Ballet Shoes


Escrita porElla Souza
Editada por Isabelle Castro


Capítulo XXXII

Tempo estimado de leitura: 46 minutos

  A pouca luz que entrava pela janela da cozinha me serviu de aviso; eu já não tinha tanto tempo a perder. Havia combinado com Zayn de chegar a casa dele pouco antes das oito horas e ainda tinha que tomar banho, me arrumar e blábláblá. Não digo que eu estava atrasada, mas poderia estar mais adiantada que aquilo. O que prejudicou o cronograma que eu havia criado foi a minha ideia totalmente em cima da hora de cozinhar alguma sobremesa para levar ao jantar. Não me senti bem em dar tanto trabalho para Patricia, então era o mínimo que eu poderia fazer. Como a minha avó sempre tinha as melhores receitas, resolvi ligar pra ela e pedir socorro. Claro que ela me ajudou e me passou a receita de um Cheesecake de morango e creme. Não era a minha torta preferida, mas ainda era muito gostosa. Harry havia se oferecido para trazer uma torta pronta da padaria em que trabalhava, ou ao menos me ajudar a cozinhar em casa, mas eu não aceitei. Queria fazer tudo sozinha, queria agradar a minha sogra de qualquer jeito e queria que ela gostasse de mim. Isso não é algo tão incomum, certo?
  De qualquer forma, a minha torta estava quase pronta e eu poderia retirá-la do forno em alguns minutos. Enquanto esperava o timer apitar, comecei a fatiar alguns morangos que usaria para decorar. Eu estava cansada, pois passara o dia inteiro na cozinha, mas a minha motivação era grande. Mais uma vez o meu perfeccionismo gritava e eu queria acertar até os mínimos detalhes.
  - %Tah%? – Lou apareceu na bancada americana. – Tudo bem por aí?
  - Tudo sim. – Sorri. – Ainda não coloquei fogo na cozinha!
  - Fico feliz com isso! – Riu e tentou pegar um pedacinho de morango recém cortado, mas o tapa que dei em sua mão o fez recuar. – Oucth!
  - Não é pra você, Louis! – Reclamei. – Mas sobrou um pouco de massa da receita e está guardada na geladeira. Depois você pede pro Harry colocar no forno, ok?
  - Eu sabia que você não esqueceria dos amigos. – Sorriu abertamente e puxou o meu rosto para deixar um beijo na minha bochecha. – Aliás, você está toda suja de farinha...
  - Sei disso! – Ri desejando ver a minha cara. – Mas eu vou tomar banho logo.
  - Ainda está nervosa? – Observava as minhas mãos cuidadosas partindo os morangos em três pedaços.
  - É tão óbvio assim? – Sorri em uma tentativa de passar confiança, mas não adiantou.
  - É bem óbvio. – Concordou com um balanço de cabeça. – Mas vai dar tudo certo, %Tah%. Ela seria louca se não gostasse de você.
  - Se você diz, né? – Peguei os morangos partidos e os coloquei em um prato de vidro. – %Abi% falou que ela é legal, então eu vou tentar ser positiva.
  - Isso mesmo, %Estrelinha%. – Ele deu a volta na bancada americana e entrou na cozinha, indo até a geladeira e procurando algo.
  O cronômetro em formato de pinguim começou a pular em cima da bancada de mármore da pia avisando que a torta estava pronta. Dei um tapinha no timer e peguei duas daquelas luvinhas que suportam o calor e abri o forno, tirando a torta de lá com todo cuidado do mundo. Tudo que eu não precisava naquele momento era uma queimadura. Antes que eu pudesse desenformar a sobremesa, teria que deixar esfriar por uns minutos. Louis pegou uma garrafa de água e começou a beber, rindo da minha vontade de fazer tudo perfeitamente.
  - Vamos para a sala? – Meu irmão me chamou. Como eu não tinha nada pra fazer durante algum tempo, concordei.
  - Tem algum filme passando? – Saímos da cozinha lado a lado em direção à sala.
  - Descobriremos isso agora. – Ele chegou ao sofá primeiro e se jogou lá, tomando a maior parte do espaço.
  - Essa aqui é a escada... – Escutei a voz de Liam e me virei na direção do hall de entrada. Ele trazia o notebook dele nos braços e falava com a tela. Assim que entrou no cômodo em que eu e Lou estávamos, virou o computador na nossa direção. – Essa aqui é a nossa sala.
  - E quem é essa bela jovem? – Uma voz veio do notebook e eu deduzi que ele estava no Skype.
  - Pai! – Liam o repreendeu, balançando a cabeça. Eu acabei sorrindo e fiquei esperando as apresentações. – Essa é a %Star%. %Tah%, esse é o meu pai...
  - Muito prazer, senhor Payne! – Me aproximei de Liam e acenei para a tela. – Parabéns por ter criado um filho tão bom quanto o Li.
  - Ouviu isso, pai? Eu disse que estava me comportando! – Foi até o sofá e se sentou, colocando o computador na mesinha de centro. Pelo menos Louis havia se tocado e dado um espaço para outras pessoas se acomodarem.
  - O prazer é meu, %Star%! – O senhor quase careca sorriu e ignorou o filho. – Mas não se deixe enganar pela aparência de bom moço... Qualquer coisa é só me avisar que eu mesmo vou aí e busco ele de volta.
  - Pode deixar, senhor Payne. – Ri e me juntei aos meninos no sofá. Abracei Liam pelo pescoço e continuei: - Mas agora o Liam é nosso, então ele vai ter que ficar aqui pra sempre.
  - Isso mesmo. – O menino concordou e me olhou com um sorriso bobo.
  - Oi, eu sou o Louis! – Lou puxou o computador na própria direção e se apresentou. – Sou irmão da %Star% e também moro aqui.
  - Prazer em conhecê-lo, Louis. – Respondeu simpático e eu soltei Liam, limpando um pouco de farinha que tinha caído em sua camiseta. – Então vocês três moram aí?
  - Na verdade somos quatro... – Liam enquadrou o notebook de forma que nós três estivéssemos aparecendo. – Ainda falta o Harry, pai. Ele vai terminar de se mudar pra cá até domingo.
  - Vocês devem fazer uma bagunça enorme aí. – Sr. Payne gargalhou e eu o acompanhei.
  - Mas assim que é bom! – Respondi.
  - E eu que achei que você era quem colocava ordem nesses marmanjos, %Star%... – Se fez de desapontado, mas logo sorriu.
  - Ela até tenta! – Louis bagunçou os meus cabelos e eu só não bati nele porque estávamos na frente de “visitas”.
  - A %Tah% é a nossa pequena. – Liam me olhou pelo reflexo da tela e eu corei.
  - Sou a mascote! – Entrei na brincadeira, mas me preparei pra levantar. – Com licença, mas eu tenho que ir terminar a torta... Até logo, senhor Payne!
  - E ainda por cima cozinha? – Acenou para mim. – Até!
  Saí da sala enquanto escutava Liam sussurrando: “Obrigado por não me matar de vergonha, pai”, mas não escutei a resposta. Aquele devia ser o dia oficial de conhecer pais, era a única alternativa. Admito que fiquei imaginando se Liam tinha criado toda aquela história de mostrar a casa para o pai só pra que eu pudesse conhecê-lo antes de conhecer a família de Zayn. O pouco de experiência que eu tinha me levou a aprender que Liam gosta de “ser o primeiro”.
  Foi com aquele pensamento martelando na minha cabeça que eu entrei na cozinha e fui direto até o cheesecake. Aparentemente ele tinha se firmado direitinho e estava solto na forma. Verifiquei se estava morno o suficiente e o virei em cima de um prato de porcelana bem delicado. Eu torcia para que estivesse gostoso, mas bonito eu sabia que estava. O resultado final se dividiu em três camadas: O biscoito na parte de baixo, creme de morango no meio e por cima o creme de queijo. Peguei os morangos partidos e os arrumei no topo da torta; um maior no meio e outros pequeninos ao redor, formando um desenho. Sorri com a minha própria criação e a coloquei na geladeira. A deixaria ali dentro até a minha hora de sair.
  Aparentemente o meu trabalho de mestre cuca estava encerrado, então eu poderia começar a minha arrumação. Soltei os cabelos durante o meu caminho para fora da cozinha e sala de jantar, passando rapidamente por onde os meninos estavam só para avisar que estava indo tomar banho e ninguém devia mexer na minha torta. Eles até que poderiam tentar, mas enfrentariam a minha fúria terrível.

+++

  Eu demorei tanto naquele banho que desconfiei ter acabado com a água do mundo. Dramas a parte, eu precisei lavar meus cabelos pelo menos duas vezes para ter certeza que não restava mais farinha alguma escondida por ali. Também passei o sabonete pelo corpo inteiro até ficar completamente limpa. Era incrível o quanto eu me sentia mais leve depois do banho. Saí do banheiro enrolada no meu roupão branco e felpudo e fui direto para o closet, torcendo não demorar muito para encontrar uma roupa apropriada.
  E de fato não demorei, já que o primeiro vestido em que eu bati o olho foi o escolhido. Parecia coisa do destino, pois eu só o havia usado uma vez ou outra e geralmente deixava-o no fundo do closet. Como a noite estava esfriando, também escolhi um suéter branco e sapatos fechados que combinavam com a bolsa que eu usaria. Carreguei as peças para fora daquele pseudo-quartinho e coloquei-as direitinho na minha cama.
  “Muito bem, %Star%! Vamos com calma, uma coisa de cada vez!” Respirei fundo, fazendo de tudo para manter a tranquilidade. Voltei para o banheiro e já peguei o secador de cabelos e uma escova redonda. Eu nunca fiz essas coisas de conhecer a família do namorado antes, por isso não sabia se existia alguma regra ou coisa parecida. Não sabia se devia ir de cabelo solto, armado, em rabo de cavalo... E também tinha vergonha demais para perguntar uma bobeira daquela para %Abi%. Acabei decidindo fazer um coque meio desarrumado, pois era simples, fácil de fazer e bem elegante. Deixei o secador de lado assim que tirei a maior parte da umidade dos meus fios castanhos e os prendi com alguns grampos de cabelo. Consegui deixá-los arrumados e ao mesmo tempo descontraídos. Cabelo: Check!
  A segunda e terceira parte da arrumação foi bem rápida. Apenas passei a maquiagem clara, como de costume, e entrei nas roupas. “Viu? Foi fácil! Você está pronta!” Continuei a minha discussão interna ao caminhar até a frente do espelho. “Por favor, não faça nada pra nos envergonhar...” Falei para o meu reflexo e agradeci por ninguém estar me vendo. Com certeza me achariam louca e já bastava eu mesma achando aquilo. Dei uma voltinha sem sair do lugar pra ter certeza que estava... Perfeita. Quantas vezes já falei essa palavra? Muitas. Mas a perfeição era o que eu estava tentando alcançar, mesmo sabendo que não estava nem perto disso.
  - É hora de ir... – Falei em voz alta pela primeira vez e voltei para o quarto.
  Sentei na ponta da cama e calcei os sapatos. Salto não é a escolha mais sensata para uma pessoa tão estabanada quanto eu, principalmente quando fico nervosa, mas ainda assim foi a minha. Pensei em usar uma sandália baixa, mas não surtiria o mesmo efeito. Vamos concordar que um sapato de salto dá um ar de elegância, de mulher. Eu só teria que torcer para não tropeçar e acabar derrubando o cheesecake...

+++

  Estacionei o carro no fim da rua sem saída da casa de Zayn. O lado de dentro da residência estava totalmente aceso, inclusive o jardim. Como era a segunda vez que eu dirigia sozinha até lá, não me perdi e não cheguei atrasada. Meu relógio marcava sete horas e quarenta minutos, então eu estava dentro do horário combinado. Olhei para a torta no banco ao meu lado e me senti um pouco mais aliviada por ela estar intacta e linda como o planejado. “E agora? Será que eu vou até lá e toco a campainha?” Eu odiava não saber o que fazer, então decidi pegar o celular e mandar uma mensagem para o garoto que estaria me esperando:

“Eu já cheguei... Estou aqui do lado de fora.”
“Você quer que eu vá aí te buscar?”
“Sim, por favor!!!!!!!”

  Sorri e guardei o celular na minha bolsa. Entrar na casa com Zayn ao meu lado seria bem mais fácil. Desci do carro de uma vez, carregando o cheesecake em uma das mãos. Fiquei esperando na calçada e Zayn não demorou nada para aparecer. Como a fã de moda que eu sempre fui, reparei no que ele estava vestindo: Uma camisa branca de mangas compridas, aquela velha calça skinny preta e Vans azul marinho nos pés. Lindo como sempre. Acho que eu nunca o vira sorrir tanto! Ele praticamente correu ao meu encontro e eu deixei a torta em cima do capô do carro para poder abraçá-lo. Zayn passou os braços em volta da minha cintura e me apertou.
  - Baby! Oi pra você também. – Sorri e Zayn nem me respondeu. Colou os lábios nos meus a primeira chance que teve e eu retribuí àquele beijo cheio de saudade.
  - Oi, %Tah%. – Sussurrou nos meus lábios assim que separou o beijo. – Como você está?
  - Um pouco nervosa, mas bem... E você? – Passei as mãos pelos cabelos negros e macios do rapaz.
  - Ansioso! – Respondeu. – Todas estão loucas pra te conhecer!
  - Então vamos logo! – Tive que sorrir. Zayn estava tão animado para me apresentar à sua família... Aquilo deveria significar muito pra ele, então decidi me animar também. Eu queria deixá-lo orgulhoso de mim, orgulhoso de ser o meu namorado. – Eu trouxe uma sobremesa...
  - Isso é cheesecake? – Apontou para a minha torta assim que eu a peguei de cima do capô.
  - É sim! Você gosta?
  - Eu adoro! – Sorriu e pegou o cheesecake com uma mão, entrelaçando nossos dedos com a outra. – Você com certeza vai ganhar pontos com isso.
  - Então eu preciso de pontos? – Me fiz de ofendida.
  - Claro que não. – Riu ao pararmos na porta de entrada que já estava aberta. – Pronta?
  - Acho que sim... – Apertei a mão dele com um pouco de força e ele a acariciou com o polegar.
  Atravessamos a casa até chegarmos à sala, onde as quatro mulheres nos esperavam. Elas estavam sentadas no sofá principal lado a lado, mas se levantaram assim que nos viram. Eu senti um frio na barriga enorme, mas o sorriso que recebi de todas foi tão acolhedor que eu comecei a achar que não seria tão ruim quanto eu imaginava. A primeira que eu vi foi Patricia, a mãe de Zayn. Ela não era nem tão alta e nem tão baixa; mais ou menos da minha altura. O que eu achei mais legal é que ela tinha um piercing de argola no nariz. Em seguida, olhei para as outras três meninas: A mais alta, que deveria ser a mais velha, ria na direção do irmão. A mais nova, que eu lembrava se chamar Safaa, era a que mais sorria pra mim. A última estava parada na ponta, meio quieta, mas também parecia alegre.
  - Bem vinda, %Star%! – Patricia foi a primeira a se aproximar e Zayn soltou a minha mão para que eu pudesse abraçá-la.
  - Muito obrigada, Patricia. – Me surpreendi por não ter gaguejado. – É um prazer.
  - O prazer é todo nosso, querida. – Sorriu e separou o abraço. – E me chame de Trisha.
  - Tudo bem! – Sorri e olhei para a pequena garota que se aproximou em seguida. – Você deve ser a Safaa, certo?
  - Isso mesmo. – Respondeu meio tímida. – Você é muito bonita.
  - Obrigada, pequena... – Sorri lisonjeada, ignorando a possibilidade de Zayn a ter subornado a falar aquilo, e me abaixei um pouco para poder abraçá-la. – Você também!
  - E eu nem precisei pedir pra ela falar isso. – Zayn riu atrás de nós.
  - Hey. – A mais quieta também veio me abraçar, mas não se demorou muito. – Meu nome e Waliyha.
  - Prazer em conhecê-la! – Fui bem simpática, mesmo achando que ela não tinha ido com a minha cara.
  - Ela é assim mesmo... – Zayn cochichou ao meu pé do ouvido, lendo os meus pensamentos. Apenas o olhei e sorri como quem diz: “Não tem problema.”
  - Finalmente o Zayn trouxe alguém pra casa! Nós estávamos começando a ficar preocupadas. – A mais velha tirou uma com a cara dele e eu não aguentei não rir do seu tom de deboche. – Se é que me entende.
  - Entendo sim. – Pisquei com cumplicidade e nos abraçamos. A garota de cabelos escuros era mais velha que eu, mas me senti a vontade falando com ela. – Doniya, né?
  - Isso mesmo, %Tah%. – Sorriu, já me chamando pelo apelido.
  - Ahh, eu trouxe uma sobremesa pra vocês. – Apontei para o cheesecake que Zayn ainda segurava. – Zayn me contou de todo o trabalho que eu causei, então era o mínimo que eu podia fazer.
  - Você não causou trabalho nenhum! – Trisha olhou para Zayn de cara feia. – Parece deliciosa! Onde você a comprou?
  - Na verdade, fui eu que fiz. – Sorri enquanto as outras andavam de volta para o sofá e as segui.
  - Que menina prendada! – A mais velha me fez sentar ao lado dela.
  - Essa daí é pra casar. – Doniya brincou.
  - Eu sei. – Zayn sorriu e piscou pra mim, fazendo-me rir.
  - Filho, porque você não vai colocar a torta na geladeira? Nós não vamos fazer nada com a sua namorada, não se preocupe. – Patricia pediu e Zayn fez uma careta de tédio. Assim que ele se foi, a mulher se virou pra mim. – Ele está com medo que a gente conte alguma coisa embaraçosa sobre ele.
  - Como do dia que ele foi para a escola com o fundo da calça rasgada, mas só percebeu quando chegou em casa. – A irmã mais velha riu e eu senti pena dele, mas acabei rindo também.
  - Tadinho! – Levei uma mão até a boca, tentando parar de rir ao ver que o dito cujo estava retornando.
  - Sabia que ele costumava fazer montagens no photoshop? – Foi a vez de Waliyha falar alguma coisa. – Pra fingir que ele conhecia a Megan Fox.
  - Mas nenhuma ficou muito boa... – Doniya falou pensativa.
  - EI! – Zayn sentou-se ao meu lado e quase matou as irmãs com o olhar. – Nós já conversamos sobre isso!
  - Ahh, Zayn, qual é? É nossa obrigação como irmãs!
  - Muuuuuum! – O menino choramingou para a mãe e eu ri mais uma vez.
  - Ele tem razão, meninas. Parem! – Trisha o defendeu e as duas iriam começar a resmungar, mas preferiram levantar e cada uma foi para um canto.
  - Bem melhor assim. – Zayn passou um braço em volta dos meus ombros. Safaa era a única irmã que continuava na sala, mas ela não estava sentada no sofá; apenas olhava pra mim de longe.
  - O que houve, pequena? – Perguntei a ela com um sorriso.
  - Nada... – Respondeu, mas andou até Zayn e sussurrou algo em seu ouvido.
  - Há algo errado, filha?
  - Ela quer sentar ao lado da %Tah%. – Zayn riu baixo e a menor parecia envergonhada.
  - Senta aqui, Safaa! – Me afastei um pouco de Zayn para que a menina pudesse se sentar entre nós dois. Assim fiquei entre a menininha e Trisha.
  - Obrigada. – Se acomodou no sofá.
  - Seus olhos são lindos sabia? – Elogiei-a e ganhei um sorriso enorme em troca.
  - São iguais aos seus! – A pequena apontou para o meu rosto.
  - Nós duas temos olhos azuis, mas os seus são bem mais lindos. São grandes... – Gesticulei bastante. Sempre fui boa com crianças e naquele momento não estava sendo diferente. – Não concorda, Zayn?
  - Eu concordo que as duas tem olhos lindos e azul é a minha cor preferida. – Deu a resposta mais diplomática possível e eu ri.
  Patricia logo se levantou e foi para a cozinha terminar o jantar. Eu me ofereci para ajudar, mas Safaa não deixou. Ela parecia ter gostado bastante de mim e eu não a culpava. Era a mais nova de três irmãos que eram bem mais velhos que ela, já que tinha apenas nove anos de idade. Como eu tinha Lux, estava acostumada a lidar com crianças e as adorava. Prova disso foi o amiguinho que fiz na fila do carrossel no Winter Wonderland. Diferente das outras duas garotas, aquela dali não tentava me contar histórias embaraçosas sobre Zayn, o que o deixou bem aliviado.
  Nós conversamos sobre escola, ballet, brinquedos, filmes, programas de televisão e coisas do tipo. Zayn era um irmão muito bom, pois sempre estava elogiando a pequena e a fazendo rir. Isso me fez começar a pensar que ele seria um ótimo pai, mas eu logo calei a minha consciência. Doniya voltou para sala enquanto o assunto da vez era o nascimento da boneca de Safaa e eu notei pela primeira vez a blusa que ela estava vestindo. Nada mais e nada menos do que uma blusa estampada com a capa do último CD do McFly. Como a boa fangirl que sou, quase gritei na mesma hora. Meu queixo caiu levemente e eu sustentei um sorriso enorme.
  - Galaxy Defender? – Foi o que eu perguntei e, ao ouvir aquelas palavras, Doniya também sorriu do mesmo jeito que eu.
  - Você também? – Perguntou animada.
  - SIM! – Respondi um pouco mais alto do que deveria, mas nem me importei.
  - Lá vamos nós. – Zayn reclamou com tédio, rolando os olhos.
  - Por que você não me contou que a sua irmã gosta de McFly, Malik?
  - Ele é um imprestável! – Doniya já foi se sentando no sofá em frente ao nosso. – Você também é da época de 5 Colors?
  - Com certeza! – Poderia falar sobre aquele assunto eternamente. – Eu sinto muita falta de quando eles eram losers e quase ninguém conhecia...
  - Eu também! Eles mudaram bastante nos últimos anos e acho que muita gente ia concordar conosco. – Suspirou. – Eu tenho algumas amigas que até deixaram de gostar deles por causa disso.
  - Admito que não sou apaixonada pelas novas músicas... Mas ainda é o McFly! Nós vimos aqueles meninos crescerem!
  - É o que eu sempre falo! – Sorriu. – Você já os conheceu pessoalmente?
  - Vem, Safaa, vamos ajudar a mum. – Zayn levantou e puxou a irmã mais nova pela mão.
  - Vai lá, baby. – Acenei pra ele e logo voltei a minha atenção para a outra. – Só nos meus sonhos, Doniya! Já fui em shows, mas nunca cheguei a conhecer nenhum...
  - Me chame de Dony, %Tah%! – Falou com uma risada. – Aqui em Londres é bem fácil encontrar com eles...
  - Você já os encontrou? – Arregalei os olhos. – Eu não sei como reagiria se estivesse saindo de uma Starbucks e esbarrasse no Tom!
  - Ele é um bobão, então provavelmente te faria rir! Tenho uma lista de Starbucks que ele geralmente frequenta... Nós podemos ir a procura dele algum dia. – Aquele era um convite? Eu torcia para que fosse.
  - Daremos uma de stalkers? – Ri, mas estava realmente animada com aquela ideia.
  - Se você quer chamar assim... – Também riu. – Nunca encontrei ninguém que quisesse fazer isso comigo.
  - Agora você achou! – O pior de não ser amiga de nenhuma outra Galaxy Defender era não poder falar sobre a sua banda preferida ou fazer coisas que a envolvessem, como sair pela cidade à procura dos seus ídolos. Aparentemente eu havia encontrado uma companheira para fazer essas coisas e estava bem contente.
  - Meninas... – A mãe de Zayn voltou para onde estávamos. – Depois vocês continuam a conversa, mas agora venham jantar.
  Mais uma vez aquele sorriso convidativo estava no rosto dela e eu logo levantei ao lado de Dony. A menina passou o braço pelo meu e me guiou até a sala de jantar. Sem enfeites para festas e sem dezenas de pessoas a casa inteira ficava bem diferente e eu até que preferia assim. A família de Zayn era muito legal e eu não sei porque estava tão nervosa antes. Safaa era uma fofa, Dony e eu nos identificamos de cara e Trisha era mesmo tudo que %Abi% havia falado. A única que ainda estava meio distante era Waliyha, mas ela não chegava a me tratar mal. Devia apenas ser o jeito quieto dela.
  A mesa estava posta e bem arrumada. Eu não poderia esperar por um jantar mais britânico, pois o que vi foram: Batatas assadas, feijão branco, peixe frito, linguiça de frango e salada. Para qualquer pessoa que não fosse de lá, aquele jantar seria no mínimo diferente. Eu não estava acostumada com aquela combinação de comida, mas estava disposta a dar uma chance e provar de tudo. A Inglaterra e a França tem muitas coisas em comum, mas a culinária é definitivamente um ponto de diferença. Enquanto os franceses são mais sofisticados, os ingleses tem como prato típico o “fish’n chips”, que se trata apenas de peixe frito e batata frita. Eu não estava nem louca de reclamar, já que Trisha parecia ter perdido muito tempo apenas para me preparar aquela refeição, então eu seria bem agradecida.
  Zayn puxou a cadeira para que eu sentasse e ele mesmo ocupou o meu lado direito. Patricia sentou-se na minha frente e Doniya ao lado dela. Safaa sentou na ponta da mesa do meu outro lado e Waliyha a ponta oposta. Todos começaram a se servir e eu fiz o mesmo, meio que sem saber por onde começar. Preferi observar Zayn fazer o seu prato primeiro e eu acabei imitando-o, porém coloquei bem menos comida. Não é que eu não estivesse com fome, mas não seria educado me servir com uma montanha de comida no primeiro jantar na casa do meu namorado.
  - Então, %Star%... – Patricia começava a puxar um assunto. – Zayn me disse que você é da França.
  - Nascida e criada! – Respondi após engolir um pedaço de batata. – Minha família por parte de mãe é francesa e inglesa por parte de pai, então acho que sou uma mistura dos dois.
  - É uma mistura perfeita. – Zayn falou e eu senti o rosto esquentar.
  - Awn. – Dony comentou e eu ri baixo. – Meu irmãozinho está apaixonado!
  - Eu tenho que falar, %Tah%... Nunca vi Zayn assim. – A mãe dele sorria. – Ele parece outra pessoa ultimamente. Você faz muito bem pra ele.
  - Zayn é um garoto maravilhoso, Trisha. – Segurei a mão dele por baixo da mesa. – Então pra falar a verdade, é ele que me faz bem.
  - Ahh, isso me lembra que eu quero te mostrar uma coisa após o jantar! – Falou, levando uma garfada de comida até a boca em seguida.
  - Mum, o que você quer mostrar? – Zayn ficou nervoso ao meu lado.
  - São só alguns álbuns de quando você era pequeno, filho.
  - Não, não, não! – Reclamou e eu ri.
  - Eu vou adorar vê-los! – Concordei e Zayn me olhou com uma careta. – Que foi, baby? Deixa eu ver como você era pequeno...
  - É a primeira vez que eu conheço uma namorada do meu filho, então me deixe fazer essas coisas de mãe. – Pelo visto Zayn não teria escapatória.
  - Só prometa que não vai me envergonhar... – Choramingou.
  - Irmãozinho, você já pediu isso antes... – Doniya balançou a cabeça. – E não funcionou.
  - %Star%, essa é a última vez que eu te trago aqui, ok? – Zayn levou a mão aos olhos, frustrado.
  - Por queeeeê? Eu gostei da sua família! – Fiz um bico.
  - Não se preocupa, %Tah%, você ainda vai vir muito aqui. – A irmã mais velha me olhou. – Temos muito o que conversar sobre os McGuys.
  - Isso mesmo! – Sorri animada. – E temos que perseguir o Tom!
  - Como é que é? – Senti Zayn ficar sério ao meu lado.
  - Tom Fletcher... O loirinho do McFly. O que tem a covinha fofa... – Provoquei.
  - Eu sei quem é Tom Fletcher. – Fez uma careta enciumado.
  Todos que estavam na mesa riram daquele ataque de ciúmes, menos o enciumado, é claro. Continuamos com o jantar tranquilamente. Fui bem interrogada, se é que posso comentar. Trisha queria saber sobre a minha família, meus planos para o futuro, meus gostos e desgostos... Não me senti mal em responder, pois ela só estava querendo me conhecer. Eu elogiei bastante a comida e falei a verdade quando disse que aquele era o melhor feijão branco que eu já havia comido. Todo estranhamento que tive no começo foi embora assim que eu comecei a comer. Até mesmo cheguei a repetir o prato!
  - Espero que tenham guardado espaço para a sobremesa... – Patricia entrou na sala de jantar com o meu cheesecake em mãos. – Porque eu estou louca pra provar essa torta que a minha nora fez!
  - Eba! – Safaa comemorou.
  - Eu espero que esteja boa... – Sussurrei nervosa.
  - Eu tenho certeza que está. – Zayn beijou a minha bochecha e eu olhei pra ele com um sorriso.
  Trisha foi quem partiu a torta e serviu uma fatia generosa a todos. Modéstia a parte... O cheesecake estava maravilhoso! Assim que dei a primeira garfada só faltei fechar os olhos e suspirar, porque o sabor estava divino. A parte de baixo estava bem crocante, o meio cremoso e a parte de cima melhor ainda... À medida que as meninas iam provando, iam fazendo elogios e até mesmo pedindo a receita. Eu falei que teria que pedir à minha avó, já que a receita era dela, mas provavelmente não teria problema algum.
  No final da sobremesa eu tentei ajudar a dona da casa a levar os pratos sujos para a cozinha e lavá-los, mas ela não permitiu. Apenas pediu para que eu voltasse para a sala aguardasse enquanto ela arrumava tudo. Waliyha e Safaa foram os seus respectivos quartos e Dony avisou que iria procurar os tais álbuns que eu iria ver. Ou seja: Eu e Zayn ficamos sozinhos. Ele me abraçou de lado e caminhamos até onde nos foi indicado e o menino se jogou no sofá, me puxando para o lado dele.
  - Baby, cadê o Boris? – Perguntei sobre o shar-pei que eu não havia visto ainda. – Estou com saudade dele!
  - Ele está no meu quarto... – Colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e passou o polegar pela minha bochecha. – Mas sabe do que eu estou com saudade?
  - Não sei... – Sussurrei com sorriso sapeca nos lábios.
  A aproximação do rosto dele me deu a entender exatamente do que ele tinha saudades. Não que eu ainda tivesse alguma dúvida, mas enfim. Fechei os olhos assim que pude sentir a respiração quente dele batendo em meu rosto e o segurei levemente pela nuca. Nossos lábios se tocaram e foram entreabertos no mesmo instante. Não demoramos nada para chocarmos uma língua contra a outra e darmos início a mais um daqueles beijos apaixonados. O frio em minha barriga não demorou a aparecer e eu acabei sorrindo quando tive meu lábio inferior mordiscado. Deslizei os dedos entre os fios negros do cabelo de Zayn e os puxei de leve, também recebendo um sorriso em troca. Eu estava tão perdida com todas aquelas caricias que não escutei quando mais alguém se aproximou e sentou ao meu lado.
  - Sem querer atrapalhar... – Era Patricia.
  - Mon Dieu! – A voz da minha sogra tão próxima assim me assustou e por isso eu acabei interrompendo o beijo de uma vez. – Desculpa... Eu não sabia que você estava aqui...
  - Não precisa ficar assim, querida. – Ela riu e isso só serviu pra me deixar mais vermelha ainda.
  - Não podia ser um pouco menos inconveniente, mum? – Zayn passou a mão pelos cabelos, obviamente irritado com a interrupção. – Nós estávamos aproveitando!
  - Malik! – O reprimi. E isso lá era coisa de se falar para a mãe?
  - Depois vocês aproveitam mais. – Piscou. – A Dony trouxe o álbum que eu falei!
  - Eba! – Sorri e me inclinei na direção da minha sogra pra poder olhar as fotografias.
  Zayn resmungou algo ao meu lado, mas já estava bem mais conformado do que antes. Trisha me passou o álbum grosso e de aparência antiga para que eu mesma pudesse passar as páginas. Eu sorri ao imaginar o que poderia estar ali dentro, preparando-me para a fofura que eu estava prestes a ver. Abri o “livro” e já me deparei com um baby-Zayn super lindo e sorridente. Parecia que ele tinha entre 5-6 anos e estava naqueles estúdios fotográficos onde a mãe leva os filhos só pra poder se gabar do quanto são lindos.
  - Que coisinha mais linda! – Falei com a voz mais fina que o normal, ainda babando por aquela foto. – Eu não sabia que você era tão fofo!
  - Eu ainda sou fofo! – Fez um biquinho e passou o braço em volta dos meus ombros.
  - É sim! – Ri e passei a página para olhar a outra foto.
  - Tiramos essa foto no aniversário de cinco anos! – Trisha sorriu e passou a página. – E esse aí é o pai dele...
  - Zayn tem os olhos dele... – Aquela página era cheia de fotos de Zayn ao lado do pai e os dois estavam sorrindo em todas. Acho que a foto que eu mais gostei era uma que o bebê estava em uma cadeirinha e o pai brincava com o pezinho dele.
  - Acho engraçado você ter falado dos olhos deles... – Suspirou com pesar. – Foram esses olhos que fizeram eu me apaixonar.
  - Eu te entendo. – Nem pensei no que estava falando e mudei a minha atenção para Zayn, que sorria pra mim.
  Mudamos para a próxima foto e mais outra e outra e outra... E eu que achava que Zayn não podia ser mais fofo! Minhas bochechas até começaram a doer do tanto que eu ri e sorri. Algumas fotos eram bem fofas, como a foto em que ele estava com uma chupeta na boca e dormia tranquilamente no colo da mãe, por exemplo. Outras eram bem engraçadas e ele fazia caretas ou estava vestido com roupas de alguma irmã. Não foi tão embaraçoso quanto Zayn achava que seria e eu adorei cada imagem e cada coisa que a mãe dele falava. Era incrível o quanto eu já estava me sentindo em casa e a vontade para conversar com a pessoa que eu estava super nervosa para conhecer. Acabei falando mais um pouco de mim e da minha infância, inclusive como foi quando meus pais se separaram e perderam total contato. Trisha me explicou que quando ela e Yaser (o pai de todos os quatro filhos dela) se separaram, tudo ocorreu da forma mais pacifica possível e que eles se falavam toda semana, por mais que ele morasse em Bradford.
  O álbum chegou ao fim e antes que ela quisesse me mostrar a coleção de filmes caseiros que tinha guardada, Zayn falou que eu estava com saudades do cachorro e por isso subiríamos para o quarto dele. Aquilo não era mentira, até porque eu havia perguntado sobre o animal, mas algo me dizia que a intenção do menino não era tão pura assim. Como o instinto de mãe sempre fala mais alto, Patricia também sabia que aquela não era toda a verdade, porém não nos impediu de levantar do sofá. Eu dei uma leve arrumada no meu vestido, torcendo para que não estivesse tão amassado quanto eu achava. Despedi-me brevemente da minha sogra e Zayn me puxou pela mão antes que nós duas pudéssemos começar um novo assunto.
  Subimos a escada e passamos pelo caminho que eu já conhecia bem. Zayn abriu a porta do quarto para que eu pudesse entrar primeiro e soltou a minha mão. O quarto estava mais frio do que eu esperava, por isso eu acabei me encolhendo dentro do meu próprio casaco. Diferentemente das outras vezes que eu estivera ali dentro, o cômodo estava bem arrumado; a cama feita e nenhum papel espalhado pela escrivaninha. Corri os olhos pelo lugar inteiro até encontrar uma bolinha preta dormindo em cima do tapete. Eu não iria acordá-lo, mas Zayn assoviou e o bichinho acabou acordando. Assim que me viu, levantou com pressa e correu na minha direção. Eu ri quando ele ficou de pé e apoiou as patas frontais nas minhas coxas.
  - Heeeey, buddy! – Fiz cafuné em Boris, que balançou o rabo e latiu em resposta. – Eu também senti sua falta, coisa linda!
  - Pode soltar ela, Boris! – Zayn me abraçou por trás e colocou o rosto no meu ombro. – É só minha!
  - Eu posso ser um pouco dele também! – Ri e virei o rosto para poder fitá-lo. – Se você é o pai, eu sou pelo menos a madrasta!
  - Claro que não pode ser dele “também”. – Fez careta para o cachorro e eu ri mais uma vez daquela possessividade toda.
  - Não escuta o que o seu pai esta falando, Boris!
  Fiz um pouco mais de carinho no pequeno e ele logo saiu de cima de mim e voltou para o tapete macio. Devia estar com sono, pois logo se encolheu e cobriu os olhos com as patas. Eu achei aquilo tão fofo que soltei mais um “Awwn”. Zayn me soltou e caminhou até a própria cama, tirando os sapatos e se jogando nela.
  - Pode ficar a vontade, %Tah%... – Ele sorriu. – Sua entrevista já acabou.
  - Então isso foi realmente uma entrevista, né? – Balancei a cabeça com a confirmação das minhas suspeitas. Também caminhei até a cama e me sentei na ponta para poder começar a tirar os sapatos. – Achei que só eu estava achando isso!
  - Com o interrogatório que a minha mãe te fez... Com certeza foi. – Zayn caminhou de joelhos até o meio da cama e se sentou com as costas apoiadas na cabeceira.
  - E como você acha que eu me saí? – Mordi o lábio inferior e fui me juntar a ele, mas acabei ficando deitada ao seu lado.
  - Muito bem. – Passou a mão pela minha franja caída, retirando-a dos meus olhos. – Todas gostaram muito de você, babe.
  - Eu espero que sim... Estava tão nervosa. – Comecei a brincar com a barra da camisa branca do meu namorado.
  - Até fez uma sobremesa! – Gargalhou e eu não entendi a graça.
  - Do que você está rindo, seu besta?! – Bufei e ele riu mais ainda.
  - Só estava pensando no que eu vou ter que cozinhar quando for conhecer os seus pais.
  - Essa eu quero ver! – Foi a minha vez de rir. – Quando for conhecer o meu pai, é melhor preparar um banquete inteirinho!
  - Vai ser tão ruim assim? – Pareceu começar a ficar assustado.
  - Um pouco. – Gargalhei divertida. – Mas meu pai é bem... Incomum. Vai te encher de perguntas embaraçosas.
  - Acho que vou me sair bem. – Sorriu presunçoso, mas mal sabia ele o que o esperava. – Aquela que estava na sua casa é a sua madrasta, né?
  - Rachel? É sim! Ela estava louca pra te conhecer... E acho que vai ser mais fácil te apresentar oficialmente a ela do que ao meu pai.
  - Eu quero conhecer a Lux. – Ficou todo bobo ao falar da minha irmã mais nova. – Eu lembro de quando %Abi% te ligou pelo Face Time e ela estava no seu colo.
  - Minha princesa é muito linda, né? Mas também... Com uma mãe que é modelo não poderia ser diferente.
  - Eu achei ela bem parecida com você, isso sim. – Tocou o meu queixo e fez uma cara engraçada. – Quero que a nossa filha seja igual a ela.
  - Wow, vai com calma, Malik! – Eu sabia que ele estava brincando, mas mesmo assim.
  - O que é? – Se fez de sério. – Eu ainda vou casar com você, %Star%.
  - Aham, tá bem. – Ri. – Eu venho conhecer a sua família e você já fala de casamento?
  - Qual o problema nisso?
  - Nenhum, nenhum. – Continuei rindo e sentei de joelhos na cama. Seria melhor mudar de assunto. – Agora vamos ao que interessa... Me mostra a música que você escreveu pra mim?
  - Não sei do que você está falando. – Deu de ombros, se fazendo de desentendido.
  - Sabe sim! – Eu não desistiria. – Você disse que escreveu uma música pra mim quando eu e a %Abi% fomos assistir uma aula sua!
  - Ahhh, sei! Eu perdi aquela música. – Mentiu.
  - Claro que não, Malik! – O balancei pela perna, parecendo uma criancinha querendo alguma coisa. – Me mostra logo!
  - Não é pedindo assim que você vai conseguir me convencer. – Zayn, por sua vez, parecia um adulto que não queria me mimar.
  Rolei os olhos. Pelo visto teria que usar outras armas para conseguir o que eu queria. Armas que todas as mulheres usam para conseguirem o que querem. Eu fiz a maior cara de inocente que consegui e Zayn levantou uma das sobrancelhas, desconfiado. Fui engatinhando ate onde ele estava e sentei-me sobre as pernas dele. Automaticamente ele colocou as mãos na minha cintura e ficou me olhando com um sorriso que dizia: “Quero só ver o que você vai fazer.” E realmente iria ver... E sentir. Passei as mãos por entre os cabelos dele – coisa que eu adorava fazer – e aproximei o rosto do dele. Comecei a dar pequenas sugadas nos seus lábios rosados, mas antes que ele me beijasse eu escorreguei os lábios até o queixo do mesmo. Observei-o fechar os olhos enquanto eu distribuí mordidinhas pela extensão do maxilar e fui me aproximando cada vez mais do pescoço. Deixei a minha respiração bater na orelha direita de Zayn e suspirei baixinho, roçando os dentes pelo lóbulo. Minhas mãos ágeis trabalhavam por um caminho que subia e descia pelos braços dele, usando as unhas ora ou outra. Senti que ele estremeceu.
  - E pedindo assim, huh? – Sussurrei. Não demorei muito para arrastar os lábios pelo pescoço dele e distribuir alguns beijos molhados.
  - Hm... – Suspirou e me apertou na cintura com certa força. – Assim você consegue tudo...
  - Então canta pra mim... – Olhei pra ele mais uma vez e sorri com o que conseguira. Acabei saindo de cima dele e me sentei na sua frente.
  - Ainda não está completamente pronta, ok? – Perguntou e limpou a garganta, preparando-se.
  - Tudo bem! – Sorri com curiosidade.
  - Her eyes, her eyes, make the stars look like they’re not shining. (Os olhos dela, os olhos dela, fazem as estrelas parecer que não tem brilho) Her hair, her hair, falls perfectly without her trying… (Os cabelos dela, os cabelos dela recai perfeitamente sem ela ter que fazer nada) - Zayn começou a cantar e eu rolei os olhos. Por mais que a voz dele estivesse linda, aquela música não era dele. – She is so beautiful, and I tell her everyday... (Ela é tão linda, e eu falo isso pra ela todos os dias)
  - Baby! – O interrompi e joguei um travesseiro nele. – Não sabia que o seu nome é Bruno Mars!
  - Ele é que roubou essa música de mim! – Riu jogando a cabeça pra trás e eu o olhei com repreensão. – Tá bem, você venceu! Mas vamos fazer isso direito, então.
  Eu assenti como se fosse o que eu estava falando desde o começo, mas ele não me escutava! Observei Zayn levantar da cama e ir pegar algo dentro do guarda-roupa. Eu ocupei o lugar que ele estivera e encostei-me à cabeceira, fazendo ‘pernas de índio’. O menino não demorou muito para retornar com um violão claro nas mãos. Eu sorri bem ansiosa, já que seria melhor do que eu estava imaginando. Não falei mais nada e apenas fiquei observando ele afinar as cordas do violão depois de se sentar na minha frente. Vez ou outra ele levantava os olhos pra mim e eu notei que estava tímido. Me surpreendendo mais ainda, ele pegou um óculos de grau em cima da mesa ao lado da cala e o colocou sobre o nariz. Era a primeira vez que eu o via usando algo daquele tipo e gostei muito do resultado. Zayn ganhou um ar intelectual e altamente sexy, principalmente porque a armação lembrava um wayfarer. Ele sorriu e bagunçou os cabelos, se preparando para começar.

The one that I came with... She had to go.
(A garota com quem eu vi… Ela teve que ir embora)
But you look amazing standing alone.
(Mas você está incível parade sozinha)
So c’mon, c’mon, move a little closer now.
(Então vamos lá, vamos lá, chegue um pouco mais perto agora)
C’mon, c’mon, ain’t no way you’re walking out.
(Vamos lá, vamos lá, você não vai fugir de jeito nenhum)

  Ele começou a cantar e tocar e eu não sabia pra onde olhar. Estava bem dividida entre os lábios, os olhos e as mãos rápidas que mudavam os acordes do violão. Como tanta perfeição assim cabe em uma pessoa só? Seria uma pergunta que eu adoraria saber responder, mas tinha que me contentar em aproveitar. E, acredite, eu estava aproveitando.

C’mon, c’mon. Show me what you’re all about, yeah.
(Vamos lá, vamos lá, me mostre do que você é capaz)
I’ve been watching you all night. There’s something in your eyes…
(Eu estive te observando a noite intera. Existe algo nos seus olhos...)
Saying c’mon, c’mon and dance with me, baby.
(Falando vamos lá, vamos lá e dance comigo, baby)
Yeah, the music is so loud. I wanna be yours now…
(Yeah, a música está tão alta. Eu quero ser seu agora...)

  A música em si não era nada do que eu esperava; era bem melhor. Eu lembrava de Zayn falar que havia escrito a música depois da festa de boas vindas, mas eu não fazia ideia de que a letra era tão... Assim. Eu me lembrava dele me observando, tentando se aproximar e demonstrar que estava interessado. Mas eu quase não o conhecia, então achava que seria apenas mais uma na lista de Zayn Malik se desse muita moral pra ele. Hoje em dia eu já sabia que a primeira impressão que eu tinha dele não era nada correta e justamente por isso é que eu fiquei tão surpresa por saber que ele “queria ser meu” desde aquela noite.

So c’mon, c’mon and dance with me, baby.
(Então vamos lá, vamos lá e dance comigo, baby)
The one that I came with... Didn’t know how to move.
(A garota com quem eu vi… Não sabia como se mexer)
The way that you let your hair down, I can tell that you do.
(Pelo jeito que você se solta, eu posso ver que você sabe)
So c’mon, c’mon, move a little closer now.
(Então vamos lá, vamos lá, chegue um pouco mais perto agora)
C’mon, c’mon, ain’t no way you’re walking out.
(Vamos lá, vamos lá, você não pode fugir de jeito nenhum)

~refrão~

  Podia ser a primeira vez que eu escutava aquela música, mas o refrão era tão contagiante que eu arrisquei cantar junto. Claro que eu acabei me embolando toda e isso o fez rir enquanto cantava. Pelo menos Zayn estava vendo o quanto eu realmente estava gostando da música. Ninguém havia escrito uma música pra mim antes (tirando aquela que Liam supostamente fez pra mim) e eu me senti muito importante. Quase uma musa inspiradora de verdade.

Every step I take, I feel it more and more.
(A cada passo que eu dou, eu sinto cada vez mais)
She's calling out, she’s a lucky girl.
(Ela está chamando, ela é uma garota de sorte)
My heart is racing, she's turing around.
(Meu coração está accelerando, ela está se virando)
I reach for her hand and I say:
(Eu alcanço a sua mão e falo:)

  Zayn mal olhava para o violão, porque não queria perder nenhuma reação minha. Eu podia senti-lo me estudando a cada palavra e a minha resposta não poderia ser melhor. Eu estava encantada e poderia levantar e começar a dançar ali mesmo. Depois dessa última parte, ele me olhou com tanta intensidade que eu achei que iria derreter. Em seguida parou de tocar o violão para cantar sem o acompanhamento do instrumento:

Yeah, I’ve been watching you all night.
(Yeah, eu estava te observando a noite inteira)
There’s something in your eyes.
(Existe algo nos seus olhos)
Saying: c’mon, c’mon and dance with me baby.
(Falando: Vamos lá, vamos lá e dance comigo, baby)
Yeah, the music is so loud...
(Yeah, a música está tão alta)
I wanna be yours now…
(Eu quero ser seu agora)

  Acho que o que eu mais gostava na voz de Zayn era a forma que ele sustentava as notas mais altas e as prolongava. Claramente eu gostava de todas as partes naquele garoto e era bem suspeita pra falar, justamente por ser total e completamente apaixonada por cada detalhe, cada pedacinho daquele garoto de olhos lindos. Ele encerrou a música e deixou o violão de lado, esperando alguma palavra minha.
  - Eu amei, baby... – Suspirei.
  - De verdade? – Sorriu.
  - É claro que sim, seu bobo! – Rolei os olhos, mas também sorri.
  - E eu não vou ganhar nada em troca?
  Ele perguntou com aquele sorrisinho maroto no canto dos lábios que sempre o denunciava. Eu continuei com o meu sorriso e caminhei de joelhos até onde ele estava. Fui pega de surpresa quando Zayn me segurou pela cintura e me girou ao me puxar contra a cama. Acabei gritando baixo pelo susto, o que fez Boris levantar a cabeça para nos olhar. Zayn começou a rir e se inclinar sobre o meu corpo, já que eu me acomodei com as costas sobre o colchão. Ele cariciou a lateral do meu rosto e a graça foi indo embora e deixando espaço àquele clima que sempre se estabelecia quando nós dois estávamos próximos assim. O menino passou o nariz pelo meu e eu respirei profundamente por um ato de reflexo. O abracei pelo pescoço e acariciei suas costas por cima da camisa branca. Senti que o corpo dele fez mais peso sobre o meu, mas não achei ruim. Ficamos sustentando aquele olhar por mais alguns segundos até que nossos lábios se tocaram.
  Senti um choque delicioso percorrer o meu corpo no instante em que aquele beijo se iniciou. Seria possível que um sempre ia ficando melhor que o outro? Eu com certeza poderia me acostumar a isso. Uma das mãos de Zayn passou pelos meus cabelos e pousou na minha nuca, fazendo uma pequena massagem ali. Ele puxava-me sempre para mais perto e eu desejava qualquer contato que o meu corpo pudesse ter com o dele. Esquecendo completamente que eu estava usando vestido, passei um de meus pés pela perna do garoto, subindo e descendo. Aquilo o agradou, pois logo levou a mão livre até a minha perna e acariciou desde o meu tornozelo até o meu joelho, onde parou por uns segundos. Continuou o caminho por baixo da saia do meu vestido, mas não subiu mais do que até a metade da minha coxa. Eu estava ofegante e cada espaço do meu corpo pedia por aquilo. Os toques de Zayn pareciam fogo contra a minha pele e eu estava louca pra me queimar. Imitei o que ele fizera antes e mordi seu lábio inferior, puxando pra mim e só soltando depois de abrir os olhos e notar que ele também me observava.
  Nós dois tentamos recuperar o fôlego sem parecer que estávamos morrendo afogados. Retirei os meus braços de volta dele, mas não fiz questão de afastá-lo. Dedilhei o rosto do menino com cuidado, como se ele fosse feito de porcelana e qualquer toque mais brusco pudesse quebrá-lo. É fácil perceber que eu adorava tocá-lo e prestar atenção em cada tracinho que pudesse ser percebido. Eu sentia os batimentos do coração dele acelerando contra o meu peito e o meu não estava tão diferente assim. Gostaria de passar a noite inteira ali ao lado dele, sem falar nada, apenas trocando segredos silenciosos por meio de olhares.
  - You're the closest to heaven that I'll ever be… (Você é o mais perto do paraíso que eu vou conseguir chegar) - Cantarolei em um sussurro confidente e Zayn ficou me olhando daquele jeito. – And I don’t wanna go home right now... (E eu não quero ir pra casa agora...)
  - And all I can taste is this moment, and all I can breathe is your life… (E tudo que eu posso provar é esse momento, e tudo que eu respiro é a sua vida) - Também cantou baixinho, mesmo que não estivesse seguindo a ordem certa da música. – I just don’t wanna miss you tonigh. (Eu só não quero sentir a sua falta essa noite)
  - I just want you to know who I am… (Eu só quero que você saiba quem eu sou)

Capítulo XXXII
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