gostava da biblioteca. Ajudava a sua cabeça agitada a colocar as coisas em ordem.
  Sentando-se à mesa com um computador mais distante que conseguiu, ele tratou de abrir as páginas dos maiores jornais da cidade, procurando todas as informações possíveis sobre o Dahlia Negra.
  Peter foi traçando uma linha do tempo no sentido inverso, começando pelo que se sabia de mais recente até chegar ao possível ponto de partida, onde o justiceiro teria atacado pela primeira vez.
  A vítima — ou seria bandido? Aquilo estava confuso em seus pensamentos — possuía diversas denúncias por assassinato, mas havia algumas diferenças. Por exemplo, a cena de crime apresentava diversos indícios de luta corporal, o que quase não existia na cena mais recente, e Parker se questionou se era por falta de experiência do justiceiro ou talvez sua intenção inicial não fosse matar aquele homem. E algo dentro do amigo da vizinhança torceu para que a segunda opção fosse a correta.
  Seus olhos percorreram as páginas mais algumas vezes e, com um caderno à sua frente, ele foi anotando pistas que poderiam levá-lo à identidade do Dahlia Negra. No entanto, mesmo em seu primeiro ataque, o justiceiro havia tomado cuidado para não deixar nada indesejado para trás.
  Aquilo seria mais difícil do que Peter imaginava.
  Não desistiria. E se não conseguia descobrir nada sobre sua identidade, talvez ele pudesse prever ao menos sua próxima vítima.
  Um movimento bem próximo ao lugar em que Parker estava o fez parar tudo o que fazia e erguer a cabeça sutilmente, focando sua atenção ao seu redor, usando de seu sentido aranha que, de fato, nunca falhava.
  Seu olhar se direcionou para uma das prateleiras.
  Peter não estava sozinho naquela seção, mesmo não vendo ninguém, ele sabia daquilo.
  Esperou por alguns segundos, mantendo o completo silêncio, então desviou o olhar novamente para o computador, fingindo se dar por vencido.
  Pelo canto dos olhos, percebeu uma sombra espiá-lo por entre os livros e voltou a erguer a cabeça em sua direção.
  — Olá? — resolveu se pronunciar, apurando os ouvidos mais uma vez.
  Quem sabe era apenas algum calouro assustado, mas a atitude de se esconder não deixava de ser suspeita.
  Se levantou sem conseguir esperar ali onde estava e seguiu de forma silenciosa para as prateleiras, não recebendo resposta alguma ao seu chamado.
  — Oi? Tem alguém aí? — repetiu ainda assim, e no instante em que dobrou o corredor onde ele sabia que estava a sombra, sentiu seu corpo colidir pela segunda vez com alguém naquele dia.
  E pela segunda vez o seu sentido aranha o fez se adiantar e segurar a outra pessoa pelos ombros, impedindo a sua queda.
  Quando seus olhos focaram em quem estava à sua frente, um misto de surpresa e desconfiança tomou conta de suas feições e imediatamente Peter Parker estreitou seu olhar.
  — Está me seguindo? — Foi a primeira coisa que questionou, achando que era coincidência demais ele esbarrar duas vezes na mesma pessoa no mesmo dia.
  — Eu… — Os olhos da mulher se arregalaram exatamente da mesma forma de antes.
  — Você? — Parker insistiu, percebendo um certo nervosismo nas feições dela e aquilo denunciava que de fato estava se escondendo atrás da prateleira, logo, estava mesmo o seguindo.
  — Desculpe! — Desviou o olhar para as mãos do homem em seus ombros. — Você pode me soltar?
  Peter hesitou.
  — Pra você sair correndo sem me dizer por que está me seguindo? — A encarou com astúcia.
  — O quê? Não! Eu não estou seguindo você, Peter… — Mais uma vez, o nervosismo estava aparente.
  — Opa! Então você sabe o meu nome. — Um sorrisinho quis se formar nas feições dele, porém Parker se manteve sério. A moça parecia inofensiva, mas havia aprendido de forma trágica que não se podia confiar em qualquer pessoa.
  — Sim. Você é o Peter Parker. Todo mundo daqui te conhece, sabe? — Soltou uma risadinha, então o encarou bem nos olhos e respirou fundo. — Mas não estou te seguindo, tá legal? Você pode me soltar? — pediu mais uma vez e o rapaz acabou cedendo, se mantendo preparado para o caso de ela tentar fugir.
  Precisava mesmo saber o motivo de ela estar claramente se esgueirando atrás de uma prateleira e se havia visto alguma coisa sobre as pesquisas dele.
  — Tudo bem. Agora que eu te soltei você vai me dizer por que estava se escondendo se não estava me seguindo? — Arqueou uma sobrancelha.
  — Você já deu uma olhada na seção em que nós estamos, Peter Parker? — a moça indagou, fazendo-o questionar mentalmente o que aquilo tinha a ver. — Talvez nem tudo seja sobre você.
  Aparentemente, o nervosismo dela havia ido embora e seu olhar se fixou nele em desafio.
  — O quê? — Peter se sentiu atordoado.
  — A seção. Se você gostar desse tipo de livro, eu posso te recomendar alguns. — Indicou a prateleira atrás de si e Parker sentiu seu rosto esquentar ao notar alguns títulos bastante sugestivos. — Você gosta de Cinquenta Tons de Cinza? — ela provocou.
  Foi a vez dele rir nervoso.
  — Então você estava aqui lendo livros… ahm.. eróticos? — pigarreou em meio à fala.
  — Não, Parker. Eu estava escolhendo um para ler em casa. — Ela sorriu de canto.
  Era bem mais fácil quando ela estava envergonhada.
  — Bom… Foi mal então. — Levou uma mão aos cabelos, bagunçando-os simplesmente porque não sabia o que fazer.
  O sorriso da garota se alargou.
  — Tudo bem. Mas até que foi engraçado esse negócio de você achar que eu estava te seguindo.
  Parker riu e estava pronto para dar as costas a ela e procurar o primeiro buraco onde pudesse se esconder, até que algo lhe ocorreu.
  — Se isso aí é verdade mesmo, como é que esbarrei justo em você mais cedo? — Seu cenho se franziu, porém, a expressão dela permaneceu a mesma.
  — Eu trabalho na floricultura ao lado do Clarim Diário. Você passa por mim há anos, Peter.
  Como ele nunca havia reparado naquilo?
  Talvez porque seus pensamentos sempre estiveram focados em outras coisas.
  No entanto, mais uma coisa lhe ocorreu.
  Ela reparava nele.
  A sombra de um sorriso se formou em seus lábios.
  — Bom, será que eu consigo me redimir um pouquinho se perguntar qual é o seu nome?
  Ela o encarou por alguns segundos, como se ponderasse se ele realmente merecia uma resposta.
  Então acabou sorrindo.
  — %Reyna% %Bennington%, mas você pode me chamar de %Rey%.
  Peter gostou do nome dela. Combinava perfeitamente com a garota.
  — É um prazer te conhecer, %Rey%. Estou redimido? — Sorriu de volta para ela.
  — Ah, não. Você não está nem perto disso, Parker.
  Aquilo o fez erguer uma sobrancelha.
  — Não estou?
  — Não. Não está. — %Reyna% umedeceu os lábios. — Mas se você realmente está interessado nisso, anota o meu número e eu posso pensar se te dou alguma dica. — Piscou para o rapaz.
  O olhar de Peter se direcionou para os lábios da garota, achando bastante atraente a forma como eles se curvara. No entanto, um outro sorriso surgiu em seus pensamentos e seu estômago pareceu afundar enquanto seu peito se apertava.
  Ele estava mesmo flertando com %Reyna%?
  Pigarreou.
  — Eu… Desculpa, %Rey%. Você parece ser uma pessoa muito legal e tudo mais, mas não posso. Eu… Eu gosto de alguém e…
  — Tudo bem, Parker. — Porém o sorriso de %Bennington% murchou um pouco e ela lutou ao máximo para disfarçar aquilo. — Mas se achar que precisa de uma amiga ou algo do tipo, você consegue me encontrar. Pelo que vi, você gosta de uma boa pesquisa. — Indicou o computador onde ele estava, fazendo-o olhar naquela direção.
  Peter não soube explicar, porém ao mesmo tempo em que se sentia culpado por pensar em aceitar o convite de %Reyna%, ele também se sentiu por não aceitar.
  — %Rey%… — Se virou mais uma vez para encarar a garota.
  E descobriu que ela não estava mais ali.

CAPÍTULO UM
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