Capítulo XXX
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O professor Hofstheder deve ter acordado de bom humor naquela terça feira, pois não me obrigou a repetir o mesmo exercício várias vezes na nossa aula juntos e até me liberou meia hora antes do usual. Não que eu não gostasse da disciplina, mas tinha ido dormir tão tarde na noite anterior que estava bem cansada. Culpa de quem? Exatamente, culpa do Malik que, além de não me deixar sair do carro antes da uma hora da manhã, fez questão de não sair da minha cabeça nem por um segundo para que eu pudesse pegar no sono. Mas eu daria o troco... Ainda não sabia como, mas daria!
Aproveitei meu tempo livre para confirmar com Nick o nosso ensaio da próxima sexta e segui para a sala de música em que Niall e Zayn deveriam estar tendo aula, aproveitando que era no mesmo andar. Fiquei parada na entrada, espiando pela parte de vidro, até que Ed me notou e convidou-me para entrar com um aceno. Assim que eu abri a porta e pude ouvir o que se passava ali dentro, escutei Zayn falando algo como: “Eu já disse que não posso, Niall! Minha mãe quer que eu vá com ela comprar as coisas que a %Tah% gosta.” E depois disso o loiro pareceu bem aborrecido.
- O que está acontecendo? – Foi só eu falar que os dois meninos que estavam discutindo se viraram na minha direção.
- Esse seu namorado é um imprestável! – Niall reclamou, mas Zayn o ignorou.
- Oi, babe! – Veio em minha direção com um sorriso.
- Bom dia! – Também sorri e fiquei na ponta dos pés quando ele me abraçou. – Bom dia, Niall. Bom dia, Ed.
- Bom dia, %Tah%. – O ruivo e o irlandês falaram ao mesmo tempo.
- Por que o Ni está bravo? – Perguntei ao moreno assim que separamos o abraço.
- Porque eu não posso sair com ele hoje a tarde. – Rolou os olhos como se fosse a milésima vez que falava isso. – Mas hoje a minha mãe vai me arrastar até o supermercado pra fazer compras para a nossa convidada especial.
- Malik, eu não quero dar trabalho! – Falei séria. Não havia necessidade alguma de irem fazer compras só por minha causa.
- Não é trabalho nenhum, %Tah%. – Sorriu e colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.
- Ei, dá pra vocês prestarem atenção no meu problema? – Niall entrou no meio de nós dois.
- Desisto de dar aula pra vocês... – Ed falou baixo como se tivesse pensado alto e todos o ignoramos. Tadinho...
- Foi mal, Nialler. – O abracei de lado e fiz um biquinho. – Por que você não sai com a sua namorada?
- Eu adoraria, mas ela também vai sair com a mãe dela hoje. – Também fez um bico de lado. – É o Dia das Mães, por acaso? Todo mundo vai fazer algo com a mãe hoje!
- Menos eu, já que a minha mãe está beeeem longe! – Ri do drama do meu amigo e então uma ideia me ocorreu: - Já sei! Por que você não vai comigo pra casa?
- Sério? – Niall sorriu.
- Como é? – Zayn se espantou.
- É! Harry vai pegar o Just Dance 4 da “irmã dele” e nós vamos jogar. – Fiz aspas no ar. Não acreditava nem por um minuto que aquele jogo era da Gem. – Vai ser legal. O que acha?
- Acho uma ótima ideia. – Sorriu mais ainda, feliz por finalmente ter algo pra fazer.
- Epa, epa, epa. – Zayn cruzou os braços. – Quando você não pode sair com a sua namorada vai sair com a minha?
- Você também não pode sair com a sua hoje, Malik. – Rebati com uma sobrancelha levantada e um sorriso cínico nos lábios.
- Touché. – Niall alfinetou.
- Não é legal quando os dois ficam contra mim. – Zayn ficou emburrado e eu ri.
- Não faz assim! – Balancei-o devagar pelo ombro e Niall se afastou. – Lembra o que eu te falei ontem à noite?
- Que o meu beijo é muito bom? – Perguntou convencido e eu fiquei vermelha ao me lembrar que realmente falei isso. – Ou que você não vive sem mim?
- A primeira parte pode até ser verdade, mas eu nunca falei que não vivo sem você! – Gargalhei, fazendo-o descruzar os braços e demos as mãos. – Lembra do que eu falei quando você contou que as suas irmãs pegam no seu pé?
- Você falou que sempre ficaria do meu lado. – Balançou as nossas mãos de um lado para o outro como uma criança de cinco anos de idade.
- Isso serve pra qualquer pessoa! – Me inclinei na direção dele, roubando um selinho inesperado. – O Niall só quer companhia.
- Eu odeio quando você faz isso. – Reclamou, mas acabou sorrindo.
- Isso o que?
- Está certa. – Deu de ombros.
- Então você me odeia sempre? – Pisquei. Eu devia estar pegando a mania de %Abi% em sempre achar estar certa.
- Meio a meio. – Soltou a mão da minha e a subiu devagar pelo meu braço. – Metade do dia eu te odeio e a outra metade eu gosto um pouco de você.
- Aham, sei! – Ri irônica e olhei em volta. – Vocês dois não deveriam estar escrevendo uma música para o baile de inverno?
- Esses dois são os piores alunos da academia toda, %Star%! – Ed respondeu, jogando as mãos para cima no estilo “eu desisto!”
- Então é melhor eu sair daqui e deixar vocês trabalharem. – Ameacei andar até a porta, mas Zayn me segurou.
- Não vai... Eu e o Niall vamos fazer alguma coisa, mas fica aqui. Por favor? – Fez uma carinha tão fofa que eu não conseguiria dizer não. – É o único tempo que vamos ter juntos hoje.
- Eu fico, baby... – Sorri e baguncei os cabelos dele. – Mas você não pode falar comigo e vai se concentrar! Eu só vou ficar aqui e olhar vocês.
- Isso mesmo! – Ed se juntou a nós e tocou Zayn no ombro. – Pode ir para a mesa e terminar a letra da música enquanto eu ensino a %Tah% a tocar piano.
- Sério?! – Meus olhos brilharam a escutar aquelas palavras.
- Sério? – Zayn parecia relutante e a reação dele não tinha nada a ver com a minha. – Tenho mesmo?
- Vai logo, Zayn! – Ed apontou para o canto onde Niall já rabiscava algo em um caderno.
O moreno demorou um pouco pra acreditar que teria mesmo que ir, mas acabou se dando por vencido. Ele se afastou e Ed me guiou até o piano de cauda que eu vira Zayn tocar algumas vezes. Sentei-me no banquinho em frente ao instrumento e enquanto Ed foi pegar outra coisa para que ele mesmo pudesse sentar, eu arrisquei apertar algumas teclas. Quando meu irmão e eu éramos menores e nossos pais ainda estavam juntos, ele teve algumas aulas de piano e eu acabava espiando de vez em quando, o que levou o professor a me ensinar a música “Parabéns pra você”. Fazia tanto tempo que eu não tocava que não tinha certeza se ainda lembrava, mas valeu a tentativa. As teclas eram mais pesadas do que eu esperava, mas mesmo assim consegui extrair um som agradável. Não vou dizer que acertei todas as notas, mas pelo menos dava pra entender qual era a canção que eu tentava tocar.
- Uau, eu não sabia que você tocava tão bem. – Ed sentou-se ao meu lado depois que a minha música acabou e eu fiz uma careta com aquela zoação.
- Pois é! Eu sou quase uma Tchaikovsky. – Me gabei de brincadeira.
- Eu vou te dar alguns pontos por você saber esse nome, ok? – Riu.
- Muito obrigada. – Também ri. – Você pode tocar algo pra eu escutar?
- Pensei que você queria aprender. – Perguntou, mas eu já afastei um pouco o meu banco para que ele se aproximasse do piano.
- Eu quero, mas não vou aprender tudo em uma aula só... Então adoraria escutar você tocar.
- Tudo bem... – Se preparou para começar a tocar. – Se você conhece Tchaikovsky, deve conhecer esse aqui...
Notei que Ed respirou fundo e deixou as costas eretas, corrigindo sua postura. Aparentemente não é só no ballet que a postura é importante; anotado! Escutei as primeiras notas da música e já percebi qual era: Fur Elise de Beethoven. Até mesmo quem não entende de música conhece aquela, então foi fácil descobrir. O que me encantou é que os dedos de Ed eram tão ágeis e os sons saíam tão perfeitos que eu me perguntei o quão bom pianista ele realmente era. Devia ser um dos melhores do país, o que justificava a sua fama na Academy e a sua popularidade entre os alunos. Era meio difícil não julgá-lo pela aparência desleixada e roupas nada formais, mas Ed Sheeran escondia um baú de talento por trás de tudo aquilo. Zayn e Niall podiam ser invejados por terem um professor tão bom e que, além de tudo, ainda era um amigo bastante íntimo.
- Ed... Isso foi incrível! – Bati palmas e ele sorriu em agradecimento.
- Obrigado, meus fãs, obrigado! – Fez uma espécie de reverência e eu ri.
- Eu posso te pedir uma coisa?
- O que quiser... – Me olhava com curiosidade.
- Já me falaram que as músicas de todas as apresentações do baile de inverno vão ser tocadas ao vivo mesmo... Mas eu gostaria que você tocasse durante a minha. – Fiz um biquinho achando que seria difícil convencê-lo.
- Eu adoraria, %Tah%! – Concordou até mais rápido do que eu esperava. – Você já tem uma música em especifico?
- Pra falar a verdade não... – Balancei a cabeça em negação, começando a notar o quanto Nick e eu estávamos atrasados... E eu achava que estava adiantada. Tsc.
- Não precisa se desesperar, ok? Vou te mostrar algumas que eu acho que você pode gostar e depois mostramos ao seu parceiro.
E foi assim que a minha aula de piano foi para o espaço. Claro que era bem melhor decidir qual seria a música da minha apresentação, mas eu tinha realmente vontade de aprender algo novo. Ed pegou algumas partituras e tocou algumas músicas clássicas. De vez em quando eu notava que Zayn estava me encarando, mas fingia não perceber só pra ver quanto tempo ele demorava pra desviar o olhar.
+++ - Mas, %Tah%... Nós acabamos de comer. – Niall resmungava deitado no sofá da minha casa. – Não temos que esperar uma hora antes de jogar?
- Isso é pra nadar, Niall! – Ri e tentei puxá-lo pra fora do sofá, mas não adiantou. Aquele menino é mais pesado do que aparenta. – Harry, me ajuda aqui?
- Na verdade, %Tah%... Eu concordo com ele. – Haz estava deitado no chão, encarando o teto e com a mão na barriga.
- Vocês não deviam ter comido tanto! – Levei uma mão à testa, decepcionada por ter amigos tão preguiçosos.
Niall realmente veio passar o dia comigo e quando chegamos em casa fomos direto para a cozinha e fizemos o almoço. Ni me ensinou a fazer uma tal de “carbonara” que até que ficou bem gostosa, mas ele e Harry – que chegou na metade do processo – comeram demais. Demais mesmo. E o resultado foi aquele; dois gordos morrendo de preguiça e sem forças nem pra levantar.
- Eu desisto de vocês, ok? Vou jogar sozinha. – Ameacei com os braços cruzados, mas não fiz efeito algum.
- Isso mesmo, %Tah%. – Niall colocou uma almofada sobre o rosto e eu não duvidava nada que ele começaria a roncar em instantes.
- Comece sem a gente... – O mais novo pediu.
- Eu odeio vocês dois.
É claro que eu estava brincando e eles sabiam disso, até porque começaram a rir do meu drama. Dei de ombros e terminei de configurar o jogo na televisão. Tive que sincronizar os meus movimentos com os sensores da TV e isso demorou um pouco, mas pelo menos foi o tempo que Harry levou para sair do chão e se arrastar para o sofá, onde deitou com Niall. Alguém teria ciúmes daquela cena... E não, eu não estava falando de %Abi%. O jogo começou a funcionar e eu me preparava pra escolher a minha música, mas um barulho na porta de entrada me fez parar. Liam e Louis surgiram do nada, o que era muito estranho já que ainda era horário de trabalho. A expressão no rosto dos dois também não era das melhores e eu comecei a ficar preocupada.
- O que vocês estão fazendo aqui? – Perguntei, deixando o Xbox de lado.
- Fomos demitidos. – Louis respondeu, mas nem parecia tão triste assim.
- Tá falando sério? – Aquela noticia me pegou de surpresa, por mais que eu soubesse que os dois não estavam satisfeitos com o trabalho.
- O que aconteceu? – Harry parecia se livrar da preguiça e ele e Niall deram espaço para os meninos sentarem no sofá também.
- Na verdade, eu fui demitido e o Lou pediu demissão por causa disso... – Liam corrigiu o meu irmão e parecia um pouco mais abalado. – Foi uma besteira, pra ser sincero.
- Não importa mais, de qualquer forma. A gente já não tinha mais saco pra passar o dia inteiro ali. – Lou se sentou ao lado de Niall e o cumprimentou.
- Eu lembro de vocês reclamando... – Tentei me manter positiva e pensar que tudo ficaria bem, mas tinha algo que não saia da minha cabeça. – Mas, Li... Você veio pra Londres por causa desse emprego. Agora vai ter que voltar pra Wolverhampton?
- Não imediatamente. – Coçou a nuca. Ele também devia estar pensando o mesmo que eu. – Ainda vou tentar ficar aqui por mais dois meses e tentar achar outra coisa pra fazer...
- Nós não vamos deixar você ir embora. – Lou deu batidinhas no ombro do amigo, como encorajamento.
- Mas não se preocupem... Meus pais podem pagar a minha parte da casa enquanto eu ainda não arrumar um emprego. – Aquilo devia ser difícil para Liam, já que ele era bem orgulhoso quanto a essas coisas.
Já estava mais que claro que Liam era um morador da casa e não mais apenas um hóspede, por isso ele ajudava nas despesas. A casa era nossa, então não havia o preço do aluguel, mas em compensação a vida em Londres acaba sendo bem cara por si só, ainda mais em um condomínio de luxo como aquele em que morávamos. Eu não estava preocupada em como iríamos pagar as contas, pois meu pai não se importaria em dar uma ajudinha extra, mas sei que Liam e meu irmão não gostariam de depender financeiramente de ninguém. De qualquer forma, nós teríamos que dar um jeito nisso.
- Não esquenta com isso, Li. Eu só quero que você possa ficar com a gente. – Falei sincera e ele sorriu.
- Nós vamos dar um jeito em tudo. – Louis também sorriu.
- Já que estamos falando de problemas... Eu também tenho algo a confessar. – Harry chamou a nossa atenção e eu não sabia se me preparava pra uma piada ou algo realmente sério. – Eu saí da universidade há duas semanas... E estou trabalhando em uma padaria durante a manhã.
- Por quê? – Louis o encarava sem acreditar. Tá certo que Harry não parecia tão animado com as aulas de direito e eu não o enxergava como um advogado, mas ter uma formação superior sempre foi algo importante para a família dele. Por isso eu fiquei um pouco espantada com aquela noticia. – E o mais importante, Haz, por que você não contou pra gente antes?
- Eu não sabia como falar... Não sei, senti vergonha. – Suspirou. Eu olhava para Harry e só queria abraçá-lo. Ele devia estar se sentindo mal e eu sabia que tinha mais coisa por trás daquela história, mas só conversaria com ele a sós depois. – Tem mais uma coisa...
- O que é agora? – Bufei mais preocupada ainda. Desde quando uma tarde que deveria ser apenas de diversão se tornava um desastre?
- Gemma está indo morar nos dormitórios da faculdade dela... E a minha mãe quer voltar para Cheshire no final do ano.
- Hã? – Senti um aperto enorme no coração e caí sentava na mesinha de centro. – Você não vai embora...
O silêncio mais desconfortável que eu já presenciei na vida se instalou na sala. Harry olhava para o chão e Lou encostou a cabeça no ombro dele, sem saber o que falar. Liam também estava cabisbaixo, provavelmente pensando nos próprios problemas. Eu continuei sentada na mesinha de centro sem nem me preocupar com o peso que eu estava fazendo no tampo de vidro. Sempre fui fã de “plot twists” em livros e filmes, mas na vida real? Não estava gostando nada!
- Ahn... Eu sei que sou novo aqui, mas alguém pode me explicar? – Niall levantou a mão como um aluno faria na sala de aula se tivesse uma dúvida. Eu geralmente teria me prontificado a explicar tudo, mas estava chocada demais para sequer pensar direito.
- Eu explico... – Louis começou, vendo que eu continuaria calada. – A família do Harry não é daqui, Niall. Anne, a mãe dele, se mudou pra cá quando ele era pequeno pra que pudesse estudar em uma boa escola, já que Holmes Chapel em Cheshire é só um vilarejo. E agora a Gemma está saindo de casa e o Harry saiu da universidade...
- A Anne não tem mais o que fazer aqui. – O interrompi com um suspiro.
- Minha mãe não quer mais ficar longe da família... – Haz estava quase chorando, pois ele apertou os lábios do jeito que fazia quando tentava se segurar.
- Mas nós somos a sua família agora, baby cakes. – Lou passou o braço em volta dos ombros de Harry, me dando uma ótima ideia.
- Harry, porque você não se muda pra cá? – Falei do nada, fazendo todos os quatro meninos me olharem espantados. – Ué... Porque essas caras? Minha ideia faz sentido! Ele já passa praticamente todos os dias aqui, temos um quarto vazio lá em cima que só serve como guarda tralhas... Desse jeito ele não teria que voltar pra Cheshire e seria mais um pra dividir as despesas.
- Você é um gênio, %Tah%! – Louis sorriu.
Minha ideia podia ter saído do nada e nenhum de nós tinha pensado direito naquilo, mas situações desesperadas exigem medidas desesperadas. Eu não deixaria Harry ir embora, não agora que estávamos tão próximos. E muito menos Liam... Porque ele podia ser novo na família, mas tinha a mesma importância.
+++ Em duas horas mais ou menos, nós cinco conseguimos combinar direitinho o que faríamos. Sim, cinco, porque Niall se mostrou muito eficiente no sentido de dar ideias. Harry aceitou se mudar para a nossa casa e estava bem animado, afirmando que sempre quis morar com amigos, mas não tinha intimidade suficiente com ninguém além de Lou, Liam e eu. Ele continuaria trabalhando na padaria, pois gostava de lá e o salário era bom. Li também ficou mais tranquilo quanto ao assunto de pagar as contas, por mais que eu tivesse alegado desde o começo que ele não precisava se preocupar.
Quando o relógio marcou três e meia da tarde, eu finalmente consegui convencer os meninos a jogarem Just Dance 4 comigo, nem que fosse para acalmar os nervos de vez. Pois é, eu não descansaria enquanto não jogasse aquele jogo, redundâncias a parte. Mais uma vez conectei o vídeo game e me preparei para escolher a primeira música.
- Ok, quem quer ir primeiro? – Olhei para os quatro garotos sentados no sofá após ter afastado a mesinha de centro para ter mais espaço. Nenhum deles se mexeu. – Calma, um de cada vez!
- Eu posso começar. – Claro que Liam não me deixaria sozinha nessa, então ele tratou de levantar e fazer alguns movimentos para se alongar. – Mas você sabe que eu não sei dançar.
- Sei sim... – Gargalhei ao lembrar das minhas tentativas de ensiná-lo a dançar na festa de Halloween. – Mas o que vale é a intenção, ok?
- E vocês aí... – O menino se virou para quem estava nos assistindo. – Nada de rir!
- Aí já é pedir demais. – Lou já se preparava pra tirar uma com a cara dele. – Harry, vai pegar a câmera?
- É pra já! – Haz saltitou pela sala e foi até as escadas.
- Eeeeeeepa! – Liam reclamou e ameaçou ir atrás do menino, mas eu o impedi.
- Deixa eles, Li! Vamos escolher a música... – Segurei na mão dele e comecei a ver as opções que o jogo nos dava.
- Eu conheço essa! – Falou quando “Disturbia” da Rihanna apareceu na tela. – O que acha?
- Pode ser!
Assim que a música foi decidida, eu enrolei um pouco mais que o necessário pra selecionar as opções e dar inicio ao jogo. Tudo isso para que Harry pudesse voltar com a câmera de vídeo. Liam estava bem concentrado e parecia querer fazer um bom trabalho - mesmo que não pudesse me vencer - e nem viu quando Lou pegou a câmera com Haz e começou a nos gravar. Eu sempre fui a favor de registrar esses momentos entre amigos e gostava bem mais de vídeos do que de fotografias, porque fotos mostram o momento e o vídeo em si mostra uma risada, uma palavra, ou uma cena que você poderia querer rever várias vezes. Acenei para a câmera com um sorriso e mandei um beijo no ar. Lou virou o objeto na própria direção e disse algo como: “Bem vindos ao primeiro programa do Tommo. Hoje teremos uma competição...” e continuou falando como se realmente fosse um apresentador de TV. Meu irmão sempre levou jeito para falar e fazer qualquer coisa em frente a uma câmera, principalmente porque tinha uma capacidade incrível para improvisar.
Eu teria gostado de continuar prestando atenção no que Louis falava, mas devia me concentrar na partida que estava começando. Não tenho certeza se Liam já havia jogado Just Dance alguma vez na vida, mas ele parecia tão perdido com os primeiros passos que eu tive que rir. Já eu, como a boa viciada que sempre fui, tirei de letra. Não vou mentir e dizer que os meus primeiros movimentos foram perfeitos, mas eu fui pegando o jeito.
- Como você consegue? – Liam parecia desesperado e repetia os movimentos totalmente atrasado. – É rápido demais, %Tah%!
- Não é não! É só olhar os bonequinhos. – Tentei ajudá-lo, mas seria difícil.
- Eu estou olhando os bonequinhos! – Balançou os braços na hora certa e conseguiu acertar alguns passos.
- Você está olhando os bonequinhos errados, Leeyum! – Ri demais e acabei errando. – Não olhe os dançarinos no meio da tela... Olhe os que estão embaixo da tela. Eles aparecem antes de você ter que fazer o passo!
- Isso não faz sentido nenhum! – Levou as mãos até a cabeça, mas continuou mexendo o resto do corpo.
Eu não era a única pessoa rindo do meu adversário, porque Niall ria cada vez mais e ainda por cima daquele jeito bem escandaloso que só ele conseguia. Louis continuava passeando pela sala com a câmera em mãos e gravava tudo. Liam viu o que ele estava fazendo e tentou se esconder, mas ao ver que perderia o jogo bem mais rápido se continuasse daquele jeito, desistiu e permitiu ser filmado. Aproveitei quando a câmera passou por mim pra fazer algumas gracinhas como mandar beijo e piscar.
- %Star% Tomlinson, senhoras e senhores! Também conhecida como %Estrelinha%, ou pequena Tommo! Minha baby sister. – Lou me apresentou. – Um talento nato na dança e em frente às câmeras, vejam só!
- Olá, gente! – Acenei para a câmera, mas logo voltei a minha atenção para o jogo.
- Esse que está ao lado dela é o senhor Liam Payne! – Lou atravessou na nossa frente e parou ao lado do menino. – Não tão talentoso na dança, mas ainda assim um prêmio para os seus olhos.
- Uhh. – Liam sorriu se achando depois daquele comentário e piscou para a câmera.
- Vamos ver quem vai levar a vitória... – A música já estava perto de acabar, então Louis focalizou na TV e filmou os últimos acertos e erros.
É meio óbvio falar que eu ia ganhar, né? Sei que a minha vitória não surpreendeu ninguém, mas eu ainda me senti muito bem. Fiz a minha dancinha de comemoração e Liam me empurrou devagar, fingindo estar bravo. “Ela roubou!” era o que ele gritava. Ninguém o deu ouvidos e me parabenizaram, mandando-o ir para o canto da vergonha. Eu não sabia se ria mais do bico de Liam ou de Niall levantando e dizendo que conseguiria me vencer.
No começo ninguém queria brincar, mas foi só verem o quanto podia ser divertido que todos queriam ter a sua vez. Eu dancei contra Niall e venci. Depois Louis e Harry foram um contra o outro... Harry venceu. Liam e Niall se enfrentaram e Niall conseguiu ganhar. Liam + eu novamente e Louis + eu... Ninguém ganhou de mim. Por mais cansada que eu começasse a ficar, não desistia nunca. Era a vez de Harry ir contra mim e ele estava conversando alguma com Liam, o que foi bem suspeito, se posso comentar. Arqueei uma sobrancelha tentando escutar os cochichos, mas o assunto morreu assim que eu cheguei perto.
- Escutar conversas alheias é feio, %Star%! – Harry colocou as mãos na cintura, reclamando como uma velha.
- Então vamos acabar com isso logo, curly! – Fui até o meu lugar e olhei para a televisão. – Você pode escolher a música, já que eu vou te vencer de qualquer jeito.
- É o que veremos! – Me olhou de modo desafiador, mas não me assustou.
- Sinto um clima pesado por aqui, caros telespectadores! – Lou continuava com a câmera e filmava tudo. – Façam suas apostas!
- 10 pounds na %Tah%! – Niall levantou a mão.
- 20 pounds no Harry! – Liam apostou contra mim.
A música que Harry escolheu foi On the Floor, da JLo. Aquela foi uma escolha corajosa, já que requeria bastante rebolado e sincronia. Eu estava louca pra ver Harry rebolando até o chão e nunca agradeci tanto por Louis estar gravando aquele momento, pois era algo que eu gostaria de ver e rever, ver e rever, ver e rever...
Logo começamos a dançar e nos mexer. Harry não seguia os passos que apareciam na TV e inventava os próprios; um mais estranho que o outro. Eu não estava entendendo nada, mas pelo menos assim eu disparei na frente, já que podia errar um passo ou outro, mas acertava a maioria. Haz devia estar tentando me atrapalhar, pois acabamos esbarrando vez ou outra. Eu já estava pronta pra reclamar, mas ele finalmente começou a seguir os passos certos, porém, eu não via o garoto que se aproximava por trás de mim.
- Agora, Liam! – Harry gritou e eu mal percebi quando braços fortes agarraram as minhas pernas.
- O QUE É ISSO? – Gritei quando Liam me colocou nos ombros. Eu me senti um saco de batatas e a minha próxima visão foi as costas de Liam. – ME SOLTA, PAYNE!
- Desculpa, %Tah%, mas foi a única saída! – Ele segurava as minhas coxas e eu esperneava, mas não parecia fazer efeito nenhum.
- ISSO NÃO É JUSTO! – As vezes eu esquecia do quanto Liam é forte e tenho certeza que ele aproveitava os momentos em que me carregava (que eram muitos, por sinal) pra tirar uma casquinha. – EU VOU PERDER!
- Exatamente! – Harry gritou. Então era sobre isso que eles estavam cochichando!
- NIALL, ME AJUDA! – Eu estava praticamente de cabeça pra baixo e não gostava disso. Minha única saída foi apelar para o melhor amigo do meu namorado e ver se conseguia alguma compaixão.
- Eu vou te salvar, %Star%! – Niall levantou, mas assim que Liam viu esse movimento, começou a correr.
- LIAM, VOCÊ VAI ME DERRUBAR! – Me senti uma donzela de desenhos animados e estava sendo raptada. Apesar de saber que Liam não deixaria nada de ruim acontecer comigo, ainda era tenso estar sendo chacoalhada por aí.
O meu sequestrador correu para fora da sala e passou direto pelo hall de entrada, abrindo a porta e partindo para fora de casa. Eu não sabia se me segurava ou se ria, porque aquela era uma cena bem engraçada. Niall veio atrás da gente trazendo Louis e Harry consigo, mas nenhum dos dois parecia querer ajudar. Lou continuava com a maldita câmera e Harry só gargalhava e batia palmas. Eu gritava por socorro, mas não adiantava em nada. Liam corria pela grama e mesmo estando me segurando conseguia ser mais rápido que o loiro.
Não sei bem o que aconteceu, mas Niall pulou em cima da gente e agarrou as pernas de Liam, desequilibrando-o. Eu dei um grito tão alto ao sentir que estávamos caindo que a nossa vizinha com certeza teria escutado. Pelo bem da minha vida, Liam acabou caindo de lado, ou seja: Não bati a cabeça em lugar nenhum. Meu quadril ficaria bem dolorido, mas pelo menos eu não morri. Para me vingar e dar um troco naqueles meninos, fechei os olhos para me fingir de morta. Ou melhor... Me fingir de desmaiada, já que não conseguiria prender a respiração por muito tempo. Deixei o corpo mole assim que Liam me soltou na grama, rindo muito. Niall também gargalhava e Harry foi o único que pareceu perceber que algo havia acontecido comigo. Eu não estava vendo nada, obviamente, mas senti duas mãos grandes segurando os meus ombros.
- %Tah%? – Hazza me balançou. – Gente, a %Star% não tá bem!
- O que aconteceu? O que foi que eu fiz? – Escutei Liam ao meu lado.
- %Star%! Fala alguma coisa, %Tah%... – Harry quase chorava e eu tive um pouco de pena.
- Alguém chama uma ambulância! – Liam estava MUITO preocupado.
- Zayn vai me matar... – Niall pensou alto.
- Não precisa. – Louis se aproximou. Droga! Ele saberia que era mentira. – Harry, segura a câmera aqui.
- O que você vai fazer?
Harry não sabia o plano de Louis, mas eu sim... Logo que senti as mãos do meu irmão fazendo cócegas nas minhas costelas desatei a rir. Seria impossível continuar me fazendo de desmaiada depois de ser atacada no meu ponto fraco. Abri os olhos e vi que Liam e Niall já estavam mais aliviados e até sorriam um pouco. Harry nos filmava e eu tentava segurar as mãos de Lou, mas era impossível. Eu tentei me arrastar pela grama, mas acabou sendo pior, pois Louis sentou em cima das minhas pernas enquanto eu estava de barriga para baixo e me dominou.
- Eu disse que não precisava de uma ambulância!
- LOUIS, ME SOLTA! – Comecei a gritar novamente. – SOCORRO!
- Que bagunça é essa? – Assim como eu havia previsto, a nossa vizinha apareceu no próprio jardim, assustada com todo aquele barulho e confusão.
- Desculpe, Marge! Não queríamos incomodar. – Aparentemente Louis conhecia-a pelo nome. Ao menos ele me soltou e Liam me ajudou a levantar e limpar um pouco da grama que estava no meu cabelo.
- Ora, são só vocês, crianças? Achei que era alguma confusão! – Do mesmo jeito que saiu, a senhora voltou para dentro de casa.
- Marge? – Olhei para o meu irmão e os outros meninos riram. – Está cheio de intimidade!
- Ela é a sua namorada, Louis? – Harry o zombou.
- É você que gosta de mulheres mais velhas aqui, Hazza. – Lou rebateu e eu gargalhei.
- Vamos entrar logo, gente. Preciso sentar! – Puxei Liam com uma mão e Niall com a outra, indo para dentro de casa.
Harry e Louis finalmente guardaram a câmera e nós voltamos para a sala. Liam foi o primeiro a sentar no sofá e eu me joguei lá em seguida. Estava realmente cansada. Sem nem pedir permissão, me arrastei até as pernas de Li e descansei a cabeça ali. Niall levantou as minhas pernas para poder sentar, mas eu não me encolhi. Os outros dois meninos estavam com fome, então foram para a cozinha fazer o nosso lanche. Eu escutava as vozes de Niall e Liam, mas elas começaram a ficar bem distantes e eu já não entendia mais o assunto da conversa. Tudo ficou escuro...
+++ Quando acordei na minha naquele fim de noite, não fazia ideia do que tinha acontecido ou de como chegara até o meu quarto. Fiquei atordoada até entrar em baixo do chuveiro para tomar um banho bem tomado (pois eu estava precisando) e despertar. Minha última lembrança era deitar no colo de Liam... “Eu devo ter adormecido e alguém me trouxe até aqui”, pode ter sido uma conclusão óbvia, mas eu tinha acabado de acordar, então dê um desconto.
O ruim de dormir durante a tarde é que meu sono fica completamente desregulado e eu não consigo dormir novamente nem tão cedo. Foi exatamente isso o que aconteceu... Depois de descer para jantar - já vestindo pijamas e limpa - e constatar que Niall havia ido embora e Liam e Louis já estavam dormindo, eu fiquei girando na cama de um lado para o outro. Deixei um abajur ligado para que eu pudesse ficar olhando as tulipas cor de rosa que ganhara na noite anterior e que Rachel colocara em um vaso na minha mesinha de cabeceira. O ursinho que Zayn usara pra me pedir em namoro não saía da minha cama e eu o abraçava com carinho, absorta em pensamentos.
Comecei a lembrar das vezes que eu não conseguia dormir e a minha avó Jolene preparava o meu chá preferido e me contava histórias de ninar. Meu avô costumava ficar parado na porta do quarto, nos observando... E ele só saia de lá depois que eu apagava completamente. Que apresentar os dois para Zayn e tinha certeza que se dariam bem demais! Também gostaria de apresentá-lo à minha mãe, mas já não sabia como seria a sua reação. Eu falava com o meu papa no mínimo uma vez por semana e sempre perguntava sobre ela e, segundo ele, mamãe estava começando a ser mais responsável. Aparentemente foi preciso que ela ficasse longe dos filhos pra poder acordar e ver o que estava perdendo. Por mais que fosse difícil pra mim falar isso, eu sentia falta dela. Mesmo com o jeitinho maluco e infantil de ser.
Fiquei de joelhos na cama para poder dar uma olhada nas fotos em minha parede. Era em momentos assim que eu agradecia por ter colado aquelas imagens tão perto de onde eu pudesse ver com facilidade. Meus olhos foram direto para uma fotografia em especial... Devia ser Natal, o que explicaria a árvore enfeitava com bolas vermelhas e azuis, e eu devia ter mais ou menos cinco anos de idade. Estava sentada em um lado do colo de meu pai e meu irmão no outro, sendo que ele deveria ter sete anos. Minha mãe estava de pé e olhava para o meu pai, completamente apaixonada. Papai olhava pra Louis e eu ria de alguma coisa muito engraçada na época. Hoje em dia eu já não consigo mais lembrar a história por trás daquilo, mas é impossível olhar a foto e não sorrir. A nostalgia começou a tomar conta de mim e eu passei para outra foto:
Já alguns anos mais tarde, eu estava vestida como um floco de neve e meu avô me entregava um buquê de rosas vermelhas. Daquela foto eu me lembrava... Louis era quem a havia tirado após uma das minhas apresentações de ballet. Nem meu pai ou minha mãe puderam ir me assistir por culpa do trabalho e eu tinha ficado bem triste com isso, mas depois que vi as flores esqueci todos os problemas! Aquela foi a primeira vez que eu recebia um buquê. Quem diria que anos depois eu teria recebido outro e ainda por cima de um namorado?!
O barulho de algo batendo contra o vidro da minha janela me fez sair dos meus devaneios. “Será que um morcego está tentando entrar aqui?” Agradeci por estar tudo fechado, já que eu não conseguiria lidar com um bicho das trevas naquela madrugada. Preferi ignorar e voltei a deitar na cama, me preparando pra apagar o abajur e tentar dormir. Uma batida mais forte na janela me fez parar o que eu estava fazendo e comecei a me preocupar. Dessa vez eu tive que me aproximar da janela e na metade do caminho mais uma batida me surpreendeu. “O que é isso?” Afastei as minhas cortinas e abri a janela, espiando o céu a procura de morcegos.
- O que você está procurando aí em cima? – Uma voz masculina me assustou e eu quase caí pra fora da janela. Por sorte eu conhecia bem o dono da voz e não tive medo que fosse um estuprador ou coisa parecida.
- O que você está fazendo aqui? – Perguntei aos sussurros, mas não evitei um sorriso.
- Eu sempre vi as pessoas fazendo isso nos filmes, então resolvi tentar. – Podia estar escuro, mas eu conseguia ver claramente a expressão de divertimento no rosto de Zayn.
- Você é maluco, Malik! – Ri baixo com medo de fazer algum barulho e acabar acordando alguém. – Mas você não podia fazer isso mais tarde? São duas horas da manhã!
- Já são duas horas? – Olhou para o relógio no próprio pulso. – Vem, nós temos que ir!
- Ir pra onde? – Ele realmente estava maluco... Era a única explicação. – Eu não vou sair de casa agora!
- Vai sim! – Riu. – Vem logo, babe. Ou eu vou ter que subir aí e te arrastar?
- Não vai subir aqui coisa nenhuma! E eu também não vou descer. Já é tarde!
- %Star%, eu acho que vou ter que ser um pouco mais claro com você. – Começou a falar mais alto e eu fiquei com medo que alguém na casa da vizinha o escutasse. – Isso é um sequestro.
- Um sequestro? – Sorri contra a minha vontade.
- Isso mesmo. Agora desce logo ou vou subir. – Deu ênfase na palavra ‘vou’ e parecia estar se divertindo mais do que devia.
- Já que você não está me dando outra opção! – Rolei os olhos, dando-me por vencida. – Espera eu trocar de roupa!
- Não demora!
Eu podia estar sendo cabeça dura, mas era tudo charme. Quem não ficaria feliz com uma visita do namorado no meio da madrugada? Eu com certeza fiquei. A parte que me deixou meio apreensiva era ter que sair. Zayn poderia me levar pra qualquer canto, mesmo que não fossem muitos os lugares que ainda estavam abertos naquela hora. Assim que voltei para dentro do quarto, fechei a janela e a cortina porque nunca se sabe quem pode te espiar trocar de roupa. Corri direto para o banheiro e escovei os dentes, passei um perfume básico e amarrei os cabelos em um coque desarrumado. Em seguida, fui até o closet e peguei as primeiras roupas que encontrei, sem me preocupar muito se eram arrumadas ou não. O clima lá fora parecia estar frio e eu não queria ter que sofrer em cima de um salto alto, por isso priorizei o conforto. Também peguei uma bolsa qualquer e guardei a minha chave de casa e celular ali dentro.
Ao abrir a porta pra sair do quarto, fiz o maior silêncio que consegui. Se fosse na casa dos meus avós, a escada teria me denunciado com um rangido, mas tive sorte e consegui chegar ao primeiro andar sem ser notada. Olhei para a chave que estava na fechadura da porta de entrada e quis matar o meu irmão por ter um sininho em seu chaveiro. Qualquer movimento que eu fizesse ali seria denunciado e qual seria a graça de sair escondida no meio da noite se alguém me descobrisse? Nenhuma! Por isso só havia uma coisa que poderia ser feita; sair pela janela. Eu tinha três opções: A janela da sala, a da cozinha ou da sala de jantar. Fiquei com a primeira opção, pois era a maior janela.
Não tive trabalho em abri-la em silêncio e muito menos em pular para o lado de fora. Na minha cabeça passava a melodia da música tema do filme Missão Impossível e eu me senti muito badass com a minha própria trilha sonora. Avistei Zayn próximo ao carro dele corri pelo caminho de pedra, torcendo para não tropeçar no escuro. Ele viu a minha aproximação e também correu ao meu encontro. Para completar a cena do filme, eu pulei nos braços dele que, por sua vez, me segurou com força e me girou no ar. Nós dois rimos baixo, claramente felizes em estarmos nos vendo. Assim que coloquei os pés no chão novamente, puxei-o para um beijo. Não foi o mais intenso que já trocamos, mas falava tudo que era preciso: “Eu sentia a sua falta.” “Estou feliz em te ver.” E “Você é louco, mas ainda bem que está aqui.”
- Vamos logo, porque o lugar onde estamos indo fica longe daqui. – Zayn me segurou pela mão, guiando-me até o carro. – E não adianta perguntar nada!
- Eu não ia perguntar. – Mesmo que estivesse morrendo de curiosidade! – Eu te conheço o suficiente pra saber que não há nada que você goste mais de fazer do que surpresas.
- Aprendeu direitinho!
Zayn sorriu e abriu a porta pra mim. Sei que ele fazia isso todas as vezes que eu tinha que entrar ou sair de um carro, mas não me cansava. Na verdade, adorava todo esse cavalheirismo que ele tinha comigo. O menino deu a volta no carro e também entrou, colocando o cinto de segurança e me olhando com um sorriso sapeca nos lábios. Ele devia estar bolando alguma coisa e queria ver a minha reação, pois era isso que aquele sorriso significava. Eu ri e me acomodei no banco do carona. Como nosso “passeio” seria longo, eu queria estar bem confortável.
Passamos pelo portão do condomínio e Zayn acenou para o porteiro. Isso explicou bastante, como por exemplo como ele entrou no meio da madrugada em um complexo de luxo sem nenhum tipo de aviso. Os dois já deviam ser amiguinhos. Eu não me importava que o meu namorado tivesse acesso livre à minha casa, mas se isso acontecesse com outras pessoas eu começaria a achar inconveniente.
- Como foi o seu dia hoje? – A rua estava praticamente vazia, então ele pode olhar pra mim ao perguntar. – Niall se comportou?
- É claro que ele se comportou! – Estreitei os olhos e ele riu disso. – Meu dia foi bom... Cheio de altos e baixos. Fortes emoções!
- É? E o que aconteceu? – Zayn não parecia perguntar só por educação. Ele tinha interesse em saber sobre o meu dia, queria que eu dividisse com ele.
- Pra começar... Lou e Liam saíram do emprego! – Sentei de lado no banco, de frente para ele.
- Mas isso é bom, certo? – Paramos em um sinal vermelho e ele pode me olhar. – Você já me disse que eles não estavam gostando de lá mesmo.
- Tem o lado bom e ruim, porque talvez o Liam tivesse que ir embora se não encontrasse outro emprego logo... Já que ele veio pra Londres por causa desse emprego e tal. – Expliquei.
- Ahh, é verdade! E o que vocês vão fazer?
- É aí que chegamos à outra parte da história... – O carro voltou a andar e Zayn teve que olhar para a estrada, mas ainda me escutava atentamente. – Vou resumir, porque agora complica um pouco. O Harry saiu da faculdade e por isso teria que voltar para a sua cidade natal com a mãe no fim do ano, mas é claro que nós não deixaríamos. Então ele vai morar com a gente também!
- Que bom que ele não vai embora, mas... – Me olhou pelo retrovisor. – Você vai morar em uma casa com três homens?
- Bem... Um homem e dois suspeitos, porque eu ainda acho que meu irmão e Haz tem um caso. – Ri e ele me acompanhou.
- Eu sempre soube que tinha algo rolando entre os dois! – Entrou na brincadeira.
Meia hora se passou enquanto conversávamos sobre aquele assunto. Zayn até mesmo se ofereceu pra ajudar na mudança de Harry, mesmo que ainda não tivéssemos uma data marcada. Qualquer ajuda seria muito bem vinda, pois eu já podia imaginar toda a bagunça que os meninos acabariam fazendo e largando a maior parte pra cima de mim. Pelo menos com Zayn ao meu lado, eu poderia fazê-lo me ajudar.
Eu estava tão distraída com os assuntos dentro do carro e com todos os olhares que Zayn e eu trocávamos que nem percebi quando saímos da cidade. Olhei em volta pela primeira vez e não vi prédios ao meu redor, apenas árvores. Estávamos em uma estrada pouco iluminada e eu só fiquei mais curiosa ainda, tentando imaginar onde poderíamos estar indo. Eu nunca havia passeado pela Inglaterra de carro, mas começava a achar que era isso que estava acontecendo. Sei que não adiantaria nada perguntar para onde estávamos indo, então eu teria que esperar pra ver.
- E como foi a sua tarde de compras hoje, baby? – Perguntei voltando a olhar pra ele.
- Foi boa... – Respondeu um pouco relutante. – A minha mãe comprou comida suficiente para alimentar um exercito, mesmo eu falando que você é apenas uma pessoa. Ela fez questão de comprar peixe, carne vermelha, carne de frango...
- Eu falei que não queria dar trabalho! – O interrompi, me sentindo mal. Se há algo que eu realmente odeio é dar trabalho, principalmente se for para a sogra que eu ainda nem conheço.
- Sei disso, babe, mas não se preocupe. – Ele sorriu pra mim. – Ela faz isso com muito gosto.
- Tentarei não ficar mais ansiosa do que já estou. – Ri nervosa e passei a mão pelos cabelos, jogando a franja para o lado.
- Tenho certeza que ela vai te adorar.
- Ela gostava da Brigitte? – Perguntei com um pouco de medo de não gostar da resposta.
- As duas nunca se conheceram, pra falar a verdade. – Respondeu e eu acabei rindo um pouco alto demais. – Acho que você gostou de saber disso...
- Mais do que você pode imaginar! – Tentei controlar os meus risos. – Mas por que não?
- Eu nunca tive coragem de apresentar as duas. – Deu de ombros enquanto virava o carro para a direita, saindo do asfalto e entrando em uma rua de terra bem estreita e cercada por faias dos dois lados. – A Brie não é do tipo de garota que se apresenta para os pais.
- E mesmo assim você ainda a chama de “Brie”. – Cruzei os braços. Já não bastava eles terem sido namorados em um passado nada distante, ele ainda tinha que chamá-la pelo apelido?
- Está com ciuminho, é? – Foi a vez de Zayn rir e eu estirei a língua pra ele.
- E se eu estiver?
- Fica mais linda ainda. – Tirou uma das mãos do volante para virar o meu rosto na direção dele. Eu acabei sorrindo da carinha fofa que ele estava fazendo.
Odiei não conseguir ficar séria ou brava com Zayn por muito tempo, mas quem em sã consciência conseguiria? Ainda mais quando ele dava aquele sorrisinho com a língua bem próxima aos dentes. Fiquei encarando a perfeição dele até escutar o motor sendo desligado e sentir o carro parar. Olhei pra frente sem saber o que esperar e não vi nada além de luzes bem distantes. Um circulo brilhante chamou a minha atenção e eu fiquei tempo o bastante observando-o para descobrir que aquilo era nada menos que o London Eye e aquelas “luzes” que eu estava vendo era na verdade Londres vista de longe. Olhei para Zayn e ele era só sorrisos. Como não desligamos o farol do carro, eu percebi que estávamos em um mirante e que uns vinte metros na nossa frente havia um precipício. Sabe aqueles morros de filme, onde o casal principal vai para observar a paisagem? Era em um lugar mais ou menos como esse que nós estávamos.
Abri a porta do carro e saí, ainda um pouco surpresa com as luzes no horizonte. Eu não sabia que passamos tanto tempo na estrada a ponto de estarmos tão longe da confusão de cidade grande que tomava conta de Londres. Fui para a frente do carro com muito cuidado pra não acabar rolando montanha a baixo e Zayn também saiu do carro e foi ao meu encontro.
- É tão silencioso... – Fechei os olhos e apenas fiquei escutando o barulho que o vento fazia ao soprar as folhas. Nem mesmo no meu condomínio que era afastado de tudo eu tinha tanto silêncio assim.
- Ainda não viu a melhor parte, %Tah%. – Falou baixinho, me fazendo abrir os olhos e fitá-lo com curiosidade.
- Qual?
- Você disse que queria ver estrelas... – Apontou para cima.
Eu segui a direção do dedo de Zayn e olhei para cima pela primeira vez. Pode parecer difícil de imaginar, mas eu vi o céu mais estrelado que poderia existir. Meu queixo caiu e eu senti vontade de chorar. Sempre fui muito boba com essas coisas e aquela imagem ficaria pra sempre na minha memória. Palavras não conseguirão fazer jus àquele pedacinho do paraíso, mas eu vou tentar: O céu escuro era a tela e os milhões e milhões de pontinhos brilhantes a obra de arte. Uma estrela parecia acabar ficando por cima da outra, já que não tinha espaço suficiente para todas elas; algumas eram maiores que as outras e mais iluminadas. Ao centro da minha área de visão havia uma mistura de cores que ia do azul um pouco mais claro ao roxo e amarelo. Minha respiração ficou pesada e eu me senti bem pequena diante daquele milagre da natureza. Meus olhos ficaram marejados e eu não me importaria em deixar algumas lágrimas escaparem. Não vi nem sinal da Lua, mas ela não seria necessária.
- Zayn... – Segurei a mão dele, ainda olhando para cima. – É perfeito...
- Esse lugar aqui é o meu cantinho especial. – Falou em um sussurro e eu sabia que ele estava sorrindo. – Não há ninguém que eu gostaria mais de dividi-lo do que com você...
- Eu não sei o que falar... – Era verdade, pois eu estava encantada demais pra conseguir pensar em qualquer coisa ou formular frases.
- Não precisa. – Falou baixinho e beijou o meu ombro, ficando de frente pra mim em seguida. – Dança comigo?
- Mas não tem música nenhuma tocando... – Abaixei o olhar até o meu namorado.
- Tem sim. É só prestar atenção ao nosso redor.
Com isso, Zayn me puxou até o meio de onde estávamos e me envolveu delicadamente pela cintura. Eu o abracei pelo pescoço e nossos rostos ficaram bem próximos. Comecei a prestar atenção no que ele tinha pedido, tentando perceber os sons ao nosso redor. Não foi difícil notar o farfalhar das folhas, passarinhos cantando ao longe... Até mesmo o som de um pequeno riacho que corria em algum lugar da floresta não tão distante de nós dois. Ouvi o som que nossos pés faziam ao pisar na grama quando começamos a nos mover devagar, o som de nossas respirações... Tudo o que eu escutava era de uma simplicidade tremenda, mas ainda assim tinha grande importância. Aquela era a nossa música. Ninguém mais poderia tê-la e também não a escutaríamos em outro lugar, ou com outras pessoas. Era um momento mágico que eu gostaria de eternizar.
Nossos passos eram simples e lentos, mal nos tirando do lugar. Suspirei me sentindo leve e deitei a cabeça no ombro de Zayn, relaxando totalmente. Poderíamos estar no meio do nada, mas eu me sentia segura nos braços dele. Nem mesmo o vazio tão próximo de nós conseguia me assustar, pois eu sabia que se eu caísse, de alguma forma, ele me pegaria. Parece loucura, mas naquele momento eu não duvidava que ele tivesse criado asas e estivesse me levando para perto das estrelas. Sentia meu corpo leve e o chão não parecia estar embaixo dos meus pés. Por um momento não era a gravidade que me segurava; era Zayn.
Como o menino era mais alto que eu, ele deitou a própria cabeça sobre a minha e me abraçou cada vez mais. Zayn parecia gostar de me ter bem perto, me segurar e me impedir de sair do seu alcance. Eu sentia vontade de falar algo, mas três palavras estavam entaladas na minha garganta. Naquele momento eu tive certeza delas, mesmo em tão pouco tempo juntos. Se for verdade o que falam sobre cada pessoa ter a sua metade andando por aí, eu tinha encontrado a minha.
- Zayn... – Meu chamado saiu mais como um suspiro.
- Hm? – Também falava baixo.
- Obrigada por dividir esse lugar comigo... – Levantei a cabeça devagar, fitando-o.
- Eu dividiria o mundo com você, %Tah%. – Ele sorriu e segurou o meu rosto com as duas mãos.
Gentilmente depositou os lábios sobre os meus e os mexeu devagar. Eu retribui todos os selinhos demorados e carinhosos como se fossem a coisa mais preciosa do mundo. E realmente eram. Voltei a abrir os olhos assim que a boca dele já não estava mais tão próxima à minha e sorri como a garota mais feliz do mundo. Ele também sorriu e entrelaçou os nossos dedos, me guiando novamente em direção ao carro. Me ajudou a subir no capô do veículo e eu me acomodei quase deitada ali em cima, com as costas no vidro. O menino pegou algo no banco traseiro e eu logo vi que era um cobertor de lã. Sorri quando ele também subiu no capô e se deitou ao meu lado, cobrindo a nós dois com aquele pano. Eu me aproximei o suficiente para deitar a cabeça no ombro dele e ainda poder admirar o céu estrelado acima.
- Tá vendo aquela constelação ali? – Apontou para uma fileira de estrelas brilhantes.
- Aquela ali no meio? – Perguntei, também apontando.
- Essa mesmo. – Ele olhou pra mim com a maior cara de nerd. – É a Ursa Maior.
- Sério? – Olhei dele para a tal constelação, tentando imaginar o desenho de um urso. Sempre adorei estrelas, mas era uma negação para identificar algo além das Três Marias. Que por sinal eram quaisquer três estrelas próximas.
- Não faço ideia! – Ele riu e eu mais ainda. – Pode ser que seja!
- Ai, Malik! – Gargalhei e balancei a cabeça negativamente. – Só você mesmo.
- Eu não sou um astrônomo, ué. – Levantou as mãos, alegando que não tinha culpa alguma.
- Você não sabe o nome de nenhuma? – Voltei a olhar para o céu, completamente hipnotizada.
- Sei sim. – Respondeu e eu duvidei muito. – Daquela ali.
- E qual é? – Perguntei desconfiada.
- %Star%. – Disse sério.
- Com certeza aquela estrela tem o meu nome! – Fui irônica e o olhei estreitando os olhos.
- Esse céu é nosso, %Tah%... Podemos dar o nome que a gente quiser.
- Então eu não quero só uma estrela com o meu nome! – Fiz bico. – Quero uma constelação.
- Você é aquela constelação ali... – Apontou para um conjunto bem brilhante de estrelas que deviam formar alguma coisa que eu não conseguia identificar. – A mais brilhante.
- Agora está melhor! – Ri convencida e apontei para uma outra constelação, bem ao lado da minha. – E você é aquela.
- É? Por que?
- Porque está bem perto de mim. – Olhei pra ele. – E é assim que eu gosto.
- Eu acho que aquilo são planetas. – Continuou olhando para cima enquanto eu o observava.
- Acabou com o meu romantismo! – Reclamei com uma risada e ele gargalhou de forma gostosa.
- Desculpa. – Me olhou com um sorriso.
- Não olha pra mim, Malik! Continua olhando pra cima. – Virei o rosto dele com cuidado para não acabar machucando-o.
- Por queeeee? – Perguntou de forma arrastada, mas me obedeceu e continuou olhando para o céu.
- Porque eu estou vendo o reflexo das estrelas nos seus olhos. – Mordi o lábio inferior, contemplando os olhos amendoados de Zayn que estavam ganhando um tom bem mais colorido e brilhante que o normal.
Depois de alguns segundos ele voltou o rosto para a minha direção e apenas sorriu. Eu não reclamei e fiz o mesmo que ele, esticando a mão direita até tocá-lo. Deslizei a ponta dos dedos pela lateral do rosto de Zayn desde a testa até o queixo, estudando cada traço. A linhas que surgiam no canto de seus olhos quando ele sorria, o pouco da barba por fazer que se entendia sobre todo o maxilar, o jeito que os lábios dele acabam sendo puxados mais para a esquerda do que para a direita entre um sorriso e outro... Eu queria decorar tudo para que na hora que fechasse os olhos pudesse vê-lo. Senti uma das mãos dele acariciando a minha cintura por baixo do cobertor e fiquei arrepiada com aquele toque porque ele estava tocando diretamente na minha pele. Minha blusa e casaco deviam ter levantado um pouco na hora que eu deitei e ele se aproveitara disso, mas eu não me importei.
- Baby... – O chamei mais uma vez, fazendo-o abrir os olhos. – Canta pra mim?
- O que você quer que eu cante? – Passou o nariz gelado pelo meu e eu sorri involuntariamente.
- Pode ser o que você quiser... – Pedi baixo. – Eu só quero te escutar cantar.
- Então eu já sei... – Zayn limpou a garganta e respirou fundo para começar: - Look at the stars, see how they shine for you... And all the things you do... (Olhe para as estrelas, veja como elas brilham pra você... E todas as coisas que você faz...)
A voz de Zayn saiu aveludada, bem melhor que a do cantor original daquela música que eu tanto amava. Eu fiquei olhando-o e passeando a íris desde os lábios que se mexiam devagar até os olhos que mal piscavam ao me observar. Ele olhou para cima e eu o acompanhei, me encantando novamente com a quantidade de estrelas que nos iluminavam.
I came along.
(Eu vim)
I wrote a song for you and all the things you do.
(Eu escrevi uma canção pra você e todas as coisas que você faz)
And it was called Yellow.
(E era chamada Amarelo)
So then I took my turn. Oh what a thing to have done.
(E então eu esperei a minha vez. Oh, que coisa eu fiz)
And it was all Yellow…
(E tudo estava Amarelo) O garoto passou o braço em volta do meu corpo e eu me aproximei ainda mais, deitando a cabeça sobre o peitoral do mesmo. Passei uma de minhas pernas por entre as dele e as entrelacei. Zayn continuou cantando rente a minha orelha e acariciou os meus cabelos com delicadeza.
Your skin… Oh yeah, your skin and bones.
(Sua pele… Oh, yeah, sua pele e ossos)
Turn into something beautiful.
(Se transformaram em algo bonito)
Do you know?
(Você sabe?)
You know I love you so…
(Você sabe que eu tea mo tanto…) Eu sabia que era só uma música, mas ela era cheia de significados e cabia a mim acreditar neles ou não. Zayn era quem havia escolhido a música que estava cantando pra mim e tinha pelo menos duas opções: Ou ele gostava muito daquela música e foi a primeira que apareceu em sua mente, ou então ele estava querendo me dizer algo com ela. Preferi não ficar preocupada com teorias, não naquela noite. Escolhi não pensar em nada e apenas curtir aquela voz maravilhosa cantando só pra mim.
I swam across. I jumped across for you.
(Eu atravessei o oceano. Eu superei barreiras por você)
Oh what a thing to do. 'Cos you were all yellow.
(Oh, que coisa pra se fazer. Porque você era toda amarela)
I drew a line. I drew a line for you.
(Eu tracei a linha. Eu tracei a linha por você)
Oh what a thing to do and it was all yellow.
(Oh, que coisa pra se fazer. E ela era toda amarela) Acho que o fato de não ter um acompanhamento instrumental por trás das palavras tornou tudo mais cru e mesmo assim mais suave. Não havia ninguém por perto e eu sentia que estávamos sozinhos no mundo inteiro. O tempo parecia ter parado ali em cima e, mesmo com a cidade ao longe, só o que existia era Zayn, eu e as estrelas.
And your skin… Oh yeah your skin and bones.
(E a sua pele… Oh, yeah, sua pele e ossos)
Turn into something beautiful.
(Se transformam em algo bonito)
Do you know? For you I'd bleed myself dry.
(Você sabe? Por você eu daria todo o meu sangue)
It's true, look how they shine for you.
(É verdade, olhe como elas brilham pra você)
Look how they shine for...
(Olhe como elas brilham…) Zayn encerrou a música e eu suspirei pesadamente. Levantei o rosto para poder olhá-lo, pois só o que eu queria era contemplar a sua beleza. Não falo apenas da beleza superficial, porque essa aí era mais que óbvia. Estou me referindo à sua beleza inferior, a todos sentimentos que ele escondia por dentro. O coração enorme que eu sabia que ele tinha e as suas manias e trejeitos. Zayn era um menino encantador em todos os sentidos. Eu sabia que o conhecia, mas mesmo assim ele conseguia me surpreender mais a cada dia que passávamos juntos. Eu tinha orgulho em fazer parte de sua vida e mais ainda de poder chamá-lo de meu. Pode me achar suspeita pra falar essas coisas, mas Zayn era um grande homem.
Sem falar coisa alguma, eu o envolvi pela nuca encostei os lábios aos dele. Tive um pouco mais de urgência do que antes e logo tratei de fazer a minha língua quente encontrar a dele. Zayn retribuiu o meu beijo e me puxou para mais perto, fazendo-me praticamente subir em cima dele. Escorregou as mãos pelas minhas costas e parou na parte baixa da minha espinha, novamente tocando a minha pele exposta. Modelei os lábios dele com os meus e inclinei o rosto para o lado contrário ao dele sempre que invertíamos as direções. Deixei uma perna de cada lado do corpo de Zayn e me sentei sobre o seu quadril, sem me importar com o contato que nossos corpos estavam tendo. Na verdade isso era o que eu mais estava gostando. As mãos masculinas voltaram a se mexer, mas dessa vez começaram a subir pelas minhas costas, arrastando um pouco da minha blusa junto.
Não sei o que aconteceu exatamente, mas interrompi o beijo da forma mais sutil que consegui. Zayn me olhou como se tivesse feito algo errado e começou a tirar as mãos de mim lentamente. Senti ódio de mim mesma por não seguir adiante com aquilo que acabaria acontecendo entre nós dois mais cedo ou mais tarde. Estava sendo cada vez mais difícil resistir e eu sabia que meus sinais confusos embaralhavam as ideias do meu namorado, mas ele nunca perguntou nada, apenas entendia os meus limites e respeitava-os. Nós dois estávamos namorando há apenas uma semana, então acho que devia ser normal aquela minha reação. Mesmo que tenha a impressão de estar com ele há anos...
- Você acredita em vidas passadas? – Ele perguntou parecendo ler os meus pensamentos.
- Acho que sim... – Sorri sem saber muito bem como responder. Saí de cima dele e voltei a deitar no capô do carro. – Por quê?
- Porque se for verdade... Você acha que nós dois podemos ter nos conhecido? – Me abraçou por trás assim que eu me virei.
- É uma possibilidade. – Sorri com aquela conchinha inesperada. – Mas eu gostaria de conseguir lembrar.
- Não sei se eu iria querer lembrar... – Suspirou bem na minha orelha e deslizou a mão pelo meu braço até que seus dedos encontraram os meus. – E se eu tiver feito algo ruim pra você? E se eu te machuquei? Não conseguiria viver com isso na consciência.
- Você nunca me machucaria, Zayn. Nem em uma vida passada e nem nessa...