Onze
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Diggory batia o pé incessantemente, angustiado com a demora. Estava sentado em uma das cadeiras disponíveis na sala de espera do hospital junto com boa parte da Ordem da Fênix, os Weasley e Granger. Pelo que sabia, Sirius tinha sido arrastado pelo Ministério, ainda como o assassino foragido de Azkaban, mas Dumbledore, Quim e Olho-Tonto tentavam resolver a situação depondo a seu favor. E Potter tinha sido obrigado a ficar e dar um novo depoimento sobre todos os acontecimentos desde a Terceira Tarefa do Torneio Tribruxo.
Ninfadora parecia tão nervosa quanto ele, a mulher roía as unhas enquanto esperava por notícias, havia dito que Andrômeda e Ted ainda não sabiam sobre o acontecido, pois resolveu aguardar por novidades antes de contar para evitar que os pais passassem pelo mesmo nervoso.
Já fazia horas que estavam ali e não tinham dito absolutamente nada sobre o estado de %Samantha%. Tudo o que sabia era que a garota tinha chegado desacordada e quase sem pulso.
Passados mais alguns longos minutos ouviram vozes alteradas e logo Sirius Black apareceu em um rompante, assustando as pessoas ao redor. Por sorte, Olho-Tonto foi rápido o suficiente para protegê-lo dos feitiços que alguns seguranças tentaram lançar sem que o homem se desse conta, preocupado em saber de sua filha.
— O que aconteceu? Como ela está? — questionou com a voz rouca, olhando para todos e esperando que alguém pudesse lhe responder.
— Ninguém sabe, Sirius — Dora começou, ficando em pé —, ainda não falaram nada.
— Isso não pode ser bom, não é? Se fosse algo simples já teriam avisado. — Virou-se para a enfermeira que passava, puxando-a pelo braço. — Quero ver minha filha!
— Sirius, se acalme — pediu Moody. — Você fazer um escândalo só vai render mais uma visita a Azkaban!
Black pensou em argumentar, mas desistiu, jogando-se em uma cadeira próxima e baixando o rosto.
Harry sentou-se ao lado dos amigos, acenando com a cabeça para Cedrico quando notou o loiro mais ao canto. Diggory queria saber exatamente o que tinha acontecido, mas não achava que era o melhor momento para perguntar. Conforme o tempo passava, sentia-se mais nervoso.
Por que demoravam tanto para dizer como ela estava?
Passados mais uns quinze minutos, Sirius levantou-se impaciente, pronto para invadir o quarto em que a garota estava para ver com seus próprios olhos o estado da menina, mas antes que seguisse pelo corredor, o bruxo responsável por %Sam% apareceu sorrindo para o grupo.
Cedrico demorou poucos segundos para reconhecer o medibruxo como sendo o pai de Monty.
— Ela vai ficar bem, não se preocupem.
Foi quase palpável a onda de alívio, Black chegou a colocar a mão sobre o peito parecendo tirar um peso sobre os ombros; as horas que passou depondo e as chances de voltar para Azkaban não foram nada perto do desespero de não saber como a garota estava e imaginar que o pior pudesse ter acontecido.
— Eu já posso vê-la?
— Ela está descansando — Eoin Montgomery informou, paciente —, mas já está fora de perigo. Ela perdeu bastante sangue, o problema não foi apenas a queda, mas o feitiço que foi utilizado. Demoramos mais do que o esperado para descobrir o motivo para ela continuar sangrando após o curativo. Ela irá precisar tomar uma poção por alguns dias, mas irá se recuperar completamente. Só é possível que ela acorde um pouco confusa.
— Confusa como? — perguntou Dora com o cenho franzido.
— Sem saber o que aconteceu nas últimas horas, nada sério, apenas temporário. Apenas evitem passar muita informação em pouco tempo, ela precisará descansar por alguns dias. E é melhor não entrar todo mundo ao mesmo tempo, temos um grupo grande aqui, o ideal é apenas um ou dois por vez.
— Eu vou primeiro — avisou Sirius, já seguindo pelo corredor do qual o medibruxo tinha vindo.
Cedrico sentiu-se um tanto frustrado, queria poder vê-la com seus próprios olhos, saber que %Sam% estava bem, mas também imaginou a felicidade que ela sentiria quando visse o pai ao seu lado. Sorriu antes de voltar a sentar-se na cadeira, um tanto mais relaxado por saber que pelo menos ela não corria nenhum risco. E foi então que se permitiu virar para Dora e perguntar o que tinha acontecido no Ministério.
A loira abriu os olhos demorando até conseguir focar sua visão em algo, notando o quarto claro no qual se encontrava. Por alguns instantes achou que estivesse na Ala Hospitalar, mas então notou que o local não era conhecido, era um quarto melhor e tinha apenas mais uma maca vazia ao seu lado direito. Sentiu o corpo doer quando se mexeu, sua cabeça parecia pesar uma tonelada e a dor era forte a ponto de fazê-la querer fechar os olhos e voltar a dormir o máximo possível, a claridade parecia atrapalhar ainda mais sua situação.
Respirou fundo sentindo-se um tanto enjoada, mas ao olhar para o lado viu Cedrico deitado, todo torto, numa cadeira que não parecia muito confortável. Diggory parecia cansado, dormia desajeitado e ela pensou na dor que ele sentiria quando acordasse. Sorriu pequeno por saber que ele estava ali, que ele havia se preocupado mesmo que não estivessem juntos.
Suspirou olhando para o lado, tentando recobrar as lembranças da luta no Ministério, sem saber como tinha acabado; lembrava-se de Dumbledore aparecendo. Harry ao seu lado e seu pai lutando com Bellatrix.
Um arrepio passou por sua espinha e o ar pareceu faltar por alguns instantes.
Será que Sirius estava bem?
Por que não estava ali com ela?
Será que tinha sido capturado?
— Ei! — Ouviu a voz baixa de Cedrico enquanto o lufano coçava os olhos, passando a mão pelos cabelos bagunçados. — Como está?
— Tudo bem, acho. — Sorriu pequeno, tentando não lhe passar o desespero que sentia. “Ele está bem, ele está bem”, repetia como um mantra, tentando focar-se no que Diggory falava e aos poucos tentando entender o que tinha acontecido e descobrir se estavam todos bem. O medo de perguntar em voz alta e ter uma resposta negativa era grande demais. O que faria se Sirius não estivesse bem? E se ele estivesse em Azkaban?
Cedrico, por sua vez, comentou superficialmente sobre como ela tinha ido parar no St. Mungus, alegando que não tinha todos os detalhes por medo de ela ficar nervosa ao saber como as coisas tinham se desenrolado. Diggory então puxou um novo assunto, tentando conversar sobre coisas banais ao invés de pensarem sobre os últimos acontecimentos.
%Samantha% aceitou a conversa, dando continuidade na mesma, seu peito ainda parecia apertado sem saber sobre Sirius, mas o medo de confirmar que ele estava em Azkaban era maior do que qualquer coisa naquele momento.
— Bem, talvez tenhamos uma boa notícia em Hogwarts para o próximo ano — Cedrico começou sorrindo pequeno, %Sam% o encarou curiosa. — Umbridge não vai continuar, não depois dessa noite. Imagino que são menos chances de você perder alguns pontos!
A garota sorriu, concordando com a cabeça.
— Não sei bem, talvez tenha que me cuidar mais agora que você não vai estar mais lá para encobrir minhas fugas.
Diggory concordou sorrindo nervoso, era estranho demais pensar que não estaria na escola no próximo ano e que talvez estivesse trabalhando ou qualquer outra coisa que bruxos formados faziam.
— Quando vai ser sua formatura?
— Hm… Daqui duas semanas, de acordo com minhas notas…
— Como se tivesse alguma chance de você ser reprovado — a garota comentou tranquila, fazendo-o rir baixo. — Serei convidada para te ver em trajes a rigor novamente?
Diggory concordou sorridente, sentindo o rosto esquentar por um momento ao lembrar-se do tempo que passaram juntos durante o Baile de Inverno.
— Espero contar com sua ilustre presença. — Piscou divertido, vendo-a concordar com um aceno.
O loiro chegou a abrir a boca para comentar algo, mas desistiu, olhando para suas mãos com o cenho franzido.
— O que foi?
— Hm… Eu iria comentar sobre o Baile, mas… Bem… — Deu de ombros, sem graça.
%Sam% concordou sem nada dizer, ainda era uma das melhores noites que tinha tido na vida, só não era melhor do que a noite que havia encontrado Sirius pela primeira vez e descoberto que ele era inocente.
— Eu estive pensando… — Pigarreou, querendo que a voz saísse mais confiante. — Eu sei que as coisas estão um pouco estranhas ainda, mas…
%Sam% o encarou, esperando que ele continuasse, sentindo o estômago revirar em expectativa.
— Será que podemos voltar a ser amigos? Mesmo que não seja como antes… Quer dizer… Eu só… Eu só não gostaria de perder totalmente o contato com você…
A loira concordou, sorrindo em sua direção. Um tanto triste por saber que o máximo que ele estava querendo era sua amizade, no fundo esperava que ele fosse propor dos dois voltarem, mas pensando bem, talvez ele não quisesse por estar quase fora de Hogwarts. Se já havia sido difícil com eles podendo se ver quase todos os dias, nem mesmo imaginava como seria complicado agora que eles nem mais estariam juntos na escola.
— Eu adoraria, Ced. Espero que me mande corujas mesmo estando ocupado com o que for fazer depois das férias!
O lufano riu garantindo que mandaria várias, antes de inclinar-se para beijar-lhe a bochecha. Não era nem de longe o que ele queria, mas era melhor do que nada. Pensaria nos próximos passos depois que %Sam% já estivesse recuperada e eles pudessem se encontrar fora do hospital.
Continuaram conversando por mais alguns instantes, até que a porta abriu de supetão e Sirius entrou ansioso. O homem focalizou sua visão na loira, acordada e conversando na cama e o sorriso gigante em seu rosto não pôde ser evitado, andou em sua direção extremamente aliviado por vê-la consciente. Tinha passado horas ao seu lado quando ainda estava desacordada, apenas para saber que ela estava bem e queria ter esperado para quando ela acordasse, mas ainda precisou voltar para dar mais alguns depoimentos ao Ministério já que só tinha conseguido algumas horas para visitá-la.
— Finalmente, achei que precisaria de alguma poção para você acordar!
%Samantha% abriu o mesmo sorriso, respirando fundo ao ver seu pai ali antes de sentir os braços do mais velho ao seu redor, apertando-a por alguns longos minutos. O medo sumindo de seu ser, o coração batendo tranquilo e o peito parecendo mais leve.
Sirius se afastou alguns centímetros, colocando as mãos em seus ombros, encarando-a sério.
— Se você ousar me deixar preocupado dessa forma outra vez eu juro que você vai passar o resto da vida de castigo!
%Samantha% havia sido liberada do St. Mungus e pôde ficar em casa ao invés de ir para Hogwarts nos últimos dias, já que nem prova nem aula ela teria. Só voltou para a escola um dia antes do término para a formatura de Cedrico. Usava um vestido preto com pequenas pedrinhas brilhantes, um salto não muito alto e os cabelos loiros presos em um penteado bonito com algumas mechas soltas e onduladas.
Notou, assim que passou pelos corredores, os olhares de vários colegas sobre si e, embora seu orgulho insistisse em dizer que sim, sabia que não era por seu vestido bonito que a encaravam.
Além de saberem que ela era filha de Sirius Black, o bruxo que passou anos em Azkaban e depois ficou 2 anos foragido e havia acabado de ser inocentado, mas era claro que grande parte da comunidade bruxa não estava convencida. Parte deles ainda olhavam incertos em sua direção, um pouco assustados, a outra metade olhava com curiosidade, cochichando ao seu redor sobre o assunto.
Encontrou os Diggory junto com outros pais na entrada do Salão Principal, esperando pelo início da cerimônia.
— %Sam%, querida! Como está? — perguntou Rachel ao vê-la, abraçando-a por alguns instantes e olhando para seu rosto, procurando vestígios do acidente de dias antes.
— Estou bem, obrigada. — Sorriu antes de cumprimentar Amos, os dois virando para elogiá-la, dizendo o quão bonita estava.
— Ced vai ficar feliz em te ver assim, hein? — comentou o homem brincalhão, levando uma pequena cotovelada da esposa que lhe negou com a cabeça. Talvez tivesse esquecido que eles tinham terminado, ou talvez tivesse feito de propósito; Amos era muito bom em fazer comentários inconvenientes às vezes.
— E Sirius? — questionou Rachel olhando por sobre o ombro da loira, esperando encontrar o homem caminhando em direção ao pequeno grupo.
— Ah, ele não achou uma boa ideia vir, ainda tem muita gente comentando sobre tudo… Papai achou que chamaria mais atenção que os formandos. — Coçou a nuca sem graça. Os Diggory concordaram com um aceno, ao tempo que a mais velha lamentava que ele não pudesse comparecer.
Quando as grandes portas de carvalho foram abertas, o grupo com cerca de 60 pessoas, entre pais, irmãos e outros familiares, seguiu em direção às cadeiras enfileiradas. As quatro mesas compridas tinham sido retiradas dando lugar para cadeiras individuais na frente da mesa dos professores, a qual também não estava mais presente, embora os professores todos se encontrassem por ali.
Não demorou muito para a cerimônia começar com os diretores de cada Casa chamando os nomes dos formandos que vinham de um corredor lateral para pegarem suas varinhas em um sinal de que, agora, poderiam usá-las fora de Hogwarts.
Assim que os alunos da Corvinal, Grifinória e Sonserina saíram, a Professora Sprout foi mais a frente, começando a chamar os alunos da Lufa-Lufa; Cedrico, como tinha sido o único a se formar com honras, foi o último a ser chamado, pois seria ele quem encerraria a cerimônia:
— Cedrico Edmund Diggory!
O rapaz andou em direção a professora, ouvindo uma salva de palmas e os gritos animados que ele reconheceu virem de seu pai e %Sam%, fazendo-o segurar a risada enquanto negava com a cabeça.
Olhou rapidamente para eles assim que a professora entregou sua varinha, agradecendo antes de apertar a mão de Dumbledore e dos demais professores. Parou ao lado do diretor para iniciar seu discurso, o qual tinha treinado algumas vezes em frente ao espelho. Sorriu na direção de %Sam%, antes de pigarrear e começar em seu tom mais formal possível:
— Boa noite a todos, agradeço em nome dos meus colegas a presença de vocês hoje. — Virou-se para Emmett rapidamente, o qual segurava a risada e agradecia mentalmente por não precisar fazer aquilo. — Depois de sete anos, finalmente estamos livres das aulas e estudos, — ouviu alguns gritos aliviados dos colegas —, infelizmente, é claro, — recomeçou encarando-os — essa era a parte fácil e agora perdemos a vida boa. — Fez uma careta para os amigos, sendo acompanhado com lamentos e suspiros. — De qualquer forma, foram sete anos de muito aprendizado para o que nos espera daqui para a frente…
%Sam% sorria conforme Diggory falava, parecendo extremamente confiante em tudo o que dizia. Quando o discurso terminou, após mais uns dois minutos, ele tornou a agradecer aos convidados e foi aplaudido ao descer em direção aos pais, sendo abraçado pelo casal antes de virar-se sorridente para a loira.
— Fico feliz que tenha vindo! — disse um pouco constrangido ao abraçá-la.
— E você achou que eu perderia a formatura do melhor aluno, Capitão e Monitor de Hogwarts? — Piscou, vendo-o rir. — Papai pediu desculpas por não poder vir, ele achou que não seria uma boa roubar a atenção da noite!
Cedrico sorriu concordando antes de andarem para uma das mesas pequenas que, assim que a cerimônia das varinhas tinha se encerrado, apareceram pelo salão. Todas com os nomes dos alunos que se formavam e o número de convidados que cada um tinha.
Os quatro conversaram por algum tempo antes do jantar ser servido e, após quase uma hora, uma música começou a tocar. Cedrico aproveitou o momento para chamar %Sam% para uma dança, que ela aceitou na mesma hora, aproximando-se dos outros estudantes que também dançavam na pequena pista improvisada.
Ficaram em silêncio por alguns minutos, apenas dançando abraçados.
— Como estão as coisas? — puxou o assunto, virando-se para olhá-la.
— Tudo bem, quer dizer… — Suspirou. — Estamos bem, mas tem sempre alguém esperando para tentar ver meu pai e nem todos parecem confiar que ele não é um foragido.
— Imagino que ainda vá demorar um pouco para isso mudar, mas pelo menos agora o Sirius pode sair de casa, não é?
— Sim, mas ele ainda prefere fazer isso como cachorro, diz que é mais fácil! — confessou, vendo-o rir ao saber.
— Tenho certeza que logo todo mundo esquece isso e Sirius vai andar livremente por aí! — garantiu, %Sam% acenou sorridente. — Acho que não comentei antes, mas você está realmente bonita hoje.
A garota corou fortemente, agradecendo em voz baixa.
Era estranho ficar tão tímida em sua presença depois de tanto tempo juntos, parecia que estavam de volta no tempo quando não sabiam que gostavam um do outro.
Continuaram dançando, conversando sobre coisas aleatórias, mas quanto mais ficavam juntos, mais Cedrico pensava na falta que sentia dela ao seu lado e no quanto ele tinha errado para causar a separação dos dois. E sabia que a pior parte tinha sido por seu ciúmes exagerado.
— O que foi? — perguntou quando notou o cenho franzido e o olhar baixo do lufano.
Diggory sorriu pequeno, dando de ombros.
— Sinto sua falta.
%Samantha% parou de dançar, encarando-o por um instante. Cedrico apenas a olhou, sem saber se tinha dito algo errado, mas no momento seguinte a garota colocou as mãos sobre seus ombros, esticando-se para juntar seus lábios.