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História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

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Cruel Warmth

Escrita porSoldada
Revisada por Natashia Kitamura

CAPÍTULO 03 • RED AS PURE AS BLOOD.

Tempo estimado de leitura: 25 minutos

Krasny • 1971

  O TREMELUZIR DA VELA, QUE NÃO TARDOU A SE APAGAR, ANUNCIOU A CHEGADA DELA.
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  Ainda assim, o velho bruxo pouco fez menção de mover-se de onde estava. Os olhos %obsidianos% moviam-se pacientemente pelo tomo aberto à sua direita, anotando com uma letra cursiva elegante, em um pergaminho limpo, suas próprias observações em relação à maldição que estava estudando, a fim de encontrar uma alternativa para a mesma. Estava sentado em uma de suas mesas preferidas da biblioteca de Durmstrang, feita de madeira de jacarandá, com pequenos veios tingidos de um tom mais escuro devido ao verniz utilizado e com discretos arranhões onde a ponta de seu aparo havia raspado acidentalmente, quando pressionado com muita força contra o pergaminho. Era uma mesa resistente e maciça, localizada em um ponto estratégico. Ficava no segundo andar da biblioteca, em um patamar extenso, com o assoalho de madeira que rangia sob a distribuição de pesos, embora fosse suficientemente robusto para sustentar as outras mesas espalhadas na entrada, antes que inúmeras estantes abarrotadas de livros se estendessem para trás. Uma série de escadarias — estas menores que as espirais que levavam ao segundo andar da biblioteca — enroscavam-se na parede de pedra do local, abrindo-se para passagens abobadadas com portas de metal, vidro e uma pequena cobertura de trepadeiras, levando a um espaço externo do Instituto Durmstrang, onde um jardim costumava ficar.
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  Durante o inverno, o jardim era enfeitiçado para espelhar uma estufa, sem privar as plantas do sol ou da água da chuva. Era um espaço que Vladimir Krasny sabia que os alunos, especialmente os mais velhos, gostavam de frequentar para se distraírem ou socializar — levando em consideração o que jovens de quinze e dezesseis anos tinham em mente sobre socializar. Apenas sentar e jogar conversa fora, às vezes; alguns mais ousados tentavam quebrar as regras explícitas sobre demonstrações públicas de afeto, mas não tardavam a ser impedidos por algum feitiço de Vladimir Krasny. Era uma forma que o velho bruxo havia encontrado de passar algumas horas em paz no Instituto. A presença de alunos depois das sete horas da noite era terminantemente proibida, portanto, Vladimir Krasny sabia perfeitamente bem que não era um aluno que se aproximava de sua mesa.
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  O ponto estratégico no segundo andar não era escolhido em vão. O professor Krasny era meticuloso até mesmo na maneira como se posicionava nos espaços. Suas costas sempre ficariam voltadas para as paredes, e ele sempre estaria voltado para a frente de um corredor ou porta. Chame-o de paranoico ou maluco, mas o velho bruxo não era o tipo de pessoa que desconsiderava um ataque imediato, fosse de quem quer que fosse.
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  Os passos ecoaram à sua esquerda, vindos da escada em espiral, um pequeno rangido escapando da balaustrada de mogno escuro, esculpida com temática voltada à Floresta Negra — testrálios cuidadosamente esculpidos sobre suas patas dianteiras, envoltos por algo que parecia ser espinhos, que sempre se moviam um pouco quando alguém repousava suas mãos sobre o apoio, liberando o acesso silenciosamente. As velas, enfileiradas em pequenos, porém perceptíveis castiçais de prata — agora um pouco enferrujados pela umidade do inverno e do tempo — tremeluziam, anunciando que quem havia parado à sua frente era, exatamente, quem ele esperava encontrar.
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  Vladimir Krasny tencionou a mandíbula com força, o músculo bem marcado de sua mandíbula quadrada saltando um pouco com o movimento, e um pequeno exalo escapou por suas narinas — não por causa de sua própria natureza impaciente, muito menos de resignação — apenas um suspiro silencioso, acirrado, derivado de sua empáfia pessoal para com as teatralidades e palhaçadas da bruxa.
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  Mas afinal, quem era ele para julgar alguém por sua postura pessoal?
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  — Admira-me o sadismo, mas, após tanto tempo, você já deveria saber que isso não irá funcionar comigo, Joanne — Vladimir se pronunciou calmamente, seu tom de voz baixo revelando até uma monotonia crescente de uma alma enrijecida por vãs tentativas de tormentos pouco significativos.
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  O velho bruxo repousou seu aparo sobre o suporte atrelado ao pequeno e quadrado pote de tinta preta, enfeitiçado para que desaparecesse sob o toque de qualquer outra pessoa que não fosse Krasny, e então, dobrando a folha em dois, queimou-a, observando-a desaparecer no ar, mentalmente sussurrando o feitiço, torcendo que aparecesse no local certo, desta vez.
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  Vladimir voltou sua linha de olhar para a pessoa que se aproximava. É claro, ver Joanne Karine Rozenn transfigurada em Rio não havia sido consideravelmente algo agradável de presenciar, mas, igualmente, Krasny não era conhecido por seu lado emocional aflorado. Se ele sentira raiva, dor ou até mesmo pesar, fez questão de ocultar de seu rosto tais emoções, apenas observando a bruxa com indiferença.
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  — Vamos continuar com os jogos, Joanne? Ou, desta vez, será direta comigo?
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  Joanne, transfigurada em Rio, inclinou a cabeça para o lado, o gesto estranhamente mais felino do que deveria ser, enquanto os olhos de obsidiana — refletindo um tom próximo dos dele — cintilavam com um brilho anômalo. Vladimir Krasny ergueu o queixo um pouco mais, observando-a com cuidado.
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  O rosto de %Lucille% sempre havia sido uma cópia perfeita do rosto de Rio; a menina tinha o mesmo formato de olhos, as mesmas sobrancelhas, as mesmas cores de Rio, com exceção pela tonalidade da pele e textura dos cabelos — estas, heranças de Django %Vatra%, lembrava-se Vladimir Krasny perfeitamente bem. Mas a imitação de Joanne era perturbadora pela falta daquele brilho que Rio, e até mesmo %Lucille%, compartilhavam de inteligência. Era discreto, mas nato, e talvez, se fosse colocar em perspectiva, hereditário: uma curiosidade intrínseca, um anseio por observar e buscar sempre alguma coisa para se desvendar, para se compreender; Joanne jamais conseguiria replicar.
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  — Se não soubesse melhor, Joanne — Vladimir Krasny se pronunciou com calma, recostando-se contra a cadeira enquanto os olhos %obsidianos% mantinham-se fixos no rosto transfigurado da bruxa —, diria que, no fundo, na verdade, seu desejo nunca foi poder ou aclamação, mas sim vestir a pele de alguém que jamais poderá ser.
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  Os olhos de Joanne, agora os de Rio, se estreitaram com irritação, mas a bruxa não lhe respondeu.
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  — A que se deve toda essa teatralidade? — Vladimir suspirou pesado, limpando as pontas de seus dedos na lateral do tecido de sua calça de alfaiataria, antes de cruzar os braços sobre o peito. Uma mecha de seu cabelo acobreado — agora mais grisalho e longo — pendeu sobre seu rosto, enquanto observava a bruxa oportunista.
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  — Só achei que fosse você quem gostasse de jogos, professor Krasny — Joanne abriu um sorriso doce, e talvez a crueldade do gesto se desse justamente com maior efetividade do que nenhuma palavra de ódio ou acusações seriam capazes de alcançá-lo, exatamente porque Vladimir nunca havia visto tal gesto no rosto da criança que, de certa forma, havia ajudado a criar — e jamais poderia ver. Vladimir compreendia o problema de toda a situação, compreendia a dimensão de suas próprias escolhas e o que muito provavelmente deveria ter feito não só com Blanche — tão culpada quanto — como com o velho obcecado Greengrass e seus filhos, especialmente Rio. E não culpava sua criança por sequer desejar tê-lo por perto.Verdade seja dita, não era o sangue que determinava parentalidade e família, mas Joanne sabia onde cortar para piorar a ferida.
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  — Dissimulações, mentiras e omissões parecem ser uma boa característica para a família Krasny, não? — Joanne disse, desta vez não parecendo interessada em simular a voz de Rio ou, muito provavelmente, já não se lembrava mais do tom.
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  Krasny trincou os dentes, assentindo lentamente às palavras, sem desviar o olhar.
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  — Sempre achei que era uma característica hereditária, um DNA corrupto e inferior e, veja só, se não estou certa! Há quanto tempo tem estado em contato direto com aquela desculpa patética do diretor de Hogwarts, Krasny? Desde o último inverno? Apenas recentemente? Vamos lá, me conte um pouco mais, estou curiosa para saber sobre seus próprios planos.
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  Vladimir apertou os lábios, desviando os olhos momentaneamente para o livro e, então, para Joanne novamente. Por uma fração de segundos, o silêncio se instaurou na biblioteca, permeado apenas pelo tic-tac constante do relógio ao fundo do primeiro andar. Os olhos %obsidianos% do velho bruxo percorreram o rosto de Rio, encontrando as pequenas falhas na poção de Joanne, o que não condizia com o que Rio um dia havia sido. Sua pele estava um tom mais pálido do que a de Rio, os cabelos %acobreados% dois centímetros mais longos, o corte pixie propositalmente mais raspado nas laterais e na nuca, o que Joanne, aparentemente, nunca havia percebido.
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  Joanne não era minuciosa, não quando se tratava de outra pessoa que não fosse ela mesma.
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  — Sua análise sobre meu caráter pouco me afeta, Joanne — disse Vladimir, em um tom de voz baixo e cauteloso, quase paternalista, estreitando os olhos enquanto a observava. Então, umedeceu os lábios, suspirando pesadamente. Vladimir apoiou os dois cotovelos sobre a mesa, unindo as sobrancelhas, observando-a com atenção. — O que fiz com você, com sua família, não foi justo. Eu entendo e peço desculpas por isso. — O queixo de Joanne se contraiu de uma forma que era unicamente dela, não de Rio. Vladimir permaneceu impassível. — Não era, e jamais foi, minha responsabilidade cuidar do envolvimento de sua mãe com seu pai. Cabia apenas a ela lidar com as emoções dele, e não Rio. No entanto, foi, admito, minha responsabilidade afastá-la quando tive a chance. E falhei. Sei que minhas decisões, como as dela, magoaram você e os seus. E estaria mentindo se dissesse que não eram minhas intenções, pois não me importava. E, ainda hoje, não me importo. Mas entendo seu ressentimento. Todavia, isso precisa acabar. Você não pode passar o resto da sua vida usando-me como sua justificativa.
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  Joanne bufou, abrindo um sorriso afiado, e Vladimir Krasny percebeu como aquela poção, que havia mudado sua forma, distorcia não apenas a imagem de Rio, mas a própria visão dela. Vladimir Krasny sabia, por experiência própria, que era possível criar-se monstros, que decisões equivocadas eram, muitas vezes, as responsáveis por fazê-los, mas, olhando agora para Joanne, Krasny não pôde deixar de se questionar: teria sido ele quem a tornara quem era? A fazê-la divertir-se com as máscaras que usava? Ou ele fora apenas aquele que esbarrou naquela porta e a abriu?
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  — Quem você pensa que é para dizer como devo me sentir ou não, Krasny? — Joanne rosnou entre dentes, inclinando a cabeça novamente daquela forma quase felina e inquietante. O sorriso que se espalhou pelo rosto de Joanne, agora transfigurado no de Rio, não enviou uma onda de medo, mas fez Vladimir considerar alçar sua varinha. — Por favor, pare de agir como se eu fosse uma garotinha perdida em busca de conselhos. Eu não sou. Já estabelecemos que é perceptível minha superioridade até mesmo diante de você, Professor Krasny. O que outros bruxos levam anos para aprender, eu só preciso de um pouco de força de vontade e um mês, talvez menos. É por isso que a pureza deve ser mantida. Se minha mãe foi estúpida o suficiente para se envolver com um vira-lata como você, então a falta de caráter não é minha. Mas não se convença...
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  Vladimir uniu as sobrancelhas, pela primeira vez mostrando-se desconfiado das intenções de Joanne.
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  — Então por que está aqui?
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  — Porque você me entretém — Joanne deu de ombros singelamente. Seus olhos — os de Rio — desviaram-se para o livro aberto que Vladimir lia anteriormente e, então, encontraram os dele, brilhando como os de um gato. Ela usou a língua para cutucar seu canino, sorrindo. — De todas as pessoas que já conheci, você, Professor Krasny, é o mais patético. Mas preciso ser honesta: seu truque em envolver Albus Dumbledore? Foi quase inteligente.
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  Vladimir não respondeu. Novamente a observou, desta vez colocando-se de pé com um movimento lânguido e lento, cuidadosamente planejado para não chamar a atenção de Joanne para o livro outra vez, mas sim manter sua atenção em seu rosto.
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  — Você pretende esclarecer suas palavras ou deixar os enigmas para trás de vez? — Vladimir retorquiu, fechando o livro à sua frente, os dedos apertando com tanta força a capa dura do objeto que ficaram embranquecidos. Ele repousou o livro atrás de si, enquanto a outra mão finalmente envolvia sua varinha. — Muito bem, sendo assim, tenha uma boa noite, Vice-Diretora Rozenn. Assumo que, com tudo o que está acontecendo, você irá precisar.
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  Vladimir Krasny se inclinou para frente em uma mesura cortês — não porque de repente sentisse algum tipo de respeito pela bruxa — e fez menção de retirar-se dali. Os dedos firmes mantendo o livro atrás de si, enquanto o velho bruxo, com a varinha presa à mão, puxava sua capa com mais força. Sua retirada foi cortada prematuramente quando a voz de Joanne voltou a ecoar pelo espaço.
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  — %Lucille% é minha, Professor Krasny — Joanne o interrompeu, igualmente pondo-se de pé e ajeitando o colete verde-escuro que um dia havia pertencido a Rio, parecendo momentaneamente perder-se em seus próprios pensamentos ao admirar as roupas do laço fraterno que havia condenado à morte há alguns anos. Era curioso como Joanne, embora movida pelo ódio, parecesse na verdade sentir satisfação em colocar-se sob a pele de Rio. Fazia com que Vladimir Krasny se questionasse se Joanne havia desprezado de fato Rio ou se havia algo ali a mais. Uma propensão à obsessividade, como o pai dela possuía. — E ordeno que a devolva.
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  Vladimir estreitou os olhos, observando-a com cuidado agora. Havia algo perigoso em Joanne, algo que o velho bruxo parecia ter subestimado erroneamente, mas que agora começava a ressurgir. De repente, a culpa pareceu tornar-se ainda maior ao pensar na figura raquítica e encolhida, um pouco atrofiada, da garotinha nas catacumbas, com olhos %obsidianos% assustados e expressão esperançosa, sempre dizimada pela crueldade que lhe rodeava. Teria Krasny cometido mais um erro em sua vida? Teria ele calculado mal, mais uma vez, ao considerar Joanne mais bondosa do que deveria?...
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  — Falando assim, quase faria um leigo acreditar que %Lucille% não é nada além de um objeto sob sua posse, Joanne — Vladimir disse, categoricamente calmo, os dedos apertando sua varinha com mais força. — %Lucille% é sua sobrinha, Joanne, esqueceu-se disso?
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  Joanne, transfigurada como Rio, apenas deu de ombros, desdenhosa.
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  — %Lucille% é o que os pais dela sempre foram: vira-latas, Professor Krasny. Mas ao menos ela é útil, por ora — Joanne disse, revirando os olhos e, então, inclinando a cabeça para o lado, estreitando os olhos ao registrar a varinha na mão do velho bruxo. — Não vamos começar uma briga desnecessária, Professor Krasny, não há necessidade de usar sua varinha comigo. Eu não sou seu inimigo.
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  — Útil? — Vladimir Krasny ecoou, tenso. — O que quer dizer com isso?
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  Joanne não respondeu, os olhos ainda fixos na varinha do velho bruxo, parecendo calcular seus próximos passos. Vladimir a empunhou, apontando na direção do peito de Joanne, transfigurada em Rio, e a bruxa ergueu as mãos para cima, em um gesto instintivo de rendição — que Vladimir não acreditou nem por um segundo ser honesto.
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  — O que você fez com a menina, Joanne? — demandou Vladimir Krasny, mas Joanne apenas soltou um riso nasalado, desdenhoso. — Não me faça perguntar outra vez, Rozenn.
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  — O quê? Você vai fazer o quê, Professor Krasny? Vai me amaldiçoar? Ou está pensando em ser mais ousado e usar alguma maldição proibida? Cuidado, agora. Se seus novos aliados sequer sonharem que você está pensando em usar a maldição da morte, então passará bastante tempo em Azkaban — Joanne ronronou com um tom quase irônico. Professor Krasny não se intimidou, todavia, com o jogo de poder que ela havia tentado iniciar ali. Os olhos %obsidianos% de Rio, aos poucos, começaram a se desfazer, evidenciando que a poção deveria estar perdendo seus efeitos.
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  — Chega, Joanne! Me responda! — cortou Vladimir Krasny entre dentes, dando um passo na direção da bruxa, esquecendo-se de ocultar o livro desta vez, concentrado apenas no que realmente Joanne estava planejando e, especialmente, no que ele não havia visto que ela tenha feito com %Lucille%. — O que você fez?!
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  — Eu? — Joanne deu de ombros, passando a mão esquerda pelos cabelos %acobreados% como os de Rio e Vladimir Krasny, sem perceber que uma das mechas havia retornado ao tom branco como neve. — Ora, não seja tolo, Professor Krasny. Nunca achou estranho que Rio, sendo quem era, fosse se apaixonar justamente por alguém como aquele vira-lata romeno? Por favor, meu pai passou a vida inteira obcecado por Magia Ancestral, e Rio convenientemente se apaixonou pela única pessoa que, até agora, temos conhecimento, desde o século XIX, que pode identificá-la?
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  Professor Krasny uniu as sobrancelhas, dando um passo para trás, meio cambaleante, pego desprevenido. Por uma fração de segundos, demorou a compreender o que a bruxa estava dizendo. Os olhos do velho bruxo moviam-se de um lado para o outro, considerando as palavras de Joanne. Até onde sabia, com o pouco que havia podido observar à distância, a ideia de que Rio poderia ter se envolvido com Django %Vatra% puramente por um interesse calculista soava quase ilusória, de tão contrastante com a realidade. Mas, então, havia aquela pequena parte dentro de si que não poderia deixar de questionar se não havia algo nas atitudes de Rio que expusesse tais intenções prematuramente e que ele havia escolhido ignorar.
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  — Oh... — Joanne exclamou, soltando um riso baixo, sadicamente divertida, enquanto estreitava os olhos. — Você não achava que Rio era capaz de ser tão calculista quanto meu pai? Uau... Eu acreditava que você possuía algum distúrbio psicossomático ou, no mínimo, alguma deficiência cognitiva, mas essa ingenuidade? Tenho que admitir, lhe cai muito, muito bem, Professor.
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  — Eu entendo que você me despreze, Joanne, mas depois de todo esse tempo, essa sua obsessão com Rio já foi longe o suficiente! Quando vai perceber que isso foi longe demais? — rosnou Vladimir Krasny, agora evidenciando uma irritação que soava estrangeira em seu rosto sempre taciturno e coeso. — Já não basta tudo o que escreveu? Já não basta o que fez com eles?!
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  — Eu não fiz nada! — retorquiu Joanne, com um tom estridente, mais alto que o normal, retirando a varinha oculta no colete e empunhando-a.
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  Vladimir estreitou os olhos. Observou que a mão direita da bruxa — a que segurava a varinha — apresentava um leve espasmo, o tremor comprometendo a maneira como ela, provavelmente, executaria sua magia.
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  — Rio teve o que mereceu! E aquele vira-lata também! — cuspiu ela, inspirando entre dentes trincados. — Não tenho culpa se outras pessoas são mais sãs do que idiotas como você! Eu só entreguei o que todos acreditavam, nada mais!
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  Vladimir soltou um bufar baixo, um sorriso quase incrédulo surgindo em seus lábios finos.
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  — É nisso que tenta se convencer agora? Que apenas expôs o que todos pensavam? Que não teve culpa de nada? Nem mesmo de influenciá-los a temer algo que sequer compreendiam? — Vladimir balançou a cabeça, descrente, dando um passo cauteloso para a esquerda. Firme, preciso. — Tente outra mentira, Joanne. Esta já está ultrapassada, mesmo para você. – O velho bruxo se endireitou, assumindo uma postura de combate, erguendo o queixo, imponente. — Observei você durante todo esse tempo, Joanne. Esse ódio que gosta de fingir sentir pelos não-mágicos... esse desprezo que finge ter por Rio... e, no entanto, continua a transfigurar-se nele. — Vladimir abriu um sorriso, desta vez sem a expressão contida e distante do velho professor. Era um sorriso cruel, que deixava vislumbrar o monstro oculto sob a máscara que Joanne, tão cuidadosamente, usava. Ótimo. Facilitaria o que ele precisava fazer. — Você não os odeia, odeia? Quer ser como eles. Quer ser admirada por eles. Respeitada. Mas sabe que jamais conseguirá. Nem mesmo seu pai pode amá-la, Joanne... por que diabos outros o fariam?
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  — Crucio! — rosnou Joanne entre dentes.
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  — Expelliarmus! — rebateu Vladimir Krasny, bloqueando o feitiço e lançando-se para a esquerda, girando e, então, desferindo seu próprio feitiço.
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  A varinha de Joanne tremeu em sua mão, mas não teria escapado de imediato se a bruxa não estivesse com espasmos. Vladimir exalou entre dentes, avançando em sua direção, largando o livro que tentava ocultar para focar apenas nela. Agarrou o colarinho da blusa de Rio, empurrando Joanne contra a estante mais próxima, apoiando a varinha sob sua mandíbula. — Última chance, Rozenn. O que você fez com minha neta? — rosnou Vladimir, sua voz soando duas oitavas abaixo do normal — um aviso silencioso de perigo.
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  Pela primeira vez, o semblante sádico de Joanne vacilou. Ela ergueu as mãos instintivamente, num gesto de rendição, ou ao menos para demonstrar que não representava ameaça imediata. Vladimir não moveu um centímetro.
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  — Tudo bem, tudo bem, eu digo... — começou Joanne, ofegante, quando Vladimir apertou mais forte seu colarinho, puxando o tecido para sufocá-la. — Eu digo... — repetiu ela, os olhos obsidianas de Rio finalmente desaparecendo, dando lugar aos olhos prateados dos Rozenn. Vladimir Krasny nunca sentira um ódio tão forte. Naquele momento, a fúria queimava por suas veias. — Uma ligação — explicou Joanne, com um grunhido baixo, tentando se soltar do aperto, sem sucesso. — Eu fiz um feitiço de ligação... ligando a garota a mim — admitiu ela entre dentes, sustentando o olhar surpreso e controladamente furioso de Vladimir. Ele apertou ainda mais sua varinha. — Sejamos honestos... ela é um desperdício de habilidade! Eu, pelo menos, sei o que fazer com todo aquele potencial... — começou Joanne, soltando um riso baixo quando Vladimir ameaçou lançar-lhe um feitiço. — Não! Não faça isso — quase riu —, porque... o que você faz comigo, faz com a garota também. Eu posso drenar a magia dela, mas o que acontecer comigo, acontece com ela. — O sorriso que surgiu em seus lábios era quase incandescente.
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  Vladimir Krasny arregalou os olhos, horrorizado.
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  — Se me matar... você mata ela também!
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  Pela primeira vez, em todos os seus anos naquele lugar, Vladimir Krasny não soube o que responder à bruxa à sua frente. Por uma fração de segundo, seu aperto vacilou.
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  — Ah, por favor, já chega dessa atuação. Todos sabemos que você nem se importa tanto assim com a menina. Você só quer imunidade dos idiotas britânicos para não ir para Azkaban — rosnou Joanne.
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  Os olhos de Vladimir queimaram o rosto da mulher. Suas mãos, sempre estáveis, tremeram levemente com a acusação. O sorriso de Joanne aumentou, satisfeito.
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  — Ah, então era este o plano, hein? Entregar a garota para a tutela de Dumbledore e assegurar que ninguém viesse atrás de você quando “descobrissem” sua colaboração em mantê-la nas catacumbas, hein? — Joanne riu baixo, desdenhosa. — Agora, esse é o Professor Vladimir Krasny que eu conheço.
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  Vladimir grunhiu baixo, pressionando a ponta da varinha com mais força contra o pescoço de Joanne, observando-a abaixar lentamente as mãos — sem, contudo, perder o ar de divertimento sombrio que pairava em seu rosto, desfazendo-se da poção que a fizera parecer Rio.
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  — Ainda pode conseguir o que quer, Krasny. Inferno, estou disposta a ajudá-lo, se for preciso. Só me diga onde a garota está e pronto... está tudo resolvido — tentou Joanne. Mas Vladimir Krasny não respondeu.
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  Joanne revirou os olhos, exasperada, resignada com o silêncio do velho bruxo. Murmurou, com desprezo:
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  — Tudo bem, eu a encontro sozinha.
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  Ela estendeu a mão em direção à varinha, conjurando:
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  — Accio.
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•••

  AJEITANDO A LAPELA DE SUA CAPA, ELE VOLTOU SEU OLHAR BREVEMENTE PARA O ESPELHO, COM UM SORRISO SATISFEITO.
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  Não estava impecável, mas era bom o suficiente por enquanto. Ajeitou os cabelos novamente, alinhando-os com a perfeição que se esperava dele — e que ele, certamente, exigia de si mesmo — antes de terminar de abotoar as mangas de sua camisa branca com abotoaduras de prata, ostentando o emblema de Durmstrang.
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  — Professor Krasny! Professor! — a voz de Volkov ecoou pelos aposentos antes mesmo de ele perceber a intromissão em suas preparações para a noite.
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  Endireitando-se, voltou-se na direção de Volkov, que surgiu descabelado, ofegante, com os olhos pretos arregalados e uma palidez crescente. Ele já sabia o que o outro viria dizer, mas, fosse por sadismo ou mera curiosidade, permitiu que Volkov prosseguisse.
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  Repousou as mãos unidas à frente do corpo, acenando com a cabeça para que seu colega continuasse.
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  — É a Vice-Diretora Rozenn! Na biblioteca, senhor! Alguns alunos... acabaram de encontrá-la... senhor, a Professora Rozenn está morta!
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