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História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

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Cruel Warmth

Escrita porSoldada
Revisada por Natashia Kitamura

CAPÍTULO 02 • TWIST AND SHOUT, BABY.

Tempo estimado de leitura: 21 minutos

  O PORTAL A FEZ CAIR NO MEIO DE UMA RUA MOVIMENTADA.
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  %Lucie% gritou — alto, aterrorizada — raspando a garganta e fazendo-a doer, enquanto tentava se obrigar a levantar. Seus olhos %obsidianos% dispararam, em pânico, na direção dos carros que avançavam ao seu redor, entre a cacofonia de buzinas, gritos e até xingamentos mal-educados dirigidos a ela, mas que se perdiam no vento e na velocidade do trânsito, misturando-se uns aos outros. %Lucie% tentou correr até um ponto seguro. Seus pés descalços tocavam com força o asfalto poroso, umedecido pela garoa; as panturrilhas, dolorosamente tensas, começavam a dar sinais de câimbra pelo esforço contínuo; os cabelos %acobreados% grudavam na nuca, no rosto e nas costas, enquanto o vento os lançava para trás, algumas mechas invadindo seus olhos. %Lucie% teve certeza de que iria morrer — teve ainda mais certeza quando os faróis se moveram em sua direção e a cegaram parcialmente. Ela só teve tempo de se encolher, cobrindo o rosto com os braços, esperando pelo impacto.
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  — OI! ENLOUQUECEU?! QUER SE MATAR, GAROTA IDIOTA?! — o grito veio de um carro que freou bruscamente, em um idioma esquisito que, surpreendentemente, %Lucie% conseguia entender, graças às poucas interações da tia Joanne com os outros tios. O carro cantou pneu e acertou um poste à sua direita. A menina piscou, surpresa, tremendo em choque, encarando o rosto furioso do motorista. Seu medo foi tanto que ela sequer esperou para ouvir mais: obrigou-se a correr novamente, tropeçando e caindo, levantando-se de novo — e de novo — até alcançar o ponto mais distante que conseguia. Até não conseguir mais correr.
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•••

  Desabando no chão, em algum ponto estranho da cidade barulhenta — uma interseção entre uma avenida movimentada e um parque cheio de árvores verdes, pessoas caminhando, correndo com seus cachorros ou subindo em pequenas caixas de madeira para debater acaloradamente sobre a guerra no Vietnã — seja lá o que fosse isso, %Lucie% realmente se perguntou que diabos era um “Vietnã” para causar discussões tão intensas —, ela finalmente se permitiu relaxar.
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  Seu corpo doía de exaustão e esforço físico; os pulmões queimavam; os músculos se contraíam, dando sinais de uma cãibra iminente. Ela sentia-os pesados e pulsando no ritmo acelerado dos batimentos cardíacos. Seus lábios estavam secos, assim como a garganta, e por uma fração de segundos, %Lucie% apenas tossiu — forte, sem parar — tentando recuperar o fôlego. Quando a tosse cessou, a menina respirou fundo, sentindo o cheiro de grama, poluição, urina, carbono queimado, e algo mais denso, carregado pelo vento vindo das árvores.
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  A grama, apesar de um pouco molhada, pinicava curiosamente a pele sensível de %Lucie%, fazendo-a se encolher e abrir os dedos instintivamente.
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  %Lucie% não fazia ideia de onde estava. Nem para onde o portal a levara. Na verdade, nunca havia visto um lugar como aquele. Podia ouvir as pessoas conversando em um idioma familiar, porém ainda estrangeiro. Conseguia entendê-lo com relativa clareza, mas ele não soava tão familiar quanto quando seus tios sussurravam em voz baixa com a tia Joanne.
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  Ela se lembrava de ter visto o avô Edwin uma única vez, e ele também usava aquele idioma. Soava estranho. Mas, ainda assim... ela não estava completamente perdida, certo? Certo?
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  Ela exalou fundo mais uma vez, engolindo em seco, e por um momento apenas aproveitou a cacofonia silenciosa da cidade. Ao longo dos anos, imaginou como seriam as cidades — ou lugares diferentes das catacumbas de Durmstrang —, mas verdade seja dita, ela nunca imaginou algo assim. Era muita informação, muito movimento, mas, ao mesmo tempo, transmitia um certo alívio.
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  Ali, %Lucie% %Vatra% era simplesmente ninguém. Invisível aos olhos alheios. No máximo, receberia um comentário maldoso ou outro — e só. Ali, ninguém se importava com ela o suficiente nem para olhar. %Lucie% era tão insignificante que ninguém sequer olhava para ela. E nunca havia se sentido tão livre.
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  A sensação era inebriante. %Lucie% se esticou, pela primeira vez em muito tempo, sentindo a grama pinicar sua pele e o ar frio envolvê-la, apesar da temperatura amena. Então, ergueu os olhos — para longe dos postes de luz, da sinfonia dissonante dos carros, dos prédios — e olhou para o céu pela primeira vez na vida.
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  Um suspiro de admiração escapou quase imediatamente.
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  Era estonteante.
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  Tantos pequenos pontinhos cintilantes espalhados pela malha de azul profundo, permeada por manchas alaranjadas e rosadas, escurecendo gradativamente com o tempo. Até as nuvens carregadas da chuva outonal pareciam fascinantes para %Lucie%. Ela se perguntou como seria tocá-las. Qual seria sua textura? Elas desapareceriam antes mesmo de serem alcançadas?
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  %Lucie% finalmente se sentou, coçando a cabeça com uma careta, olhando ao redor. Com a adrenalina diminuindo e o cansaço controlado, a menina percebeu que, desta vez, estava realmente perdida. Completamente perdida.
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  Levando a mão direita ao peito, agarrou o tecido da camisa, os dedos se cravando no pano como se aquilo pudesse facilitar sua respiração — não facilitou.
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  Franzindo o cenho, ela começou a entrar em pânico. Como voltaria para casa agora? Mas... que casa? Durmstrang não era sua casa. Tia Joanne não era sua família. Ela deixara isso claro vezes suficientes para que %Lucie% entendesse que jamais faria parte, não importa o quanto tentasse. Tia Joanne também não apreciaria seu retorno a Durmstrang. Para ser sincera, %Lucie% nem sabia se poderia — ou queria — voltar.
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  Ela estava à beira das lágrimas, assustada com o futuro incerto, quando alguém aparatou ao seu lado. %Lucie% se encolheu, protegendo a cabeça, mas então o vento trouxe um cheiro de pinho e algo invernal, com um toque cítrico que lembrava limão.
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  Ela soube, imediatamente, que não era tia Joanne nem os irmãos dela. Era o Professor Krasny.
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  Mas por que ele estaria ali?
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  — Levei quase cinco anos, mas fico feliz que finalmente tentou sair das catacumbas — disse o Professor Krasny com um tom mais contido, sem a agressividade que costumava usar nos corredores de Durmstrang. %Lucie% apenas o encarou, confusa e assustada. Do que ele estava falando? — Venha agora. Preciso levá-la à Pousada Três Vassouras. Não temos muito tempo. Não posso pedir que confie em mim, mas posso levá-la até alguém que cuidará de você. Não precisará se preocupar com Joanne Rozenn, se não quiser.
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  Ele ofereceu a mão, estoico como sempre, mas algo em seus olhos %obsidianos% parecia mais gentil e compreensivo do que jamais foram. Mesmo assim, %Lucie% hesitou.
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  Ele bateu sua bengala escura — com a cabeça em forma de dragão — duas vezes no chão, mais por hábito que por necessidade. Em seguida, retirou discretamente sua varinha do casaco pesado, de acácia, pouco flexível. %Lucie% lembrava-se dessa descrição. Ele observou a rua ao redor com cuidado para não atrair olhares curiosos. Então, com um movimento rápido e preciso, estendeu a varinha para a beira da calçada.
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  Pouco tempo depois, %Lucie% ouviu o guincho de um pneu. Encolheu-se pelo som alto. E então, seus olhos encontraram o ônibus roxo. Ela agarrou a própria mão, segurando-a com força, enquanto o Nôitibus Andante virava a esquina.
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  Pela velocidade, ele deveria ter atingido ao menos quatro carros, mas, com um feitiço, encolheu-se até o tamanho da palma de uma mão e deslizou entre os veículos até parar diante deles. Buzinou duas vezes.
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  O cobrador, escorado na porta, virou-se para eles palitando os dentes e ajeitando o bigode fino, curvado como um caracol:
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  — Bem-vindos ao Noitibus Andante, transporte de emergência para bruxas e bruxos perdidos. Eu sou Branislav Shunpike, o condutor — informou ele, com aparência de alguém nem jovem, nem velho, cabelo desgrenhado sob o capuz e um cheiro estranho de algodão doce queimado.
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  %Lucie% hesitou, surpresa e receosa, olhando para o Professor Krasny, que permaneceu impassível.
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  Era estranho vê-lo fora dos corredores de Durmstrang. Ele destoava dos outros professores. Ainda possuía a mesma carranca silenciosa que os outros professores de Durmstrang, mas se destacava como um dedão podre em meio aos outros, principalmente, por causa de seus cabelos. Ainda que agora fossem grisalhos, eram de um acobreado vivido, profundo, e divergia dos outros cabelos pálidos, loiros ou platinados que boa parte da Durmstrang parecia possuir. Não possuía a palidez que tia Joanne e seus irmãos possuíam, pelo contrário, era pálido, sim, mas não de um jeito etéreo ou doentio.
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  — Desculpe, senhor, não transportamos adultos que sabem aparatar. Nosso serviço é exclusivo para jovens bruxos ou doentes. Entretanto, tenha um bom...
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  — Eu sei — cortou Krasny, seco. %Lucie% franziu o cenho, incomodada com o tom. — É para ela — disse ele, apontando %Lucie%. Ela quase comentou que não tinha dinheiro, mas se calou quando ele apenas acenou, como se a viagem já estivesse paga. — Para a Pousada Três Vassouras. Minnie estará esperando por ela.
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  — Mas, professor, eu não... — %Lucie% começou a dizer, mas antes que terminasse a frase, o professor Krasny já havia aparatado novamente, desaparecendo sabe-se lá para onde. %Lucie% abriu a boca para chamá-lo de volta, mas rapidamente a fechou com força. Qual era o sentido de chamar por alguém que já havia desaparecido? Era desperdício de saliva, supunha. Ela suspirou pesadamente, agarrando a frente da blusa e se encolhendo, enquanto encarava o condutor com olhos grandes e assustados, calculando como deveria proceder a partir de agora. — Não tenho bagagem, senhor — admitiu a menina, gesticulando apenas para as roupas que usava, puídas e com algumas manchas de momentos não muito gloriosos nas catacumbas.
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  — Bem, então não vamos esperar a grama crescer! Ande! Ande! Não temos o dia todo! — agitou o condutor Branislav Shunpike, gesticulando para que %Lucie% se movesse. A menina se questionou como poderia ser tão lenta mesmo tentando entrar o mais rápido que conseguia no ônibus. — Cama 11 para a menina de 11. Muito bem, devemos advertir para a possibilidade de náuseas, distorções visuais. Você tem direito a esta cama, uma porção de guisado e bebida quente à sua preferência. No entanto, não tem o direito de escolher a música a ser tocada. Sente-se bem, aperte o cinto e... lá vamos nós!
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  %Lucie% soltou um gritinho, seguindo Branislav até o assento que lhe havia sido reservado. Observou a cadeira transformar-se, surpreendentemente, em uma cama longa — e, estranhamente, mais confortável do que sua própria cama jamais fora. Olhou com uma ponta de suspeita para o excêntrico condutor, então se sentou, testando-a por um breve momento. O colchão era macio e afundava com seu peso; não era doloroso nem pinicava. Todavia, %Lucie% não teve muito tempo para aproveitar, pois Branislav deu o comando ao motorista, que imediatamente acelerou. Ela gritou baixo, agarrando-se à lateral da cama com toda a força que conseguia, enquanto o ônibus se movia com uma velocidade absurda.
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  Uma das três cabeças penduradas à frente do para-choque do ônibus falava agitadamente. Possuía dreads e contas de metal no cabelo. %Lucie% se questionou se o estilo era rastafári ou algum tipo de encantamento do século XVII — talvez um pirata? — pois certamente soava de forma curiosa. Ela tentou acompanhar as palavras, mas em algum momento, o sotaque pesado e a velocidade da fala tornaram tudo incompreensível. Sua atenção se desviou então para a música que ecoava de um rádio pendurado precariamente na frente. %Lucie% apertou os lábios, inclinando-se para frente — quase se desequilibrando e batendo na janela à sua direita com a curva fechada — ao reconhecer lentamente o ritmo.
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  Lembrava-se de ter ouvido aquela música mais cedo, vinda do corredor, com risadas desconhecidas, mas convidativas. Por uma fração de segundo, %Lucie% se perguntou quem seriam as pessoas que riam tão livremente nos corredores de Durmstrang. Embora jamais fosse conhecê-las ou imaginá-las a recebendo de braços abertos, tudo o que ela podia fazer agora era ouvir a música...
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  — Senhor Shunpike? — chamou a menina, tentando não soar hesitante como antes. Pela primeira vez, sentiu-se em casa. Não que aquele ônibus fosse magicamente se transformar em sua casa — a verdade era que %Lucie% %Vatra% não possuía uma —, mas sentiu-se, pela primeira vez em toda a sua breve existência, não apologética. Não se sentia culpada por chamar o excêntrico condutor, nem temia reações agressivas. Sentiu-se, enfim, em casa dentro de seu próprio corpo. — Pode me dizer qual é o nome dessa música que está tocando?
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  Branislav Shunpike pareceu incomodado com a pergunta. Estreitou os olhos, analisando o rosto da menina com atenção e impaciência. Por uma fração de segundo, %Lucie% esperou por um rosnado ou por um tapa que a silenciaria — mas não foi isso que aconteceu. Ao contrário, Branislav apenas deu de ombros, desinteressado.
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  — A curiosidade tende a matar o gato, senhorita %Vatra%! — resmungou, revirando os olhos, dando um passo para a esquerda quando o ônibus fez outra curva fechada que lançou %Lucie% contra a cama à frente. %Lucie% gritou baixinho, pedindo desculpas à senhora doente deitada ali, e tentou se agarrar a uma barra de ferro à sua direita. Os nós dos dedos ficaram brancos de tanto apertar. Seus olhos de obsidiana misturavam entretenimento, diversão pessoal e absoluto pavor. Era loucura? Com certeza. Mas havia algo de divertido nisso também. — Estes, senhorita %Vatra%, são os Beatles! Trouxas podem ser arcaicos e desinteressantes por vezes, mas não dá para negar que, especialmente tratando-se de música, eles são os melhores nisso!
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  %Lucie% o encarou com uma ponta de confusão. Seu cenho se franziu, e ela mordeu a língua para não dizer um petulante: “o senhor falou, falou e não disse nada”. Talvez não tenha sido tão bem-sucedida em ocultar a expressão, pois certamente estava visível.
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  — Twist and Shout — resmungou Branislav, irritado. %Lucie% abriu um sorriso largo, os olhos brilhando. Percebeu que gostava da reação do mais velho — irritado por não poder enganá-la, mas sem ser ameaçador. %Lucie% se perguntou, internamente, o que mais poderia fazer para irritar alguém sem acabar em confronto físico.
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  Seus olhos %obsidianos% desviaram-se para a janela à direita. Sentiu o estômago se contrair com a velocidade que o ônibus parecia adquirir. As janelas viravam borrões distorcidos, manchas de cores indistinguíveis. %Lucie% tentou respirar pelo nariz e soltar pela boca — mas tampouco parecia estar funcionando. A pulsação martelava contra as têmporas, gerando uma dor esquisita, como um choque, enquanto o ônibus encolhia até ter a largura de uma mão. E então, como num sopro, tudo parou.
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  Sua garganta estava seca. Os ouvidos zumbiam tão alto que era incômodo. Ela piscou algumas vezes, ofegante, ainda agarrada à barra de metal. Tentou espiar pela janela para ver onde diabos estava, mas sequer teve tempo para registrar — já era conduzida para fora do ônibus. %Lucie% torceu a barra da blusa entre os dedos enquanto descia e dava de cara com uma viela de pedra e casinhas antiquadas, levando até uma praça ampla, com lojas igualmente antigas. Um vilarejo medieval, de madeira, pedra e vidro. Mais ao fundo, à direita, %Lucie% viu com clareza o letreiro da Pousada Três Vassouras.
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  A menina engoliu em seco, esfregando inconscientemente as pontas dos dedos na barra da blusa, prendendo a respiração. Reconhecia que agora não havia mais volta. Era um recomeço. Mas o que, pelos céus, deveria fazer com isso? Era só uma criança de 11 anos!
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  Timidamente, começou a se mover. Os músculos ainda doloridos, as câimbras a fazendo mancar. Seu caminhar era desajeitado. Abraçou a si mesma, observando com curiosidade contida algumas figuras excêntricas — bruxos, certamente. Sabia que pertencia ali. Era uma bruxa, como eles, mas ainda assim, mesmo ali, alguns olhares de desconhecidos que a faziam desejar se esconder — abrir um buraco sobre seus pés e desaparecer.
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  A noite não estava fria, mas %Lucie%, certamente, estava congelando.
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  — Com licença, senhor? — %Lucie% chamou, hesitante, aproximando-se de um elfo doméstico. Apertou os lábios ao vê-lo parecer surpreso com a deferência. Mas, ao encarar o rosto de %Lucie%, seu olhar se tingiu de desprezo. Ela engoliu em seco, tentando não se encolher. — Sabe onde posso encontrar uma pessoa chamada Minnie...? — começou a perguntar, mas o elfo sibilou entre os dentes, irritado.
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  — Prole de sangue-ruim. Madame Walburga sempre diz que esta raça irá destruir o nome dos bons bruxos... — resmungou ele. %Lucie% trincou os dentes. Provavelmente, não importava onde estivesse, ela não poderia escapar do fato de que sempre seria uma sangue-ruim.
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  Apresentava-se de forma mais curvada, menor e um pouco lento, não parecia muito idoso, mas certamente não parecia jovem. Suas maçãs do rosto eram mais delimitadas pela pele, e havia uma pequena flacidez na altura de suas bochechas, o nariz pontiagudo era torto, e os olhos um pouco mais avermelhados do que era normal, parecendo estar lacrimejando. %Lucie% se questionou internamente se seriam os olhos o problema para seu mal humor aparente.
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  — Não quis ofendê-lo.
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  O elfo doméstico franziu o cenho, voltando-se para encarar %Lucie%, parecendo ser pego outra vez de surpresa por suas palavras, e então, estalando os lábios:
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  — Fará bem retornar para onde veio, menina, aqui certamente não é um lugar para alguém como você... — O elfo doméstico começou a dizer, mas foi interrompido abruptamente pela abertura da porta da Pousada Três Vassouras. %Lucie% engoliu em seco, dando um passo para trás, e usando a porta aberta como um escudo, observando com olhos arregalados o homem que se projetava para fora do aparente bar e pousada.
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  Ele cheirava a cerveja amanteigada e algo doce.
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  — Eu assumo que minha adorável irmã o mandou para bisbilhotar novamente meus próprios assuntos sem ser percebido, não é, Monstro? — O homem disse com um tom de voz calmo e direto, até mesmo pragmático, mas %Lucie% podia sentir algo diferente, estranho, que não condizia com sua paciência e clara tranquilidade. Algo mais como exasperação, do que um tom contemplativo. O elfo doméstico, Monstro, pareceu envergonhar-se e ao mesmo tempo empertigar-se com o comentário vindo do bruxo, a censura soando-lhe mais amarga do que %Lucie% poderia imaginar que de fato o fosse, enquanto encolhia os ombros ossudos. O bruxo suspirou pesado, parecendo revirar os olhos, e então estendeu uma carta para o elfo. — Pois diga a Walburga que meus interesses nesta noite se alinham com os dela. Para Sirius, antecipadamente, para que aplaque sua inquietação, agora, suma daqui.
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  O rosto de Monstro pareceu se iluminar ao receber das mãos do bruxo uma carta que %Lucie% poderia jurar já ter visto antes. O mesmo tipo de papel pesado e grosso que envolvia o pergaminho, com um selo vermelho destacando-se ao centro. Havia, igualmente, um brasão, mas %Lucie% nunca havia tido uma oportunidade de observá-lo mais a fundo embora lembrasse um pouco, de certa forma, o de Durmstrang.
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  O bruxo agitou suas mãos, dispensando do elfo, incitando-o a mover-se mais rápido, e então Monstro desapareceu. %Lucie% piscou, esfregando seus olhos, questionando-se se a essa altura o sono já estava fazendo-a ver coisas, mas descansar ainda não era uma opção. Antes que %Lucie% pudesse dizer qualquer coisa, no entanto, os olhos azuis cinzentos do bruxo de cabelos escuros como a noite, um pouco desalinhados pela brisa suave, repousaram nela, e o rosto dele se empalideceu. Vestia-se totalmente de preto, com roupas discretas, mas possuía algum tipo de colar por baixo de suas roupas refinadas oculto pelo colarinho de sua camisa branca e o colete preto com bordados minuciosos como vinhas e cravos verdes decorando o tecido grosso, de prata.
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  %Lucie% o viu abrir a boca, aparentemente para lhe dizer alguma coisa, mas nada saiu. Ela deu um passo instintivo para trás, respirando pesado, de maneira irregular e rápida, já considerando correr.
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  — Minerva... — O bruxo chamou com um sotaque sofisticado, pesado, que lembrava aos irmãos de tia Joanne, especialmente dois que pareciam morar em um lugar chamado Reino Unido. Embora ele tenha se referido a uma outra bruxa que se aproximava de onde ele estava, congelado na entrada da Pousada Três Vassouras, os olhos do bruxo permaneciam fixos no rosto de %Lucie%.
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  — Pelos céus, Alphard, o que está acontece... — A bruxa com chapéu pontudo, olhos grandes expressivos e um rosto que, de alguma forma, embora fossem levemente severos, eram, igualmente doces, começou a dizer tocando no ombro do bruxo, mas então sua voz igualmente desapareceu no segundo que seu olhar repousou sobre a menina. %Lucie% olhou ao seu redor, pronta para gritar, dando mais um passo para trás, as mãos se fechando em punhos firmes, trêmulos. A menina viu a bruxa mais velha levar as duas mãos em direção, surpresa, e então uma de suas mãos desvirtuou-se para repousar sobre seu peito, igualmente trêmula como as de %Lucie%, mas com a diferença de ser permeada apenas pela surpresa, e não o medo, como se ela estivesse tentando sentir seus próprios batimentos cardíacos. — Pelo céus, não pode ser, Rio, é você?
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