Vinte
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O tempo pareceu congelar por um instante, apenas o suficiente para todos entenderem o que aquilo queria dizer. %Sam% ainda encarava o Patrono de Quim, o qual continuava a repetir as mesmas palavras, quando se deu conta do que acontecia ao redor.
Convidados gritavam e aparatavam o mais rápido que conseguiam, pessoas se empurravam naqueles minutos de pânico ao mesmo tempo que Comensais da Morte apareciam entre eles, rasgando a tenda e incendiando o local. Os membros da Ordem que estavam presentes tentavam ajudar os convidados enquanto começavam a duelar com os seguidores de Voldemort. Black olhou em volta em pânico ao se dar conta que não estava com sua varinha: a mesma havia ficado no bolso de Cedrico, já que ela não tinha como carregar em seu vestido. Procurou-o com o olhar, o encontrando a poucos metros de distância, duelando com um dos Comensais, correu entre a multidão até o namorado, ouvindo Hermione gritar ao canto, junto com Harry e Rony:
— Vamos!
— Minha varinha! — respondeu aos gritos, abaixando-se quando um jato de luz passou por sobre sua cabeça, atirando-se embaixo de uma das mesas. — Diggory!
Cedrico tentava aproximar-se dela, tirando sua varinha do bolso ao mesmo tempo que tentava defender-se dos ataques. Virou-se o suficiente apenas para jogar-lhe o objeto, o qual caiu a menos de um metro dos seus pés, %Sam% engatinhou em direção a mesma, mas viu alguém pisar sobre a varinha, sorrindo em sua direção.
— Ora, ora, o que temos aqui! — Bellatrix sorriu, olhando para a sobrinha. — Que péssima hora para perder sua varinha!
Black a encarou por um instante, conseguindo escutar o grito de Harry ao fundo:
— Não! %Sam%!
Bellatrix distraiu-se por um instante, virando o olhar para Potter — que voltava a forma normal com a Poção Polissuco perdendo seu efeito —, os olhos da bruxa brilharam e a distração foi suficiente para que a loira se atirar contra a mulher, desequilibrando-a o suficiente para recuperar sua varinha.
— %Sam%! — Mione tornou a gritar, atraindo mais atenção dos Comensais.
A garota lançou o primeiro feitiço que veio à mente contra eles, estuporando o mais baixo.
— Vão! Agora! — gritou para os amigos ao ver o número de bruxos que lançava feitiços no trio, não teria tempo de juntar-se a eles, era arriscado ter Potter ali, ele precisava ir embora. — Saiam daqui!
Viu quando Hermione agarrou Harry e Rony pelos braços, aparatando em um segundo. Sentiu o vazio preenchê-la em um piscar de olhos, mas não teve como pensar sobre a separação do grupo, tornando a lançar feitiços contra os Comensais.
Cedrico tentava aproximar-se da namorada, mas não conseguia evitar o Comensal com o qual duelava, quanto a máscara caiu, conseguiu reconhecer Dolohov. Por fim, jogou-se contra uma das mesas, apenas o suficiente para mirar em outro Comensal que se aproximava de %Sam% pelas costas, logo a mesa que o escondia foi arremessada no ar e Antonio o acertou de lado, colocando fogo em suas vestes — o qual ele apagou segundos depois.
Sirius duelava ao canto com Victoria, ridiculamente próximos um do outro, e por um momento Cedrico achou que os dois conversavam, mas tão rápido quanto essa ideia chegou a ele, foi varrida de sua mente ao ouvir o grito de %Sam% e ver um corte formando-se em seu rosto. Diggory postou-se ao seu lado, tentando atacar todos que se aproximavam enquanto %Sam% lançava feitiços de proteção para evitar que tornassem a ser atingidos, um filete de sangue escorria pelo seu rosto.
Um feitiço vindo do lado direito acertou um dos Comensais que os cercavam, e o casal pôde avistar Gui Wesley aproximando-se para ajudá-los, seguido de Carlinhos e Fleur. Bellatrix gritou enraivecida quando um dos feitiços a atingiu no braço, parecendo surtar mais do que o normal, girando nos calcanhares e lançando feitiços da morte para todos os lados, por pouco não acertando Gina, que estava mais ao fundo, duelando ao lado dos gêmeos.
Em um piscar de olhos eles estavam cercados por sete Comensais, ao tempo que o restante da Ordem afastava os demais. Sirius tentava chegar mais perto da filha, enquanto Victoria duelava com Ninfadora. Os Weasley ajudavam o casal como podiam, mas não conseguiam aproximar-se o suficiente, os bruxos de Voldemort pareciam focados em afastá-los, deixando Black e Diggory isolados, defendendo-se e atacando como conseguiam e, por vezes, sendo atingidos em alguma parte do corpo. Cedrico precisou desistir de atacar quando notou o número que os cercava, lançando feitiços de proteção para todos os lados, tentando evitar que o pior acontecesse.
Victoria derrubou Ninfadora, desviando com destreza dos feitiços que a Ordem lançava em sua direção ao aproximar-se dos Comensais, que davam espaço para ela chegar ao casal. A mulher encarou a filha por um instante, sorrindo confiante em sua direção ao erguer a varinha. Cedrico postou-se à frente da garota encarando a mais velha, a varinha direcionada ao peito da mulher. Victoria piscou para ele, lançando-o para o outro lado da tenda, fazendo com que o rapaz caísse sobre as mesas ao canto.
— Não sei você, mas eu já cansei de tudo isso. Você vem comigo!
Acertou a mais nova com um feitiço de corpo-preso, segurando-a pelo braço no momento seguinte, mas antes que conseguisse aparatar com a filha, Sirius aproveitou que a Ordem distraía parte dos Comensais e jogou-se por entre eles, derrubando alguns com as próprias mãos, atirando-se sobre as duas, agarrando a ex-mulher pela capa. Quando os três aparataram, os Comensais que restavam sumiram segundos depois, deixando os membros da Ordem espalhados pela tenda sem ideia do que fazer para ajudar os Black. Diggory levantou-se com a ajuda dos gêmeos, mal conseguindo ficar em pé devido aos machucados causados nos últimos minutos, mas não se importou com nada disso, ainda olhando atônito para o local no qual %Sam% e Sirius haviam sumido.
A loira bateu com força no chão, não conseguia mexer-se, mas sentiu a dor atingir seu corpo por completo; sentia o gosto do próprio sangue na boca, partes de si pareciam arder e não achava que estaria consciente por muito tempo, nem mesmo tinha certeza que estava naquele momento, tudo o que sua mente registrava era a sensação de queimação.
Ouvia vozes ao redor, reconhecia uma delas, mas não conseguia ligá-la a um rosto, nem mesmo conseguia gritar por ajuda.
Os segundos pareciam horas e, aos poucos, sentia o corpo desfalecer, tomado pela dor.
Sentia os próprios olhos pesarem ao tempo que afogava-se com o próprio sangue. ]
Alguém segurou sua cabeça, levantando-a ao mesmo tempo que seu corpo pareceu mais leve, mas no instante que o feitiço foi desfeito, começou a tremer como se estivesse tendo uma convulsão.
A dor diminuía lentamente, continuava a escutar uma voz ao seu lado e o gosto de sangue logo já não estava mais presente em sua boca.
Tentou abrir os olhos, mas os mesmos pareciam pesar mais que o normal.
— Está tudo bem agora, descanse.
Sirius olhou para trás uma última vez, vendo Victoria desacordada no chão, antes de pegar a filha nos braços e aparatar de volta para casa.
Deitou-a no sofá da sala, pensando em tudo o que havia acontecido na última hora.
Respirou fundo ao olhar para a garota desacordada, fechou os olhos negando com um aceno pensando em tudo o que poderia acontecer se ela tivesse sido capturada pelos Comensais, um arrepio passou por seu corpo ao imaginar o que Voldemort faria com ela.
Andou até a cozinha enchendo um copo de água e tomando-o em três goles, depois encheu-o com uma dose de Uísque de Fogo, virando-o de uma única vez. Puxou a varinha no bolso, enviando um patrono para A Toca, avisando-os de que estava tudo bem agora, eles estavam ok.
Voltou a andar para a sala, sentando-se na poltrona ao lado do sofá, pensativo.
Seu afilhado havia sumido com mais dois adolescentes, não fazia ideia de onde tinham ido ou o que fariam, e sabia que %Samantha% não contaria mesmo que tivesse ficado para trás.
E a que custo ela havia ficado?
Talvez teria sido melhor se tivesse ido junto com os amigos, talvez estivesse mais segura longe da Ordem, longe de Voldemort. Curvou-se ligeiramente, baixando a cabeça e a apoiando nas mãos, os braços sobre as pernas.
O que faria para garantir a segurança da filha agora que o Ministério havia sido tomado?
Sabia que, por ora, estavam seguros em sua casa: ninguém fora da Ordem sabia de sua localização ou tinha acesso a senha para entrar na residência. Contudo, Sirius conhecia Voldemort, sabia do que ele era capaz. Sentia-se extremamente cansado com tudo o que tinha acontecido, queria descansar, tomar um banho e relaxar por algumas horas, pensar em tudo com calma, mas também não queria sair do lado da filha, queria estar com ela o tempo todo, embora sentisse que, aos poucos, perdia o talento para protegê-la.
O que faria se Lorde Voldemort conseguisse capturá-la em algum momento? Como conseguiria tirá-la dele? Tinha certeza de que talvez morresse tentando, e estava ok com isso, mas como conseguiria protegê-la se estivesse morto? Como poderia garantir sua segurança?
Ouviu uma batida na porta e logo Cedrico, Carlinhos e Remo entraram apressados, vendo os dois na sala, a garota desacordada. Sirius percebeu quando Diggory abriu a boca assustado ao reparar na namorada desmaiada com machucados visíveis e sangue seco em vários pontos.
— O que aconteceu? — perguntou ao se aproximar, ajoelhando-se ao lado da loira, passando a mão pelo rosto dela enquanto ignorava os próprios ferimentos no corpo machucado e dolorido, querendo certificar-se de que ela estava bem.
— Victoria acabou aparatando em outro local, uma rua deserta, imagino que não quisesse revelar o esconderijo deles… — começou Black, a voz pouco mais alta que um sussurro antes de levantar-se, acenando com a cabeça para que os homens o seguissem até a cozinha, servindo-os de Uísque de Fogo. — %Sam% acabou estrunchando e precisei duelar com Victoria antes de poder ajudá-la… Perdeu bastante sangue, mas está bem agora, deve acordar em poucas horas… Como estão todos?
— Tudo bem. — Carlinhos suspirou. — Foi sorte ninguém ter se ferido mais grave, achamos primeiramente que os Comensais estivessem à procura de Harry, mas…
— Mas eles pareceram muito interessados em %Samantha% — completou Lupin, olhando significativamente para o amigo. — O que acha que Você-Sabe-Quem poderia querer com ela? — Sirius sorriu quase irônico para o outro ao notar a falta de uso do nome do Lorde. — Descobrimos que o nome está enfeitiçado. Comensais aparecem assim que dizemos o nome dele. Não importa se tem qualquer feitiço ao redor.
Black suspirou, negando com a cabeça.
— Pensei em mil coisas, mas não consigo chegar a nenhuma conclusão. Talvez seja o fato de ela ser uma Lestrange-Black legítima… Não consigo ignorar o fato do Lorde prezar por Sangue-Puro e famílias tradicionais e, convenhamos, os nomes Lestrange e Black sempre foram extremamente respeitados no mundo bruxo e lhe renderam muitos seguidores, não? %Sam% é a última da linhagem de ambos os lados!
— Acha que ele poderia estar interessado nela por causa do sobrenome? — questionou Weasley surpreso.
— É uma opção… — concordou o mais velho, passando a mão pela barba crescida. — Também, é claro, pode ser o fato de ser amiga de Harry, Você-Sabe-Quem deve querer saber o paradeiro dele…
— Não acho que seja isso, nenhum dos Comensais nem mesmo tentou aproximar-se de Rony ou Hermione. Bellatrix foi direto nela enquanto os outros duelavam… — Remo negou. — Acredito que isso seria um bônus para ele que %Samantha% saiba sobre Harry, mas não que tenha sido essencial. — Tornou a olhar para o amigo. — Talvez Victoria?
Black o encarou por um momento, concordando.
— Cogitei essa possibilidade, mas não faz sentido… Por que ele se preocuparia em reunir mãe e filha? E, por mais que %Sam% esteja bem avançada em feitiços e transfigurações, não vejo nada de excepcional que o fizesse procurar por ela devido aos seus talentos...
— Usá-la contra a Ordem, talvez? — pronunciou-se Cedrico em voz baixa, olhando para o copo vazio à sua frente, os braços cruzados sobre a mesa. — %Sam% sabe sobre assuntos internos, os esconderijos de vários membros e quem faz parte da Ordem, até os que trabalham encobertos no Ministério, como Monty e Daves, ela sabe os nomes. Se Você-Sabe-Quem a tiver como Comensal, quem de nós iria duelar contra ela? Sei que eu não o faria...
— Pelo pouco que conheço dela — Carlinhos se pronunciou —, não me parece alguém que ele dobraria tão fácil para ter ao seu lado como seguidora…
— Mas ele não precisaria convencê-la. — Sirius concordou com Cedrico. — Existem outras formas de fazer com que alguém o siga…
— Imperius… — acrescentou o ruivo, considerando a possibilidade. — Mas por que ela?
— Talvez por tudo o que foi citado — começou Remo, atraindo a atenção de todos. — %Samantha% é a herdeira dos Lestrange-Black e é filha de uma das Comensais mais fiéis de Você-Sabe-Quem. Pode não ser a melhor aluna de Hogwarts, mas é habilidosa o suficiente em duelos e tem potencial para crescimento, ainda mais se considerarmos tudo o que Victoria e Sirius são capazes de fazer. Ela tem informações sobre a Ordem e também é amiga de Harry Potter há anos.
— O pacote completo!
— Muito melhor do que o Lorde das Trevas poderia esperar, não? — Remo concordou com Carlinhos. — Rony é Sangue-Puro, mas os Weasley são considerados traidores do sangue por se misturarem com Trouxas. Hermione é uma Nascida-Trouxa, por mais inteligente que seja, Você-Sabe-Quem nunca a aceitaria como Comensal. %Samantha% preenche todos os requisitos.
— Acham que ele continuará atrás dela? — questionou Diggory, olhando pela primeira vez para os homens no local.
— É uma possibilidade… — Lupin acenou lentamente.
Cedrico olhou diretamente para Sirius, o qual estava com o olhar preso em um canto da cozinha.
— O que faremos?
O mais velho o encarou de volta, piscando lentamente.
— Não acredito que tenha muito o que ser feito, %Samantha% poderia passar anos presa dentro de casa e, ainda assim, se o Lorde das Trevas realmente a quiser, vai encontrar um jeito de pegá-la.
— Não vai fazer nada? — perguntou Diggory exasperado. — Mudá-la para algum outro esconderijo?
— Aqui é a melhor opção que temos no momento. — Deu de ombros, pensativo. — Ninguém mais sabe do lugar e ela está sob meus cuidados.
— E acha que isso é suficiente? Deveríamos tirá-la do país pelo menos por alguns meses! — sugeriu, indignado com a calma do homem.
Sirius Black levantou o olhar para Cedrico, a voz soando baixa e calma:
— Não pense, nem por um minuto, que você se preocupa mais com a minha filha do que eu, Diggory. Sei o que o interesse do Lorde significa, mas também sei o que está em jogo aqui e, creio eu, sou muito mais capaz de protegê-la do que você. Se achasse que ela estaria mais segura em outro local do que em casa, certamente a levaria para lá.
— Não quis dizer… — começou, desculpando-se sem jeito.
— Sei que não. — Sirius acenou com a cabeça, mostrando que estava tudo bem entre eles.
— Muito bem — Remo voltou a falar após alguns segundos de silêncio —, isso nos leva a outro ponto: O que podemos fazer sobre a missão que Dumbledore deu a Harry?
Dora respirou aliviada ao saber que Sirius e %Sam% estavam bem, mas sua calma momentânea se esvaiu assim que viu o marido pegar suas coisas e seguir pelo corredor, mal olhando para ela.
— O que pensa que está fazendo? — perguntou frustrada, as mãos na cintura. — Que acha que está fazendo, Remo?
— Preciso descansar, tenho mais uma missão hoje e…
— Não, não tem — respondeu ácida. — Falei com Quim e ele disse que vai enviar outra pessoa.
— Você o quê? — Lupin virou-se para a mulher, irritado.
— Você não fica em casa, está quase todas as noites fora — reclamou, magoada. — Sabe que preciso de você aqui também!
Remo respirou fundo, fechando os olhos por um instante.
— Sei, mas você também sabe que temos algo maior acontecendo e…
— E temos outras pessoas para ajudar, você não precisa participar de todas as missões! — completou exasperada. — Por qual motivo você odeia tanto ficar em casa? Por que está sempre me evitando?
— Não é nada disso, Ninfadora… — negou com a voz baixa, sem olhar para a mulher.
— É sim, é claro que é. Você nem consegue olhar para mim! — acusou, aproximando-se e puxando-o pela camisa. — Está arrependido, não está?
Remo não respondeu nada de imediato, apenas levou as mãos até as da esposa, fazendo com que ela o soltasse.
— Preciso descansar, conversamos mais tarde…
— Não! — gritou, a raiva transparecendo em cada nota de sua voz. — Não, vamos conversar agora! O que você quer que eu faça, Remo? O que acha que vai acontecer? Acha que por não estar em casa as chances de nosso filho nascer com a doença serão menores? Acha que é pela convivência que você vai passar para ele?
— Não é nada disso… — Negou com um aceno, respirando fundo antes de virar-se para ela.
— Então o que é? Está arrependido!? — tornou a perguntar, embora sofresse sabendo que a resposta era positiva, mesmo que ele negasse. — Preferia ter continuado agindo como se não tivesse nada entre nós? Preferia ter continuado fugindo?
Lupin passou a língua pelos lábios, olhando para baixo, sem nada responder.
— Se é assim que você se sente, pode ir embora! — disse impulsiva, enraivecida. — Se não quer estar conosco, não precisa ficar. Pode ir, Remo, é isso que você quer desde o começo, não? Pois bem, não estou mais te impedindo! Vá embora! — Apontou para a porta pela qual o homem tinha acabado de passar.
Remo a encarou por um instante, sem saber o que dizer, vendo toda a mágoa refletir nos olhos de Ninfadora. Concordou com a cabeça, andando em direção à saída.
— Vá para sua casa, ficará melhor com sua mãe.
Remo encarou o trio baixando as varinhas, felizes em vê-lo.
— O que aconteceu no casamento? Estão todos bem? — foi a primeira coisa que Harry questionou, olhando ansioso para o homem.
— Sim, nada com o que se preocupar de imediato! — avisou, sentando-se na cadeira da cozinha. — Estavam atrás de %Samantha%, não de você — explicou, vendo-os o encararem confusos.
— Por quê?
— Bem, temos apenas teorias, é claro, mas imaginamos que ela seja o novo alvo do Lorde das Trevas por ser uma Sangue-Puro e…
— Eu sou Sangue-Puro! — comentou Rony assustado com a possibilidade de começar a ser caçado pelos Comensais.
— Sim, mas também é considerado um traidor de sangue — explicou o mais velho paciente —, no caso de %Samantha%, tirando Sirius, Andrômeda e Dora, todos seguiram a arte das trevas, o irmão mais novo de Sirius, Régulo, por exemplo, era um fiel. Sem contar, é claro, que Victoria é uma Comensal próxima dele e muito prestigiada por todos os anos que serviu a ele, e bem, temos o óbvio também, que era o fato de ser sua amiga há anos.
— Como ela está? Por que não a trouxe com você? Aliás, como sabia que estávamos aqui? — questionou Potter ao mesmo tempo, Lupin ergueu as mãos pedindo por calma.
— Ela está bem, Victoria tentou capturá-la, mas Sirius conseguiu intervir, %Sam% está em casa. Não a trouxe porque, primeiro, não sabia se vocês estariam aqui, foi um palpite de sorte…
— Harry teve essa ideia — contou Mione. — Como Sirius e %Sam% não gostam daqui e se mudaram, além da sede da Ordem ter trocado de local, imaginamos que aqui seria a melhor saída por enquanto!
— Inteligente! — concordou Lupin. — De qualquer forma, %Sam% continua desacordada devido ao estrunchamento, deve demorar alguns dias para se recuperar bem…
— Ela estrunchou? — questionou Rony surpreso.
— Victoria tentou aparatar com ela, Sirius impediu, mas no meio de tudo ela acabou se machucando, já está melhor, não é nada grave… Só precisa de algum descanso…
Concordaram com a cabeça, Harry parecia pensativo.
— Enfim, imaginei que vocês pudessem precisar de uma ajuda extra, entendem?
%Samantha% estava sentada no chão, olhando Bicuço limpar as penas distraidamente.
Passou a mão pelo corte que cicatrizava aos poucos em seu peito, dias após o casamento, ainda pensava no motivo dos Comensais estarem atrás dela. Não fazia sentido Voldemort querê-la… Foi então que lembrou-se do dia que saíram da Rua dos Alfeneiros, quando o Lorde das Trevas apareceu ao seu lado dizendo ter um plano para ela ao invés de matá-la.
Que plano era aquele? O que ela poderia oferecer a Voldemort para ele querer tê-la ao seu lado?
Um arrepio passou por seu corpo ao imaginar o que poderia ter acontecido se Sirius não tivesse conseguido impedir Victoria de levá-la. Pensou na cobra Nagini e de como ela tinha atacado Arthur Weasley dois anos antes, e se Voldemort mandasse o animal matá-la? Parecia claro para ela que seria uma morte muito pior do que um Avada Kedavra, nem conseguia imaginar a dor que a cobra deveria causar.
Então lembrou-se de algo muito mais importante do que tudo isso; se Lorde Voldemort a conseguisse capturar em algum momento, poderia usar suas memórias contra Potter, ele descobriria sobre as Horcruxes.
Mordeu o lábio inferior, pensativa e assustada.
Não tinha combinado um local de encontro com os amigos, eles possivelmente já estavam longe de Londres há muito tempo. Precisava tentar fazer algo para ajudá-los, mas não sabia o que seria possível fazer naquele momento. Sem estar com eles, nem mesmo sabia como começar a procurá-los ou tentar descobrir onde estavam escondidos os objetos.
Respirou fundo ao, finalmente, aceitar que não estaria à procura das Horcruxes com o trio.
Só podia esperar que tudo desse certo e que os amigos estivessem à salvo. Contudo, sabia o que deveria fazer para evitar que Voldemort descobrisse qualquer coisa sobre Harry e o plano de Dumbledore.
Levantou-se do chão sujo passando as mãos na calça, limpando-a da terra, antes de aproximar-se do hipogrifo, acariciando suas penas por instantes antes de sair do galpão.
Sirius folheava um jornal trouxa, vendo a listagem de mortes “suspeitas” as quais os trouxas não conseguiam explicar. Voldemort e os Comensais estavam agindo cada vez mais e, mesmo que o Profeta Diário não divulgasse a listagem de bruxos desaparecidos, sabia que mais e mais famílias bruxas eram mortas a cada dia.
— Pai? — Levantou o olhar para a loira que estava parada à sua frente, a expressão séria em seu rosto. — Preciso da sua ajuda.
— O que aconteceu? — questionou preocupado, deixando o folhetim de lado.
— Preciso que lance um Obliviate em mim!
— Como é? — Espantou-se o mais velho, levantando-se da cadeira e dando a volta da mesa, aproximando-se da filha. — Do que está falando?
— Se Você-Sabe-Quem conseguir chegar até mim, não posso deixar que ele descubra o que Harry e os outros estão fazendo, ele não pode saber de forma alguma!
Sirius negou com um aceno, colocando a mão em seu ombro.
— Não precisa se preocupar com isso, vamos mantê-la segura, não é?
— Sei que sim, mas não posso arriscar, pai, preciso que faça isso por mim! — explicou, suspirando. — Não vou conseguir encontrar com Harry ou os outros e a única coisa que posso fazer para ajudá-los agora, é garantir que Você-Sabe-Quem não descubra o plano de Dumbledore. É a única chance que temos contra ele!
O homem encarou %Samantha% por incontáveis minutos, em silêncio. Por fim, concordou com um único aceno de cabeça, pegando a varinha que estava sobre a mesa.
— Foque em tudo que precisa que seja esquecido!
%Sam% fechou os olhos respirando fundo, pensando em cada uma das lembranças do sexto ano, de cada conversa que tiveram sobre as reuniões de Harry com Dumbledore. Concentrou-se em todas as vezes que falaram sobre Voldemort e sobre as possibilidades de finalmente conseguirem destruí-lo de uma vez por todas. Pensou em cada uma das Horcruxes que o diretor havia mencionado: o diário, o anel, a taça, a cobra, o colar, alguma coisa de Gryffindor ou Rowena.
— Pronta? — Ouviu a voz do pai, abriu os olhos concordando com um aceno. Sirius passou a língua pelos lábios erguendo a varinha em sua direção. — Obliviate!
Por um momento %Sam% sentiu-se estranhamente vazia, como se sua mente levitasse, por uma fração de segundos Sirius viu a expressão da filha alterar-se para uma um tanto sonhadora, os olhos perderam o foco por um instante, mas no seguinte a loira franziu o cenho, olhando-o confusa.
— Por que está com a varinha apontada para mim?
Sirius sorriu de canto, dando de ombros.
— Estava ameaçando te colocar de castigo!
A garota abriu a porta dando de cara com Cedrico e, para sua surpresa, Quim Schacklebolt. Deu-lhes espaço para entrar na casa cumprimentando o namorado e o Auror.
— Sirius está por aí? — perguntou Quim olhando ao redor, não era comum o homem visitá-los, sempre ocupado com a Ordem e o Ministério.
— Estou! — Ouviu-se a voz do outro, o qual descia as escadas, vindo do segundo andar da casa. — Obrigado por vir!
— O que está acontecendo? — questionou %Sam% curiosa. — Estão todos bem?
Cedrico sorriu para ela concordando com a cabeça.
— Não se preocupe, está tudo ok.
— Seu pai me contou sobre o interesse de Você-Sabe-Quem por você e também disse que você quer ajudar a Ordem — falou Quim com sua voz calma —, o que não seria nada mal visto que estamos em grande desvantagem no momento, precisamos de toda a ajuda que pudermos ter!
— E eu sei que não vou conseguir te deixar trancada dentro de casa por muito mais tempo… — Sirius colocou as mãos no bolso da calça que usava, olhando para a filha.
— Temos que garantir que você esteja preparada para qualquer coisa, desde Comensais até o próprio Lorde! — contou Schacklebolt, sorrindo de lado para ela. — Preparamos um treinamento muito parecido com o de Diggory para você.
— Não acredito?! Vão finalmente me treinar para combate? — Pareceu surpresa, embora o sorriso crescesse em seu rosto.
— Já passou da hora de você saber se defender melhor do que apenas com o que aprendeu em Hogwarts!
— Sem contar que Ninfadora não pode mais ajudar com as missões — adicionou Cedrico, fazendo um gesto com a mão em direção à barriga, fazendo referência a gravidez da mulher —, precisamos de alguém para o lugar dela!
— Pronta para começar?
— Com certeza!
Diggory limpava o suor da testa aproveitando o intervalo para descansar um pouco, sentando-se na sombra de uma das árvores do campo em que estavam. Sirius olhava para o céu claro, o cenho franzido, enquanto %Sam% conversava com Quim — o qual dava dicas para melhorar sua postura e execução de feitiços. A garota era, de longe, a mais cansada de todos; estava extremamente vermelha e, mesmo que os cabelos loiros estivessem presos em um coque frouxo, o suor ainda deixava alguns fios grudados em seu rosto. Cedrico sorriu sozinho ao ver o quanto ela se dedicava para acertar, repetindo inúmeras vezes o posicionamento indicado pelo Auror.
Levantou-se, caminhando até Sirius, parando ao seu lado.
— Está tudo bem?
Black suspirou, olhando o pai e colocando uma mão em seu ombro.
— Vai ficar melhor quando tudo isso acabar, não é? Até lá, vamos nos virando como podemos.
Então olhou na direção dos outros dois, passando a língua pelos lábios e acenando com a cabeça para Quim, que deu um passo para o lado vendo o homem erguer a varinha.
— Acabou o descanso!
%Sam% nem teve tempo de virar-se para olhar o pai e foi arremessada, caindo alguns metros à frente: ao levantar-se, notou os gravetos e folhas presos em seus cabelos.
— Quê?! — gritou frustrada, colocando a mão nas costas doloridas.
— Tem que estar preparada para ataques surpresa, são os mais importantes!
Com o decorrer das horas, a garota estava cada vez mais cansada e com cortes e machucados por todo o corpo, além de ter as roupas sujas e rasgadas devido ao número humilhante de vezes que acabou no chão, sem conseguir defender-se o suficiente dos ataques.
— Não acredito que estão os três me atacando ao mesmo tempo! — resmungou ao levantar-se, reparando na ardência do joelho ralado e fazendo uma careta.
— Você experimentou isso na prática há apenas alguns dias, sabe que poderia acontecer a qualquer momento, tem que pensar rápido e estar preparada para isso! — respondeu Sirius, rindo baixo da situação da mais nova.
— Está pensando muito na hora de atacar — avisou Cedrico, reconhecendo o mesmo erro que cometia quando ele começou a treinar —, tem que deixar fluir espontaneamente. Só apontar a varinha e deixar o primeiro feitiço que vier à sua mente sair!
— E se eu machucar alguém?
— Desculpe — começou Quim com a voz grossa —, achei que o objetivo aqui era justamente você saber defender-se e atacar com o máximo de força que puder. O tempo de Expelliarmus e estuporamentos ficou para trás!
Remo esperou até que a porta fosse aberta dando de cara com Sirius, o qual pareceu um tanto surpreso ao vê-lo parado ali.
— Você tem muita coragem… — começou irritado, cruzando os braços. — Abandonou Ninfadora grávida?! Em que foi que você se transformou?
Lupin baixou a cabeça, concordando com um aceno ao tempo que entrava na casa, mesmo que contra a vontade do amigo.
— Eu sei… Eu sei…
— Não, não sabe. Se soubesse não teria feito nada disso! Como você teve coragem de abandoná-la desse jeito? Grávida de um filho seu? — gritou irritado. Remo olhou em direção às escadas apontando com a cabeça para as mesmas. — %Samantha% foi para a casa dos Diggory.
Lupin suspirou, andando de um lado para o outro na sala ao tempo que Black sentou-se no sofá, olhando-o atravessado.
— Sei que não foi a melhor das escolhas…
— Passou longe de ser! Nada que você pudesse ter feito seria pior do que isso! — Sirius interrompeu-o, agressivo.
O homem bufou, passando a mão pelos cabelos ralos.
— Eu disse, desde o começo, que não era uma boa ideia. Nada disso, desde o casamento!
— Mas casou-se do mesmo jeito, não foi? Reclamou, xingou, mas no fim casou porque quis, ninguém o obrigou. Sinceramente, vendo você agora, realmente acho que seria melhor que Ninfadora não tivesse casado, ela merece uma pessoa melhor do que você!
— Eu sempre disse isso… — Colocou as mãos nos bolsos, olhando para baixo.
Sirius levantou-se, andando lentamente até ficar na frente do amigo.
— Não venha se vitimizar dizendo que é por ser um lobisomem, nem Ninfadora nem nenhum de nós nunca achou que esse seria um problema. Sua falta de caráter ao abandoná-la, sim. Nunca esperaria isso de você!
Remo o encarou, a raiva passando por seus olhos.
— Vocês admitindo ou não, licantropia é sim um problema. Eu falei para você quando soubemos da gravidez, as chances dessa criança nascer com a doença…
— E você acha que fugindo de casa e abandonando os dois diminuirá as chances?
— Não é nada disso… Eu só…
— O quê? Não tem absolutamente nada que você possa dizer para justificar o que fez, Remo, deve saber disso melhor do que eu. Se veio até aqui buscando apoio, não o terá de mim. — Cruzou os braços, a expressão séria. — Já deve se considerar com sorte por eu não o mandá-lo para o St. Mungus agora mesmo ou pior.
— Você não entende… — Frustrou-se o outro, voltando a andar em círculos. — Como posso viver sabendo que, além de colocar a Ninfadora em perigo todos os meses, ainda posso ter passado minha doença para uma criança? Como vou conseguir viver comigo mesmo se essa criança nascer com esse problema?
Sirius negou com a cabeça.
— E consegue viver consigo mesmo sabendo que abandonou a mulher e a criança quando mais precisaram de você?
— É diferente… Provavelmente estarão melhor sem mim! — Negou, esfregando o rosto com as mãos, estressado. — Essa criança com certeza estará melhor sem saber do pai.
— Ah, sim, com certeza — concordou Sirius irônico. — Vai ser muito feliz sabendo que foi abandonada.
— Você sabe que não é o que quero dizer! — gritou, apontando para um canto qualquer da sala. — Como vai ser quando essa criança crescer e entender o que o pai dela é?
Sirius passou a língua pelos lábios, cruzando os braços.
— Invente as desculpas que precisar para justificar suas ações, Remo, mas não espere que eu vá concordar ou dizer que está certo — respondeu Black em voz baixa, olhando sério e irritado para o amigo. — Vai se sentir mil vezes pior quando descobrir que perdeu todos os momentos que poderia ter com essa criança, o nascimento, os primeiros passos, as primeiras palavras… Todo o medo que você sente agora não será nada comparado com a dor de perder o crescimento de seu filho.
Remo baixou a cabeça respirando fundo, sabendo que o moreno dizia por experiência. Passou a mão pelos cabelos, soltando o ar lentamente.
— Como ela está?
— Com raiva, obviamente. — Sirius encarou-o. — Acima de tudo, decepcionada. Mas está fazendo seu melhor para não se preocupar com você, apenas com a criança — respondeu de forma dura. Lupin concordou, incapaz de dizer algo. — Ted fugiu de casa, com toda essa caça aos Nascidos-Trouxas, achou que as deixaria mais seguras se fosse embora…
Remo jogou-se contra o sofá, olhando para as próprias mãos.
— E se a criança nascer com licantropia, Sirius?
— Então vai precisar de você mais ainda, pois é o único que vai poder ensinar tudo o que precisa e garantir a segurança dela — replicou o outro, olhando-o de canto.
Entendia parte do nervosismo do amigo, mas não poderia dizer que era solidário ao que ele tinha feito, em sua opinião, nada justificava o abandono de uma criança.
— E então? O que vai fazer?
— Imagino que vou precisar me esforçar para Ninfadora me perdoar… — Suspirou, vendo o amigo concordar com um aceno.
— Pode passar a noite aqui, se quiser, mas é bom que vá falar com ela amanhã!