Capítulo XXXVI
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Eu não sabia exatamente onde estava, mas tinha certeza que estava dançando. De alguma forma a minha parte física e a mental estavam separadas, pois eu pensava uma coisa e o meu corpo fazia outra totalmente diferente. Quando eu tentei ir para a direita, minhas pernas pegaram impulso no chão e me fizeram voar. Literalmente voar... Não tinha telhado naquele local, por isso logo cheguei às nuvens. Eu sabia que estava sonhando e parte de mim tinha consciência, mas ao mesmo tempo eu não tinha o controle da situação, o que foi um pouco frustrante. Pelo menos eu não estava sendo perseguida por um monstro ou coisa parecida.
De repente uma árvore surgiu na minha frente e eu consegui desviar dela a tempo de evitar algum acidente. Continuei flutuando de um lado para o outro, rodeando a tal árvore enquanto suas folhas iam caindo. Do mesmo jeito que apareceu, ela desapareceu rapidamente e eu senti o espaço a minha volta tremer. Já que eu não estava no chão não deveria existir terremotos ou coisa assim, mas quem iria explicar isso para um sonho? Só o que eu sei é que a tremedeira começou a ficar cada vez mais forte, deixando-me verdadeiramente assustada. A parte de mim que estava dormindo de verdade começou a despertar e eu senti o meu corpo na cama, embaixo das cobertas e até mesmo senti que estava com o rosto no travesseiro, mas o tremor não parava. Foi então que eu bati a mão em algo duro e pequeno, logo recobrando a lógica e descobrindo que era o meu celular vibrando. Então não tinha terremoto nenhum?
- Alô... AI. – Peguei o celular de qualquer jeito, mas a minha mão estava mais dormente do que eu esperava, por isso o bendito aparelho caiu com tudo no meu rosto.
- Babe? Você tá aí? – A voz estava um pouco distante, mas eu sabia quem era.
- Hey... Tô aqui sim... – Respondi meio embargada e sonolenta, me virando para o outro lado e usando a mão “boa” para segurar o iPhone perto da minha orelha.
- Eu te acordei, né? – Riu do outro lado da linha e eu só suspirei.
- Não, não... – Tentei mentir, mas é claro que ele não acreditaria. – Eu só estava cochilando.
- Vou fingir que acredito. – Eu sabia que Zayn estava sorrindo. – Só liguei pra ouvir a sua voz...
- Minha voz é horrível quando eu acordo! – Resmunguei baixinho, porém não evitei um sorriso.
- Então você estava dormindo sim! – Fui pega na mentira e nem sequer me importei.
- Estava mesmo. – Dei de ombros e abri um pouco os olhos. – Que horas são?
- Pouco mais de seis e meia.
- VOCÊ ME ACORDOU AS SEIS E MEIA DA MADRUGADA? – Me descontrolei, mas você entende o meu problema aqui.
- Ei, muita gente já está acordada a esse horário, ok? – Soltou uma risada gostosa. – Você também devia deixar essa preguiça de lado e levantar.
- Eu tenho direito de ser preguiçosa, ok? – Rebati. – Fiquei no salão ontem a tarde inteira e a noite o meu irmão inventou de ir jogar squash na quadra!
- Por falar em salão... %Abi% me disse que você sofreu uma mudança radical. – Comentou cuidadoso. Ligou pra escutar a minha voz? Aham, certo. Ele devia estar ligando pra saber se eu estava careca ou algo assim.
- É. Eu fui obrigada “mudar o visual”. – Fiz aspas no ar com a mão livre e me senti muito idiota quando lembrei que ele não podia ver. – Mas até que eu gostei bastante do resultado!
- E não vai me dizer o que fez?
- Não mesmo! – Ri. – Só vai ver pessoalmente.
- Eu tinha medo que você falasse isso. – Bufou. – Pelo menos eu vou te ver hoje!
- Isso mesmo, baby. As 20hrs, como combinamos. – Mordi o lábio em um misto de ansiedade e medo de ele não gostar do meu novo cabelo.
- Mal posso esperar. – Escutei um suspiro. – Está nervosa?
- Um pouco... – Fiz uma careta. – Um pouco bem grande, pra falar a verdade!
- Vai dar tudo certo, %Tah%... Melhor do que você imagina!
- Obrigada por tentar me tranquilizar... – Cocei os olhos e bocejei. – Mas e você? Está nervoso também?
- Nem um pouco! – A animação dele era de se invejar. – Já estou acostumado com essas coisas e além do mais, Niall vai estar lá comigo... É melhor subir ao palco com alguém do que sozinho.
- Hmmmmmm, entendo... – Era muito bom saber disso, pois seria um argumento a mais que eu teria pra explicar o porquê de mandar o vídeo para o concurso do X Factor mesmo sem eles saberem daquele plano.
- Só um minuto, %Tah%... – Me mandou esperar e eu senti que afastou o celular do rosto. – Eu disse que já vou, mum! (...) É ela sim. (...) Não, mum. (...) Era importante! (...) O Boris sabe esperar! (...) OK!
- Tudo bem aí? – Ri daquela meia conversa que eu escutei.
- Minha mãe mandou dizer que está mandando um beijo... – Senti o tédio em sua voz e ri mais uma vez. – Agora eu tenho que ir passear com o cachorro.
- Mande outro beijo pra ela, certo? E um para o Boris também!
- E eu não ganho? – Tenho certeza que ele estava fazendo bico.
- Mais tarde você ganha quantos beijos quiser. – Sorri já imaginando que ele iria cobrar.
Encerrei a ligação antes que ele pudesse reclamar e joguei o celular de qualquer jeito ao meu lado. Até pensei em voltar a dormir, mas duvidava muito que isso fosse acontecer, por isso teria que me acostumar com a ideia de que estava levantando da cama em pleno sábado às sete horas da manhã. Eu poderia tentar ficar com raiva de Zayn, mas ambos sabemos como isso acabaria. Assim que pisei no chão do banheiro – que era de madeira e não de carpete como o resto do quarto – notei o quanto aquela manhã estava fria. Por mais que eu estivesse de meias, ainda conseguia sentir a temperatura do piso e isso me fez desejar ter pantufas. Fiz toda a minha higiene matinal, mas não tomaria banho naquela hora nem que ameaçassem de morte. Tá que um banho bem quentinho seria gostoso, mas e na hora de sair? Não gosto nem de imaginar!
Deixei os meus cabelos soltos mesmo e os joguei para frente, de forma que eu pudesse ver as minhas pontas claras a qualquer momento. É, eu havia gostado dessa mudança bem mais do que admitia em voz alta. %Abigail% já era insuportável demais sabendo que estava sempre certa pra eu ainda acariciar o ego dela com comentários daquele tipo.
Saí do quarto sem me importar em estar de pijamas, contanto que eu estivesse quentinha. Aparentemente o inverno estava mesmo se aproximando rápido demais e logo, logo nós teríamos que começar a usar o aquecedor interno da casa. Todas as portas do corredor estavam fechadas, o que me fez imaginar que os meninos ainda estavam dormindo. Bocejei ao me espreguiçar quando desci o primeiro degrau da escada. O segundo ainda pareceu mais difícil de descer, assim como o terceiro, quarto... Para resumir, eu demorei uns três minutos pra fazer algo que geralmente levava segundos. Eu não sou do tipo de pessoa que acorda com fome, ou que toma café da manhã todos os dias, mas aquela manhã foi um caso a parte. O nervosismo que me perturbava me fez querer comer e por isso eu atravessei a sala de jantar para chegar até a cozinha. Ao contrário do que eu achava, Harry não estava dormindo, pois eu o encontrei próximo à bancada americana com um bule nas mãos. Pelo menos eu não era a única pessoa com frio, já que o menino estava todo empacotado e tinha ate uma touca cinza na cabeça.
- Bom dia, curly. – Anunciei a minha presença e reparei que a minha voz ainda estava bem sonolenta; assim como o resto de mim.
- Bom dia, princesa. – Se virou na minha direção com um sorriso e abriu os braços para que eu o abraçasse. – Caiu da cama?
- Fui tirada dela! – Fiz um bico maior que eu e me enterrei nos braços do mais alto. – E você?
- Eu perdi o sono mesmo. – Me apertou contra o seu corpo e passou as mãos pelos meus braços, me deixando um pouco mais quente. – Quer chá?
- Quero sim! – Sorri. Eu sempre gostei mais de chá gelado, mas aquela manhã pedia uma bebida mais calorosa. O soltei com relutância e fui pegar a minha caneca no armário. – É de que?
- Maçã com laranja. – Serviu o próprio copo e me esperou entregar o meu para também enchê-lo. – E não vale colocar açúcar!
- Sem açúcar? O que está acontecendo com vocês ultimamente? Parece que todos querem me transformar em uma britânica. – Rolei os olhos. Primeiro aquela história de que uma pessoa “não vira britânica antes da primeira makeover” e agora chá sem açúcar?
- Nós britânicos não nos chamamos de britânicos. – Me entregou a minha caneca. – Somos ingleses.
- Entendi, professor Styles. – Ri e assoprei o líquido em meu copo antes de dar o primeiro gole. – Nada mal, nada mal...
Harry também tinha preparado alguns scones que trouxera do trabalho e os colocou em uma bandeja de madeira. Se o plano fosse realmente me transformar em uma cidadã inglesa, eu preferia mesmo começar com chá e scones, pois duvidava muito que um dia conseguiria comer ovo, linguiça de porco, bacon e feijão branco para começar o dia. Ele também adicionou uma geleia de goiaba, granola e uma coisa branca e cremosa que eu não tinha ideia do que poderia ser. Como o primeiro andar da casa estava consideravelmente mais frio que o de cima, nós decidimos ir para o quarto de Harry, pois era o único que tinha televisão. Ambos subimos as escadas com cuidado e o menino foi primeiro, carregando a bandeja com as comidas e eu fiquei encarregada de levar as canecas com o chá.
- Já falei que amo café na cama? – Sorri ao entrar no quarto e observar Hazza se esconder em baixo do cobertor, ficando apenas com os braços e a cabeça para fora, e deixar as comidas na metade da cama.
- %Tah%, você ama qualquer coisa na cama. – Riu e pegou a caneca que eu lhe entreguei. – Se pudesse se casava com ela.
- Eu não tenho culpa se camas são tão gostosas, ok? – Rolei os olhos e finalmente me juntei a ele embaixo das cobertas. Continuei bebericando o meu chá e Harry pegou uma colherada daquele negócio branco. – O que é isso, aliás?
- Mingau de aveia. – Falou com a boca cheia.
- Eeeeeeew, Harry! – Fiz uma careta. Não sabia se estava com mais nojo do mingau em si ou dele quase cuspindo o mingau em mim.
- Não fale ew antes de provar! – Me ofereceu uma colher, mas eu neguei com a cabeça.
- Obrigada, mas eu fico com a geleia! – Parti um scone ao meio e comecei a recheá-lo. – Liga a TV? Deve estar passando desenho!
- Count Duckula! – Comemorou com a boca cheia novamente e quase me assustou. Count Duckula era um desenho que eu lembrava de assistir algumas vezes quando era pequena, mas duvidava muito que ainda passasse na televisão. Observei Harry esticar o braço pra pegar o controle remoto e ligar o aparelho que ficava preso à parede, em frente à nós.
- Scooby Doo! – Foi a minha vez de celebrar com a boca cheia de scone com geleia assim que a TV ligou em um canal infantil.
- Eu sabia que tinha ouvido vozes! – Um Liam mais sonolento que eu abriu a porta do quarto e também entrou. – O que estamos comendo?
- Bom dia, Leeyum! – Sorri pra ele e me aproximei mais de Harry, deixando espaço para que o outro menino se juntasse a nós na cama. – Temos granola, scone, geleia, chá e essa coisa branca que eu não aconselharia ninguém a comer!
- Ei, essa coisa branca tem sentimentos. É um mingau de aveia. – Harry explicou.
- Ew. – Liam teve a mesma reação que eu, o que me fez rir satisfeita. Ele se sentou ao meu lado e eu dei mais um gole no meu chá.
Continuei comendo o meu bolinho e foi bem difícil não me sujar ou sujar o cobertor de Harry. Como esse ultimo tem uma mania de limpeza incrível, ele me olhava com cara feia sempre que um farelo acabava caindo na cama e eu limpava na mesma hora. Liam se alimentou mais da granola e Harry continuou comendo a papa. Quero dizer... O mingau delicioso. Nós parecíamos criancinhas assistindo desenho, já que em todas as partes mais emocionantes um se encolhia perto do outro. Constantemente eu sentia o joelho de Liam bater no meu, mas preferi pensar que era culpa do pouco espaço que estávamos dividindo do que uma ação intencionalmente proposital.
- Harry, lembra quando você foi àquela festa a fantasia vestido de Scooby? – Só aquela lembrança foi capaz de me fazer rir enquanto eu abaixava minha caneca de chá pela metade.
- Oh, God. – Harry abaixou a cabeça e apertou as têmporas. Ele devia estar tentando esquecer seu passado.
- Como era essa fantasia? – Liam nos olhou sem entender o motivo da graça.
- Deixa que eu explico! – Levantei uma mão antes que mais alguém tentasse falar qualquer coisa. Me virei de frente para Liam e tentei controlar as minhas risadas. – Era tipo um macacão, sabe? Que ia desde os pés até o pescoço... E uma cabeça gigante!
- Não esqueça do rabinho... – Haz me fez gargalhar e permaneceu na mesma posição de antes.
- Um rabinho? – Li também riu ao imaginar.
- Eu acho que tenho uma foto no meu computador! Depois eu te mostro. – Balancei a cabeça e bebi meu chá. Harry me olhou com os olhos arregalados.
- Você tem fotos minhas no seu computador? – Perguntou.
- Eu tenho fotos de todos vocês no meu computador!
- Harry... Nós moramos com uma stalker e nem sabíamos. – Liam riu.
- Eu espero vocês dormirem pra coletar fios de cabelo e pedaços de unha... – Falei com tanta seriedade que eles acreditaram por um segundo ou dois.
Terminei meu chá e coloquei a caneca vazia no criado mudo, junto à de Harry; também vazia. Três pessoas esfomeadas podem até comer depressa, mas Liam, Haz e eu devemos ter batido um recorde, pois logo não havia mais nenhum grãozinho de granola para contar história. Tiramos todos os utensílios sujos de cima da cama e nos acomodamos por ali. Eu continuei entre os dois garotos e puxei o cobertor até o meu pescoço. Scooby-Doo terminou e um outro desenho que eu nunca consegui lembrar o nome começou e por mais concentrada que eu tentasse ficar, não conseguia manter meus olhos abertos. Comecei a piscar mais demoradamente até não conseguir mais abrir os olhos. “Só vou descansar a vista um pouquinho...”
+++ - %Tah%, você tá fazendo de novo... – Escutei a voz de Harry e o senti me balançar devagar.
- Hm? – Abri os olhos devagar pra ver que ele e Liam estavam tão sonolentos quanto eu. – O quê?
- Você tá falando enquanto dorme... – Foi Li quem respondeu, já que Harry voltou a cair em um sono profundo. Nem ao menos se mexeu na cama e também não me olhou.
- Desculpa... – Falei baixinho.
A verdade era que eu não tinha culpa e nem sabia como controlar essa minha “mania”. Mas também não sou uma louca que fica contando histórias ou fofocando todas as vezes que pega no sono. Isso só acontece de vez em quando e são geralmente coisas sem nexo algum. Lembro que uma vez Louis me disse que eu estava fazendo tanto barulho que ele teve que ir ver se eu estava bem, mas assim que entrou no quarto, me viu sentada na cama falando algo do tipo: “Eu tenho que pegar o navio. Eu vou perder o navio.” O mais estranho é que eu nunca lembro de ter falado nada e muito menos de como era o sonho.
Eu me sentei na cama de Harry devagar, sem querer acordar nenhum dos dois novamente. Notei que a televisão estava desligada, mas eu não fazia ideia de há quanto tempo. O relógio digital na cômoda marcava 14h20min da tarde, o que indicava que eu havia dormido muito; o que era bom, já que eu precisaria estar bem descansada para o fim do dia. Desistindo de voltar a dormir e correr o risco de falar o que não devia, enfrentei um caminho tortuoso para sair de baixo das cobertas e descer da cama sem chamar atenção. Pelo menos a minha missão foi realizada com sucesso e a porta não rangeu quando eu a abri para sair do quarto.
Louis já devia ter acordado também, pois não estava em seu quarto quando fui checar, o que me fez rumar para o primeiro andar. Desci as escadas com a velocidade normal, agradecida por estar com bem menos sono do que antes. Primeiro passei pela sala, mas não havia nem sinal do meu irmão. Antes de tentar procurá-lo na cozinha, escutei uma melodia vinda do lado de fora da casa e espiei pela janela. Era Lou que estava sentado na escadinha que separava a varanda de casa do jardim e dedilhava um violão. Ao mesmo tempo que eu não queria atrapalhá-lo, sentia muita vontade de descobrir o que ele estava fazendo. Como a minha curiosidade consegue ser maior que eu, optei por sair de casa e ir até lá.
- If I don't say this now I will surely break as I'm leaving the one I want to take… (Se eu não falar isso agora tenho certeza que enlouquecerei enquanto deixo pra trás a única coisa que quero levar) - Ele cantava, mas assim que eu me sentei ao seu lado na escada, parou.
- Continua, Lou... – Pedi baixinho.
Forgive the urgency but hurry up and wait.
(Perdoe a pressa, mas apresse-se e espere)
My heart has started to separate.
(Meu coração começou a se partir)
Oh, oh, oh. Oh, oh, oh.
Be my baby… I’ll look after you.
(Seja minha garota… Eu tomarei conta de você) Voltou a cantar assim que eu pedi, me deixando escutar a sua voz suave. Muitos cantores por aí tem a voz áspera ou rouca, o que é bom também, mas Lou tinha uma voz diferente. Posso ser suspeita pra falar por sermos irmãos, mas a voz de Louis era macia, gostosa de escutar. Ele não costumava ficar cantando pelos cantos o tempo inteiro, mas de vez em quando tinha aqueles momentos onde gostava de ficar sozinho ao piano ou violão e cantar suas músicas preferidas. Era uma espécie de “escape”, uma forma de expressão quando suas palavras não eram o suficiente. Eu me achava muito sortuda quando podia presenciar essas cenas, principalmente por acontecerem quando ele estava com algum problema e precisava organizar seus pensamentos.
There now, steady love. So few come and don't go.
(E agora, amor firme. Tão poucos vem e não vão)
Will you won't you, be the one I always know?
(Você será aquela que eu sempre conhecerei, não é?)
When I'm losing my control, the city spins around.
(Enquanto eu perco o controle, a cidade gira ao meu redor)
You're the only one who knows, you slow it down…
(Você é a única que sabe, você desacelera...) Ele cantava com tanta paixão que eu fiquei arrepiada; e não era por causa do frio que entrava em contato com a pele do meu rosto e minhas mãos. Lou olhou pra mim apenas naquela parte, o que me fez prestar atenção na letra mais do que antes. É verdade, né? Que são poucos aqueles que vem e não se vão... Mas independente de qualquer coisa, nós dois sempre estaríamos juntos, sempre nos conheceríamos. Foi o laço de sangue que nos juntou em um primeiro momento, mas foi a nossa amizade e nosso amor que nos deixou tão ligados assim. Eu tinha muito orgulho em dizer que ele era meu irmão.
It's always have and never hold. You've begun to feel like home.
(É sempre ter e nunca prender. Você começa a parecer com um lar)
What's mine is yours to leave or take. What's mine is yours to make your own.
(O que é meu é seu pra pegar ou largar. O que é meu é seu pra fazer seu)
Oh, oh, oh. Oh, oh, oh.
Be my baby… And I’ll look after you.
(Seja a minha garota… E eu cuidarei de você) Me encolhi dentro do meu pijama grosso quando uma rajada de vento assoprou os meus cabelos. Lou voltou a olhar para os próprios dedos que trabalhavam incessantemente nas cordas do instrumento. Eu arriscaria cantar aquela última parte do refrão com ele, mas não me atrevi. Não se deve atrapalhar um anjo em momentos assim, porque era com um anjo que Lou estava parecendo. Suas expressões eram suaves como a voz, suas mãos se mexiam naturalmente e a respiração estava equilibrada. A única coisa que eu estranhei foi o vazio em seus olhos. Louis sempre foi cheio de vida, alegre e quase hiperativo, porém não era bem isso que ele estava demonstrando nos últimos dias.
- Você sabe que eu sempre vou cuidar de você, né? – Perguntou com um sorrisinho de lado.
- Sei sim, Boo. – Meu sorriso foi um pouco maior que o dele.
- Não importa o que aconteça... – Deixou o violão de lado e me indicou para chegar mais perto.
- Eu sei, eu sei. – Me arrastei pelo batente até poder abraçá-lo de lado e encostar a cabeça em seu ombro. – Mas não vai acontecer nada.
- Caso aconteça, %Star%. – Soltou uma risada nasalada, mas eu duvidava que ele estivesse achando graça.
- Faz tempo que você acordou? – Preferi mudar de assunto e ele me abraçou pelos ombros.
- Umas duas horas. – Começou a brincar com as pontas descoloridas do meu cabelo. – Onde você estava? Seu quarto e o de Liam estavam vazios, eu achei que tinham saído.
- Eu estava dormindo no quarto do Harry. – Ri da cara de ciúmes que meu irmão fez. – O Li ainda tá lá.
- Vocês fizeram uma festa do pijama e não me chamaram?
- Em nossa defesa... Ninguém planejou nada! – Tentei me explicar. – A gente acordou cedo, daí fomos ver desenho lá e puff! Pegamos no sono.
- Espera... Você acordou cedo em um sábado? – Levantou uma sobrancelha, desconfiado.
- Né? – Dei de ombros. – Zayn me ligou e me acordou!
- E o que ele queria de tão urgente?
- Escutar a minha voz... – Fiquei com uma cara de boba tão grande que Louis riu.
- Que frescura! – Gargalhou e ganhou um tapa no braço em troca.
- Não é frescura, Louis! – Reclamei. – Eu acho fofo...
- Awwwwn, minha irmãzinha está apaixonada! – Me esmagou em seu abraço.
- Está sim! – Falei quase sem ar.
- Eu acho que nunca te vi assim, tão feliz. – Diminuiu um pouco o aperto, mas não me soltou.
- E eu estou feliz, Lou... – Suspirei. – Por que não estaria? Eu moro em uma cidade maravilhosa com três idiotas que eu amo muito, tenho amigos perfeitos, um namorado de tirar o ar e ainda estou fazendo o que amo.
- Sua vida é perfeita! – Riu.
- Tão perfeita que eu fico com medo. Não sei se é justo tanta felicidade pra uma pessoa só.
- Você merece, %Estrelinha%. – Beijou a minha testa.
- E você está muito meloso hoje! O que tá acontecendo?
- Eu já falei que gostei do seu novo cabelo? – Mudou de assunto descaradamente.
- Sim, ontem quando eu cheguei em casa!
+++ A hora de me arrumar para o baile de inverno estava chegando e com ela vinha o nervosismo que eu tentava controlar. Já tinha tomado banho e arrumado o meu cabelo em uma trança que ia de um lado ao outro da minha cabeça, assim como já fizera todo o meu ritual “pré-dança”. Ou seja, já tinha preparado a minha sapatilha de ponta e praticamente a quebrado toda. Eu não era nem louca de usar uma sapatilha nova em uma apresentação, já que não estaria acostumada a ela, mas tive a consciência de escolher a “menos acabada” entre a minha coleção. Mesmo assim ainda precisei testá-la e gastá-la para que não escorregasse demais e muito menos me fizesse quebrar o pé. Era só o que me faltava, sair da festa direto para o hospital.
Afastei aqueles pensamentos nada positivos da minha cabeça e voltei a me concentrar no que estava fazendo. O único lado ruim de me apresentar naquela festa seria a troca de roupas. Por dois motivos muito simples: 1º- Eu teria que levar uma mochila com a minha segunda roupa, o que acabava com todo o glamour de chegar toda arrumada ao salão de baile. Ninguém merece estar com um vestido perfeito e ter que carregar uma mochila. 2º- Enquanto eu estivesse dançando, teria que deixar o meu vestido, sapatos, joias e derivados em uma sala separada. Eu não achava que seria roubada ou coisa assim, mas o fato de esses presentes tão preciosos estarem longe de mim e possivelmente próximos de outras pessoas me assustava.
“Meu Deus, %Star%! Pare de pessimismo! Vai dar tudo certo.” Briguei comigo mesma e guardei o vestido que acabara de dobrar na tal mochila. Ali dentro já estavam a minha sapatilha, umas presilhas para o caso de acidentes envolvendo o meu cabelo, meia calça cor de rosa e outras coisinhas que eu usaria para me preparar. “É isso... Tudo esta no lugar certo e agora eu só preciso me vestir.”
- %Tah%? – Era Liam batendo na porta, pra variar. Sempre que eu tenho algum lugar pra ir e estou me arrumando, ele resolve aparecer com algum recado.
- Já vou! – Gritei antes que ele resolvesse entrar e me ver de roupa íntima. Peguei uma toalha e me enrolei, finalmente chegando até a porta e abrindo uma brecha para que eu pudesse vê-lo. – Sim?
- O Zayn chegou. – Aquelas três palavras me desesperaram.
- Já? Que horas são? – Será que eu estava tão atrasada assim?
- Ainda são sete e meia, %Tah%. Você tem tempo. – Riu. – Eu só vim avisar, caso você já estivesse pronta e tal...
- Em vinte minutos eu desço, tá bem? – Sorri um pouco mais tranquila e fechei a porta quando Liam se foi.
Tenho certeza que ele só chegou cedo assim porque queria ver o meu cabelo logo. Como eu o prendi em uma trança, infelizmente Zayn não poderia vê-lo completamente, mas as mechas claras estavam mescladas com as escuras e formavam um desenho bem bonito. Não tinha mais tempo a perder, por isso fui direto para o banheiro fazer a minha maquiagem: O bom e velho lápis preto, delineador mais grosso na pálpebra, uma sombra pastel que pudesse combinar com minhas duas roupas da noite e um blush rosado nas bochechas. Demorei pouco mais de dez minutos até estar perfeitamente maquiada e finalizei com um batom claro nos lábios. Eu podia escutar %Abi% reclamando por não ser um batom mais escuro, mas eu estava no clima de usar um claro, então pronto! Hunf. Claro que não esqueci do perfume e das joias. Sei que estava receosa em usar o bracelete de brilhantes, mas ele era tão lindo que eu não poderia deixá-lo trancado em uma caixa para sempre.
Meu próximo passo foi tirar o vestido branco do cabide no closet e vesti-lo. Eu ainda achava incrível caber dentro de uma roupa que apenas modelos usaram antes de mim e o quanto ele ficava bem ajustado ao meu corpo. Era quase como se tivesse sido feito sob medida pra mim. Toda garota tem suas manhas na hora de se vestir, mas naquela noite eu me superei ao fechar sozinha o zíper que ia da base das minhas costas até o topo do vestido. Eu estava me sentindo uma verdadeira princesa e fiquei girando sem sair do lugar só pra ver o tecido esvoaçar.
A caixa que Rachel me entregou a pedido de Carine estava em cima da minha cama e eu já sabia exatamente o que tinha dentro dela. Além do sapato Dior que eu já havia falado para %Abigail%, também encontrei uma clutch bem delicada que fechava o meu look. Calcei os saltos que não eram tão altos assim e peguei as coisas que teria que levar; minha bolsa de mão e a mochila. Como de costume, me olhei uma última vez no espelho do banheiro e parti para fora do quarto.
Eu havia demorado mais de vinte minutos pra me arrumar, mas ainda estava dentro do prazo se levarmos em consideração que eu tinha que estar pronta às 20hrs e ainda eram... 20h10min? Ok, pode ser que eu estivesse realmente atrasada, mas quem se importa? A pressa é inimiga da perfeição! Torcendo para que ninguém reclamasse da minha demora, comecei a descer as escadas com todo cuidado possível. O vestido era longo e volumoso demais e eu poderia pisar nele e cair em qualquer descuido. Como quase todos os finais de semana, os meninos iriam sair para alguma boate ou bar e por isso também estavam bem arrumados. O primeiro que eu vi foi Harry, seguido por Louis e Liam.
Os três ficaram na minha frente e me impediram de ver Zayn e vice versa. Haz pegou a minha mochila, afirmando que levaria até o carro, Lou me desejou boa sorte e Liam disse que eu estava linda como sempre. Por fim eles acabaram indo embora e me deixaram sozinha na sala com o garoto que eu olhei pela primeira vez. Fiquei sem palavras assim que o vi, pois ele estava encantador. Parecia um príncipe de roupa social, que incluía paletó, gravata e tudo que tinha direito. O jeito que ele me olhava não era muito diferente ficamos parados tentando recuperar a linda de pensamento.
- Oi, Zayn. – Fui a primeira a falar e me aproximei dele. Ao contrário do que eu esperava, ele não falou nada e apenas ficou me olhando, o que me deixou sem jeito. – Essa seria uma boa hora pra você falar alguma coisa...
- Acho que eu nunca vi alguém tão linda... – Finalmente falou algo e foi a minha vez de não saber como responder. Ele segurou o meu rosto com as duas mãos e ficou me estudando de perto. – Eu sei que falo isso todos os dias, mas você é incrivelmente linda. Ao ponto que eu fico sem formas de expressar o que sinto quando estou com você.
- Os seus olhos já expressam tudo que eu preciso saber. – Sorri meio tímida.
Zayn também sorriu e afirmou que sim com a cabeça. Nós dois ficamos trocando olhares e eu agradeci mentalmente por os meninos terem ido embora logo e nos deixado a sós. Tudo bem que a pressa que eles tiveram para ir embora foi meio estranha, mas quando eles foram normais? O mais alto me fez sair de meus pensamentos assim que pressionou seus lábios contra os meus. Fechei os olhos automaticamente e procurei os ombros do mesmo com as minhas mãos. Cada um inclinou o rosto para um lado e demos início a um beijo cheio de carinho. Ele soltou o meu rosto e deslizou as mãos pela minha nuca, seguindo para as minhas costas. Aproveitou para me puxar mais pra perto e eu o envolvi pelo pescoço. Seus lábios macios se moviam contra os meus e o perfume adocicado me entorpecia. Era como se o momento não pudesse fica mais perfeito.
- O que você mudou no cabelo? – Perguntou assim que separamos os rostos e me olhou confuso, não notando nada de diferente.
- Você não pode ver porque está preso... – Expliquei e dei meia volta. – Mas tá vendo que tem algumas partes brancas?
- Estou sim... São as pontas? – Aproveitou que eu estava de costas para me abraçar e beijar o meu pescoço. – Eu gostei!
- Mas você nem viu direito! – Ri e descansei a cabeça o ombro dele.
- Eu já gosto de tudo em você. É o suficiente. – Sorriu e beijou a minha bochecha, partindo o abraço rápido demais. – Podemos ir?
- Podemos sim! – Dei uma olhada em mim mesma, checando se tudo estava no lugar.
Entrelacei os dedos nos de Zayn e pudemos sair da sala e passar pela porta de casa que já estava aberta. Tranquei a porta depois de passar e guardei a minha chave na bolsa. Zayn se precipitou e foi um pouco na frente, mas parou na metade do caminho de pedra pra me esperar. O frio que durou o dia inteiro poderia ter ido embora, mas não foi isso o que aconteceu. Se duvidar a temperatura ainda caiu mais, o que foi terrível pra mim, pois eu teimei em não usar um casaco. Meu vestido era perfeito demais e deveria ser mostrado, por isso eu preferi passar frio. Fui de encontro ao meu namorado e fiquei chocada ao ver o nosso transporte. Uma limusine preta e um chofer nos aguardavam na calçada.
- Nós vamos ao baile de limusine? – Perguntei com um sorriso.
- A convidada de honra não pode chegar em um carro qualquer. – Riu da minha expressão.
- Isso é tão legal! – Comemorei realmente animada. Eu nunca havia andado de limusine antes, mas estava louca pra ter a minha primeira vez.
- Você acha mesmo? Foi ideia da minha mãe... – Passou a mão pelos cabelos meio desconfiado. – Mas a Doniya disse que era brega.
- É perfeito, Zayn. – Ele me guiou até o carro. – Não escute a sua irmã, ok?
- Tudo bem. – Sorriu e esperou eu entrar primeiro, já que o motorista abriu a porta para nós.
Aquela limusine era como as que vemos em filmes: O interior era todo estofado e tinha até um espelho no teto. O chão era de carpete e em uma ponta havia um balde com gelo, uma garrafa e duas taças de vidro. Eu abaixei a cabeça para poder entrar e logo me acomodei na metade do banco. Ou seria sofá? Porque parecia mesmo um sofá. Zayn veio logo atrás, após dar as instruções para o chofer. Ele se sentou ao meu lado e pegou a tal garrafa que estava dentro do balde com gelo.
- Eu não posso beber, Zayn. – Segurei a taça que me foi entregue. – Vou dançar...
- Eu sei disso, babe. – Sorriu como se já estivesse preparado para qualquer situação. – Isso é suco. Só coloquei em uma garrafa de vinho pra ficar mais elegante.
- Você pensa em tudo! – O observei abrir a garrafa e nos servir. Ainda bem que o carro não se mexia com tanta velocidade, pois isso impediria acidentes e manchas no meu vestido branco.
+++ Não demoramos quase nada pra chegar até a Academy. Pelo menos não pareceu demorar... Zayn e eu bebemos o suco durante metade da viagem e a outra metade ficamos conversando sobre as coisas mais idiotas. Como sempre, ele me fez rir com coisas que nem eram tão engraçadas assim. Em determinado momento o garoto me roubou um beijo inesperado e eu dei o troco, puxando-o para um mais longo. Foi aí que o motorista fechou a parte de vidro que o separava de nós e tivemos mais privacidade. Não sei o que ele esperava que fosse acontecer por ali, mas eu agradeci por não ter ninguém nos observando pelo retrovisor.
De qualquer forma, o chofer abriu a porta para que saíssemos e Zayn passou primeiro. Ele me aguardou descer com cuidado e pegou a minha mochila nada elegante. Harry havia mesmo a deixado no carro e eu já teria me esquecido dela se o motorista não nos lembrasse. Pois é, eu sou lerda assim mesmo, não me julgue. Passei o braço pelo de Zayn e nós dois fomos para a escadaria. O local estava totalmente iluminado e enfeitado, desde o corrimão até a porta de entrada. O lado de dentro, então? Parecia outro lugar e não mais aquela “escola” que eu frequentava todos os dias. Um caminho foi formado pelo chão, indicando o lado certo que os estudantes deveriam ir. Algum material que parecia algodão foi posto no chão para lembrar a neve e desenhos de snowflakes enfeitavam as paredes.
Se o lado de fora estava assim, eu esperava ver o lado de dentro do salão! Ao invés de pegarmos o elevador para o subsolo, preferimos ir pelas escadas que estariam bem mais vazias. Eu não me importei e nem reclamei, o que já era um passo muito grande para alguém tão preguiçosa quanto eu. No meio do caminho da nossa descida, encontramos a professora Holly. Ela estava meio descabelada e ofegante, sem falar em seu batom vermelho que estava um pouco borrado. Zayn pareceu não notar nada e muito menos prestar atenção, mas eu já imaginava o que teria acontecido com ela. Ou “quem” teria acontecido. Fora isso, a mulher estava linda. Seu vestido comprido era um tomara que caia azul escuro com pedrarias brilhantes que iam até a barra. Ela viu a mochila que Zayn carregava e pediu que a entregasse, pois já sabia o que era. Também me indicou a sala que eu deveria ir para trocar de roupa e era lá que minhas coisas ficariam guardadas. Eu agradeci e ela sumiu das nossas vistas.
Ficava cada vez mais difícil não poder comentar com ninguém sobre o relacionamento da minha professora com o meu parceiro de dança, mas é claro que eu não abriria a boca pra falar nada. A escada chegou ao fim e já entramos direto no salão de baile. Todos os meninos e meninas estavam vestidos formalmente, o que foi uma mudança e tanto para o que eu estava acostumada. Ao longe vi os diretores e professores conversando em uma mesa bem grande. Ed estava por lá também, mas parecia meio deslocado e super desconfortável dentro da roupa formal. Parei de olhar as pessoas e focalizei a minha atenção na decoração. Muita coisa havia mudado desde o dia anterior. Agora alguns flocos de neve estavam pendurados por cordas e davam a impressão de neve caindo. As mesas redondas estavam cobertas por toalhas bem claras e todas tinham centros de mesa cheios de flores e uma única vela acesa no topo de cada arranjo. O clima de inverno só ficou na atmosfera mesmo, pois a temperatura do salão estava bem agradável.
%Abi% e Niall ainda não deviam ter chegado, pois eu não conseguia enxergá-los em lugar nenhum. Uma banda estava no palco principal e embalava as poucas pessoas na pista de dança com algumas musicas nem tão lentas e nem tão animadas. Atravessamos o salão até chegarmos perto de uma árvore branca que estava ali apenas como decoração. Mas também, né? O que uma árvore estaria fazendo em um salão no subsolo? Nada! Um garoto que eu nunca tinha visto antes se aproximou de nós e parecia conhecer Zayn, pois os dois se abraçaram.
- Pal, o Josh tá te procurando lá no backstage. – O menino falou e só percebeu que eu estava por ali uns segundos depois. – Ah, oi.
- Hey. – O cumprimentei com um aceno de cabeça, mas ele parecia apressado demais pra que eu puxasse conversa.
- %Tah%, esse é o Sandy. Também é da banda que toca com a gente. – Me explicou. – Você se importa se eu for ver o que o Josh quer?
- Claro que não! Pode ir. – Sorri para encorajá-lo.
Não vou mentir e dizer que gostaria de ficar sozinha por ali, mas eu não poderia dizer não. Só torcia pra que não fosse nada ruim e que tudo estivesse certo para a apresentação dos meninos. Antes de partir Zayn deixou um selinho em meus lábios e prometeu que não demoraria muito. Eu respondi que ele poderia demorar o tempo que fosse preciso, pois eu ficaria bem. Uma mentira que eu mesma queria poder acreditar. “Vamos, %Tah%, você é uma menina forte. Consegue ficar sozinha por um tempo.” Isso mesmo, consciência, me encoraje! Observei os dois se afastando e quase correndo para uma portinha ao lado do palco onde se encontrava uma placa escrito: “Backstage.”
Revirei a minha bolsa de mão a procura do meu celular e digitei uma mensagem rápida para %Abi%: “Estou perto da árvore assustadora no salão. Venha pra cá quando chegar!” Eu esperava que ela entendesse o que eu quis dizer com “árvore assustadora”, já que aquela era a única árvore em todo o local. Eu ainda não conseguia entender completamente o objetivo daquele enfeite, mas até que quanto mais eu o olhava, mais agradável parecia. Dei de ombros e tentei me distrair com outra coisa. Jéssica passou por mim com algumas amigas e todas acenaram pra mim. Eu fiz o mesmo, mas elas não se aproximaram para me tirar da solidão. Pensei até mesmo em ir atrás de Ed Sheeran, já que eu tinha um pouco de intimidade com ele e com certeza o ruivo gostaria mais de conversar comigo do que com seus colegas de trabalho.
- Heeeeey, %Tah%! – Nicholas me assustou ao chegar já me abraçando e me girando no ar.
- Jeez, Nick! – Ri e me segurei nele até encostar os pés no chão novamente. – Está feliz hoje, hein?
- Por que não estaria? – Me soltou e sorriu maroto. É, eu sabia muito bem o motivo da felicidade dele e a mancha vermelha que ele trazia no canto dos lábios comprovava minhas suspeitas.
- Você poderia ter um pouco mais de cuidado, isso sim! – Passei a ponta da língua no meu polegar e usei a saliva para limpá-lo. É claro que o menino fez cara de nojo, mas me deixou terminar. – Aliás, você e a Holly, porque ela passou por mim toda descabelada! E eu sei muito bem o motivo.
- Sabe, é? – Levantou uma sobrancelha e sorriu convencido, piscando em seguida. – Poderia ter sido você, %Tah%.
- Obrigada pela informação, mas eu estou bem com o meu namorado. – Ri e dei uma batidinha no ombro do menino. – Mas eu estou feliz por vocês dois. Parece que as coisas estão ficando sérias, né?
- Holly é bem difícil, pra falar a verdade... – Riu. – Mas eu estou conseguindo entrar nela.
- Ew! – Gargalhei ao levar aquela frase pelo duplo sentido.
- Não desse jeito, sua pervertida! – Arregalou os olhos, ofendido. – Bem... Talvez desse jeito.
- OK! Vamos mudar de assunto. – Balancei a cabeça de um lado para o outro tentando afastar aquelas imagens mentais. – Está preparado para o nosso grande momento?
- Meu bem, eu nasci pronto! – Fez sinal de “joia” com a mão, levantando o polegar. – E você, huh? Está mais calma?
- Bem mais calma, pra ser sincera. – Respirei fundo. – A gente ensaiou bastante. Eu sei os passos. Você me ajuda se eu errar alguma coisa. O salto ainda me deixa nervosa, mas isso é só um detalhe. Um detalhe bem pequeno. É. Aham.
- Wow, wow. Tem certeza que está calma mesmo? – Me segurou pelos ombros, interrompendo o meu monólogo, e me puxou para um abraço. – Eu não vou te deixar cair. Você confia em mim, certo?
- É claro que eu confio! – O abracei de volta e tentei me acalmar.
- Ei, você não é o Zayn. – A voz de %Abi% nos fez interromper o abraço e eu a olhei de cara feia.
- Isso é jeito de se cumprimentar as pessoas, %Abigail%? – Questionei-a.
- E aí, %Tah%?! Oi, Nicholas. – Niall se mostrou bem mais educado que a namorada e sorriu para nós dois.
- Tudo bem, Niall? – O menino sorriu de volta e se virou para %Abi%. – Boa noite, %Abigail%.
- Oi. – Forçou um sorriso pra ele e me abraçou. – Você está um arraso, %Tah%.
- Merci. – Sorri e a olhei direito pela primeira vez. – Você também esta linda!
- %Tah%, eu vou procurar... Uns amigos. – Fez uma careta por quase ter falado “Holly” ao invés de “uns amigos”. – Te vejo mais tarde, certo? Até depois, pessoal.
- Tudo bem, Nick. Juízo com os seus amigos. – Ri, mas o outro casal não entendeu a graça.
- Tchauzinho. – Não porque, mas %Abi% estava sendo em falsa com ele, por isso a belisquei no braço. – AI, CACHORRA!
- Se comporte! – Rolei os olhos e me virei para Niall. – Um tal de Andy veio procurar o Zayn pra resolver algo no backstage... Não é melhor você ir lá também?
- Você quis dizer Sandy? É o nosso baixista. – Nos explicou, mesmo que aquela informação não fosse mudar a minha vida em nada. – Eu vou lá... Se comportem, meninas.
- Sempre! – Respondi enquanto ele beijava a namorada e se afastava de nós.
- Agora que estamos sozinhas você pode me falar... – %Abi% se aproximou de mim e sussurrou. – Que ceninha foi aquela que eu presenciei?
- Qual ceninha, %Abi%? Nick só estava tentando me tranquilizar. – Estiquei o pescoço para ver o motivo de as pessoas estarem começando a formar um círculo em volta da pista de dança. – Não sei se você percebeu, mas hoje é uma noite bem importante.
- E o seu namorado não podia te tranquilizar?
- Se ele estivesse por aqui pelo menos, né? – Bufei e a puxei pela mão. – Vem, acho que vai ter alguma apresentação.
E de fato ia. Assim que eu consegui arrastar %Abi% para perto da multidão e conseguirmos um bom lugar para assistir, quatro meninas apareceram no centro do salão. As luzes diminuíram e elas ocuparam suas posições. Demorei um pouco demais pra perceber que Jess estava ali junto com as outras meninas que eu vira no começo da festa. A mesma banda de antes começou a tocar e até mesmo um violino se juntou ao som do violoncelo, guitarra, piano e outros instrumentos que já faziam música. Tive a impressão que era uma verdadeira orquestra que nos deliciava com a música suave, mas nada lenta, que se iniciou.
As bailarinas também começaram a dançar com suas sapatilhas cor de rosa e roupas idênticas. Cada uma sorria mais que a outra e seus passos eram sincronizados. Foi algo bem divertido de assistir e %Abi% estava realmente maldosa aquela noite, pois não demorou a comentar que as meninas estavam parecendo coelhinhos saltitantes. Eu acabei rindo, pois ela tinha razão. Mal encostavam no chão e já estavam pulando de novo? O pior é que não era saltos propriamente ditos, eram pulinhos mesmo. Eu tentei fazer uma cara séria, pois não gostaria que ninguém risse durante a minha própria apresentação, o que me tirava o direito de rir “delas”. No geral a dança estava entretendo o público e eu teria assistido até o final se a minha melhor amiga não tivesse me puxado para fora do círculo, sem nem me avisar. Eu quase tropecei no meu vestido, mas consegui driblar as pessoas que apareciam no meu caminho.
- Pra onde estamos indo? – A segui sem reclamar, mas queria saber o nosso destino.
- Eu preciso de uma bebida! – Continuou segurando a minha mão até chegarmos em uma mesa comprida onde alguns comes e bebes estavam arrumados.
- Essa festa não vai ter álcool, %Abi%. – Peguei um copo branco de plástico e me servi com um pouco de ponche. – Ainda estamos um espaço acadêmico.
- Eu sei disso, bobinha. – Piscou e também colocou um pouco de ponche no próprio copo. Em seguida tirou um frasco prata da bolsa e o abriu. – Por isso trouxe de casa.
- Não acredito nisso! – Ri ao ver ela despejar o líquido transparente dentro do copo e misturar. – Mas até que explica o seu comportamento.
- Você acha mesmo que eu iria passar por essa chatice sem alguma bebida mais encorajadora? – Tentou colocar bebida no meu copo, mas eu a impedi. – Não quer?
- Não posso beber antes da dança. – Dei um gole no meu ponche de groselha. – E a festa não está tão chata assim...
Olhei em volta... Tá, poderia estar um pouco paradona e tudo mais, principalmente quando a primeira apresentação acabou. E não era uma balada com jogos de luz e máquinas de fumaça, além de estarmos sendo constantemente vigiados pelos professores e por “Agnes, A Megera”. Mas pelo menos estávamos entre amigos e o ponche estava maravilhoso, sem falar que eu estava usando o vestido mais caro que já tinha visto e ele era completamente lindo. Antes que a banda pudesse voltar a tocar suas músicas, um senhor baixinho subiu ao palco e pegou o microfone. Eu sabia que ele também era um diretor, mas raramente o via pela Academy, já que a parceira dele era quem comandava tudo. Pelo que eu me lembrava da primeira reunião no auditório, ele era muito querido pelos alunos. Tirei %Abi% de perto da mesa de bebidas para que pudéssemos ter uma visão melhor do palco e consequentemente escutar o diretor.
- Boa noite, meus queridos alunos! – Começou o discurso.
- Boa noite! – Todos responderam; inclusive eu.
- Foi com essa belíssima apresentação que eu tenho a honra de dar início ao Baile de Inverno da London Royal Academy! – Abriu os braços como se nos desse as boas vindas e sorriu daquele jeito que eu já sabia que ele fazia. – Mas vamos agitar um pouco as coisas, sim? Toby, é com você!
- Muito obrigado, Gavin! – Assim que o diretor se afastou, o tal Toby tomou o microfone e começou a falar com a gente. – Estão todos prontos pra dançar MUITO? Não quero ver ninguém parado!
Assim que o vocalista terminou de falar, a batida da nova música começou e é claro que eu a conhecia. The Ready Set não era lá uma banda muito conhecida pela Europa, por isso eu fiquei surpresa assim que “Give Me Your Hand” começou a tocar no volume máximo. Eu amava aquela música e era impossível escutá-la sem pelo menos me mover no mesmo lugar. Aproveitando que estávamos em uma festa mesmo, virei a minha bebida e esvaziei o copo. Coloquei-o em cima da mesa mais próxima de mim e me virei pra %Abi%.
- Vamos dançar? Eu amo essa música! – Bati palmas silenciosas e a olhei pidona.
- Tudo bem... Mas eu vou levar a minha bebida.
É claro que %Abi% acabaria concordando comigo, mas mesmo se não quisesse dançar, eu iria sozinha. Isso nunca foi um problema pra mim, porém fiquei feliz em ter uma companhia, já que Zayn e Niall tinham nos abandonado. Nos infiltramos na pista de dança e eu fiz questão de chegar o mais perto do palco que consegui. %Abigail% não entendia porque nós não podíamos ficar onde estava mais vazio, mas eu precisava ficar próxima das caixas de som.
Já comecei jogando os braços pra cima e pulando enquanto dava uma voltinha sem sair do lugar. Uma espécie de “uhul” escapou pelos meus lábios, mas a música estava alta demais pra eu ser escutada. Minha amiga estava mais preocupada com o seu copo do que comigo, por isso rolei os olhos com uma risada e a deixei pra lá. Ao menos ela ainda não estava caindo e nem falando besteira. A pista estava bem mais cheia do que antes e eu comecei a retirar o que dissera; a festa não estava chata coisa nenhuma! Claro que eu iria preferir estar ao lado do meu namorado, mas não deixaria aquilo atrapalhar a minha diversão. Eu segurei o meu vestido um pouco acima do tornozelo só pra poder ter um pouco mais de liberdade. Me mexi de um lado pra o outro no ritmo da musica e pulei mesmo estando de salto. Olhei mais uma vez para o vocalista, que viu o quanto eu estava me divertindo e gostando daquela música. Ele então se ajoelhou no palco bem na minha frente e eu prestei atenção nele sem parar de dançar.
- She said: “I love this song! I’ve heard it before.” Give me your hand! (Ela disse: “Eu amo essa música! Eu já a escutei antes.” Me dê a sua mão!) – Cantou olhando diretamente nos meus olhos e esticou a mão para que eu entregasse a minha. É claro que eu não perdi tempo e segurei a mão dele.
- This is the best song ever! (Essa é a melhor música de todos os tempos!)– Também cantei e ele sorriu. Beijou as costas da minha mão e se afastou para continuar a apresentação.
- OH MY GOD! – %Abi% me abraçou de lado e teve que me gritar pra ser ouvida. – ELE É TÃO FOFO!
- É SIM! – Concordei com uma gargalhada e a puxei para dançar comigo. Não sei onde tinha largado o seu copo, mas já estava sem ele.
- ME APRESENTA? – Perguntou com uma expressão engraçada no rosto.
- VOCÊ TEM NAMORADO! – Acabei com os sonhos da minha amiga, que fez bico.
- MAS CADÊ ELE?
- BEM ALI! – Apontei para os dois meninos que atravessavam a multidão para chegarem perto de nós.
- Finalmente eu te achei! – Zayn me abraçou e sussurrou na minha orelha.
- Você demorou! – Fiz um biquinho e o toquei na nuca.
- Desculpa, baby. – Deixou um selinho no meu bico, me fazendo sorrir. – Dança comigo?
- Achei que você não dançava! – Ri, mas aceitei.
A nova música começou a tocar assim que a primeira acabou. Aquela banda tinha uma playlist realmente muito boa e não queriam deixar o ritmo cair. Cada vez mais pessoas se juntavam na pista, gritando, dançando e cantando. Se quem dança os males espanta, eu já não tinha mais “male” nenhum. Ou seria “quem canta”? Tudo que eu menos queria é fazer sentido, por isso só prestei atenção em Zayn, já que ele começou uma dança louca e desengonçada. Eu não o parei e até mesmo me juntei ao garoto. Quando fomos perceber, estávamos fazendo os passos da macarena e rindo como dois idiotas. %Abi% e Niall não estavam muito diferentes de nós.
Dei uma voltinha e Zayn me puxou pela cintura, colando o corpo nas minhas costas. Eu aproveitei essa posição para inclinar o pescoço em um tipo de convite que ele logo aceitou. Senti seus lábios não tão delicadamente tocando o meu ombro e fechei os olhos. O menino os arrastou e me segurou pela lateral do meu quadril, que eu fiz questão de colar no dele. Passei um braço para trás, segurando-o pelos cabelos e puxei ali. Zayn revidou e me mordeu na curva entre o meu pescoço e ombro. Eu reclamei, mas sorri e o olhei. Não perdemos tempo e rapidamente eu já estava virada de frente para o moreno mais uma vez. O puxei pela gravata e juntei as nossas bocas. Não sei se era por causa da música, da minha animação, da vibe ou por Zayn ter ficado tão sexy de terno, mas eu precisava dos lábios dele nos meus. O beijei com urgência e ele me deixou comandar por algum tempo, porém logo me segurou com firmeza pela nuca e praticamente me mostrou “quem é que manda”. Preciso dizer que adorei aquela atitude? Óbvio que não. Apenas me deixei levar e sorri entre o beijo, ainda segurando-o pelo tecido da gravata.
- Zayn, temos que ir... – Escutei a voz de Niall bem perto de nós, mas não quis soltar o meu namorado. – Depois vocês se agarram mais...
- %Tah%, deixa eles irem. – %Abi% também me apressou e eu não tive outra escolha a não ser soltá-lo.
- Já está na hora? – Zayn perguntou para o amigo, mas não tirou os olhos de mim.
- Sim, somos os próximos...
- Não demora... – Sussurrei nos lábios de Zayn, mas o deixei ir.
- Quer assistir do backstage? – Me deu um último beijo.
- Quero assistir daqui, bem perto do palco! – Sorri e senti um frio na barriga.
Os meninos se foram e eu abracei %Abi%. Acho que estava mais ansiosa em ver os nossos meninos se apresentando do em eu mesma me apresentar. As borboletas ficaram loucas no meu estômago e eu não parava de sorrir. Seria a primeira vez que eu os veria apresentando uma música original e ainda mais em cima de um palco, com várias pessoas assistindo e uma banda atrás. A ruiva ao meu lado me olhava como se fosse desmaiar e devia estar passando pelo mesmo que eu. A banda que estava animando a festa parou de tocar e foram saindo pela lateral, fazendo todos pararem de dançar e prestar atenção no que estava acontecendo.
Apertei a mão de %Abi% entre as minhas em uma tentativa de fazer o nervosismo diminuir, mas não parecia dar certo. Logo, logo eu estaria começando a suar frio e isso não era nada bom. Um movimento começou a surgir nas cortinas do backstage e um menino baixinho entrou e se dirigiu até a bateria. Eu acenei para Josh enquanto alguns gritos já começaram a ser ouvidos. O baixista e um guitarrista também entraram e %Abi% se soltou de mim, reclamando que eu estava quebrando os dedos dela. Amiga ingrata, isso sim! De repente os meninos entraram correndo no palco, um vindo de cada lado e pararam bem na nossa frente com seus microfones. A plateia foi a loucura, mas ninguém gritou mais alto que eu.
- London Royal Academy, vocês estão prontos? – Niall foi o primeiro a gritar.
- SIM! – Respondemos em uníssono.
- Você acha que eles estão prontos, Nialler? – Zayn provocou e me olhou com um sorriso. – Então vamos lá! Nós escrevemos essa música para duas garotas essenciais nas nossas vidas... E ela se chama...
- One Thing! – Niall o interrompeu e a guitarra começou a tocar.
I've tried playing it cool.
(Eu tentei ficar calmo)
But, when I'm looking at you…
(Mas quando eu estou olhando pra você..)
I can't ever be brave.
(Eu nunca consigo ser corajoso)
'Cause you make my heart race.
(Porque você faz o meu coração acelerar) Zayn foi o primeiro a cantar e olhou diretamente pra mim quando o fez. Além de dedicar aquela música a mim, ele ainda tinha que me olhar daquele jeito? Devia estar querendo me fazer ter um ataque do coração. Eu não parava de sorrir poderia rasgar o rosto a qualquer momento. As outras pessoas que estavam a nossa volta também pareciam estar gostando, pois gritavam sempre e batiam palmas. Era possível sentir certos olhares de inveja caindo sobre mim, mas eu não iria prestar atenção nisso. Não quando o namorado mais perfeito do mundo estava cantando pra mim.
Shot me out of the sky.
(Me fez cair do céu)
You are my kryptonite.
(Você é a minha kryptonita)
You keep making me weak, yeah.
(Você continua me deixando fraco, yeah)
Frozen and can't breathe.
(Congelado e sem conseguir respirar) A bateria se juntou aos outros instrumentos e deu um novo nível a música. Sem falar que foi a vez de Niall cantar e %Abi% soltou vários beijos na direção dele, que sorriu todo bobo e piscou. Enquanto Zayn não tinha que cantar, ele ficava fazendo passinhos de dança sem sair do lugar e balançava a cabeça no ritmo da música. Tive um momento de fangirl e gritei: “Zayn lindo!” E claro que eu ri de mim e o garoto fez o mesmo. Ele estava feliz e eu também. Na verdade, os dois estavam muito felizes e acenavam para a plateia.
Some things gotta give now…
(Alguém terá que ceder agora…)
'Cause I'm dying just to make you see…
(Porque eu estou morrendo só pr ate fazer enchergar…)
That I need you here with me now…
(Que eu preciso de você comigo agora…)
'Cause you've got that one thing!
(Porque você tem aquela uma coisa) Cantaram juntos e se entreolharam com um sorrisinho lindo no rosto de cada um. Eles estavam orgulhosos de si mesmos e eu estava orgulhosa dos dois também. Não sei como essas coisas funcionam no mundo da música, mas devia ser maravilhoso você escrever uma música e receber um feedback positivo como o que eles estavam recebendo naquele momento. Comecei a dançar e balançar os braços, ainda sorrindo muito.
So, get out, get out, get out of my head.
(Então saia, saia, saia da minha cabeça)
And fall into my arms instead.
(E caia nos meus braços ao invés disso)
I don't, I don't, don't know what it is.
(Eu não, eu não sei o que é)
But I need that one thing and…
(Mas eu preciso de uma coisa)
You've got that one thing!
(E você tem essa “uma coisa”) O refrão começou e foi quando os meninos soltaram o microfone do pedestal e começaram a correr pelo palco. É claro que a plateia foi à loucura e nos aproximamos ainda mais. Tenho que dizer que os dois possuíam uma presença de palco que muitos artistas famosos invejariam. Eles acenavam, pulavam e interagiam com todos que conseguiam. Dei uma rápida olhada em volta e podia jurar que vi Agnes sorrir discretamente pela primeira vez na vida. Devia estar se gabando por dentro e pensando o quanto ela era boa por comandar a escola em que aqueles meninos talentosos estudavam. Voltei a minha atenção para o meu namorado a tempo de vê-lo assoprar um beijo na minha direção.
Now I'm climbing the walls.
(Agora estou subindo pelas paredes)
But you don't notice at all.
(Mas você nem nota)
That I'm going out of my mind.
(Eu estou perdendo a cabeça)
All day and all night…
(O dia inteiro e a note inteira) Niall teve o seu solo mais uma vez e começou a andar em direção ao centro do palco novamente, já que ele estava na ponta esquerda e Zayn na direita. Olhei para a namorada dele e vi que ela estava fazendo um coração com as mãos. “Esse é o meu Nialler!” Ela gritava para as meninas que tentavam chamar a atenção dele. Eu não duvidava que ela pudesse atacar qualquer uma delas só por causa de ciúmes; ainda mais com o nível de álcool que corria em seu sangue.
Some things gotta give now.
(Alguém tem que ceder agora)
'Cause I'm dying just to know your name.
(Porque estou morrendo só pra saber o seu nome)
And I need you here with me now…
(E eu preciso de você comigo agora…)
'Cause you've got that one thing!
(Porque você tem aquela “uma cosa”) Os instrumentos pararam de tocar e os cantores começaram a bater palmas no ritmo correto. Não demorou muito e todos estavam imitando-os, principalmente eu, e o som percorreu todo o salão. Minha parte preferida em shows sempre foi aquela em que a plateia tinha uma chance de participar da apresentação e foi bem isso o que aconteceu. Era possível sentir o calor humano, se por assim dizer. Os olhos de Zayn até brilharam quando ele e Niall cantaram juntos e só a multidão que os assistia dava a melodia necessária. O loiro trocou de lado e foi para a direita enquanto o outro voltou para seu lugar de origem e conectou o olhar ao meu.
So, get out, get out, get out of my head…
(Então saia, saia, saia da minha cabeça)
And fall into my arms instead.
(E caia nos meus braços ao invés disso)
I don't, I don't, don't know what it is…
(Eu não, eu não, eu não sei o que é…)
But I need that one thing and you’ve got that one thing.
(Mas eu preciso dessa “uma coisa” e você tem essa “uma coisa) O ultimo solo de Zayn deve ter sido o melhor de todos. Apenas a guitarra o acompanhou com poucos acordes e ele apontou pra mim durante cada palavra de cada frase, inclinado na minha direção e não deixando dúvidas que aquela música era pra mim. O lugar ao nosso redor ficou em silêncio e eu sorri pela centésima vez. Pode ser meio brega o que eu vou falar agora, mas passarinhos deveriam ter inveja da voz daquele garoto, pois era algo de outro mundo. Eu tinha muita sorte de tê-lo pra mim, de poder dividir minhas felicidades e tristezas e também ser aquela pra quem ele correria ao ter algum problema. Aparentemente eu tinha “uma coisa” que ele precisava, mas nenhum de dois sabia o que era.
A apresentação chegou ao final e Zayn teve que se afastar de mim para receber os aplausos e gritos da plateia. Niall foi de encontro a ele e os dois fizeram uma referencia em agradecimento, nos fazendo aplaudir ainda mais. Infelizmente o show deles tinha acabado e eu desejei que tivesse mais. Na verdade acho que todos queriam mais, pois as reclamações foram muitas quando a banda deixou os instrumentos de lado e se prepararam pra deixar o palco. Mas eu sabia que não seria a última vez que os veria sob os holofotes... Não mesmo. Aquela noite só tinha me dado mais vontade ainda de seguir com o plano.
Ao invés de também irem para o backstage, a dupla saltou do palco e correu ao nosso encontro. Mesmo que muitos tentassem parabenizar os meninos, nenhum deles pareceu dar muita atenção. %Abi% agarrou o namorado ali mesmo e eu a imitei. Porém, enquanto os dois se comeram na pista de dança, eu apenas abracei Zayn pelo pescoço com força. Ele me envolveu pela cintura e me levantou do chão, rodopiando com o rosto escondido no meu pescoço. A felicidade dele era óbvia e isso encheu o meu coração apaixonado.
- Baby, você foi incrível! – Falei enquanto ainda girávamos.
- Você gostou da música? – Me colocou no chão e encostou a testa na minha.
- Eu amei! Cada pedacinho.
+++ “Como eu vou superar isso?!” Era a única coisa que se passava pela minha mente após assistir a apresentação solo de Brigitte. Eu podia não gostar da garota, mas tinha que concordar que ela era uma dançarina de mão cheia. Sua interpretação do Lago dos Cisnes foi impecável, mesmo eu achando que a escolha do tema tenha sido um tanto clichê. De uma forma ou de outra, eu me senti terrível e fui até uma mesa mais afastada fiquei ali até que alguém sentisse a minha falta. O que aconteceu bem mais rápido do que eu gostaria. %Abi% se sentou na cadeira em frente à minha e Zayn ocupou a que estava ao lado da minha. Como eu estava com a cabeça escondida em meus braços em cima da mesa, não pude olhar pra ele, mas sabia que estava preocupado. Talvez sem saber a razão para a minha tristeza/ansiedade, mas sabia que havia algo errado.
- %Tah%... – Tocou o meu braço com a ponta dos dedos. – Não fica assim. Eu sei que você vai ser perfeita...
- Você viu a apresentação dela? – Levantei o rosto.
- Vi. Mas e daí? – Deu de ombros. – Eu sei que a sua vai ser melhor que todas. Até melhor que a minha, o que é bem difícil de acontecer.
- Tem certeza? – Perguntei nem um pouco convencida daquilo.
- Claro que eu tenho! Você não viu como eu estava gostoso em cima daquele palco? – Não era disso o que eu estava falando, mas ele me fez rir de qualquer jeito.
- Só você mesmo, Malik. – Balancei a cabeça e o puxei pela gravata novamente, juntando nossos lábios demoradamente. – Aliás, você devia usar gravatas mais vezes, porque eu adorei te puxar assim.
- Vai acabar me enforcando! – Reclamou, mas sorriu. – Vem, nós vamos dançar.
- Até que pra alguém que não dança você está bem animado. – Disse assim que ele se levantou e esticou a mão pra mim.
- Vem logo, %Star%! – Falou impaciente e me puxou pela mão. – Vocês dois vem?
%Abi% negou com a cabeça enquanto tirava os sapatos e os empurrava pra baixo da mesa. Niall tinha um prato de docinhos nas mãos e parecia um hamster ao encher as bochechas de comida. Aproveitei que os dois ficariam ali mesmo e dei a minha bolsa para a ruiva tomar conta. Ela não se importou nada e acenou quando eu e Zayn nos distanciamos. A pista de dança estava mais vazia que nunca, pois a maioria das pessoas estava se alimentando ou bebendo daquele ponche que realmente estava bom. Acho que foi pela falta de audiência que a banda agora tocava uma música lenta para embalar os casais que dançavam juntos.
Slow Dancing in a Burnig Room – John Mayer era a música da vez. A balada era calma e contagiante ao mesmo tempo. Zayn fez uma reverência assim que chegamos ao meio do salão e eu fiz o mesmo; segurando as laterais do meu vestido e curvando levemente. Ambos sorrimos e ele estendeu a mão direita. Eu logo a segurei e ele me guiou para perto de seu corpo. Pousei as mãos em seus ombros e o menino me envolveu pela cintura. Balançamos de um lado para o outro, namorando os olhos um do outro. Na última vez em que dançamos assim, apenas o céu e as estrelas foram nossas testemunhas, mas mesmo estando entre tantas outras pessoas era como se nada tivesse mudado. Éramos embalados pela melodia calma e batimentos dos nossos corações. Zayn encostou a lateral do rosto no meu, me fazendo fechar os olhos.
Eu fiquei em paz, daquele jeito que só ele conseguia me deixar. Zayn devia ter me chamado pra dançar justamente porque sabia que conseguiria me acalmar e me preparar para a minha apresentação que seria a próxima. Eu sabia que ele se preocupava comigo e que acreditava em mim. No fundo eu também acreditava em mim, mas o nervosismo conseguia superar tudo. E eu queria deixá-lo orgulhoso da mesma forma que ele me deixou ao se apresentar. Mesmo sabendo que eu estaria dançando com Nicholas, um menino que não o agradava nada, queria que ele gostasse do que iria ver. Minha respiração se confundiu com a dele assim que nossas testas se encostaram. Eu podia sentir o seu hálito batendo sob os meus lábios, mas não nos beijamos. Era o suficiente apenas estarmos juntos e nos movendo pelo salão.
- Não quero atrapalhar vocês... – Pensando no diabo...
- Hey, Nick. – Sorri pra ele sem mostrar os dentes e Zayn me abraçou um pouco mais de forma protetora.
- Temos que ir trocar de roupa. – Eu tinha medo que ele falasse isso.
- Tá bem... – Devo ter ficado branca na mesma hora e comecei a tremer. – Baby... E-Eu vou indo...
- %Tah%, respira fundo. – Acariciou a lateral do meu rosto e sorriu encorajador. – Eu te vejo daqui a pouco, sim?
- Uhum. – Concordei e respirei fundo três vezes.
- Cuide da minha garota, Nick. – Pediu e sorriu para o meu parceiro.
Foi a minha vez de beijar o meu namorado antes de seguir o meu próprio caminho. Diferente do que eu achava, não era no backstage que nós nos trocaríamos. Nick me informou que havia uma sala onde apenas os dançarinos usariam. Como éramos os últimos, a sala estaria vazia, o que me agradou muito. Saímos do salão de baile e subimos as mesmas escadas que Zayn e eu usamos para entrar lá. Ninguém falou coisa alguma, pois até ele pareceu estar se concentrando. Não havia motivo para pânico e eu tinha certeza que me sentiria bem a vontade assim que a minha música começasse a tocar. Um pouquinho de TPA (tensão pré apresentação) é sempre normal.
Em cinco minutos entramos na primeira sala à esquerda e ela estava realmente vazia como eu suspeitava. Logo encontrei a minha mochila em um canto e uma outra que deveria pertencer à Nick. Ele foi logo desatando a gravata borboleta e tirando paletó, deixando-os em uma cadeira. Foi então que algo me ocorreu... Nós teríamos que trocar de roupas juntos.
- Você quer que eu espere você se arrumar e aí eu volto? – Perguntei sem querer olhá-lo se despir.
- Não dá tempo, %Tah%. Temos que nos trocar agora mesmo. – Me olhou por cima do ombro, já que estava de costas pra mim. – Eu prometo que não vou espiar.
- Aham, sei! – Ri nervosa e tive que aceitar. – Pelo menos abre aqui pra mim?
- Claro... – O menino se aproximou de mim com a camisa social desabotoada e eu me impedi de olhá-lo mais do que devia. É claro que ele estava sorrindo, mas pelo menos abriu o zíper do meu vestido até o final.
- Obrigada. – Segurei a parte de cima para que o meu vestido não deslizasse pelo meu corpo e Nicholas acabasse vendo o que não devia.
O garoto voltou para o próprio lugar e eu dei uma última checada pra ver se ele realmente não estava espiando. Em seguida eu tive que agir rápido. Como não estava de sutiã, tirei o vestido e os sapatos, ficando apenas de calcinha. Não foi uma sensação nada agradável, porém eu devia ser profissional e encarar mais aquele desafio. Também tirei meu anel, bracelete, colar e brincos, deixando tudo em cima da mesa com cuidado. Puxei a minha mochila e cacei a meia calça fina. Eu preferia vesti-la sentada, mas não me atreveria a virar para o outro lado e pedir emprestada a cadeira que Nicholas usava de cabide. Posso ter demorado mais que o normal pra fazer tal coisa, mas consegui subir a meia até a minha cintura. Em seguida, vesti o meu collant rosa e joguei o meu vestido por cima dele, me sentindo bem melhor estando vestida.
Pude finalmente me virar e notei que o garoto já estava pronto e me observada, usando um macacão bege bem colado ao corpo e sapatilhas masculinas. Eu não sabia há quanto tempo ele estava me olhando, mas o conhecia bastante pra saber que fazia certo tempo sim. O reprovei com o olhar e me ocupei em calçar as minhas sapatilhas, checando duas vezes só pra ter certeza que estavam bem presas. Subi e desci da ponta para me alongar e fiz alguns pliés enquanto prendia a minha franja para trás. Também dei uma reforçada no blush só pra que ficasse mais visível e Nick bufou impaciente.
- Podemos ir? – Cruzou os braços.
- Só falta uma coisa que eu gostaria de te falar... – Dei um meio sorriso e caminhei até ele, segurando suas mãos. – Eu não sei se vamos ter outra oportunidade como essa, Nick, por isso gostaria de te dizer que foi muito bom trabalhar e dançar com você. Nós tivemos nossos estranhamentos algumas vezes, mas isso faz parte, né?
- É verdade... Eu também gostei muito, parceira. – Ele sorriu. – Mais uma coisa... Se você não quiser fazer aquele salto, não faça. Pode mudar a coreografia e eu te acompanho.
- Obrigada, Nick. – O abracei por impulso e fui correspondida. – Merde!
Como no mundo das artes desejar boa sorte não é bom, nós nos xingamos com carinho e estávamos prontos pra ir. Bem na hora, Holly apareceu na porta para nos chamar, dizendo que trancaria a sala até a nossa volta. Fiquei bem mais tranquila com aquela noticia e fui a primeira a sair, deixando os dois se despedirem sozinhos. Desci os degraus da escada de dois em dois, com um pouco de pressa para voltar ao salão. Assim que voltei para o baile, algumas pessoas acenaram pra mim. Não sei se era por educação, ou se realmente me conheciam, mas eu não fazia ideia de quem fossem. Me perguntei para onde deveria ir em seguida e desejei ter esperado Holly e Nick, mas já era tarde demais.
- Precisa de ajuda pra se achar? – Ed chegou ao meu lado, sorrindo com suas sardas e esticando o braço na minha direção.
- Desesperadamente! – Sorri e passei o braço pelo dele. – Você ainda vai tocar, né?
- Claro que sim! – Afirmou e começamos a andar pela lateral do salão. – Vocês já foram anunciados, então não vai demorar muito... Eu já falei com o Nick, mas você ainda não sabe. As luzes vão se apagar completamente e você vai entrar pelo meio da pista de dança. Só um foco vai estar em você... E aí o espetáculo começa, ok?
Eu apenas respondi com um aceno de cabeça, pois voz nenhuma quis sair da minha garganta. Ed beijou a minha mão e foi até a porta que levaria ao backstage. Um piano de cauda fora posto no centro do palco e era pr’ali que o ruivo deveria ir. Eu respirei fundo mais algumas vezes, me concentrando e girando o pescoço de um lado para o outro. O circulo já havia se formado ao redor da pista de dança e eu procurei algum rosto conhecido, mas falhei em encontrar algum. Nick estava do outro lado e acenava pra mim. Eu gostaria de estar tão calma quanto ele, mas estava fazendo o meu melhor.
Assim como Ed havia me informado, as luzes se apagaram de uma vez e eu quase não consegui ver nada. O murmúrio foi geral e pessoas que não sabiam o que estava acontecendo ficaram um pouco assustadas. Eu segui a minha deixa e passei por um espaço livre, fazendo de tudo para não bater em ninguém e obtive sucesso ao me posicionar no centro da pista e me preparar. Meus pés ficaram em primeira posição e tanto os meus braços quanto o meu rosto estavam voltados para baixo. O canhão de luz foi focalizado apenas em mim e eu senti que era o centro das atenções. O professor ruivo não demorou muito para começar a tocar e fazer todo o meu nervosismo desaparecer. Subi nas pontas dos pés e comecei a me mover com leveza, arrastando um pé após o outro e levantando os meus braços até acima da minha cabeça em um circulo perfeito. Em seguida, abri os braços pela lateral do meu corpo, abaixando-os devagar. Meu rosto também levantou e eu olhei para frente, elevando o queixo. Não quis olhar pra ninguém, evitando qualquer distração. Minhas pernas se mantiveram perfeitamente alongadas e eu não toquei o chão com a parte de trás dos meus pés em momento algum.
A melodia se tornou um pouco de nada mais rápida e eu me virei para trás, observando Nick finalmente aparecer e outro canhão de luz ser focado apenas nele. Eu dei um passo em sua direção, mas ao invés de continuar, parei apoiada na perna direita e estendi a esquerda para trás, formando um ângulo de noventa graus perfeito. Estiquei o braço direito na direção do rapaz e deixei o outro um pouco mais atrás. Nick dançou até onde eu estava e segurou a minha mão, encostando um joelho no chão e dobrando a outra perna. Com esse movimento, ele me fez abaixar e o que antes era uma meia abertura se tornou uma completa com 180º. Nós queríamos contar uma história, por isso nossas expressões faciais faziam parte da apresentação. Nenhum de nós sorria, mas nossos olhos se comunicavam. Eu tentava demonstrar pureza e ele parecia querer adentrá-la. Em um movimento rápido, Nick levantou ainda segurando a minha mão. Consequentemente eu também levantei e voltei a ficar com o tronco ereto, aproveitando o embalo para dar um giro sobre a ponta direita antes de encostar o outro pé no chão.
Nicholas se moveu com pressa e segurou nos dois lados da minha cintura. Quando um dos pés dele se movia, o meu fazia o mesmo. Seguimos essa dança com movimentos iguais até que o tempo da música voltou a mudar se tornou mais um pouco agitado. A única diferença entre nós dois era que enquanto ele procurava o meu olhar, eu fugia do dele. Em determinado ponto, meu parceiro me levantou para o alto e eu mexi os braços como se fossem asas e eu estivesse voando. Na mesma velocidade em que me levantou, me colocou no chão e repetiu o ato por mais três vezes exatas enquanto dava uma volta completa. Quando eu estava no chão mantinha meus braços próximos ao meu corpo, mas ao estar no alto, os abria completamente. Era como se eu tivesse asas, mas só conseguisse voar com a ajuda daquele ser que era Nick.
Nos separamos mais uma vez e eu dancei para longe dele, sem nunca descer da ponta. Meus pés já estavam doendo, mas eu ignorei aquilo com meu melhor suspiro. Tentei voltar a “voar” movendo os braços com leveza para cima e para baixo, mas nada parecia dar certo. Eu realmente precisava da ajuda... Dele. Rodopiei sem sair do lugar até parar de frente para o homem que me esperava com os braços abertos. Ele também precisava de mim. A próxima mudança de ritmo ocorreu e me preparei para aquela parte que tanto me preocupava: O salto. Ainda não estava tão certa do que faria, mas saberia quando estivesse no ar. Dei os primeiros passos na direção do outro, já pegando impulso no chão e é claro que para isso eu precisei pisar com o pé inteiro. Em segundos eu já estava no ar continuava ganhando altura. Rodopiei uma vez e, antes de voltar ao chão, consegui estender as pernas perfeitamente; uma para frente e uma para trás. Meus braços muito disciplinados se mexeram com agilidade e me ganharam equilíbrio. Aquele salto era muito difícil de fazer, justamente por requerer força e agilidade. Por algum motivo eu estivera com medo de realizá-lo, mas acabei conseguindo. A plateia que nos assistia fez um “ohhhh” em conjunto e alguns até bateram palmas.
Antes que eu pousasse completamente, Nick me segurou pela cintura e me levantou. Em menos de um segundo me fez girar de frente para o teto e me segurou com apenas uma mão bem espalmada das minhas costas. Arqueei as costas de forma que eu ficasse quase dobrada ao meio e joguei a cabeça para trás, de olhos fechados (algo chamado “the perfect lift”). Uma coisa que eu não estava esperando e que ninguém havia me avisado aconteceu: milhares de pequenas bolinhas brancas começaram a cair do teto, lembrando mesmo flocos de neve. Mais uma vez a plateia foi à loucura e eu me senti muito bem por dentro. Aos poucos Nicholas foi me abaixando e eu escorreguei pelo seu corpo. Mesmo quando meus pés tocaram o chão, eu continuei descendo até estar sentada no piso gelado. Meus braços, porém, continuaram apontando para cima e isso facilitou a hora em que Nick segurou as minhas mãos e me fez levantar como se eu fosse uma boneca bem leve e rodopiar até estar de frente pra ele novamente.
Encaixei minha mão na dele e apoiei a outra em seu ombro. Ele segurou a minha cintura e começamos a valsar pelo salão. Meu vestido leve ia até o joelho e esvoaçava na medida em que nós dois nos movíamos. Olhei para o meu parceiro e ele sorriu pra mim discretamente, querendo dizer: “Eu sabia que você conseguiria.” Tive que sorrir de volta. Nick aumentou a firmeza de seu aperto em minhas costelas e eu fiz o mesmo em onde o tocava. Durante uma volta da nossa valsa, eu levantei a perna direita e a estiquei para frente, dobrando bem a outra e também a levantei. Eu estava flutuando entre aquela “neve” que não parava de cair e o meu parceiro continuou a nossa dança, como se eu fosse tão leve quanto uma pluma.
A parte final da música começou e o ritmo ficou mais lento; quase como no começo. Isso me fez voltar a tocar o chão e Nicholas parar o que estava fazendo. Voltei a subir na ponta e dei uma pirueta enquanto o outro ainda segurava a minha mão. Nos segundos finais, ele me puxou para perto, interrompendo meu giro, e eu me “joguei” para a nossa lateral, fazendo-o inclinar o corpo na minha direção e quase me fazer encostar no chão. Ed parou de tocar e o aplauso foi geral. Assobios e gritinhos emocionados também encheram o salão. Os flocos brancos começavam a parar de cair e eu já pude sorrir assim que Nick voltou a me levantar e me abraçou.
A nossa apresentação havia sido perfeita e eu sabia disso; todos sabiam. Me soltei do meu parceiro e muitas outras pessoas vieram me abraçar e me parabenizar. Eu agradeci a cada um, mas estava procurando alguém especial. Nick também foi ocupado por pessoas, por isso eu consegui dar uma escapada até avistar Zayn; que também tentava chegar até mim. %Abi% resolveu colocar ordem naquela bagunça e gritou: “NAMORADO PASSANDO. SAI DA FRENTE.” Eu ri daquele exagero, mas pelo menos deu certo. Um caminho de pessoas assustadas se abriu e Zayn pode correr ao meu encontro. Me joguei nos braços dele nos abraçamos.
- Eu não fazia ideia que você dançava assim, %Tah%! Eu sabia que você dança bem, claro... Mas isso foi surreal! – Ele parecia bem animado e eu estava radiante.
- Foi bom mesmo, né? – Dei um pulinho sem sair do lugar.
- Fiquei até com inveja! – %Abi% veio me abraçar também e eu a apertei contra mim.
- Se você se esforçasse, poderia dançar como eu. – Ri e a soltei, partindo para abraçar meu amigo irlandês.
- Ninguém pode dançar como você. – Minha amiga continuou puxando saco e eu gostei muito de todos os elogios.
- Parabéns de verdade, %Tah%. Foi épico! – Niall beijou a minha bochecha. – Até a Brigitte ficou de queixo caído.
- Uau! – Alguém falou ao microfone e nos impediu de continuar aquela conversa. – Não consigo pensar em uma forma melhor para encerrar o nosso Baile de Inverno! Muito obrigado por essa apresentação, %Star% e Nicholas!
- O diretor sabe o seu nome! – %Abi% sussurrou como se aquilo fosse grande coisa e eu acenei para o senhor.
- Algo me diz que essa não vai ser a última vez que veremos os dois juntos. – Sorriu como se tivesse uma novidade muito grande pra contar e olhou para Agnes, que estava ao lado dele. – Posso contar agora?
- Vá em frente. – A diretora afirmou sem animação nenhuma.
- Muito bem! – Comemorou e voltou a atenção para nós. – É com muito gosto que eu venho parabenizar e anunciar o nosso Romeu e a nossa Julieta!
- Hã? – Olhei em volta sem entender absolutamente nada. De quem ele estava falando?
- É você, %Tah%! – %Abi% me sacudiu, tentando me fazer acordar do meu estupor. – Você é a Julieta!
- Parabéns, princesa. – Zayn sorriu e beijou a minha bochecha como parabenização.
- Eu? Mas como? Eu nem... Eu... Mas... – Me perdi no meio das palavras. Enquanto eu gostaria de ficar feliz por ter conseguido o papel principal, me senti triste por Zayn não ser o meu Romeu.