Ballet Shoes


Escrita porElla Souza
Editada por Isabelle Castro


Capítulo XXXIV

Tempo estimado de leitura: 41 minutos

  Será possível que eu estava mais nervosa em apresentar Zayn para o meu pai do que em conhecer a mãe dele? Era o que estava parecendo, pois eu não parava de andar de um lado para o outro na sala de casa. Eu já estava arrumada e toda pronta para ir para esse tal jantar, só esperando Zayn me buscar. Seria melhor nós dois irmos juntos, já que eu não queria chegar lá sem ele e muito menos o contrário. Louis já havia partido há mais ou menos vinte minutos, já que ele também queria estar presente para assistir o espetáculo. Conhecendo o nosso pai, eu só não sabia dizer se seria um espetáculo de comédia ou drama.
  - Você vai acabar furando o chão desse jeito. – Liam riu, andando até mim e segurando-me pelos ombros.
  - É bom que assim eu já vou ter algum lugar pra me enterrar depois dessa noite. – Ri sem humor algum.
  - Eu não quero morar em uma casa com um cadáver! – Harry desceu as escadas, mas eu me arrependi assim que olhei pra ele.
  - Hazza! – Reclamei por ele estar totalmente pelado e tapei os olhos com a mão.
  - Ai, meu Deus! – Liam me soltou e também cobriu os olhos.
  - O que foi? – Perguntou como se não houvesse nada de errado em ficar andado pelado por aí.
  - Você está pelado! – Espiei por uma brecha entre os meus dedos e dei de cara com a bunda branca dele. – Eu sei que você se sente livre assim... Mas não pode ser livre no seu quarto?
  - O Louis nem tá aqui pra aproveitar! – Liam comentou. Ele também devia gostar de Hazza e Lou como um casal. Ponto pra Larry. – Além do mais, você já devia estar pronto!
  - Vocês dois vão sair? – Levantei uma sobrancelha e olhei para Li.
  - Com o Niall! – Harry respondeu e eu fiquei mais curiosa ainda.
  - E posso saber aonde vocês vão?
  - Só vamos à um Pub que ele conhece. – Li deu de ombros.
  - Bebeeeeeeeeeer. – O de cabelos cacheados se jogou no sofá, mas pelo menos ele cobriu “as partes” com uma almofada.
  - Eu não posso beber! Só tenho um rim!
  - Awn, poor Leeyum! – Acabei rindo, mas o abracei.
  - Fica rindo de mim e depois me abraça? Quem entende? – Me abraçou de volta e escondeu o rosto no meu pescoço. – Você está cheirosa...
  - Obrigada! – Sorri. – É Chanel.
  - É você. – Respondeu e eu corei.
  - Para com isso! – Ri e separamos o abraço. – Não pode me deixar vermelha, Liam.
  - Você fica ainda mais linda assim, eu não tenho culpa! – Continuou me deixando vermelha e Harry fingia que nem estava mais ali, apenas nos observando.
  A campainha tocou e eu fiquei aliviada. Com certeza seria Zayn, mas o menino que estava no sofá foi o primeiro a se mexer e correu para atender a porta, sem se importar por estar pelado. Eu só queria ver a reação do meu namorado ao chegar na minha casa e encontrar um homem pelado. Ele já tinha muito ciúme de Harry e eu tinha certeza que só iria piorar. Eu tentei ir atrás do curly, mas Liam segurou a minha mão e me puxou. Eu o olhei sem entender nada e ele só me agarrou pela cintura.
  - Li, o que você está fazendo?
  - Eu não deixo você ir! – Respondeu com um bico. – Eu sinto sua falta, %Tah%. Quando foi a última vez que fizemos algo juntos?
  - Ontem nós passamos a noite inteira juntos!
  - Mas não é a mesma coisa... Você sempre está saindo com o Zayn, mas só fica comigo quando estamos em casa. – Olhou pra baixo, meio chateado.
  - Sweety... – Levantei o rosto dele na minha direção. – Eu prometo que nós vamos sair logo, tá bem? Só nós dois. Eu prometo.
  - Então tá bem... – Deu um pequeno sorriso.
  - %Tah%, porque um homem pelado atendeu a... – Zayn entrou na sala e parou de falar assim que viu Liam e eu abraçados.
  - Hey, baby! – Sorri para ele e Li me soltou.
  - Oi, Zayn! – O menino ao meu lado acenou e Zayn acenou em resposta.
  - Até depois, ok? – Me virei para Liam e beijei a sua bochecha.
  - Cuida bem da minha pequena, Zayn. – Liam pediu e Zayn fez uma careta.
  - Eu vou cuidar bem da minha %Tah%, não se preocupe. – Deu ênfase no “minha” e eu o arrastei para fora da sala, passando por Harry e saindo de casa o mais rápido possível.
  - Às vezes eu acho que moro em um hospício. – Comentei antes de ser puxada para um beijo de cumprimento.

+++

  Estávamos dentro do elevador do prédio de meu pai assim que eu escutei meu celular apitar dentro da minha bolsa. Era uma mensagem de Louis que dizia: “Eu sinto muito, %Tah%. Muito mesmo.” Não entendi absolutamente nada daquilo e muito menos Zayn, que viu a minha cara de espanto e também leu a mensagem de meu irmão. Tinha algo errado e eu sentia isso. De repente a subida do elevador se tornou mais lenta do que o normal e eu devia estar suando frio. Zayn entrelaçou os nossos dedos e beijou o topo da minha testa, querendo me acalmar.
  - Vai dar tudo certo, %Tah%... – Sorriu companheiro e acariciou o meu rosto.
  - Sei disso. – Afastei todos os pensamentos ruins e me aproximei mais um pouco dele para poder roubar um beijo rápido.
  A voz automática do elevador avisou que havíamos chegado ao nosso destino e as portas se abriram, revelando o hall de entrada do apartamento e nós dois entramos lado a lado. A primeira coisa que eu vi foi uma criança correndo de um lado para o outro. Em um primeiro momento eu achei que pudesse ser Lux, mas era grande demais pra ser ela. Outra criança totalmente diferente também passou correndo e eu já começava a entender a mensagem de Lou. Aqueles dois eram os meus primos, filhos da irmã do meu pai. Apertei a mão de Zayn por reflexo e ele me puxou para que continuássemos a andar. Mais pra frente eu encontrei uma sala de estar repleta por pessoas que não via há alguns anos. O primeiro que reconheci foi meu avô por parte de pai, Keith, que fumava um charuto na varanda. Em seguida vi a minha avó Margaret e os meus tios Simon e Ruth, pais das crianças que eu vi correndo: Heidi e Ben.
  - A sua família inteira está aqui? – O menino ao meu lado perguntou nervoso.
  - A parte que mora em Londres sim... – Respondi da mesma forma que ele, ainda sem acreditar no que via. Nunca agradeci tanto por ter a maior parte da família do meu pai morando em Doncaster.
  - Eles chegaram! – Escutei a voz do meu pai e todos que estavam na sala se viraram para nos encarar. – Minha filha, como é bom vê-la.
  - É bom te ver também, pai... – Forcei um sorriso e o abracei assim que ele se aproximou.
  - E você deve ser Zayn, huh? – Papai apertou a mão de Zayn, que tinha um sorriso impecável no rosto. – Eu sou Mark, o pai da sua namorada.
  - Muito prazer, senhor. – Continuou sorrindo e me olhou como quem diz: “Tá vendo? Não está sendo tão ruim.”
  - Por favor, me chame de pai! – Meu pai falou simplesmente e eu arregalei os olhos sem acreditar no que ouvia.
  - Dad! – Chamei a atenção do mais velho, impedindo Zayn de responder qualquer coisa. – Porque você não me avisou que estaria dando uma festa?
  - Porque eu sabia o que você ia dizer, é óbvio. – Rolou os olhos. Provavelmente eu havia pegado essa mania dele, mas enfim. – E todos queriam conhecer o seu pretendente.
  - “Pretendente”? Essa expressão ainda existe? – Eu estava surpresa demais com tudo aquilo para me esforçar e ser a filha simpática. Desde quando um simples jantar se transforma em uma festa de noivado?
  - Eu vou adorar conhecer todos, %Tah%. – Segurou a minha mão mais uma vez e sorriu daquele jeito que sempre me acalmava.
  - Está vendo só? – Mark sorriu orgulhoso e nos deu espaço pra ir falar com meus familiares. – Às vezes ela é muito ranzinza.
  Ouvi meu pai sussurrar para Zayn e ele acabou rindo e concordando. Eu preferi ignorar, já que falar alguma coisa só iria provar aquela teoria. Passamos pelos meus tios e os cumprimentamos rapidamente. Para ser bem sincera, aquele casal não estava ali para conhecer o meu “pretendente” e sim pela comida de graça. Meu pai era o filho prodígio, o orgulho da casa, mas a irmã dele era completamente o contrário, então não se deu tão bem na vida assim e ainda por cima arrumou um marido que era pior que ela. Não me entenda mal, eu adorava os meus tios com todo o meu coração, mas às vezes a folga deles não tinha limites. Em seguida veio a minha avó Margaret, que foi bem simpática com Zayn e realmente gostou de conhecê-lo. É claro que ela não tinha nada a ver com a minha avó Jolene, que o teria tratado como um verdadeiro príncipe, mas foi o suficiente. Por último veio o meu avô Keith, que deixou o charuto de lado assim que nos viu.
  - %Star%, minha neta... – Abraçou-me. – Alguém já lhe disse que você está linda?
  - Eu falo isso pra ela todos os dias. – Zayn sorriu e fez meu avô olhar pra ele. – Muito prazer, senhor Tomlinson. Sou Zayn Malik.
  - O prazer é meu, Zayn Malik. – Keith sorriu e os dois apertaram as mãos.
  - Vovô, Zayn também toca piano como o senhor... – Falei, tentando achar algo em comum entre os dois.
  - O senhor também toca? – O mais novo perguntou interessado.
  - Eu tocava quando era mais novo... Hoje em dia a idade não me permite mais. – Respondeu entristecido. – Aproveite enquanto pode, rapaz.
  - Ok... – Intervi mais uma vez. Será que alguma pessoa não podia ter um assunto normal? – Nós vamos procurar o Lou, tá bem?
  - Eu estou bem aqui. – Meu irmão apareceu atrás da gente e eu puxei os dois para longe de qualquer adulto constrangedor.
  - Baby, eu sinto muito por você ter que passar por isso... – Olhei para o meu namorado, realmente sentindo muito por tudo aquilo.
  - Eu já falei que não tem problema algum, %Tah%. – Ele riu. – Pra falar a verdade, eu estou achando bem divertido.
  - Só vai melhorar! – Louis riu. – Já abriram duas garrafas de vinho.
  - Parfait. – Respondi irônica e olhei em volta, procurando a única pessoa que realmente me importava em ver. – Cadê a Lux?
  - Ainda estava dormindo... Acho que vocês podem ir até o quarto dela. – Meu irmão respondeu.
  Eu assenti com a cabeça e segurei Zayn pela mão, guiando-o para o caminho do quarto da minha irmãzinha. Tivemos que passar mais uma vez pelos meus tios que não paravam de comer. Ben também estava por ali, escondendo a boneca da irmã que chorava em um canto. Eu também sentia vontade de chorar e ir embora dali, mas não teria escapatória. Meu pai estava na cozinha e partia uns pedaços de queijo para repor a bandeja de frios que estava na mesa da sala e eu corri o suficiente para não ser notada por ele. Zayn ria de todas as minhas caras e bocas e pra ele aquela reunião familiar estava sendo algo normal. Eu abri a porta do quarto de Lux com cuidado e acabei encontrando Rachel lá dentro. Ela fez sinal para nós dois entrarmos e foi o que fizemos.
  - Oi, %Tah%! – Beijou a minha bochecha e partiu para Zayn, falando aos sussurros. – Tudo bom, Z.?
  - Tudo ótimo! – O menino a respondeu.
  - Será que a pequena ainda demora muito a acordar? – Perguntei baixinho.
  - Ela acabou de acordar, mas voltou a dormir... – A mãe da bebê riu. – Daqui a pouco ela acorda de novo... Fiquem aqui e eu vou ver como está tudo lá fora, ok?
  Nós concordamos e ela se foi. Eu me aproximei do berço da minha irmã e dei uma espiadinha. Lux dormia tranquila, abraçada com um paninho e chupando uma chupeta cor de rosa. Zayn ficou ao meu lado e sorriu ao vê-la ali. Ele passou o braço em volta dos meus ombros e beijou o meu rosto. Por um segundo eu senti como se fossemos os pais e estivéssemos olhando a nossa filha dormir pela primeira vez em um quarto só dela. Balancei a cabeça para afastar aqueles pensamentos e o menino me olhou confuso.
  - O que foi, %Tah%? – Manteve o tom de voz baixo, me olhando.
  - Nada, babe. – Respondi e tentei ser bem convincente. – Ela não é linda?
  - Ela é perfeita. – Voltou a olhar todo bobo para a mais nova e eu acabei sorrindo.
  Ficamos em silêncio apenas observando-a abraçados. Aquele quarto era um tipo de esconderijo, já que ninguém entraria lá tão cedo, então Zayn e eu estávamos a salvo de mais conversas constrangedoras, pelo menos por um tempo. Lux começou a se mexer mais que o normal e foi abrindo os olhinhos devagar. Assim que a chupeta caiu de seus lábios, ela começou a reclamar coisas que não podiam ser entendidas e foram se transformando em um choro baixinho. Assim que ela me viu, esticou os bracinhos sonolenta, querendo que eu a tirasse dali.
  - Minha baby girl acordou? – Perguntei ao abaixar a grade do berço para poder pegá-la.
  - %Tah%... – Falou baixo, parando de chorar um pouco, e abraçou o meu pescoço assim que a tive nos braços.
  - Sou eu, Luxy. – Beijei-a na bochecha gordinha e Zayn pegou a chupeta no berço. – Esse é o Zayn...
  - Ei, princesa... – Ele parecia não querer assustá-la, por isso apenas entregou a chupeta para a pequenina.
  - Zay? – Perguntou ao começar a acordar propriamente e olhou pra ele pela primeira vez.
  - Algo assim. – Zayn sorriu pra mim e eu ri.
  - Ele é meu namorado, Lux. – Assim que escutou aquela palavra, ela levantou a cabecinha para me olhar.
  - Tio Li não? - Ela perguntou e eu desejei que não tivesse o feito.
  - Claro que não, baby girl! Tio Li é meu amigo. – A expliquei e ela pareceu entender.
  - Eu que sou o namorado dela! – Zayn não ficou com ciúmes, mas fez um bico.
  - Ele não é lindo, Lux?
  - Uhum. – A menor coçou os olhinhos com as pequenas mãos.
  - Vocês é que são lindas! – O menino se inclinou na minha direção e juntou os lábios aos meus. Nós escutamos Lux gargalhar, por isso nos separamos para olhá-la.
  - Você também quer beijo, Luxy? – Ri e Zayn e eu nos entreolhamos.
  Antes que ela pudesse perceber ou responder, nós dois beijamos as bochechas gordinhas da pequena, um de cada lado. Ela gargalhou mais uma vez e estava ficando cada vez mais difícil me segurar para não morder aquele pedacinho de algodão doce loiro. Como eu não estava nem um pouco afim de sair daquele quarto calmo e silencioso, levei a bebê em meus braços até uma bancada, onde a deitei e troquei sua fralda. Não era a minha primeira vez fazendo aquilo, mas Zayn não conseguiu segurar uma careta quando eu lhe passei a fralda suja para que ele a jogasse no lixo. E pensar que um menino com duas irmãs mais novas já deveria ter perdido o nojo dessas coisas; tsc.
  Coloquei Lux no chão e acendi a luz de teto, apagando o abajur fraco que iluminava o quarto parcialmente. A pequenina apertou os olhos devagar, se acostumando com a nova claridade, e logo puxou Zayn pela mão para levá-lo até uma mesinha com pequenas cadeiras em volta. Ela o fez se sentar em uma daquelas cadeiras que não suportavam o tamanho dele e depois veio atrás de mim, para também me sentar ao lado do meu namorado. Como a boa irmã que sou, a obedeci e fiquei esperando pra ver o que ela iria fazer.
  - Vamos brincar de chazinho, Lux? – Perguntei e ela afirmou que sim com a cabeça.
  - Eu quero o meu chá de maçã verde, senhorita. – Zayn já foi entrando na brincadeira.
  - Tó. – Antes de começar a preparar o “chá”, Lux me entregou uma boneca.
  - O que é isso? – Perguntei sem entender muito bem, mas segurei a boneca como se fosse um bebê de verdade.
  - Sua filha, %Tah%. – Respondeu com um sorrisinho.
  - É claro que é a nossa filha, babe. – Zayn devia estar adorando aquilo, pois era bem a cara dele começar a falar de filhos ou casamento. – Qual é o nome dela?
  - Eu gosto de Emma. – Dei de ombros, decidindo também brincar.
  - Emma Tomlinson Malik. – O suposto pai do bebê falou todo orgulhoso. – Gostei.
  - Você está gostando mais dessa história do que devia, Malik. – Arranquei uma risada dele. – É só uma brincadeira, ok?
  - Por enquanto! Eu já disse que nós vamos ter vários filhos juntos. – E lá vinha ele com aquela história de novo.
  - Vários? Quantos exatamente? – Ri.
  - Uns cinco! – Falou sério. – Pra começo!
  - Eu não sou uma cachorra pra ter tantos filhos assim! – Reclamei.
  - Wooof. – Imitou um latido e até mesmo Lux riu daquela imitação, mesmo sem ter entendido a nossa conversa.
  - Aqui está o chá! – Lux se aproximou da mesinha e colocou uma xícara na minha frente e outra na frente de Zayn, nos servindo com o chá invisível.
  - Obrigada, pequena. – Sorri pra ela e peguei a xícara, levando-a até os lábios e fingindo dar um gole.
  - Você tem que assoprar primeiro, %Tah%! – Zayn reclamou comigo e assoprou a própria xícara de brinquedo.
  - Tá quente! – A loirinha entrou na onda dele e eu rolei os olhos.
  - Desculpa! Eu vou assoprar, oh... – Assoprei o chá e Lux sorriu mais uma vez.
  - Tá gostoso, Zany? – Perguntou para o menino, que riu.
  - Tá uma delicia! – Respondeu. – Você poderia me dar a receita?
  - Aham! – Riu e em seguida apontou para a boneca que ainda estava em meus braços. – Emma tá com fome?
  - A Emma está com fome sim... Você pode fazer um leitinho pra ela? – Pedi e observei a minha irmã sair de perto da mesa e ir procurar algo no seu baú de brinquedos.
  - Mas, %Tah%... – Zayn começou com um sorriso maroto e eu o olhei. – Acho que a Emma está na idade de tomar leite materno.
  - Ah, é? – Perguntei com uma sobrancelha elevada e ele apontou para o meu decote com uma piscadinha, me fazendo rir. Terminei dando um tapa no ombro dele, que resmungou em reclamação. – Idiota.
  - Quantos anos Lux tem? – Mudou de assunto ao ver que não conseguiria nada ali. – Ela é muito esperta.
  - Quase dois. – Respondi enquanto a olhava preparar uma mamadeira. – Mas já começou a falar quando tinha nove meses.
  - E qual foi a primeira palavra dela? Não vale falar “Star”!
  - Queria eu! – Fiz um bico de lado. – A primeira palavra dela foi “Hally”.
  - Hally?
  - Yep. Ela estava tentando falar “Harry”. – Expliquei e Zayn pareceu surpreso.
  - Harry? Seu amigo Harry?
  - Esse mesmo! Os dois são absolutamente apaixonados um pelo outro.
  - Sei... – Ficou enciumado e cruzou os braços. – Ela devia ser apaixonada por mim, já que eu sou o cunhado dela!
  - Ela só está te conhecendo hoje, Zayn! Mas não se preocupe, porque ela vai gostar de você também. – Virei o rosto dele na minha direção. – Por enquanto já não basta uma de nós apaixonada por você?
  - Pode ser... – Deu de ombros como quem diz “tanto faz” e voltou a olhar pra frente.
  - Tanto faz? – Perguntei ofendia e também não toquei mais nele.
  Zayn viu que eu estava chateada com o que ele falou, mesmo sabendo que era apenas brincadeira, então ele me abraçou de lado com força e me balançou, quase me derrubando da cadeirinha. Eu tentei me soltar dele, fazendo um bico maior que de criança, mas não adiantou. O menino começou a encher o meu rosto de beijos descontrolados e eu acabei rindo. A boneca em meus braços caiu no chão, mas eu não me importei muito. Segurei-o pelo rosto, fazendo parar de me atacar com aqueles beijos. Ele apenas me olhou com aquele sorriso branco e impecável e eu balancei a cabeça negativamente, mas também sorria. Zayn avançou contra o meu rosto novamente, porém dessa vez ele conectou os nossos lábios da forma certa e com delicadeza. Não nos beijamos de forma tão intensa quanto desejávamos, mas trocar selinhos demorados foi o suficiente para acalmar a saudade que um sentia do toque do outro.
  - %Tah%, quero a mommy. – A voz de Lux nos separou e eu a olhei.
  - Quer a mommy, é? – Fiz um bico, pois aquilo significava que nós teríamos que deixar o quarto.
  - Quero... – Lux devia estar escutando o barulho que vinha do lado de fora e por isso não queria mais ficar ali dentro.
  - Então vamos lá pra fora? – Já fui levantando e ajudando Zayn a fazer o mesmo, já que ele quase ficou entalado naquela cadeirinha. – Sabe quem está aí também? A Heidi e o Ben!
  - Eba! – Bateu palmas e sorriu por descobrir que seus primos estavam ali, o que significava que ela teria alguém com uma idade próxima a dela pra brincar.
  Zayn foi quem pegou-a no braço e Lux não achou ruim, muito pelo contrário. Até começou a brincar com o brinco preto que ele tinha na orelha. Eu sorri ao ver os dois criando laços e fui abrir a porta para que pudéssemos passar. Zayn me seguiu e nós logo voltamos para a sala, onde minha tia Ruth foi a primeira a nos abordar. Ela começou falando que meu pai estava nos procurando e comentou como as torradas com tomate seco estavam deliciosas. Eu apenas concordei, mesmo ainda não tendo provado nenhuma delas. Heidi também apareceu e chamou Lux para brincar, então Zayn a colocou no chão e a pequenina foi correndo junto com a prima. Demos um jeito de despistar a minha tia, mas demos de cara com meu pai.
  - Zayn, eu estava mesmo querendo conversar com você! – Meu pai o envolveu pelos ombros. – Por que não vamos até o sofá e você me conta um pouco mais da sua vida?
  - Claro... – Pela primeira vez na noite eu vi Zayn ficar nervoso.
  - Posso ir também? – Perguntei com um sorriso, mesmo sabendo que a resposta seria sim.
  - %Star%, porque não vem me ajudar na cozinha? – Rachel apareceu do nada e me puxou pelo braço. Zayn me olhou como se pedisse socorro, mas não tinha nada que eu pudesse fazer. – Lá tem vinho...
  - Vinho? Eu preciso de vinho. – Suspirei. Não conseguiria passar por aquela noite sóbria, por isso a palavra “vinho” foi como música para os meus ouvidos.
  Dessa forma os dois homens foram na direção do sofá da sala e eu tive que ir até a cozinha com Rachel. Eu tinha muito medo de todas as coisas que meu pai pudesse falar e ao mesmo tempo tinha pena de Zayn por ter que responder as perguntas constrangedoras que eu sabia que Mark faria. A última coisa que eu queria naquela noite era deixar os dois sozinhos, mas na primeira oportunidade que teve, a minha madrasta me afastou deles.
  - Tem certeza que é uma boa ideia deixá-los sozinhos? – Perguntei enquanto procurava uma taça em um armário da cozinha.
  - Você tem que deixar os dois se entenderem, %Tah%. – A mulher respondeu e já se ocupou em abrir uma nova garrafa de vinho branco.
  - Mas eles não podem fazer isso comigo do lado pra controlar a situação? – Achei o que estava procurando e entreguei o copo para Rachel encher.
  - Eu conversei com o seu pai hoje a tarde e ele não vai falar nada de mais... – A madrasta falou, mas eu acabei rindo, pois devia ser uma piada.
  - Rach, é do meu pai que estamos falando! – Fiz sinal para que ela colocasse mais bebida no meu copo, já que não havia passado nem da metade.
  - Vamos esperar pra ver, então. – Sorriu tentando me encorajar e também se serviu de vinho. – Sabe quem sempre me pergunta sobre você?
  - Quem? – Dei o primeiro gole na minha bebida.
  - Carine! – Meu sorriso só aumentou ao escutar aquele nome.
  - Sério?! E o que ela pergunta?
  - Sobre como você está e coisas assim... Ela até mandou uma coisinha pra você. Depois me lembre de te dar.
  - Que coisinha?! – Detalhes! Será que Rachel não era familiar com esse termo?
  - É uma caixa! Mas eu não abri pra ver. – Deu de ombros como se não fosse importante, mas eu só fiquei mais curiosa ainda.
  Rachel não me deu mais nenhuma informação sobre o que Carine havia me mandado e eu já começava a imaginar o que poderia ser. Uma revista autografada? Um convite para a Fashion Week de Londres? Uma proposta de trabalho como sua assessora na Models One? Tá que esse último não poderia vir em uma caixa, mas vai saber, né?! Eu bebericava do meu vinho e vez ou outra espiava pela porta da cozinha na tentativa de ver o que meu pai e Zayn estavam fazendo, mas Rachel tentava me manter ocupada o suficiente para que eu não ficasse prestando atenção nos dois. Missão impossível, diga-se de passagem. A única saída da mulher foi me ocupar com o Cordon Deux que estava no forno. Desde que eu falei para a loira que a comida preferida de Zayn era frango, ela provavelmente ocupou as horas livres de seu dia procurando as receitas mais gastronomicamente requintadas que envolvessem aquele ingrediente. Foi fácil ver o quanto ela estava querendo impressioná-lo, pois tudo parecia perfeitamente delicioso.
  Aproveitando que eu já estava por ali mesmo, me servi da torrada com tomate seco que a minha tia havia elogiado tanto e ver se ela estava certa. “Não é que essa torrada está boa mesmo?” Pensei e afirmei com a cabeça. Eu deveria estar parecendo uma louca por balançar a cabeça como se estivesse conversando com alguém, mas na verdade só estava comendo alguma coisa. A minha primeira taça de vinho também se foi e eu tratei de enche-la. Minha intenção não era ficar bêbada ao ponto de cair no chão sem conseguir me equilibrar em cima do salto alto, porém eu pretendia usar o álcool para me deixar um pouco mais tranquila e desencanada. Por um lado era bom ter um pai como o meu, já que ele não se importava que eu estivesse bebendo.
  - %Tah%? – Zayn entrou na cozinha, me procurando. – Ah, Rach, o Mark está te chamando.
  - Já vou indo... Obrigada, Zayn. – A mulher passou por nós e se virou na minha direção antes de sair: - Me chama quando o frango estiver pronto, ok?
  - Pode deixar! – Acenei para Rachel e abri os braços para que Zayn se aproximasse. – Hey, baby.
  - Quantas taças dessa aí você já tomou? – Perguntou com um sorriso e caminhou até mim, passando os braços em volta da minha cintura.
  - Essa é só a segunda! – Respondi ao passar um braço em volta dos ombros dele. – Quer também?
  - Não posso. – Me deu um selinho rápido e sorriu. – Estou dirigindo.
  - Ahh, é verdade. – Sorri boba e dei um longo gole na bebida. – Como foi a conversa com meu querido pai?
  - Foi boa, eu acho... – Riu da cara que eu estava fazendo. – Seu pai é bem legal, %Tah%, não sei por que você estava tão preocupada.
  - Ele não falou nada constrangedor sobre mim? – Levantei uma das sobrancelhas, achando muito difícil nada estranho ter acontecido.
  - Claro que não! Ele falou coisas muito legais sobre você e disse o quanto é uma filha maravilhosa. – Aquilo realmente não parecia tão ruim, mas a forma que Zayn me olhou em seguida denunciou que tinha mais. – Mas ele me deu algumas camisinhas.
  - Ele o quê? – Senti vontade de me esconder e por isso virei a taça de vinho nos meus lábios, engolindo tudo de uma vez e fazendo uma nova careta. – E o que você disse?
  - Eu agradeci. – Riu e tirou a taça vazia da minha mão, me impedindo de enchê-la novamente. – Mas também falei que nós ainda não fizemos...
  - E o que ele disse? – O interrompi antes que terminasse a frase.
  - Ele perguntou se eu tenho algum problema lá embaixo. – Riu mais ainda ao me contar. – E quando eu disse que não, ele quis saber por que ainda não fizemos. Aliás, porque ainda não fizemos?
  - Zayn! – Ri nervosa por efeito do vinho. Isso não é coisa que se pergunte. – Essas coisa não são assim!
  - Sei disso, babe. – Encostou a testa na minha e acariciou a minha cintura. – Eu só estava brincando. Você precisa do seu tempo e eu sei respeitar. Nem que eu tenha que esperar até o dia do nosso casamento.
  - Lá vem você falando de casamento de novo! – Rolei os olhos e soltei uma risada baixa. Entrelacei meus dedos atrás da nuca dele e as deixei por ali.
  - Quando vai acreditar que eu ainda vou me casar com você? – Passou o nariz pelo meu e eu fechei os olhos. – E não se esqueça da nossa Emma.
  - Tá bem, Malik, não vou esquecer. – Fui meio irônica em minha resposta, mas e realmente não iria esquecer. Tinha certeza que isso ficaria martelando na minha cabeça durante muito tempo, mesmo contra a minha vontade.
  - Sua boca está cheirando a vinho... – Sussurrou nos meus lábios e eu tive que abrir os olhos para olhar pra ele.
  - É? – Perguntei no mesmo tom baixo e rocei os lábios aos dele.
  Zayn não perdeu aquela oportunidade e mordeu o meu inferior, prendendo entre os dentes. O pequeno machucado que eu tinha ali (causado por outra mordida daquele mesmo garoto) latejou um pouco, mas eu não reclamei. Ao invés de soltar o meu lábio, Zayn o chupou e me pressionou mais uma vez contra a bancada da cozinha. Eu começava a notar um padrão, sem saber se ele realmente gostava de balcões e coisas do tipo, ou se realmente apreciava ter o meu corpo tão próximo ao dele. Só pra deixar claro, eu também não reclamei. O envolvi pelo pescoço com os meus braços e pude sorrir marota quando finalmente tive o meu lábio liberto. Fechei os olhos e investi contra o rosto do outro, mas ele o afastou na mesma hora. Abri os olhos confusa e encontrei um sorriso bem mais maroto que o meu. Aquele era um tipo de jogo? Porque se fosse... Eu estava gostando.
  Acabei sorrindo divertida e foi a vez dele de voltar a aproximar o rosto do meu. Claro que eu não me renderia assim tão fácil, então me esquivei e minha boca foi parar no queixo dele, onde mordi com certa força. Escutei uma reclamação, porém não foi o suficiente para me parar. Zayn me olhou enquanto mordia o próprio lábio inferior e aproveitou que meus cabelos estavam soltos para emaranhar a mão direita no meio deles e segurar. Eu não tinha mais pra onde fugir e, sinceramente? Não queria mesmo. O que eu fiz em seguida foi fechar os olhos e deixar que nossos lábios se confundissem em um só. Eu poderia ter bebido duas taças cheias de vinho, mas estava com sede. Sede dele; e foi isso o que demonstrei naquele beijo, puxando-o pela gola da camisa, massageando a língua dele com a minha e praticamente brincando de pega-pega dentro das nossas bocas.
  Escutei que alguém entrou na cozinha, mas depois de ser interrompida tantas vezes enquanto estava nos braços de Zayn, a pessoa acaba se acostumando e deixando de se importar. É claro que nós diminuímos um pouco a “temperatura” do nosso momento de carinho, se é que me entende, porém não nos separamos muito. Continuamos aquele beijo que poderia ser eterno até escutar alguém limpar a garganta. Pelo tom da voz que fez tal barulho eu decifrei que era Louis chegando para atrapalhar a nossa alegria, o que foi mais um motivo para eu demorar tudo que pude para enfim descolar dos lábios macios e extremamente apetitosos do meu namorado.
  - Por mais que eu odeie ter que presenciar essas cenas... – Louis começou, me fazendo olhar pra ele por cima do ombro de Zayn. – Tenho que admitir que vocês formam um casal legal.
  - Se não gosta, não fique assistindo. – Respondi sendo chata de propósito, mas meu riso que se seguiu denunciou que eu estava apenas brincando. – Mas obrigada, Lou.
  - Disponha. – Sorriu e olhou em volta. – A Rach me pediu pra vir ver se o jantar já está pronto...
  - Ai, meu Deus! – Me afastei de Zayn rapidamente e corri até o forno. – Eu me esqueci completamente!
  - Acho que tenho um pouco de culpa nisso... – Zayn disse preocupado. Eu seu que ele não se perdoaria se o jantar tivesse ido por água abaixo por que ele me distraiu.
  - Deu pra salvar. – Suspirei aliviada e peguei uma luva térmica, retirando a bandeja de alumínio do forno. – A Rach ia me matar!
  - Então ainda bem que eu apareci por aqui. – Louis simplesmente encostou-se à geladeira e cruzou os braços.
  - Ainda bem mesmo! – Deixei a bandeja em cima da bancada que eu estivera encostada há poucos segundos e retirei a luva da minha mão. Joguei-a no peito do meu irmão e puxei o outro garoto pela mão. – Termine de arrumar a comida e eu vou falar pra dona da casa vir te ajudar.
  Sei que Lou não sabia o que fazer, mas eu também não tinha ideia. Preferi sair da cozinha antes que mais alguma coisa acabasse sobrando pra mim e meu irmão não reclamou. Algo me dizia que ele iria tirar uma casquinha daquela comida que estava parecendo tão gostosa antes que fosse posta à mesa. Zayn me seguiu sem falar nada, por mais que eu tenha sentido que ele ficou um pouco tenso ao passar ao lado de meu pai. Tenho certeza que a conversa que eles tiveram não fora tão boa ao ponto de querer repetir a dose. Já bastava meu pai dar camisinhas pra ele; eu não precisava de uma aula sobre contraceptivos naquela altura da minha vida. Ter um familiar médico é bom por várias razões, mas aquela não era uma delas.
  Também passamos por Rachel e eu avisei que já tinha tirado o Cordon Deux do forno, o que a fez parar de conversar com meu tio Simon e ir até a cozinha. Continuei o meu trajeto com Zayn segurando firmemente a minha mão até chegarmos em uma ponta mais afastada do sofá. Fui a primeira a me sentar, mas deixei um espaço para que o menino fizesse o mesmo. As crianças estavam brincando ali por perto Ben passou correndo por nós.
  - Peguei você! – Falei ao agarrar o meu primo de sete anos pela cintura.
  - %Tah%! – Ele disse depois de gritar com o susto que levou.
  - Não fala mais comigo não, é? – O fiz se sentar no meu colo e dei um beijo em sua bochecha.
  - Desculpa, eu não te vi! – Eu sabia que era mentira, mas o loirinho de cabelos lisos era tão fofo que eu deixaria passar. – Vem brincar com a gente?
  - Depois do jantar eu brinco com vocês, tá? – O abracei e não quis mais largar até ele fazer um barulho de estar sendo esmagado.
  - Eu posso brincar com vocês também? – Zayn bagunçou o cabelo de Ben, que olhou pra ele e balançou a cabeça afirmando que sim.
  - Benster, esse é o Zayn, meu namorado. – Apresentei os dois e sorri. – E esse gordo aqui é o meu primo Ben!
  - Gorda é você! – O menor respondeu com uma risada.
  - Como é que é? – Perguntei entre dentes e fiz cara de brava, enchendo-o de cócegas em seguida.
  Zayn riu ao meu lado e Ben conseguiu escapar do meu colo, voltando para onde estava brincando com as duas meninas. Eu amava cada uma daquelas crianças, inclusive Heidi, com quem eu ainda não havia falado. Sei que estava passando mais tempo com os pequenos do que com os adultos da minha família, mas quem pode me culpar? Zayn também ficava mais a vontade com eles do que com os outros, por isso não me importei. O próprio acabou passando o braço por trás do meu corpo e eu me encostei ao dele, descansando a cabeça no ombro do mesmo. Os carinhos que recebi em meus cabelos me fizeram suspirar e quase adormecer ali mesmo.
  - O jantar está servido! – Meu pai anunciou e eu despertei devagar, recebendo um beijo na bochecha vindo de Zayn.

+++

  Após o jantar, Ben, Heidi e Lux arrastaram Zayn e eu até a varanda, onde haviam colocado um tapete e vários brinquedos. Eu estava um pouco relutante em ter que sentar no chão, mas Zayn não me deu muita escolha ao me puxar e quase me fazer cair sentada no colo dele; coisa que nenhum de nós dois teria se importado que acontecesse. Aparentemente a brincadeira da vez seria construir bijuterias com aquelas miçangas coloridas que vem em várias formas e modelos. Nós separamos todos os tipos no centro para que não houvesse brigas e cada um pudesse usar o que quisesse.
  - %Tah%, corta pra mim? – Heidi me entregou um rolo de linha e uma tesoura sem ponta. A menina era apenas dois anos mais velha que Lux.
  - Corto sim... – Antes que eu pudesse começar a cortar um pedacinho da linha para que ela começasse sua obra de arte, minha irmã engatinhou até o meu colo e ficou sentada ali.
  - Acho que alguém ficou com ciúmes. – Zayn comentou e eu olhei para Lux, que estava com um bico que conseguia ser maior que o de Liam.
  - Ownt, que gracinha! – Ri e comecei a cortar pedaços de linha. Entreguei o primeiro para Lux, depois para Heidi e por ultimo um para Ben.
  - Ei, eu não vou ganhar um? – O único que faltava receber um pedaço reclamou e eu rolei os olhos.
  - Você sabe cortar sozinho, Malik!
  - Eu posso me machucar, %Tah%... – Fez uma carinha de criança pidona que eu não consegui resistir por muito tempo.
  - Qual tamanho você quer?
  - Não precisa ser muito grande... – Pegou a ponta da linha e apontou para onde eu deveria cortar. – Aqui tá bom.
  - Você é que manda. – Ri e passei a tesoura onde ele indicara. – Pronto, baby.
  - Obrigado. – Agradeceu-me com um selinho e Lux riu do mesmo jeito de antes, quando nós nos beijamos na frente dela no quarto. – Essa menina vai ser uma beijoqueira quando crescer!
  - Quando crescer?! Ela já deu o primeiro beijo.
  - Sério? – Riu jogando a cabeça pra trás daquele jeito que eu tanto gostava.
  - Pior que sim! Com o Charlie, né, Lux? – Ao ouvir o nome do amiguinho, a pequena olhou para os lados como se o procurasse.
  - Chalie? – Perguntou.
  - Charlie e Lux! – Expliquei pra ela, que continuou sem entender. – Ou como eu gosto de chamar... Chux!
  - Chux... – Repetiu. – Tá aí, gostei!
  Paramos de falar naquele assunto para podermos nos concentrar nas nossas bijuterias. Lux pediu a minha ajuda, por isso eu me ocupei em ajudá-la a colocar as miçangas naquela linha que era fina demais pra ela acertar sozinha. Ora ou outra Heidi também pedia a minha ajuda e a minha irmã mais nova não gostava nada quando eu parava pra auxiliar a nossa prima. Ben era o único que conseguia fazer sozinho. Bem... Ele e Zayn, por mais que esse último não me deixasse ver o que ele estava fazendo.
  Logo nossos avós vieram se despedir, pois estavam indo embora. Eu me levantei para abraçar cada um, mas as outras crianças pareciam não dar muita importância. O que mais me surpreendeu é que quando Lux teve que sair do meu colo, ela foi para o de Zayn, que ficou ultra feliz. Meu avô foi o primeiro a me abraçar, entupindo-me com aquele cheiro de charuto. Ainda bem que a minha avó Margaret veio em seguida, disfarçando o odor com o seu perfume amargo.
  - Foi adorável vê-la, minha querida. – Simpática como sempre, arrumou uma mecha do meu cabelo que estava fora do lugar.
  - Eu concordo, vovó. – Sorri. – Eu acompanho vocês até o elevador...
  - Então vamos, só me deixe pegar o meu casaco... – Keith é quem passou primeiro, me dando tempo de virar na direção de quem estava na varanda.
  - Sweety? – Chamei por Zayn, que conversava animadamente com Lux. – Eu já volto, tá?
  - Não vou sair daqui. – Sorriu.
  Deixei a área da varanda pra trás e fui ao encontro de mus avós que se despediam de meu pai e Rachel. O jantar devia estar acabando, pois meus tios também se preparavam pra ir embora e tentavam esconder um pedaço do bolo que fora a sobremesa dentro da bolsa que tinha as coisas dos meus priminhos. Eu torcia para que os filhos deles não crescessem como os pais. Até que no geral aquela reunião familiar não havia sido um desastre completo. Quero dizer... As coisas poderiam ter sido bem piores do que realmente foram. Além do mais, aquela era a minha família. Com todos os defeitos e qualidades, sem tirar nem por, era o que eu tinha e por isso seria eternamente grata a todos. Felizmente Zayn estava aceitando fazer parte dela do jeito que era e isso me fez relaxar para aproveitar o restinho da noite. Eu estava tão absorta em pensamentos que só reparei que estava perto do elevador quando Margaret falou comigo.
  - Diga ao seu namorado que eu adorei conhecê-lo, sim? – Deu-me um último abraço.
  - Eu digo sim, pode deixar. – Após nos abraçarmos, eu segurei a porta do elevador para que ela e o marido pudessem entrar. – Até logo!
  - %Star%, segure o elevador! – Meu tio Simon gritou e o meu avô foi quem segurou a porta para esperá-lo.
  - Também já vão? – Fiquei de joelhos no chão e abri os braços para que Heidi e Ben viessem me abraçar.
  - Eu queria ficar, mas a mamãe não deixou. – A pequenina fez bico.
  - Já está tarde e vocês tem aula amanhã! – Ruth respondeu.
  - Ihh, nesse caso ela está certa! – Deixei um beijo na bochecha de cada um e a vez de Ben fazer bico, não gostando nada do que eu falara. – Mas eu prometo que qualquer dia desses passo lá pra buscar vocês e vamos todos brincar mais, tá bem?
  - Promete? – Ele tocou a ponta do meu nariz e eu fiz uma careta.
  - Claro que eu prometo! – Levantei.
  - A Lux também pode ir? – Heidi me olhava.
  - É claro que pode! – Observei os quatro entrarem no elevador e acenei.
  - Tchau, %Tah%. Boa noite. – Meu tio se despediu e a porta automática fechou.
  Dei meia volta e encontrei meu irmão quase roncando no sofá de tão cansado que devia estar. Rachel terminava de recolher os pratos e copos sujos que estavam espalhados pela casa e meu pai estava bastante ocupado lavando os que já se encontravam na cozinha. “Acabou o pesadelo e eu sobrevivi...” Era o que eu pensava. E olhe que nem precisei ficar bêbada ou coisa parecida! Atravessei a sala e balancei o meu irmão quando passei por ele, fazendo-o despertar. De uma coisa a minha tia estava certa; o dia seguinte era dia de aula e por isso estava na hora de também irmos embora. Louis quase foi ao chão e eu bufei por ter um irmão tão idiota.
  Cheguei na entrada da varanda e fiquei parada por ali, observando enquanto Lux e Zayn dançavam valsa. A pequena devia estar se sentindo a própria princesa, pois Zayn a rodopiava e fazia reverências. Ri daquela cena tão linda e aquele assunto que eu tentava evitar acabou surgindo na minha cabeça como eu sabia que iria. “Ele vai ser um ótimo pai...” Por mais que eu tivesse balançado a cabeça para afastar aquele pensamento, sabia que estava certa. “Quem sabe ele tá falando sério quando diz que vamos casar e ter filhos, né?”
  - Zayn? – Chamei a atenção dos dois e eles pararam de dançar.
  - Vem dançar com a gente, %Tah%! – Estendeu a mão para que eu me juntasse, mas eu acabei puxando-o para perto de mim ao invés de eu mesma ir.
  - Está tarde, baby. É melhor a gente ir. – Passei a mão pelos cabelos dele com um meio sorriso.
  - Eu vou te deixar em casa, né? – Beijou a minha bochecha.
  - O Lou está de carro, então eu acho melhor voltar com ele, já que você mora do lado oposto...
  - Poxa... – Curvou os lábios para baixo e choramingou.
  - Não faz assim, oh... – O abracei pela cintura e encostei a cabeça no peito dele. – É que eu fico preocupada em você ter que voltar pra casa sozinho depois de me deixar... Pelo menos aqui é um pouco mais perto.
  - Eu sei que você está certa, mas eu queria passar mais tempo com você. – Retribuiu o meu abraço, envolvendo-me pelos ombros.
  - A gente vai se ver na Academy, então nem vai dar tempo de você sentir a minha falta. – Pena que eu não podia falar o mesmo sobre mim...
  - Isso é mentira! – Me apertou com mais força antes de me soltar. – Eu fiz uma coisa pra você.
  - O que? – Meus olhos brilhavam de curiosidade.
  - Isso aqui... – Pegou a minha mão direita e colocou uma pulseira em volta do meu pulso.
  Eu sorri ao ver aquela bijuteria que ele mesmo havia feito, descobrindo o motivo que o levou a esconder seu trabalho de mim enquanto estávamos sentados na varanda. Pude ler o nome “Star” formado por algumas miçangas com letras. Fora isso não havia mais nenhuma forma de organização ou padrão, ou seja: As outras pedrinhas foram adicionadas aleatoriamente, formando uma bagunça completa de cores e formas. Acho que era justamente isso que tornava aquele bracelete tão especial.
  - Eu amei...

Capítulo XXXIV
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Camis

Ella eu sou apaixonada nessa fanfic, acompanho ela desde que começou a postar no fadd.. uma pena que o site tá fora do ar. Bom, mas prometo pra ti que vou ler por aqui agora, afinal relembrar coisas boas só faz bem e tua fanfic é maravilhosa. É isso, continue postando!!! 

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