Capítulo XXVIII
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Fui dormir cedo na noite anterior e estava tão cansada que nem sonhei com nada, infelizmente. O que me acordou naquele sábado de manhã foi o barulho da chuva forte batendo contra a minha janela. Seria um dia frio... Era sempre assim quando amanhecia chovendo. Eu não me importava com baixas temperaturas, mas o lado ruim da chuva é que as ruas ficam molhadas e com isso o transito fica pior que o normal. Me espreguicei devagar, criando coragem pra deixar o meu cobertor quentinho e ir fazer a minha higiene. Eu já estava sem sono e pronta para um novo dia, mas a vontade de ficar mais uma hora só rolando na cama era maior que tudo.
Antes de me render ao colchão, resolvi levantar de uma vez e me arrastar até o banheiro. A primeira coisa que fiz foi “me aliviar” e em seguida lavei as mãos e escovei os dentes. Não há nada melhor do que sentir os dentes limpos e aquele gostinho de chiclete do creme dental. Resolvi que continuaria de pijamas e só peguei um casaco grosso de lã e me enrolei nele para poder sair do quarto, já que tinha certeza que o resto da casa estava bem mais frio que ali. Penteei os cabelos e assim que eles estavam no lugar enfiei os pés em um chinelo qualquer.
Deixei o meu quarto e me aproximei da escada, escutando conversas vindas do andar de baixo. Quanto mais eu me aproximava mais vozes surgiram como, por exemplo, uma voz feminina que eu sabia conhecer, mas não conseguia lembrar a quem pertencia. Fui direto para a sala e tive uma surpresa ao ver quem estava ali: Anne, a mãe de Harry.
- Olha quem acordou cedo hoje! – Esse era o jeito de Louis falar bom dia.
- Anne, quanto tempo! – Ignorei o meu irmão e caminhei até a mulher que eu conhecia desde pequena. – O que a traz aqui?
- Como você cresceu, %Star%. – Ela levantou-se do sofá e nos abraçamos. – Meu filho não sai mais dessa casa, então eu vim fazer uma visita. Já que vocês não vão mais à minha casa como quando eram crianças, não é?
- Nós não quisemos incomodar... – Nos separamos e a mulher voltou a sentar, puxando-me junto. – Mas é claro que eu senti a sua falta! Por que a Gemma não veio com você?
- Ela também me troca pelos amigos, então eu não a vejo tem uns três dias. Mas eu aviso que você perguntou por ela. – Anne sorriu. – Como está a sua mãe?
- Ahn... – Troquei olhares com Lou e Harry. Eu não tinha noticias da minha mãe em muito tempo. Na verdade, não falava com ela desde que me mudara pra Londres, então não sabia como responder àquela pergunta. Minha mãe e a mãe de Harry costumavam ser amigas há alguns anos atrás e ninguém sabe ao certo o que aconteceu para que elas se perdessem contato. – Ela está do mesmo jeito de sempre.
- Peça pra ela me ligar quando falar com ela de novo, tá bem? Quem sabe nós não marcamos um encontro de mães? – Disse animada. Seria bom para a minha mãe sair um pouco do mundinho dela e conversar com uma velha amiga, mas eu duvidava muito que ela fosse vir até Londres.
- Pode deixar que eu falo sim. – Era mais fácil concordar do que ter que explicar tudo. – Que cheiro é esse?
- São os biscoitos de gengibre que eu estava fazendo. Meninos, porque vocês não vão dar uma olhadinha neles? – Anne pediu e os dois meninos se levantaram para ir até a cozinha. Liam devia estar por lá, já que eu não o vira ainda. – Agora que estamos sozinhas podemos falar do que é importante!
- Como assim, Anne? – Ri da cara que ela fez em seguida.
- Garotos! – Também riu e segurou em uma das minhas mãos. – Harry me disse que você está namorando.
- Estou sim... – Soltei uma risada nervosa e as minhas bochechas deviam estar ficando vermelhas.
- Me conte tudo! É o bonitinho que também mora aqui?
- Liam? Não, ele é só um bom amigo... O nome do meu namorado é Zayn e nós nos conhecemos onde eu estou estudando agora. – Comecei a falar. Anne é daquele tipo de mãe que age como se também fosse da turma e você acabava contando tudo pra ela sem se importar.
- Seus olhos até brilham ao falar dele! – Aquele comentário me pegou de surpresa e eu tenho certeza que fiquei mais corada ainda. – Já percebeu que a sua voz também muda?
- Não per... – Limpei a garganta para melhorar a minha voz que acabou saindo mais fina que o normal. – Não percebi!
- Tá vendo só? – Ela riu. – Eu me lembro de quando conheci o pai do Harry... Nós nos apaixonamos no momento em que nos conhecemos. Mas infelizmente... Bem, você sabe como terminou.
- Sei sim... – Suspirei. No mesmo ano em que Harry e eu nos conhecemos, Des (o pai dele) saiu de casa. Eu ainda me lembro o quanto ele ficou arrasado e do quanto chorou. Quando se é uma criança, não esperamos que coisas assim aconteçam e, infelizmente, acontecem. Só fico feliz por ter estado ao lado do meu amigo naquele momento difícil, pois ele precisou de todo apoio que conseguiu. – Mas agora você está com o Robin e tudo está no lugar novamente!
- Isso mesmo, %Tah%. – Anne sorriu e se levantou. – Bem, eu tenho que ir agora.
- Mas já? – Fiz um bico de lado e também levantei do sofá.
- Sim, querida... Eu gostaria de ficar mais, mas só vim mesmo pra dar um beijo em você e no seu irmão.
- Mas volte, tá bem? – Fomos saindo da sala em direção à porta de entrada.
- Pode deixar! – Ela me abraçou.
- Você é de casa, Anne, não esqueça disso. – A abracei de volta e logo nos separamos. – Harry, sua mãe está indo embora.
- Tchau, muuum. – Harry gritou da cozinha.
- Não deixe os meus biscoitos queimarem, ok? – Ela gritou de volta e se virou pra mim. – São daqueles que você gosta! Eu trouxe prontos de casa, mas coloquei no forno aqui pra vocês comerem quentinhos.
- Obrigada, Anne, você é sempre um amor. – Abri a porta de casa e a mulher saiu.
Ainda estava chovendo um pouco, então ela teve que correr até o carro que estava estacionado atrás do meu. Assim que ela partiu rua a baixo, um carro da FedEx estacionou naquela vaga. Correios não costumavam fazer entregas regulares nos sábados, então devia ser algo importante. O carteiro desceu do carro com uma caixa branca em mãos e seguiu para o caminho de pedra da minha casa. Eu teria fechado a porta se ele fosse para a casa ao lado da minha, mas como não era o caso, eu só esperei.
- Bom dia, senhorita. – O carteiro se aproximou.
- Bom dia! – Sorri simpática.
- Eu tenho uma entrega para o senhor Payne... Liam Payne. – Leu o nome no topo da caixa e voltou a me fitar. – Ele mora aqui?
- Mora sim, quer que eu o chame?
- Você mesma pode receber, na verdade. Eu só preciso que assine aqui. – Me entregou um papel e uma caneta.
- Certo... – Peguei os objetos e apoiei na madeira da porta para assinar o meu nome. Senti como se estivesse dando um autógrafo e ri sozinha da minha idiotice. – Pronto!
- Obrigado. – Fizemos uma troca: Eu entreguei o papel e a caneta e ele me entregou a caixa que era mais pesada do que parecia.
- Tenha um bom dia. – Sorri para o moço e ele seguiu seu caminho.
Fechei a porta com o quadril, já que minhas mãos estavam ocupadas demais, e segui para a cozinha onde Harry tirava os biscoitos de gengibre do forno. Louis estava olhando-o tão intensamente que os dois pareciam um casal. Eu já devia estar acostumada com esses “Larry moments”, mas ainda me perguntava quanto tempo faltava para que os dois resolvessem admitir que estão juntos de uma vez! Liam estava bebendo leite em uma caneca e estava com um bigode branco enorme. Eu ri assim que coloquei a caixa pesada sobre a mesa da sala de jantar e decidi não avisar que ele estava sujo.
- Liam, chegou uma entrega pra você. – O chamei. – Diretamente de Wolverhampton.
- Isso! – Ele respondeu como um menininho e deixou a caneca em cima da bancada americana. Segundos depois ele já estava ao meu lado com uma faca na mão pra abrir a caixa.
- O que tem aí dentro? – Perguntei curiosa.
- Algumas coisas que eu pedi pros meus pais enviarem... – Liam abriu a caixa e eu fiquei cega com todas as coisas altamente coloridas que estavam ali dentro. – Vamos ver o que temos aqui...
- Omg, esse é um fantoche do Caco? – Apontei para um boneco verde em forma de sapo. Era o maior objeto da caixa, por isso foi a primeira coisa que eu vi.
- É sim! – Liam riu e tirou o sapo da caixa, colocando a mão por dentro e imitando a voz do personagem em seguida: - Oi, %Tah%. Como vai você?
- WOW! – Gargalhei daquela imitação. Eu não fazia ideia que Liam interpretava o fantoche tão bem. – Eu estou muito bem, senhor Caco. E você?
- Com uma visão tão linda quanto você? Eu não podia estar melhor. – O garoto continuou com a imitação.
- Ora, como você é fofo! – Dei um beijo no boneco e Liam sorriu.
- Eu é que devia ganhar esse beijo! – O menino reclamou, já com a própria voz, e deixou o brinquedo de lado. Voltamos a olhar o que havia dentro da caixa e ele retirou alguns DVDs de lá. – Meus filmes!
- Mais desenhos?! Eba! – Assim que o dono das coisas me entregou aqueles DVDs, eu comecei olhar de um por um. – Toy Story 1, 2 e 3... Tarzan, Vida de Inseto, Carros, Os Simpsons e... Branca de Neve?
- Branca de Neve? – Ele riu nervoso. – O que isso está fazendo aí? Ruth deve ter colocado na caixa por engano.
- Aham, claro que foi ela. – Gargalhei sem acreditar em nada do que ele estava falando. Deixei os filmes de lado pra ver o que mais estava por ali.
Eu gostaria de chamar aquela caixa de “Tesouro infantil”, porque maravilhas cada vez maiores saiam ali de dentro. O Caco não foi nada comparado ao boneco original do Woody, que além de ter o nome “Liam” escrito embaixo da bota, ainda falava: “Tem uma cobra na minha bota”. Eu passei uns cinco minutos brincando com o cowboy até Liam me passar o outro item: Um snapback do homem aranha que eu logo tratei de colocar na cabeça. Os outros meninos se juntaram a nós e trouxeram os biscoitos que Anne preparara. Começamos a comer enquanto olhávamos os brinquedos e itens de coleção de Liam. Ele parecia um menino de onze anos com aquela quantidade de brinquedos.
Quando todas as coisas já estavam fora da caixa, nós decidimos assistir a um dos filmes novos. Eu e Harry votamos por Branca de Neve, mas os outros meninos queriam assistir Carros. Deu empate, mas Louis correu para colocar o filme que ele queria no aparelho de DVD e isso decidiu qual assistiríamos. Nos acomodamos no sofá com um prato enorme de biscoitos de gengibre e aquele seria o nosso almoço.
+++ Acho que tomar banho foi a parte mais fácil da minha preparação para aquela noite. Meus cabelos também foram razoavelmente fáceis de dominar, já que eu os deixei soltos e bem bagunçados. Minha maquiagem demorou mais que o normal para ficar pronta, visto que eu não era acostumada com uma sombra tão forte quanto a que estava usando e o batom vermelho parecia veludo nos meus lábios. Eu estava na frente da minha cama, olhando para as roupas que separara pra usar na boate... Definitivamente não seria a minha escolha em outra situação. O short mais curto que eu achei no closet + uma blusa preta totalmente transparente + sutiã com Spike dourado que chamava MUITA atenção + joias de caveirinha = Badgirl. Pelo menos era melhor pensar que eu teria uma noite de badgirl do que uma noite de vadia.
Deixei de enrolação e pulei para dentro daquelas roupas, figurativamente, é claro. Calcei os sapatos coloquei as joias nos seus devidos lugares em meu corpo. Quase não me reconheci no espelho do banheiro quando fui passar o perfume mais uma vez (só pra garantir) e dar uma bagunçada extra nos meus fios castanhos. Eu estava diferente, mas aquele era o meu objetivo desde o começo. Não sei se estava fazendo certo em escutar o conselho de Louis, mas não tinha mais volta. Eu ia fazer aquilo. Respirei fundo e comecei a treinar caras e bocas. Minha “fantasia” não teria efeito algum se eu não desenvolvesse algumas atitudes mais fortes. Quando percebi já estava piscando para o meu reflexo e colocando o dedo no canto boca, me fazendo de sexy. Tive que rir da quão ridícula eu parecia. A meu ver eu estava bem, mas precisava de uma segunda opinião. Foi com isso em mente que eu voltei para o quarto e tirei meu celular do carregador, digitando uma mensagem na mesma hora:
“S.O.S” Não deu nem cinco minutos e Louis já entrava esbaforido e quase derrubava a porta do meu quarto. A expressão em seu rosto era do tipo: “Onde está o incêndio?” e eu só ri do desespero do meu irmão.
- %Star%! – Reclamou ofegante. – “S.O.S” é um código que só pode ser usado em questões de vida ou morte e, pelo que eu estou vendo, você não está morrendo!
- Não briga comigo, Lou! Esse é um caso de vida ou morte. – Apontei para as minhas roupas e dei uma voltinha sem sair do lugar. – Como estou?
- Wow! – Parece que ele estava reparando no meu visual pela primeira vez, pois sua boca formou um “O” e seus olhos igualmente azuis aos meus se arregalaram.
- Acho que vou considerar isso como um: “Você está legal.” – Sorri.
- Tente: “Perfeita”. – Louis também sorriu e eu comecei a me sentir um pouco mais confortável dentro daquele modelito.
- E você acha que essa história vai dar certo? – Suspirei indo até o closet pegar o meu sobretudo preto. O clima ainda estava frio e eu não pretendia congelar antes mesmo de chegar à Storm.
- Só tem um jeito de saber... – Apontou para fora do quarto com a cabeça. – Vamos fazer um teste?
- Eu estou nervosa! – Ri, me sentindo patética por estar nervosa de uma coisa tão besta. – Mas vamos lá.
Louis estava se divertindo com tudo isso e foi o primeiro a sair do quarto, descendo as escadas e reunindo os meninos na sala. Eu peguei os meus documentos, dinheiro, celular e chaves de casa e guardei tudo dentro da minha bolsa de mão. Apaguei a luz do quarto antes de sair e não demorei muito para começar a descer as escadas. Passei pelo hall de entrada e assim que pisei na sala, os três pares de olhos foram pra cima de mim. Louis sorria como o idiota que é, Harry tinha a mesma expressão de quando meu irmão me viu pela primeira vez e Liam parecia enfrentar um dilema interno tão grande que eu não conseguia decifrar o que ele estava pensando.
- Hey, boys. – Encostei meu corpo na parede mais próxima e coloquei uma das mãos na cintura, com uma mordidinha discreta no lábio inferior.
- Quem é você e o que fez com a minha babycheks? – Fazia tempo que eu não escutava aquele apelido que Harry me dera quando éramos mais novos e eu acabei sorrindo.
- %Tah%... Eu quase não te reconheci... – Liam ainda estava pasmo, o que me fez sentir as bochechas queimarem. – Você está...
- Linda! – Louis completou a frase.
- Maravilhosa. – Haz falou ao mesmo tempo.
- Genuinamente bonita. – Liam ignorou os dois e deu a sua própria resposta. Confesso que gostei mais da resposta dele do que dos outros.
- Obrigada, gente... – Passei a mão pelos cabelos sem saber muito bem como reagir.
- Que horas você vai? – Louis abriu espaço no sofá para que eu me sentasse.
- Marcamos de sair daqui as 23hrs, porque estamos na lista VIP, então não precisamos chegar bem na hora. – Respondi indo me sentar onde me foi indicado.
- É o Zayn que vem te buscar? – Liam perguntou.
- Mais ou menos... – Olhei pra ele. – Ele vai pegar um taxi e %Abi% e Niall vem com ele, daí iremos todos juntos pra lá. Não vamos cometer o mesmo erro da outra vez, já que não quero ter que trazer um bêbado pra casa.
- Mas agora é diferente, %Tah%, porque vocês estão namorando. – Harry tinha um sorrisinho sapeca e eu sabia exatamente onde ele queria chegar. – E podem... Você sabe... Aproveitar mais...
- Eu não sei do que você está falando, Harry. – Foi a minha vez de arregalar os olhos. Estamos mesmo entrando nesse assunto?
- Eu também não sei. – Louis fechou a cara, dando uma de irmão ciumento.
- Aham, tá bem. – Harry gargalhou e Liam preferiu se ausentar daquele assunto.
- Aliás, Lou... Estou contando com o energy juice, ok?
- Sei disso! E já vou deixar na geladeira pra você. – O melhor irmão do mundo é o meu, não concorda?
Não tive nem tempo de agradecer, já que a campainha tocando chamou a atenção de todos. Era hora de ir! Levantei do sofá e vesti o meu sobretudo, atacando todos os botões. Enquanto eu me cobria, Liam deu um pulo e correu para ir atender a porta. Eu não entendi muito bem o que aconteceu em seguida, porque ver Zayn e Liam se abraçando como se fossem bons amigos era estranha demais por si só. Escutei um “E aí, cara?! Quanto tempo.” Seguido por: “Faz tempo mesmo, porque você não aparece por aí mais vezes?” Olhei para Harry e Louis que pareciam não entender mais que eu e deram de ombros. É, a noite seria diferente.
+++ - Isso aqui tá realmente muito cheio... – %Abi% foi a última a descer do nosso táxi e todos a esperávamos do lado de fora.
A Storm não parecia ser tudo aquilo que %Abigail% falava, ao menos não do lado de fora. Era basicamente uma caixa de metal grande e alta, aparentemente descuidada e enferrujada, com algumas janelas tão escuras que era impossível ver o que acontecia do lado de dentro. A fila de pessoas que queriam entrar ali devia estar dando a volta no quarteirão e eu arrisco a dizer que até reconhecia um rosto ou outro da Academy.
- E muitos não vão nem conseguir entrar. – Niall foi para o lado da namorada.
- Felizmente não fazemos parte deles. – Sorri e puxei Zayn pela mão.
Nós passamos direto para a frente da fila e eu escutei alguns xingamentos. Devia ser chato ficar horas esperando em uma fila e de repente quatro pessoas chegarem do nada e poderem entrar. Infelizmente não havia nada que eu pudesse fazer por eles, então só ignorei os gritos e me aproximei do segurança que devia ter o tamanho de um guarda roupa.
- Boa noite, monsieur. – Sorri simpática, mas não obtive reação.
- O final da fila é pra lá. – Respondeu seco.
- Sei disso. É por isso que estamos aqui. – Respondi cínica. Apontei para a lista que ele estava segurando: - %Star% Tomlinson.
- Só um momento... – Levantou a sobrancelha e olhou rapidamente entre os poucos nomes que estavam na lista de VIPs. – Oh... Me desculpe, senhorita, pode entrar.
- Obrigada. – Engraçado como a postura do segurança mudou completamente quando ele percebeu que eu não devia ser uma qualquer. Ele acenou para um companheiro dele, que tratou de abrir as portas pesadas.
- E vocês? – O segurança barrou os outros três e com isso Zayn teve que soltar a minha mão. Eu só dei meia volta e cutuquei o grandão no ombro.
- Eles estão comigo. – Falei e já puxei os três que permaneceram calados o tempo todo.
Nós quatro conseguimos entrar e eu já estava bufando pelo trabalho que tivemos. Se com quem está na lista VIP é assim, imagine com os outros meros mortais? Vai ver é por isso que muitos desistem de esperar e vão embora. Deixei o estresse de lado e olhei em volta, ficando chocada com o que vi. O lado de fora não tinha absolutamente nada a ver com o de dentro. Estávamos em uma espécie de recepção e as luzes e paredes vermelhas já davam o clima para a festa que estava acontecendo poucos metros dali. O segurança que abriu a porta para nós nos guiou até uma mulher que estava vestida formalmente.
- Boa noite e sejam bem vindos à Storm! – Ela sorriu simpática. – Creio que vocês estão aqui para o aniversário da Jessica, certo? Por aqui, por favor.
- Eu não acredito nisso... – %Abi% sussurrou e eu olhei pra ela. – Estamos indo para o segundo andar! Eu nunca fui lá, mas dizem que só as pessoas mais importantes conseguem uma reserva.
- É claro, %Abi%... Jessica é a filha do dono desse lugar. Quer alguém mais importante que ela? – Também sussurrei, rindo em seguida. Nós fomos até uma porta preta no canto da recepção. A mulher foi a primeira a subir as escadas em espiral.
- É verdade... Acho que preciso mudar de melhor amiga, então. – A ruiva brincou e também começou a subir a escada, seguida por Niall.
- Tá vendo como as coisas são? Quando acham alguém melhor, somos trocados! – Falei para Zayn, que riu.
- Eu não te trocaria, %Tah%. – Abraçou-me pela cintura e deixou um beijo na minha bochecha. Ele devia estar evitando a minha boca por causa do batom vermelho. De fato não seria bom eu já chegar à festa toda borrada. – Até porque não existe ninguém melhor que você.
- Você só está falando isso porque sou sua namorada. – Sussurrei bem perto dos lábios dele e dei meia volta antes que ele tentasse qualquer coisa.
O puxei pela mão e também fomos subir as escadas. Olhei pra trás de vez em quando e notei que Zayn não tirava os olhos de mim e sorria o tempo todo. No final da escada havia outra recepção, porém era menor que a do andar de baixo. A recepcionista nos atendeu e a primeira moça que nos guiou até ali logo desapareceu. Ela nos explicou que poderíamos deixar os nossos casacos ali, pois havia um segurança responsável por tomar conta deles e é claro que aproveitaríamos aquela mordomia toda, até porque ninguém pretendia passar a festa inteira tomando conta de casacos e bolsas.
%Abi% foi a primeira a tirar seu casaco pesado e revelar o vestido verde água um tanto curto demais; mas ela estava linda como sempre. Niall vestia uma camisa de mangas compridas na cor azul escuro e uma calça preta por baixo do próprio casaco; simples, mas charmoso. Foi a vez de Zayn tirar o sobretudo e me fazer pensar mais uma vez que ele deveria ser um modelo. Estava vestindo uma camisa social escura com os dois últimos botões abertos, uma calça skinny preta e o bom e velho Converce de cano médio. Fiquei perdida na beleza do meu namorado por segundos suficientes para a recepcionista chamar a minha atenção e perguntar se eu preferia ficar com o meu casaco. “Então é isso... Vamos lá.” Pensei, começando a desabotoar o meu próprio sobretudo. Como ninguém tinha visto as minhas roupas ainda, eu me preparava para a “surpresa”. Podia não ser nada demais e eles poderiam nem notar a diferença, mas também podia ser o contrário; e eu contava com isso. Assim que todas as abotoações estavam desfeitas, deixei o casaco escorregar pelos meus ombros e o segurei com uma mão, o impedindo de cair no chão. Entreguei-o para a mulher, juntamente com a minha bolsa, e me virei para encarar os meus amigos que ainda não falavam nada.
- Ai. Meu. Deus. – %Abi% estava sorrindo mais que tudo ao me olhar dos pés à cabeça. – Você está tão diferente! Está linda, %Tah%.
- %Tah%, eu consigo ver... – Niall olhava diretamente para a minha blusa. Ótima maneira de me lembrar que era transparente. – Você. E gosto do que vejo.
- Hey! – Zayn deu um soco no braço do amigo. – Não olha pra ela assim, ok?! É minha.
- Não foi isso o que ela me disse ontem à noite. – O loiro piscou e eu gargalhei alto, lembrando da nossa conversa por mensagens.
- Epa, não escuta o que ele está falando! – Ri mais uma vez, entrelaçando os dedos nos de Zayn e o tirando de perto dos outros dois. Fomos até a porta que daria entrada à boate, mas ele me segurou e me impediu de dar mais um passo.
- Espera. – Me puxou devagar até estar com as mãos na minha cintura e nossos corpos colados o bastante. – Eu ainda não falei o que achei.
- E o que você achou? – O envolvi pelo pescoço e mordi o lábio inferior.
- Eu achei... – Roçou o nariz pelo meu de leve e eu fiquei olhando aqueles olhos amendoados que me prendiam de todas as formas possíveis. – Que você está incrível. Parece que a cada dia que passa você fica mais linda.
- Baby... – Sorri. Eu não tinha mais o que falar, então só juntei os nossos lábios em um beijo rápido, mas cheio de sentimentos misturados.
- Vocês dois vão ficar aí trocando saliva, ou vão vir logo?
%Abi% nos fez parar o que estávamos fazendo e eu senti vontade de contar pra ela o quanto odiava quando ela fazia isso. Da próxima vez eu deixá-la-ei falando sozinha e não largarei Zayn de jeito nenhum, pode escrever isso! Como o clima já tinha acabado mesmo, nós nos abraçamos de lado e fomos até onde outro casal nos esperada, já que eles estavam bem na nossa frente. As portas foram abertas e a música me deixou surda na mesma hora. O salão em que entramos era enorme e não estava tão cheio quanto eu esperava. A pista de dança tinha apenas umas vinte pessoas que se divertiam com o remix do DJ que estava em uma caixa de vidro, mas que ainda assim permitia a interação com os convidados. O bar ficava no oposto dessa pista de dança e era igualmente grande e colorido, com fotos de vários drinks que eu nunca vira na vida. Mais a frente, pela direita, ficava uma área reservada para o “descanso”, com mesinhas e sofás bem confortáveis. As luzes eram baixas em todos os cantos, mas não chegava a ser escuro.
- A aniversariante está ali... Vamos falar com ela. – Apontei para Jessica, que estava sentada em um sofá rodeada por outras meninas.
- Eu acho que não a conheço... – Zayn disse ao meu lado. Ele era mais tímido do que aparentava, por mais incrível que pareça.
- Mas ela conhece você! – Ri, olhando-o. – Quem não conhece Zayn Malik?
- Muita gente, ok? – Fez uma careta.
- Vem logo, amor. – Comecei a caminhar na direção da minha colega e o arrastei comigo.
Assim que Jessica nos viu, comentou algo com as amigas e todas olharam na nossa direção. A aniversariante se levantou e nós nos aproximamos dela. As outras meninas não deviam ser da Academy, pois não reconheci nenhuma delas. Não que eu estivesse em um ponto em que conhecesse todos os alunos de lá, mas reconheceria pelo menos o rosto da metade – mesmo que não soubesse o nome nem de três. A que aparentava ser a mais nova delas olhou para Zayn de tal forma que eu achei que iria engoli-o inteiro, despertando o meu ciúme. Estreitei o olhar entrando na defensiva. O moreno ao meu lado parecia não ter notado coisa alguma, mas a criatura entendeu o recado, pois logo encarou os próprios pés.
- Oi, Jessica! Feliz aniversário. – A abracei forte, com um sorriso. – Esse é Zayn, meu namorado. Zayn, essa é a Jessica.
- Muito prazer, Jessica. – Zayn também a abraçou, mas foi bem menos carinhoso que eu. Eu sabia que a garota já o conhecia, mas apresentar os dois seria menos constrangedor do que falar: “Hey, você já conhece o meu namorado, mas ele não faz ideia de quem você seja!”
- Que bom que vocês vieram! – Jessica parecia realmente feliz em nos ver ali. – Espero que gostem de tudo. Hoje o bar está liberado, até o sol nascer e o DJ aceita pedidos, então fiquem a vontade!
- Hmm, gostei disso! – Ri, já imaginando qual seria a primeira bebida nova que eu iria provar. Olhei em volta procurando a minha amiga ruiva, mas não vi nem sinal dela. – A %Abi% também está aqui com o Niall... Mas eu não sei pra onde eles foram...
- Tenho certeza que eu vou vê-los logo. Amei sua roupa, %Tah%. – Antes que eu pudesse agradecer o elogio, ela se virou para as amigas. – Sabia que ela é francesa? É por isso que até o jeito de andar dela é diferente.
- Ahn... – Olhei para Zayn sem saber e deveria ficar ali pra escutar falarem de mim na terceira pessoa ou se poderia sair de fininho e ir curtir a festa. Ele parecia saber o que eu estava pensando e riu da minha falta de tato para lidar com a atenção que recebia.
- Nós vamos procurar os outros dois, certo, Jessica? – Zayn chamou a atenção dela quando eu já nem sabia mais do que falava, só que era sobre mim. – Feliz aniversário!
O menino me tirou de perto daquele grupinho que parecia pretender ficar fofocando durante a noite toda. Olhei em volta, ainda não tinha ideia de onde %Abi% e Niall foram se meter, mas também pouco me importava. Eu estava com a única pessoa que realmente queria estar e era o suficiente. Caminhamos até o bar, aproveitando que ele estava bem vazio. Sentei em um dos bancos giratórios e pensei que Zayn sentaria ao meu lado, mas o que ele fez foi bem melhor: Me abraçou por trás e descansou o queixo no meu ombro, espiando o cardápio que eu começava a abrir para ler.
- O que você vai querer? – Perguntei, correndo os olhos por todas aquelas opções.
- O mesmo que você, %Tah%. – Falou baixinho perto da minha orelha. Como a minha blusa não tinha manga alguma, ele notou quando todos os pelos do meu braço ficaram eriçados por culpa dele. – Pode escolher.
- Então nós vamos tomar esse aqui. – Apontei para a foto de uma taça com um líquido avermelhado, tentando não gaguejar enquanto falava. Procurei o barman em seguida. – Dois cherrybomb’s, por favor.
- Você é que manda! – O homem balançou a cabeça e começou a preparar as bebidas na nossa frente.
- Você não chamou o Liam e os outros pra virem? – Zayn perguntou e eu o olhei de lado.
- Chamar eu chamei, mas eles não quiseram. – Dei de ombros. Ainda era estranho ver Zayn perguntando diretamente por Liam. – Acho que por ser uma festa de aniversário eles ficariam meio sem graça.
- Entendi. – Sorriu. – É até melhor, porque eu não tenho que te dividir com mais ninguém.
- Você não teria que me dividir nem se todos os meus amigos do mundo estivessem aqui. – Exagerei, já que não tinha tantos amigos assim. Mas pelo menos foi uma forma boa de mostrar pra ele que a minha atenção seria só dele de uma forma ou de outra.
- Nem se o príncipe da Inglaterra aparecesse aqui? – Soltou o nosso abraço e girou o meu banco para que eu ficasse de frente pra ele.
- Depende... O príncipe William ou príncipe Harry? – Me fiz de pensativa.
- E tem diferença, %Star%? – Olhou-me sério.
- Claro que não, seu bobo. – Ri daquele ciúme ridículo e passei a mão direita pelo topete bagunçado do menino. Os fios escuros deslizaram macios entre os meus dedos e ele fechou os olhos com o meu carinho. – Você é lindo, Malik.
- De onde saiu esse elogio? – Abriu os olhos pra me olhar e eu ri baixo.
- Uma garota não pode elogiar o próprio namorado sem um motivo aparente?
- Pode sim, Tomlinson. – Zayn me fez rir pela milésima vez naquela noite.
- Aqui está a bebida de vocês. – O simpático barman colocou as duas taças no balcão na nossa frente e saiu para atender outras pessoas.
- Yay! – Comemorei virando o banco novamente de frente para o balcão. Zayn veio para o meu lado, mas ainda ficou perto o bastante para que eu sentisse seu cheiro a cada respiração. Peguei a minha própria taça e a ergui. – Um brinde!
- A nós. – Ele pegou a própria taça e encostou na minha.
- Que assim seja! – Concordei com aquele brinde e dei o primeiro gole na minha bebida. O líquido rasgou a minha garganta com tanta força que eu não evitei uma careta. Apesar de muito forte, até que era gostoso. Cereja não era o meu sabor preferido de bebida, mas aquele drink não era tão ruim.
Zayn também fez uma careta ao experimentar a bebida e acho que gostou bem menos que eu, o que me fez rir. %Abi% e Niall resolveram aparecer e eu nem precisei perguntar onde eles estavam, pois o vestido torto da minha amiga denunciou que eles estavam se agarrando em algum lugar. Só fiquei com medo de perguntar onde. Os dois também pediram bebidas diferentes e ficamos os quatro próximos ao bar observando os outros convidados que chegavam. A noite estava seguindo bem agradável e eu já não me sentia tão pelada quanto no começo.
Alguns colegas dos meninos se aproximaram para cumprimentá-los e eu fui apresentada. Todos foram simpáticos e eu retribui tudo com um sorriso. Acredite se quiser, mas eu fui perguntada várias vezes se estudava na London Royal Academy, já que ninguém parecia me reconhecer. Só depois que Zayn explicava quem eu era é que eles pareciam recordar. Um ou outro até pareceu meio chocado ao entender que a menina que geralmente usa roupas claras e pouca maquiagem estava vestida como eu estava naquela boate. Apesar de todo o “tumulto” que eu estava causando com essa minha mudança repentina de estilo, eu fui aceita muito bem.
- Eu amo essa música! – Olhei na direção da pista de dança quando as primeiras batidas de Like it's her birthday – Good Charlot começou a tocar. Deixei o meu copo meio vazio (ou meio cheio, dependendo da sua filosofia de vida) em cima do balcão e dei um pulo pra descer do banco. – Zayn, dança comigo?
- Eu não danço, babe... – Ele me olhou com uma cara de preguiça e eu fiz um biquinho.
- Dança sim! Você já dançou comigo antes. Não lembra?
- Eu só danço quando fico muito bêbado. – Respondeu com uma risada e eu já me preparava pra ficar sentada durante a festa inteira.
- Eu danço com você, %Tah%. – %Abi% sorriu e segurou a minha mão. – Vamos deixar esses chatos aí.
A ruiva estirou a língua para o próprio namorado que também não queria dançar com ela e fomos correndo de mãos dadas para a pista de dança. O lugar não estava tão cheio e nem tão vazio; na quantidade perfeita. Acenamos para o DJ e ele fez o mesmo. Nós duas parecíamos duas menininhas rindo, e olhe que não bebemos quase nada. Só queríamos nos divertir sem ligar para o que os outros estivessem pensando, então começamos a dançar como bobas. %Abi% fazia a dancinha do robô e eu jogava os braços pra cima enquanto balançava a cabeça de um lado para o outro. Jessica estava por ali também e veio se juntar a nós.
Nós três cantamos o refrão da música juntas e rimos mais ainda. A aniversariante não ficou muito tempo conosco, pois tinha que ir dar atenção aos outros convidados, mas só aqueles minutinhos já foram suficiente pra mostrar que ela era legal. %Abi% costumava dizer que a menina era interesseira e só queria se aproximar de mim por “eu ser de Paris” e até que eu concordei com aquilo por um tempo. Só reparei que era apenas ciúme de %Abigail% quando Jessica foi embora e a ruiva me abraçou, sussurrando: “Não vai me trocar por ela, né?” Eu logo respondi que não e a abracei com mais força ainda. Eu amava aquela ruiva boboca e não seria nada sem sua amizade. Não a trocaria nem se pudesse, por nada nesse mundo.
Uma nova música começou, mas eu não a conhecia. De qualquer forma, continuei dançando como se fosse a minha música preferida. %Abi% ficou rígida de repente, como se estivesse vendo um fantasma. Eu estava de frente pra ela e tentei perguntar: “O que foi?”, mas a música estava alta demais pra que ela me escutasse. Ela parou de dançar e apontou para algo atrás de mim, na direção do bar. Me virei preocupada e também congelei assim que vi o motivo do susto: Brigitte. Ela estava perigosamente perto de Zayn e os dois conversavam. Ele estava agindo normalmente, mas a garota passava a mão pelo braço dele, obviamente flertando, e ainda por cima dava uma daquelas risadinhas que perseguem meus pesadelos. O pior de tudo é que Zayn parecia não notar o que ela estava querendo e por isso não se afastava. Niall estava sozinho em um canto e olhava pra gente como se falasse: “Eu não tenho culpa.” E realmente não tinha. Brigitte lançava alguns olhares na minha direção, só pra ter certeza que eu assistia enquanto ela se jogava pra cima do MEU namorado. Senti vontade de vomitar só de lembrar que ela também já o tinha chamado assim, durante bem mais tempo que eu. “Ela vai conseguir ele de volta rapidinho”, a voz de uma das amigas da oxigenada veio em minha mente e devia ser exatamente isso que ela estava tentando fazer; conseguir ele de volta.
- Deixa eu dar uns tapas nessa garota? Eu vou dar uns tapas nessa garota. – %Abi% tentou andar até eles, mas eu a segurei antes que fizesse uma besteira.
- Não, %Abi%! Não vale a pena.
- Vale uma galinha inteira, %Star%! Ela está merecendo e não é de hoje. – Bufou irritada. – Eu odeio essa garota! Você não vai ficar aqui sem fazer nada enquanto ela dá em cima dele, vai?
- Não mesmo. – Sorri sapeca, com uma ideia se formando na minha cabeça. – Mas vou fazer algo bem melhor do que bater nela.
- O que? – %Abi% me olhou curiosa.
- Mostrar pra ela que ele está comigo agora.
- Como isso pode ser melhor do que bater nela, %Star%? – %Abigail% parecia enfurecida com a minha falta de violência.
- Você vai ver! – Rolei os olhos.
Deixei-a sozinha na pista de dança e fui até a cabine do DJ. Jessica falou que ele aceitava pedidos, certo? Seria a minha vez de pedir uma música. O homem logo me notou assim que eu dei uma batida não tão delicada no vidro e abriu uma janelinha, me passando um iPad. Sim, ele me entregou um iPad pra que eu escrevesse ali a música que eu quisesse pedir. O que aconteceu com papel e caneta? Também não sei! De qualquer forma, digitei ali o que queria e devolvi o tablet. Agradeci e o DJ disse que a minha música seria a próxima.
Àquela altura, %Abi% já tinha se juntado ao namorado e fazia caretas na direção de Zayn e Brigitte. Ela se aproximava cada vez mais e mesmo que ele tentasse se afastar, ela parecia não entender que ele não queria nada com ela. Cruela e Devil também estavam por ali, um pouco mais atrás deles, e trocavam sussurros. Toda a raiva que eu senti daquelas duas meninas quando as escutei no banheiro estava voltando. “Sem graça” era o que elas achavam de mim? HA HA, vamos ver quem é a sem graça agora.
- Um minuto de atenção, por favor... – O DJ interrompeu a música que estava tocando e começou a falar ao microfone. Seria a minha hora, então eu caminhei até o centro da pista de dança. – Essa garota adorável gostaria de dedicar uma música ao sortudo namorado. Zayn Malik, essa é pra você.
Acabei sorrindo com aquela apresentação e senti o meu rosto queimar com todos os olhares que recebi. Aparentemente mais da metade daquele salão sabia quem era Zayn Malik e por isso sabiam que eu era a sua namorada, ou seja, quem estava dedicando a música. Em outra situação eu teria corrido ou pelo menos cortado o contato visual com o menino que me olhava sem entender nada. Não era o momento de sentir vergonha, era o momento de provar que Zayn era meu.
Lookin’ for a girl that was here but now she’s gone.
(Procurando por uma garota que estava aqui, mas agora ela se foi)
Felt so good even though she did me wrong.
(Foi tão bom mesmo ela sendo errada comigo)
She knows what i want but she’s bad for me…
(Ela sabe o que eu quero, mas ela é ruim pra mim)
She gets what she wants when she’s touching me…
(Ela consegue o que quer quando está me tocando)
I should've known better but she took my self-control.
(Eu devia saber, mas ela tomou o meu auto controle) Sim, eu pretendia dançar pra ele e foi exatamente isso que eu fiz quando a música começou. Zayn olhava na minha direção e quase não piscava, fazendo Brigitte se roer de raiva. Mais pessoas dançavam a minha volta, mas eu sabia que a atenção dele era somente minha. Comecei mexendo o corpo no ritmo da música, descendo as mãos pela lateral do meu corpo até parar no quadril. O garoto seguiu as minhas mãos com o olhar, mas voltou a fitar o meu rosto a tempo de me ver mordendo o lábio inferior da forma mais sexy que eu consegui. Ele sorriu meio sem reação, só me assistindo.
You can take my heart like a criminal.
(Você pode pegar o meu coração como uma criminosa)
Won’t you make me believe I’m the only one?
(Vai me fazer acreditar que eu sou o único?)
So grab me by the neck and don’t you ever let go.
(Então me agarre pelo pescoço e nunca solte)
Mess me up so good until i’m beggin’ for more…
(Me bagunce tão bem até que eu esteja implorando por mais)
You can tear me apart like an animal, like an animal, animal…
(Você pode me destruir como um animal) Joguei a cabeça para trás, passando uma mão pelos cabelos. Rebolei devagar de um lado para o outro até o refrão começar acelerar. Meu corpo era dominado pela melodia e meus movimentos eram sincronizados e sensuais. Eu só costumava dançar daquela forma quando estava sozinha no meu quarto e tinha certeza que ninguém podia me ver, mas naquele momento eu era praticamente o centro das atenções e não dava a mínima. Zayn deu um gole na bebida amarelada que estava em sua mão, mas continuou me olhando por cima da borda do copo.
I know I'm getting closer to the trail of broken hearts.
(Eu sei que estou me aproximando do caminho de corações partidos)
Hope she's coming back to finish what she started.
(Espero que ela esteja voltando pra terminar o começou)
I never see the claws ‘till she’s touching me.
(Eu nunca vi as garras até ela estar me tocando)
She’s holding me so tight, it's getting hard to breath.
(Ela está me segurando tão forte que está ficando dificil de respirar)
I'll never win the game, but it feels too good to care…
(Eu nunca vou ganhar esse jogo, mas é bom demais pra importar) Virei de costas, mas ainda lançava olhares por cima do meu ombro, com um sorriso malicioso nos lábios. Mexi os ombros na media em que o meu quadril obedecia a sua vontade própria e meu corpo foi abaixando devagar, rebolando de um lado para o outro. Fiquei uns cinco segundos apoiada nos calcanhares pra começar a levantar tão lentamente quanto me abaixei, passando as mãos pelas minhas coxas. Eu estava provocando Zayn e ele estava gostando. Na verdade não só ele, mas qualquer um que quisesse me assistir e os olhares que eu recebia enchiam o meu ego de uma forma que eu jamais achei que pudessem.
Grab me by the neck and don't you ever let go.
(Me agarre pelo pescoço e nunca solte)
Mess me up so good until I’m begging' for more.
(Me bagunce tão bem até que eu esteja implorando por mais)
Girl you tear me apart like an animal, an animal, animal.
(Garota, você me destroi como um animal)
Take me to the dark and don't you ever let go…
(Me leve para o escuro e nunca solte)
I like it when you treat me like an animal…
(Eu gosto quando você me trata como um animal) Voltei a encarar o meu namorado de frente e vi que ele terminara todo o líquido em seu copo, largando-o na frente de Brigitte. Aliás, a cara que a loira estava fazendo não tinha preço; ela me olhava com desprezo, mas eu sentia a sua inveja. Sorri cínica pra ela, mas Zayn não notou, já que o olhar dele estava em outro lugar: No meu corpo. Acho que nunca havia me sentido tão desejada até aquele momento. Pelo menos não no sentido mais íntimo da palavra. Zayn não esperou a música terminar pra sair de perto do bar e caminhar na minha direção. Diminuí um pouco os meus movimentos ao notar a sua aproximação e mordi o meu lábio inferior mais uma vez; aquilo estava virando uma mania. O mais alto não falou palavra alguma antes de me segurar pela nuca e juntar os nossos lábios com urgência. A primeira coisa que fiz depois de entreabrir os lábios foi agarrar os ombros dele com tanta força que as minhas unhas quase furaram a camisa social do mesmo. Acabei arrancando um gemido de dor e tive que sorrir satisfeita durante o beijo. Nossas línguas se encontraram e começaram a brincar como já era de costume, porém com uma intensidade tão grande que foi difícil me segurar pra não suspirar alto demais. Zayn escorregou as mãos pelas minhas costas e me puxou tanto que eu achei que ele pretendia nos fundir em um só. Deslizei as mãos dos ombros até a nuca dele e uma subiu para os cabelos que eu tratei de puxar sem dó.
Aquele era um beijo quente e o meu corpo pegava fogo. Não sei se era o ambiente que estava ficando mais cheio e com isso eu começava a suar, ou se era o fato de eu estar nos braços de um menino lindo que beija muito bem que me fazia querer tirar a roupa. Ei, não nesse sentido! Ok, talvez nesse sentido... Shh! Meus pensamentos já não faziam mais sentido e meus instintos começavam a falar mais alto, então era a hora da minha consciência chata entrar em ação e gritar: “PARE.” Então eu parei, mas não antes de dar uma mordida no lábio inferior de Zayn e deixá-lo escapar entre os meus dentes devagar.
- O que há com você hoje? – Zayn sussurrou nos meus lábios, com um sorriso maroto.
- Acho que eu preciso de água. – Falei baixinho com uma risada.
- Eu pego pra você, vem.
Zayn segurou a minha mão e nós dois deixamos a pista de dança. Ele me pediu pra encontrar um acento livre e esperar por lá enquanto pegava algo para bebermos. Lancei um olhar na direção do bar e constatei que não havia mais nenhum sinal de Brigitte, graças a Deus, então o soltei e fui até a área de descanso. Achar um espaço vazio foi fácil, visto que a pista de dança estava mais cheia que nunca e eram poucas as pessoas que estavam sentadas por ali. Escolhi uma mesa mais afastada, para que pudéssemos conversar sem sermos atrapalhados pela música. Aproveitei que ela era próxima à parede as cadeiras eram na verdade um banco enorme e estofado que mais parece um sofá.
Foi bom finalmente sentar depois de dançar tanto, principalmente por já sentir meus pés latejando dentro dos saltos. É nessas horas que eu percebo o quanto tênis e sapatilhas são confortáveis. Eu sentia vontade de tirar os sapatos e deitar, mas uma dama nunca faz isso; principalmente em uma boate tão luxuosa quando aquela.
- Aqui está você! – Zayn deve ter demorado um pouco mais do que devia para me achar. Ele trazia duas garrafas esverdeadas nas mãos, com a palavra “HOOCH” escrita no rotulo.
- Que diabos é isso? – Arqueei uma sobrancelha pegando uma das garrafas e abrindo espaço para que ele se sentasse.
- Você nunca tomou Hooch? – Ele riu da minha falta de cultura britânica e eu balancei a cabeça. Zayn sentou-se ao meu lado e eu passei as pernas por cima das dele, ficando de lado no sofá, mas de frente pra ele.
- Não mesmo! – Cheirei a boca da garrafa tentando decifrar o que era e dei um gole em seguida. – É limonada? É cerveja? Nunca vamos saber!
- Pode ser os dois! Uma cerveja de limão. – Zayn acariciava as minhas pernas com uma mão e a outra virava a “cerveja de limão” na boca.
- Ok, pode ser! – Ri um pouco e bebi mais alguns goles. – Até que eu gostei dessa tal de Hoock.
- Hooch. – Corrigiu-me com um biquinho engraçado.
- Como?
- O nome... É Hooch. – Repetiu com paciência.
- Hooocc? – Tentei mais uma vez, mas sabia que não acertaria tão cedo. – Meu sotaque me atrapalha!
- Babe, nem é tão complicado... – Gargalhou da minha dificuldade e jogou a cabeça para trás, rindo como uma criança.
- É claro que é! – A risada dele era tão gostosa de se ouvir que eu acabei rindo junto. – Eu vou chamar de Hoo-hoo, ok?
- Hoo hoo não é um Pokémon? – Riu mais ainda e eu já começava a me estressar.
- Eu não sei, Malik! – Fiquei um pouco mais séria e continuei bebericando da minha bebida que eu chamo do jeito que quiser. – O único Pokémon que eu conheço é o Pikachu.
- Hey, %Tah%... – Zayn tentou chamar a minha atenção, pois eu não olhava mais pra ele.
- O que é? – Minha curiosidade foi maior que o meu orgulho e me rendi, fitando-o.
- Pika, pika... Pikachuuuuuu. – Zayn colocou a sua garrafa na mesa a nossa frente e usou as mãos como garras, afinando a voz e tentando imitar o Pikachu. É claro que eu não aguentei e comecei a rir.
- Ai, que idiota! – Ri ainda mais alto.
- Essa é a %Star% que eu gosto. – Sorriu e me olhou daquele jeito... Apaixonado. – Você estava diferente mais cedo.
- Estava? E você não gostou? – Minhas íris passeavam pelo rosto perfeito dele, captando cada detalhe.
- Gostei sim... Porque eu gosto de você de qualquer jeito, %Tah%. Mas gosto ainda mais quando você é você. – Ele continuava com os carinhos na minha perna e eu começava a relaxar.
- Então você notou, né? Digo... A minha mudança de roupas e essas cosias. – Passei a mão pelos meus cabelos, nervosa com o que poderia escutar.
- Notei, mas não entendi.
- Eu só... Queria pertencer ao “seu mundo”. – Fiz aspas no ar, mas Zayn pareceu entender bem menos. – Vai me dizer que nunca escutou comentários de que eu não combino com você? Ou que você é bom demais pra mim e blábláblá? Eu só queria mudar isso... Nem que fosse por uma noite.
- Eu não quero que você mude por mim, que precise mudar pra ser “aceita”. – Suspirou. – Eu te aceito, %Tah%. Não é suficiente?
- É claro que é. – Segurei a mão dele e acariciei com o polegar. – Eu só fiquei com medo que...
- Que? Pode falar... – Me pedia com calma.
- Que você acreditasse nesses comentários. – Falei de uma vez, encarando os nossos dedos entrelaçados.
- Eu nunca vou acreditar em nada do que me falem contra você, %Star%. Essas pessoas? – Olhou em volta, dando ênfase no que dizia. – Elas não te conhecem. Elas não me conhecem. Nós dois nos conhecemos e é o que importa. Entendeu?
- Entendi sim. – Sorri bem aliviada. Aquilo era tudo que eu precisava ouvir pra tirar as coisas ruins da minha cabeça.
- Não pense mais besteira, francesinha.
Zayn se inclinou na minha direção e eu sorri até o momento que os nossos lábios se encostaram. Toquei o rosto dele com a minha mão direita e fiquei acariciando a pele macia da sua bochecha devagar. Nossas respirações se misturavam e mal mexíamos os lábios, apenas aproveitando o momento, a presença um do outro. Eu não acreditava que duas pessoas tão diferentes pudessem ser tão iguais de tantas formas perfeitamente imperfeitas até conhecê-lo. Não queria me apressar e nem imaginar um casamento entre nós dois, mas era impossível dizer que não me importaria se a nossa magia acabasse dali a uma semana.