Ballet Shoes


Escrita porElla Souza
Editada por Isabelle Castro


Capítulo XXXVIII

Tempo estimado de leitura: 47 minutos

  Quarta feira nunca foi o melhor dia na Academy, mas também não era o pior. Pelo menos até aquele dia em questão, onde %Abi% resolveu aparecer de TPM e acabar com a minha manhã. Sendo uma mulher também, eu até que compreendia que certa vez no mês nós ficamos um pouco mais sensíveis e emocionalmente instáveis, porém %Abigail% já era assim praticamente todos os dias. Quero dizer, ela nunca foi a pessoa mais calma do mundo e tinha um jeito bem explosivo e espevitado. Com os hormônios elevados, então? Era uma bomba atômica que só precisava de um pequeno sopro para explodir e dizimar a raça humana inteira. Ok, talvez não a raça humana inteira... Mas ao menos a minha vida estava em jogo.
  Nós duas não pegamos a primeira aula juntas, o que foi um alivio pra mim e um pesadelo para ela. Como eu e Nick tivemos um encontro com o diretor Colin, tive que deixá-la nas mãos da nossa professora de técnica corporal. A matéria em si era bem legal e quase não envolvia a dança propriamente dita, mas a ruiva insistia que a docente pegava no pé dela sem motivo algum. Com o temperamento que a minha amiga estava, eu já podia imaginar as duas rolando escada abaixo, atracadas nos cabelos uma da outra. Por esse motivo, só voltamos a nos encontrar na hora do intervalo, quando acabamos nos esbarrando no corredor principal do primeiro andar. Ela só faltou me morder, mas se acalmou um pouco ao ver que era só eu e não algum estranho desavisado. A menina estava procurando pelo próprio namorado, só que não fazia ideia da mensagem que eu mandara para ele e Zayn horas mais cedo: “Alerta vermelho! Já é tarde demais pra mim, mas salvem-se!” Eles saberiam do que se tratava.
  - Onde será que aquele duende irlandês se meteu? – Perguntou mais para si mesma do que para mim e olhou para fora da janela do corredor na tentativa de enxergar os andares acima do nosso.
  - Não sei, %Abi%... Ele deve estar ocupado... – Falei com todo cuidado possível.
  - Ocupado com o quê? O que pode ser mais importante que a própria namorada? – Se virou para mim como se estivesse me acusando.
  - E-eu não se-ei... – Gaguejei e dei um passo para trás.
  - Desculpa, %Tah%... – Parou um pouco para pensar nas próprias atitudes após notar o meu medo. – É que eu fico complicada nesses dias.
  - Eu sei disso, baixinha. – A toquei com cuidado sobre o ombro. – Só... Tente respirar fundo.
  - Não me peça calma! – Informou.
  - Eu vou te pedir pra comer chocolate, isso sim! – Ri, mas até que não era uma má idéia. – Vamos até o refeitório? Eu pago!
  A %Abi% normal teria falado que chocolate iria fazer mal para a sua pele de bebê, mas aquela desequilibrada que estava ao meu lado aceitou na mesma hora. Por sorte nós não estávamos longe da área da lanchonete, portanto chegamos lá em um estalar de dedos. Não que eu tenha estalado os dedos pra contar... Mas você entende onde eu quero chegar. Enfim. Pedi a minha amiga que fosse me esperar em uma mesa e que ela tentasse ficar o mais confortável possível enquanto eu iria pegar algo para nós comermos. Aparentemente mais calma, ela seguiu o seu caminho e eu fui para o final da pequena fila que se formava perto da mesa onde ficavam as comidas.
  Mesmo a London Royal Academy sendo uma escola de artes bem luxuosa e renomada, a parte da cantina deixava a desejar. O sabor dos alimentos até que era bom, mas a variedade era mínima. Um dia eu gostaria de ter uma conversa séria com a diretora Agnes para formular um cardápio novo que eu tenho certeza que agradaria tanto nutricionistas quanto os alunos que eram obrigados a lanchar ali todos os dias. Peguei uma bandeja azul assim que foi possível e tentei não escutar a conversa das meninas que estavam na minha frente, mas foi meio impossível. “Amiga, não tem nada light nesse inferno?” – Uma perguntou com a voz aguda e irritante. “Eu sei, amiga! Por isso temos que comer o menos possível!” – A segunda respondeu. Eu simplesmente rolei os olhos e preferi ignorar. Primeiro porque não gosto de pessoas que falam “amiga” a cada dois segundos. E segundo porque eu não fui com a cara delas. Não é que eu estivesse julgando-as, mas esse papinho de “temos que comer pouco para não engordar” não colava comigo. Meu lema era: “Coma o que quiser, seja feliz e depois faça muito exercício pra manter a forma.” Graças a Deus a dança sempre foi um ótimo meio de queimar as calorias extras!
  A primeira coisa que eu coloquei em minha bandeja foi um pratinho com três cookies médios. Também me servi de uma maçã, dois pudins de chocolate, um tipo de salgado que eu não tinha certeza do que era, uma garrafinha de suco de laranja e uma barrinha de chocolate que eu nunca vira por ali antes. Cogitei a possibilidade de alguém tê-la perdido por ali, mas não anunciaria o meu achado. %Abi% precisava dela mais que qualquer um. Minha vez no caixa logo chegou e as duas patricinhas se afastaram e cochicharam algo depois de ver toda a comida que eu estava levando. A senhora que comandava a caixa registradora já me conhecia, por isso me cumprimentou e até puxou um papinho rápido. Daqueles que não são muito importantes e que nenhuma de nós de fato prestou atenção na hora de responder ou perguntar alguma coisa. %Abi% parecia impaciente demais assim que paguei e pude me dirigir até a mesa em que ela estava. Nos sentamos perto da porta e uma de frente para a outra. Eu deixei a bandeja no centro e a menina já foi logo atacando a barra de chocolate. Eu peguei um dos pudins e uma colher de plástico.
  - Eu não sabia que vendia esse chocolate aqui... – Falou com a boca cheia, mas eu não era nem louca de reclamar.
  - Pois é... – Preferi concordar do que explicar que o tinha encontrado por acaso. – Coma o pudim depois, porque ele está uma delicia! E também tem suco, maça e esse outro negócio aí... Mas eu posso voltar lá e pegar outra coisa se você quiser.
  - %Star%! Calma... Eu já estou melhor. – Sorriu pra mim, mas seus olhos ficaram marejados. – Você é uma amiga tão boa...
  - %Abi%... Você vai chorar? – Pronto, era só o que faltava. Além de irritada, ela também ficava melosa? – Não fica assim, sweetie.
  - Não vou chorar...
  %Abigail% fungou e fez uma careta para conter as lágrimas. Eu não duvidava nada que ela fosse começar a chorar histericamente, reclamando de como a vida dela era difícil e que nem o próprio namorado conseguia encontrar. Eu não sabia se deveria rir daquela situação, ou fingir que era algo normal, então resolvi apenas me concentrar no meu pudim e deixá-la com seu chocolate. Por falar em namorado... Avistei Zayn e Niall entrando na cafeteria, bem distraídos. Em um dia normal eu teria começado a sorrir na direção dele, mas com %Abi% bem na minha frente era arriscado demais. Para duas pessoas que deveriam estar se escondendo, os dois estavam lerdos demais. Tentei chamar a atenção deles e foi quase impossível não fazer um barulho muito grande. Pelo menos a ruiva estava de costas pra eles e não via nada. Niall foi o primeiro a me notar e ficou petrificado. Sua primeira reação foi dar meia volta e tentar sair correndo do refeitório, mas não notou que tinha alguém atrás dele e acabou esbarrando na pessoa e derrubando uma bandeja no chão.
  - O que foi isso? – %Abi% olhou na direção dos meninos no mesmo instante e eu encostei a testa na mesa.
  - Tanto trabalho pra nada. – Pensei alto e quis matar aqueles dois por não serem nada discretos. Bem, pelo menos eu havia feito a minha parte e tentado protegê-los da fera.
  - NIALL HORAN, AÍ ESTÁ VOCÊ! – Minha amiga viu que era o namorado sumido que finalmente resolvera aparecer e levantou da mesa como um furacão.
  - Oi, minha cerejinha. – Falou todo manso. – Eu estava te procurando!
  - Estava me procurando nada! – Foi atrás dele e eu a segui, abandonando meu pudim pela metade. – Vocês dois estavam é fugindo!
  - %Abi%, calma... – Tentei ajudar, mas me arrependi no mesmo instante em que as palavras saíram de minha boca.
  - Não me pede calma! – Gritou e as lágrimas voltaram a aparecer.
  - Quer sair daqui? – Zayn sussurrou pra mim enquanto o outro casal se ocupava em brigar.
  - Desesperadamente. – Até arregalei os olhos para responder.
  Zayn parecia um super espião, olhando para os lados e verificando se a barra estava limpa. Nós dois fomos saindo de fininho em direção à porta que nem estava tão longe assim. Tínhamos a esperança de não sermos notados por Niall e muito menos por %Abi%, mas isso não deu tão certo. “Aonde vocês pensam que vão?” foi a última coisa que ouvimos antes de começar a correr. Zayn agarrou a minha mão e me puxou para o lado de fora. Eu o acompanhei na maior velocidade que consegui e desviei de algumas pessoas que abriram caminho. Eu não sabia para onde estávamos indo e nem se ainda éramos perseguidos por um irlandês e uma inglesa chorona, mas continuei indo em frente.
  - VOLTEM AQUI. – Era a voz de %Abi% se aproximando.
  - ME LEVEM COM VOCÊS! – Niall gritou e eu acabei rindo.
  - Entra aqui, %Tah%! – Zayn me puxou para dentro do elevador vazio e apertou o botão para o quinto andar.
  - Fecha a porta, fecha! – Me desesperei enquanto risadas saiam de minha garganta.
  - Não sou eu que controlo! – O menino também ria e assim que os outros dois apareceram na nossa frente, o elevador fechou.
  - Você sabe que ela vai matar a gente, né? – Encostei na parede do elevador e respirei fundo para retomar o fôlego.
  - Eu estou mais preocupado com o Niall... Você viu como ela olhou pra ele? – Riu alto.
  Logo o elevador chegou ao último andar e as portas automáticas se abriram. Ambos saímos com cuidado, pois os nossos predadores poderiam estar por perto. Não falamos coisa alguma e nem ao menos sussurramos. Algumas salas estavam tendo aulas e, além de não querer atrapalhar ninguém, também não poderíamos ser vistos pelos professores. Rondamos metade do caminho até escutarmos a voz de %Abi% ao longe. Ainda não podíamos vê-la, mas precisávamos de algum esconderijo.
  - E agora, o que a gente faz? – Sussurrei.
  - Já sei! – Me segurou pela mão novamente e fomos correndo até a escada de incêndio. – Entra aqui!
  - Mas essa escada não desce! – Assim que entramos no local, a primeira coisa que eu vi foi uma escada que levava até o andar de cima, parando em uma porta com os dizeres: “Apenas pessoal autorizado”.
  - Acho que eles foram por ali! – Agora era a voz de Niall que estava perto demais.
  - Não temos escolha! – Zayn respondeu baixo e começou a subir as escadas. Eu o segui sem nem pensar nas consequências. Só o que eu queria era fugir.
  - Isso é tão emocionante! – Ri e também subi as escadas.
  Zayn abriu a porta sem nem saber o que havia do outro lado e nenhum de nós se importou com o aviso de “perigo”. Entramos na cobertura e um vento frio assoprou os meus cabelos na direção do meu rosto. Ainda rindo, o menino fechou a porta atrás de nós e eu me senti um pouco mais segura ali. “Eles nunca vão os encontrar aqui!” Pensei e olhei para os lados pela primeira vez. Não era a toa que eu estava sentindo tanto frio: Ao nosso redor não havia paredes e muito menos um teto. Estávamos literalmente em cima da Academy. É claro que havia uma pequena mureta que cercava os arredores e impedia maiores acidentes, mas eu começava a entender o aviso de “perigo”.
  - Que lugar legal. – Zayn também reparou em onde estávamos e caminhou até o parapeito.
  - Cuidado, baby... – Meu chamado não o impediu de se inclinar sobre a mureta que ia até a sua cintura e olhar para baixo. Tive que ir atrás dele e agarrá-lo pelo casaco. – Malik, se comporta!
  - Eu não vou cair, %Tah%. – Voltou para a posição normal e passou um braço ao meu redor. – Só queria ver se era alto.
  - É claro que é alto, seu bobo! – Me enterrei em seu abraço e me senti um pouco mais quente. – Estamos no sexto andar!
  - Eu nunca vim aqui antes. – Olhou para o horizonte e passou a mão pelo meu braço. Ele deve ter notado que eu estava com frio, pois tentou me esquentar o máximo que pôde.
  - Eu consigo ver o meu carro daqui! – Apontei para o único carro vermelho no estacionamento.
  - Quem não consegue ver o seu carro?! – Riu. – É o mais chamativo.
  - Ei, não fale mal do meu baby! – O olhei brava.
  - Seu baby sou eu. – Piscou e passou o nariz pelo meu.
  - Você entendeu o que eu quis dizer... – Respondi num sussurro, pois minha voz quase não saiu. Culpa do efeito que o perfume de Zayn tinha sobre mim.
  - Não entendi nada. – Brincou e mordiscou o meu lábio. Se eu não tivesse sentido algo molhar o meu rosto, teria ficado paralisada.
  - Isso é chuva? – Juntei todas as minhas forças para formular uma frase com três palavras e Zayn olhou pra cima.
  - Eu acho que sim... – O céu estava bem escuro, como sempre, e novas gotas finas voltaram a molhar a minha bochecha. – Com certeza é chuva!
  - Então é melhor a gente ir. – Sequei uma gota mais grossa que caiu na testa de Zayn com a manga do meu cardigan e ele concordou.
  - Vamos antes que você comece a tremer! – Demos meia volta e continuamos abraçados.
  A chuva de Londres não perdoa mesmo, pois logo começou a cair cada vez mais pesada. Bem que ela poderia ter nos esperado chegar até a porta, mas não! Zayn e eu tivemos que correr o curto percurso até o lugar por onde entramos e eu fui a primeira a segurar a maçaneta. Para a minha surpresa e desespero, o objeto de metal não fez nada. Nem girou pra cima, nem pra baixo, muito menos para os lados. O mais alto notou a minha expressão de preocupação e também tentou abrir a porta, mas nada aconteceu.
  - Me diz que nós não estamos presos aqui... – Escondi o rosto nas mãos, com medo da resposta.
  - Eu acho que estamos... – Falou enquanto ainda tentava abrir a porta, mas usando a força dessa vez. – Essa merda só abre pelo lado de dentro!
  - E agora? – Toquei meus bolsos na procura do meu celular e me odiei por ter esquecido a minha bolsa no refeitório. – Seu celular tá aí?
  - Não... – Também revirou os bolsos. – Droga! Eu o deixei na sala de música...
  - Espera, nós estamos mesmo presos aqui? – Ri nervosa sem acreditar que aquilo estava de fato acontecendo. A chuva continuava a cair e meus cabelos já estavam bem molhados, assim como a parte de cima da minha roupa.
  - Alguém pode ir para o estacionamento e ver a gente... – Correu para o parapeito novamente. – HEY?! ESTAMOS PRESOS AQUI EM CIMA! ALGUÉM?
  - Zayn, estão todos em aula agora. Ninguém vai para o estacionamento em menos de uma hora. – Não queria desanimá-lo, mas aquela gritaria não adiantaria de nada. Me apertei dentro do meu agasalho na tentativa de diminuir o frio, o que obviamente não aconteceu.
  - SOCORRO! – Nem me deu ouvidos e continuou gritando.
  - Tudo bem, faça o que quiser! – Dei de ombros e o deixei pra lá.
  Logo eu fiquei completamente encharcada e não demoraria muito pra começar a bater os dentes. “Era só o que me faltava. Além de perder aula, ainda vou ficar gripada?” Ri sozinha da ironia do destino e sentei no chão em qualquer lugar. Ainda estava cansada de tanto correr e a minha calça já estava molhada mesmo. Zayn caminhou de um lado para o outro, tentando chamar a atenção de alguém. Eu já saberia que isso não ia dar certo, mas não o impediria de tentar. A única coisa que me incomodou é que ele estava começando a ficar estressado. Claro que tinha todos os motivos do mundo, já que estava tão molhado quanto eu e o frio se tornava cada vez mais insuportável. Mas em que ficar irritado iria ajudar? Absolutamente nada.
  - Zayn, vem pra cá... Isso é inútil. – O chamei mais uma vez.
  - Inútil é você ficar aí sem fazer nada. – Falou sem pensar e ainda por cima em um tom que não me agradou nada.
  - Como é que é? – Ri sem humor e me levantei de uma vez. – Você quer que eu faça alguma coisa, é isso que você quer?
  - É sim! – Malik afirmou da mesma de antes e me olhou um tanto bravo.
  - Então ta! – Por um impulso de adrenalina, eu me apoiei no parapeito e subi nele. Fiquei de pé e comecei a pular para cima e pra baixo, balançando os braços. O medo de cair passou longe depois daquele desaforo que fui obrigada a escutar. – SOCORRO! ALGUÉM ME AJUDA.
  - %STAR%, VOCÊ FICOU MALUCA? – Zayn se alterou mais ainda a me ver ali em cima. – DESCE JÁ DAÍ!
  - Não vou descer! – Rebati ao olhar pra ele. – Estou sendo útil. Não é o que você quer?
  - Você está sendo idiota! – Reclamou e me agarrou pelas pernas.
  - Me solta! – Dei um gritinho com o medo de cair e o empurrei assim que fui colocada no chão. – Você é que é um idiota!
  Tentei dar alguns tapas no braço de Zayn, mas ele se esquivou. Eu estava com raiva e ele também. Claro que por motivos diferente, mas nós dois estávamos alterados. Aquela era a nossa primeira briga e ele segurou as minhas mãos quando tentei dar alguns socos na direção dele. Obviamente não acertei nenhum. Acabei ficando mais brava ainda ao tentar me soltar e não consegui.
  - Me larga, Zayn Javadd Malik! – Resmunguei e ele começou a rir. – Do que você está rindo agora?
  - De você! – Respondeu com uma gargalhada. Eu já não entendi mais nada. Ora ele parecia querer me bater e depois já estava rindo? – Parece um cachorro molhado e ainda me chama pelo nome completo.
  - Você é um idiota mesmo!
  Bufei e acabei conseguindo me soltar. Dei meia volta e comecei a me afastar daquele garoto. Uma briguinha tão ridícula foi capaz de me tirar do sério, principalmente depois que ele começou a rir de mim. Do nada, senti meu pulso direito sendo agarrado com força e fui puxada de volta na direção de Zayn. Tentei gritar um: “O que é?”, mas fui interrompida pelos lábios gelados que foram colados nos meus. Com a mesma força que me puxou pelo pulso, me segurou pela nuca e me impediu de me afastar novamente. Pela primeira vez na vida eu realmente tentei me afastar e até tentei empurrá-lo novamente, mas não consegui. O braço livre de Zayn me agarrou pela cintura e também não soltou mais. Toda a minha sanidade foi embora quando senti sua língua quente se arrastando pelos meus lábios e praticamente a abocanhei na mesma hora. Passei os braços em volta do pescoço de Malik e o apertei contra mim da mesma forma que ele fazia. Atacamos os lábios um do outro, transformando a raiva e irritação em desejo e vontade um do outro. Vez ou outra, ele inclinava o rosto para o lado contrário e eu o acompanhava, investindo a minha língua contra dele sempre que possível. Um aperto mais urgente em minha cintura me fez gemer de dor sob os lados do garoto, fazendo-o sorrir cafajeste. A chuva nos acompanhava e caía sobre os nossos rostos, tornando aquele beijo mais molhado do que já era.
  - Você é louco! – Ofeguei assim que separamos os nossos lábios.
  - Por você. – Sorriu e eu acabei rindo com aquele clichê, mas até que gostei.
  - Menos, Malik, bem menos! – Roubei um selinho e escutamos um rangido de porta.
  - Então é aqui que vocês estão! – A voz de %Abi% parecia até mesmo uma canção de anjos.
  - SEGURA A PORTA! – Zayn gritou antes que Niall também passasse a fechasse. – Ela só abra pelo lado de dentro.
  - Não teria sido engraçado se eu tivesse deixado a porta bater? – Niall riu, mas foi o único.
  - %Abi%, eu nunca fiquei tão feliz em te ver! – Me separei de Zayn e corri para abraçar a minha amiga.
  - Saaaaai! Você não vai me molhar! – Correu de mim.
  - Como vocês nos acharam? – Zayn também se aproximou da saída para podermos ir embora.
  - Falaram que tinha uma doida tentando se jogar daqui de cima. – Niall deu de ombros. – Daí nós viemos ver se era a nossa doida.

+++

  - Ai, minha nossa, %Star%! O que aconteceu com você? – Dorota veio correndo na minha direção assim que eu entrei em casa. – Caiu dentro do Tamisa?
  - Oi, Dora... – Tremi um pouco ao tirar o meu casaco molhado e entregar para a moça. – Eu acabei pegando um pouquinho de chuva hoje.
  - Pois trate de subir e tirar essa roupa molhada, porque não quero a minha menina gripada! – Pediu e me acompanhou até a escada. – Depois chame o meninos e venham almoçar.
  - Pode deixar!
  Sorri para a babá e subi as escadas com pressa. Já não aguentava mais aquelas roupas molhadas contra o meu corpo. Meus lábios estavam roxos e eu aparentava mais palidez do que o comum. Não falei com nenhum dos meus companheiros de casa e entrei direto no meu quarto, fechando a porta e correndo para o banheiro. Larguei a minha mochila (que %Abi% felizmente lembrou de pegar no refeitório) em cima da bancada da pia e comecei a me despir. A calça jeans foi a peça mais difícil de retirar, porque ela parecia ter encolhido com a chuva e grudado nas minhas coxas. Quando já estava completamente nua, peguei a minha toalha branca e me sequei completamente. Apenas o meu cabelo continuou molhado, mas nada que não secasse naturalmente.
  Indo até o closet, separei algumas peças de roupa bem quentinhas: Uma calça de moletom cor de rosa, outra camisa de banda que roubei de meu irmão e um sweater de lã bem fofo. Não estava pronta para nenhum desfile de moda, mas pelo menos comecei a sentir as minhas juntas novamente. Não me atrevi a tentar pentear meu cabelo, pois acabaria sofrendo sem chegar a lugar nenhum, então o deixei solto e pude sair do meu quarto e atravessar o corredor para chegar no de Louis.
  - Toc toc. – Usei uma onomatopeia ao invés de realmente bater na porta que estava fechada.
  - Pode entrar! – Harry respondeu, mesmo não sendo o quarto dele.
  - Vocês estão tendo uma reunião e eu não fui convidada? – Perguntei enquanto abria a porta e pude ver Liam, Louis e Harry sentados lado a lado na cama.
  - É que nós temos um clube só de meninos, %Tah%. Foi mal. – Louis deu de ombros e eu fiz bico.
  - Isso é muito injusto! – Cruzei os braços, fingindo birra. – No meu reino não são permitidos clubes onde eu não posso entrar!
  - É verdade, Lou. – Harry concordou comigo.
  - Manda cortarem a cabeça dele! – Liam me pediu com um sorriso maléfico.
  - Depois do almoço, porque agora eu estou com preguiça. – Ri e os chamei com um aceno. – Dora mandou avisar que a comida está pronta.
  - EBA! – Os três meninos praticamente pularam da cama e eu me assustei tanto que dei alguns passos para trás.
  - Quem chegar por último vai beijar um sapo! – Tinha que ser Louis pra falar uma coisa dessas.
  - Espera a gente! – Harry desceu as escadas atrás de Louis e Liam foi atrás.
  - Cuidado pra não... OUTCH. – Escutei um barulho alto e só vi uma bola feita por três garotos rolando escada abaixo.
  - Crianças. – Rolei os olhos e desci as escadas com calma. Passei por cima dos três e ainda olhei pra trás antes de ir para a sala de jantar: - Todos vocês vão beijar um sapo!
  Eu estava me sentindo muito diva naquele momento, por isso mandei um beijo no ar e saí rebolando até a minha cadeira. Bem... Rebolando no sentido figurado, é claro. Ainda reclamando de dor, os meninos se juntaram a mim. Como sempre, cada um em seu lugar específico. O cardápio da vez era um caldo/sopa com alguns pedaços de verdura e galinha. Eu geralmente não comeria algo assim se outra pessoa além de Dorota tivesse sido a cozinheira. Fui a primeira a me servir, pois os meninos estavam discutindo pra ver quem deles iria ‘beijar o sapo’.
  - Quem deixou essa toalha molhada no sofá? – Dorota perguntou brava ao entrar ali e todos fiaram calados.
  - Não fui eu! – Levantei a mão para me livrar da culpa que não era minha mesmo.
  - Nem eu! – Liam me imitou.
  - Foi o Louis! – Haz também levantou a mão, entregando o meu irmão.
  - Eeeeeei!
  - Pode ir estender no lugar certo, senhor Tomlinson. – A mulher jogou a toalha em cima da cabeça de Lou e foi para a cozinha falando sozinha. – Esse menino não toma jeito. E olha que é o mais velho!
  - Pelo menos ele tomou banho, né? – Comentei e acabei fazendo todos rirem. Menos o próprio Louis.

+++

  Depois do almoço nós quatro fomos para a sala e deixamos Dorota fazer seu serviço e arrumar a sala de jantar. Pra mim ainda era estranho ver a pessoa que me criou trabalhando como uma ‘empregada’, por isso eu me ofereci para ajudar a lavar a louça. Mesmo insistindo muito, ela não deixou e ainda fez Liam me carregar para fora da cozinha. Esse garoto parecia estar ficando mais forte a cada dia que passava, mas enfim. Fui a primeira a me esparramar pelo sofá, ocupando a maior parte do espaço. Liam sentou na área entre os meus pés e o braço do sofá, que, aliás, foi onde Harry sentou. Pobre Lou foi o único que ficou sem lugar, então resolveu fazer algo de útil e tentar ligar o aquecedor interno da casa. Eu não era a única com frio pelo visto. Sempre adorei lareiras, fogueiras e essas coisas mais rústicas, mas infelizmente aquela casa não tinha nada disso.
  - Hey, sabem o que eu notei? – Perguntei encarando o teto. Os garotos me olharam e eu continuei. – Nós não mudamos o recado da secretária eletrônica depois que o Haz se mudou pra cá.
  - A gente tem uma secretária eletrônica? - Harry pareceu confuso, mas eu não o culpava. Era bem raro alguém ligar para o nosso telefone fixo e ainda mais deixar uma mensagem na secretária eletrônica.
  - É claro que temos. – Ri e levantei do sofá.
  Louis voltou para a sala no mesmo instante e ocupou parte do meu lugar, mas eu não me importei muito. Fui até o telefone branco que ficava em uma das prateleiras da estante e apertei um botão que acionava a saudação atual. Todos nós esperávamos com curiosidade, pois havia tanto tempo que gravamos aquela mensagem que nem ao menos lembrávamos como era. “Olá! Você ligou para os Tomlinson ou Payne.” Eu comecei falando na gravação. “No momento nós não podemos atender, porque estamos muito ocupados sendo incríveis.” – Louis. “Mas deixe o seu recado depois do beep e nós retornaremos assim que possível! Beeeep. (...) AHÁ! Brincadeirinha, é outro beep.” E assim Liam encerrava a parada toda. Meu único pensamento ao escutar aquilo novamente era: “Ai, como somos idiotas.” E era bem verdade.
  - Eu quero participar disso aí! – Harry deve ter achado bem divertido e não idiota.
  - Então vamos gravar uma nova! – Sorri em concordância e levei o aparelho até a mesinha de centro. – Como vai ser?
  - Tem que ser algo bem legal... – Liam e os outros três se aproximaram do telefone e eu me sentei no chão.
  - Você falou a mesma coisa da outra vez e olhe o resultado! – Balancei a cabeça negativamente e comecei a mexer nas configurações da máquina.
  - Ei, a ideia foi minha na outra vez! – Meu irmão reclamou.
  - Então você não pode mais dar ideias. - Falei baixo para que ele não ouvisse. – Hazza, o que você acha?
  - Acho que seria legal se cada um falasse uma palavra... – Pareceu bem concentrado ao explicar. – E a gente fosse improvisando...
  - Vamos tentar! – Sorri para encorajar o meu amigo, mas duvidava que o resultado fosse ser algo bom. – Prontos? 1... 2... 3!
  - Hi! – Louis começou.
  - Você... – Liam.
  - Ligou... – Eu.
  - Para... – Harry.
  - A casa... – Louis novamente.
  - Espera, não era pra falar só uma palavra de cada vez? – Interrompi a gravação.
  - Mas “a” é artigo, então não conta como palavra. – Explicou.
  - É claro que conta! – Liam concordou comigo.
  - Então vamos de novo. – O mais novo de todos apertou o botão de gravação e começou: - Hello...
  - Você... – Li.
  - Ligou... – Eu.
  - Para... – Lou.
  - %Star%. – Mudei o rumo da frase.
  - Liam.
  - Louis.
  - Ou Harry!
  - Nós... Ei! – Interrompi mais uma vez. – Não é “ou Harry”, Harry.
Aquilo iria demorar mais do que esperávamos, por isso resolvemos parar um pouco e ensaiar. Seria mais fácil se escolhêssemos algo simples, ou se uma pessoa só falasse, mas todos queriam opinar e participar. Por fim, acabamos votando em cada um ter a sua chance de gravar uma mensagem e nós salvaríamos a que ficasse melhor. Como eu estava comandando a máquina, teria que ser a última.
  - 1, 2, 3... Pode ir, Harry.
  - Hello... Você ligou para Liam, Louis, %Star% ou para mim! Que sou o Harry. No momento nenhum de nós pode atender porque estamos muito ocupados com algo importante. Deixe um recado e nós retornaremos em seguida! – O garoto falou super devagar, como sempre, por isso o “beep” apareceu em poucos segundos depois que ele terminou de falar.
  - Minha vez! – Louis levantou a mão e eu acenei com a cabeça que ele poderia começar a falar. – Se você ligou para esse número, deve saber quem mora aqui. Deixe seu nome e telefone e nós retornaremos assim que possível. Dependendo de quem você seja. Ou talvez nós apenas vamos te ignorar. Beep.
  - Bem amigável, Lou. – O olhei com negação. – Pode ir quando estiver pronto, Li.
  - Ok... Oi! Nós provavelmente estamos em casa, mas a preguiça é maior do que a vontade de atender ao telefone. Deixe o seu recado e, a não ser que você seja um de nossos pais, ligaremos de volta até o fim do mês.
  - Eu sou a única que não está gostando de nada disso? – Rolei os olhos entediada. – Minha vez... Se você está escutando essa mensagem, é porque...
  - ESTAMOS SENDO SEQUESTRADOS! – Louis me interrompeu e se jogou no chão, fazendo um barulho bem alto.
  - Ou estamos dando uma festa e o som está muito alto! – Liam entrou na conversa e fez som de beatbox com a boca. – E provavelmente não te convidados... Sorry.
  - Mas também podemos só estar com preguiça de atender... – Harry se juntou.
  - Provavelmente só estaremos fora de casa. – Dei de ombros e finalizei a mensagem: - Já sabe o que fazer depois do beep!
  Eu deveria ter ficado com raiva por eles terem me atrapalhado, mas até que a mensagem ficou boa. Não havia dúvida de que aquela seria a escolhida e nós chegamos em um acordo. Por mais que eu achasse que ninguém iria nos ligar naquele telefone, eu fiquei ansiosa para ver as reações que conseguiríamos.

+++

  No fim da tarde, Harry e Liam foram jantar fora e me deixaram sozinha em casa com o meu irmão. Nenhum de nós dois quis ir com eles por motivos bem diferentes: Lou estava assistindo um filme super interessante na TV a cabo e eu ainda tinha duzentas páginas de um roteiro para ler. Pelo menos já havia parado de chover há algum tempo e o aquecedor começou a fazer efeito. Sempre gostei mais de frio do que de calor, como todos já sabem, mas de vez em quando é bom se sentir quentinha dentro de casa. Sem falar que eu tinha uma sessão no meu closet só com roupas e verão e foi bom vestir um shortinho cinza e uma regata branca após o banho só pra variar.
  Deixei os meus cabelos soltos e me joguei na minha cama deliciosa. Pensei em ficar deitada, mas tinha certeza que o sono logo tomaria conta de mim. Por esse motivo, tive que me contentar em ficar sentada e apenas encostei as costas na minha montanha fofa de travesseiros. “Vamos lá, Romeu e Julieta... É hora de ler a história de vocês.” Pensei comigo mesma, por mais óbvio que isso soe. Peguei o roteiro que já tinha separado em cima da minha mesinha de cabeceira e comecei a folhear as primeiras páginas. O mais incrível é que todas as folhas possuíam anotações em caneta, o que me fez imaginar o tempo enorme que Colin devia ter gastado em cada um.
  “Pode pular essa parte. Você só entra na terceira cena.” Era o que dizia a primeira instrução. Me senti o próprio Harry Potter lendo o livro de poções do Príncipe Mestiço e ri com esse pensamento bobo. Respirei fundo e tentei me concentrar mais. Passei algumas páginas até encontrar a tal “Cena III – Ato I”. Comecei a ler: “Julieta está no jardim, distraída com as flores. Dia/manhã. Começa a cantar*. Falas: (...) Escuta a Ama chamando-a.”
  - Espera... Começa a cantar? – Falei sozinha e corri os olhos pelo papel na procura de uma explicação: “* Falar com o professor de música para decidir qual canção será apresentada.” Ninguém me falou nada sobre isso!
  Pela primeira vez eu fiquei assustada com aquela peça. Dançar? Perfeito. Atuar? Um pouco. Mas cantar? Isso já era demais. Claro que sendo uma Tomlinson a minha voz não poderia ser horrível, mas eu não era uma cantora! Colin deveria achar uma solução... “Eu posso dublar outra pessoa... Muita gente faz isso.” Era o único jeito! Será que Nick teria que cantar também? Ser a personagem principal daria trabalho e eu tinha certeza disso. Procurei me acalmar e continuar a minha leitura. Passei para algumas páginas posteriores e minha íris captava algumas palavras chave, tai como: Troca de roupa, mudança de cenário, solo de ballet... E até mesmo: “Desce do teto segurada por uma corda. ps: Talvez/revisar!” Super legal, pra não dizer o contrário.
  Tirando essas partes que me deixavam um pouco aflita e ansiosa demais, o roteiro era muito bom. As falas e tramas eram exatamente iguais ao que Shakespeare propôs em sua obra. Na sua grande maioria, os comentários do diretor também eram bastante esclarecedores e me enchiam de ideias e inspiração. Quando eu me preparava para passar para o segundo ato, um som de violão começou a entrar pela minha janela entreaberta. “O que o Louis está fazendo lá fora a essa hora?” Me perguntei e deixei o roteiro de lado. A música continuou e ficou um pouco mais alta, como se Louis estivesse bem embaixo da minha janela. Levantei da cama e fui até lá, empurrando o vidro mais pra fora do que já estava e pude ver quem estava ali fora.
  - O que vocês dois estão fazendo aqui? – Sorri ao ver que Niall era quem estava tocando o violão e Zayn estava ali também; apenas me olhando.

Don’t try to make stay or ask if I’m okay.
(Não tente me fazer ficar ou me pergunte se estou ok)
I don’t have the answer.
(Eu não tenho a resposta)
Don’t make me stay the night,
(Não me peça pra passar a noite)
or ask if I’m alright
(ou me mergunte se estou bem)
I don’t have the answer…
(Eu não tenho a resposta)

  Minha pergunta não foi respondida, mas quem era eu pra me importar? Zayn começou a cantar alto o suficiente para que eu pudesse escutar do andar de cima e meu sorriso se tornou maior ainda. Niall apenas continuou tocando e dedilhando as cordas do violão enquanto se mexia de um lado para o outro. Aquilo era um sonho? Será que eu havia dormido lendo o roteiro? Me belisquei disfarçadamente e constatei que não era um sonho coisa nenhuma e que eu estava mesmo recebendo uma serenata.

Heartache doesn’t last forever,
(Mágoa não dura para sempre)
I’ll say I’m fine.
(Eu direi que estou bem)
Midnight ain’t no time for laughing,
(Meia noite não é hora pra rir)
When you say goodbye…
(Quando você diz adeus...)

  Zayn abria os braços e interpretava a música. Ele não tirava os olhos de mim por nem um minuto e vez ou outra soltava uma risada gostosa. Eu não sabia se era a primeira vez que ele fazia isso para alguém, mas com certeza estava se divertindo. Imagine eu, então? Continuei ali na janela, inclinada sobre o parapeito e encantada com aquele garoto tão perfeito que cantava só pra mim.

It makes your li-i-ips, so kissable…
(Isso torna os seus lábios tão beijáveis...)
And your ki-i-iss, unmissable…
(E o seu beijo, imperdível…)
Your fingertips so touchable,
(A ponta dos seus dedos, tão tocáveis,)
And your eyes, irresistible…
(E os seus olhos, irresistíveis…)

  Que refrão era aquele? Fiquei totalmente arrepiada com aquelas palavras e mal pude acreditar. Pela forma que Zayn cantava era fácil de perceber que ele mesmo havia escrito aquela letra. Ele poderia ter até mesmo cantado um cover pra mim que eu continuaria amando a surpresa, mas nada era melhor do que uma música vinda do seu interior. O vento jogou os meus cabelos para trás, mas, mesmo eu estando com roupas um tanto curtas, não fui incomodada pelo frio. Na verdade, mal o sentia.

I’ve tried to ask myself:
(Eu tentei me perguntar:)
Should I see someone else?
(Dev over outra pessoa?)
I wish I knew the answer.
(Eu queria saber a resposta)
But I know if I go now…
(Mas se eu for agora…)
If I leave, then I’m on my own tonight…
(Se eu for embora, então eu estarei sozinho essa noite…)
I’ll never know the answer.
(Eu nunca saberei a resposta)

  Desejei ter uma escada perto da minha janela para que ele pudesse subir, ou ao menos uma trepadeira como nos filmes. Aqueles metros de altura que nos separavam eram poucos, mas ao mesmo tempo pareciam ser km inteiros. Eu queria tê-lo em meus braços, porém saberia esperar. Queria abraçá-lo e beijá-lo, mas ao mesmo tempo desejava que aquela serenata não acabasse nunca.

It’s in your lips and in your kiss.
(Está nos seus láios, e no seu beijo)
It’s in your touch and your fingertips
(Está no seu toque e na ponta dos seus dedos)
And it’s in all the things and other things
(E está em todas as coisas e outra cosas)
That make you who you are,
(Que te fazem quem você é,)
And your eyes… Irresistible.
(E os seus olhos... Irresistíveis)

  A chuva que durou o dia inteiro serviu para alguma coisa, pois o céu não estava mais tão coberto por nuvens e até mesmo a Lua resolveu aparecer e também assistir aquela cena que fazia o meu coração bater mais rápido. A combinação do silêncio da noite com a voz de Zayn e o Luar formava o quadro perfeito. Como se não bastasse, Niall ainda começou a fazer um coro de fundo bem baixinho. Não chegava a “atrapalhar” o meu namorado e tornava a melodia ainda mais gostosa de se ouvir. Eu olhei para o loiro com um sorriso de agradecimento e logo voltei a minha atenção para o que cantava. De repente ele estava com um buquê de rosas vermelhas nas mãos e eu quase me esqueci de como se respira. A música havia chegado ao fim, infelizmente, e ele deveria estar escondendo aquelas flores até aquele momento.
  - É alguma data especial? Eu mereço tudo isso? – Perguntei sem abandonar o sorriso em meus lábios.
  - Você merece algo especial todos os dias, %Star%... – Zayn respondeu com aquele olhar apaixonado que me derretia. – Merece receber flores em um dia qualquer, não só em datas especiais. Alguém que te conheça até nos mínimos detalhes e que saiba o quanto você não gosta de clichês, mas chora no final de cada filme romântico que assiste. Merece escutar o quanto é linda todos os dias, mesmo que você nunca acredite em mim quando eu falo isso.
  - Zayn... – Suspirei. Eu não sabia o que falar só sorrir. Aquela era a coisa mais linda que eu já havia escutado na vida.
  - Eu só queria que você soubesse que eu não seria o mesmo sem você. – Também suspirou. – A minha vida não seria a mesma sem você.
  - Que coisa mais linda! – Niall se pronunciou pela primeira vez e Zayn lhe lançou um olhar feio. – O que foi?
  - Oi, Niall. – Ri apesar dele ter atrapalhado o momento.
  - E aí, %Tah%? – Acenou. – Será que eu posso entrar? Vocês dois podem ficar trocando declarações, mas eu estou congelado!
  - Da próxima vez eu venho sozinho. – Zayn pensou alto e balançou a cabeça.
  - Vão para a porta, ok? Eu já vou descer! – Avisei e fechei a janela.
  Ao dar meia volta, encontrei Louis parado na minha porta, com os braços cruzados e uma sobrancelha levantada. O olhei como se perguntasse: “Você escutou?” e ele afirmou que sim com a cabeça. Senti as minhas bochechas queimarem, mas ignorei. A verdade era que eu ainda estava digerindo todas aquelas palavras e mais uma vez achei difícil de acreditar. Quando eu poderia imaginar que Zayn Malik estaria me fazendo uma serenata tão romântica e ainda por cima me falar tantas coisas apaixonadas? Naquela altura eu já deveria estar acostumada com as suas surpresas, mas nunca conseguiria esperar por elas! Louis me acompanhou quando eu saí do quarto e desci as escadas. Atravessei o hall e abri a porta o mais rápido possível, me jogando nos braços do namorado mais perfeito do mundo.
  - Obrigada pela surpresa! – Abracei-o pelo pescoço e o enchi de selinhos rápidos e seguidos.
  - Isso quer dizer que você gostou? – Envolveu-me pela cintura e retribuiu todos os beijos.
  - É óbvio que sim! – Sorri e separei o abraço, mas o segurei pela mão e o levei para dentro de casa. – Pode entrar, Nialler.
  - Achei que iam me esquecer do lado de fora! – Reclamou, mas acabou entrando. Ele deixou o violão encostado na parede e me olhou dos pés a cabeça. – Pernas bonitas.
  - Niall! – Ri e olhei para mim mesma. Tá certo que o meu short era muito curto, mas ele precisava notar? Não tenho culpa, já que não estava esperando visitas, ora!
  - Hey, é da minha namorada que você está falando! – Me entregou as flores e deu um soco no braço de Niall.
  - E da minha irmã. – Louis resolveu se pronunciar.
  - Tudo bem, Lou? – Niall o cumprimentou.
  - Se quiser, eu posso ir vestir uma calça... – Falei apenas para Zayn enquanto os outros dois se abraçavam.
  - Não! – Respondeu rápido demais e mordeu o lábio. – Prefiro que fique assim.
  - Tá bem... – Também mordi o lábio, tentando imaginar o que ele poderia estar imaginando. – Vou colocar essas flores em um vaso, ok?
  Joguei os cabelos para o lado, em uma tentativa de fazer charme que aparentemente deu certo. Zayn encarou o meu pescoço e o seu olhar teria seguido para o meu decote, mas meu irmão fez o favor de nos interromper e começar a falar com ele. Mesmo eu tendo virado de costas para ir até a cozinha, senti um olhar sobre mim. Lá vinham os hormônios começando a ficar eriçados... Mas que jogue a primeira pedra quem não ficaria assim estando perto de Malik, principalmente com aquela barba por fazer super sexy emoldurando seu rosto perfeito.
  Chegando na cozinha, enchi de água o mesmo vaso onde havia deixado as tulipas que ganhara até o dia em que elas morreram. Será que eu sempre ganharia flores assim? Com certeza não acharia ruim. Coloquei as rosas dentro do novo lar que elas teriam e as cheirei, suspirando aquele perfume tão gostoso. As deixei de lado um pouco e aproveitei que estava perto da pia para molhar as mãos e passá-las pelo rosto e nuca. Meu objetivo era diminuir um pouco aquele calor e algo me dizia que o culpado não era o aquecedor interno da casa.
  - Tá quente aqui, né? – A voz de Zayn me fez girar em sua direção e eu notei que ele não estava mais vestido com a jaqueta, e sim com uma camisa azul bastante colada em seu corpo.
  - Bem quente... – Dividi meu olhar entre os braços e o peitoral quase definido pela camisa.
  - Eu concordo. – Niall, o inconveniente, também resolveu aparecer na cozinha. – Não seria uma boa hora pra fazer aquele frappuccino que você prometeu?
  - Então foi por isso que você veio até aqui? – Cruzei os braços.
  - O que? É claro que não! – Tentou me convencer, mas não acreditei. – Por favor, %Tah%?
  - Não precisa fazer se for dar trabalho. – Zayn passou a mão pelos cabelos e se encostou à bancada americana.
  - Eu não me importo! – Sorri e comecei a procurar alguns ingredientes nos armários. – Niall, pode ir perguntar se o meu irmão também vai querer?
  Minha tentativa de tirar Niall da cozinha falhou miseravelmente, pois ao invés de ir até a sala e perguntar pra Louis, o garoto apenas gritou sem sair do lugar. É claro que a resposta foi sim e logo mais um apareceu por ali. Eu queria ficar sozinha com Zayn. Eu precisava ficar sozinha com ele. Talvez fosse por causa da temperatura elevada, ou das coisas que o escutara falar durante a serenata... Mas o meu corpo pedia por algo a mais. Não era a única a estar sentindo isso, pois em cada movimento novo eu podia sentir os olhos de Zayn sobre mim. Fiquei na ponta dos pés para alcançar uma prateleira mais alta e senti que a minha regata subiu alguns centímetros que foram o suficiente pra fazer o garoto se aproximar. Ele não fez nada de mais, apenas ficou me olhando e de vez em quando passava a língua pelos lábios; o que pra mim era o suficiente.
  Logo eu já estava com todos os ingredientes necessários para fazer o frappuccino, incluindo os mini marshmallows, chantilly e calda de caramelo que comprara no mercado no último domingo. Os meninos conversavam animadamente sobre alguma coisa que eu não de importância e comecei a preparar a bebida dentro do liquidificador.
  - O que vocês vão fazer na próxima sexta? – Zayn perguntou olhando pra mim e pra Louis.
  - Eu estou livre! – Lou respondeu primeiro e então olharam pra mim.
  - Durante a tarde eu vou sair com o Liam... – Expliquei.
  - Só vocês dois? – Niall levantou uma sobrancelha e olhou para Zayn como se esperasse uma reação.
  - Sim... Faz tempo que a gente não faz nada só nós dois, então eu prometi pra ele que iríamos sair. – Sorri. – Só não sei pra onde vamos...
  - Tenho certeza que vai ser um lugar bacana. – Zayn passou o braço em volta dos meus ombros e beijou o meu rosto. Acho que Liam era o único garoto que não o fazia ter ciúmes. – Mas e durante a noite? Não tem nada?
  - Nadinha! Por que?
  - Porque a %Abi% quer ir no Pub. Vai ser a noite de karaokê, sabe? E ela insiste que todo mundo vá. – Olhou para Lou. – Inclusive você e os meninos.
  - Ah, é verdade! – O PLANO. Como eu poderia ter esquecido? – Eu acho que todos têm que ir mesmo. Vai ser divertido!
  - Por mim tudo bem. – Lou sorriu. – E por quê a %Abi% não quis vir com vocês?
  - Ela nem sabe que estamos aqui... – Niall respondeu e eu ri baixo.
  - %Abi% estava uma fera hoje! Culpa da TPM. – Expliquei.

+++

  Após o frappuccino ficar pronto e todos nós tomarmos até a última gota, ficamos conversando pela sala de jantar por uns vinte minutos. Niall foi o que mais gostou, como já era de se esperar, e repetiu algumas vezes. O pior é que não sobrou mais nada do que eu tentei guardar para quando Liam e Harry voltassem para casa. O que os olhos não veem, o coração não sente, certo?
  - Ei, Niall... Por que você não vem me ajudar a arrumar a cozinha? – Meu irmão se levantou e eu o olhei espantada. Aquilo era um milagre e tanto, mas a piscadinha que ganhei em seguida me fez entender.
  - É, Ni, vai lá... – Insisti.
  - Mas, mas... – Tentou se negar, mas não conseguiria!
  - É justo Niall, já que foi você quem pediu pra ela fazer. – Zayn também entendeu o que estava acontecendo e o irlandês não teve escolha.
  - Tá bem! – Bufou e se levantou.
  Enquanto meu irmão e meu quase cunhado iam até a cozinha, Zayn e eu trocamos olhares significativos. Eu levantei da cadeira e indiquei as escadas com a cabeça. É óbvio que ele também se levantou e nós corremos para fora da sala de jantar. “Estamos ficando bons em fugir das pessoas.” Esse pensamento me fez rir sozinha e Zayn nem pareceu ter notado, pois estava com tanta pressa de chegar ao andar de cima quanto eu. Não tropeçamos em nenhum degrau e quando eu fui perceber, já estava puxando-o para dentro do meu quarto e fechando a porta.
  O menino foi até a minha cama esse sentou, ainda me olhando daquele jeito. Eu sorri de lado e também fui até lá. Sem falar nada, me sentei em seu colo e passei as mãos entre os cabelos dele, sem me importar em bagunçá-los. Zayn, por sua vez, passou as mãos pelas minhas pernas e as arrastou até chegar na minha cintura. Acabei com a distância entre nossos rostos e conectei nossos lábios de uma vez. Fiquei brincando e mordiscando por ali até receber um aperto mais violento na cintura. Era como se estivéssemos esperando por aquele momento sozinhos a um bom tempo de ninguém mais podia esperar. Antes de beijá-lo, o olhei uma última vez e inclinei meu corpo sobre o dele, fazendo-o deitar. Fui puxada mais uma vez e cada parte dos nossos corpos se encostavam de alguma forma.
  Já desistindo de esperar mais qualquer segundo, Zayn atacou os meus lábios e procurou a minha língua com a dele. Minhas mãos fizeram um caminho dos ombros para o peitoral masculino e desceram ainda mais pela barriga, parando apenas na barra do tecido. Me atrevi a tocar a sua pele com as unhas e o senti estremecer embaixo de mim. Movi o meu quadril em um gesto lento e provocante ao mesmo, sem nem ao menos ligar para o que aquelas ações pudessem acarretar. Sem querer ficar por trás, Zayn também me tocou por baixo da minha blusa; subindo e descendo as mãos pelas minhas costas. Senti que ele estava perigosamente perto do fecho do meu sutiã e mordi seu lábio inferior com força. Afastei nossos rostos alguns centímetros e terminei de fazer o que as minhas mãos começaram; tirar a camisa azul que ele vestia e jogá-la em qualquer canto do quarto. Ficando tão surpreso quanto eu, o garoto seminu sorriu em excitação. Ao invés de tocá-lo nos lábios novamente, me aventurei em seu pescoço e suguei uma parte de sua pele; fazendo questão de marcar.
  - %Tah%? – Uma batida na porta me fez querer matar Louis. – Papai está no telefone e quer falar com você.
  - Shit! – Xinguei em frustração. Não teria outra escolha a não ser ir atender.

Capítulo XXXVIII
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