Quinze
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— Mais uma vez, é importante lembrarmos dos três D’s quando aparatamos! Destinação, Determinação e Deliberação. Primeiro, concentrem a mente na destinação desejada — dizia Twycross —, neste caso, o interior do seu aro. Agora, façam o favor de se concentrar nessa destinação. Segundo, focalizem a sua determinação de ocupar o espaço visualizado, deixem este desejo fluir da mente para todas as partículas de seus corpos! — continuava o bruxo do Ministério. %Sam% encarava o aro empoeirado à sua frente, respirando fundo enquanto tentava manter sua mente focada no local. — Três, e somente quando eu der a ordem… Girem o corpo, sentindo-o penetrar o vácuo, mexendo-se com deliberação! Quando eu mandar… Um… Dois…
A loira sentiu o coração acelerar conforme a contagem começou, fechando os olhos por um instante, ouvia um murmurinho ao lado, mas tentou manter-se focada no que interessava.
— Três!
Black girou o corpo, assim como todos os alunos ao redor, mas, como a grande maioria, apenas cambaleou por alguns instantes, demorando algum tempo para conseguir equilibrar-se e não cair de cara no chão. Ao olhar para os colegas que também preparavam-se para o teste, reparou que estavam todos parecendo tão atordoados quanto ela, menos Hermione Granger, a amiga tinha sido a única a conseguir aparatar.
— Excelente, senhorita Granger! — elogiou o bruxo. %Sam% pôde ver McGonagall acenar com a cabeça para a morena em um cumprimento silencioso. — Muito bem, todos vocês, é só fazerem como a senhorita Granger! Concentrem-se, arrumem seus aros e vamos tentar outra vez.
A segunda e a terceira vez não mudaram muita coisa, apenas que Rony foi um dos alunos que acabou por girar demais e cair por sobre outro colega.
Harry, ela pôde ver, parecia mais focado em espiar Draco do que tentar aparatar.
Hermione era a única que continuava a conseguir aparatar com êxito, o que era elogiado a cada vez por Twycross e fazia os demais alunos rolarem os olhos, embora estivessem acostumados com a colega sempre se saindo bem na Escola.
O estrunchamento de Susane Bones tinha sido a coisa mais emocionante da aula, pelo menos até a décima tentativa na qual, finalmente, Black tinha conseguido algum progresso, embora ao invés de aparatar dentro de seu arco, acabou uns bons metros à frente, próxima a Flitwick que sorriu encorajador, dizendo que estava quase conseguindo. Talvez fosse verdade, mas sentiu-se tão enjoada que nem mesmo queria tentar outra vez, era ainda pior aparatar sozinha do que quando acompanhava Sirius, Dora ou Cedrico; sentia como se fosse vomitar a qualquer momento.
Felizmente ou infelizmente, Black não sabia ao certo dizer, conforme as demais aulas foram passando, não fez muito progresso; as poucas vezes que tinha conseguido aparatar tinham sido longe do seu objetivo, uma delas terminou no aro de Neville e na outra tinha caído aos pés de Snape, que não perdeu a chance de fazer piada com a falta de controle da mais nova.
Com o passar de fevereiro e o inverno, aos poucos, se distanciando, nada muito relevante havia acontecido na escola, os treinos de Quadribol continuavam iguais, as aulas estavam boas — Harry continuava sendo um sucesso em Poções — e, para chateação dos outros dois amigos, Rony e Mione continuavam sem se falar.
Black e Potter, por outro lado, continuavam com a amizade de sempre, conversaram mais um pouco assim que voltaram de Hogsmeade e, embora se sentisse um tanto culpada por toda a situação, Harry havia lhe garantido que não tinha com o que se preocupar. Aquilo acabou ficando como um segredo dos dois e eles seguiram tão amigos quanto antes. Parte de Harry parecia mais tranquila desde que se declarou, sempre soube que nada aconteceria entre eles, pois a amiga estava namorando com Diggory, mas ela estava certa quando disse que era melhor ele tirar aquilo do peito. Agora seu único problema era tentar descobrir o que Malfoy fazia quando sumia e o frustrava ainda mais saber que nenhum dos amigos parecia muito intrigado com o assunto, embora %Sam% concordasse que era suspeito.
No dia primeiro de março, após tomarem café, %Sam% e Gina seguiram para a Torre da Grifinória, deixando Hermione lendo um livro no Salão Principal, pegaram os presentes que tinham comprado para Rony e seguiram até o dormitório masculino, prontas para parabenizá-lo pelo aniversário. Estranharam quando não o encontraram na cama ou no Salão Comunal, viram Lilá chorando ao canto, sendo consolada pelas amigas, o que parecia ainda mais estranho — quase foram perguntar o que havia acontecido, mas acharam melhor evitar qualquer detalhe sobre o relacionamento deles. Esperaram por um tempo até encontrarem com Neville que disse ter visto Harry carregar Rony, que estava mais aéreo que o normal.
As duas deram de ombros e voltaram a se encontrar com Hermione, esperando que em algum momento os amigos aparecessem. Foi apenas uma hora depois, quando estavam conversando sobre o que fariam em Hogsmeade mais tarde, que McGonagall apareceu dizendo para Gina correr até a enfermaria pois Rony tinha sido envenenado.
Hermione foi a primeira a levantar-se exasperada, correndo em direção à Ala Hospitalar seguida pelas amigas, ao chegarem, entretanto, apenas encontraram com Harry que estava encostado na parede, aguardando por mais informações. Potter contou o que tinha acontecido e precisou desculpar-se repetidas vezes quando Granger o confrontou por não ter ido avisar mais cedo sobre Rony, fora isso, não tinha qualquer informação adicional sobre o estado do ruivo. McGonagall, Dumbledore e Madame Pomfrey entravam e saíam da enfermaria, mas não diziam nada a respeito.
Passaram o dia esperando para poderem ver o ruivo, o qual souberam que estava melhor próximo às três horas (o que lembrou Black do encontro que havia marcado com o namorado em Hogsmeade e ela não compareceu), mas só puderam de fato entrar para vê-lo às 20h, embora Rony continuasse desacordado. Sr. e Sra. Weasley apareceram no final da tarde para ver o filho, agradecendo imensamente a Harry por ter salvado a vida do amigo, e então foram para o escritório de Dumbledore.
Fred e George apareceram pouco depois e, mais uma vez, Harry contou o que tinha acontecido.
— O que vocês faziam em Hogsmeade? — perguntou Gina curiosa.
— Viemos dar uma olhada na Zonko’s, estamos pensando em comprar a loja para termos uma filial das Gemialidades aqui — Fred começou a explicar.
— É, mas não vai ser muito útil se vocês não puderem mais sair da Escola — emendou George —, mas pensamos nisso depois.
— Então encontramos com Cedrico no Três Vassouras — recomeçou Fred, virando-se para %Sam% que sorriu amarelo —, esqueceu de encontrar o seu namorado bonitão, não foi?
— Estava esperando para dar os parabéns ao Rony antes de ir para lá, aí quando a Minerva falou que ele estava aqui, esqueci completamente — explicou-se, dando de ombros.
— Tudo bem, ficamos bebendo juntos por um tempo, ele é mais engraçado do que parecia em Hogwarts — comentou George, impressionado —, contou umas piadas ótimas.
%Sam% o encarou surpresa, não se lembrava da última vez que Diggory tinha lhe contado alguma piada.
— Recebemos a notícia que Rony estava aqui faz alguns minutos, viemos direto, acredito que ele entendeu o motivo de você não ter aparecido — concluiu Fred, piscando de lado para a loira.
— São mais de oito horas, ele estava esperando que eu fosse aparecer essa hora?
— Claro que não — negou George —, mas ficamos bebendo e conversando, quando vimos, já era tarde…
— Mas o que importa é, quem tentaria envenenar o Rony?
— Quem disse que era para Rony? — tornou Gina. — Conversamos sobre isso mais cedo, não achamos que Uon-Uon fosse o alvo.
— Harry? — Fred arriscou.
— Mais provável o Dumbledore, Slughorn disse que daria o hidromel ao diretor — comentou Harry pensativo, passando a língua pelos lábios.
— Então quem quer que fosse não o conhecia muito bem — começou Mione, atraindo a atenção de todos, estava quieta a tarde toda, não tendo participado da primeira roda de conversa sobre o assunto —, qualquer um que conhecesse Slughorn saberia que haveria uma grande possibilidade de ele guardar uma coisa gostosa daquelas para si mesmo.
— Her-mi-o-ne.
Todos ficaram em silêncio e encararam o Weasley desacordado, que balbuciava palavras incompreensíveis, pouco depois roncou alto, voltando a ficar em silêncio.
No momento seguinte ouviram um barulho alto e Hagrid entrou pela enfermaria, sujando de lama o chão limpo do local.
— Acabei de saber, estava na Floresta… Aragogue não está bem de saúde… Estive com ele a tarde inteira… Vim jantar agora e a Professora Sprout me contou…
— Por mim poderia morrer logo — %Sam% cochichou próxima a Harry, que concordou com um aceno. Nenhum dos dois esquecia-se da aranha gigantesca que tentou devorá-los anos antes.
— Olha só para ele deitado aí… — Negou com a cabeça ao ver Rony. — Coitadinho… Como ele está?
— Nada mal, disseram que estará bem em poucos dias. — Harry sorriu confiante para o meio-gigante, que concordou com a cabeçona.
— Quem poderia querer envenená-lo?
— É o que estamos discutindo — contou Fred, cumprimentando o guarda-caças com um aperto de mão.
— Talvez alguém esteja com raiva do time de Quadribol da Grifinória? — arriscou-se o mais velho. — Primeiro Kátia, agora Rony… Vocês três tomem mais cuidado! — Apontou para Gina, Harry e %Sam%.
— Não vejo ninguém querendo liquidar um time todo de Quadribol… — comentou George, negando com um aceno.
— Wood faria isso com o time da Sonserina se não tivesse que pagar pelo crime — completou Fred, querendo ser justo.
— Não acho que tenha algo com o time da Grifinória, mas os casos estão ligados — tornou Mione, vendo o grupo virar-se para olhá-la. — Os dois casos deveriam ter sido letais. Katia e Rony tiveram sorte, ao mesmo tempo não eram os alvos do envenenador. O que o torna ainda mais perigoso, já que não se importa com o número de vítimas.
— Seja quem for, vai ficar mais desesperado ou mais ousado, não? Duas tentativas falhas de chegar ao Dumbledore — acrescentou %Sam%. — Quem sabe o que fará na próxima vez? Talvez ele mesmo tente atacar o diretor…
— Dumbledore não se deixaria pegar desse jeito, ele é inteligente.
— Sim, Gina, mas você já pensou na possibilidade de ser um aluno? Dumbledore não desconfiaria de um aluno — continuou a loira, virando-se de lado para Potter. — Você provavelmente estava certo sobre suas suspeitas — cochichou, vendo-o concordar.
Harry, Mione, Gina e %Sam% voltaram para a Torre da Grifinória após serem expulsos da Ala Hospitalar por Madame Pomfrey, voltaram intrigados com a discussão que Hagrid havia presenciado entre Dumbledore e Snape, mas as garotas acabaram por ir direto para suas camas quando viram que McLaggen esperava por Harry no Salão Comunal. Conforme lembrado pelo rapaz, Rony não poderia jogar a partida de Quadribol, e ele ganharia a vaga de goleiro por, pelo menos, um jogo.
Os comentários de %Sam% de que talvez fosse melhor jogar com um a menos pareceram cada vez mais sensatos conforme os treinos aconteciam. Córmaco não gostava de receber ordens, agia como se fosse o capitão do time e irritava todos os companheiros, quando virou-se para Black dizendo como ela poderia voar, a loira encarou-o com tanta raiva que Harry teve certeza que ela o azararia naquele mesmo instante, e ele quase esperava que a garota o fizesse.
— Se você não voltar para aqueles aros, eu juro que você nunca mais voar na sua vida, porque sempre que chegar perto de uma vassoura vai se lembrar do dia que eu arrebentei a sua cara.
Após esse comentário e ao vê-la segurar a varinha com firmeza, Córmaco de fato voltou a sobrevoar os aros, embora continuasse a palpitar.
— Eu sabia que em algum momento o medo que o pessoal tem de você por ser filha de Sirius serviria para alguma coisa! — disse Gina sorridente ao final do treino, quando passaram por McLaggen, vários metros à frente.
— Harry, essa é nossa última chance de jogar sem ele amanhã, você tem certeza que não vai aproveitá-la? — perguntou a loira, vendo-o rir, mas negar com certo pesar. — Nem McGonagall se importaria se isso acontecesse, talvez até nos desse pontos extras!
Como previsto, o jogo contra a Lufa-Lufa acabou por ser um desastre desde os primeiros minutos, já que McLaggen estava muito mais interessado em mostrar a todos os jogadores da Grifinória o quanto eles estavam errados ao invés de cuidar dos aros, o que deixou extremamente fácil para o time amarelo fazer o número de gols que quisesse, e o que era ainda pior: Zacarias Smith era um dos artilheiros do time.
Harry Potter, que era basicamente a única esperança dos leoninos de conseguirem terminar logo aquela partida horrível, acabou sendo nocauteado por um balaço lançado pelo próprio goleiro da Grifinória. Depois de ser carregado para a Ala Hospitalar e o jogo voltar a ter início, as coisas só ficaram piores; com um jogador a menos, o qual era o capitão do time, Córmaco se sentiu ainda mais livre para dar ordens e cuidou menos ainda dos aros, levando um gol atrás do outro e os dois gols que cada uma das artilheiras da Grifinória marcaram não foram nem próximos do suficiente para evitar a derrota humilhante: 320 x 60.
Ao final da partida, embora todos estivessem preocupados com Potter, os jogadores vermelhos cercaram o goleiro no vestiário e, enquanto Cootes e Peakes cuidavam da porta para que ninguém se aproximasse, Black, junto de Gina e Demelza, andou furiosa até Córmaco, empurrando-o em direção ao armário de vassouras.
— Qual é o seu problema? Qual é a droga do seu problema? Você acabou com a gente, McLaggen. Não tínhamos defesa nenhuma! A Lufa-Lufa nem precisava se preocupar porque você nunca estava no seu lugar! Que droga de goleiro é você?
— A culpa não foi minha se vocês não fizeram os gols, eu disse que a Wesley estava voando baixo e…
— Se você abrir a sua boca — ameaçou, puxando a varinha contra o grandalhão —, eu juro que vai fazer uma visita ao St.Mungus. Você nunca mais vai entrar para o time da Grifinória, está me ouvindo? Eu não quero saber quem é o Capitão. Se você ousar aproximar-se desse time de novo, eu juro que eu acabo com você!
— E vai ter ajuda! — completou Gina de braços cruzados próxima a loira.
— Está feliz agora? Praticamente acabou com as nossas chances de ganhar a Taça. Como foi que levou dezessete gols em menos de 20 minutos de jogo? Era quase um por minuto. O que é que tem de errado com você?
— O que está acontecendo aqui?! — gritou McGonagall, aparecendo à porta; a dupla de batedores acabou aproximando-se do grupo, esquecendo-se de vigiar.
— Reunião do time, Professora. — %Samantha% sorriu falsa, vendo a mulher arquear a sobrancelha e alarmar-se ao vê-la empunhando a varinha.
— Não me interessa se a Grifinória foi humilhada em campo, nada justifica vocês ameaçarem outro jogador do time.
— Ele não é um jogador oficial do time, professora — Gina pronunciou-se.
— Nunca será! — concordou Coote.
— Foi, de fato, uma vergonha o que aconteceu — concordou Minerva, parecendo tão irritada quanto os alunos —, mas independentemente do que tenham feito de certo ou errado em campo, vocês não podem fazer uma coisa dessas. Onde é que você estava com a cabeça, Black? — Virou-se para a loira que deu de ombros, tornando a guardar a varinha.
— Bem, estava pensando que eu deveria mesmo tê-lo azarado ontem à noite, assim teríamos mais chances de ganhar o jogo. E que se a senhora não tivesse aparecido, teria sido divertido mandar o Córmaco para a Ala Hospitalar para encontrar com Harry e Rony por lá — respondeu com sinceridade, encarando o companheiro de time por sobre o ombro, vendo-o se encolher.
— Já chega! — gritou a mais velha, o rosto vermelho. — Todos vocês, voltem para o Salão Comunal agora! E se eu souber que qualquer um de vocês tornou a brigar dessa forma… — Respirou fundo, indignada.
O pequeno grupo foi se dispersando sob o olhar atento da professora de Transfiguração, mas quando %Sam% foi andando em direção à saída, após deixar sua vassoura no armário, Minerva a segurou pelo ombro.
— Como é que você faz uma coisa dessas? — ralhou quando os demais se afastaram, andando lado a lado com a loira de volta ao castelo.
— Ah, professora, não vai dizer que a senhora não teve nenhuma vontade de expulsá-lo ao ver o que ele fez no jogo? Ele tirou o Harry de campo com menos de dez minutos! E não parou um segundo no lugar! Meu arrependimento é não ter enfiado a Goles na cabeça dele!
— Já chega — negou ríspida. — É claro que me dói ver a Grifinória ser humilhada dessa forma, e é claro que pensei na falta de sorte por Weasley estar na Ala Hospitalar, mas isso não justifica o que vocês estavam prestes a fazer!
— Era só para assustá-lo, professora.
Minerva a encarou por vários minutos antes de suavizar minimamente a expressão séria.
— Depois de Potter, você é a escolha lógica para ser Capitã do time, precisa ter compostura, não pode se portar assim. Se eu descobrir que você fez qualquer coisa contra McLaggen em qualquer canto desse castelo, você estará fora da próxima partida, entendeu?
A loira concordou em meio a suspiros.
— Como se fizesse alguma diferença, quais são as chances de conseguirmos a Taça agora? — resmungou antes de despedir-se de McGonagall, seguindo pelo corredor em direção à Ala Hospitalar.
Cedrico sorriu confiante após terminar o treino da semana com Alastor, vendo o mais velho olhá-lo com certo orgulho: tinha conseguido vencê-lo em um duelo! O que ainda parecia um tanto improvável ao seu ver. Já havia ganhado de Gui e Ninfadora, mas não imaginava que pudesse ganhar de Olho-Tonto. Deveria ter duelando com Sirius, mas o mais velho rejeitou a ideia no mesmo instante.
— Se ele se machucar, vão achar que foi de propósito! — Negou com um aceno, passando a mão pelos cabelos enrolados.
— E se ele ganhar, você perde o respeito! — completou Dora, divertida.
Diggory terminou o treino animado, embora estivesse realmente cansado; faziam dias que não conseguia descansar o suficiente, sempre que saía do Ministério encontrava com alguém da Ordem para treinar e os poucos finais de semana que teve livre, aproveitou para repassar o que tinha aprendido ou melhorar sua transformação em Animago.
— Acho que está pronto para voltar a participar de missões, não? — Alastor começou, olhando-o por alguns instantes. — Vai acompanhar Tonks amanhã, Diggory. Descanse para estar bem-disposto.
— Qual a missão? — perguntou curioso, tornando a colocar a jaqueta que estava mais ao canto do esconderijo em que se encontravam, em um terreno próximo à Costa.
— Achamos que os Comensais estão procurando mais algumas pessoas do Ministério… — Gui começou em voz baixa. — Dentre eles, Miraphora Mina.
— Por que esse nome me é familiar…? — Cedrico questionou confuso, tentando juntar um rosto ao nome.
— Mina trabalha no Departamento de Mistérios — começou Moody, ficando mais sério. — É provável que Voldemort esteja querendo algo de dentro do Ministério.
Cedrico concordou ao lembrar-se do nome, Mina era uma das responsáveis pelo treinamento de Monty para o Departamento.
— Ou apenas querendo ter controle — continuou Sirius com a voz rouca. — Se ele conseguir alguém do Departamento de Mistérios, ficará mais fácil para ele controlar o Ministério.
— Isso não pode ser um pouco problemático para o Monty? — perguntou, subitamente preocupado com o melhor amigo. Tonks negou com um aceno.
— Emmett acabou de entrar no Departamento, ainda nem foi efetivado. Dificilmente terá acesso a muitas informações, Você-Sabe-Quem sempre procura por pessoas com mais poder do que funcionários recém-contratados. — Piscou para o loiro, vendo-o concordar com um aceno.
— E esse é justamente um dos motivos de termos chamado Montgomery para ficar infiltrado pela Ordem — completou Sirius —, embora não esteja diretamente envolvido com tudo o que acontece, ele consegue algumas informações para estarmos mais atentos ao redor.
— E vamos ficar de tocaia dentro e fora do Ministério — concordou Moody. — Montgomery ficará de olho nela durante o trabalho, já que ela é quem o está treinando, o que é uma sorte, e você poderá ficar com Tonks amanhã à noite, já que Gui e Remo estarão envolvidos em outra missão.
— Protegendo alguém?
Sirius e Alastor se entreolharam, negando com um aceno.
— Dumbledore pediu para ficarmos de olho em Hogwarts, ele precisa resolver assuntos urgentes e se afastar da escola por alguns dias.
— Foi por isso que encontrei com Quim em Hogsmeade, não foi? — Cedrico constatou um tanto surpreso, nem mesmo sabia que a Ordem estava vigiando Hogwarts. — Acham que alguém pode invadir a Escola? Por isso estão atacando os alunos?
— Não sabemos realmente o que está acontecendo. — Sirius suspirou. — Dumbledore não nos disse muito, apenas solicitou que fiquemos de olho quando ele precisar se ausentar, por precaução.
— Harry está certo que Draco Malfoy está envolvido com os ataques… — contou encarando o mais velho, Sirius apenas assentiu.
— Eu sei, conversamos sobre isso no Natal.
— Meu pai foi investigar as pistas de Harry, mas não temos nada contra Draco — completou Gui, vendo-o concordar. — Você sabe de alguma outra coisa?
— Não muito, %Sam% comentou sobre essas suspeitas com Malfoy, acham que ele pode ser um Comensal no lugar de Lucius.
— É muito improvável que o Lorde das Trevas procure um adolescente, mesmo que por vingança — avisou Alastor em tom baixo. — Mas Snape e outros professores estão de olho nele. No momento, nossa maior preocupação está no Ministério e é por isso que você ficará de olho em Mina, Diggory.
Cedrico concordou no mesmo instante, passando a língua pelos lábios secos, olhou para baixo por um momento.
— Mas e se algo acontecer em Hogwarts… Se a Escola for atacada…
— Estamos nos assegurando que nada aconteça, mas se Voldemort conseguir atacar a escola, então todos iremos para lá. Inclusive você, Cedrico.
O rapaz concordou respirando fundo, sabia que Hogwarts não era nem um pouco segura de forma geral, sempre tinham alguma ameaça próxima, mas imaginar que alunos estavam sendo deliberadamente atacados e estavam correndo risco de um ataque de Comensais mudava completamente o panorama.
Diggory aparatou no local combinado, há várias quadras do endereço de Mina, encontrando Tonks pouco depois, a mesma se passava por uma senhora que caminhava pela rua com um carrinho de compras. Usaram um feitiço de desilusão e seguiram em silêncio pela noite escura, até chegarem em uma casa desocupada na esquina de frente à casa da bruxa, local no qual ficaram de tocaia por horas. Conversavam pouco para passar o tempo, mas sem se distrair muito ou chamar atenção. Ficaram revezando para olhar as janelas da casa, esperando por movimentações diferentes, vez ou outra Cedrico aproveitava que agora era um Animago para andar sorrateiro até o jardim da casa, garantindo que estava tudo em ordem.
— Animado com mais uma ronda? — perguntou Dora após algum tempo em silêncio, as luzes na casa de Mina tinham se apagado há poucos minutos, logo depois das dez horas.
— Bem, melhor do que ficar só treinando, não? — respondeu sorrindo pequeno, apreciando a nova oportunidade; tinha sido tirado de campo após ter sido nocauteado pouco depois de entrar em uma briga contra Comensais, acordando no St. Mungus quase uma semana depois.
— Confiante?
— Nunca o suficiente! — Riu baixo, negando.
— Qual é, você esteve bem no treinamento, Moody não te mandaria de volta se não achasse que você está pronto!
Passaram mais algumas horas por ali, conversando em voz baixa, ambos um tanto sonolentos revezando na vigia enquanto o outro cochilava por algum tempo. Cedrico inclinava para trás a cadeira de madeira em que estava sentado, os pés esticados sobre a mesa de canto, contando no relógio o tempo que faltava para poder descansar mais um pouco antes de chamar Ninfadora para a próxima ronda, quando notou uma luz acender na casa azul do outro lado da rua. Sentou-se direito por um momento, esfregando os olhos cinzentos antes de voltar a prestar atenção no que acontecia, se era só um alarme falso ou algo mais importante. Ficou em pé quando viu mais uma luz acender-se na casa.
— Tonks — chamou pouco mais alto que um sussurro, pegando a varinha que estava ao lado. — Ninfadora! — Tocou-lhe o ombro, andando para fora da casa ao ver uma terceira luz acender-se.
— O quê…? — começou, bocejando assustada, logo vendo o mais novo sinalizar com a cabeça.
A Auror levantou-se de imediato, parecendo mais acordada do que nunca enquanto caminhavam rapidamente até a casa, ambos usando o feitiço de desilusão; fosse um ataque ou alarme falso, não deveriam chamar atenção naquele instante.
Dora explodiu a porta de entrada assim que ouviram um grito vindo da casa, Cedrico piscou algumas vezes quando viu a mulher à sua frente, apenas confirmando que não era sua namorada quando a mesma olhou em sua direção; era absurdo o quão parecidas as duas eram, mesma cor de cabelos e tamanho, o rosto era bastante similar, mas possível notar os detalhes da idade, a maior diferença eram os olhos, os de Victoria eram bem mais escuros.
— Tia, que surpresa! — disse Ninfadora assim que viu a mulher, a qual arqueou a sobrancelha. — Espera só até eu contar para o tio que você estava aqui!
Victoria sorriu de lado.
— Mande lembranças, espero encontrar com ele em breve.
Diggory apontava a varinha para a mulher, seu cérebro parecia recusar-se a sequer considerar atacar a loira, sentia como se fosse atacar a própria namorada. Victoria usava um tom de voz cordial, como se tivesse de encontrar a sobrinha em uma loja após algumas semanas sem vê-la. Os olhos escuros viraram-se para o rapaz, olhando-o de cima à baixo, analisando-o.
— Então você é o namorado de %Samantha%, não é? Muito prazer. — Sorriu de lado, cumprimentando-o. Cedrico olhou rapidamente para Tonks um tanto confuso com a situação, ela quase parecia inofensiva. — Acredito que tenha ouvido falar de mim ou talvez não, soube que minha filha e meu marido não gostam de compartilhar memórias sobre nossa família.
Dora rolou os olhos.
— Talvez eles tenham seus motivos, não? — Sinalizou para Cedrico enquanto dava passos para o lado, tornando a ouvir barulhos no andar superior, deixou que Diggory se entendesse com Victoria, subindo apressada para o quarto no qual Mina tentava afastar Yaxley.
Cedrico continuou parado, apontando a varinha para a mulher, pronto para atacá-la caso tentasse fazer algo, mas Victoria tinha um olhar um tanto curioso em sua direção.
— Diggory, não é? Conheci seus pais quando estive em Hogwarts — comentou tranquila. Ele travou a mandíbula, firmando a varinha. — Não se preocupe, querido, não vou atacá-lo, não é por você ou por minha sobrinha que estou aqui hoje.
Por algum motivo, Diggory acreditou no que a mulher tinha dito, baixando ligeiramente sua varinha, embora a mantivesse firme em sua mão, ainda apontada para ela.
— Achei que Comensais gostassem de matar quem não segue Voldemort — falou por entre dentes, vendo-a suspirar, dando de ombros.
— Bem, não sou uma Comensal qualquer, sou? — Passou a língua pelos lábios, ainda parecendo interessada no mais novo. — Já temos Bella para matar por diversão, você precisaria ser uma ameaça para eu considerar atacá-lo e você e Ninfadora estão longe de serem meus alvos, se eu quisesse matá-los, teria feito quando estavam vigiando sonolentos. — Tornou a sorrir, Cedrico engoliu em seco. — Além do mais, imagino que minha filha ficaria chateada se eu o matasse, não?
— E por que você se importaria?
Victoria deu de ombros, olhando para um porta-retratos da casa.
— Se eu quisesse que %Samantha% ou Sirius sofressem de verdade, eu faria pessoalmente. Qualquer outra coisa que aconteça com eles está fora do meu alcance.
— Realmente, é de se surpreender que ela não goste de uma mãe tão zelosa quanto você! — replicou, irônico, vendo-a sorrir.
— Cuidado com o que diz, Diggory, você não é meu alvo, mas nada impede que algum Comensal queira passar o tempo.
Cedrico ouviu um barulho alto e então um grito masculino, Victoria continuava a encará-lo curiosa, mas virou-se por sobre o ombro em direção a escada quando viu Yaxley descendo apressado.
— Vamos embora.
— Concluiu a missão? — perguntou em tom baixo, vendo-o negar com um aceno ao tempo que via Cedrico parado próximo à porta.
— Ora, ora, temos uma criança fora de Hogwarts.
— Não. — Victoria negou quando o viu ergueu o braço. — Ele não é a missão. Vá buscá-la.
— Por que você mesma não vai enquanto eu me divirto um pouco?! — Sorriu encarando Diggory, que devolveu o sorriso irônico. Victoria olhou de canto para o mais novo antes de virar ela mesma a varinha, tão rápido que nenhum dos homens sequer viu o movimento.
Explodiu parte da casa, fazendo o segundo andar vir abaixo. Cedrico jogou-se para o lado e ouviu Tonks gritar por cair de repente, assim como Mina — a qual acabou soterrada por parte dos escombros.
Victoria andou por sobre o local, chutando para longe a varinha da sobrinha, enquanto agarrava Mina pelas vestes. Desviou-se por um triz do feitiço que Cedrico lançou enquanto ele arrastava-se desajeitado, a perna extremamente dolorida.
— Quem sabe na próxima, bonitão. — Lançou-lhe um expelliarmus, fazendo com que sua varinha voasse alguns metros. — Mande lembranças à minha filha, tenho certeza que a verei muito em breve. Yaxley.
Dois segundos depois os três tinham aparatado, sumindo na escuridão.
— Tonks? — chamou Cedrico em voz alta, ouvindo-a resmungar de um canto. — Consegue andar?
— Tem certeza que não morremos? — perguntou após alguns instantes, enquanto tentava, sem sucesso, sair do lugar. — Como está?
— Acho que quebrei a perna.