Capítulo Dois
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Na manhã seguinte, %Verônica% acordou com o sol entrando pela janela e atravessando as cortinas. Ela vestiu um roupão e quando saiu do quarto, lá fora encontrou %Alfred% já esperando. Ele mostrou a ela seu quarto onde ela encontrou todas as suas coisas já arrumadas.
— Obrigada, %Alfred%, vou descer em alguns minutos — disse sorrindo.
%Theo% já estava na sala de jantar, tomando café e lendo um jornal quando %Verônica% entrou. Ele olhou para cima quando ela se aproximou da mesa, sua expressão cautelosa.
— Bom dia! — disse ele rigidamente, seu tom frio e educado, deixando claro que ele ainda estava tentando manter uma distância entre os dois. — Dormiu bem?
Ela se sentou na cadeira e esperou enquanto %Alfred% começava a servi-la.
— Sim, obrigada por perguntar, e você?
— Ótimo.
Sua resposta foi curta, quase rude. %Verônica% tentou não ficar ofendida. Enquanto ela comia, podia sentir que %Theo% a observava tentando ser discreto.
— Quais são seus planos para hoje?
— O restante das minhas coisas deve chegar logo, vou ficar ocupada tentando organizar tudo. E acho que já que nos casamos ontem, provavelmente devo ficar em casa por alguns dias.
Ele assentiu, colocando o jornal de lado.
— Tudo bem. Faz sentido. Vou trabalhar em casa hoje também. Se precisar de qualquer coisa, pode falar com %Alfred%, ele vai dar um jeito.
Ele tentou soar educado dessa vez, mas seu tom ainda distante. Parece que ele não confiava em si para ser um pouco mais gentil com ela, não depois da noite passada.
— Tudo bem para mim — ela disse tentando imitar seu tom indiferente, ela não queria deixar as coisas mais estranhas do que já estavam, mas não ia deixá-lo ter a última palavra.
O jeito como ela imitou o seu tom pareceu incomodá-lo. %Theo% franziu a testa e pareceu travar uma luta interna em sua cabeça por um momento.
— Sobre a noite passada... — ele começou e então se interrompeu. — Deixa para lá.
%Verônica% ficou tensa, mas ele não disse mais nada e apenas terminou seu café.
Ele se levantou, arrumando a camisa.
— Estarei no meu escritório se precisar de mim para alguma coisa.
E com isso, ele foi embora, deixando ela sozinha. %Verônica% relaxou na cadeira respirando fundo, ela não sabia como agir, eles tinham que ficar casados por um ano, e eles eram totalmente estranhos um com o outro.
Uma das primeiras coisas que %Theo% disse a ela na primeira reunião deles foi que não haveria lugar para emoção neste casamento. Em outras palavras, ele quis dizer que as mulheres são famosas por misturar sentimentos e complicarem as coisas. Com raiva, %Verônica% também foi clara quando afirmou que o casamento era apenas um negócio mutuamente benéfico e conveniente.
Mas naquele momento, sozinha naquela grande mesa, ela não sabia se conseguiria lidar com a distância do seu marido.
%Alfred% observou ela comer, sua expressão pensativa.
— Senhora — ele a chamou suavemente. — Posso falar livremente?
%Verônica% olhou surpresa para o homem, ela achava que já gostava dele, ele parecia ser muito leal a %Theo%, e com certeza cuidava muito bem dele e da mansão. Ela se perguntava o que ele achava daquele casamento arranjado.
— Claro, sempre — disse usando um guardanapo para limpar os lábios.
%Alfred% suspirou, seus olhos indo rapidamente para a porta do escritório antes de voltarem para ela.
— Vocês dois são tão diferentes, senhora. Você é educada demais para dizer qualquer coisa, mas está claro que vocês dois não sabem como agir perto um do outro. Eu estava pensando que talvez eu pudesse…
— Pudesse o quê?
Ele hesitou, escolhendo as palavras com cuidado.
— Ajudar vocês dois... a se entenderem um pouco melhor? Eu vi o Sr. %Blanchard% com muitas mulheres, mas nenhuma delas o deixou tão... perturbado. Você é boa para ele, mesmo que ele seja teimoso demais para perceber.
Ele sorriu suavemente.
%Verônica% não sabia o que dizer a ele. Não queria falar que não tinha a menor chance dos dois serem amigos, mesmo porque, no fundo, ela esperava que ela %Theo% pudessem ter um bom relacionamento enquanto vivessem sobre o mesmo teto. Então, ela apenas sorriu.
— Claro, qualquer ajuda para nos fazer sentir mais confortáveis nessa situação é muito bem-vinda.
%Alfred% assentiu, satisfeito com sua franqueza.
— Muito bem, senhora. Vou começar organizando um jantar casual para dois hoje à noite. Nada extravagante, apenas uma chance para vocês dois conversarem sem a pressão de outras pessoas ao redor. Talvez você possa usar algo… confortável? — Ele levantou uma sobrancelha sugestivamente.
Ela não sabia se tinha entendido o que ele queria dizer, mas sorriu, porque seduzir %Theo% não estava nos seus planos.
— Ok, vou tentar. Obrigada, %Alfred%.
Com uma pequena reverência, o mordomo a deixou sozinha na sala de jantar. %Verônica% terminou seu café da manhã, sentindo-se um pouco melhor sobre a situação. Talvez jantar sozinha com %Theo% fosse ajudar os dois a relaxarem e se conhecerem melhor.
%Verônica% passou a manhã organizando suas coisas no quarto que seria dela pelo próximo ano. A suíte era enorme, tinha espaço para ela ficar o dia todo ali se quisesse, mas ela não queria viver numa gaiola de ouro. Depois de arrumar suas coisas e responder todas as mensagens com felicitações pelo casamento, ela decidiu descer.
%Theo% estava na cozinha preparando um sanduíche quando ela chegou. %Verônica% tentou disfarçar a surpresa de vê-lo em uma situação tão… normal. Ele tinha arregaçado as mangas da camisa, revelando os antebraços musculosos. Ele olhou para ela quando a ouviu se aproximar, sua expressão suavizando um pouco.
— Quer um?
— Hum, claro. %Alfred% disse que eu poderia vir aqui se eu estivesse com fome, e que você não costuma almoçar.
Ele assentiu, pegou outro prato e começou a montar o sanduíche para ela, seus movimentos eram precisos e eficientes.
— %Alfred% vem tentando me fazer comer refeições regulares há anos, mas estou sempre muito ocupado.
Ele deslizou o prato na direção de %Verônica%, seus dedos roçando acidentalmente os dela. Ele se afastou depressa, como se a pele dela o tivesse queimado.
%Verônica% novamente tentou não ficar ofendida com a reação dele.
— Desculpe, não foi minha intenção tocar em você — declarou antes de dar uma mordida no seu sanduíche.
%Theo% limpou a garganta, evitando seu olhar.
— Está tudo bem. Só não estou acostumado a... contato físico assim de repente, só isso.
Ele deu uma mordida no próprio sanduíche, mastigando lentamente. O silêncio entre eles ficou pesado, mas não totalmente desconfortável. Depois de um momento, ele falou novamente:
— %Alfred% mencionou algo sobre um jantar hoje à noite. Só nós dois — ele disse, sua voz neutra. Ele a observou tentando avaliar sua reação. — Está tudo bem para você?
— Claro, acho que é uma boa ideia passar algum tempo juntos para nos familiarizarmos mais um com o outro. Especialmente se quisermos que as pessoas acreditem que estamos apaixonados. — Ela colocou o sanduíche de volta no prato. — A menos que você não queira.
— É uma boa ideia — ele respondeu depressa, então hesitou. — Você não vai... tentar me seduzir durante o jantar, vai? É isso que %Alfred% espera que aconteça — ele perguntou de repente, sua voz soou mais grave.
%Verônica% não tinha certeza se ele estava falando sério ou tentando ser engraçado, mas decidiu responder a sério.
— Não, %Theo%. Você deixou bem claro que a noite passada foi uma obrigação apenas para cumprir o contrato. Não se preocupe, eu não tenho interesse em mais nada. Só quero que sejamos menos estranhos um com o outro.
E isso era a verdade. Apesar de que desde que os dois consumaram o casamento, ela não conseguia parar de pensar em %Theo% daquele jeito. O que a irritava profundamente. Ela não deveria querer aquele homem, ele tinha sido arrogante e frio no momento em que puseram os pés em casa.
%Theo% suspirou lentamente, aliviado e quase um pouco decepcionado com a resposta sensata.
— Certo. Menos estranho — ele murmurou, terminando seu sanduíche. Seu olhar permaneceu nela por um momento antes de olhar para o relógio. — Bem, eu provavelmente deveria voltar ao trabalho. O jantar é às oito.
— Ok.
— Ela o observou e enquanto ele saía da cozinha em direção ao escritório.
O homem que ela conheceu naquela festa era muito mais charmoso e interessante do que a versão que ela tinha ali agora.
Quando o pai de %Verônica% contou a ela sobre o casamento arranjado, ela não ficou surpresa. Claro, uma parte dela se rebelou internamente contra isso. Mas desde cedo ela entendia que seu futuro seria provavelmente decidido por seu pai. Ele permitiu que ela estudasse arte como ela sempre quis, e que fosse viver na Europa por um tempo, mas ela sabia que quando voltasse para casa, teria que concordar com qualquer coisa que seu pai decidisse. Mesmo assim, ela não estava preparada e nem sabia como lidar com aquela situação. %Theo% %Blanchard% era um enigma, um quebra-cabeça que ela não sabia como resolver.
%Verônica% não tinha ideia do que vestir para o jantar, ela não queria parecer que estava tentando seduzi-lo, mas ela só sabia se vestir para impressionar, foi assim que ela foi criada. Então ela colocou um vestido preto que parecia simples o suficiente, mas também mostrava muito das suas curvas. Ela prendeu o longo cabelo em um rabo de cavalo e colocou uma maquiagem simples. Quando ela chegou à sala de jantar, %Theo% estava lá esperando, bonito como sempre.
Ele estava sentado na cabeceira da longa mesa, com uma taça de vinho tinto na frente dele. Ele olhou para cima quando ela entrou, seus olhos examinando seu vestido preto. Havia comida servida sobre a mesa. Pequenos pratos com salada Caesar estavam ao lado de outros cobertos por cúpulas de prata, e uma cesta de pão salpicado com parmesão estava colocada entre dois lugares na mesa.
— Boa noite, %Theo%.
— Sente-se. Quer vinho? — perguntou desviando os olhos dela.
Era difícil de acreditar que, sempre que ela o via, ele parecia mais atraente para ela. Ele tinha uma aura ao redor dele, uma autoconfiança que era quase irritante porque ela a reconhecia bem. É a confiança que vem com a criação. Com nascer em uma família que lhe dá status. Com não estar acostumado a aceitar um não como resposta. Com uma confiança, uma crença inabalável de que você pode ter tudo o que quiser.
Ela obedeceu e se sentou à mesa tentando manter uma certa distância entre os dois.
— Claro, eu amo vinho tinto.
Ele acenou com a cabeça em aprovação, e com elegância lhe serviu uma taça. Quando ele entregou a ela, seus dedos roçaram os dela, deliberadamente dessa vez. Ele observou %Verônica% tomar um gole, seus olhos escaneando o rosto dela.
%Verônica% tentou ignorar a sensação do toque dele e provou o vinho saboreando-o.
— Você gosta? É um Bordeaux.
— Sim, delicioso.
%Theo% sorriu satisfeito e lhe ofereceu um pedaço de pão. Ela aceitou, admirada com o quão mecânico tudo aquilo parecia para ele.
A comida cheirava muito bem e os dois começaram a comer, apenas o som de talheres contra pratos quebrando o silêncio.
%Verônica% olhou para %Theo%, que agora a ignorava completamente. Ela podia sentir sua aura fria a cercando, deixando-a ainda mais ansiosa. O silêncio entre eles era ensurdecedor e ela não sabia o que dizer. Os sinais mistos que ele lhe enviava a deixavam confusa e insegura. Ela respirou fundo, tentando se acalmar, mas seu coração estava batendo forte em seu peito, ela queria falar e quebrar a tensão, mas as palavras estavam presas em sua garganta.
%Theo% levantou finalmente os olhos do prato, notando que %Verônica% o observava. Ele fez uma pausa, seu garfo a meio caminho da boca. Com uma leve careta, ele o abaixou lentamente.
— Algo errado? — Sua voz era baixa, tingida com uma preocupação genuína, apesar da frieza de seu comportamento.
Ela decidiu que agora é a hora de conversar e esclarecer algumas coisas entre eles.
— Eu estava pensando, você disse antes que não está acostumado com contato físico, mas teremos que nos tocar em público, principalmente se quisermos que as pessoas acreditem que estamos apaixonados. Isso vai ser um problema para você?
Ele descansou o garfo no prato, seus olhos nunca deixando os dela.
— Em público, sim, vamos ter que nos tocar — ele disse, sua voz caindo para um sussurro. Ele esticou o braço, sua mão pairando sobre a dela antes de gentilmente tocá-la.
%Verônica% arfou surpresa, mas agarrou imediatamente a mão dele.
— Isso é incômodo para você? — ela perguntou.
%Theo% negou com a cabeça, seu polegar roçando levemente os nós dos dedos dela. O gesto era quase... carinhoso.
— Está tudo bem — ele murmurou. Ele não se afastou, em vez disso, ele continuou a comer com a outra mão, o contato entre os dois permanecendo constante e levemente carregado com uma nova energia.
Ela também não soltou, convencida de que eles precisavam se acostumar a se tocar, mas na realidade ela só gostava da sensação da pele dele tocando a sua.
— Você sabe… — ele começou suavemente, seu polegar esfregando sua mão inconscientemente. — Seu toque não é... desagradável — ele murmurou, seu maxilar tenso. Ela notou que ele estava quase acariciando sua mão agora, seu polegar fazendo círculos lentos em sua palma. — Você se incomoda com isso?
%Verônica% tentou se acalmar tomando um gole de vinho.
— Sua presença e seu toque não me incomodam, %Theo%.
Desde a primeira vez é o que ela queria dizer.
Ele observava atentamente, seus olhos passeando pelo longo pescoço enquanto ela tomava seu vinho, o cabelo escuro preso para trás em um penteado simples. Ele percebeu que ela não estava usando muita maquiagem. Ele gosta disso.
— %Verônica%? — ele a chamou suavemente.
— Sim?
%Theo% se inclinou para frente, seu cotovelo descansando na mesa enquanto ele apoiou o queixo de %Verônica% com a mão. Seu olhar estava preso no dela, procurando por alguma coisa.
— Posso beijar você? — ele perguntou, sua voz baixa e hesitante.