Capítulo XXXIX
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“Now I gotta cut loose, footloose. Kick off your Sunday shoes.” A música tema do filme Footloose tocava em um volume relativamente alto no aparelho de som do meu quarto e eu cantava internamente enquanto dançava toda desengonçada. Era finalmente o dia em que eu e Liam sairíamos juntos e o meu humor estava ótimo. Era o meu dia livre da Academy, por isso pude dormir até mais tarde e tomar um banho bem demorado após o almoço. “Please, Louise, hold me off of my knees. Jack, get back! Come on before we crack!” Eram quase duas horas da tarde e, segundo Li, esse seria o horário que nós deveríamos sair de casa. Eu também achava que era cedo demais, mas como eu não era a organizadora do nosso passeio, me mantive quieta. As pessoas tem uma mania incrível de não me contar pra onde vão me levar e isso complica bastante na hora de escolher uma roupa, pois eu nunca sei se vou estar preparada ou não. Como o frio havia dado uma maneirada e o meu companheiro para aquele dia já tinha comentado que gosta quando eu deixo as pernas “a mostra” optei por um vestido e mais algumas peças de roupa para me vestir. “Everybody cut, everybody cut. Everybody, everybody cut footloose!”
A música acabou bem a na hora de me deixar escutar o toque do meu celular em cima da cama. Eu não sabia há quanto tempo ele já estava tocando e por isso tive que deixar o closet apressadamente e me jogar em cima do colchão em uma tentativa de agarrar o aparelho. Infelizmente, assim que pulei na cama, o celular acabou sendo arremessado para o chão. “Droga de física!” Pensei enquanto me arrastava para o chão e finalmente consegui pegar o iPhone. “Zayn Malik” estava ligando, segundo a tela de vidro.
- Vas happening? – Finalmente atendi.
- Vas happ... EI! Você roubou a minha frase de efeito! – Reclamou e eu ri.
- Desculpa, baby. Eu não resisti! – Levantei do chão e me sentei na ponta da cama. – Te fiz esperar muito tempo?
- Um pouco... Eu já estava desistindo. Por que demorou?
- Eu estava ouvindo música enquanto me arrumo pra sair, então nem escutei o toque antes. – Apoiei o aparelho entre o meu rosto e ombro, aproveitando para calçar os sapatos.
- Não tem problema, %Tah%. Ainda não sabe pra onde vão?
- Não tenho ideia! – Bufei com curiosidade. – Como foi o dia na Academy hoje?
- Normal... Mas eu senti a sua falta. – O escutei suspirar. – E falei com o Ed hoje, sobre aquele probleminha que você estava preocupada.
- Falou? E o que ele disse?
- Que vai te ajudar! Mas que você não tem escapatória...
- Damn it! – Reclamei, mas já estava um pouco mais conformada com o meu destino. – Por falar nisso, tudo certo pra hoje a noite, né?
- Com certeza! %Abi% falou sobre isso a manhã inteira. Eu estou começando a achar que ela está aprontando algo. – Riu, mas mal sabia ele que era verdade.
- Não deve ser nada, não se preocupe. – Menti. Se %Abigail% não conseguisse se acalmar e disfarçar, nós não conseguiríamos atingir nosso objetivo para aquela noite. – As nove horas estaremos lá!
- Você não quer mesmo que eu vá te buscar, né? – Pareceu triste e eu o imaginei fazendo um bico.
- Não é que eu não queira! Eu só estou tentando ser prática... Todo mundo aqui de casa vai, então não faz sentido você vir até aqui só pra isso. – Expliquei com uma voz manhosa, tentando fazê-lo entender.
- Eu entendo... – Não, não entendia. – O que importa é que eu vou te ver hoje!
- Mas, por favor, só não fique bêbado como da outra vez!
- Até parece que você não gostou de me dar banho! – Gargalhou. – Quem sabe dessa vez eu não possa estar sem roupa, huh?
- Malik! – Senti as bochechas queimarem, mas não deixei de imaginar a cena e considerar aquela proposta.
- O quê? Você pode estar sem roupa também, ué. – Eu quase podia ver o sorriso malicioso nos lábios dele.
- %Tah%, já tá pronta? – Liam entrou no quarto, pois a minha porta estava entreaberta, mas parou assim que me viu no telefone. – Desculpa, eu não sabia que estava ocupada.
- Hey, Li... Já estou pronta sim, só um minuto! – Afastei o celular do rosto pra poder falar com Liam, e logo em seguida voltei a minha atenção para Zayn. – A gente conversa sobre isso mais tarde, Malik.
- Então você vai pensar no assunto? Yay! – Comemorou como uma criancinha e ambos rimos.
- Não foi isso o que eu disse! – Rolei os olhos. – Até depois.
- Se divirta hoje, mas não muito. Até mais tarde, %Tah%.
- Agora estou pronta pra ir! – Encerrei a ligação e me virei para Liam. – Estou vestida apropriadamente para o nosso passeio?
- Está perfeita!
+++ - Aonde você quer ir primeiro? – Liam perguntou assim passamos pelos portões de ferro e paramos em frente a um mapa.
- Eu ainda não acredito que estamos em um Zoológico! – Sorri verdadeiramente animada e corri os olhos pelo tal mapa, tentando decidir qual caminho tomar. – Podemos vir por aqui... Eu quero ver os pinguins!
- Ótima escolha! – Também sorriu e indicou o caminho à nossa direita.
Devo dizer que Liam acertou em cheio a escolha para o nosso passeio. Mesmo que meu irmão pudesse ter ajudado, eu sabia que o mérito de pensar naquele lugar era todo dele. Zoológico, parque de diversões e circo. Minhas três “atrações infantis” preferidas. Deixando de lado os parques aquáticos, claro. Pois em Londres atrações envolvendo água não são muito populares e você já deve imaginar o motivo: Clima. Era a minha primeira vez naquele Zoo depois de anos e tudo parecia bem diferente do que eu conseguia me lembrar. Havia novos bichos, novas atrações, novos ambientes... E tudo muito bem cuidado. Liam e eu caminhamos lado a lado pelo caminho de terra que era rodeado por árvores e vegetação rasteira.
Durante nosso percurso a caminho da “Praia dos Pinguins”, como era chamada, passamos por algumas áreas abertas onde macacos de todos os tipos pulavam e faziam bagunça. Eles ficavam concentrados em uma espécie de ilha artificial rodeada por água, o que os impedia de se aproximarem dos visitantes. Devia ser uma vida um tanto entediante, se pararmos para pensar. Mas pelo menos eles pareciam felizes com seus brinquedos, casinhas e troncos e nunca iriam passar fome. Liam apontou para uma babuíno fêmea que carregava um filhote nas costas e paramos um pouco de andar para observá-los.
- O filhote parece com você. – Ele falou.
- Por quê? – Arregalei os olhos sem conseguir notar nenhuma semelhança entre eu e aquele ser peludo.
- Você sempre está se pendurando nas nossas costas. – Riu e afirmou com convicção.
- Heeeeeeeey! – Tentei pensar em algo que o provasse errado, mas até que era verdade. Terminei dando de ombros e aceitando. – Pelo menos somos fofos! E se eu sou o filhote, você é a mãe.
- E por que isso? – Voltou a caminhar e eu o acompanhei.
- Porque você é protetor... Sempre quer ter certeza que todos a sua volta estão bem e faz de tudo pra nos ajudar. – Falei com um sorriso sincero.
- Então vem cá que eu vou catar seus piolhos! – Passou o braço em volta dos meus ombros e afundou o chapéu que eu usava na minha cabeça.
- Liam! – Fiquei cega por um momento, já que o chapéu cobriu os meus olhos e me desesperei pra me soltar. – Saaaaai!
- Já entendi tudo! Você está usando esse chapéu pra não atrair os macacos! – Gargalhou e correu atrás de mim quando eu comecei a me afastar.
- Cala a boca, Liam! – Acabei rindo também e parei de correr quando consegui colocar o acessório da minha cabeça no lugar certo. – Você tem inveja de mim porque quase não tem cabelo!
- Meu cabelo está crescendo, ok? – Passou a mão pelos cabelos curtos que já começavam a crescer um pouco mais desde o seu último corte.
- Acho que você nunca mais vai cortar tanto, né? – Voltamos a andar lado a lado.
- Não mesmo! Eu já cansei das piadinhas do seu irmão. – Bufou, mas logo sorriu ao olhar pra frente. – Aquilo é um urso?
Liam não esperou uma resposta e muito menos me deu tempo de olhar na direção que ele apontava, pois começou a correr até lá. Na direção oposta também corria um menino de mais ou menos quadro anos de idade e a sua mãe vinha logo atrás, preocupada. Por um momento eu mesma me senti uma mãe e Liam seria o meu filho. Ri ao me imaginar tentando carregar o garoto, mas nós dois acabaríamos caindo no chão. Resolvi também correr e ir até a jaula onde supostamente morava um urso. Eu estava usando um salto alto, mas não era daqueles finos; o que não me fez cair durante o meu percurso até perto do meu amigo.
- Olha só, %Tah%! – Os olhos de Liam brilhavam quando ele me chamou. A única coisa que separava um urso pardo de nós dois era um vidro grosso que não fez eu me sentir segura nem por um segundo.
- Li, você deveria se afastar um pouco... – Fiquei com pelo menos três passos de distância, mas o menino não me deu ouvidos.
- Para de ser medrosa! É seguro, vem. – Esticou a mão na minha direção e o urso se aproximou ainda mais, sentando no chão e colocando as duas patas contra o vidro. – Viu como ele é inofensivo?
- Só você mesmo pra chamar um urso de inofensivo! – Ri e segurei a mão dele, sendo puxada para perto dele e do animal.
- Ele é lindo. – Sorriu enquanto o animal gigante nos observava.
Liam também tocou o vidro, pousando a mão bem onde a pata do urso estava. Diferentemente do que eu achei que fosse acontecer, o animal não se afastou. Ele apenas ficou olhando para o garoto com curiosidade. Aproximou o focinho do vidro em uma tentativa frustrada de cheirá-lo e Li se aproximou mais ainda. Era uma cena divertida de se ver e provavelmente seria única. Sem perder mais tempo, lembrei que estava com a minha câmera fotográfica na bolsa e tratei de tirá-la dali e ligá-la. O menino continuou entretido demais pra perceber quando eu tirei algumas fotos dele e do urso juntos. Só quando eu fui ver o resultado é que ele notou meu momento de paparazzi.
- Olha como essa foto ficou linda. – Passei a câmera para Liam, querendo mostrar a imagem em que ele e o gigante marrom trocavam um olhar intenso e o humano sorria encantado. – Eu adoro fotos espontâneas!
- Adora, é? – Apontou a câmera na minha direção e eu só escutei o clique. Ele riu da minha cara e eu rolei os olhos.
- Assim não, Liam! – Tentei pegar a máquina de volta, mas ele continuou batendo fotos minhas.
Por mais que o outro estivesse se divertindo muito fazendo aquilo, eu não estava gostando nada de ser fotografada tão loucamente. Pela primeira vez me senti como uma pessoa famosa e mesmo cobrindo o meu rosto com as mãos não consegui pará-lo. As fotos deveriam estar ficando horríveis pela forma que Liam ria toda vez que tirava uma nova. Não tive outra escolha a não ser dar as costas pra ele e me afastar. É claro que fui seguida e ele continuou com aquela sessão de fotos. Pessoas a nossa volta até pararam o que estavam fazendo pra nos olhar, imaginando qual celebridade eu deveria ser. Pedi para que Li parasse, mas ele não me deu ouvidos. Mais uma vez eu me vi correndo e tentando escapar dos flashes, chegando a olhar para trás durante a minha corrida e averiguar se ainda estava sendo perseguida.
- Já parei, %Tah%! – Avisou e eu parei de correr.
- Jura? – Levantei uma sobrancelha meio desconfiada.
- Juro! Mas olha como essa foto ficou legal... – Foi a vez dele de me entregar a câmera.
- Deixa eu ver... – Por mais que duvidasse um pouco do que ele estava falando, me deixei levar e olhei para a tela digital. A foto realmente estava muito boa... Foi tirada durante a minha corrida, no momento em que eu olhei pra trás e acabei rindo. Meu cabelo e roupas estavam sendo balançados pelo vento e até a luz parecia apropriada. – Wow!
- Eu sou um fotografo bom ou não? – Sorriu convencido.
- Tenho que concordar, viu? É sim.
- É claro que a modelo ajuda muito. – Piscou.
- Por falar em modelo! – Voltamos a caminhar em frente e Liam rolou os olhos, provavelmente já sabendo aonde eu queria chegar. – Tem noticias da Candice?
- Não tenho e nem quero ter. – Colocou as mãos dentro do bolso da calça e chutou uma pedrinha que estava no caminho.
- Por que não? Ela parecia tão legal! Eu gostava dela. – Minha voz saiu trêmula, denunciando a minha mentira.
- Claro que gostava! As duas eram melhores amigas. – Ironizou e riu da minha cara. – Candice era grudenta demais... Ela pegava intimidade muito rápido.
- Liam... Ninguém teve intimidade mais rápido que nós dois. – Soltei uma risada nasalada e procurei os olhos dele com os meus.
- Mas é diferente, %Tah%. Você... É você. – Me olhou e eu notei o rubor em suas bochechas.
- Você me olha como se eu fosse perfeita... – Foi a minha vez de olhar para o chão. – Eu tenho medo de acabar te decepcionando.
- Isso aí é impossível. – Sorriu com serenidade e tocou o meu ombro com dele, pois estávamos andando realmente próximos. – Mas está certa... Você não é perfeita, porque a perfeição é chata. Você é você e isso é o bastante pra mim.
- Pra mim também. – Pude sorrir um pouco mais aliviada por não estar sendo colocada em um pedestal e deitei a cabeça no ombro de Liam.
Senti que a sua respiração ficou pesada quando eu fiz isso, mas não cheguei a me afastar. Ele passou o braço em volta da minha cintura e seguimos abraçados. Para mim aquilo era uma coisa que eu faria com qualquer amigo, mas sabia que para ele tinha um valor totalmente diferente. Ao mesmo tempo em que eu não queria dar falsas esperanças, não iria mudar o meu comportamento com ele. Em poucos minutos já pudemos ver a Praia dos Pinguins e eu levantei o rosto pra ver melhor. Não nos separamos até estamos próximos o bastante para ver os pinguins que nadavam de um lado para o outro. Como o Zoológico era muito grande, devia ser impossível ficar cheio e muito tumultuado em um lugar só, o que era bem legal e nos dava liberdade pra curtir cada atração com tranquilidade. Ali por perto, por exemplo, não havia ninguém.
Diferente do urso, eu não tive medo de me aproximar do vidro transparente e olhar de perto os bichinhos que nadavam de um lado para o outro. Eles eram tão fofos! Com suas asas próximas ao corpo e cores que pareciam um paletó... Foi impossível não rir do jeito que uns andavam de um lado para o outro. Eu estava tão entretida que nem notei quando um guia do próprio Zoo se aproximou de nós.
- Vocês sabiam que os pinguins andam mais rápido que os humanos? – O homem falou e chamou a nossa atenção.
- Sério? – Fiquei realmente surpresa e tentei imitar o andar dos pinguins. – Mas eles tem os pés tão pequeninos!
- Sério! – Riu da minha imitação e bateu no vidro que os separava da gente. – Dizem que não é permitido bater no vidro, né? Mas os pinguins são criaturas muito curiosas, por isso sempre vem ver o que está acontecendo.
- Eles estão vindo! – Sorri e me abaixei um pouco para ver os três curiosos que se aproximaram. – Oi, amiguinhos!
- Meu nome é Brandon, prazer. – O funcionário apertou a mão de Liam e eu continuei brincando de fazer movimentos para os pinguins assistirem.
- Eu sou o Liam e essa é a %Star%. – Nos apresentou e eu apenas acenei para Brandon.
- Vocês gostam de pinguins? – Perguntou.
- Tá brincando? Eles são tão fofos! – O respondi e Liam concordou com a cabeça.
- Então gostariam de alimentá-los?
Aquela pergunta me surpreendeu e eu afirmei que sim no mesmo instante. Liam também aceitou, mesmo que tenha falado que tinha um pouco de medo dos bicos afiados. Brandon foi muito gentil e simpático, nos chamando para segui-lo. Sem perder tempo, fomos atrás dele até chegarmos a uma área onde era permitida apenas a entrada de funcionários. Eu sempre tive vontade de interagir com animais em um zoológico, mas nunca tive a oportunidade. Bem, não até aquele momento, pelo menos. Entramos em uma sala toda de madeira e o mais velho foi até um freezer e tirou de lá um balde cheio de peixes pequenos.
- Tem algo que a gente precise saber? – Liam estava parado atrás de mim, um pouco tenso. – Como o que não fazer...
- Bem... Vocês não podem olhar diretamente nos olhos deles, ou serão atacados. – Explicou com uma cara séria.
- Bom saber! – Ri e olhei para o meu amigo. – Li, calma... Foi só uma piada.
- Foi sim! Eles são bem amigáveis. – Brandon concordou comigo e abriu uma outra porta que nos levaria até o lado de dentro da ‘praia’. – Vamos?
- Vamos! – Fui a primeira a passar.
Liam e Brandon vieram em seguida, sendo que o primeiro preferiu manter um pouco de distancia no começo. Andamos pela grama verde até chegarmos na areia. Eu não me atrevi a chegar muito perto da água por medo de cair. Algo me dizia que estava muito mais fria do que aparentava. Alguns pinguins nos viram e correram na nossa direção. Eles deveriam saber que aquele balde cinza significava “almoço”. Apesar de pequeninos, os pinguins eram muitos e logo estávamos rodeados por dezenas deles. Liam subiu em uma pedra mais alta quando um bichinho em especial tentou bicar o laço do tênis dele.
- Ahn... Uma ajudinha aqui, por favor? – Chamou.
- Awn. Leeyum fez um amiguinho! – Gargalhei e recebi uma careta em troca.
- Não se preocupe, ele não vai te machucar... – O outro homem afirmou, mas dessa vez nem eu mesma consegui acreditar. – Aqui, %Star%... Pode pegar um peixe.
- Eba! – Sorri e sobrei um pouco as mangas do meu cardigan para não o sujar e peguei um dos peixes pelo rabo. – Olha, Li! Eu vou dar comida pra eles!
- Muito legal, %Tah%. – Sorriu, mas não chegou perto. Aproximei o alimento de um pinguim, mas outro foi mais rápido e roubou da minha mão.
- Que coisa feia! – Peguei outro peixe e dei para aquele que não tinha comido ainda. – Tem pra todo mundo!
- Quer ver algo legal? – Brandon voltou para o meu lado e eu nem havia percebido que ele tinha saído.
- Quero sim... – Prestei atenção no outro balde que ele segurava e vi que aqueles peixes ainda estavam vivos.
- Nós não queremos que eles fiquem mal acostumados, por isso gostamos de fazê-los caçar. – E falando isso, despejou o balde dentro da água e os peixes ficaram loucos. A maioria dos pinguins foi atrás, quase atropelando uns aos outros.
- O Liam tem duas tartarugas e nós também fazemos isso... Soltamos uns peixinhos na água e elas vão atrás! É tão engraçado. – Ri e Brandon sorriu.
- %Tah%, cuidado! – Um grito de Liam me assustou e eu percebi que o pinguim que estava atacando-o anteriormente vinha em minha direção.
- Ahh, esse é o Ricky!
- Ricky? É um nome engraçado pra um animal. – Não fiquei com medo e dei um peixe para o pequeno.
- Ele gosta de você.
- Eu também gosto dele! – Sorri e o alimentei novamente.
- Pode fazer carinho nele, se quiser.
- Cuidado, %Star%! – Liam finalmente desceu da pedra, mas continuou longe.
- Fica calmo, Li! – Ri e me abaixei um pouco, tocando delicadamente a penugem da parte de trás da cabeça de Ricky. – Nós somos amigos, né?
Continuei acariciando o pinguim até que ele fechou os olhos e quase caiu pra trás. Eu tinha mesmo o colocado pra dormir? Senti vontade de levá-lo pra casa, como naquele filme “Os pinguins do papai”, mas não daria muito certo, já que Liam e ele não pareciam se dar muito bem.
+++ - Não sei porque você não quis brincar com os pinguins, Li! – Disse assim que paramos em frente ao habitat das tartarugas gigantes. – Foi tão legal.
- Legal são esses aqui! – Entortou o nariz. – E eu não queria ficar cheirando a peixe.
- Eu não estou fedendo! – Cheirei as minhas mãos e braços.
Após brincar bastante com Ricky e ainda alimentar mais alguns pinguins, Brandon me guiou até o banheiro para que eu lavasse as mãos até estar limpa novamente. Mesmo assim, Liam insistia que eu estava com cheiro de peixe e fazia caretas todas as vezes que eu o tocava. Chegamos a um ponto onde eu passei as mãos pelo rosto dele de propósito. Como eu tinha escolhido o último animal que visitamos, foi a vez do garoto de escolher nosso próximo destino. Não sei o que tartarugas tem de tão especial, mas ele parecia ser fascinado por elas.
- Será que meus bebês vão ficar desse tamanho? – Perguntou inclinando-se sobre o vidro.
- Eu espero que não! – Ri e me sentei em um banco que havia ali perto, pensativa. – Imagina uma mordida de um bicho desses!
- Tem razão... Se já doeu quando o Boris II me mordeu, imagine se ele ficar desse tamanho. – Se aproximou de mim e sentou ao meu lado.
- Li... Nós somos amigos, certo?
- Somos? Eu não fazia ideia! – Brincou e eu lhe dei uma cotovelada fraca.
- Eu to falando sério! – Bufei. – Preciso de um conselho...
- O que a perturba, pequena flor?
- Pequena flor? – Gargalhei alto.
- Fala logo o que é! – Insistiu.
- Tá bem, tá bem! – Parei de rir aos poucos e respirei fundo, pois o assunto era sério. – Como a gente sabe... Que está pronta?
- Pronta pra que?
- Pronta, Liam... Pronta! – O olhei significativamente sem conseguir ser mais clara.
- Ah... Pronta pra... Ahh! – Finalmente entendeu e pareceu um pouco desconfortável. – Oh...
- Para de fazer esses barulhos! – Escondi o rosto nas mãos. Já era constrangedor demais estar falando sobre isso com ele.
- Não tem uma fórmula secreta, %Tah%, pra cada um é diferente. Mas acho que você só sabe.
- Hm... – Aquilo não era o que eu queria escutar.
- Você acha que está pronta? – Olhou para frente, me evitando.
- Às vezes eu acho que sim... No calor do momento principalmente, sabe? Mas depois eu paro e penso: “E se tivesse acontecido mesmo?” e fico com medo de acabar me arrependendo. – Suspirei.
- Mas... Você gosta do Zayn, não gosta?
- É claro que sim! Demais até. – Olhei para os meus próprios dedos. – O problema não é ele, o problema sou eu! É algo na minha cabeça que não está certo.
- %Tah%, eu não consigo imaginar um mundo onde que o problema seja você.
- Pois você vive nesse mundo, pequeno gafanhoto. – Ri e levantei do banco, estendendo a mão pra ele. – Podemos continuar o passeio?
- Você é que manda! – Segurou a minha mão e também se levantou.
Na teoria seria a minha vez de escolher qual animal iríamos visitar em seguida, mas Liam insistiu que tinha um lugar especial que gostaria de me levar. Eu acabei aceitando e o deixei guiar o caminho. Perto do habitat das tartarugas havia uma fonte bem engraçada onde um elefante cuspia água pela tromba e nós paramos ali antes de continuar o passeio. Aproximamo-nos até que alguns respingos da água tocaram a nossa pele. Havia algumas moedas no fundo da fonte, o que fez Liam pegar duas moedas no próprio bolso e me entregar uma delas, afirmando que deveríamos fazer um pedido. Ele foi o primeiro enquanto eu ainda pensava no que poderia pedir. “O que uma garota que tem tudo pode pedir?”
- Guarda essa moeda pra um sorvete, Li. – A devolvi. – Eu não preciso de mais nada além do que eu já tenho!
- Então deixa eu pedir pra você. – Fechou os olhos e jogou a moeda na fonte.
- O que você pediu?
- Não posso contar, né?! – Disse como se fosse óbvio. E era mesmo.
- Isso não vale! Se o pedido foi pra mim, eu deveria ficar sabendo!
- Quando se realizar eu conto. – Tocou a ponta do meu nariz com o dedo. – Me empresta a sua câmera?
- Você não vai jogar a minha câmera na fonte, né? – Tirei a câmera da bolsa e o entreguei do mesmo jeito. Liam não seria louco...
- É claro que não. – Riu. – Espera aqui...
Assenti com a cabeça e o observei se afastar e falar com um casal que estava passando na mesma hora. Pelo visto, Liam tinha pedido para que eles tirassem uma foto de nós dois e só então eu me toquei que ainda não tínhamos tirado nenhuma foto juntos; apenas minhas e dele separadamente. O garoto veio até o meu lado e me abraçou pela cintura. Eu o abracei pelo ombro e olhei na direção da câmera. Nós dois sorrimos e lá se foi a nossa primeira foto. Digo primeira porque Liam os fez tirar pelo menos cinco fotos nossas em posições bem diferentes. Na segunda foto, Liam me carregava e fingia que estava me jogando na fonte. Fingindo entre aspas, porque meu grito de medo foi de verdade. A terceira foto foi mais ou menos assim: Nós dois de pé na beira da fonte; eu com os braços abertos e ele fazendo uma pose de super herói. Sentido? Cadê? Quarta foto: Cada um imitando um animal; eu era um leão e o menino um urso. A última foi a minha foto preferida, pois e não estava esperando por ela: Só sei que nossos rostos estavam bem enquadrados e eu ria enquanto ele beijava a minha bochecha.
+++ Depois de caminhar por quase vinte minutos inteiros nós conseguimos chegar até a próxima parada. Eu não entendi muito bem o que uma estufa gigante estava fazendo no meio de um zoológico até entrarmos nela. Uma verdadeira floresta tropical havia sido criada ali dentro para servir de casa para milhares de borboletas coloridas e das mais variadas espécies. Meu queixo caiu ao entrar pela primeira vez em um borboletário e aquela era a reação exata que Liam estava esperando. Eu fiquei tão encantada que nem o esperei pra começar a explorar aquele lugar. Passei por uma árvore bem alta e encontrei um pequeno córrego que desaguava em um laguinho onde algumas borboletas rodeavam. Aquele lugar parecia mais uma floresta encantada e talvez o lar de fadas e duendes. Pulei algumas pedras para atravessar o lago e acabei afastando algumas borboletas que voaram para todos os lados.
- Isso aqui é incrível! – Abri os braços e respirei fundo, inalando todo aquele ar puro.
- %Tah%, não se meche! – Olhei na direção do garoto sem entender nada, mas o obedeci. Ele fez o mesmo caminho que eu com a câmera em mãos e apontou pra mim.
- Você me assustou porque queria tirar uma foto? – Rolei os olhos e fechei os braços.
- Não se mexe! Só confia em mim, ok? E dá pra sorrir, por favor?
- Quero só ver. – Me mantive parada e forcei um sorriso. Pelo visto o meu sorriso falso não foi o suficiente, pois Liam fez uma careta. Pelo menos eu acabei rindo de verdade e ele pode tirar a foto.
- Tem uma borboleta no seu chapéu. – Explicou e tão devagar quanto uma lesma aproximou a mão da minha cabeça. Quando fui ver, ela já estava caminhando sobre as costas da mão dele.
- As borboletas aqui não tem medo da gente, né? – Sorri ao olhar as asas coloridas daquela espécie em questão.
- Elas estão acostumadas... Nascem aqui e morrem aqui.
- Falando assim é meio triste. – Acariciei a borboleta e ela começou a voar no mesmo instante, nos fazendo segui-la com o olhar.
- É melhor do que elas correrem risco de nem chegar a sair do casulo.
- Hey, o que é aquilo? – Apontei para alguma coisa qualquer atrás de Liam.
Como eu já esperava, ele se virou no mesmo instante e me deu tempo de correr para trás de uma árvore e me esconder. O escutei falar: “Muito engraçado, %Star%. Agora você quer brincar, é?” Segurei o riso, mas nunca fui muito boa nisso. Ele iria me escutar se eu continuasse ali, por isso esperei um momento de distração para me emaranhar entre algumas folhas maiores e passar para o outro lado. Ouvi passos atrás de mim, mas não vi ninguém. “Será que tem algum bicho por aqui?” Eu devia ter pensado nisso antes de me enfiar dentro do mato, mas não! Minha única saída foi continuar indo em frente e torcer pra chegar em algum lugar visível. Meu maior medo era que fosse um sapo. Até um tigre eu aceitaria, mas um sapo? Socorro!
Um movimento mais violento nas folhas ao me lado me assustou ainda mais. Se fosse uma pessoa, eu já teria visto alguma silhueta ou coisa parecida, portanto devia ser realmente um animal selvagem que estava querendo me comer. Ou quem sabe uma borboleta gigante! Sei que a minha sanidade passou longe de mim nessa hora, mas o que você esperava?
- Liam? – Chamei por ele em uma tentativa de obter ajuda. – Eu só estava brincando antes...
A minha brincadeira inocente de esconde-esconde se tornaria a minha última aventura antes de morrer. Quem diria? Eu podia ler as manchetes do dia seguinte: “Menina é encontrada morta no borboletário do Zoo nacional. Causas desconhecidas.” Mais uma vez as folhas voltaram a se mexer, mas dessa vez foi na minha frente. Um grunhido e a visão periférica de algo pulando em cima de mim me fizeram gritar alto e tentar correr, mas fui segurada por duas garras enormes que seguraram a minha cintura e uma risada horrenda tomou... Epa. Risada? Olhei para a “fera” que estava me agarrando e não era ninguém além de Liam que ria da minha cara de susto.
- Ainda bem que é você! – Me joguei em seus braços e o abracei. Em um outro momento eu teria batido nele por ter me assustado, mas eu fiquei tão aliviada por ver que não era nenhum sapo assassino que nem me importei.
- Eu vim te salvar! – Escondeu o rosto no meu pescoço e inspirou com vontade.
- Meu herói! – Ri com as cócegas que aquilo me causou e logo nos separamos.
+++ “Pronta para a última parada do dia?” Foi o que escutei antes de Liam tirar as mãos da frente dos meus olhos e me deixar ver onde estávamos. Já era o fim do dia e meus pés começavam a pedir arrego. Eu desejei estar usando tênis ou até mesmo um chinelo mais confortável, mas teria que aguentar só mais um pouco. Na minha mão estava um pinguim de pelúcia que Li havia comprado pra mim depois que nós comemos alguma coisa na lanchonete e pudemos ir para a última atração. “Guardar o melhor para o final” era algo que aquele meu companheiro sabia fazer muito bem, pois fiquei maravilhada ao abrir os olhos e me sentir dentro de um aquário. Não literalmente, é claro. Bem... Talvez literalmente se levarmos em consideração que para todos os lados que eu olhava, só via água e seres marinhos. A luz ali dentro também era reduzida e isso criava uma atmosfera de oceano. Bem em cima das nossas cabeças passou o maior mamífero que eu já tinha visto assim de perto: Um tubarão baleia de muitos metros de comprimento.
- E aí, o que achou? – Parou perto da parede de vidro, mais uma vez com as mãos dentro do bolso.
- Com certeza essa é a melhor parte! – Sorri e fui até ele, olhando os peixes que pareciam nem se importar com a nossa presença ali. – Aqui seria o paraíso pra mim quando eu era pequena...
- Por que? Você gostava do mar?
- Eu sempre gostei de água, mar, lago... Qualquer coisa assim. – Suspirei. – É bem bobo, mas meu sonho era ser uma sereia.
- Aí é que você ia cheirar a peixe mesmo. – Brincou e me fez rir.
- Você nunca vai esquecer isso, né? – Comecei a andar pelo túnel e ele me seguiu. – Não se preocupe, porque eu vou tomar banho quando a gente chegar em casa!
- É bom mesmo, porque é a primeira vez que eu vou até esse Pub que você tanto fala e não posso causar uma má impressão.
- O Pub! É verdade... Que horas são? – O olhei desesperada. Nós não podíamos nos atrasar.
- Nós temos tempo, %Tah%. Fique tranquila.
Era meio difícil ficar tranquila com aquele assunto. Se tudo desse certo, uma grande mudança aconteceria na vida de todos nós. E pensar que nenhum dos meninos fazia ideia do que estaria prestes a acontecer... Mesmo que eles não ganhassem o prêmio final, com certeza seriam vistos e conhecidos por muitas pessoas. Poderia não dar em nada, mas ao mesmo tempo poderia ser algo muito bom. De um jeito ou de outro, %Abi% e eu iríamos gravar o vídeo e mandá-lo para o X Factor. Nosso tempo estava acabando, pois o concurso só duraria mais duas semanas e logo em seguida os primeiros resultados seriam revelados.
Enquanto eu estava perdida em pensamentos caminhando serenamente até a próxima parte do Aquarium, Liam se manteve atrás de mim, sem falar nada. Eu seguia alguns peixes pequenos até que um tubarão os assustou e me assustou também. Ri sozinha e vi que Liam também sorria ao me olhar. Você pode pensar que eu estava errando em não conversar nada com Liam durante o nosso passeio por aquele corredor comprido e até mesmo falar que eu estava ignorando-o, mas não era verdade. Certas vezes, ações são mais fortes que palavras e ele sabia o quanto eu estava feliz por estar ali. E o menino também parecia feliz em simplesmente me observar ao longe enquanto eu não era mais ninguém além de mim mesma.
Outra verdade é que não tinha muito para se fazer ali dentro, mas eu poderia passar horas encarando o nada. Uma raia passou flutuando ao meu lado e eu fiz um passo de dança, rodopiando e elevando os braços. Escutei a risada de Liam e agradeci mentalmente por não haver mais ninguém ali por perto além de nós dois.
- Sabe por que eu gosto tanto da água? – Virei de frente para ele.
- Não faço ideia...
- Porque ela nos dá a sensação de voar... Já percebeu? É como se estivéssemos flutuando no nada... – Abri os braços e olhei pra cima, girando devagar sem sair do lugar. – O ballet também me dá essa mesma impressão. De estar voando.
- Dança pra mim... – Pediu em um sussurro e me fez olhar pra ele.
- Aqui?
Afirmou que sim com a cabeça e eu olhei em volta. Ninguém além dos peixes e Liam iriam me ver, então por que não? Acabei concordando, pois me lembrava de ter prometido que um dia ele me veria dançar e sinceramente não havia um espaço mais perfeito do que aquele. Fui até um canto e tirei meus sapatos; tudo bem que não estava com nenhuma sapatilha, mas as minhas meias grossas teriam que servir. Também deixei a minha bolsa ali no chão e me preparei para improvisar alguma dança. Liam não tirava os olhos de mim por momento algum, com medo de perder algum movimento. Subi na ponta dos pés e dei inicio a uma dança suave e delicada. Meus braços se mexiam tão lentamente quanto o resto do meu corpo. Logo eu já estava girando pelo ‘salão’ e me juntando á dança dos animais magníficos à minha volta. Não havia música ao meu redor, mas eu não precisava dela, pois no meu imaginário a melodia mais bonita era composta.
Liam, que me observara parado desde o início, andou até onde eu estava e me fez parar de dançar. Eu o olhei com certa confusão em meus olhos e ele simplesmente ficou me olhando com aqueles olhos castanhos que ganharam um tom mais azulado por culpa das luzes daquele ambiente. Ficamos frente a frente e ele tocou o meu rosto com a mão direita. Tentei desviar o olhar simplesmente por ter ficado tímida, mas fui impedida. Liam segurou o meu rosto e me fez olhar em sua direção. O que eu não estava esperando naquele momento aconteceu; O mais alto fechou os olhos e encostou os lábios aos meus. Por reflexo eu acabei fechando os olhos também, mas não me mexi mais. Não sei se ele esperava que eu retribuísse um beijo ali, mas só o que eu fiz foi me afastar o suficiente para que os nossos lábios não estivessem mais se tocando. Eu não podia simplesmente empurrá-lo ou sair correndo e gritando que aquilo era errado, até porque Liam sabia disso.
- Você não devia... – Sussurrei e olhei para baixo, envergonhada.
- %Tah%, me desculpa... – Ele parecia estar recobrando os sentidos e também não me olhou. Aos poucos se afastou de mim e se virou de costas. – Eu não sei o que aconteceu...
- Ei, não se preocupa... – Andei até ele e pousei a mão sobre seu ombro. – Vamos só esquecer, tá bem?
- Eu não quero esquecer. – Aquele sussurro me pegou de surpresa e eu já não sabia mais o que falar.
- É melhor a gente ir embora, Li...
+++ - Quero ver alguém falar que eu estou cheirando a peixe agora! – Avisei ao começar a descer as escadas.
Assim que Liam e eu chegamos em casa depois do nosso adorável passeio que terminou de forma não tão adorável assim, fui direto para o banho e demorei mais que o normal para me lavar. Não era que eu estivesse tão suja assim, mas me perdi em pensamentos durante boa parte do tempo. “O que foi aquele beijo?” ou “Será que eu dei a entender que queria também?” eram bons exemplos do que estava me perturbando. O que mais me assustava, porém, era o seguinte: “Devo contar pra Zayn do que aconteceu?” Por um lado eu sabia que a resposta correta para essa pergunta seria “sim”, já que eu não gostava de esconder nada do meu namorado, principalmente relacionado a esse tipo de coisa. Mas ao mesmo tempo não queria que ele ficasse com raiva de Liam ou algo assim, muito menos queria que nós entrássemos em uma discussão por um motivo tão sem importância. Por mais que eu fosse louca por Liam e o considerasse muito... Ele não era Zayn. O sentimento que eu sentia pelo meu garoto era completamente diferente do que eu sentia por Li e nunca nem passaria pela minha cabeça trocar um pelo outro.
Ao menos depois do banho eu estava me sentindo bem mais leve e relaxada. Em poucas horas estaria saindo para me divertir com os meus amigos e %Abigail% saberia me dizer o que eu deveria fazer. A minha roupa de ir para o Pub estava separada em cima da cama, mas eu escolhi vestir pijamas para descer até a sala e ver o que os meninos estavam aprontando.
- Agora você está cheirosa! – Louis me encontrou no meio do caminho e me abraçou pela cintura, até mesmo me levantando do chão e carregando-me até perto do sofá.
- Alguém está de bom humor! – Baguncei os cabelos lisos do meu irmão assim que fui colocada no chão.
- A noite está bonita, %Tah%, por que eu não estaria de bom humor?
- Ok... – Me sentei no braço do sofá e encarei os outros dois meninos que estavam ali. – Qual o nome dela?
- Olivia. – Harry respondeu e Lou jogou uma almofada em sua direção.
- Uhhh, Olivia? – Sorri já querendo saber de tudo. – Detalhes, por favor?
- Não é nada...
- Shiu, Louis! Deixa o Harry contar. – Mandei todos calarem a boca e Liam também ficou só escutando.
- É uma loirinha que mora na casa da rua de trás... Nós estávamos passeando de skate e.. Uhn... Louis... – Harry começou contar a história, mas... Bem, Harry é o Harry, então ele falava tão devagar que eu quase não aguentava mais.
- Hazza, eu só quero saber do que aconteceu! Não pedi pra você contar a história do Álamo, então para de enrolar?
- Deixa que eu conto, mas já falei que não tem nada de mais. – Lou, que estava sentado ao meu lado, se deu por vencido. – Como o Harry disse... A Olivia mora na rua de trás e eu a atropelei de skate sem querer... Foi assim que nos conhecemos e...
- Awwwwwwwn, como em um filme de romance! – Apertei as bochechas do meu irmão e ele me olhou com tédio.
- Ela é bem legal, %Tah%. – Harry se levantou e foi procurar algo na estante.
- Você devia chamá-la pra sair com a gente hoje, Lou! – Sorri e bati palminhas, animada em conhecer a minha possível futura cunhada.
- Eu não sei... E se ela tiver um namorado?
- Seria mais engraçado se ela tivesse uma namorada. – Liam falou pensativo e eu gargalhei.
Ele tinha razão... Imagina se Louis a chamasse pra sair e de repente a menina aparece lá com a namorada? Eu fiquei rindo por uns cinco minutos, falando que com a sorte do meu irmão, isso era bem capaz de acontecer. Harry aproveitou para alfinetar e falar que ela tinha mesmo cara de quem “curte” e levou outra almofadada na cara. Logo a sala se tornou um campo de batalha e todo mundo se atacava com almofadas, travesseiros ou qualquer coisa que pudesse servir como arma. Até mesmo o acento do sofá foi atirado em mim e eu quase fui ao chão. Pelo menos consegui segurar o objeto e atirá-lo na pessoa que me atacou: Louis. Infelizmente eu não tinha tanta força assim, então quem acabou sendo pego de surpresa foi Liam, que não tinha nada a ver com a história. Teríamos continuado até ficarmos exaustos, mas o celular do meu irmão começou a tocar em cima da estante e nós nos entreolhamos.
- Eu aposto que é a Oli! – Afinei um pouco a voz e corri na direção do aparelho.
- Me dá isso aqui! – Louis tentou pegar o próprio celular, mas eu fui mais rápida.
- Saaaaaaai. – Escapei do alcance dele e atendi a ligação. – Você ligou para o Tommo, mas ele não pode atender! Posso anotar o recado?
- %Star%? É você? – A voz era da minha avó e estava bem fraca. – Querida...
- Nana? O que houve? – Parei de rir na mesma hora e todos me olharam com preocupação.
- Oh, meu amor... É o seu avô... Ele... – Jolene parecia estar segurando o choro e aquilo apertou o meu coração em um nível que nem consigo explicar.
- O que aconteceu com o papá? – Perguntei aflita e senti meus olhos arderem.
Algo não estava certo.
- Ele se foi...
Foram essas três palavras que fizeram o meu mundo desmoronar. Ao mesmo tempo em que milhões de coisas passavam pela minha cabeça, nenhuma delas era clara o suficiente pra ser entendida. Escutar o choro da minha avó e receber aquela noticia completamente do nada me deixou sem reação. Respirar também foi impossível, pois eu tentava puxar o ar, mas ele não vinha. Meus pulmões não tinham força suficiente e algo deixou a minha visão turva. A única coisa que eu sabia naquele momento é que eu já não segurava mais o celular e senti o meu corpo começar a mergulhar em uma escuridão fria.