Capítulo XXV
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É estranho como as coisas podem ser, não é mesmo? Um dia todos te olham torto, como se você fosse uma estranha que não pertence àquele lugar... E no outro, você se torna popular, conhecida e pessoas realmente param pra conversar com você. Era exatamente essa mudança que eu estava vivendo. Aparentemente depois da festa de Halloween eu havia atingido um novo patamar na “pirâmide” hierárquica da Academy. Não sei muito bem como aconteceu, mas o importante era que os alunos me tratavam de forma diferente, não mais como se eu fosse só uma caloura.
Naquela manhã eu estava na aula em grupo, como todas as segundas feiras, mas estava cercada por meninas que eu só conhecia de vista. %Abi% estava ali também e só ria da forma que eu tentava lidar com toda aquela “nova popularidade” que eu começava a ter. Pra ela era fácil, já que %Abigail% era do tipo que é amiga de todo mundo; um modelo para garotas e alvo de cobiça para os meninos. Ela devia enfrentar isso desde o colegial, mas eu não. Digamos que no meu passado acadêmico eu sempre fui o patinho feio. Sem muitos amigos, sem muitas habilidades nas matérias escolares e etc. Mas depois da última festa, quando eu ganhei o prêmio mais importante da noite, as coisas mudaram drasticamente.
- Você realmente mereceu, %Star%. – Uma menina do segundo nível chamada Jessica alguma coisa me falou enquanto passava a mão no meu braço. – Aquele seu vestido foi o mais lindo que eu já vi!
- Obrigada... – Sorri meio sem saber o que responder.
- Onde você comprou? Aposto que trouxe de Paris! – Outra menina entrou na conversa, mas eu não captei o nome dela.
- É verdade! Você tinha mesmo que ser de Paris, porque pra ter um bom gosto assim... – Uma terceira garota me impediu de responder a segunda e eu começava a ficar perdida.
- Todas as roupas dela são lindas, já percebeu isso? – Jessica comentou com a última garota e eu comecei a me perguntar se ainda fazia parte daquela conversa.
- Tá bem, tá bem, a %Star% é linda e perfeita e depois ela passa o nome das lojas que frequenta em Paris. Agora, por favor, vocês podem deixar a menina respirar? – %Abi% finalmente parou de rir de mim e fez as meninas pararem de tagarelar. – Além do mais, o professor quer começar a aula!
- Ai, você jura que passa? – Àquela altura eu já não sabia mais quem estava falando e me resumi a sorrir e acenar, afirmando que sim.
Depois que as meninas se afastaram e %Abi% e eu ficamos sozinhas, trocamos olhares e começamos a rir. Eu sabia o que ela estava pensando e vice-versa. O Sr. Hofstheder logo tomou a frente da classe e começou a passar exercícios de aquecimento, nos mandando dividir a sala em dois grupos. Como a turma era muito grande, iríamos ter que intercalar entre a barra e o chão. %Abi% e eu fomos para o lado esquerdo, que era o oposto da barra. Nenhuma de nós era muito fã daquela madeirinha chata, então estávamos evitando-a o máximo possível.
- Então você dormiu mesmo no apartamento do Nialler esse fim de semana? – Perguntei com um sorriso sapeca nos lábios, já começando a me alongar. Sentei no chão e estiquei as duas pernas na minha frente, me curvando para encostar nos joelhos com a ponta do nariz.
- Sim... Mas dormir não foi bem o que fizemos. – %Abi% continuava de pé enquanto alongava os braços. – Foi a vez do Niall escolher uma página do Kama Sutra dessa vez, por isso passamos o fim de semana inteiro tentando chegar naquela posição.
- %Abi%! – Arregalei os olhos, surpresa com a naturalidade que ela teve ao falar aquilo. – Esse não é o tipo de coisa que se conta!
- Você é a minha melhor amiga, %Tah%. Se eu não contar isso pra você, vou contar pra quem? – Ela se sentou ao meu lado e imitou o meu último movimento. Já eu, comecei a puxar a ponta dos pés para trás.
- Ahn... Pra ninguém?! – Falei como se fosse óbvio.
- Claro que não, %Tah%! Quando você tiver a sua primeira vez com o Zayn, tenho certeza que vai querer me contar. Eu sempre quis saber como ele é na cama, mas não tenho coragem de perguntar. – A sua última frase saiu mais baixa que a primeira, então tenho certeza que ela só pensou alto, por isso resolvi ignorar.
- Bem, eu não ficaria esperando isso acontecer tão cedo, se fosse você. – Mudei de posição, ficando agora com a perna direita estendida na lateral do meu corpo e a esquerda relaxada. Eu mais uma vez puxava a ponta do meu pé.
- Por que não? Você não se sente atraída por ele nesse sentido? – %Abi% me perguntava curiosa, imitando todos os meus movimentos.
- Não é isso %Abi%...
- Ai, meu Deus, você é virgem?! – A ruiva perguntou um pouco alto demais e atraiu alguns olhares na nossa direção.
- Shhhhhh! – Exclamei, quase batendo nela. – Virgem eu não sou, mas é complicado...
- Quantas vezes você já fez sexo, %Star%? – Mais uma vez ela perguntou alto demais para o meu gosto e eu já começava a ficar constrangida.
- Uma. – Falei baixinho, trocando as pernas.
- Meu amor, você não sabe o que está perdendo! – Começou a rir, mas ao ver a minha cara séria, ela parou. – Se você só fez uma vez, ainda é praticamente virgem. Eu aposto que nem aproveitou. Você gostava dele?
- É claro que eu gostava dele... – Fiquei um tanto melancólica ao tocar naquele assunto. – E achava que ele gostava de mim também. Mas estava enganada.
- Deixa eu adivinhar... Ele foi a sua “relação passada que não terminou bem”? – Perguntou e eu confirmei com um aceno de cabeça. – Por isso você fica com um pé atrás de se envolver tanto... Agora tudo faz sentido!
- Exatamente, Sherlock. – Sorri de canto.
Terminei de me alongar no chão e puxei %Abi% para a barra. Os grupos já estavam trocando de lugar e nós não podíamos ficar pra trás. Bem, eu não podia. Porque se dependesse da minha amiga, ela não se importaria em ficar totalmente perdida na aula, até porque não queria estar ali. Diferente das outras salas, a barra dali não ficava colada ao espelho, o que permitia fileiras de alunos tanto de um lado quanto do outro. %Abigail% foi para um lado e eu fiquei do outro, dessa forma nós ficamos lado a lado e ainda podíamos nos olhar. O professor ficou nos rodeando, por isso evitamos conversar naquele momento. Eu tratei de me concentrar no meu alongamento.
Segurei na barra com a mão direita e a ponta de um dos pés com a esquerda, mantendo o outro firme no chão. O professor costumava me desafiar com aquela posição durante as nossas aulas particulares e eu queria mostrar que estava treinando para melhorar. Comecei a esticar para o alto a perna que estava segurando, sem dobrar o meu tronco. Respirei fundo e mantive o queixo reto. Eu estava em uma posição de quase 180º e minhas duas pernas doíam, mas eu contei até cinco antes de voltar a perna para baixo com graciosidade.
- Muito bem, %Star%, vejo que está melhorando. – O professor me elogiou e eu sorri com orgulho de mim mesma. – Talvez você devesse aprender algo com a sua amiga, %Abigail%.
- Claro, professor. – %Abi% respondeu com um sorriso falso e foi só ele nos dar as costas que ela fez uma careta.
- %Abi%! – Sussurrei em repreensão, prendendo o riso. – Você devia mesmo aprender algo comigo.
- Ha ha ha, muito engraçada. – Também recebi uma careta e não aguentei segurar um riso baixo.
Nós teríamos continuado aquela discussão se uma voz vinda do além não tivesse prendido a nossa atenção. Tá bem, não foi uma voz do além... Foi apenas a diretora Agnes falando através das caixas de som em um canto da sala. Certo, se paramos para considerar que era ela quem estava falando, até pode ter algo do além nisso aí.
- Bom dia, alunos. – Ela começou. Pelo eco que o som tinha, assumi que havia caixas de som como aquela em todas as salas e corredores. – É com grande prazer que eu informo que o nosso baile anual de inverno acontecerá em duas semanas. Grandes surpresas acontecerão nessa noite, incluindo a revelação do resultado para a peça Romeu e Julieta. Espero ver todos lá... Agora podem voltar para as suas aulas, obrigada.
Gritos e palmas encheram a sala. Eles poderiam estar mais animados com o baile, mas só o que eu conseguia pensar era nesse bendito resultado. Sim, eu já estava conformada com a minha rejeição, mas precisava mesmo ser em um baile? Com todos ali ao meu redor comemorando suas vitórias?
- Eu AMO esse baile! – %Abi% me balançou, tirando-me do meu estupor. – Tá que esse será o meu primeiro, mas já ouvi falar tanto... Dizem que a decoração é a coisa mais linda do mundo.
- Então você tira fotos e me mostra depois, ok? Porque eu não vou pra esse baile.
- Mas, %Tah%... – Fez um biquinho. – Eu já falei que você não pode deixar essas coisas te abalarem...
- Formem duas filas, por favor. – O professor falou alto e sério, como sempre. – Se preparem para o Fouetté e eu voltarei em um instante.
- Qual é esse mesmo? – %Abi% cochichou pra mim e o professor foi até a porta da sala, atender alguém que estava lá.
- Você nunca vai aprender esses passos? – Sussurrei de volta pra ela e ri. Nós duas fomos nos juntar aos outros que já formavam as filas. – Eu vou te mostrar só mais essa vez.
A puxei para o final da fila, já que não queria ninguém vendo a minha demonstração. Ela ficou me olhando e eu rolei os olhos; o que ela faria sem mim, huh? Coloquei a minha perna direita na minha frente e ‘joguei’ a outra perna para o lado, sendo que o peso dela me fez girar. Rodopiei me equilibrando sob a perna direita e a esquerda continuava a me dar o impulso que eu precisava. Prendi o olhar em um lugar fixo para que eu não ficasse tonta e meu rosto só acompanhava o giro quando não podia mais ficar parado. Meus braços estavam em frente ao corpo, estendidos em uma oval.
- Eu já ia pedir a um voluntário para demonstrar o passo, mas vejo que a senhorita já fez isso. – O professor já havia voltado e eu parei de girar de repente, vermelha. Eu só estava mostrando pra %Abi%, não pra turma inteira... – Você está dispensada, %Star%. A diretora está te esperando do lado de fora da sala.
- Obrigada, professor. – Olhei pra %Abi% como se perguntasse: “Estou encrencada?” e ela só balançou a cabeça.
Aquele movimento não foi o suficiente pra me tranquilizar, já que na minha cabeça eu já começava a imaginar as milhares de coisas que pudesse ter feito de errado. Desde quando a diretora me esperava do lado de fora da sala? Desde quando ela esperava qualquer um do lado de fora da sala? Peguei as minhas coisas no banco de madeira que eu costumava usar de cabide e me dirigi até a porta da sala. Podia sentir meu coração quase saindo pela boca. Infelizmente, passei por Brigitte no meu caminho e ela soltou um: “Isso que dá ser exibida.” Bem maldoso. Pensei em responder, mas estava nervosa demais pra falar qualquer coisa.
A senhora magricela realmente estava me esperando ali e me cumprimentou com um balanço de cabeça. Aquela mulher nunca sorri? Fui até ela com um sorriso discreto, já que eu sorrio, e vi que ela não estava sozinha. Nicholas estava atrás dela, distraído com algo em seu celular. Aí mesmo é que eu fiquei mais confusa ainda.
- Espero não ter atrapalhado a sua aula, senhorita Tomlinson. – Ela tocou o meu ombro e caminhamos até Nick. Assim que me viu, ele guardou o celular e abriu um sorriso enorme.
- Claro que não! – Tentei responder o mais naturalmente possível e sorri de volta para o garoto. Era a primeira vez que eu o via depois da festa de sábado, mas se a minha teoria estivesse certa, ele não tentaria nada constrangedor naquele ambiente.
- Ótimo. – Respondeu seca. – Vamos ao que interessa. Vocês dois sabem por que eu os chamei aqui?
- Estamos encrencados? – Pensei alto e Agnes me olhou de forma estranha.
- Não. Na verdade é bem o contrário. Eu os chamei aqui porque tenho um convite pra vocês dois. – Um convite? Ok, aquilo parecia começar a ficar bom. – Como vocês já devem saber, o baile de inverno está se aproximando e todo o ano nós temos apresentações especiais criadas pelos próprios alunos. E eu gostaria que vocês dois fossem a atração final. Que fechem com chave de ouro!
+++ - Eu concordo, mas ela já disse que não vai! – Escutei %Abi% falar enquanto eu me aproximava. Ela estava no refeitório; em uma mesa com Niall e Zayn. Eu não sabia do que falavam, mas já desconfiava que fosse sobre mim. – E vocês sabem bem o porquê.
- O porquê de que? – Me intrometi e sentei entre ela e Zayn. – Bom dia.
- Bom dia, %Tah%. – O rosto de Zayn se iluminou de uma forma tão linda com aquele sorriso que eu recebi após o seu ‘bom dia’ que eu tive que puxá-lo pra um beijo rápido.
- Estávamos falando sobre você não querer ir ao baile de inverno. – Niall me respondeu, confirmando minha desconfiança.
- É. E nós achamos uma besteira você perder... – %Abi% concordou com o namorado.
- Isso mesmo. E se você não for, eu também não vou. E eu quero muito ir, então você vai ter que conviver com essa culpa pra sempre. – Zayn fez drama e eu ri.
- Bem, então eu posso ficar tranquila que não vou precisar carregar essa culpa. – Respondi.
- Então você mudou de ideia? – Minha amiga bateu palmas em comemoração.
- Eu meio que fui obrigada a mudar de ideai. – Rolei os olhos e ninguém entendeu nada. – A diretora me fez um convite e eu tive que aceitar... Ela me chamou pra dançar no baile. Eu acabei de voltar do escritório dela onde nós dois fomos nos informar sobre alguns detalhes.
- Isso é ótimo, %Tah%! Eu e o Niall também vamos nos apresentar lá e... Espera, você disse nós “dois”? – O tom de voz de Zayn mudou em dois segundos de animado para preocupado.
- Nick estava lá também... Nós vamos ter que dançar juntos. – O motivo que me levou a não começar a contar a novidade por aquela parte foi a reação que eu sabia que iria receber dos três.
- Nick? O mesmo que ia te beijar na festa de boas vindas se eu não tivesse atrapalhado? – Niall foi o primeiro a pirar.
- O mesmo Nick que ia tentar te beijar na festa de Halloween? – %Abi% seguiu o exemplo do loiro.
- O mesmo Nick que eu nunca fui com a cara? – Zayn foi o último. Ele não estava tão agitado quanto os outros dois, mas seu semblante era sério, quase indecifrável.
- Gente, calma! Ele não é tão ruim assim... – Tentei amenizar a barra de Nicholas, mas só recebi um olhar feio. – Pode ser que ele tenha tentado algo no passado, mas esse caso é extremamente profissional. Um convite desse não aparece todos os dias, então eu não tive escolha...
Sei que não consegui convencer muito bem com aquele meu argumento, mas era o único que eu tinha. Niall foi o primeiro a aceitar e logo começou a me perguntar o que eu iria dançar, ou qual seria a minha ordem de apresentação, já que ele e Zayn seriam os terceiros. Quando falei que seria a última, %Abi% entrou na onda e já começou a dizer que eu era muito importante e blábláblá. Zayn continuou sério por mais tempo e eu só consegui fazê-lo desamarrar aquela cara quando o enchi de beijos pelo rosto todo. Gostava de vê-lo com ciúmes, mas preferia os seus sorrisos.
- Hey, vocês viram que o Winter Wonderland chegou? – %Abi% tirou um panfleto da bolsa e eu vi o desenho de um parque de diversões naquela folha colorida.
- Mon Dieu! Eu adorava ir nesse parque quando era pequena e vinha passar o natal aqui! Fica no Hyde Park, né? – Peguei o papel de uma vez, nada delicada. – É tão divertido! As luzes, os brinquedos e o algodão doce... Ahh, o algodão doce...
- Epa, não vai começar a babar no meu papel. – %Abi% pegou de volta, mas eu continuei sonhando acordada. – Nós vamos lá, né?
- Temos que ir antes da época de chuvas, então aconselho irmos logo. – Niall falou com a boca cheia. Ele era o único que ainda estava comendo algo e, como sempre, eu não tinha comido nada.
- Vamos amanhã? – Zayn perguntou mais pra mim que para os outros e segurou a minha mão por baixo da mesa.
- Amanhã eu não posso... Prometi aos meninos que ia com eles fazer as compras do mês. – Entrelacei nossos dedos e encostei o rosto no ombro do moreno.
- Hmm, %Star% dona de casa. – Niall brincou.
- E depois de amanhã?
- Por mim tudo bem, mesmo que você não se importe. – %Abigail% parecia ressentida com a falta de atenção que estava recebendo, mas nós sabíamos que era brincadeira.
- Depois de amanhã eu não tenho nada. – Sorri.
- Então iremos depois de amanhã. – Zayn também sorriu e passou o nariz pelo meu.
- Espera um pouco... Teremos um encontro duplo? – A outra menina quase gritou de felicidade.
- Bem, nós dois não tivemos um encontro sozinhos ainda... – Olhei para Zayn e ele se fez de desentendido. – Mas eu acho que sim.
- Meu sonho será realizado! – %Abi% sorriu mais uma vez e olhou no relógio, descontraída. – Ai meu Deus, %Star%... Nós temos cinco minutos pra entrar na sala.
- COMO É? – Foi a minha vez de praticamente gritar. Eu estava tão entretida naquela conversa que perdi a noção do tempo e nem notei que as pessoas em nossa volta começavam a se retirar do refeitório e ir para as suas respectivas salas. – Estamos atrasadas!
- Vamos, vamos! – Ela me apressou, passando a própria bolsa pelo ombro e me entregando a minha.
- Tô indo. – Me levantei desesperada. – Vemos vocês na saída!
+++~ Já no dia seguinte. ~ - Você tem certeza que sabe onde fica esse supermercado, Liam? – Eu estava no banco de trás do carro, pra variar, e ele dirigia enquanto Louis tentava se localizar no GPS do próprio celular. – Porque nós já passamos por essa árvore cinco vezes! Estamos andando em círculos.
- Eu já disse que sei o caminho... – O motorista tentava acalmar os meus nervos, mas não estava executando um trabalho muito bom. – Todas as árvores são iguais, por isso você acha que já passamos por essa cinco vezes.
- Dobra à direita aqui! – Louis exclamou do nada e Liam virou o carro de uma vez para não perder a entrada. O veículo fez um movimento tão brusco que eu fui jogada contra a porta e a minha cabeça bateu no vidro da janela.
- Outch! – Reclamei depois do susto, passando a mão onde havia machucado. – Vocês dois não podem ter um pouco mais de cuidado não?
- Você está bem? – Lou se virou na minha direção, visivelmente preocupado. Eu até começava a me arrepender por estar sendo tão chata, mas foi então que eu percebi que ele não olhava pra mim, e sim para o vidro. – Pensei que essa cabeçuda tivesse te machucado.
- Seu precioso carro está intacto, Louis. – Estreitei os olhos. – Eu é que não estou.
- Isso é pra você parar de reclamar. – Ele riu.
- Desculpa, %Tah%... – Liam ria um pouco daquela situação. – Eu tive que virar rápido pra não perder a rua.
- Não tem problema, Li. Eu vou sobreviver. – Ainda passava a ponta dos dedos sob o pequeno calombo que começava a se formar na minha testa. – Só preciso de um pouco de gelo...
- Olha só, pelo menos conseguimos achar o supermercado. – Lou apontou para o ASDA gigantesco que se aproximava bem na nossa frente.
Não demoramos muito pra encontrar uma vaga e estacionar o carro. Louis abriu a porta para que eu saísse e era o mínimo que ele podia fazer depois de me causar danos permanentes e ainda rir de mim. Nós três começamos a caminhar em direção à entrada e eu fiquei no meio dos dois meninos. Até que era uma cena bem divertida, já que eles pareciam meus guarda-costas, principalmente por estarem usando óculos escuros. Durante a minha infância eu constantemente me sentia como a Hermione e seus dois melhores amigos, mas com Harry no lugar de Liam. Vamos concordar que era um sentimento bem badass para uma menina entre os doze e quinze anos. Aliás, porque Harry não estava ali conosco? Ele era o que mais cozinhava e praticamente morava com a gente, então deveria estar nos ajudando também, oras!
- Hey, lads... Eu vou pegar um carrinho e encontro vocês lá dentro, ok? – Falei para eles, já indo na direção dos carrinhos.
- Desde quando você fala “lads”? – Lou parou no meio do caminho, me olhando de forma engraçada.
- Eu estou me tornando uma ótima britânica, não concordam? – Fiz os dois rirem e cada um de nós seguiu o próprio caminho.
Pelo canto do meu olho, observei os dois se abraçarem de lado e caminharem para dentro da loja. Sorri com aquele bromance e balancei a cabeça negativamente envolta em pensamentos. Eu amava aqueles dois idiotas. Na verdade... Amava os meus seis idiotas, o que incluía Niall, %Abi%, Zayn e Harry. Não sei como uma pessoa só podia ter tanta sorte em ter seis anjos da guarda, mas eu tinha aquela sorte. Ainda com o sorriso bobo em meu rosto, cheguei até as duas fileiras de carrinhos vermelhos. Lembro de uma época simples, quando era só puxar um carrinho de supermercado para ele se desprender dos outros e ficar livre para o uso, mas aquele ali parecia não querer me obedecer de jeito nenhum. Não sei quem foi o funcionário que os arrumou daquela forma, mas gostaria de encontrá-lo para explicar que um não precisava ficar em cima do outro para que estivessem arrumados. Tentei de todas as formas possíveis até finalmente conseguir puxar o bendito carrinho. Como aquela tarde já não estava sendo tão boa pra mim, não fiquei surpresa ao machucar o pulso quando puxei o carrinho de mau jeito.
- Ahh, que legal! O que falta agora? – Resmunguei sozinha, empurrando o carrinho para a entrada do supermercado.
As portas automáticas se abriram pra mim e eu senti a diferença de temperatura entre o lado de dentro e o de fora. Enquanto o estacionamento estava frio por causa do inverno que se aproximava, os aquecedores mantinham uma temperatura um pouco mais elevada ao lado de dentro. Sentir aquele conforto preencher o meu corpo me fez esquecer um pouco as minhas dores e respirar fundo, pensando que tudo iria ficar bem. Assim que finalmente entrei na ala de compras, comecei a olhar para os lados a procura dos meus amigos. Eles não deveriam estar muito longe, mas o ASDA era um supermercado tão grande que eu poderia passar anos a procura dos dois.
Deixando meu exagero de lado, cruzei alguns corredores e nada de avistar nenhum dos meus companheiros de casa. O supermercado não estava tão cheio, mas andar empurrando aquele carrinho me atrasava um pouco. Resolvi deixá-lo em um canto só enquanto eu olhava no último corredor mais próximo de mim. Se não os encontrasse ali, usaria meu telefone para localizá-los. Foi só me afastar alguns metros que uma mulher correu até o MEU carrinho e começou a puxá-lo. Dei meia volta e fui até lá o mais rápido que consegui.
- Com licença, senhora... – Segurei a parte da frente do carrinho, impedindo-o de mexer. A mulher se assustou, até porque sabia que estava fazendo algo errado, e segurou a parte de trás com força. Eu tentava permanecer calma e educada. – Esse carrinho é meu. Eu só o deixei aqui enquanto fui procurar os meus amigos e...
- Sinto muito, mas ele estava largado aqui. – A minha educação não adiantou de nada, porque aquela mulher foi ríspida em sua resposta. – E achado não é roubado.
- Achado não é roubado? – Ri sem humor. – Eu achava que isso aqui era um supermercado e não o jardim de infância.
- O carrinho é meu! – Ela continuou a insistir. Você pode achar que era só um carrinho e seria bem mais fácil voltar lá pra fora e pegar outro, mas eu não havia machucado o pulso e perdido quase vinte minutos pra conseguir aquele carrinho por nada!
- Escuta aqui, senhora. Você quer esse carrinho? Ok! Mas vai ter que me levar junto. – Deixei toda a minha boa vontade de lado e falei entre dentes, passando uma perna após a outra para dentro do carrinho. Sim, eu entrei nele e me sentei, cruzando os braços. A mulher me olhou como se eu fosse uma louca e saiu de perto apressada. – Isso mesmo, vá embora!
- Wow, isso foi demais, %Tah%! – Liam surgiu atrás de mim. Não sei há quanto tempo ele e Lou estavam ali, mas aparentemente tinham assistido tudo. – Um pouco paranoico, mas ainda assim demais.
- Você defendeu o seu carrinho like a boss! – Louis levantou a mão para que eu batesse nela. – High Five.
- Obrigada, meninos. – Ri e bati na mão do meu irmão em comemoração.
- Eu peguei isso aqui pra você, %Tah%. – Lou me entregou um pacote de ervilhas congeladas.
- E o que eu devo fazer com isso? – Peguei o pacote e comecei a rir.
- Colocar na testa, é claro. – Liam me respondeu e começou a empurrar o carrinho. Aparentemente eu ia continuar ali dentro.
- Eu não vou andar por aí com um saco de ervilhas congeladas na testa. – Olhei para os dois como se estivessem loucos; bem como a mulher de antes me olhou.
- Você é que sabe. – Lou deu de ombros. – Se quer ir ao seu encontro duplo amanhã com um galo na cabeça, o problema é seu.
- Eu odeio quando você tem razão, Louis! – Me rendi e encostei o pacote gelado na minha testa. Resmunguei um pouco de dor e frio, mas era melhor do que ficar com a cabeça inchada.
Passamos pelo primeiro corredor, segundo, terceiro... Parando de cinco em cinco minutos e pegando coisas que nos agradavam. Quero dizer, os meninos iam pegando as coisas e eu arrumando no carrinho, pois não queria sair dele. Preciso confessar algo: Eu achava que fazer a “feira” seria bem mais complicado do que realmente foi. Minha mãe teria um treco se estivesse ali, mas como não estava, nos preocupamos apenas em encher o carrinho de besteiras. Quase não pegamos coisas saudáveis. A não ser que você considere sorvete de morango, ou varinhas de alcaçuz como fruta.
- %Tah%, olha aqui pra foto. – Lou me chamou e eu olhei em sua direção. Ele estava com o celular apontado na minha direção e se preparava pra tirar uma foto.
- Eu estou tão engraçada assim pra você querer registrar esse momento? – Devia estar mesmo. Imagine uma menina de 19 anos sentada em um carrinho cheio de porcarias e segurando ervilhas congeladas na cabeça. Parecia mais uma criança, sei disso. Os meninos riram e eu fiz um bico para que ele tirasse a foto. Não daqueles bicos do tipo: “Sou sexy tirando foto no espelho pra colocar no facebook.” E sim: “Machuquei a cabeça e tive que passar por isso. Sintam pena de mim.”
- Essa vai direto pro Twitter. – Lou tirou a foto e se afastou um pouco, me impedindo de ver o que ele estava escrevendo.
- Você ficou louco, Lou? – Me assustei. A minha cara devia estar horrível e mesmo assim ele ia postar aquela foto?
- Agora já foi. – Sorriu satisfeito.
Liam parou de empurrar o carrinho e foi pegar mais alguma coisa nas prateleiras. Eu não esperei mais nada pra pegar o meu celular dentro da bolsa e abrir no Twitter. Queria ver o que o traste do meu irmão fizera. É só comigo que os sites demoram três vezes mais pra abrir quando mais se precisa? Porque o celular só fez o favor de carregar a página quando Lou começou a rir escandalosamente de algo. Deslizei o dedo pela tela até encontrar o que eu estava procurando.
“@%stargirl% machucou a cabeça e quase saiu nos tapas com uma senhora no meio do ASDA !! #funday” Era o que dizia a legenda da foto. Até que não foi algo tão ruim quanto eu esperava e a minha cara não estava tão estranha. O motivo que levou o meu irmão a rir daquele jeito? Simples! O comentário da minha melhor amiga:
“Ela já não tinha muitos neurônios... Você ainda deixa bater a cabeça?”