Vinte e dois
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Diggory sacou a varinha por baixo da manga do agasalho que usava, dando passos curtos pela noite escura, notando o silêncio do local. A brisa batia em seu rosto bagunçando seus cabelos, a noite anormalmente fria para aquela época do ano. Cedrico olhou por sobre o ombro vendo um vulto seguindo-o mais afastado, sorriu de canto antes de virar na alameda à direita, parou por um instante ao reparar que não tinha apenas um Comensal o seguindo, outros quatro estavam à sua espera.
Cedrico sentiu a respiração parar por um momento ao entender que, na verdade, eram eles quem tinham caído em uma emboscada e não o contrário.
Victoria Lestrange, ele reconheceu os longos cabelos loiros conforme a mulher se aproximava, sorriu em sua direção.
— Última chance para correr, bonitão! — disse suavemente. Diggory sorriu de lado, irônico.
— Eu digo o mesmo, sogrinha!
— Óh, ele já se considera parte da família. — Ouviu a voz irritante de Bellatrix a qual se aproximava por suas costas, sendo o vulto que ele havia visto o seguindo, o sorriso enviesado em seus lábios. — Talvez seja hora de mostrarmos como recepcionamos nossa adorada família! — Sorriu ainda mais, ouvindo algumas risadas ao fundo.
Diggory mirou a varinha para Bellatrix quando a mulher deu mais um passo em sua direção, esperando que a mesma fosse atacá-lo.
— Calma, Bella — recomeçou Victoria sorridente, passando a mão pelos cabelos —, é até covardia todos atacarmos uma criança que mal sabe se defender…
— Se ele já se acha corajoso o suficiente para nos enfrentar, deve merecer o que vai lhe acontecer! — respondeu a outra no mesmo instante. Diggory mal teve tempo de lançar um feitiço de proteção, tão rápido havia sido o ataque da mulher.
Aquele pareceu ser o sinal que os outros Comensais esperavam, no instante seguinte, Cedrico viu-se cercado por quatro dos cinco, apenas Victoria não parecia interessada em atacá-lo naquele momento, embora parecesse se divertir com a cena.
Diggory sabia que se não começasse a contra-atacar suas chances seriam mínimas, mas não tinha tempo o suficiente para fazê-lo, mal conseguia se defender dos ataques. Momentos depois, um dos Comensais caiu com um grito, distraindo os outros, no que Cedrico aproveitou para estuporar um dos atacantes antes que, vindo de algum ponto às suas costas, uma raposa pulasse por sobre seu ombro, atacando o Comensal mais próximo, fazendo com que o mesmo cambaleasse com o ataque repentino, tentando tirar o animal de seu pescoço.
Cedrico sorriu de canto ao reconhecer o grande cachorro negro que também apareceu por ali, atacando os seguidores de Voldemort.
— Ora, ora, parece que agora temos mais do que um cachorro na família — começou Bellatrix rindo antes de parar em frente à raposa, a qual naquele momento Cedrico achou extremamente pequena e indefesa —, é como dizem: a pena não cai longe do hipogrifo. — Os olhos brilharam quando apontou a varinha para o animal de pelagem avermelhada, o qual rosnava em sua direção, mas não foi rápida o suficiente, no último segundo antes que o feixe de luz a acertasse, a raposa pulou para o lado, aproveitando para atacar outro Comensal próximo.
Diggory investiu contra Bellatrix no mesmo instante que livrou-se de Mulciber, tentando evitar que a mulher se aproximasse muito da raposa ou do cachorro, que agora rosnava em direção a Victoria, rondando-a, pronto para atacá-la.
Bellatrix Lestrange ria a cada ataque, divertindo-se com o que acontecia ao redor, foi quando um dos ataques de Diggory passou por um triz de seu corpo que a mulher pareceu levar aquilo à sério e irritar-se.
— Você deveria ter escolhido o lado vencedor, bonitão!
— Talvez não tenha reparado, mas foi isso que eu fiz, Bella! — respondeu no mesmo tom, tornando a atacá-la. Victoria defendia-se sem realmente atacar, parecendo tão divertida quando a irmã com a situação toda, o sorriso sempre presente em seus lábios.
— Nada mal, filha, olha só para você, finalmente resolveram mostrar-lhe como lutar de verdade. Pena que, com quatro patas, não seja a mesma coisa! — Piscou, vendo a raposa rosnar em sua direção antes de correr para a mulher, pulando nas costas do cachorro para impulsionar-se, pulando mais alto em direção ao rosto da loira, conseguindo lhe morder o braço quando a mesma o elevou para proteger-se.
Victoria gritou ao sentir a dor causada pela mais nova, precisando sacudir o braço algumas vezes para afastá-la, apontando a varinha em direção ao cachorro quando esse correu para atacá-la ao mesmo tempo, o qual foi lançado por alguns metros e caiu com um baque surdo, tornando a transformar-se em Sirius.
— É isso o que acontece quando você desafia a mamãe! — A mulher soprou na direção da filha, a qual entrou na frente do pai para evitar que a mesma tornasse a atacá-lo, contudo, foi para Diggory que Victoria apontou sua varinha.
Cedrico caiu no chão no mesmo instante sem nem mesmo saber o que tinha acontecido,
sentia o corpo inteiro queimar com o feitiço, um tipo de Incarcerous muito mais avançado, além das cordas em torno de seu corpo, Diggory sentia a pele afoguear conforme as mesmas se prendiam com mais força. Bellatrix sorriu ao ver o desespero do rapaz ao tempo que Sirius levantou-se apressado, tornando a atacar as duas mulheres, enquanto a raposa tentava roer as cordas que prendiam Cedrico. O animal afastou-se dele por um instante, notando que nada do que fazia surtia efeito, fechando os olhos antes de tornar a transformar-se.
— Ora, vejam só quem resolveu dar o ar da graça! — Bellatrix gargalhou ainda apontando a varinha para Sirius, tentando acerta-lo.
%Sam% pegou a varinha de Diggory, que estava caída ao chão, mirando com toda sua raiva na mulher, sorrindo de canto ao ver que a havia acertado com Cruciatus, antes de tornar sua atenção para o namorado. Victoria respirou fundo, afastando-se de Sirius e segurando a irmã que estava caída, contorcendo-se com a maldição antes de aparatar segurando-a junto de si.
Assim que as duas sumiram, Sirius se aproximou do casal, assustando-se ao ver o estado em que Diggory se encontrava.
Quim Schaklebolt aparatou na esquina e andou apressado até o beco lateral, logo encontrando os três no chão, Sirius tentava parar o sangramento e os cortes sobre a pele de Diggory enquanto %Sam% segurava a cabeça do rapaz, tentando fazê-lo parar de contorcer-se tanto.
— Quim, não sei mais o que fazer! — disse o homem assim que o viu, ainda mirando a varinha para o corpo do mais novo. Os cortes em Cedrico ficavam cada vez mais profundos, Sirius conseguia parar um ou outro por alguns instantes e logo eles voltavam a forma inicial e o sangue tornava a jorrar.
— Precisamos levá-lo ao St. Mungus, não temos outra opção — avisou assim que encarou o rapaz, tentando ele mesmo alguns contra-feitiços. — Que foi que Bellatrix fez?
— Não foi ela — começou %Sam% nervosa, os olhos marejados e o medo presente em sua voz devido a situação do namorado. — Victoria.
O Auror concordou com um aceno, juntando-se a Sirius para segurarem Cedrico, aparatando segundos depois.
— Tem certeza que é uma boa ideia? — perguntou Sirius assim que atravessaram a rua em direção ao hospital.
— Vocês dois fiquem aqui, tentarei resolver a situação e…
— Eu vou com você! — disse a loira no mesmo instante, negando-se a ficar longe de Diggory.
— %Samantha%, sei que está preocupada, mas vocês três são procurados, já será bem difícil conseguir atendimento para Cedrico sem que chamemos muita atenção, se vocês dois aparecerem juntos…
— Mas…
— A prioridade agora é Diggory ser atendido, vamos dar um jeito de você entrar para vê-lo depois. — Sirius segurou a filha pelo braço, acenando com a cabeça para Quim, que puxou o rapaz consigo antes de entrar no St. Mungus pedindo ajuda.
O cachorro negro estava deitado na calçada em frente ao hospital, olhando para o lado sempre que alguém passava pela calçada e mexia com ele, latindo vez ou outra.
Ficou nas quatro patas e tornou a andar para a lateral do prédio, virando em uma ruela escura, aproximando-se da loira que continuava encolhida entre algumas caixas, escondida atrás de uma caçamba de lixo, roía as unhas devido ao nervosismo.
— E aí? — perguntou assim que viu o animal aproximar-se, suspirando ao vê-lo negar com a cabeça, antes de voltar para a frente do St. Mungus.
Black frustrou-se passando as mãos pelo rosto cansado, o nervosismo presente em cada uma de suas ações. Não sabia mais o que fazer, fazia quase duas horas que Quim havia entrado com Cedrico e até então não tinha nenhuma informação. Já deveria ter avisado aos Diggory sobre o acontecido, mas simplesmente não sabia como faria para contar aos pais do namorado que o mesmo estava machucado e ninguém fazia ideia do estado em que se encontrava.
Respirou fundo cansada de esperar por alguma notícia, precisava ver com os próprios olhos.
Apontou a varinha para si mesma, mudando os cabelos e, com mais trabalho do que imaginou que teria, o próprio rosto. Não era nenhuma Poção Polissuco, mas deveria ser o suficiente para conseguir entrar sem que ninguém reparasse em si.
Atravessou a rua e andou decidida até o local, vendo o cachorro sentado, de guarda.
— Já volto! — sussurrou ao passar pelo mesmo, escutando-o latir em sua direção.
Entrou pelo hospital cumprimentando dois bruxos que faziam a guarda do local, logo andando em direção à recepção e parando em frente a uma bruxa de cabelos vermelhos. Por um momento não soube o que dizer. Era possível que Quim tivesse usado algum disfarce para que atendessem Cedrico e ela corria o risco de estragar tudo naquele momento.
— Gostaria de visitar um paciente que deu entrada há pouco mais de duas horas — começou, passando a língua pelos lábios. — Um assunto particular!
A mulher arqueou a sobrancelha.
— Nome do paciente?
— A senhora não está me entendendo — começou, respirando fundo para não gritar —, é um assunto confidencial.
— Sem nome, sem visita.
A garota pensou rápido, respirando nervosa.
— Ela está comigo! — Ouviu a voz grossa de Schacklebolt o qual aproximou-se segundos depois, colocando uma mão no ombro da garota. — A srta. Folks é uma Auror em treinamento, ficará responsável pelo paciente — explicou para a recepcionista que concordou no mesmo instante.
Os dois andaram pelo corredor, a garota ainda sentia o coração bater acelerado.
— Que ideia idiota foi essa? Quer ser pega?
— Precisava saber o que estava acontecendo, Quim, como ele está? — pediu aflita, vendo-o suspirar passando a mão na careca brilhante.
— Não sei ainda, dei sorte de encontrar com Eoin Montgomery na entrada e ele levou Cedrico para uma ala separada do hospital, estão tentando parar o feitiço, mas Diggory tem perdido muito sangue, é possível que fique com várias cicatrizes pelo corpo.
— Mas está bem? Não corre nenhum risco, certo?
Schaklebolt passou a língua pelos lábios grossos, apontando para o corredor no qual deveriam entrar.
— Só saberemos o estado de Diggory quando conseguirem parar o feitiço e o sangramento.
Sirius passou de cabeça baixa pelos corredores, carregando uma sacola em suas mãos, virou o último corredor — que ainda estava em construção —, andando até o final do mesmo e logo vendo a filha sentada em uma das cadeiras que estavam ali, sentando-se ao seu lado instantes depois.
— Novidades? — perguntou ao beijar-lhe a testa, vendo-a negar com um aceno, suspirando cansada. — Deveria ir para casa dormir um pouco, imagino que Diggory vá ficar incomodado ao acordar e saber que você passou a semana sem sair daqui, não é? Mal se alimentando ou dormindo.
A loira o encarou de lado, sorrindo fraco.
— Estou bem, pai, dormi algumas horas.
Black negou, passando a mão pelos cabelos compridos.
— Trouxe algumas roupas para você trocar… — Olhou para o quarto à frente com a porta fechada, ao tempo que a escutava agradecer. — Você já viu como ele está?
— Não, Rachel está com ele. Amos saiu faz algumas horas para ir trabalhar, disse que volta mais tarde…
— Ainda não estão conversando?
— Amos pediu desculpas, mas não é como se ela estivesse errada, não é? Cedrico está desse jeito por causa da Ordem…
O homem concordou com um aceno, suspirando em seguida.
— Como estão as coisas? — perguntou %Sam% em voz mais baixa, vendo-o dar de ombros.
— O mesmo de sempre, imagino. Estamos em desvantagem agora que vocês dois e Ninfadora estão afastados, mas também não é como se fossemos duelar com Você-Sabe-Quem…
— Elas não apareceram mais? Victoria e Bellatrix?
— Por enquanto não, imagino que Bella esteja transtornada por você ter conseguido acertá-la. — Sorriu de lado para a filha, embora ela pudesse perceber o tom preocupado do mais velho. — É melhor mesmo que você esteja um pouco afastada disso, vai estar mais louca que o normal se encontrar com você numa próxima missão…
— Bem, não é como se eu fosse sorrir ao encontrar com ela ou Victoria depois do que fizeram com Cedrico! — respondeu, passando a língua pelos lábios. — É a segunda vez que Diggory se machuca por causa dela!
Sirius Black concordou com um aceno, embora não parecesse nem um pouco satisfeito com a situação inteira, sabendo que sua filha iria querer se vingar da própria mãe pelo ataque ao namorado. O homem parecia mais cansado que o normal, %Sam% observou ao olhá-lo de canto, talvez fosse pelo número de missões que ele estava nas últimas semanas, já que ela e Cedrico estavam fora de ação, embora soubesse que parte daquilo era preocupação. Sirius se preocupava com %Sam% e Cedrico — que estava há duas semanas desacordado no St.Mungus —, mas também se preocupava e muito com Harry Potter, que ninguém tinha informações desde que invadiu o Ministério da Magia.
— Vai ficar tudo bem, pai — começou a garota, vendo-o a olhar com a sobrancelha arqueada —, no final a gente vai ganhar!
Cedrico sentiu a cabeça e o corpo doer assim que abriu os olhos, a luz fraca do local o incomodou momentaneamente. Precisou de alguns instantes para lembrar-se do que tinha acontecido, virando-se assustado para os lados à procura de %Sam% e Sirius, focalizando a visão em sua mãe em pé ao canto, olhando por uma janela.
— Mãe — chamou com a voz rouca, vendo-a virar-se no mesmo instante para encará-lo, sorrindo grandemente. — O que aconteceu? %Sam% e Sirius estão bem?
Notou quando a mulher respirou fundo, por fim concordando com um aceno enquanto se aproximava segurando em sua mão.
— Estão ótimos, é com você que devemos nos preocupar! Não sabe o susto que seu pai e eu levamos ao saber que você estava machucado, Ced! Faz quase três semanas que você está desacordado!
Cedrico concordou com um aceno olhando para o próprio corpo, boa parte de seu tronco e braços estava enfaixada e por um momento o desespero atingiu-lhe ao pensar no quão machucado poderia estar, lembrando-se da dor que sentiu com o ataque de Victoria.
— Estou bem agora, mãe, não se preocupe. — Sorriu de canto para a mulher que logo beijou-lhe a testa, acariciando seus cabelos. — %Sam% e Sirius também estão aqui? Se machucaram?
Rachel pareceu impaciente, negando com a cabeça.
— Não aconteceu nada, Cedrico. Estão ótimos, pare de se preocupar tanto com eles!
— Mãe — o rapaz negou com um aceno, cansado, entendia o medo e preocupação de sua mãe, mas ao mesmo tempo incomodava-o que ela não entendesse o motivo de tudo aquilo —, não quero começar uma nova briga com você, sabe o quanto prezo por sua opinião e o quanto gosto de você, também sei que se preocupa comigo e, infelizmente, tive alguns problemas ao longo do ano, mas acho que já passou da hora de você entender o motivo disso tudo, não é? Sabe por que estou na Ordem, não quero me machucar, obviamente, mas sempre será um risco e…
— Não venha me dizer que eu devo aceitar tudo isso, Cedrico — cortou a mulher no mesmo instante. — O dia que você tiver um filho entenderá o que eu e seu pai passamos. Por mais nobre que seja, não pode pedir para que eu concorde. Você acabou de passar vinte dias desacordado, você quase morreu, Cedrico! O que é que eu e seu pai faríamos se o pior tivesse acontecido com você? É claro que eu não quero Você-Sabe-Quem no poder, mas isso seria a menor das minhas preocupações se algo acontecer com você, entende isso? Minha vida acabaria junto com a sua, Cedrico, independente de quem vença essa Guerra!
Diggory respirou fundo, concordando com um aceno.
— Então é melhor continuar torcendo para que acabe logo e para eu não me machucar tanto. — Sorriu pequeno, vendo-a negar com um aceno olhando para o lado, os olhos marejados.
Cedrico passou a língua pelos lábios, olhando ao redor. Parte de si estava preocupada e outra parte um tanto triste, ambos pelo mesmo motivo: %Sam% não estava por ali. Poderia significar que ela estava machucada, assim como ele, ou que estava bem e teria saído para alguma outra missão — o que ele entenderia, mas o deixava um tanto triste por ela não estar ali esperando por ele.
Rachel notou o olhar do filho preso à porta, o cenho franzido e uma expressão um tanto triste em seu rosto. Suspirou, dando-se por vencida.
— Ela está bem, Ced — garantiu, vendo-o encará-la no instante seguinte. — Está lá fora, passou todos os dias aqui esperando você acordar. — Logo um sorriso apareceu no rosto do filho e a mulher negou com um aceno andando em direção à porta. — Sou sua mãe, te coloquei no mundo, mas a única pessoa que você quer ver é sua namorada!
— Não é bem assim… — respondeu o rapaz em voz baixa, sorrindo mais ao vê-la abrir a porta, saindo em seguida. Não demorou mais de cinco segundos para que Cedrico visse a loira passando apressada pela porta, sorrindo em sua direção ao tempo que se aproximava o suficiente para abraçá-lo.
— Se você fizer isso de novo, eu nem sei o que te faço. — Ouviu-a dizer próximo ao seu ouvido, ainda abraçados. — Como se sente, Ced?
— Melhor agora. — Piscou, notando o olhar dela por seu corpo machucado. — Estou bem, não se preocupe. E você? Sirius está bem?
— Estamos — garantiu. — Papai está em uma missão com Gui agora, também estava preocupado com você, até disse que sentia sua falta em casa!
Diggory arqueou a sobrancelha, descrente.
— Falta de ameaçar me matar sempre que me vê te beijando?
A loira riu, concordando.
— Provavelmente! Tem certeza que está bem? — tornou a questionar, tocando-lhe gentilmente o peitoral enfaixado.
— Sim, mas talvez melhore mais rápido se ganhar uns beijos. — Piscou, vendo-a negar com a cabeça, parecendo triste. — O que foi?
— Foi sério dessa vez, Ced, você passou semanas desacordado. Demoraram horas para conseguirem parar o feitiço… Achei… Achei que… — Fechou os olhos por um instante, deixando uma lágrima escorrer.
— Ei, eu estou bem, de verdade — avisou, apertando-lhe a mão. — Está tudo bem agora, %Sam%. Já passou.
— O pai do Emmett disse que você provavelmente ficará com algumas cicatrizes…
Cedrico passou a língua pelos lábios, sorrindo de canto.
— A menos que você me diga que não quer mais namorar comigo por causa disso, não vejo problemas.
Black sorriu em sua direção.
— Você pode ter furúnculos cobrindo seu corpo todo e ainda vai ser o cara mais bonito que eu conheço!
— Bom saber. — Riu, embora sentisse o corpo doer levemente sempre que se mexia na cama. — Minha mãe disse que você esteve aqui o tempo todo, por que estava lá fora?
Por um momento, Cedrico percebeu, a garota pareceu sem graça, desviando o olhar antes de respondê-lo em voz baixa:
— Ah, bem… Imaginei que ela iria preferir um pouco de privacidade…
O rapaz passou a língua pelos lábios, encarando-a de canto e negando com a cabeça no instante seguinte.
— Vocês brigaram, não é? Ela está te culpando pelo que aconteceu?
A loira não respondeu de imediato, mantendo o olhar distante do namorado.
— Dá para entender o lado dela, Ced, foi realmente sério dessa vez e seus pais só têm você. Imagina o que passou na cabeça deles durante esses dias?
Diggory suspirou, parte de si entendia de fato o motivo de os pais estarem tão preocupados, principalmente sua mãe, por outro lado, não conseguia aceitar o fato de ela querer culpar outras pessoas pelas decisões de Cedrico. Ninguém o forçou a nada, se ele estava na Ordem era por vontade própria.
— Ela sabe o quanto isso é importante e que fui eu quem escolhi fazer parte — disse olhando para a porta —, e sempre soubemos dos riscos, se ela quiser culpar alguém por tudo isso, é comigo que ela deve falar ou talvez com alguns Comensais — brincou, embora o sorriso que deu não tivesse sido acompanhado pela loira. — Sabe que ela gosta de você, certo? Acredito que depois disso tudo acabar ela volte ao normal, mas admito que estou bem surpreso com algumas atitudes dela…
%Sam% deu de ombros, suspirando.
— Cada um reage de uma forma diferente… Um ano atrás o Ministério preferiu fingir que não tinha nada acontecendo, agora estão todos assustados. Não dá para culpá-la pela forma que ela se preocupa com você, Ced. Rachel é sua mãe, imagino que você seja sempre a prioridade dela.
Diggory encarou a loira por alguns instantes, parecendo levemente surpreso com o que escutou.
— Você realmente cresceu nos últimos meses. Dois anos atrás você estaria discutindo com ela, igual fez com meu pai quando ele perguntou se você torceria para Potter no Torneio, agora está escutando tudo o que minha mãe te fala e entendendo o lado dela. Estou impressionado!
— Ah, cala a boca, Diggory! — A outra rolou os olhos, sorrindo pequeno.
— Por que está assim? — questionou após alguns instantes, notando o olhar preocupado e ainda um tanto triste da namorada. — Aconteceu mais alguma coisa?
%Samantha% suspirou, encarando-o em seguida.
— Você sabe que foi Victoria quem te atacou — disse em voz baixa, vendo-o concordar com um aceno. — Não contei isso para seus pais, disse apenas que foi um Comensal, mas é a segunda vez que ela te ataca, Ced. Meu pai estava machucado e eu não tinha uma varinha para me defender, mas ela preferiu atacar você. Não pode ser coincidência.
Cedrico respirou fundo, fechando os olhos antes de contar-lhe algo que estava em sua cabeça há alguns meses:
— Victoria me disse uma vez que se ela quisesse que você ou Sirius sofressem, ela mesmo se encarregaria de fazer isso acontecer, mas o que outros Comensais ou Você-Sabe-Quem fazem, estava fora do controle dela. — Passou a língua pelos lábios, tornando a falar: — De lá pra cá, já nos encontramos outras três vezes, a única vez que ela te atacou foi na Torre de Astronomia e Sirius disse que não foi nem perto do que ela poderia ter feito. No casamento ela poderia ter me atacado de verdade, mas apenas me tirou de perto de você e, naquele beco, você mesma disse que estava sem varinha, mas em nenhum momento ela te machucou, não foi?
— Que quer dizer? — perguntou com o cenho franzido, ele deu de ombros.
— Sei que parece loucura, mas não acho que ela esteja, de fato, tentando te machucar, %Sam%. Quando eu quebrei a perna, ela poderia ter me matado naquela hora, mas a impressão que eu tive depois, pensando sobre tudo, foi que ela apenas queria sair dali antes que algo pior acontecesse, porque Yaxley queria duelar comigo, mas ela simplesmente explodiu o teto. Não faz sentido nenhum ela não ter se encarregado de matar a mim ou Ninfadora tendo uma oportunidade daquelas, ou deixado que Yaxley o fizesse. Victoria já teve várias oportunidades de realmente matar alguém, mas nunca o fez. Por quê?
— Andy me disse uma vez que Bellatrix é a única que se diverte machucando outras pessoas, Narcisa prefere manter-se afastada de tudo, fingindo que nada acontece, enquanto Victoria só faz algo quando necessário. Papai falou que é por isso que ela era a preferida de Você-Sabe-Quem, disse que escutou várias vezes em Azkaban outros Comensais falando que ela era mais centrada e apenas cumpria as ordens dele enquanto Bellatrix chamava atenção de todos.
— Mesmo assim — recomeçou Cedrico —, em uma guerra como essa, não faz sentido ela não aproveitar as oportunidades que teve para machucar ou matar alguém. Seria uma forma de preservar a si mesma e a Você-Sabe-Quem, não? Quanto mais baixas a Ordem tiver, menos irão lutar contra eles. Não é questão de fazer por prazer, mas por lógica, ela não mata alguém hoje enquanto tem a oportunidade e amanhã essa pessoa mata outro Comensal.
— Você fala igual ao Moody! — %Sam% sorriu pequeno, vendo o loiro dar de ombros.
— Foi ele quem me disse isso enquanto me treinava, mas faz todo sentido. De qualquer forma — continuou —, não me parece que ela esteja querendo machucar você ou Sirius.
— Como não, Cedrico? Você quase morreu dessa vez, ela sabe que me atingiria com isso, mesmo não sendo diretamente a mim o ataque.
— Sim, mas pense, em nenhum momento ela tentou te machucar. E ela precisava escolher entre nós três para atacar, a escolha mais fácil seria um de vocês, já que você estava transformada e Sirius machucado, mas ela me acertou.
— Acha mesmo que ela se importa com isso? — questionou com a sobrancelha arqueada, um sorriso irônico nos lábios. — Que não está me atacando por ser minha mãe? Não é como se ela tivesse se importado com isso nos últimos dezoito anos, Cedrico.
— Eu sei, eu disse que parece loucura, mas é a impressão que eu tenho sempre que ela está por perto. Ela é boa o suficiente para atacar todo mundo, mas nunca matou nenhum membro da Ordem, e sempre tenho a sensação que ela e Sirius conversam quando estão juntos… Provavelmente devem estar se xingando, mas…
— O quê? Como assim?
— Na Torre de Astronomia, depois que Draco e Snape saíram correndo e estávamos atrás dos Comensais, teve uma hora que tive certeza de vê-los juntos, cheguei a parar por um instante para ver se Sirius precisava de ajuda, mas ela simplesmente saiu correndo e ele nem mesmo tentou atacá-la. Na hora pensei que ele estava preocupado com você e por isso preferiu não continuar duelando, mas era o mais lógico, atacá-la enquanto fugia, não seria muito nobre, mas não é como se alguém se importasse com isso no momento, é? — contou, notando quando a garota passou a olhar para o lado, pensativa. — E no casamento foi a mesma coisa, teve um instante que me pareceu que eles conversavam, e no momento seguinte Victoria estava duelando com Ninfadora e Sirius com outros Comensais, mas por que não se atacaram?
%Sam% respirou fundo, mordendo o lábio inferior por um momento antes de dizer em voz alta algo que a incomodava há algum tempo:
— Depois do casamento, quando eu estrunchei — começou, atraindo a atenção do namorado —, teve uma hora que eu ouvi alguém conversando comigo, mas não parecia a voz do meu pai. — Olhou-o incerta. — Eu conseguia ouvir a voz dele bem baixinha dizendo um contrafeitiço enquanto a dor diminuía, mas tive certeza que havia outra voz falando comigo...
— Victoria — sussurrou Cedrico surpreso, vendo-a confirmar.
— Pensei que talvez eu tivesse imaginado por causa da dor, e depois meu pai disse que eles duelaram antes que ele pudesse me ajudar, não é?
— Você deveria perguntar a ele, %Sam%, saber se realmente faz sentido, talvez nós dois tenhamos interpretado errado as atitudes de Victoria e não é nada disso, mas você precisa conversar com Sirius para saber.
— Ah, sim, vai ser uma ótima conversa — respondeu com a sobrancelha arqueada e um sorriso cínico nos lábios. — Oi, pai, e aí, você e minha mãe continuam conversando mesmo depois de ela nos ter abandonado para ajudar Você-Sabe-Quem?
Diggory riu, negando com a cabeça.
— Você pode ser muito mais sutil do que isso, tenho certeza!
A loira chegou a abrir a boca para responder, mas Rachel passou pela porta junto do pai de Emmett para darem uma olhada nos ferimentos de Cedrico.