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História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

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Charía

Escrita porSoldada
Revisada por Lelen

Prólogo

Tempo estimado de leitura: 22 minutos

FLORESTA AMAZÔNICA • 16 ANOS ANTES.

  OS GARÇA-BRANCAS ORGULHAVAM-SE DE SUAS RAÍZES ORIGINÁRIAS, E, ESPECIALMENTE, DE TER CONSEGUIDO MANTER SUAS TRADIÇÕES INTACTAS.
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  Mesmo que o sangue de seu povo manchasse as raízes daquelas terras, e que não houvesse sequer um reconhecimento mínimo das atrocidades que haviam sido feitas com os seus pelos invasores que se sentiram no direito de tomar uma terra que não lhe pertencia, a verdade era que um Acará, sempre, sempre iria sobreviver. Descendentes dos Tupis, resistência e resiliência estavam gravados em seu sangue. Aprenderam desde cedo que sempre haveria brancos para tentar apagar sua história, mas bastava que um deles se mantivesse vivo que suas histórias e tradições continuariam a seguir.
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  Continuariam a viver. Não pelo sangue, mas pela memória, pela voz.
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  Refugiaram-se então em meio à mata fechada, no coração da Amazônia. Não em uma divisa de países que pouco lhes pertenciam, não rodeados pela ganância e o jogo de poder corrupto que assolava aquelas terras como uma praga descontrolada, mas sim onde a terra clamava e reconhecia o sangue que possuíam. Aquela terra sempre iria reconhecer seus filhos, e assim como acreditavam que tudo vinha desta, tudo, igualmente, retornaria para lá.
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  Para os Garça-Brancas não havia distinção do humano e da magia. Havia-se a conexão, fosse esta mais forte ou mais fraca, com o sagrado. O palpável e o não tangível. Havia o preparo para ouvir, e a paciência para entender. O tempo não era um inimigo para os Garça-Brancas, mas sim, um professor astuto, às vezes caloso em seu tratamento, mas que escolhia a dedo as lições que lhe iriam oferecer no momento certo, na hora certa. Um guia, ou um pajé ancestral, que lhe oferecia o caminho quando mais precisava. Quando mais sua alma gritava. E se destino existia ou não, cabia apenas um Garça-Branca reconhecê-lo.
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  E naquela noite, era a vez de Tiê fazer sua jornada.
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  Era tradição para os Garça-Brancas que todo garoto que completasse seus 15 anos passasse pelo ritual que o tornaria um homem. Equivocava-se acreditar em papeis contemplados por uma sociedade fundada e moldada pela visão de europeus. O ritual para que um garoto fizesse sua travessia, tanto espiritual quanto física, para sua vida como um homem não se derivou de falsas exibições de poder, humilhando e minando a essência de uma mulher apenas para afagar um ego inseguro; não, jamais. A jornada de um Garça-Branca era espiritual e física para entender como o mundo funcionava e qual seria o papel que seu coração o comandava seguir. Um pedido para os grandes deuses, e uma oferenda silenciosa para a floresta que um dia havia lhe oferecido vida, de retorno e respeito. Caberia à floresta determinar quem retornaria para a tribo e quem teria seu corpo clamado outra vez pela terra.
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  Não era um ritual de sacrifício, mas sim, de retorno. Retribuição.
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  Os homens da tribo, mais velhos e mais sábios — ou nem tanto assim, por vezes —, iriam se reunir para fora de suas ocas e, em frente a uma fogueira alta e imponente, iriam dançar e iriam cantar em comemoração pelo rito daqueles que finalmente haviam chegado àquela idade tão aguardada. Os jovens prontos para sua jornada iriam receber a benção do pajé e as palavras sábias de seu Cacique. E então, as mulheres da tribo iriam se aproximar deles, pintariam seus rostos e os marcariam com uma despedida e uma oferenda de sorte. E então estes tomariam seu caminho para dentro da mata fechada, para dentro de sua mãe originária. Nenhum outro membro da tribo poderia ter contato com o jovem guerreiro, tampouco desviá-lo de seu caminho; sua jornada deveria ser solitária e reflexiva. Era algo que apenas eles poderiam fazer por si mesmos.
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  E Tiê mal podia se conter de animação quando chegou sua vez de ser pintado por sua mãe, Potira, e sua irmãzinha pequena, Amana, de apenas 4 anos. Tiê sorriu para sua mãe, observando-a desenhar uma faixa sobre seus olhos antes de afastar uma mecha de cabelo de seu rosto, uma última vez, os olhos escuros marejados com a mistura maternal de preocupação e profundo orgulho. Tiê balançou sua cabeça de maneira reconfortante, tentando assegurá-la silenciosamente que estava tudo bem, que ele estava pronto. E ele sentiu uma vontade gritante de abraçar sua irmãzinha quando sentiu a mãozinha dela, suja com a tinta preta, marcar seu pulso. Não era um desenho da tribo, nem uma escrita para os deuses o guiarem, era apenas uma marca da mãozinha gorducha e pequena da menina, gravada em sua pele, e talvez fosse a marca mais importante que ele havia adquirido naquela noite, até então.
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  Desejou poder abraçá-la, desejou poder jogá-la no ar e ouvi-la rir uma última vez, mas não poderia ter contato com ninguém. Era parte das regras do ritual, e Tiê jamais o quebraria. Então, com um último olhar para sua mãe, Tiê pegou um galho grosso e longo de uma árvore, usando-o como uma espécie de bengala para auxiliá-lo em sua caminhada, e sozinho, sem mais nada, caminhou para dentro da floresta.
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  Seu corpo, nem franzino, nem musculoso, apenas jovem e esperançoso, foi engolido pela folhagem verde e pungente da mata. O vento carregou seu cheiro, espalhando-o pelas árvores e pedras, pelas folhas secas e mortas no chão, e as verdejantes e vivas nas copas da árvore. Choros e ruídos de animais o acompanharam enquanto ele começava sua jornada. Seus pés descalços encontravam-se com as texturas diversas do solo da floresta, esmagando as folhas secas e murchas, enterrando-se na lama pungente e rica, viscosa e igualmente gélida, sentindo a textura áspera e irregular das raízes de algumas árvores, um pouco saltadas sobre o chão, criando uma pequena resistência para a sola de seu pé. O cheiro pungente de terra molhada e mata fechada, um ar mais gélido e puro, lhe invadia os pulmões, enviando uma onda de conforto intensa. O eco suave e reconfortante dos riachos se envolvendo e se conectando, guiando-se para o deságue em uma cachoeira pequena. 
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  Caminhou por um longo tempo, perdido em seus pensamentos. Deparou-se com uma árvore de jabuticaba um pouco na direção do sol nascente, espinhosa, mas que lhe serviu de jantar antes de encontrar uma boa árvore para dormir. Quando a noite encobriu a floresta como um manto gentil, e Tiê deitou-se contra o chão terroso ao pé de uma Jequitibá grande e anciã, com raízes robustas que se projetavam parcialmente para fora da terra, acalentando-o em um abraço seguro para a temperatura que começava a tornar-se amena com a progressividade da noite. Quando o sono passou a arrastar-se por seu corpo, deixando os músculos mais pesados e menos tensos, espalhando-se por suas veias como uma névoa suave, espiralando sobre seus olhos, ao passo que suas mãos deixavam-se relaxar, espalhando-se, pressionadas contra a terra úmida pela transpiração das árvores, Tiê sentiu.
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  Estava . Abaixo da palma calejada de suas mãos devido ao trabalho diário que ele fazia com seu tio e irmãos mais velhos, um suave, mas inquestionável, pulsar. Como uma energia pulsando por suas veias, uma conexão. Tiê compreendeu, naquele momento, quem ele era: apenas um fio, fino e precariamente tensionado sob um universo de ligações e terminações nervosas de existências além de sua própria compreensão, mas que espelhavam a sua própria. Conexões e elos que o conectavam como uma pequena raiz, enredando-se pela terra, conectando-se com tantas outras. Uma pequena peça que sustentava uma grande e preciosa árvore. Respirava junto com ele, sentia fome como ele, e dor. Possuía esperanças, sonhos e desejos como ele. Acreditava em algo e buscava desesperadamente o acalanto daquela sensação de ligação capaz de preencher uma alma perdida. Alguns possuíam buracos, mas Tiê percebeu que não era capaz de amá-los menos.
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  E ao fundo de tudo aquilo, havia apenas amor.
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  Afeto. No intrínseco de seu significado. Um tipo de amor que ele nunca havia sido capaz de experimentar ainda que em jovem idade. E embora não fosse parecido com o que ele via em sua tribo — entre casais, ou amigos; entre famílias, e animais —, era um amor profundo que, de certa forma, assegurava sua alma, a envolvia em um abraço cálido que o completava. Tampouco poderia dizer que saberia identificá-lo, tampouco teria palavra para descrevê-lo corretamente, mas estava ali. Uma profunda emoção provinda de uma realização complexa, e, paradoxalmente, simplória: um era todos, e todos eram um.
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  Tiê dormiu sem sonhos. Tivera um sono tranquilo, relaxante e revigorante, e teria acordado um pouco mais tarde do que o normal, quando os pássaros já estivessem empoleirados em seus galhos, e os animais já estivessem preparando-se para caçar seus desjejuns, se não fosse pelo tiro.
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  O primeiro disparo ecoou distante, seguido de um guincho alto de um animal. O animal ainda gorgolejou de forma fantasmagórica por alguns minutos antes de ser vencido pela morte. Mas então, houve os gritos, ordens em uma língua que Tiê reconheceu vagamente, mas que não lhe era natural. Ríspida, rocosa, fluída com uma crueldade inerente, profusa e fria. Carregava cheiros metálicos e sufocantes, reconhecia semelhança em tabaco. E algo podre. Profundamente podre. Passos pesados partiam os galhos e varriam folhas mortas de seus jazigos, marcavam a terra com violência, possessividade de algo que assumia que tudo lhe pertencia. Com a violenta ganância de um usurpador; um invasor.
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  Tiê acordou com um susto quando eles já estavam perto demais para que o garoto fugisse. Escondeu-se por baixo das raízes da Jequitibá, e talvez ele tivesse conseguido escapar se sua respiração se prendesse por mais míseros segundos; ou se sua visão sobre os animais correndo em disparada para escaparem de seus caçadores fosse semelhante ao daqueles que lhe invadiam a casa. Ou ainda, se o fogo não tivesse tomado conta das estruturas protetoras das árvores que o cercavam. Mas Tiê estava fadado ao fracasso.
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  Gritos agonizantes dos animais ecoaram, pulsando pelo corpo de Tiê como um espelho da dor que sentiam, e o garoto debateu-se contra o chão. Lágrimas grossas escorrendo por seu rosto, seu corpo tremendo e tendo espasmos ao registrar algo atravessar sua pele com força o suficiente para enviá-lo novamente ao chão, ao registrar o fogo consumindo tudo o que havia pela frente. O cheiro pungente era sufocante, e fazia com que seus pulmões começassem a latejar, a dor espalhando-se do centro do seu peito para as têmporas de sua cabeça, estas pulsando ao ritmo da pulsação do coração do jovem, enquanto ele corria. Corria sem rumo, sem ideia do que fazer para salvar os animais que lhe eram irmãos, sem saber para onde seguir, implorando para que a floresta o recebesse, que o protegesse. Que não o abandonasse agora.
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  Mas os risos dos invasores e os gritos haviam ferido a floresta, e esta parecia recusar-se a oferecer-lhe uma mão estendida em ajuda. Parecia, agora, retrair-se, como um animal ferido, e cortar tudo aquilo que se assemelhava a Tiê. Então houve o primeiro disparo. O ombro de Tiê foi lançado com força para frente, o fazendo se desequilibrar e cair no chão, o ombro esquerdo queimando em um único ponto, embora algo cálido e líquido escorresse em profusão por sua pele, mais rápido do que deveria. O líquido pegajoso de seu sangue possuía uma tonalidade mais clara do que o garoto imaginava que fosse ser. Esvaía-se em demasia, e embora doesse, o garoto não parou de correr, de tentar chegar ao menos em um dos riachos e permitir-se ser levado pela correnteza até a cachoeira, para longe dos invasores. Não sabia que aquela ferida estava roubando-lhe, igualmente, a vida.
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  Então houve outro disparo, alojando-se no abdômen de Tiê, lhe rasgando o intestino. A dor lacerante o cegando e fazendo seus joelhos fraquejarem. O corpo aos poucos perdendo sua força e rapidamente cedendo à força gravitacional. A queda brusca foi amortecida pela sensação de formigamento e perda de controle de seus membros. A dor se misturou e então começou a desfazer-se. Mais um disparo e Tiê se engasgou com o próprio sangue. Uma pressão insuportável surgiu por seu peito, como se houvesse uma montanha o pressionando com violência para baixo, mandando-o para o mais profundo da terra, seguido então de uma sensação crescente de sono, convidativa. Espiralava por sua mente não como uma névoa, mas sim como um vento, uma brisa suave que lhe enviava alívio. Obrigava-o, no entanto, a permanecer parado.
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  Crescia gradativamente, inicialmente tímida, agora acelerava-se. E com igual velocidade, estava obscurecendo seus olhos, primeiro pelas laterais, até que tudo fosse preto, até que não houvesse mais nada. Apenas o vazio.
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  Ele estava envolto por algo cálido e confortável, flutuando em um mar abismal de estrelas, tão distantes e ao mesmo tempo próximas de seu toque.
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  Tiê abriu os olhos com o vago eco de dois corações pulsando em união. Não soube dizer ao certo se um deles lhe pertencia, apenas podia ouvi-los, as vibrações percorrendo por seus membros pesados e molhados de forma fantasmagórica, não assustadora, mas igualmente não ali. A água abaixo de seu rosto não parecia lhe trazer sensação alguma, nem temperatura. O mar de estrelas se estendia com imponência à sua frente, envolvendo-o em absoluto, distantes, e ao mesmo tempo tão próximos que Tiê poderia esticar uma mão e tentar tocá-las. E ao fundo de tudo isso, o eco suave do caminhar de patas macias, elegantes o suficiente para serem silenciosas, quase imperceptíveis de um percebido predador. Tiê se sentou em meio ao oceano noturno do céu que o consumia, fazendo-o perder a noção de onde o céu se iniciava e onde terminava, levando sua mão direita, trêmula, em direção ao seu peito.
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  Tocou com as pontas dos dedos o lugar em que um buraco se abria, mas pela primeira vez não sentiu dor alguma. Tiê pensou ter engasgado com a sensação de seus dedos, amortecidos e sem tato algum, tocou a pele retalhada em seu peito, mas… ele não estava respirando. Era como se ele estivesse apenas existindo, preso em uma realidade ou situação que ia além de sua própria compreensão. E então, Tiê ergueu seus olhos, encontrando-se com o par de olhos felinos, grandes como dois sóis, cintilando com o que parecia ser uma mistura de energias, majoritariamente brilhando em azul. A grande cabeça do felino inclinou-se para frente, e Tiê sentiu-se como se estivesse sendo observado por uma montanha. O tamanho da criatura era quase incompreensível para sua cabeça humana.
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  Mas não sentiu medo da onça.
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  — Sabe onde está? — A onça havia perguntado, e embora sua mandíbula não tivesse feito movimento algum, os sussurros giraram ao redor do ar estacionado, envolvendo Tiê com a sensação esquisita de estar sonhando. Os sussurros, com vozes diferentes e em diferentes timbres e volumes, demoravam para serem registrados pelo garoto, criando-se uma confusão momentânea que rapidamente foi descartada quando se tornaram uma só.
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  Tiê abriu sua boca para responder a onça celestial, mas não conseguiu. Os olhos do jovem se abaixaram para o chão à sua frente, de repente confusos. Não, ele não sabia onde estava. Não, ele não tinha ideia do que havia acontecido. A última coisa que ele se lembrava era de ter caído no chão quando uma dor lacerante e aguda rompeu por seu peito, e então tudo ficou escuro. Tudo desapareceu…
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  — Você está morrendo, criança.
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  Tiê uniu as sobrancelhas em uma mistura de descrença, surpresa e choque. Colocou-se de pé abruptamente, de forma atrapalhada, caminhando para trás enquanto as estrelas ao seu redor chocavam-se suavemente contra seu corpo e desviavam-se de suas rotas originais. Tiê sorriu incrédulo, negando com a cabeça. Aquilo era mentira, era ridículo, como ele poderia estar morrendo se ele ainda estava aqui?
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  Mas a Onça Celestial permaneceu impassível.
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  — Você sabe quem eu sou? — Tiê franziu o cenho com a pergunta que divergia de todo o rumo que aquela conversa havia tomado. Ainda estava processando as palavras da Onça sobre estar morrendo, tentando encontrar uma maneira de escapar dali, tentando encontrar uma maneira de voltar para casa, de voltar para sua família quando a pergunta foi registrada por sua mente confusa.
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  Tiê exalou, como se tivesse acabado de receber um soco em seu estômago, roubando-lhe o que restava do ar que não estava escapando por entre seus lábios. Voltou lentamente em direção a criatura à sua frente, o brilho de reconhecimento surgindo por trás da névoa de desorientação. Os lábios do jovem se partiram em surpresa e até mesmo medo ao dar um passo para trás, o tremor escapou da sua coluna para os músculos tensionados de um corpo que não estava mais em seu plano físico. Ou, ao menos, estava se preparando para deixá-lo.
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  — Não posso oferecer sua vida de volta. Não posso oferecer a você a cura, e tampouco uma viagem segura para o que lhe foi roubado. Mas posso oferecer algo diferente, algo significativo, se me permitir. — Tiê engoliu em seco, dando mais um passo para trás quando a Onça inclinou a cabeça para frente, até que seus olhos estivessem na mesma altura que Tiê, ainda que fosse apenas uma vã tentativa para o tamanho titânico do espírito. — Posso oferecer retribuição. Posso oferecer a você a maneira de destruir aqueles que destruíram sua vida, sua casa, seu povo. Posso oferecer a você tudo o que desejar, se aceitar ser meu recipiente, meu avatar. Tudo que se inicia, precisa ter um fim, posso oferecer-lhe isso…
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  Tiê deu um passo para trás, e então, mais um, negando com sua cabeça, assustado, mas a Onça não parecia estar totalmente convencida de sua negativa. Porque ao fundo de tudo, encravado em sua alma, havia o princípio de uma chama há muito esquecida em uma tentativa de viver de forma pacífica longe de tudo. Uma chama que agora não mais gritava na solidão da alma de Tiê, mas começava a consumir, pouco a pouco, o que lhe restava de alma. Uma chama que provinha da frustração, da dor e da compreensão que, para alguém como ele, nunca haveria paz. Uma insatisfação que aquecia as veias e roubava-lhe o fôlego. Um desejo desesperado de retribuição e justiça. A certeza de que não haveria nenhuma das duas, todavia, em sua vida. E ao fundo de tudo, o desespero de obrigá-los a pagar, de fazer com suas próprias mãos o que ninguém mais faria. De proteger os seus e retribuir de forma correta as injustiças que lhe caíam nos ombros por tanto tempo. O desejo de fazer as coisas ficarem equivalentes.
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  A Onça inclinou sua cabeça um pouco mais e a respiração cálida, cheirando a fogo e a terra molhada, atingiu o rosto de Tiê, enviando-lhe uma onda de conforto, e, ao mesmo tempo, raiva.
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  — Apenas diga meu nome e o ajudarei, criança.
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  Tiê tremeu, e antes que percebesse, escapando por entre seus lábios trêmulos, quase como uma súplica, ele disse:
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  — Chária.
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DEVON, INGLATERRA • AGORA

  À minha cara %Clarissa%,
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  Escrevo para você na ânsia que esta carta lhe seja entregue logo, pois, eu mesmo, mal posso conter minha animação. Como havia dito em minha última carta, tenho tentado há meses, consegui convencer minha mãe (e quase todo o professorado de Hogwarts, se quer saber) a me autorizar a finalmente participar do Programa Especial de Trato das Criaturas Mágicas para Alunos Avançados, do Professor Silvano Kettleburn, e tamanho esforço fiz! Lutei tanto que acho que receio ter ferido os sentimentos da pobre Gina, ainda tão pequena para entender meu anseio, deve tê-lo visto como um desejo errático de me livrar da bagunça diária com eles.
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  Não que não fosse ser uma coisa boa ter dois segundos em paz, sem Fred e George explodindo tudo ao redor ou Perebas roendo minhas coisas para variar. Devo dizer-lhe que tentei me desculpar com a pequena Gina, mas ela se recusou a me ouvir, dizendo que só aceitaria minhas desculpas se eu trouxesse comigo nas próximas férias, uma daquelas... como você chama mesmo? ... compactas? Não, não... era... compotas! Isso, compotas! Aquela compota de doce de leite que mandou para nós ano passado. Receio que talvez tenha que enviar mais de duas desta vez, já que além de Gina, tenho quase certeza que mamãe também se rendeu a este doce.
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  Boas notícias, todavia, trago-lhe!
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  Eu consegui! Professor Kettleburn aceitou meu pedido, finalmente, e me escreveu até uma carta de recomendação, veja só! Estou devidamente matriculado
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  Sinto que este é apenas o começo, %Clara%! Para mim, para tudo o que quero fazer, e especialmente para o que eu posso aprender com os dragões que se espalham por seu país e continente. Acho que nunca fiquei assim tão ansioso antes, quer dizer, exceto quando Professor Kettleburn me mostrou um filhote de Dragão Verde-Galês-Comum. De acordo com a carta de preparação enviada pela Sra. Valverde, soube que em Castelobruxo não há separação de casas, o que é ótimo, embora eu não faça a mínima ideia do que poderia vir a ser meu lugar como alguém da Grifinória aí. Perguntei para uma das minhas colegas de casa, a irmã de Jacob, lembra-se? Contei-lhe anteriormente sobre ela, e tanto ela quanto Rowan me disseram que vocês têm suas próprias adaptações para as nimbus, e estou curioso para que você finalmente me mostre como funciona.
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  Espero do fundo do meu coração que esta carta chegue a você antes de mim, mas se porventura Errol acabar se perdendo outra vez, peço para que não se sinta culpada, céus sabem que esta coruja tem suas próprias vontades e ideias. Seja como for, estarei aí para ouvir suas piadas sobre a demora de Errol. Mal posso esperar, %Clara%. Por esta chance, e para te ver outra vez!
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Com carinho, vejo-te em breve.
  - Gui Weasley.

Prólogo
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Lelen

Eeeita, será se Tiê incorporando esse espírito vai se tornar o “vilão” da história? Entre aspas porque é só reparação o que for feito, né…
Mas mal posso esperar pra ver o Gui aqui no Brasil <3

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