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História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

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Cruel Warmth

Escrita porSoldada
Revisada por Natashia Kitamura

CAPÍTULO 04 • THE CAT’S TALE.

Tempo estimado de leitura: 31 minutos

%Lucie% • 1971.

  ELA ACORDOU EM UM QUARTO ELEGANTE, CHEIRANDO A CANELA, CHÁ E CRAVOS.
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  %Lucie% não soube dizer ao certo quanto tempo havia passado desacordada, mas certamente não tinham sido poucos dias, já que, quando voltou a abrir os olhos, seu corpo inteiro parecia latejar com uma dor irritante e contínua. Não era forte o suficiente para incomodá-la, mas o bastante para se fazer notar. Além disso, sentia-se febril, e sua cabeça girava. A menina sentou-se na cama macia, franzindo o cenho e coçando o couro cabeludo, confusa, observando o espaço ao redor com uma ponta de desconfiança.
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  O quarto cheirava a incenso, canela e um chá forte que vinha de sua esquerda. Ela franziu o cenho, esticando as pernas e sentindo o tecido gelado dos lençóis que se enroscavam em seus calcanhares e tornozelos, como se tentassem empurrá-la de volta para a cama. Ainda coçando o couro cabeludo, tentava entender como havia ido parar ali — e onde, exatamente, estava.
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  %Lucie% se empurrou para a lateral da cama, sentindo-se estranha diante da maciez do colchão, um claro contraste com seu pequeno quarto em Durmstrang. Desceu, esticando os dedos dos pés descalços, e sentiu o frio do assoalho de madeira percorrer as solas. Voltou o olhar para uma das cômodas de madeira escura e elegante, onde um gato malhado se encontrava empoleirado. %Lucie% inclinou a cabeça, encarando o animal e se perguntando se poderia acariciá-lo ou se seria arisco. Algo na rigidez do gato a fez hesitar.
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  Desviou então sua atenção para o restante do espaço, e abriu um sorriso quase animado ao perceber o chapéu pontudo da bruxa que havia encontrado na Pousada Três Vassouras. Curiosa como a criança que era, %Lucie% o testou na cabeça, rindo baixinho consigo mesma ao ver que ficava muito maior do que deveria. Recolocou o chapéu sobre a cadeira antes de analisar o ambiente, dando uma voltinha pelo lugar, impressionada.
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  %Lucie% tinha pouca noção de coisas caras ou luxuosas. Para ela, luxo era uma cama mais macia e lençóis limpos. Aquele lugar parecia saído de um sonho febril onde a opulência, ainda que discreta, se fazia presente. As paredes estavam cobertas por um papel de parede antigo, com floreios e emblemas em um tom bege discreto que a lembravam de algo que havia visto em Durmstrang sobre o século XIX — vitoriano, ela tentou lembrar, ao fundo da mente. Os móveis, embora poucos, eram elegantes, feitos de madeira escura, provavelmente mogno, com entalhes delicados que lembravam vinhas ou brasões minuciosos, como se feitos à mão.
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  À sua esquerda, havia uma janela grande, meio abobadada, elegante, mas levemente embaçada. Dava visão para o movimento contínuo do lado de fora. %Lucie% apertou os lábios, abrindo e fechando as mãos inúmeras vezes enquanto se aproximava. Ficou na ponta dos pés, esforçando-se para alcançar a tranca prateada da janela. Usando toda a força do corpo, empurrou-a para frente, projetando-se levemente enquanto tentava recuperar o equilíbrio. Seus olhos %obsidianos% arregalaram-se ao perceber a altura em que estava. Onde quer que fosse aquele lugar, certamente era um prédio alto, próximo a um centro urbano barulhento, com carros coloridos buzinando e pessoas andando apressadas. Ela devia estar na cobertura de algum edifício.
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  %Lucie% prendeu a respiração, segurando com mais força no parapeito da janela, e inclinou-se para frente, tentando enxergar além...
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  — Eu recomendo que não considere fugir. Não faria bem algum à senhorita e seria extremamente inconsequente. — A voz familiar da bruxa que %Lucie% havia conhecido na Pousada Três Vassouras ecoou pelo quarto. Ela vinha do gato malhado empoleirado sobre a cômoda, que agora voltava à sua forma original.
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  %Lucie% soltou um gritinho baixo, afastando-se da janela e se virando para a bruxa com os olhos arregalados. Encolheu-se um pouco, sem saber o que fazer.
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  — Muito bem, querida, é bom ver que você está finalmente acordada. Peço desculpas se acabei assustando você. Venha, volte para a cama e tome a Poção de Wiggenweld. Vai se sentir melhor. Vamos, volte a deitar-se.
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  %Lucie% se afastou da janela, aceitando ser guiada pela bruxa mais velha. Sentou-se na cama novamente, apoiando as mãos nas laterais do colchão e balançando os pés para frente e para trás, observando a mulher com curiosidade. A princípio, não disse nada — apenas acompanhou com o olhar a movimentação da bruxa pelo quarto. Havia nela uma aura de respeito e confiança. Parecia um pouco austera, notou %Lucie%, mas não de uma maneira ruim, como sua tia Joanne. Seus olhos, grandes e expressivos, pareciam gentis e amigáveis — quase atenciosos, embora %Lucie% não soubesse bem o que isso significava, só havia lido em livros. Supôs que se tratava de alguém que prestava atenção.
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  Ela tinha maçãs do rosto proeminentes, pele clara, poucas rugas marcando a testa e ao redor da boca, olhos de um verde intenso e cabelos escuros como a noite presos em um coque perfeitamente estruturado. Suas roupas eram tradicionais, como as que %Lucie% havia visto sob os casacos de pele de alguns professores em Durmstrang — de linho, com um padrão xadrez curioso e discreto.
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  Era alguém admirável, ou pelo menos alguém que %Lucie% queria impressionar ou ser como a mais velha, mesmo sem entender bem o motivo.
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  — O que aconteceu? Onde estou? Você é a tal Minnie? — %Lucie% perguntou com um tom incerto, acompanhando a bruxa com o olhar enquanto aceitava, com um aceno de cabeça, a xícara com a poção. Fez uma careta ao ver a substância gosmenta e esverdeada, levou a xícara até o nariz, cheirou e se esforçou para não vomitar.
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  — Minnie? Suponho que sim, mas só meus amigos me chamam assim — respondeu a bruxa, com um ar meio conspiratório. %Lucie% sorriu discretamente e assentiu devagar.
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  — Então... isso significa que somos amigas agora, né? Eu nunca tive muitos amigos, então não sei como funciona direito, mas eu gostaria, se você quiser — disse %Lucie% com sinceridade, tentando esconder a ponta de esperança que tingia sua voz infantil. Imaginava como seria ter um amigo... e se Minnie não iria rir dela como os outros em Durmstrang.
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  A bruxa mais velha bufou suavemente, repousando a mão nas costas da menina e acariciando-a com um gesto estranho.
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  Não era agressivo — o que surpreendeu %Lucie%. Era como se Minnie a acariciasse da mesma forma que %Lucie% fazia com um animalzinho que encontrasse pelo caminho. Era reconfortante. Pela primeira vez, a menina não se sentia tão perdida e sozinha.
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  — Ay, não posso dizer muito sobre isso, mas posso considerar as possibilidades... se você for corajosa e tomar a poção — disse Minnie, lançando-lhe um olhar significativo.
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  Prendendo a respiração, %Lucie% levou a xícara à boca e engoliu a poção, sentindo um arrepio percorrer seu corpo. Tinha um gosto marcante — uma mistura de ervas e outras coisas mágicas que quase a fizeram engasgar. Ainda assim, obrigou-se a tomá-la até a metade da xícara.
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  — É nojento — murmurou, limpando a boca com o antebraço.
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  Minnie riu suavemente, pegando a xícara de suas mãos e colocando-a na mesa de cabeceira.
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  — Por que estou aqui? O professor Krasny me disse para seguir as luzes, e eu segui. Depois caí numa estrada que não sei onde era, e tudo o que ele disse foi para procurar você! Estou encrencada? Fiz algo errado? Eu juro que não foi minha intenção, Minnie.
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  %Lucie% começou a falar, agora um pouco mais preocupada, enquanto brincava ansiosamente com os dedos.
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  — Oh, não, querida, você não fez nada de errado — apressou-se em dizer a bruxa, abraçando %Lucie% de lado e esfregando-lhe as costas com um olhar cauteloso. — Mas isso também não é um convite para aprontar, mocinha — completou, estrategicamente. Suspirou fundo, como se escolhesse as palavras com cuidado. — Há coisas que não posso explicar ainda. Complicações de adultos que ninguém jamais deveria ter que pensar, mas das quais não se pode escapar. O que espero que você guarde é que, por um breve tempo, conheci seus pais. E ambos eram pessoas admiráveis. Foram, como você mesma disse, meus amigos.
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  %Lucie% piscou, surpresa — não pelas palavras, mas pelo tom. Então era assim a sensação de alguém não estar com raiva dela? Que estranho...
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  — O que aconteceu com eles? O que realmente aconteceu? Eles só foram embora? — %Lucie% questionou, finalmente dando voz a uma pergunta que espiralava pelo fundo de sua mente desde que era pequena. — A tia Joanne me disse que eles morreram, mas também falou que me abandonaram logo que nasci, que eu trazia má sorte para eles, então precisaram se livrar de mim. Foi isso mesmo que aconteceu?
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  Minnie pausou por um longo momento, considerando as palavras de %Lucie% enquanto se ajeitava ao lado da menina. Apoiada com uma das mãos sobre o joelho, virou-se na direção da garota com uma ponta de surpresa. %Lucie% piscou algumas vezes, tentando afastar as lágrimas, e então franziu o cenho, encarando o rosto da mais velha à espera da resposta.
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  — Oh, por Merlin, minha querida — Minnie exclamou baixinho, unindo as sobrancelhas e negando com a cabeça. — Talvez eles não tenham sido as pessoas mais cuidadosas que já conheci, mas, pelos céus, eles amavam você. Isso nunca foi uma dúvida. Não posso falar com tanta certeza sobre Rio, pois sempre foi um mistério para mim, mas Rio era gentil, uma pessoa notável. Dominou a transfiguração como ninguém e tornou-se um metamorfomago excepcional. Mas eu conheci seu pai, Django — Minnie fez uma breve pausa, calculando suas próximas palavras, estreitando os olhos, ponderando com a cabeça. — E, embora ele tenha se recusado a seguir o caminho de um bruxo, certamente teria tido um futuro brilhante em Hogwarts, se desejasse.
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  — Mas ele não vivia na Romênia? — %Lucie% questionou, genuinamente confusa, e Minnie soltou um riso compreensivo, ainda que divertido.
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  — Seu pai era um romani, minha querida. E os romanis são um grupo de pessoas nômades, que se movem frequentemente porque compreendem que sua casa está nas pessoas que os acompanham — jamais em um lugar fixo — Minnie explicou com suavidade, e %Lucie% inclinou a cabeça para o lado, considerando as palavras da mais velha, ainda um pouco confusa com o conceito, mas aceitando-o quase imediatamente.
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  — Então meu pai era um... não mago? — %Lucie% perguntou, e Minnie piscou, parecendo ser pega desprevenida com a denominação.
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  — Não mago...? — ela ecoou, e então soltou uma exclamação baixa, assentindo em compreensão. — Ah, sim, você quer dizer um trouxa, certamente, querida. Ele era um trouxa, mas isso não significa que não tivesse habilidades mágicas.
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  %Lucie% soltou uma exclamação de compreensão ao ouvir a explicação da mais velha, os olhos %obsidianos% cintilando com uma mistura de insegurança e animação com o prospecto de ter ao menos alguém que a compreendesse de certa forma.
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  — Ele podia ver as luzes como eu?
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  — Luzes, querida? Do que está falando...? — Minnie começou a dizer, mas foi interrompida pela porta do quarto sendo aberta pelo bruxo que %Lucie% se lembrava de ter visto junto com Minnie na Pousada Três Vassouras.
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  Agora, em um espaço bem iluminado e alinhado, o homem parecia estranhamente elegante e imponente. Poderia muito bem ser algum tipo de príncipe ou nobre — sua postura era impecável, ao ponto de a menina sentir a necessidade de se endireitar instintivamente. Era ereto e elegante, com algumas marcas de expressão nos cantos dos lábios e na testa. %Lucie% se perguntou quanto desgosto o mais velho poderia ter sentido na vida para que aquelas marcas estivessem gravadas ali; achou indelicado considerar a pergunta — ela sequer o conhecia direito. Tinha uma mandíbula firme e um queixo levemente proeminente, bem marcado. Os cabelos eram pretos como tinta, profundos, e os olhos, de um cinza-ardósia intenso, ficavam levemente azulados dependendo da iluminação do lugar. Com barba bem aparada e roupas elegantes, %Lucie% se perguntou o quão rico ele poderia ser.
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  Ela continuou balançando as pernas para frente e para trás, observando ora o rosto de Minnie, ora o do bruxo, percebendo que havia algo acontecendo entre os adultos que eles não desejavam compartilhar com ela. Encolheu os ombros, tentando decifrar o que aquilo significava para si.
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  — Precisamos movê-la para o apartamento de Django logo, Professora McGonagall. Órion deseja usar este espaço para uma reunião, e não quero arriscar que meu irmão ou sua família a encontrem — o homem disse, ajustando as mangas do terno de alfaiataria, arregaçando-as e deixando expostos os antebraços, que possuíam marcações. %Lucie% franziu o cenho, surpresa, encarando os braços do homem e comparando-os com as marcas que tia Joanne havia feito nela. Enquanto as dele possuíam tinta preta — algumas até mesmo coloridas —, as suas mais se pareciam com cicatrizes do que com desenhos.
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  — Achei que teríamos ao menos mais um pouco de tempo... Ainda nem tive chance de explicar para %Lucille% sobre Hogwarts ou sobre o testamento de Django! — exclamou a Professora McGonagall, já se levantando e alisando a saia rapidamente, mais por hábito do que por necessidade. %Lucie% a observou, colocando-se de pé também, mas sem saber ao certo o que fazer.
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  — Muito bem, então. Vou deixar nas suas mãos a responsabilidade de informar a senhorita %Vatra% sobre o código de conduta bruxo e, é claro, as regras de Hogwarts — Professora McGonagall voltou-se para %Lucie% com um olhar de aviso que teria feito a menina se encolher, se não houvesse uma ponta de divertimento nele. %Lucie% percebeu que, embora rígida, McGonagall não a puniria trancando-a em uma catacumba escura. Isso já era algo bem positivo. — E quanto a você, senhorita %Vatra%, espero que tenha decorado as regras de Hogwarts e que se vista apropriadamente. Na próxima vez que nos virmos, saberemos de qual casa você será, e estou torcendo para que vá para a Grifinória. Só Merlin sabe como precisamos de batedores mais rápidos! — A professora bateu palmas, visivelmente animada com a ideia de batedores — o que quer que fossem —, e marchou para fora do quarto, transformando-se novamente em um gato malhado.
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  %Lucie% soltou uma exclamação baixinha, arregalando os olhos e inclinando-se para o lado para observar o gato descendo as escadas com puro e inquestionável fascínio.
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  — Uau... pode me ensinar a fazer isso? Posso ser um gatinho também? Você pode conjurar um Reducio em mim e eu posso morar no bolso do seu paletó — %Lucie% sugeriu, voltando-se para o bruxo com os olhos %obsidianos% brilhando, incandescentes como lamparinas, cheia de expectativa.
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  O bruxo pausou os movimentos por um segundo, lançando um olhar para %Lucie% e então negando com a cabeça de forma dramática. Uma mecha de seu cabelo escuro como tinta caiu sobre os olhos cinzentos.
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  — Para alguém que nunca teve contato com Django, você, com certeza, é filha dele — o bruxo, tal como Alphard, que Professora McGonagall havia mencionado, resmungou baixo, parecendo exasperado. %Lucie% não pôde deixar de notar a ponta de afeto na forma como ele pronunciou o nome de seu pai. Inclinou a cabeça, perguntando-se o que aquilo significava, aproximando-se timidamente de Alphard e se projetando para frente, observando o que ele estava colocando nas malas, enfeitiçadas para se organizarem rapidamente.
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  — Você não me respondeu — %Lucie% pontuou com um sorrisinho, tentando ajudar o bruxo a fechar a mala grande, mesmo sabendo que um gesto de varinha resolveria tudo em segundos. Ainda assim, ela percebeu que talvez ele gostasse de fazer as coisas manualmente por conforto. %Lucie%, com olhos curiosos, tentou imaginar o que poderia ser um conforto para ela; não fazia ideia.
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  O bruxo bufou, negando com a cabeça.
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  — Ensinar você o feitiço de Animagus? Primeiro: isso seria uma quebra das regras. É bom que você tenha em mente que bruxos menores de idade não são permitidos a fazer magia fora de Hogwarts. E isso inclui todos os lugares — Alphard ajeitou a lapela do casaco e, em seguida, pôs-se de cócoras à frente de %Lucie%. Ajustou o pijama dela, certificando-se de que não estava apertado e de que os botões estavam bem fechados; depois tentou domar, em vão, alguns fios rebeldes de seu cabelo.
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  — Cuidaremos do seu cabelo quando chegarmos. Agora, em segundo lugar: o feitiço de Animago é extremamente complexo e meticuloso. Se algo der errado, as consequências podem ser severas. Portanto, não, %Lulu%, eu não vou ensinar nada disso a você.
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  %Lucie% fez um bico, lançando-lhe um olhar desapontado.
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  — É %Lucie%, não %Lulu%.
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  Desta vez o bruxo quase sorriu. Endireitou-se, pegou a mala e estendeu a mão para a menina.
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  — Para mim, você sempre será %Lulu%. Muito bem, pronta?
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  Alphard Black manteve a mão estendida, aguardando que %Lucie% a segurasse para que, enfim, pudessem partir.
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•••

  Lá pelo final da tarde, %Lucille% %Vatra% finalmente havia conseguido deixar de sentir-se nauseada pela aparatação.
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  Havia igualmente desistido de pedir para que Alphard Black — a quem ela descobrira ser seu padrinho — lhe ensinasse a se tornar Animaga, decidindo que descobriria por si mesma e que, eventualmente, faria dar certo.
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  Depois de passarem boa parte do dia caminhando discretamente pelas vielas do Beco Diagonal, ouvindo atentamente enquanto Alphard explicava onde ela poderia ir — e de onde deveria manter distância por conta de certas presenças perigosas —, %Lucie% se contentou em escutar, com um sorriso largo, as histórias de Alphard com seu pai e as aventuras que viveram em sua juventude.
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  Não ficou assim tão surpresa ao ouvir o quão próximo Alphard Black era de Django %Vatra%. De fato, o que a surpreendeu foi perceber que eles eram praticamente inseparáveis. %Lucie% se perguntou como deveria ser ter alguém assim em sua vida — alguém tão próximo que se deslocaria de lugares distantes apenas para vê-la, mesmo que isso levasse tempo e fosse difícil.
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  Ela ouviu sobre as travessuras que Alphard e Django aprontavam quando pequenos, como Django se recusara a ir para Hogwarts por não desejar ser um bruxo, ou acreditar naquele tipo de coisa — embora a família %Vatra% tivesse suas próprias crenças, sabedorias e compreensões de magia. Restavam apenas as férias para que os dois se vissem. E eles aproveitavam esses momentos para explorar os lugares ao redor, como quando tentaram vislumbrar a academia de magia francesa, Beauxbatons, e acabaram quase morrendo durante a fuga. Foram parar na Escócia. Ou quando Alphard inventou uma desculpa qualquer ao pai, dizendo que desejava fazer intercâmbio em Durmstrang, mas, em vez disso, passou todas as férias no acampamento de Django e da família %Vatra%.
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  %Lucie% o acompanhou na escolha dos livros para o ano letivo em Hogwarts, e até mesmo se divertiu causando um pequeno caos ao escolher sua coruja. A que chamou sua atenção era pequena, parecendo ter acabado de sair dos estágios de filhote para quase adulta. Tinha penas pretas, brancas e amarronzadas, grandes olhos castanhos-escuros, penugem suave ao redor do bico preto, e duas penas maiores no topo da cabeça que lembravam orelhas felinas. %Halo% — esse era o nome da coruja, como %Lucie% acabou descobrindo — era uma coisinha teimosa, mas bem afetuosa. “Uma coruja-orelhuda”, esclareceu Alphard, lançando-lhe um olhar cauteloso, como se lesse com facilidade os planos que a menina tramava — incluindo suas duas tentativas de abrir a gaiola.
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  Compraram uma varinha para %Lucie% — madeira de alerce com núcleo de pena de fênix, 12 ¼ polegadas, e flexibilidade rígida — e até mesmo um caldeirão. %Lucie% ficou mais do que contente ao bisbilhotar o livro de Feitiços Avançados e tentar conjurar “Lumos” enquanto incentivava %Halo% a fazer um ninho nos cabelos presos em um coque desfeito pelas garras do animalzinho.
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  %Halo% aconchegou-se entre a nuca e as costas de %Lucie%, tirando um cochilo tranquilo enquanto Alphard Black a ajudava a se instalar no velho apartamento empoeirado, acima de uma loja de discos bem legal, em Soho — um lugar que havia pertencido a seu pai.
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  — Meu pai costumava morar aqui? — questionou %Lucie% assim que passou pela entrada do apartamento.
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  Não era tão impressionante quanto o de Alphard, próximo à Grimmauld Place, mas certamente havia um ar mais boêmio e artístico no espaço. Ela se surpreendeu com o quão confortável parecia.
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  Três cômodos, incluindo o banheiro, com aspectos vitorianos como o apartamento de Alphard, mas muito mais decorado: plantas perto da janela abobadada, espelhos e quadros na parede e junto à pequena lareira, tapetes com padrões geométricos e paredes com papel de parede escuro e discreto. Lamparinas e lâmpadas espalhadas como se estivessem congeladas no tempo, mas ainda atuais. Fótons coloridos, discos de vinil, e roupas extravagantes. %Lucie% quase riu ao encontrar um lenço azul-claro, levemente prateado, com medalhões de latão gravados costurados, finalizado por uma renda delicada feita à mão.
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  — Seu pai nunca morou aqui — não de fato, pelo menos. Antes de conhecer Rio, eu morava aqui, junto com ele — explicou Alphard, com um tom calmo e gentil, mas que carregava uma ponta de tristeza.
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  %Lucie% franziu o cenho, contemplativa, observando-o com atenção enquanto tentava prender o lenço na cabeça. Seria aquilo um coração partido? Por uma fração de segundo, ela se perguntou o que Alphard Black não estava lhe contando.
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  Mas sua atenção foi interrompida pelos dois elfos domésticos que mantinham vigilância esporádica no local: Hawkes e Astra.
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  Eles não pertenciam à família de %Lucie% — eram apenas amigos — e tinham um pequeno cômodo com camas apropriadas e roupas próprias. %Lucie% achou adorável o chapéu fedora adaptado de Hawkes e a calça pantalona de Astra.
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  Astra prontificou-se a ajudar %Lucie% a encontrar roupas e um estilo com o qual se sentisse confortável. Já Hawkes, embora mais reservado, rapidamente lhe entregou um mapa de Londres e ensinou truques e locais onde ela poderia encontrar o que precisasse.
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  Ficou combinado com Alphard que eles verificariam %Lucie% todos os dias, para garantir que estivesse se adaptando, segura e longe de encrencas — ou do risco de se expor acidentalmente aos trouxas, já que Alphard não poderia vigiá-la o tempo todo.
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  Mais tarde, Astra acabou sentada no carpete com %Lucie%, perto da vitrola, ouvindo Beatles — precisamente o álbum Twist and Shout. %Lucie% se perguntou por que aquela música era tão boa, e por que sempre surgia nos momentos mais inesperados. Queria ou não, ela estava se tornando uma de suas favoritas — embora não tivesse certeza se realmente gostava dos Beatles. Quatro garotos juntos? Isso só podia significar encrenca. Talvez divertida, mas ainda assim, encrenca.
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  Enquanto isso, Hawkes auxiliava Alphard em silêncio na cozinha, e %Lucie% tentava conjurar Lumos.
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  — O que eu disse sobre fazer magia fora da escola? — rosnou Alphard, entrando na sala de estar, que também servia de sala de jantar graças à mesa de centro de carvalho onde %Lucie% estava debruçada, lendo e rabiscando seu novo livro.
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  — Para não ser pega — murmurou %Lucille% com um sorrisinho. %Halo% bicou sua testa três vezes como advertência. %Lucie% fez uma careta, levando a mão à testa e massageando o local. — Ai! O que foi que eu te fiz? — murmurou, encontrando os olhos %obsidianos% de %Halo% com os grandes castanhos escuros. A ave piscou duas vezes, e %Lucie% se perguntou se existia um feitiço para se comunicar com corujas.
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  — Exatamente, para não ser... por Merlin! %Lucille%! Eu disse para não fazer! — exclamou Alphard, impaciente, soltando um suspiro pesado e apoiando as mãos nos quadris. Ele a observou em silêncio, olhos estreitos. — Eu quero saber por que sua coruja está na sua cabeça e não na gaiola?
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  — A gaiola parece desconfortável, mal tem espaço para ele esticar as asas — disse %Lucie% suavemente, soltando um risinho engasgado quando %Halo% bicou sua testa mais uma vez e esfregou a cabeça cheia de penas em seu nariz.
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  Ela espirrou baixinho e tentou pousar o animal gentilmente na mesa de carvalho antiga e rangente do apartamento em Soho. %Lucie% sacudiu a varinha novamente.
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  — Lumos — murmurou, mas nada aconteceu.
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  — Tem certeza de que eu devo mesmo ir para Hogwarts, senhor Black? Posso ficar por aqui mesmo, se for mais fácil. Eu só cresci ao redor de pessoas mágicas... isso não significa que eu também sou.
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  Alphard suspirou suavemente, enrolando o guardanapo em sua mão e então se sentou ao lado da menina com um olhar curioso, porém cauteloso.
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  — Pode me chamar só de Alphie — Alphard pontuou com um olhar significativo para %Lucie%, que assentiu, fazendo uma caricia na barriga de %Halo%, que imediatamente começou a bicar o pulso da menina; não com força o suficiente para machucá-la, mas o suficiente para retribuir o gesto. — Sua tia fez um número com você, não foi? — o homem disse por fim, apertando os lábios e ajeitando-se ao lado de %Lucie%, lançando um olhar em forma de aviso para a menina ao tomar-lhe sua varinha. Alphard girou a varinha de %Lucie% por entre os dedos, como um baterista, havia dito Astra, e então bateu bem de leve com a ponta da varinha de %Lucie% no nariz na menina. — Hogwarts não aceitaria ninguém que não fosse merecedor de fazer parte da escola. De fato, não foi só o seu pai que havia recebido uma carta de aceitação. Rio também ganhou uma, mas escolheu seguir para Durmstrang. E você mesma recebeu uma, logo no início deste ano. Como sua tia havia dito que você não possuía interesse algum em tornar-se uma bruxa, o tópico foi deixado de lado, e, eventualmente, esquecido.
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  — Então o que mudou? — Questionou %Lucie%.
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  — Vladimir Krasny escreveu para nós — Alphard disse, soltando um pequeno pigarro, e %Lucie% encarou Alphard curiosa, mas, ao mesmo tempo, preocupada. Professor Krasny poderia ser muitas coisas, mas não era assim tão interessado em %Lucie%. Ao menos, a menina havia acreditado. Alphard pausou por um breve segundo, parecendo imitar Professora McGonagall e considerar quais palavras iria usar e quais não, ao continuar com seu relato. — Ele escreveu também uma excelente indicação para que você fosse transferida para Hogwarts, já que nossas aulas seriam mais desafiadoras do que Durmstrang estava lhe oferecendo.
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  — Mas senhor Bla... digo, Alphie — %Lucie% começou a dizer, confusa. — Durmstrang não aceita sangue-ruins, e eu sou uma. Não tem como ele ter feito isso, porque eu nunca estudei em Durmstrang.
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  Alphard apertou os lábios, encarando o rosto de %Lucie% e então uniu as sobrancelhas, sério.
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  — Ouça, %Lucille%, eu não me importo com o que você deseje se tornar daqui para frente, com o que deseja fazer, mas peço, e espero que mantenha em mente minhas palavras agora — Alphard começou a dizer, sua voz um pouco mais dura do que ela havia percebido que eram quando tratava-se dela. — Não irá usar essa palavra nunca mais. — Alphard entregou a varinha de %Lucie% de volta para a menina, e então suas mãos calejadas e ásperas envolveram a mão da menina, guiando-a em um gesto mais alongado e com um floreio, incentivando a menina a acompanhar o gesto. — O valor de um bruxo não está no sangue que ele carrega, querida, mas na habilidade e nos valores éticos que carrega. Você poderia ter o nome mais poderoso que já existiu entre os bruxos e isso não o fará mais valoroso que uma poça de lama.
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  Alphard assentiu para %Lucie%, incentivando-a enquanto movia seus lábios, de modo que %Lucie% pudesse entender a maneira com que a articulação da palavra deveria ser feita, e então %Lucie% tentou de novo, dizendo desta vez, com mais confiança: “Lumos” e observou fascinada quando luz surgiu na ponta de sua varinha. %Lucie% sorriu, revelando as covinhas que pertenciam a Django e ninguém mais enquanto encarava Alphard com olhos obsidianas cintilando.
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  — Obrigada.
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  — Sabe, seu pai me disse uma vez bem aqui que seríamos uma família — Alphard suspirou pesado, apoiando seu cotovelo sobre a mesa de carvalho, e então seu rosto contra sua mão, encarando a menina com atenção e uma ponta de saudosismo distante. — É claro, isso foi antes dele conhecer Rio e eles fugirem para a Romênia. Preciso dizer que, de certa forma, acabei o ressentindo por isso. Então, quando soube o que aconteceu com você e seus pais, acreditei que o melhor a se fazer era deixar que sua tia lhe desse abrigo. — Alphard desviou os olhos de %Lucie% para então encarar a vitrola com o vinil ainda ecoando, enquanto Astra apressava-se para escolher outro disco de Django ali. — Cometi um erro ao fazer isso, especialmente porque Django teria detestado ver a quebra de meu próprio voto. Mas agora que está aqui, acredito que finalmente vou poder ter a família que sempre quis, se assim quiser também, é claro.
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  %Lucie% sentiu seu coração disparar com a ideia de ter uma família. Ela nunca havia tido uma, e, embora estivesse contente em estar ali, não conseguia deixar de sentir-se incomodada com a possibilidade de tia Joanne a encontrar ali. Até agora tudo parecia como um sonho muito bom, e %Lucie%, pela primeira vez, sentia-se aterrorizada com a possibilidade de acordar.
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  — E o que isso significa, Alphie? — %Lucie% questionou, mais para obter a confirmação em si, do que por algum tipo de confusão.
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  Algo atravessou o rosto de Alphard Black e a menina viu uma certa hesitação que não lhe era característica. Um pesar que brilhou em seu rosto, e talvez até mesmo um pouco de raiva contida. A mistura de emoções no rosto do mais velho fez com que a menina se sentisse de repente insegura do que as palavras que estavam por vir poderiam significar.
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  — Significa que sua tia está morta, querida. Eu sinto muito por isso — Alphard disse com um tom de voz bem, bem suave e cauteloso. %Lucie% franziu o cenho, surpresa, encarando o homem com uma ponta de descrença, mas quando ele não se desmentiu, %Lucie% sentiu uma onda atordoante de culpa, e encolheu-se contra a mesa de carvalho enquanto se perguntava se havia sido sua culpa. Foi somente após alguns longos momentos em silêncio, quando Alphard o quebrou, colocando gentilmente uma mão no ombro da menina, que %Lucie% conseguiu ao menos se livrar do estupor que havia se alastrado por seu peito. — Mas significa também que agora você tem a mim, caso deseje assim, e poderemos ser uma família. Além disso, eu tenho um sobrinho também que irá começar seu primeiro ano em Hogwarts, veja só, se tiver um pouco de sorte, tenho certeza que vocês dois poderão ser amigos.
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  — Eu iria gostar disso — %Lucie% confessou com sinceridade, prendendo a varinha dela em seus próprios cabelos e então, estendendo sua mão na direção de Alphard Black para ajudá-lo a se levantar. É claro que uma menina de 11 anos jamais conseguiria ter força o suficiente para levantar um homem adulto como Alphard era. Embora fosse magro, ele não era raquítico, mas ainda assim Alphard fez questão de exagerar um pouco seus movimentos ao colocar-se de pé, a fim de fazer a menina acreditar que havia conseguido erguê-lo, e, certamente, ela havia. — Então, sobre fazer magia fora de Hogwarts, e seu eu... — %Lucie% começou a dizer, e Alphard imediatamente preparou-se para dizer 'não' a quaisquer asneira que a menina perguntasse.
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  E, certamente, não seriam poucas.
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