Ballet Shoes


Escrita porElla Souza
Editada por Isabelle Castro


Capítulo XXIX

Tempo estimado de leitura: 40 minutos

  - %Abigail%, você não vai escapar! – Gritei enquanto corria atrás dela pelo corredor do primeiro andar da Academy. – Isso é importante! Eu não sei por que você está com tanto medo.
  - Eu não quero alguém me examinando, %Star%! Vai doer. – A menina choramingava e eu já começava a desistir de persegui-la.
  Naquela segunda feira as nossas aulas haviam sido canceladas para que cada aluno pudesse fazer um “exame de rotina”. Funcionava mais ou menos como aqueles testes que os atletas tem que fazer pra poder competir, mas no nosso caso era bem mais importante. Como usamos cada centímetro do nosso corpo, os ossos podem sair do lugar ou músculos ficarem frágeis e só com certos exames é que esses problemas são detectados. De fato era bem desconfortável, principalmente se você não é acostumada com alguém te apertando até você ficar sem ar – como era o caso de %Abi%. Por mais que eu tentasse tranquilizar a minha amiga, nada do que eu falasse parecia adiantar. Nós éramos as últimas e a maioria das pessoas já tinha ido embora. Eu também gostaria de estar a caminho de casa, mas a minha querida %Abi% não facilitava a minha vida em nada.
  - Quer saber? Se não quiser, não faça! Cansei de insistir. – Bufei e dei meia volta.
  - Você não vai ficar brava comigo, vai? – Ela não veio atrás de mim, mas pelo menos se virou na minha direção.
  - O que você acha, %Abigail%? – Também não me virei pra falar com ela e continuei o meu caminho em direção à enfermaria.
  - Eu não gosto que me chame pelo meu nome! – Não sei por que aquilo a irritava tanto, mas estava pouco me importante. Eu só estava querendo ajudá-la e ela parecia não enxergar isso.
  - Eu não ligo se você gosta ou não, %Abigail%. Pelo menos não quando eu estou tentando fazer algo para o seu bem. – Fui ríspida e a deixei falando sozinha.
  Eu odiava brigas com todas as minhas forças e evitava ao máximo qualquer desentendimento, mas tem hora que a pessoa não aguenta mais. Infelizmente %Abi% e eu enfrentamos a nossa primeira briga. Eu sabia que não era nada demais e que em meia hora nós estaríamos de bem novamente, por isso não esquentei muito com aquilo e segui o meu caminho. A enfermaria estava vazia como o esperado e a senhora Mary, que eu já conhecia, estava por ali. Ela parecia feliz em me ver e logo me mandou entrar na sala de vidro que ainda me deixava desconfortável. Deixei a minha mochila em uma cadeira vazia e tirei a minha blusa, ficando apenas de calça legging e collant de ballet. Eu já sabia como esses exames funcionavam, então não daria muito trabalho.
  - Senhorita Tomlinson, como é bom vê-la andando sob os dois pés novamente! – A senhora sorriu ao me ajudar a sentar na maca.
  - Graças à senhora e aquela pomada milagrosa! – Sorri de volta e deitei na maca de barriga pra cima. – Aliás, eu nunca tive a chance de agradecer de verdade... Então obrigada!
  - Imagine, querida, eu estou aqui pra isso. – Colocou os óculos sob o nariz afinado antes de continuar. – Podemos começar? Você tem sentido alguma dor em qualquer parte do corpo?
  - Nada fora do normal, pra dizer a verdade. Só quando eu passo muitas horas dançando é que meus pés começam a doer, mas aí eu os coloco de molho em uma bacia com sal e água morna.
  - Está certinha... – Começou a sentir as minhas costelas e apertar cada uma. – Aqui dói?
  - Agora que você está apertando, sim... – Ri nervosa na tentativa de disfarçar um gemido de dor, mas não adiantou. – Outch.
  - Desculpe, querida, eu sei que dói, mas é o necessário. – Terminou de sentir as minhas costelas e anotou algo em um papel. – Por enquanto está tudo certo. Você poderia deitar de lado, por favor?
  - Claro... – Deitei como ela pediu, apoiando o lado direito na maca. A senhora voltou a sentir as minhas costelas, porém procurou algum ponto mais abaixo delas.
  - Isso pode doer um pouco, tá bem? – E sem nem contar até três ou dar um aviso melhor, Mary forçou a mão para baixo da minha costela. Era como se ela quisesse, literalmente, passar a mão através da minha pele e arrancar o meu coração.
  - Um pouco? – Foi impossível segurar o gemido de dor dessa vez e eu acabei soltando todo o ar que tinha em meus pulmões.
  - Respire fundo, por favor... – Pediu, me fazendo encará-la com descrença. Até parece que seria fácil assim, né? Fiz o melhor que pude, mas não consegui segurar por muito tempo; não com ela empurrando a mão cada vez mais pro fundo. – Muito bem.
  - Mon Dieu. – Suspirei pesadamente quando ela me soltou e deitei de bruços na maca, recuperando o fôlego.
  - Eu sei que é horrível, querida... – Mary aproveitou a posição em que eu fiquei para sentir as minhas panturrilhas. Eu começava a dar a razão a %Abi% por ter fugido, pois a dor que eu senti em seguida foi quase insuportável. – Acho que achei um nó no seu músculo, %Star%...
  - Um o que? – Tentei olhar pra ela, mas fui obrigada a continuar na mesma posição.
  - Um nó. Não é nada que deva te preocupar, mas só vai piorar, então eu vou relaxá-lo agora, certo?
  Porque ela me perguntava se nem esperava a minha resposta? A enfermeira começou a massagear a minha panturrilha, mas não daquela forma gostosa que muitas pessoas até pagam depois. Era uma dor horrível, principalmente no lugar do tal nó. Eu sentia uma pontadinha naquele local durante as minhas danças, mas não sabia que era algo sério. Minha única saída foi abraçar um travesseiro fino que estava ali por cima e torcer pra que acabasse logo.

+++

  Depois de todo o sofrimento que passei na mão de Mary, pude sair da enfermaria/abatedouro e procurar meus amigos, pois eles deveriam estar me esperando. Fiquei surpresa por ver que %Abi% estava sentada em um banco bem próximo de onde eu estava e tinha uma expressão bem engraçada no rosto. Ela devia estar sondando se eu ainda estava brava com ela ou não.
  - Hey, bitch. – Chamei-a pra andar junto comigo e o sorriso que ela abriu em seguida mostrava que tudo estava bem.
  - Como foi? – Ela me abraçou de lado, passando o braço em volta da minha cintura.
  - Um pedacinho de céu! – Falei com ironia e ri ao passar o braço em volta dos ombros dela. – Onde estão os meninos?
  - Estão na escada, como sempre. Está com saudades do namorado? Porque ele não parava de perguntar por você. – Rolou os olhos. – Por isso é que eu vim atrás de você. Já não aguentava mais ouvir Zayn perguntando: “Será que ela está bem?” ou “Será que ainda vai demorar muito pra %Tah% sair de lá?” Eu to te falando, %Tah%, ele está insuportável.
  - Não era você que dizia que eu fazia dele uma pessoa melhor? – Gargalhei e quase inconscientemente comecei a andar mais rápido. A verdade é que eu também estava louca para vê-lo.
  - E faz! Mas só quando está ao lado dele. Quando você está em outro lugar... Pff, ele vira um chato.
  - Não fala assim dele, ok? – Olhei pra ela de cara feia.
  - Não fale de quem? – Um Zayn sorridente surgiu na nossa frente assim que passamos pelas portas de entrada/saída da Academy.
  - Baby! – Larguei a minha amiga de qualquer jeito e praticamente corri para abraçá-lo.
  - Alguém está feliz em me ver! – O menino sorriu mais ainda e me abraçou pela cintura, levantando-me alguns centímetros do chão.
  - Eu estava com saudades. – Balancei os pés no ar e, logo que os encostei novamente no chão, separei o abraço.
  - Blaaaaaah. – %Abi% fez uma cara de nojo e desceu as escadas para encontrar o próprio namorado.
  - Como foi a sua manhã? – Preferi ignorar a ruiva e me concentrar no garoto na minha frente.
  - Produtiva. – Passou a mão pelos cabelos, também ignorando a outra garota. – Estamos escrevendo uma música para o Snow Ball.
  - Sério? Tenho certeza que está ficando perfeita. – Sorri e Zayn segurou a minha mão.
  - Se o Niall ajudasse, seria mais fácil. – Resmungou me fazendo rir. – Mas enfim! %Tah%, eu queria falar com você...
  - É algo ruim? – Fiquei tensa. Que eu saiba essas coisas de “eu quero falar com você” ou “precisamos conversar” nunca terminam bem.
  - Claro que não. – Sorriu, me tranquilizando. – Eu quero te levar pra jantar hoje.
  - Uhh, nosso primeiro encontro oficial? – Soltei uma risada baixa, pousando as mãos nos ombros do menino.
  - Exatamente. – Me segurou pela cintura e deixou um beijo nos meus lábios. – Aceita sair comigo?
  - Eu adoraria. – Afirmei que sim com a cabeça e ficamos trocando selinhos demorados.
  - Te pego as oito?
  - Perfeito! – Nos abraçamos mais uma vez antes de irmos nos juntar a %Abi% e Niall na escada.
  - O que vocês dois estavam cochichando ali atrás? – %Abi% perguntou, curiosa como sempre, enquanto nos sentamos em um degrau.
  - Temos um encontro hoje à noite. – Respondi animada.
  %Abigail% e Niall falaram um “Hmmm” engraçado e eu rolei os olhos. Me senti na quarta série de novo. Eu teria reclamado da infantilidade dos dois se o toque do meu celular não tivesse me chamado. Incrível como você pode passar o dia inteiro com o celular na mão e nada acontecer, mas quando ele está perdido pela sua bolsa, até sua tia de quarto grau resolve ligar. Eu revirei a bolsa e olhei em cada bolso, achando o celular quando a música estava quase acabando. Zayn ria do meu desespero, mas eu ignorei e atendi a ligação antes mesmo de ver quem era.
  - Alô?
  - %Star%! Ainda bem que consegui falar com você... – Era Rachel, minha madrasta.
  - Oi, Rach! Aconteceu alguma coisa? – Perguntei preocupada com a forma que ela me cumprimentou.
  - Não se preocupe, não aconteceu nada de ruim... É só que eu recebi um convite para um desfile, mas foi meio em cima da hora. Então estou atrasada pra uma prova de roupas e não tenho com quem deixar a Lux, porque seu pai está trabalhando... – Rachel falou rápido demais e eu tive que prestar atenção em dobro para entender. – Você está em casa?
  - Eu ainda estou na academia, mas Liam está em casa. Ele teve o dia de folga hoje. – Expliquei. Os três que estavam ali comigo me olhavam curiosos, tentando entender o que estava acontecendo. – Pode deixar ela lá em casa e eu já chego...
  - Muito obrigada, %Tah%! De verdade. Você pode avisar o Liam pra mim? Eu já estou chegando...
  - Claro que sim, eu já vou ligar pra ele! – Afirmei e encerramos a ligação.
  - O que houve, %Tah%? – Zayn perguntou enquanto acariciava o meu braço.
  - Minha baby girl vai passar a tarde comigo hoje! – Falei com um sorriso enorme. – A mãe dela vai provar umas roupas hoje para o próximo desfile...
  - A sua madrasta é modelo, né? Eu tinha esquecido... – %Abi% disse pensativa.
  - É sim! Mas ela estava meio parada desde que Lux nasceu, então essa pode ser uma chance pra ela voltar às passarelas.
  - Então você vai ter que ir embora agora? – Meu namorado fez um biquinho, como se não quisesse que eu fosse.
  - Vou sim... Mas não se preocupe, porque a gente vai se ver mais tarde. – Puxei-o para um beijo rápido antes de levantar da escada. – Tchau, %Abi% e tchau, Nialler.
  - Até mais tarde! – Zayn acenou pra mim e eu desci a escada com um sorriso no rosto.
  Fui procurando a chave do meu carro dentro da bolsa enquanto discava o número de Liam no meu iPhone. Fazer duas coisas ao mesmo tempo é o que há. Terminou que eu não consegui fazer uma coisa nem outra, já que tive que parar de digitar quando derrubei a chave no chão acidentalmente. Por sorte não caiu em nenhuma poça de água e rapidamente eu a peguei de volta e abri o carro. Esperei estar sentada no banco do motorista pra tentar discar o número de meu amigo novamente.
  - Oi? – Liam atendeu com a voz sonolenta.
  - Li? Sou eu, %Tah%. – Tive que rir, já que provavelmente tinha o acordado. – Te acordei, né?
  - Mais ou menos. – Ele também riu.
  - Desculpa! Oh... Eu to ligando pra avisar que a Rachel vai passar aí pra deixar a Lux, ok? Você pode ficar com ela até eu chegar?
  - Aquela coisa fofa? Claro que posso. – Pude escutá-lo se mexer na cama, provavelmente saindo dela. – Você vai demorar?
  - Eu já estou saindo daqui, mas depende do transito. – Rolei os olhos, imaginando os minutos que eu teria que passar dentro do carro se as ruas estivessem congestionadas como de costume; ainda mais por causa da hora.
  - Tudo bem, %Tah%, te vejo daqui a pouco. Dirija com cuidado! – Liam sempre se preocupava com a minha segurança e eu achava muito fofo.

+++

  - Onde está a minha princesinha? – Perguntei ao abrir a porta de casa.
  - Quem chegou, Lux? – Escutei a voz de Liam vindo da sala e deixei a minha bolsa em um cabide no hall de entrada. – Vai lá ver!
  - %Tah%! %Tah%! – A pequenina apareceu correndo onde eu estava e a sua risada me fez rir junto. – Chegou %Tah%!
  - Luxy, meu amor! – Peguei-a no colo com facilidade, mas ela estava mais pesada que da última vez que eu fizera aquilo. Também parecia maior que da última vez... – Que saudades que eu senti! O tio Liam cuidou bem de você?
  - Uhu. – Respondeu, ainda rindo. Eu não aguentei e enchi as bochechas da minha irmãzinha de beijos.
  - Oi, %Tah%. – Liam apareceu e estava um pouco ofegante.
  - Tudo bem com você, Liam? – Ri.
  - Essa menina corre demais, sabia? – Falou.
  - Você estava dando trabalho pra ele, Lux? – Perguntei para a menina em meus braços.
  - Sim! – Jogou a cabeça pra trás, rindo.
  - Muito bem! – Também ri e só Liam permaneceu sério.
  - Quem está com fome? – Dorota apareceu do nada, me assustando.
  - Eeeeeeeu! – Lux levantou os braços gordinhos para o alto.
  - Dora, eu nem sabia que você estava por aí! – Sorri para a minha babá. – Mas eu devia ter desconfiado por causa desse cheiro maravilhoso!
  - Eu fiz uma macarronada especial hoje!
  - Hm, tudo isso pra Lux, é?
  - Rachel falou que ela já comeu, %Tah%... – O homem me informou e a pequena fez um biquinho me olhando.
  - Não conta pra mommy? – Lux olhou para Liam e ele sorriu.
  - Só se eu ganhar um beijo. – Cruzou os braços, chegando mais perto.
  - Ok! – Concordou com aquele trato e pulou dos meus braços para o dele. Por sorte ele a segurou a tempo. – Smáck!
  - Que beijo gostoso! – Liam riu porque Lux falava “smáck” toda vez que mandava beijo ou beijava alguém. Ele também deu um beijo na pequena e sussurrou pra ela como se estivesse contando um segredo: - Será que o beijo da sua irmã é tão gostoso assim?
  - %Tah%, tio Li quer beijo seu. – Ela falou com a maior naturalidade do mundo e eu devo ter ficado mais vermelha que um tomate, pois sabia exatamente o tipo de beijo que ele queria.
  - Agora não é hora de beijo e sim de comer! Venham logo, pois a mesa já está posta.
  Por sorte Dorota percebeu o quanto eu estava sem graça e mudou o assunto da conversa. Eu fui a primeira a ir para a sala de jantar e sentar na minha cadeira como de costume. Liam pegou uma almofada do sofá da sala e a colocou na cadeira ao lado da minha, pra que Lux ficasse da altura da mesa e pudesse ficar segura, sentando na frente dela em seguida. Ele era tão cuidadoso até nos pequenos detalhes e eu admirava isso nele; entre várias outras coisas.
  Dorota nos serviu de um por um e eu duvidava que fosse conseguir comer a montanha de macarrão que cobriu o meu prato. Por mais que eu tivesse falado que não estava com muita fome, ela insistiu que eu estava magra demais e precisava me alimentar direito. Teria entrado em uma discussão alegando que uma bailarina não pode comer muito, mas já sabia como terminaria, então não valia a pena gastar argumentos em uma causa perdida. Pelo menos em uma coisa ela estava certa... Aquela era uma macarronada especial, pois estava muito, muito, muito boa. Lux também parecia estar gostando, pois sua boca e bochechas logo ficaram cobertas por molho de tomate. Foi uma luta impedir que ela sujasse as roupas, mas eu consegui fazê-la terminar de comer limpa.
  - Qual o seu segredo, Dora? – Liam perguntou após engolir uma garfada do macarrão.
  - Muito amor! – A mulher respondeu da cozinha.
  - Ela nunca conta o ingrediente secreto, Li. – Expliquei.
  - Mas eu não ia contar pra ninguém! – Disse cabisbaixo.
  - Se eu contasse o meu ingrediente secreto ele não seria mais secreto. – Dorota chegou àquela brilhante conclusão.
  - Você devia se contentar em ao menos poder provar da comida dela, porque daqui a pouco a rainha vai descobrir a melhor cozinheira de toda a Inglaterra e nós ficaremos sem a nossa. – Brinquei.
  - Que exagero, %Star%! – Ela riu. – Eu ainda mandaria uma marmita pra vocês. Umas sobras do castelo, sabe?
  - Tá vendo como as coisas são? – Perguntei a Liam e ele só riu.
  Enquanto nós dois terminávamos de comer, Dorota pegou Lux e foi ajudá-la a lavar o rosto e as mãos. Também ficou brincando com a pequena no chão da sala e eu só escutava a música que ela costumava cantar pra mim quando eu era criança. Tive que sorrir com todas aquelas lembranças que voltaram de repente e saí da mesa de jantar para também ir até a sala. Liam me seguiu curioso e nós dois sentamos no sofá pra ficar olhando as duas.
  - Ela me lembra muito você, %Star%... – Dorota falou com um suspiro. – Eu te conheci mais nova ainda, acredita?
  - Eu não lembro como nos conhecemos, Dora... Mas lembro que você sempre esteve comigo, mais até que a minha mãe.
  - Você era a minha bebê, a minha menina. – Falou melancólica. – E a Lux tem os seus olhos. É como se estivéssemos voltado no tempo e eu ainda pudesse te carregar nos braços.
  - Não comece a chorar, Dora, por favor. – Pedi com a voz embargada. Se ela continuasse com aquele assunto, quem iria chorar seria eu.
  - Tem razão! – Se abanou e levantou do chão com certa dificuldade. – Tenho muitos pratos pra lavar. Qualquer coisa me chamem, sim?
  - Pode deixar. – Liam foi quem respondeu e eu tirei Lux do chão para colocá-la no meu colo.
  - Obrigada, Dorota. – Sorri para a mulher que deixava o cômodo e me voltei para Lux. – Do que você quer brincar agora, princesa?
  - Vamos brincar de salão de beleza? – Aquela era uma das maiores frases que Lux falara, ao menos perto de mim, então eu não podia negar.
  - Vamos sim! Lá no meu quarto? – Perguntei e ela afirmou com um movimento de cabeça. Eu a coloquei no chão e a pequena já começou a andar em direção a escada.
  - Brinca com a gente? – Parou no primeiro degrau.
  - Achei que não ia me chamar! – Liam levantou e foi atrás dela.
  Eu segui os dois e como Lux era quem estava na frente, nós demoramos mais que o normal pra chegar até o segundo andar da casa. Como a baixinha não alcançava a maçaneta do meu quarto, Liam foi quem abriu a porta pra ela e a colocou sentada na cama; pois também era alta demais para que subisse sozinha. Eu fui direto para o banheiro e peguei alguns batons, maquiagens e produtos de cabelo para a nossa brincadeira. Assim que voltei para o quarto e coloquei tudo aquilo em cima da cama, Lux sorriu como se estivesse no paraíso.
  - Quem vai primeiro? – Sentei na cama, ao lado de Liam e de frente pra Lux.
  - Tio Li! – Ela falou enquanto escolhia um batom bem rosa.
  - Epa... Que história é essa? – Liam me olhou com espanto e eu dei de ombros.
  - Você quis brincar, então vai ter que brincar! – Ri da cara que ele estava fazendo.
  - Mas você vai ter que me deixar bem lindo, hein? – Falou com Lux, inclinando o rosto na direção dela.
  - Certo! – Luxy comemorou e segurou o queixo dele com a mãozinha esquerda. O batom rosa shock estava na direita e ela começou a passar nos lábios dele.
  - Essa é a sua cor, Li! – Gargalhei. Lux estava passando mais ao redor na boca dele do que no lugar certo, mesmo que estivesse usando toda a sua coordenação motora.
  - Halaucaa. – Murmurou com a boca fechada, mas eu sabia que ele estava tentando falar “Cala a boca”.
  - Eu posso te ajudar, baby girl?
  - Pode, %Tah%. – Sorriu adorável como sempre e me entregou uma sombra azul BEM chamativa. – Ati, oh.
  - Acho que ele vai ficar lindo com essa sombra. – Sim, eu estava me divertindo com aquilo. Provavelmente bem mais do que devia. Abri a sombra e me preparei pra começar a passar. – Fecha os olhos!
  - Humhuuuuum. – Murmurou mais uma vez, mas pelo menos me obedeceu. Ele resmungava baixinho enquanto eu deixava a área acima de seus olhos completamente azul.
  - Abre? – Lux me passou uma caixinha de blush e eu devolvi pra ela depois de abrir. – Brigada.
  - Imagine, Luxy. Sabe o que está faltando? – Ela me olhou curiosa e Liam me olhou com medo. – Alguns enfeites de cabelo!
  - Ótimo! – Li falou irônico e eu mostrei a língua pra ele, ficando de joelhos na cama e pegando algumas presilhas em forma de flor e borboletas.
  - Shhh. – Pedi silêncio e Lux riu, também se divertindo muito em pintar as bochechas dele de vermelho. O cabelo do menino não era tão grande, mas ainda assim eu consegui prender os enfeites por ali.
  - Tá pronto! – A menininha fechou o pote de blush e bateu palmas.
  - Deixa eu ver... – Fui até o lado dela para poder olhar a nossa obra de arte de frente e comecei a rir ao ver o resultado final. E quando eu falo que comecei a rir, é porque eu ri muito. Cheguei ao ponto de ter que deitar na cama de tanto gargalhar. – Perfeito!
  - Para de rir, %Star%! – Liam reclamou comigo, mas não aguentou segurar o próprio riso depois de se olhar em um espelho de mão que Lux o entregou. – Meu Deus...
  - Gostou? – A mais nova perguntou inocente, realmente achando que ele estava bonito com aquela maquiagem toda borrada.
  - Amei! – Respondeu e eu já conseguia rir menos. – Mas agora é a minha vez. Muahaha.
  - Eita, Lux, quem será que ele vai maquiar? – Olhei pra ela fingindo estar com medo.
  - Eita! – Me imitou como se aquela fosse a palavra mais engraçada do mundo.
  - Eu vou maquiar quem escolheu essa brincadeira, é claro! – Apontou para a minha irmã, que escondeu o rosto nas pequenas mãos. – Nem adianta se esconder, mocinha.
  - Ele faz a sua maquiagem e eu arrumo o seu cabelo, o que acha? – Daquela opção Lux gostou, por isso eu voltei a me sentar e a coloquei sentada entre as minhas pernas, de frente pra Liam.
  - Vou te deixar bem linda! – O menino pegou um lápis de olho e levantou o rostinho dela.
  - Linda ela já é! – Sorri ao pegar a minha escova de cabelo e começar a pentear os fios loiros e finos da bebê. – É a menina mais linda do mundo.
  - Tinha que ser, já que ela é a sua cara. – Liam sorriu pra mim e logo voltou a se concentrar no seu trabalho. – Está pronta!
  - Mas já? – Deixei a escova de lado e me inclinei para olhar o rosto de Lux. – Liam!
  - O que? Ela me maquiou de menina... Eu tive direito de desenhar um bigode nela. – Cruzou os braços como uma criança emburrada.
  - Deixa ver! – Lux estava sorrindo, mas assim que viu o seu reflexo no espelho o sorriso se transformou em um ‘o’ espantado. – Epa.
  - Tio Li é bobo, né? – Falei com ela, que concordou balançando a cabeça. – Vamos tirar uma foto e mostrar pra mamãe?
  Lux deixou eu tirar uma foto dela, então tirei o celular do bolso e coloquei na câmera. A pequena olhou para Liam e ele fez um biquinho, pedindo desculpas. Mas até que ela estava bem fofa – como sempre. Aproveitei que ela estava distraída e tirei a foto. Já fui abrindo o Twitter, pois não perderia tempo, e postei a foto com a seguinte legenda:

“Mummy, olha o que o tio @Real_Liam_Payne fez comigo!”

+++

  - Então, como eu estou? – Perguntei a Liam, que estava sentado no sofá com Lux em seu colo. Eu apontei para as minhas roupas e dei uma voltinha sem sair do lugar.
  - Você está mesmo perguntando a minha opinião sobre as roupas que vai usar pra sair com outro cara? – Ele me olhava dos pés à cabeça com certo pesar.
  - Eu perguntaria a outra pessoa, mas você é o único que está aqui. – Coloquei as mãos na cintura. Dorota havia partido quando eu estava no banho, Louis ainda estava no trabalho e Harry não aparecera naquele dia. – Por favor?
  - Você está perfeita, %Tah%. Como sempre. – Se rendeu e sorriu. – Não é, Lux?
  - Minha irmã é linda. – A pequena falou e eu teria apertado as bochechas dela se a campainha não tivesse tocado.
  - Zayn já chegou? Ainda falta meia hora... – Olhei para o relógio em meu pulso e passei a mão pelos cabelos. – Já vou!
  Gritei, mas não saí do lugar. Liam me olhou como se perguntasse: “O que você está fazendo?” e eu respirei fundo. Estava nervosa. Muito nervosa. “Respira, %Star%. Vai dar tudo certo. Ele já é seu namorado e você se sente a vontade com ele, então porque está assim?” Conversei comigo mesma, decidindo que não adiantava eu ficar ali parada. Respirei fundo duas vezes e caminhei até a porta, contando até três antes de abri-la. Preparei o meu melhor sorriso, mas me senti muito idiota ao ver que não era Zayn e sim Rachel.
  - Wow, isso tudo é pra me receber? – Minha madrasta me abraçou.
  - Claro! – Ri e, assim que o abraço se partiu, dei espaço para que ela passasse. – Lux está lá na sala.
  - Ela se comportou? – Perguntou e fomos andando até onde Liam brincava com a pequena.
  - Como um anjo!
  - Mommy! – Lux desceu do sofá assim que viu a mãe aparecendo e correu até ela.
  - Minha princesinha! – Rachel levantou a filha até o alto, fazendo a gargalhar. – Que bigode é esse?
  - Foi o tio Li. – Apontou para Liam e o entregou na cara de pau.
  - Oi, Liam! Eu nem o vi aí. – Minha madrasta sorriu pra ele.
  - Tudo bem, Rach? – Sorriu de volta e acenou. – Em minha defesa, ela também me pintou.
  - Mommy, mommy... – Lux balançou o ombro da mãe até ter sua total atenção. – %Tah% vai sair com o namorado.
  - Hã? – Me fiz de desentendida, arregalando os olhos. Rachel não sabia que eu estava namorando... Porque ela contaria ao meu pai. Eu senti vontade de matar Liam, porque ele foi quem contou aquele detalhe para a minha irmãzinha.
  - É mesmo, %Tah%? – Rachel olhou pra mim com um sorriso curioso e animado. – Namorado?
  - Então... Pois é... – Não adiantaria eu negar, então admiti de uma vez. – Mas está tarde, então é melhor vocês irem pra casa...
  - Agora eu vou ficar aqui até ele chegar! – A mulher foi até o sofá com Lux. – Qual o nome do garoto?
  - Zayn Malik. – Liam respondeu e eu escondi o rosto nas mãos, ainda parada na entrada da sala.
  - E ele é bonito? É mais velho? – Perguntava como se aquela fosse a novidade do ano e ela precisava saber de todos os detalhes.
  - Rachel, não me faça perguntas difíceis! – Eu estava visivelmente sem graça. – Nós temos a mesma idade.
  - E ele é bonito? – Repetiu a pergunta que eu estava tentando ignorar.
  - É sim. – Não tive saída a não ser responder e acabei sorrindo.
  - Awn, você está apaixonada! – Fez uma cara engraçada. – Esses sorrisos só aparecem assim quando se está apaixonada.
  “É isso, eu vou morrer de vergonha!” Pensei, sentando em uma poltrona próxima e escondendo o rosto nas mãos mais uma vez. Lux estava tão cansada que começou a pegar no sono, mas mesmo assim Rachel não queria ir embora antes de conhecer Zayn. Liam deitou a pequena no próprio colo e ficou acariciando seus cabelos até ela dormir de verdade. Não demorou muito pra escutarmos um carro subindo a rua e a loira me olhou insinuante. Mordi meu lábio inferior ao escutar uma porta de carro sendo fechada e senti um frio na barriga já sabendo o que estava por vir. O carro de Louis era bem mais barulhento, então não seria o meu irmão... “DING DON”, soou a campainha, me fazendo levantar na mesma hora. Rachel fez o mesmo e eu saí da sala sem precisar olhar pra trás pra saber que ela estava vindo junto. Abri a porta novamente com um sorriso que eu nem sabia que estava em meu rosto.
  Dessa vez era Zayn de verdade e ele também sorria. Seu cabelo estava arrumado de uma forma diferente do de costume e ele estava mais lindo do que nunca. Vestia uma jaqueta de couro por cima de uma camisa cinza, calça jeans também preta e um sapato marrom escuro; mais formal que os tênis que ele costumava usar. O que mais chamou a minha atenção foi o que ele tinha em mãos: Um buquê de tulipas cor de rosa.
  - Boa noite. – O menino disse formalmente, mas com um sorriso brincalhão.
  - Boa noite, Zayn. - Sorri da mesma forma.
  - Isso é pra você... – Entregou-me o buquê e aproveitou para se aproximar mais.
  - Como sabia que tulipas são as minhas flores preferidas? – Perguntei sincera e o abracei com cuidado para não machucar as minhas flores e nós dois trocamos um selinho. – Obrigada.
  - Eu não sabia, na verdade. Mas achei que combinavam com você.
  - Awwwwwwn. – Rachel chamou a nossa atenção e por um momento eu tinha esquecido que ela ainda estava lá. Zayn a olhou sem entender.
  - Essa é a minha madrasta, Rachel. – Apontei pra ela. – Rach, esse é Zayn, o meu namorado.
  - Muito prazer. – Ele sorriu e estendeu a mão pra ela.
  - Encantada. – Rachel ia apertar a mão dele, mas Zayn a segurou e beijou as costas da mão dela. – Que cavalheiro! Você escolheu bem, %Tah%. Ahh, e ele é bonito mesmo...
  - E é por isso que eu não vou te convidar pra entrar. – Falei para o menino, morrendo de vergonha por causa dos comentários da madrasta.
  - Não tem problema algum. – Riu. – Nós temos que ir de qualquer forma... Está quase na hora da nossa reserva.
  - Então vamos... – Sorri mais uma vez e me virei pra Rachel uma última vez. – Coloca em um vaso pra mim?
  - Claro, %Tah%. – Pegou as minhas flores e piscou. – Se divirtam, meninos.
  - Obrigado!
  Zayn acenou para ela e me esperou fechar a porta atrás de mim para segurar a minha mão, entrelaçando os nossos dedos, e me guiar até o carro prateado. Aliás, parecia que ele realmente trocara de carro com a mãe para sempre. Eu me sentia culpada por aquilo, é claro, mas gostava bem mais do Volvo confortável e aconchegante do que o Land Rover gigantesco.

+++

  - Chegamos... – Zayn disse ao tirar as mãos dos meus olhos. Ele estava fazendo um mistério enorme sobre onde iríamos jantar durante todo o caminho, inclusive me obrigando a permanecer com os olhos tapados até estarmos na entrada do restaurante.
  - Não sei por que você fez esse...
  Perdi as palavras assim que olhei para o lugar em minha frente. Por um momento eu me senti novamente em Paris, já que aquele restaurante francês fazia uma réplica perfeita aos estabelecimentos gastronômicos da minha cidade. “La Poule Au Pot” era o nome. Passei os olhos pelas mesinhas na calçada, marca registrada das delicatessens francesas, e sorri em nostalgia. A música instrumental que vinha do lado de dentro combinava perfeitamente com a decoração e eu poderia apenas fechar os olhos e me imaginar caminhando pela margem do rio Sena.
  - Zayn... – Suspirei atônita. – Aqui é incrível...
  - Eu sabia que você ia gostar. – Ele sorria satisfeito. Devia estar planejando me surpreender a algum tempo.
  - Como você achou esse lugar? – Demos as mãos e começamos a andar para a parte de dentro do restaurante.
  - Eu tive que passar a madrugada inteira na internet, mas valeu à pena. – Explicou com uma carinha fofa. Eu não aguentei e tive que parar de andar para beijá-lo nos lábios. – Valeu muito à pena!
  - Bobo. – Sorri e voltamos a caminhar em direção ao maître que já nos esperava.
  - Bonne nuit. – O senhor de paletó nos cumprimentou em um francês perfeito. Perfeito mesmo, não daqueles que alguns ingleses tentam imitar. – O senhor tem uma reserva?
  - Sim, está no nome Malik. – Respondeu formal.
  - Por aqui, por favor...
  O maître nos indicou o caminho e fomos seguindo-o. Do lado de dentro, o restaurante era ainda mais incrível e parisiense. Nas paredes havia várias fotos de monumentos famosos do país, como o Arco do triunfo, Porte Saint-Martin e, é claro, da Tour Eiffel. Algumas partes do teto eram cobertas por parreiras de uvas falsas, lembrando as vinícolas francesas. Aquele restaurante era de fato um pedacinho de Paris no meio da Inglaterra e eu não teria me sentido mais a vontade naquela noite se estivéssemos em outro lugar.
  Chegamos a uma área separada, onde apenas uma mesa redonda para duas pessoas estava posta bem ao centro. O lugar era ideal para um jantar romântico e eu cheguei a pensar se era um exagero tudo aquilo para um primeiro encontro, oficial ou não. Tenho certeza que muitos casais ficaram noivos ali e não seria o nosso caso. Obviamente eu estava encantada demais com o lugar inteiro pra reclamar ou me importar, até porque estava tudo perfeito. Um detalhe que me surpreendeu é que o teto daquela parte era coberto por uma claraboia redonda que nos permitia ver o céu acima de nós.
  Zayn puxou a cadeira para que eu me sentasse e ele logo foi para a própria cadeira em frente à minha. O maître nos apresentou ao nosso garçom – que descobrimos se chamar Pierre – e foi embora, nos desejando um bom jantar. Pierre acendeu duas velas redondas no centro da mesa e nos entregou um cardápio para cada. Disse que voltaria em instantes, mas que nos deixaria bem à vontade.
  - Se eu soubesse que você sorriria desse jeito, não teria demorado tanto pra te trazer aqui. – Zayn falou e me fez perceber que eu estivera sorrindo o tempo todo.
  - Isso não tem importância, Zayn. – Segurei a mão dele sobre a mesa. – O que importa é que estamos aqui agora e eu não consigo imaginar um encontro mais perfeito.
  - Tem certeza? – Começou a brincar com os meus dedos.
  - Bem... – Olhei pra cima. – Só se o céu estivesse claro, mas eu já desisti de ver estrelas aqui em Londres.
  - Isso é verdade... – Falou pensativo. Se eu não o conhecesse, diria que estava imaginando um jeito de fazer as estrelas aparecerem. – Vamos escolher o jantar?
  - Vamos! – Respondi um pouco mais animada do que deveria.
  Eu não estava esfomeada, mas a minha curiosidade pra saber se o Menu seguia a linha da decoração era enorme. Nós nos soltamos por um momento para poder folhear o cardápio e eu corri os olhos pelas entradas, pratos principais e sobremesas. Aquele meu sorriso voltou ao notar que todos os nomes estavam em francês. É claro que eu entendi tudo, mas Zayn tentava ler com uma cara engraçada.
  - Já sabe o que vai querer? – Perguntei com uma risada.
  - Ahn, sei sim... – Piscou algumas vezes.
  - Você não está entendendo nada, né?
  - Nadinha. – Se rendeu, frustrado.
  - Posso anotar os pedidos? – Pierre voltou e Zayn me olhou como se pedisse ajuda.
  - Je veux le Saumon à la sauce Hollandaise. – Comecei com o meu pedido, falando em francês só pra matar a saudade e o garçom parecia entender tudo. – Et lui Le Suprême de poulet.
  - E pra beber? – Pierre olhou para Zayn.
  - A mademoiselle é que está escolhendo hoje. – Ele sorriu.
  - Le Chardonnay, s'il vous plaît. – Finalizei o pedido com um sorriso e o garçom terminou de anotar o nosso pedido.
  - Excusez-moi. – Pierre pediu licença e se afastou.
  - Você fica tão sexy falando francês. – Zayn sorriu maroto e eu rolei os olhos divertida.
  - Obrigada! – Pisquei em uma tentativa de ser sedutora, mas o menino acabou rindo. – Não vai querer saber o que eu pedi pra você?
  - Alguma coisa com poule? – Levantou uma das sobrancelhas, desconfiado.
  - Poulet. – O corrigi. Ele costumava rir do meu sotaque e das palavras que eu não conseguia pronunciar direito, então me senti muito em invertendo o jogo. – Quer dizer “frango”.
  - Nesse caso... Muchas gracias. – Falou e me fez rir.
  - Isso é espanhol, Malik! – Levei uma mão à testa, me controlando pra não rir muito alto. Eu sabia que ele estava brincando, mas ainda assim foi engraçado.
  Enquanto eu tentava ensinar Zayn a pronunciar “merci beaucoup”, o garçom retornou trazendo o nosso Chardonnay. Dei o primeiro gole no meu vinho e quase engasguei com o biquinho fofo que meu namorado fazia ao treinar a língua francesa. Ele exagerava de vez em quando só pra me fazer rir, mas eu fingia que não sabia disso.
  - Ei, babe... – Zayn também deu um gole no vinho e demorou um pouco degustando-o.
  - Sim? – Sorri. Eu amava quando ele me chamava daquele jeito.
  - Você tem planos pra sábado?
  - Não que eu saiba... – Tentei pensar em algum compromisso que eu pudesse ter, mas estava livre no sábado. – Na sexta eu tenho ensaio com o Nick, mas sábado eu não tenho nada.
  - De novo esse cara? – Bufou.
  - É quase o último ensaio! Não precisa ficar com ciúmes. – Sorri e peguei a mão dele em cima da mesa mais uma vez, acariciando com o polegar. Eu sabia que ele não resistiria ao meu carinho. – Mas por que, baby?
  - Não é ciúme! – Ele podia negar, mas não me enganava. – E a minha mãe quer te conhecer, então ela está insistindo que eu te leve lá em casa...
  - Sua mãe? – Engoli em seco. – Quer me conhecer?
  - Quer sim... – Envolveu a minha mão com as dele ao perceber que eu começava a suar frio. – Ela disse que eu nunca falei tanto de uma garota, então está curiosa pra saber quem você é.
  - O-o que você fala? – Gaguejei. É, eu estava nervosa. Muito nervosa, pra falar a verdade. Eu nunca fui apresentada formalmente a uma sogra e a minha primeira e única sogra antes da mãe dele não gostava nada de mim.
  - %Star%, você está branca... – Se preocupou. – É só a minha mãe...
  - Exatamente, Zayn! É a sua mãe! – Passei a mão livre pelo meu cabelo. – E se ela não gostar de mim?
  - Ela vai te adorar, %Tah%. – Sorriu. – Minha mãe é bem legal, você vai ver.
  - %Abi% também me falou que ela é legal, mas ainda assim eu fico nervosa. – Suspirei, mas acabei cedendo. – Mas eu vou adorar conhecê-la...
  - E as minhas irmãs também.
  - Eu não estou nervosa em conhecer as minhas cunhadas! – Sorri um pouco mais tranquila.
  - Com licença, posso servir o dîner?
  Pierre voltou do nada, carregando uma bandeja com os nossos pedidos. Ambos afirmamos que ele poderia nos servir e demos o espaço necessário para que o garçom colocasse o meu prato de salmão na minha frente e o frango de Zayn na frente dele. O cheiro estava delicioso e a decoração nos pratos estava linda. Nossas taças de vinho foram repostas e pudemos começar a comer.
  - Bon apétit!

+++

  Zayn estacionou o Volvo em frente a minha casa, mas nenhum de nós queria sair do carro. Uma chuva torrencial começara a cair mais ou menos no meio do caminho entre o restaurante e o condomínio, então usei a desculpa de que não queria me molhar para ficar um pouco mais ali dentro do veículo quentinho e Zayn escondeu uma sombrinha que ficava embaixo do banco do motorista, achando que eu não estava vendo. Ambos sabíamos que a verdade era que nós ainda queríamos passar mais um tempo juntos, porque parecia que a manhã e noite inteiras não eram o suficiente. Mas pensa comigo... Se eu entrasse em casa agora, o que teria pra fazer? Nada! Então seria bem mais produtivo ficar trancada em um carro com o meu namorado... Produtivo e perigoso, mas isso é um mero detalhe que vamos esquecer, ok? De qualquer forma, nós decidimos abaixar as costas dos bancos para que ficássemos mais confortáveis e praticamente deitados; claro que ele no dele e eu no meu. Já toda a vontade, tirei os sapatos e deitei de lado, dobrando os joelhos em cima do banco.
  - Eu realmente gostei dessa noite, Zayn... – Não tirava os olhos dele de jeito nenhum.
  - Eu sabia que você ia gostar daquele restaurante! – Sorriu.
  - Não estou falando só do restaurante. Claro que eu me senti em casa, a comida estava maravilhosa, as velas, a música instrumental... – Suspirei. – Mas estar com você foi a melhor parte.
  - Sabe qual foi a minha parte preferida? – Perguntou e eu balancei a cabeça em negação e ele continuou. – Quanto nós estávamos de mãos dadas e as outras pessoas nos olhavam.
  - Como assim? – Abri um pequeno sorriso.
  - Foi bom mostrar pra outras pessoas que você está comigo... – Passou a mão pelos cabelos e desviou o olhar do meu, um pouco tímido. – É difícil explicar, mas na minha cabeça eu pensava: “É isso mesmo que vocês estão vendo, essa garota linda está comigo.” Ou “Essa mulher incrível é minha.”
  - E você está certo... Eu sou sua. – Eu não sorria mais como antes e nem morria de rir, mas não era por estar triste; muito pelo contrário. Apenas fitava-o com serenidade, estudando cada detalhe, cada mania e cada movimento por menor que fosse. Eu queria guardar aquele momento na memória.
  - Eu gosto de ouvir você falando isso. – Zayn também estava calmo, quase paciente. Ele tocou o meu rosto com a ponta dos dedos e eu fechei os olhos, só sentindo os carinhos. – E gostei muito de ouvir você falando francês.
  - De verdade? – Sorri quando ele tocou os meus lábios e abri os olhos devagar para vê-lo afirmar que sim com a cabeça. Sussurrei: - Vem cá... Chega mais perto...
  - Assim? – Também falou em sussurros e inclinou o corpo para cima do meu, aproximando nossos rostos até que nossos lábios estivessem quase se roçando.
  - Uhum... – Fitei-o intensamente uma última vez antes de fechar os olhos e tocá-lo delicadamente nos ombros. - Embrasse-moi...
  Zayn não precisava saber falar francês pra entender o que aquelas palavras significavam. Eu queria um beijo... Mas não só um beijo, sim todos os sentimentos que vem com ele, sejam físicos ou emocionais. Eu queria os lábios dele nos meus, brincando, se confundindo. Nossas respirações fundidas em uma só. Nossos corações acelerados... Nunca pensei que uma paixão pudesse mexer comigo desse jeito, mas estava feliz em descobrir que podia sim. O menino afastou alguns fios de cabelo do meu rosto com uma mão e apoiou a outra no banco pra não fazer muito peso em cima de mim. Finalmente encostou os lábios nos meus e ficou dando algumas sugadas de leve no meu inferior até que eu encaixei nossas bocas de uma vez. Arrastei a língua entre os lábios de Zayn para pedir passagem e a dele foi mais rápida e encontrou a minha. Igualmente devagar fui subindo as mãos para o pescoço do mesmo e acariciava cada centímetro de pele que eu podia tocar. Senti-o ficar arrepiado quando meus dedos subiram pelos seus cabelos e aumentei a intensidade do beijo por uma fração de segundos, só pra ele entender que eu havia percebido e gostado. O garoto, por sua vez, tocou a lateral do meu corpo desde abaixo das minhas costelas até o quadril. Não existia nada de vulgar naqueles toques e eu não o parei quando senti sua mão na minha coxa, apertando-me com certo cuidado. O barulho da chuva batendo no carro a nossa volta me deu uma tranquilidade imensa e eu poderia passar o resto da noite ali, ou em qualquer outro lugar, contando que Zayn estivesse comigo.
  Nos separamos com um pouco de relutância quando já estávamos bastante ofegantes. Meus lábios formigavam um pouco, mas não era uma sensação ruim. Não trocamos palavra alguma, apenas ficamos nos observando; cúmplices. Só havia uma coisa que nós poderíamos falar naquele momento, mas talvez ainda não estivéssemos prontos pra isso.

Capítulo XXIX
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