Capítulo XXXVII
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Pela terceira vez seguida eu discava o número do celular do meu avô, mas não obtinha resposta. Era o fim de tarde do domingo e ele já deveria ter chegado de sua caminhada, por isso eu não entendia o porquê de não estar me atendendo. Ele costumava sempre andar com o celular e sempre atender a minha ligação antes mesmo do terceiro toque. Sempre nos falávamos ao menos uma vez por semana para contar as novidades ou só pra matar a saudade que um sentia do outro. Me mexi impaciente na cama e deixei o celular de lado por um instante. Decidi esperar que ele visse as chamadas não atendidas e retornasse. Tudo bem que Charles não era um expert em tecnologia, mas ele sabia o básico.
A porta do meu quarto estava aberta, por isso eu via todas as vezes que algum dos meninos passava por ali. Liam estava limpando o aquário de suas tartarugas, Louis assistia um jogo de futebol pelo computador e o mais novo era quem mais perambulava pelo corredor sem ter nada pra fazer. Pobre Harry, devia estar tão entediado! Eu pensei em chamá-lo pra fazer alguma coisa ou apenas para ficarmos conversando, mas logo o meu celular começou a tocar e vibrar perto do meu joelho. Peguei o objeto na mesma hora e sorri ao ler: “Papá” na tela, abaixo da foto daquele senhor simpático. Arrastei o dedo pelo vidro e atendi a ligação.
- Bonjour, papá!
- Boa tarde, minha %Estrelinha%! Como você está? – A voz dele estava mais fraca que o normal, quase sonolenta. Devia ter acabado de acordar.
- Eu estou muito bem! – Sorri. – E o senhor? Eu te acordei?
- Não me acordou, não se preocupe. – Tossiu baixo. – Eu só estou um pouco resfriado, mas estou bem, querida.
- Ainda está resfriado? Vô, você tem falado a mesma coisa desde a semana passada... – É claro que eu fiquei preocupada! Mas se fosse algo sério de verdade, tenho certeza que ele me falaria.
- Eu estou melhorando, de verdade! – Senti um sorriso em sua voz e tentei não me desesperar antes do tempo. – Mas vamos falar de algo melhor, ok? Como foi o baile de ontem?
- Ahh, papá... – Suspirei com as lembranças da noite anterior. – Foi perfeito! Eu queria que você tivesse assistido a minha apresentação, porque acho que foi a melhor até hoje.
- Eu tenho certeza que você estava linda e daria tudo pra ter visto. Eu sinto falta de ver você dançando pela sala, sabia?
- Também sinto falta disso! – Fiz um biquinho inconsciente. – Mas estamos quase em dezembro e eu vou passar o natal com vocês... Então teremos muito tempo pra dançar juntos.
- Teremos sim, %Estrelinha%...
- Eu tenho mais uma novidade pra contar! – A animação em minha voz era clara enquanto eu me preparava pra contar a melhor noticia que recebia em dias. – Ontem revelaram o casal principal da peça... E eu serei a Julieta!
- Eu já sabia disso! – Comemorou. – Lembra que eu sempre disse que você conseguiria?
- Lembro sim! – Ri.
- E o seu namorado ganhou o papel de Romeu? Eu me lembro que você falava muito bem dele.
- Infelizmente não... Quem ganhou esse papel foi o Nick. O mesmo que dançou comigo ontem. – Minha felicidade diminuiu um pouco ao lembrar desse detalhe. – Ainda não sabemos qual papel ele ou os meus amigos pegaram, já que só vão revelar amanhã.
- Bem, com certeza os papeis deles também vão ser bons.
- Não tenho dúvidas disso! Mas você acha que o Zayn vai ficar chateado? Quero dizer... Ele ficou muito feliz por mim e tal, mas eu sei que no fundo ele queria pegar o papel principal também.
- Por que ficaria chateado, %Tah%? Tenho certeza que ele só ficou orgulhoso por você.
- Eu não sei... Só não quero ficar comemorando que consegui o papel que eu queria e ele não!
- Querida, se isso está te incomodando, eu acho que vocês devem conversar e esclarecer tudo. Porque você tem mais é que comemorar sim. E apoiá-lo em qualquer papel que ele conseguir, do mesmo jeito que Zayn te apoiaria se você não fosse Julieta. Eu posso não conhecê-lo, mas você fala tão bem desse garoto que ele deve ser uma boa pessoa.
- Você está certo, papá. Eu farei isso. – Conversar com o meu avô era bom causa disso; ele sempre sabia o que falar pra tirar o peso das minhas costas.
- Princesa, eu preciso ir... Sua avó quer que eu a leve até a farmácia.
- Já? – Meu sorriso desapareceu. Nós costumávamos nos falar por horas, mas aquela conversa havia durado muito pouco. – Mas tudo bem... Mande um beijo para a nana por mim?
- É claro que eu mando. – Escutei o que pareceu ser um suspiro. – Se cuide, %Estrelinha%... E seja uma boa menina. Não se esqueça de manter a cabeça levantada, certo?
- Papá, isso não é uma despedida... – Não gostei do rumo que aquela história estava tomando. – Nós vamos nos falar logo!
- Eu sei disso! Mas só saiba que eu te amo muito e que sempre vou ter muito orgulho de você, não importa o que você faça. Seja forte.
- Eu te amo, vovô. – Disse com todo o meu coração.
- Je t’aime.
Logo que desligamos a ligação eu senti um aperto terrível no meu coração. Uma daquelas sensações ruins, sabe? Como se algo de mal fosse acontecer, mas eu não conseguia decifrar o que era. Me senti tonta por um momento e tive que deitar a cabeça no travesseiro para esperar passar. O fato é que eu não gostei da forma como meu avô falara comigo, pois pareceu uma despedida. Mas eu sabia que não seria nada disso ele também sabia! De qualquer forma, preferi não pensar em coisas desse tipo, já que só me deixaria mais triste ainda. “Deve ser só impressão minha.” Pensei e fechei os olhos com força. Logo a sensação ruim começou a ir embora e a tontura também. Tudo estava bem...
- NÃO TEM COMIDA NENHUMA NESSA CASA?
Escutei Harry gritando no andar de baixo, provavelmente na cozinha. Nós não tínhamos ido ao supermercado há um bom tempo e a comida estava mesmo acabando. Como eu almoçava fora de casa na maioria dos dias e sempre pedíamos jantar por telefone, não dei muita importância para aquele fato, mas Hazza parecia estressado. Logo escutei passos na escada e o menino de cachos castanhos apareceu na minha porta.
- %Tah%, quer ir ao mercado da esquina comigo?
- Eu tenho que me vestir? – Fiz cara de preguiça, pois não aguentaria me arrumar só pra ir até a esquina.
- Não precisa... Eu também vou vestido assim. – Apontou para as próprias roupas. Até que Harry e eu não estávamos tão diferentes, pois ele estava de pijamas e meias e eu com quase isso.
- Se é assim, eu vou! – Levantei da cama em um pulo e guardei meu celular no bolso da minha calça de moletom.
Haz assentiu com a cabeça e foi chamar o meu irmão. Eu calcei as minhas Uggs e segui para o quarto do último garoto. Não precisei bater na porta, pois ela já estava aberta, e encontrei Liam brincando com Boris II e Archimedes em cima da sua cama. Ele fazia barulhos com a boca que não chegavam a ser palavras de verdade, mas mesmo assim parecia que os três estavam tendo uma conversa muito interessante. Eu me aproximei devagar, torcendo para não ser notada.
- Bu! – Sussurrei bem perto da orelha dele, fazendo-o se virar na minha direção com um pulo.
- %Star%! Que susto! – Colocou a mão sobre o coração e fez cara de bravo. – Eu podia ter derrubado os meus filhos.
- Que tipo de pai faria isso, Li? – Ri e me sentei em uma das pernas dele, passando o braço em volta de seus ombros. – Coloca eles pra dormir, daddy, porque nós vamos ao mercado.
- Nós vamos fazer compras agora? – Levantou uma sobrancelha e passou o braço na minha cintura. – Não está meio tarde?
- Não vamos fazer compras, Leeyum, presta atenção! – O balancei de leve e ri. – Vamos ao mercadinho da esquina só pra comprar algo pra comer.
- Ahh, sim! – Fez cara de entendido e também riu. – Me dá só um minuto pra trocar de roupa, então?
- Não precisa trocar de roupa! Eu e o Harry vamos de pijama mesmo. – Levantei e fui até a porta. – Essa é a graça! Vem logo.
- %Star%, me ajuda a convencer o seu irmão? – Mal saí de um quarto e Harry já me puxou para o outro.
- Vocês não podem ir sem mim? – Louis nem tirou o fone de ouvido e continuou encarando a tela do computador. – Acabamos de entrar no segundo tempo... É um jogo decisivo.
- Por favor, Boo Bear... Não vai ser o mesmo sem você. – Fui até ele e o abracei pelos ombros. Acabei olhando para a tela do computador também e li quais eram os times que estavam jogando. – Além do mais, o seu time perdeu esse jogo de três à dois.
- Como você sabe? – Me olhou com os olhos arregalados e as expressões nos rosto de Liam e Harry não estavam muito diferentes.
- Porque esse jogo foi ontem. – Apontei para a tela e rolei os olhos. – Tá vendo? Não é ao vivo.
- Ótimo. – Lou bufou e eu ri quando ele desligou o computador de uma vez só; claramente irritado. – Parece que eu vou ao mercado com vocês de qualquer jeito.
+++ Nos chame de preguiçosos se quiser, mas fomos até o mercado na esquina de carro. Em nossa defesa, ele não ficava na esquina da minha casa e sim na esquina do condomínio, o que deixava tudo bem mais longe do que já era. Além do mais seria muito perigoso uma criança, duas garotinhas e eu saírem andando por aí no escuro. Harry e Louis sendo as garotinhas e Liam sendo a criança, é claro. Se alguém viesse nos assaltar acabaria sobrando pra eu defender todos. Obviamente, a verdade maior era que todos estávamos cheios de preguiça. De um jeito ou de outro, chegamos ao mercadinho 24hrs e atraímos olhares curiosos na nossa direção. Não, não nos olharam por sermos muito atraentes e sim por estarmos vestidos como se tivéssemos apenas caído da cama e nos arrastado até ali. Mas pelo menos eu tive a capacidade de calçar algum sapato, pois Liam e Harry estavam de meias e Louis completamente descalço. Agradeci por não haver nenhuma restrição para entrar naquela loja e não demos viagem perdida.
Cada um foi logo pegando uma cestinha de metal para colocar as suas próprias compras e indo para corredores diferentes. Aquele mercado não era tão grande quanto o ASDA onde fazíamos as compras do mês, mas tinha a maioria das coisas que nós precisávamos com urgência. Harry passou por mim e foi até a área da padaria. Ele estava com muita fome, por isso foi direto par onde sabia que encontraria comidas prontas. Liam estava na área de frutas e verduras e selecionava as melhores maçãs para colocar na sua cesta. Louis estava no corredor de bebidas, mas não parecia achar o que queria.
Eu resolvi parar de vigiá-los e procuraras as minhas próprias mercadorias. Como sempre, passei direto pelas coisas saudáveis e nem olhei para o lado. A primeira coisa em que coloquei a mão foi um pacote de mini marshmallows. Aquele corredor em que eu entrei só tinha doces e coisinhas gostosas. Todas a cores, variedades e marcas faziam meus olhos brilharem. Eu suspirei e quase troquei a cesta por um carrinho e o enchi de coisas gordas. Me segurei e apenas peguei uma caixa de cookies, um pacote de Cheetos, uma calda de caramelo e Chantilly. Pois é, eu estava parecendo mais uma criança do que uma bailarina que devia manter a forma, mas quem se importa? Eu com certeza não.
Infelizmente aquele corredor chegou ao fim e eu tive que passar para o próximo. Decidi me aventurar na sessão de congelados, mas antes de chegar até o freezer mais próximo, algo chamou a minha atenção: Uma caixa de Yorkshire Tea sozinha na gôndola. Provavelmente era a última, por isso a peguei e coloquei dentro da minha cesta. Devia ser isso o que meu irmão estava procurando na área de bebidas, já que ele sempre amou esse chá e o nosso estava acabando. Tentei seguir meu caminho, mas uma risada estrondosa captou a minha curiosidade. Com certeza era Liam rindo de alguma coisa e eu logo fui atrás dele na área de enlatados.
- O que está acontecendo? – Perguntei assim que encontrei os três garotos.
- Hey, %Tah%. – Lou me cumprimentou com uma risada. – O Harry estava tentando fazer malabarismo... Mas não deu muito certo.
- Para de rir! – Hazza reclamou enquanto massageava a sua testa. – Ainda dói!
- Ei, não façam isso com o meu cupcake! – Caminhei até o dito cujo e fiquei na ponta dos pés para beijá-lo na bochecha.
- Obrigado, %Tah%. – Sorriu todo fofo pra mim e depois fez uma careta para o meu irmão.
- O que você ta comendo, Li? – Voltei a minha atenção para Liam ao notar que ele mastigava algo.
- Mini cenouras! – Esticou o pacote de plástico na minha direção. – Quer?
- Wow! Eles fazem cenouras em miniatura agora? – Peguei uma daquelas verduras pequenas e adoráveis, mesmo que eu não fosse tão fã.
- Ew. – Louis entortou o nariz ao me ver morder a cenoura.
- O que? São gostosas! – Liam as defendeu.
- Lou odeia cenouras... Mas eu não sei por quê! – Dei de ombros e me virei para meu irmão. – Aliás, achei seu chá!
- Eu estava procurando por ele! – Sorriu assim que eu lhe entreguei a caixa de Yorkshire Tea. – Agora já podemos ir pra casa.
- Ainda tenho que pegar mais uma coisa, mas podem ir para o caixa...
Informei e comecei a me afastar dos meninos. Não sei se eles me obedeceram e foram mesmo para o caixa, mas também dei de ombros. O mercado não estava tão cheio e provavelmente não haveria filas, por isso não tinha urgência em que guardassem um lugar pra mim também. O único que me acompanhou foi Liam, ainda mastigando suas cenouras. A sessão de frios e congelados ficava no fundo do estabelecimento, o que nos fez praticamente atravessar de norte a sul, porém, valeu à pena. Fui direto para o freezer que guardava os potes de sorvete e o meu companheiro segurou a porta de vidro enquanto eu me demorei para escolher o sabor que eu iria levar.
- Qual eu escolho? – Perguntei para mim mesma em voz alta enquanto estudava todas as marcas e sabores diferentes. – Ben & Jerry!
- Psiu. – Liam chamou a minha atenção e eu logo vi o que ele tinha desenhado no vidro embaçado do freezer: “I ♥ u”
- Awwwwwwwn, eu também te amo, Leeyum!
+++
~ No dia seguinte ~
“Tah, cadê você? Acabaram de postar a lista com os resultados do callback! Vem pro auditório. xx – Abi” Essa foi a mensagem que eu li assim que comecei a subir as escadas que rapidamente me levaram até a entrada da Academy. É claro que a minha curiosidade começou a apitar e isso me fez correr o resto do percurso até as grandes portas de madeira e já ir pelo caminho que eu bem conhecia para o auditório. Custava ela ter me falado se os resultados foram bons? Ou qual papel ela conseguiu? Ou qual papel Zayn conseguiu? Vamos ser sinceros aqui, por mais que eu quisesse saber se a minha amiga conseguiu o papel de Senhora Capuleto como tanto desejava, eu estava morrendo pra saber quem meu namorado iria interpretar. Não esbarrei em ninguém, por mais que alunos e mais alunos tenham passado por mim em uma pressa tremenda. Alguns comemoravam e outros choravam até demais. Por favor, né? Não era um enterro nem nada assim!
Finalmente cheguei ao auditório e corri os olhos por todo o local à procura de feições familiares. Até que não estava tão lotado e o que quer que fosse acontecer ali ainda não tinha começado, pois uma verdadeira bagunça se instalou entre as fileiras de cadeiras estofadas. Aparentemente não havia nenhum chororô por perto e isso me agradou. Fiquei na ponta dos pés para olhar por cima de um grupo de garotas que fofocavam na minha frente e encontrei duas cabeças ruivas, uma loira e um topete: Bingo! Só estranhei o fato de meus amigos estarem logo na primeira fileira, já que todos são integrantes de carteirinha do “fundão”, mas me pus a ir encontrá-los.
- Olha quem chegou! – Edward, que conversava com Niall, foi o primeiro a me notar.
- Oi, Ed! – Sorri para o professor e logo fui abraçada pelo meu namorado -já que ele deixou %Abi% falando sozinha e veio até o meu encontro antes mesmo que eu pudesse falar com qualquer outra pessoa. – Oi, baby.
- Bom dia, babe. – Beijou os meus lábios e sorriu. – Ou eu deveria dizer... Julieta?
- “Babe” está bom. – Sorri de volta e separamos o abraço para que eu pudesse cumprimentar os outros. – Hey, cerejinha e pudincup. Como estão?
- Eu poderia estar melhor. – %Abi% deu de ombros e nem se levantou da cadeira para me abraçar.
- Bom dia, %Tah%. – Niall sorriu e acenou. – Não esquenta com a %Abi%... Ela só está irritada com o papel que ficou.
- Espera... Então ela não vai interpretar a minha mãe? – A pessoa encarregada de distribuir os papeis devia ter estado bêbada quando decidiu essas coisas. Zayn logo voltou a sentar e me puxou para o seu colo. – Qual papel você conseguiu, %Abi%?
- Ama. – Rolou os olhos entediada.
- Ama quem? – Perguntei sem entender e todos riram de mim. – O quê?
- Não ama de amar... Ama de “babá”, “dama de companhia”. – Niall explicou e a ruiva fez careta.
- Ok, %Abi%, eu não deveria falar nada, mas já que você está fazendo tanto drama... – Ed nos fez olhar em sua direção, mas %Abi% permaneceu emburrada. – O motivo que te deram esse papel é que a Ama aparece muito mais do que a Sra. Capuleto. Então nós achamos que seria um desperdício do seu talento interpretar um papel tão pequeno.
- Tá vendo, ruivinha? Vai ser bom! – Passei um braço em volta dos ombros de Malik e sorri para a garota. – Qual papel você pegou, Ni?
- Serei seu primo, %Tah%. – Sorriu.
- Tebaldo? É um bom papel. – Afirmei e olhei para Zayn, me preparando para uma pergunta que me fazia ter medo da resposta. – E você?
- Bem... Eu estarei interpretando o Páris. – Suspirou visivelmente decepcionado, mas forçou um sorriso.
- Awkward... – %Abi% cantarolou e eu lancei um olhar feio pra ela.
- Tenho certeza que você vai se sair bem de qualquer jeito, ok? – Olhei para o garoto mais uma vez e fiz um pequeno carinho em sua bochecha. – Além do mais... Eu acho que essa Julieta vai esnobar o Romeu e querer ficar com o seu noivo. A história teria um final bem melhor se fosse assim desde o começo!
- Eu concordo com você. – Sorriu e passou o nariz pelo meu.
- Bom dia, pessoal. – A voz de Nick me assustou um pouco. Era só falar dele que a criatura aparecia?
- Hey, Nick?! – O cumprimentei, mas os outros apenas acenaram.
- Posso falar com você um instante?
- Claro! – Estranhei aquela confidencialidade toda, mas ele devia ter seus motivos. Me virei para Zayn e deixei um beijo em seus lábios antes de levantar e dizer: – Eu já volto, tá?
- Tudo bem. – Fez cara feia, mas me deixou ir.
Nick nem me esperou e já foi se distanciando um pouco. Eu não sabia se ele queria fazer algum comentário em segredo, ou se simplesmente não se sentia a vontade perto dos meus amigos. Mas quem o culparia? Sempre que ele chegava perto era tratado com indiferença por %Abi% ou recebia olhares feios de Zayn. O único que o tratava bem era Niall, mas esse pequeno raio de Sol sempre tratava todos bem, então acho que não conta. Só o que me restou a fazer foi ir atrás do garoto até perto do palco para escutar o que ele tinha a dizer.
- E aí, Nick? Algo errado?
- Não, não... Pelo contrario. – Sorriu. – É só que depois do resultado de sábado eu não tive a oportunidade de te dar os parabéns por conseguir o papel principal! Parece que nós vamos trabalhar juntos novamente, né?
- Obrigada, Nick! Parabéns pra você também. – Por mais que eu preferisse que Zayn fosse meu par romântico, estava feliz por Nick.
- Quando eu falei pra Holly que você seria a Julieta perfeita, ela...
- Espera! – O interrompi. – Você falou de mim pra ela? Sobre esse papel?
- Ué, falei... %Star%, aonde você vai?
Escutei Nicholas me chamar, mas não dei ouvidos. Apenas me virei de costas pra ele e comecei a andar a procura da professora. “Agora tudo faz sentido...” Uma teoria da conspiração se formava na minha cabeça e eu precisava encontrar Holly imediatamente. Acabei tendo que passar direto pelos meus quatro amigos, que me olharam sem entender absolutamente nada, e finalmente encontrei quem eu procurava. Infelizmente a mais velha estava conversando animadamente com uma aluna, então eu teria que esperar. Porém, quando me viu, Holly dispensou a garota educadamente e pediu que eu me aproximasse. Ela podia ser a minha professora preferida, mas aquele assunto que estávamos prestes a tratar me deixou nervosa.
- %Star%! Eu estava mesmo procurando você. – Sorriu e me abraçou. – Sua apresentação com o Nicholas foi de tirar o fôlego!
- Obrigada. – Retribuí o abraço, mas o fiz ser o mais breve possível. – Olha, professora, eu vou direto ao ponto, certo? Por que vocês me deram o papel principal na peça? Se foi só por que o Nick pediu, eu acho que deveriam dá-lo para alguém que realmente mereça.
- Você quer saber por que nós a escolhemos? – Apesar das minhas acusações, ela continuou serena.
- Francamente? Sim, porque eu nem ao menos fui chamada para o callback! Como posso simplesmente ganhar o papel mais cobiçado?
- Você não precisou fazer o callback. %Star%, você é de longe a melhor bailarina dessa academia. Talvez não por ter mais experiência ou por já ter uma bagagem de espetáculos no seu currículo, mas porque você é a mais esforçada. – Explicou e eu nem soube com responder. – Ou você acha que ninguém percebe como você sempre chega mais cedo que todo mundo e passa a maior parte dos intervalos se alongando ou treinando algo que teve dificuldade?
- Mas tem tantas garotas que dançam, cantam e interpretam... – Ainda não estava convencida.
- Você não precisa cantar pra mostrar às pessoas o que está querendo dizer. – Tocou o meu ombro, querendo me encorajar. – E quanto a parte da atuação... Isso nós podemos resolver. Teremos até janeiro pra ensaiar e te fazer ser uma boa atriz.
- Tudo bem... – Eu começava a me sentir um pouco mais aliviada.
- Pare de pensar besteira, ok? Você merece sim esse papel. – Brincou com uma mecha do meu cabelo. – Aliás, eu adorei essa nova cor.
- Obrigada! – Ri baixo e mexi nas minhas próprias pontas claras. – %Abi% é que me obrigou a mudar.
- Essa garota não tem jeito mesmo, né? – Com certeza foi uma pergunta retórica e nós duas rimos. – Agora vá se sentar, porque eu acho que não vamos demorar pra começar a reunião.
Então aquilo era uma reunião? Bom saber. Eu obedeci a professora e admito que comecei a me sentir bem melhor; principalmente após todas as coisas boas ao meu respeito que ela falou. Quando me virei para voltar ao meu lugar, Ed passou por mim. Aparentemente todos os professores já tinham que se dirigir ao palco. O ruivo estirou a língua pra mim e eu acabei rindo. Às vezes esquecia que ela um docente, já que mais parecia um aluno e ainda por cima daqueles bem bagunceiros. %Abi% tinha guardado um lugar pra mim entre ela e Zayn e, por mais que eu quisesse sentar no colo do meu namorado novamente, me sentei ali.
Não tive tempo de explicar sobre a minha conversa com a professora Holly, por mais que eles tivessem me perguntado sobre isso, porque as luzes foram diminuindo lentamente e os alunos que ainda se encontravam de pé correram para achar um lugar vazio. Eu já esperava que Agnes fosse tomar o centro do palco como ela sempre fazia, mas foi o diretor Gavin que apareceu com o microfone na mão. Como sempre, foi ovacionado pelos alunos e eu também o aplaudi.
- Muito obrigado, muito obrigado! – Sorriu e mostrou os dentes brancos. – Bom dia, queridos alunos! Meus pupilos preferidos! Primeiramente, eu gostaria de parabenizar a todos por seus papeis no nosso magnífico espetáculo de encerramento de semestre! E lembrá-los que “não existem papéis pequenos... E sim, atores pequenos”!
- Isso foi pra você, baixinha. – Zayn sussurrou para %Abi% e eu gargalhei o mais baixo que consegui. Ele adorava fazer piadas com a altura dela e eu sempre acabava rindo.
- Como vocês devem saber, a partir da semana que vem começaremos os primeiros ensaios e orientações para a peça. Cada um de vocês receberá um roteiro e apenas as suas partes estarão marcadas no seu próprio. Eu aconselho já começarem a estudar as suas falas, porque nós não pensaremos duas vezes em te substituir por alguém melhor! – Pela primeira vez eu vi o diretor sério. – Agora eu chamo ao palco... Meu querido amigo Colin!
- Obrigado, Gavin, por essas palavras tão inspiradoras. – Um homem que eu nunca vira até então saiu de trás das coxias e tomou o lugar do diretor. – Bom dia a todos! Meu nome é Colin Wall e eu serei o diretor da peça que vocês estão tão animados em participar. Mas se querem um conselho... Não fiquem!
Já deu pra perceber que aquele diretor conseguia ser pior do que a diretora Agnes. Uma coisa que eles tinham de diferente é que Colin chegava a sorrir... Mas seu sorriso era cínico, sarcástico, desprezível ou amedrontador. Isso quando não conseguia ser os quatro de uma vez só. Ao menos o homem parecia ser um bom profissional. Ele nos explicou que separou cada um dos roteiros de um por um e que não se importou com todo o trabalho que teve em dividir as falas e adicionar próprios comentários, desde que o resultado final fosse o que ele esperava. “Eu não aceito nada menos do que a perfeição”, foram suas palavras exatas ao falar sobre o que esperava dos “atores principais”. Eu congelei na mesma hora e apertei a mão de Zayn, já que estávamos de nãos dadas o tempo inteiro. Colin não seria o único responsável por montar o espetáculo (já que Holly, Ed e uma tal de Lana estariam encarregados da dança, música e teatro –respectivamente), mas que ele estaria a par de tudo e sempre daria a palavra final. Enquanto eu tentava não encará-lo como um carrasco, %Abi% já fazia piadinhas sobre ele trazer um chicote para os ensaios.
Apesar das ameaças e reclamações, eu já começava a ficar ansiosa com essa peça. Bem mais do que estava antes, pra ser mais correta. Toda aquela história de “eu não mereço” e blábláblá escorreu pelo ralo; figurativamente, é claro. Logo me peguei imaginando que às vezes a vida toma caminhos engraçados, mas que nos levam ao mesmo lugar. Cabe a nós apreciar a viagem. Se eu tivesse sido chamada para o callback, não teria discutido com o Zayn sobre isso e ele não teria me pedido uma chance de mostrar seu verdadeiro interior. Ou seja, nós não teríamos saído e muito menos nos beijado no London Eye. Resumindo: Possivelmente não estaríamos juntos agora, mas eu ainda assim teria o papel principal. Olhando para trás, eu não gostaria de mudar nada. Talvez só fosse dar um recado para a minha consciência e pedir calma. Muita calma.
+++ Acabamos sendo dispensados das nossas aulas do dia, pois quando a reunião finalmente acabou já passava das dez e meia da manhã. Você pode pensar que foi uma perda de tempo e que teríamos aproveitado muito mais se estivéssemos em aula, mas muito pelo contrário! Não tive uma manhã tão produtiva assim há dias. Nick e eu fomos apresentados para Colin e ele foi bem mais simpático conosco do que estava sendo quando falava com o grupo todo. Nós seríamos os únicos a ter um tempo semanal com o diretor da peça para recebermos orientações mais pessoais. No começo não seria algo tão puxado, mas depois do “Christmas Break”, nossos encontros seriam quase diários. Ao mesmo tempo em que eu não estava tão desesperada pra passar tanto tempo na companhia de Nick, me sentia melhor do que se o meu parceiro fosse ser um completo estranho. Também recebi o tal roteiro e fiquei de boca aberta. O objeto mais parecia uma enciclopédia com as suas 200 páginas de texto e comentários a caneta. O roteiro conseguia ser maior que o próprio livro Romeu & Julieta.
Após muito tempo discutindo e argumentando, eu consegui convencer a todos de irmos até a Starbucks mais próxima. O dia estava bem frio e tudo que eu precisava era um café bem quentinho e um chantilly bem docinho e... Chega, né? Enfim. Em compensação por eu ter escolhido o local para onde iríamos, fui eleita para ser a pessoa encarregada de ficar na fila e fazer os pedidos. Literalmente eleita, pois até fizeram uma votação e a única pessoa que não votou em mim fui eu mesma. O pior de tudo foi ter que decorar os pedidos gigantescos que os outros três fizeram e eu tenho certeza que foi tudo de propósito. Mas...... Como eu estava realmente de bom humor, decorei tudo e aguardei pacientemente a minha vez chegar enquanto mexia no celular e atualizava o meu Twitter.
“Sabem onde eu estou? (x)” É claro que eu tive que postar alguma coisa! Na mesma hora em que apertei a tecla “Tweet” comecei a me sentir como aquelas garotas que tiram foto de comida e até mesmo considerei fazer um Instagram. Na verdade o único motivo que eu alegava ter para não ter um ainda era simples e se resumia em uma palavra: “Modinha.” Um aviso apareceu na tela do meu celular, avisando que eu tinha uma resposta de @Louis_Tomlinson:
“Louis Tomlinson: Você deveria estar na aula @%stargirl%!”
“E você deveria estar procurando um emprego, @Louis_Tomlinson!” Eu não deixei barato e tenho certeza que se Harry ou Liam estivessem com ele naquele momento, também estariam rindo da mesma forma que eu estava. “Touché” foi a única resposta que recebi do meu irmão. Acabei rindo mais uma vez e a pessoa que estava na minha frente na fila olhou pra mim como se eu fosse louca. Resolvi guardar o celular, mas antes que o colocasse dentro da bolsa, recebi outra resposta:
“@zaynmalik: Volta pra mesa logo, babe, estou com saudades.” Sorri por ter um namorado tão fofo e levantei os olhos para procurar o garoto. Ele estava na mesa com %Abi% e Niall, mas guardava um lugar pra mim ao seu lado. Também mexia no celular, mas assim que sentiu que estava sendo vigiado, olhou para frente e notou que eu estivera estudando-o. Meu sorriso aumentou assim que vi o dele e escutei uma voz me chamando.
- Senhorita? – A atendente devia estar me chamando há algum tempo. – Posso anotar seu pedido?
- Ah, sim, desculpa! – Deixei Zayn rindo e dei atenção à mulher jovem que me chamava. – Eu fiquei meio distraída...
- Aquele garoto bonitinho estava te olhando, né? – Comentou enquanto esticava o pescoço para olhar Zayn. – Ai, se ele me desse bola...
- Ahn... – Levantei uma sobrancelha e a observei morder o lábio. – Aquele garoto bonitinho é o meu namorado.
- Ai, me desculpa! Que cabeça a minha! Eu não sabia... – Ela ficou vermelha na mesma hora e eu ri. – Seu pedido, por favor?
- Claro, claro. – Deixei aquela história pra lá e me concentrei no que iria pedir. – Eu vou querer um chocolate quente tradicional com cobertura extra, um Macchiato de caramelo, Coffee Frappuccino e um Macchiato Latte com uma porção dessas panquecas com cobertura de blueberry.
- Algo mais?
Afirmei que não e paguei por tudo com o meu lindo cartão de crédito que eu mal usava para algo além de comida. Meu pai devia achar que eu era uma baleia toda vez que a fatura chegava pra ele pagar. Dei nossos nomes (ou quase isso) e peguei a nota fiscal, podendo me virar e ir até a nossa mesa. Zayn devia me conhecer melhor do que eu pensava, pois o lugar que guardou para mim era na ponta e ao lado do vidro que permitia quem estava do lado de dentro olhar o lado de fora; pra mim, o lugar perfeito. Ele foi um perfeito cavalheiro e levantou para que eu pudesse sentar e até me ajudou com a cadeira. Eu o agradeci com uma reverência e coloquei a minha bolsa em cima da de %Abi%, em uma cadeira desocupada ao lado dela.
- A funcionária que me atendeu estava de olho em você. – Falei para Zayn e ele sorriu mais do que devia.
- Estava, é? – Eu diria que ele fez uma pose de modelo, mas quando esse garoto não faz pose de modelo? – E ela é bonita?
- Eu não sei! Por que não vai lá e descobre? – Falei um pouco irritada. – Aproveita e pergunta se ela quer ser a sua nova namorada.
- Nova namorada? O que aconteceu com as outras? – Ele devia estar adorando me ver com ciúmes.
- Cala a boca, Malik. – Dei um tapa em seu braço com toda a minha força, mas mesmo assim não fiz efeito algum.
- Essa mulher não fica linda quando está com raiva? – Me abraçou (lê-se: me agarrou) e perguntou para %Abi% e Niall, que até então estavam só assistindo a nossa “briga”.
- Me solta! – Reclamei ainda com a cara amarrada, mas Zayn não me deu ouvidos.
Na verdade, eu acho é que ele gostou de ser rejeitado por mim e apertou o abraço, impedindo-me de me soltar. Por mais que eu me debatesse, ele era forte demais pra mim. Vendo que não iria a lugar nenhum, resolvi ficar parada e olhar pra ele com cara de séria. O garoto apenas riu de mim e tentou roubar um beijo, mas eu virei o rosto. Então ele começou a beijar e mordiscar o meu ombro, aproveitando onde as suas mãos estavam localizadas para fazer cócegas nas minhas costelas. Eu comecei a rir e me contorcer, mesmo que tentasse brigar com ele. Escutei %Abi% falando: “Um casal não é lindo no começo do namoro?”, toda encantada, mas Niall apenas respondeu: “Será que as minhas panquecas vão demorar muito?”.
- Para, Zayn! – Pedi com os olhos cheios de lágrimas de tanto rir.
- Só se você me der um beijo!
- Não! – Neguei, mas ele ameaçou voltar a me atacar de novo. – Espera! Eu dou.
- Muito bem. – Fez um bico enorme e eu ri antes de deixar um beijo estalado na bochecha dele. – Epa, assim não!
Zayn reclamou do meu beijo nada romântico e eu rolei os olhos. Como não tinha outra opção, eu teria que passar por esse grande sacrifício e beijá-lo direito. Discretamente olhei para o lado e lá estava a atendente, nos olhando de vez em quando. Meu namorado tentou seguir a direção do meu olhar, mas eu o impedi. Segurei seu queixo com certa firmeza e o fiz olhar apenas pra mim, já que a minha atenção também voltou a ser só dele. Nós dois sorrimos ao mesmo tempo e eu aproximei os nossos lábios, mas não os encostei propriamente. Apenas fiquei roçando-os e brincando dessa forma, até escutar uma reclamação baixa de Zayn e sentir sua mão em minha nuca. Ele me prendeu de tal forma que eu não conseguiria fugir e tampouco era o que eu pretendia fazer. Entreabri os lábios para finalmente dar passagem para a língua macia de Zayn e a encontrei com a minha. Nossas bocas também foram encaixadas perfeitamente e nossos lábios brincavam um com o outro. O som de nossas respirações se misturando era a única coisa que eu conseguia ouvir e eram a mais bela melodia. Poderíamos ter prolongado o beijo até que ficássemos ofegantes, mas eu ainda estava com um pouco de “raiva” por causa do ciúme que ele me fez sentir. Por esse motivo, fiz questão de interromper o beijo e deixá-lo com vontade de mais.
- Nunca mais fale que tem outras namoradas! – Eu sabia que ele só estava brincando, mas mesmo assim pedi.
- Eu só tenho você. – Sorriu com o rosto bem perto do meu e roubou um selinho. – Eu só quero você.
- Muito bem. – Acabei sorrindo também.
- Agora que os pombinhos já fizeram as pazes... – %Abi% sorriu ainda encantada. – Acho que estão chamando a gente...
- Tomlinson, Horan, Malik e... Ama? – O atendente pareceu meio confuso ao ler o último nome e eu não agüentei segurar o riso.
- Você não fez isso, %Star%! – O sorriso de %Abigail% se foi e ela devia estar querendo me matar por causa da piadinha. Mas pelo menos eu não era a única rindo, já que Niall até me deu um “high five” e Zayn riu descontroladamente. A ruiva se levantou, mas nos olhou uma última vez antes de ir pegar os pedidos. – Vocês me pagam. Os três! Ah, e Niall? Nada de página nova hoje!
- Espera, meu amor... Minha princesa, volta aqui... – O loiro foi atrás dela e eu até me apoiei na mesa de tanto rir.
- Página do quê? – Zayn não entendeu nada, mas eu sabia bem do que estavam falando.
- Do Kama Sutra. – Respondi um tanto baixo, pois haviam crianças por perto.
- Eu achei que era algum livro de receitas. – Balançou a cabeça negativamente, talvez tão chocado com nossos amigos quanto eu.
O outro casal demorou um pouco pra voltar e eu temia saber o motivo. Ou os dois resolveram fazer as pazes em cima do balcão mesmo e na frente de todos, ou então %Abi% tinha matado Niall, o que era bem possível. Enquanto estávamos sozinhos, Zayn me escutou falar sobre o quanto seria legal se Tom Fletcher entrasse pela porta da Starbucks a qualquer momento e ele disse que se isso acontecesse, iria me trancar no banheiro só pra não correr o risco de me perder para o vocalista do McFly. Eu expliquei que ele já era casado e que tinha até uma tatuagem com a letra do nome da esposa, mas não adiantou.
- Eu ainda vou fazer uma tatuagem com o seu nome, sabia? – Comentou e me fez gargalhar alto. – Por que você está rindo?
- Porque isso é muito brega, baby! – Gargalhei novamente.
- Eu tenho o nome do meu avô tatuado e não acho brega! – Se fez de ofendido.
- Mas é diferente, Zayn! – Segurei a mão dele em cima da mesa. – Você fez uma homenagem ao seu avô. Não a uma namorada.
- Mas e se eu quiser fazer uma tatuagem em sua homenagem? – Ele parecia querer insistir naquele assunto.
- Aí você pode fazer algo mais relativo. Algo que me represente, mas que ainda assim seja simples. – Olhei para a mão dele e acariciei a pequena tatuagem de pássaro que havia ali. – De todas as suas tatuagens, essa é a minha preferida.
- Então eu farei uma assim pra você. – Sorriu e beijou a minha testa.
- Mas espere pra fazer quando já estivermos casados, ok?
- Então você acredita que nós vamos casar um dia? – Seu rosto se encheu de luz e foi como se ele tivesse acabado de vencer uma batalha épica.
- Aqui está o seu chocolate quente e eu espero que tenham colocado sal ao invés de açúcar. – %Abi% chegou e me impediu de responder Malik, o que me agradou muito.
- Obrigada, ruivinha. – Peguei a caneca branca que quase foi derrubada em cima de mim e dei uma lambida na montanha de chantilly que estava no topo.
- Esse tal de frappuccino é bom mesmo, %Tah%. – Zayn comentou ao dar o primeiro gole na bebida que eu havia lhe recomendado. Eu só não pedi a mesma coisa porque uma vez na vida quis uma bebida quente.
- Eu falei que era! – Fiz uma cara de: “E não é óbvio?” e ele riu. – Aliás, eu sei fazer um frappuccino que fica melhor do que esse.
- Sério? – Niall também pareceu interessado.
- Sério! Vocês podem aparecer lá em casa qualquer dia desses e eu faço pra gente. – Arrisquei dar um gole no meu chocolate quente e quase queimei a boca.
- Bem feito! Se queimou, haha. – %Abi% riu de mim e eu estreitei os olhos.
- Correção! Vocês menos a %Abi% podem aparecer lá em casa qualquer dia desses e eu faço pra gente!