Capítulo XXI
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Sabe aqueles dias frios que você só quer dormir durante a manhã inteira, principalmente porque está começando a chover? Então. A minha quinta feira começou exatamente desse jeito. Imagine o meu mau humor pra colocar uma roupa decente e ter que deixar meu pijama quentinho de lado. Ainda mais tendo que pegar um ônibus tecnicamente cheio e ainda descobrir que a Starbucks mais próxima da Academy estava fechada para reformas. Pois é, meu dia não estava sendo nada agradável. Eu tentava manter um sorriso no rosto e continuar positiva de que tudo iria melhorar, mas estava cada vez mais difícil.
Imagine a minha frustração ao finamente subir a escadaria da academia e descobrir que as minhas aulas do dia haviam sido canceladas. Sim, CANCELADAS. Assim, sem mais nem menos. Do na-da. Senti vontade de bater em alguém, ou pelo menos fazer uma queixa na secretaria, porque aquela era uma falta de responsabilidade! Já estava retornando para as escadas quando escutei %Abigail% gritando o meu nome no corredor. Pois é, ela adorava me fazer passar vergonha. Levei uma mão até a testa e fechei os olhos, esperando que ela se aproximasse de mim. Todos que estavam por ali ficaram nos encarando.
- %Tah%! – Ela me abraçou sorrindo tanto que seria capaz de rasgar a boca. – Escutou a novidade? Temos o dia livre!
- O dia livre que eu poderia passar na cama, se alguém tivesse me avisado! – Respondi ranzinza e a abracei de volta.
- Ai, que atitude ruim! Abstrai, %Tah%. O que importa é que não vamos ficar cansadas de tanto dançar. – Ela segurou a minha mão e começou a andar na mesma direção em que havia vindo, me puxando junto.
- Acontece que eu gosto de me cansar de tanto dançar, ok? – Bufei fazendo corpo mole e dando mais trabalho para %Abi% me puxar. – Pra onde estamos indo?
- Para o terceiro andar. Os meninos nos convidaram pra assistir uma aula deles. – Paramos em frente ao elevador.
- E não podemos usar as escadas? – Bufei novamente. Eu estava reclamando de tudo e sabia disso. Se %Abi% quisesse subir pelas escadas, eu reclamaria para usarmos o elevador.
- Mas você está chata, hein? – Soltou a minha mão e apertou as minhas bochechas, rindo. Ela não tem medo do perigo? – Você está indo ver o seu amor e ainda assim fica com essa cara amarrada?
- Malik não é meu amor! – Que absurdo era aquele? – E eu fico com cara amarrada o quanto quiser.
- Que seja. – Riu mais uma vez e as portas do elevador se abriram.
Nós duas entramos e eu fiquei calada a subida inteira. Não demorou muito para as portas serem abertas mais uma vez e o numero três aparecer na tela digital do elevador. %Abi% praticamente saltitou para fora e eu olhei em volta. Já tinha estado ali antes, mesmo não tenho nenhuma aula naquele andar. Ah, é! Quando cheguei atrasada para a primeira aula dias atrás acabei passeando por aqueles corredores... Foi exatamente quando vi Zayn tocar piano pela primeira vez. Aquela lembrança me deixou um pouco mais leve e eu já não estava mais tão estressada quanto antes.
- É só chegar perto do menino que você já fica toda boazinha de novo... E ainda tem a cara de pau de falar que ele não é o seu amor? – %Abi% sorriu daquele jeitinho sabichão que só ela sabia e eu acabei sorrindo junto, mesmo sem querer.
- Cala a boca, ok? – Paramos na frente da última porta; aquela em que eu fiquei espiando.
A ruiva riu e abriu a porta sem nem pedir licença. A sala era bem maior do que eu me lembrava e totalmente diferente das salas de dança. As paredes não eram cobertas por espelhos e sim por alguns instrumentos musicais e um quadro negro cheio de rabiscos. O piso era coberto por carpete, o que era uma boa ideia, já que os pés do piano preto arranhariam a madeira. Zayn estava sentado em um pequeno tablado abaixo do quadro negro e prestava atenção aos papeis em suas mãos. Niall afinava um violão, mas notou a nossa presença ali. Era incrível como a sua postura mudava ao ver %Abi%. Eu tinha certeza que aqueles dois ainda iriam se casar. Ed Sheeran também estava ali na sala. Ele era professor dos meninos e eu me lembrava muito bem dos seus cabelos avermelhados e sardas nas bochechas.
- Olha quem chegou. – Niall deixou o violão de lado e foi até a namorada.
- Suas garotas preferidas! – Ri, lembrando o jeito que ele costumava nos chamar. Zayn levantou a cabeça assim que escutou a minha voz e sorriu. – Hey, Malik.
- Tomlinson! – Me chamou pelo sobrenome, coisa que nunca fazia, e nós dois rimos. Eu caminhei até onde ele estava e me sentei ao seu lado. – Você está cheirosa hoje.
- Quer dizer que eu estava fedida nos outros dias? – Ele havia se inclinado para me dar um beijo nos lábios, mas depois daquela última frase eu me afastei, esperando uma boa resposta.
- Claro que não! Eu só estava querendo dizer que hoje você está cheirosa... Mas nos outros dias também estava... Porque você semp... – Eu o puxei pela nuca e colei os lábios nos dele. Tinha que interrompê-lo, ou ele ficaria se complicando ainda mais.
- Eu entendi. – Sussurrei entre os lábios dele depois de separar o selinho e sorri.
- Estou começando a gostar de ser interrompido. – Zayn também sorriu e fez carinho na minha bochecha.
- É o jeito que nós mulheres temos pra mandar vocês calarem a boca. – Gargalhei baixo.
- Eu sabia! – Ed falou, se sentando ao meu lado. Me assustei porque ele chegou do nada. – %Star%, certo?
- Exatamente! – Sorri para o ruivo e apertei a mão dele.
- Eu me lembro de você no teste para a peça... – Ele falou pensativo e eu me controlei profundamente para não ser muito mal educada na minha resposta.
- Não sei por que! – Ri sem humor. – Eu não fui nem boa o bastante pra ser chamada para os segundos testes.
- O callback nem é tão importante, %Tah%... – Zayn passou o braço pelos meus ombros e me abraçou de lado. Eu sabia que ele só estava falando aquilo pra me consolar, mas senti bem com o seu toque.
- Até parece! – Rolei os olhos e encostei a cabeça no ombro do moreno.
- Você foi muito bem, %Star%. Se não te chamaram, deve ter outro motivo. – Ed também tentou encorajar. – Agora podemos começar essa aula, por favor? Não tenho o dia inteiro.
Sheeran era tão legal que nos deixou bem a vontade. Ele disse que as aulas dele eram bem descontraídas e que nós duas poderíamos aparecer por ali sempre quiséssemos. Até mesmo disse que nós podíamos experimentar qualquer instrumento. %Abi% foi logo para a bateria que, graças a Deus, ficava em uma parte lateral da sala, dentro de uma espécie de estúdio. Niall foi ajudá-la e Zayn se sentou no piano. Eu fiquei ali perto, quietinha, só observando; não queria atrapalhar a aula. Ed colocou uma partitura aberta na frente do mais novo.
- Eu adoro essa música. – Zayn falou com um sorriso. – O Ed escreve as letras mais bonitas que eu já vi, %Tah%. Essa que eu vou tocar é dele...
- Qual o nome? – Encostei o corpo no piano e tentei ler a página aberta.
- Wake me up. – Ed Sheeran respondeu. – Eu escrevi pra uma ex-namorada e o Zayn aqui canta bem melhor que eu!
- Cuidado, ele pode estar querendo roubar a sua garota. – Brinquei.
- Por que eu roubaria a dele se já tenho a minha? – “Minha”. Aquela palavra dele demorou um pouco mais que o normal para entrar na minha cabeça. Senti o rubor de minhas bochechas e Zayn começou a tocar o piano. Eu agradeci por não ter que responder mais nada. – I should ink my skin with your name. (Eu deveria marcar a minha pele com o seu nome) Take my passport out again, and just replace it. (Tirar o meu passaporte de novo e apenas substituí-lo) See, I could do without a tan, on my left hand, where my fourth finger meets my knuckle. (Sabe, eu poderia ficar sem bronzeado na minha mão esquerda onde meu quarto dedo encontra a minha articulação) And I should run you a hot bath… (E eu deveria te preparar um banho quente...) - A voz de Zayn já era tão gostosa de ouvir normalmente que quando ele cantava eu sentia os joelhos estremecerem. De vez em quando ele olhava para as teclas do piano e para a partitura, mas sua atenção maior era focada em mim. Não consegui conter um suspiro ou outro, o que o fazia sorrir. Eu não lembrava mais se Ed estava por ali ou não, mas também não importava. A melodia calma e a voz suave de Zayn combinadas naquela harmonia me fizeram esquecer até do meu nome. E a letra da música também era incrível. Percebi que era bem pessoal, porque o autor descrevia algumas manias da pessoa para quem ele estava cantando e eu senti como se conhecesse a ex-namorada de Ed. Ele devia ganhar um prêmio por escrever tão bem e eu gostaria de conhecer mais do seu trabalho, mas a minha atenção naquele momento não estava no autor da letra, e sim em quem estava interpretando-a. Aquele garoto que era dono de olhos tão brilhantes que eu poderia ficar olhando o dia inteiro. – And maybe I fell in Love when you woke me up... (E talvez eu tenha me apaixonado quando você me acordou)
A música acabou e eu só conseguia pensar em uma coisa. Fui até Zayn e me sentei em seu colo, de lado. Ele me olhou sem saber o que eu queria, mas o sorriso em seus lábios era lindo. Eu sorri de volta e passei um dos braços em volta do pescoço dele, ficando ainda mais colada. Levantei o seu rosto levemente com a minha mão embaixo do queixo do mesmo e juntei nossos lábios. Fiz aquilo com tanta suavidade que ele acariciou a minha cintura ao me abraçar por ali; não apertou como teria feito nas outras vezes. Zayn inclinou o rosto para o lado oposto do meu e passou a língua bem devagar entre os meus lábios, pedindo passagem. Claro que eu permiti que o beijo se aprofundasse e minha língua encontrou a dele. Posso dizer com toda certeza do mundo que aquele foi beijo mais delicado e mais cheio de sentimento que nós dois já trocamos. Eu não sabia dar nome àquele sentimento, mas sabia que era bom e, o mais importante, sabia que era retribuído.
- Eu espero que obtenha essa reação quando cantar essa música também! – Ed falou ao nosso lado e então eu lembrei que não estávamos sozinhos ali.
- Ahn... – Falei meio sem jeito ao me separar de Zayn. Também saí de seu colo, por mais que ele tivesse reclamado com um bico enorme. – É uma música muito bonita, Ed. Ela seria louca se não gostar.
- Então isso tudo foi só por causa da música? – Zayn cruzou os braços indignado. – Eu não tenho culpa nenhuma nisso?
- É claro que tem! O que me encantou foi o pacote inteiro. – Sorri pra ele.
- Zayn, por que você não mostra pra ela a melodia que você compôs? – O professor perguntou e eu já fiquei animada.
- Por favoooooooor. – Juntei as duas mãos no peito e fiz o meu melhor biquinho.
- O que você me pede e eu não faço? – Zayn sorriu pra mim.
- Muita coisa, na verdade. Não quis me mostrar as músicas que você escreveu!
- Você quer escutar a melodia ou não? – Reclamou e deixou um espaço para que eu sentasse ao seu lado no banco em frente ao piano.
- Claro que quero! – Parei de reclamar e me sentei.
Ed nos deixou sozinhos ali e foi ver Niall e %Abi%, já que os dois não deram mais noticia de vida. Zayn me explicou que costumava escrever a letra da música primeiro e depois criava a melodia, mas que Ed pediu que ele fizesse ao contrário de vez em quando, só pra treinar. Então aquela semi-canção ainda não tinha nome nem nada. Eu só queria escutar alguma criação dele.
Mais uma vez Zayn voltou a apertar as teclas do piano e a música começou. Enquanto a mão esquerda fazia uma coisa, a direita estava ocupada com algo completamente diferente. Aquele era o maior motivo que me impediu de aprender a tocar qualquer coisa naquele instrumento, porque ter a atenção em dois lugares ao mesmo tempo não era pra mim. E algo que chamou a minha atenção é que ele não precisava de partitura pra tocar aquela música; já sabia de cabeça. Olhar o seu sorriso crescer toda vez que eu balançava a cabeça no ritmo da música era engraçado. Eu podia imaginar ele cantando algo naquele ritmo. Não sabia se estava ficando louca, mas tinha certeza que ouvia a voz dele em minha cabeça.
- É uma melodia linda, Zayn. – Eu sorri e segurei a mão dele assim que a música acabou.
- Talvez no futuro entre um violão ou uma guitarra de fundo. – Ele deu de ombros.
- E eu quero poder escutar você cantá-la. – Nossos dedos se entrelaçaram.
- Você realmente quer ver uma música que eu escrevi, né, %Tah%? – Me olhou e encostou a testa na minha.
- Só se você quiser me mostrar... – Fechei os olhos e fiquei sentindo aquele perfume tão próximo. – Quem sabe um dia você escreve uma pra mim.
- Eu já escrevi. – Sussurrou.
- O quê? – Abri os olhos para perceber os dele me encarando.
- Eu escrevi uma música pra você, %Tah%... Ainda não tem melodia, mas eu escrevi após a festa de encerramento das férias.
- Mas a gente mal se conhecia... – Falei baixinho, ainda surpresa com aquela noticia.
- Eu não precisei te conhecer direito pra ficar inspirado por você.
- Algum dia eu vou escutar essa música? – Sorri e passei a ponta dos dedos pela lateral do pescoço dele.
- Quando estiver pronta. Eu prometo. – E assim ele selou nossos lábios.
Enquanto nossos amigos não apareciam, Zayn ficou tentando me ensinar alguns acordes e eu até consegui tocar um “Do ré mi” meio desafinado. Admito que fiz mais bagunça e ri do que prestei atenção. Meu dom não era tocar, e sim dançar. Seria a mesma coisa se eu fosse ensinar Zayn a fazer o plié.
- Zayn, você pensou naquilo que eu te falei? – O professor voltou e trouxe %Abi% e Niall consigo.
- Pensei um pouco... Mas não sei, Ed. – Eu olhei de um para o outro, meio que perguntando sobre o que se tratava aquela conversa. – Ele está querendo que eu entre em uma banda.
- Sério? Isso é muito legal! – Eu disse.
- Seria, se existisse realmente uma banda onde eu pudesse entrar.
- E eu já falei que resolvo essa parte! – O ruivo cruzou os braços. – Você tem o Niall também. E eu ajudaria como produtor.
- Ótimo, uma banda com duas pessoas. – Zayn riu.
- Por que não cinco? – Na minha cabeça já passavam milhares de ideias, uma mais maluca que a outra. Lembrei da conversa que tive com Louis poucos dias atrás, sobre criar uma boyband. A ideia era brincadeira na hora, mas podia dar certo.
- Acho que sei no que você está pensando, %Tah%... – %Abi% também estava pensativa. Se a nossa conexão estivesse funcionando, ela estava pensando no mesmo que eu.
- Do que vocês estão falando? – Niall estava mais confuso que o normal.
- Só estava pensando aqui... Meu irmão e os outros meninos sabem cantar também... – Falei devagar, aguardando as risadas ou os “não” que poderia escutar.
- E nós já sabemos que o Harry e o Ni deram um show quando cantaram juntos no karaokê. – %Abigail% me apoiou.
- Sim, porque estávamos brincando! Formar uma banda é algo totalmente diferente. – Niall parecia relutante.
- Mas poderíamos trabalhar nisso. As boybands estão voltando, sabia? – Ed pareceu gostar da nossa ideia.
- Eu não sei... – Zayn também não parecia estar gostando muito daquela ideia.
- Não falem não agora. – Pedi. – Podemos ir todos juntos ao Pub novamente... E aí vocês cantam juntos uma vez. Só uma vez. Pra ver o que acontece...
- Por favor? – A baixinha também pediu e os meninos acabaram concordando em fazer aquele teste.
Parecia loucura e eu tinha noção disso. Zayn e Niall provavelmente gostariam de ter carreira solo, então entrar em um grupo com outros quatro garotos não seria a primeira escolha de nenhum deles. Eu só torcia para que eles tentassem ver o lado positivo também. Harry esteve em uma banda quando estava no colégio, mas aquilo não deu certo. Meu irmão não estava feliz com o seu trabalho e aquela poderia ser a saída para Liam não ter que voltar para Wolverhampton caso não desse certo na agência fotográfica. O caso é que, por mais que fosse uma maluquice, poderia dar certo. Principalmente se Ed fosse ajudar como estava prometendo. Resolvi parar de tocar no assunto naquele momento. Já tinha falado a minha opinião e %Abi% me ajudou. Eu falaria com ela a sós depois, para bolarmos um plano e juntar os cinco. Não adiantaria só conversas, nós teríamos que mostrar pra eles que aquilo poderia funcionar.
+++ - Eu quase esqueci! – %Abi% falou assim que nos sentamos na escadaria de entrada da Academy. Ela começou a procurar algo dentro da sua bolsa enorme. – Onde é que eu enfiei?
- Tudo bem aí, %Abi%? – Ri enquanto a minha amiga quase entrava na bolsa.
- Juro que tenho medo do que pode estar escondido aí dentro. – Zayn riu. Ele estava sentado em um degrau acima do meu e eu estava entre as suas pernas, apoiando as costas no peitoral dele.
- Dá pra vocês dois calarem a boca? – Ela se irritou e nos fez rir. – Achei!
- Como essa caixa coube aí? – Niall perguntou e nós olhamos para uma caixa de sapato preta que ela nos mostrava.
- A pergunta certa seria: Como você perdeu essa caixa aí? – Perguntei e senti Zayn gargalhar perigosamente perto da minha orelha.
- Mas primeiro: O que tem aí? – Ele também perguntou e %Abi% rolou os olhos.
- Os convites para a festa de Halloween, é claro! – A ruiva abriu a caixa e nós vimos os envelopes pretos com escrita em prata.
- Você escreveu em todos eles? – Niall pareceu espantado. Na verdade, eu também estava. Quase trezentos convites escritos em uma caligrafia perfeita, com direito a nome e endereço de cada um dos convidados?
- Eu faço um bom serviço, ok? – A menina se gabou. – Mas temos que enviar esses convites até amanhã no máximo. A festa já é semana que vem!
- Por que não me chamou pra ajudar, %Abi%? Ontem eu não fiz quase nada. – Falei, fitando-a com meus olhos azuis.
- Porque a senhorita vai levar até o correio. – Me entregou a caixa que era mais pesada do que aparentava. – Acho que o Zayn não se importaria de ir com você.
- Não mesmo. – O menino sussurrou na minha orelha e eu fechei os olhos por impulso. Odiava esse poder que ele tinha sobre as minhas reações.
- Então está decidido! E eu já peguei o meu convite e o do Nialler. %Tah%, pegue o seu e o dos meninos, já que eu não coloquei endereço nesses. Zayn, faça o mesmo. – Mandou e nós obedecemos, já procurando tais convites dentro da caixa.
O primeiro que achei foi o de Zayn e entreguei para o dono. Em seguida encontrei o de Liam, Louis e Harry, não necessariamente nessa ordem. Continuei procurando o meu e só fui encontrá-lo no fundo da caixa. Sim, era o último. Devia ter sido o primeiro que aminha amiga fez, por isso estava no fundo. Guardei os convites que levaria pra casa dentro da minha bolsa e deixei a caixa ao meu lado. Prestei atenção no envelope preto em minha mão. %Abi% realmente teve trabalho, porque ele era artesanal e cheio de detalhes. Rasguei o pequeno lacre que fechava a carta e na parte de dentro da aba do envelope já encontrei um pequeno texto em caneta dourada:
Witches are cackling.
(As bruxas estão cacarejando)
Bats are flying by.
(Morcegos estão voando por perto)
It’s bound to be a wild night.
(Está fadado a ser uma noite selvagem)
‘Cause someone’s gonna die…
(Porque alguém vai morrer) Seria bem assustador receber uma carta com esse poema, principalmente se eu não soubesse do que se tratava. Era Halloween e %Abi% havia captado o espírito da coisa. Tirei o papel de dentro do envelope e o desdobrei para ler o que estava escrito. %Abi% pensou em todos os detalhes, porque até manchas de sangue artificial marcavam o papel.
- O convite está perfeito, %Abi%! – Sorri ao guardar o meu envelope na bolsa.
- Obrigada. – Ela sorriu e balançou os cabelos, se achando.
- Bem, então acho melhor irmos logo... – Olhei para Zayn atrás de mim. – Como ainda é cedo, pode ser que comecem a entregar hoje mesmo.
- Mas eu estou com tanta fome. – Ele fez um bico e me abraçou pela cintura, impedindo-me de levantar. Era a hora do almoço e nenhum de nós havia comido nada na hora do intervalo, então ele tinha motivos pra estar com fome assim.
- Quem precisa de comida? – Brinquei e Niall levantou a mão. – Tudo bem! Nós podemos ir almoçar depois de passar no correio.
- Antes. – Zayn me balançou de um lado para o outro, tentando me convencer.
- Depoooooois! – Eu apenas ri. – Não vamos demorar lá de qualquer jeito. Você pode ficar esperando no carro e eu faço o serviço!
- Eu não vou conseguir te fazer mudar de ideia, né?
- Não, não vai. – Ri novamente.
- Tá bem, você venceu! – Zayn me soltou e eu pude levantar.
- Ótimo! – Sorri e estiquei a mão para ajudá-lo a levantar também. – Te ligo mais tarde, %Abi%. Tchau, Niall!
+++ - Eu disse que não ia demorar! – Falei assim que entrei no carro. – Agora podemos ir comer.
- Você demorou sim. – Zayn fez uma careta e eu ri. Logo o carro começou a andar novamente. – Onde quer almoçar?
- Podemos ir para a minha casa. Hoje é o dia em que a Dorota vai pra lá, então ela deve ter feito um almoço bem gostoso!
- Ela me assusta um pouco... – Falou baixinho quando paramos em um sinal vermelho.
- Sério? – Gargalhei alto. – Deve ser porque ela tentou te matar no dia em que vocês se conheceram, mas ela é um amor de pessoa, acredite.
- Tudo bem, eu vou tentar não ficar nervoso perto dela. – Ele também riu.
- É melhor, porque ela pode sentir o medo em suas presas. – Fiz uma cara séria e Zayn me olhou assustado. Tadinho!
Eu logo comecei a rir e ele viu que eu estava brincando. Enfrentamos um pouco de trânsito, mas não ficamos estressados. Quando o carro parava nos semáforos, Zayn me olhava e gostava de mexer nos meus cabelos. Ora ele passava a minha franja por trás da minha orelha e ora bagunçava tudo. De um jeito ou de outro, ele sempre me fazia rir. Eu também gostava de tocar nele de vez em quando; fosse acariciando sua nuca quando ele tinha que olhar pra frente e prestar atenção na rua, ou roubando alguns selinhos quando o carro estava parado. Se alguém me falasse que eu estaria fazendo isso há alguns meses atrás, eu só iria rir e chamá-lo de louco.
O carro de Zayn já devia ser conhecido pelos porteiros do meu condomínio, porque ele conseguiu entrar sem precisar de nenhuma identificação. Cinco minutos depois de passar pelos portões o carro já era estacionado em frente à calçada da minha casa. Começava a chuviscar, então não esperei Zayn abrir a porta pra mim e já fui saindo do carro. Nós dois corremos pelo caminho de pedra até a porta de casa. Eu escorreguei e quase caí, porque o chão estava úmido. Abri a porta de casa e deixei Zayn passar primeiro.
- %Star%, é você? – A voz de Dorota vinha da cozinha.
- Sou eu sim, Dora. E trouxe um convidado. – Zayn me olhou com cara de espanto e eu ri, sussurrando as próximas palavras: - Fica calmo.
- Quem? Aquele jovem adorável que eu conheci? – Ela perguntou, se referindo ao próprio Zayn.
- Viu só? – Continuei sussurrando pra ele, mas aumentei a voz para responder à minha babá. – É ele mesmo!
- Venham aqui me ver! Eu estou terminando o almoço. – Nos chamou e eu puxei o garoto pela mão.
- O cheiro está ótimo. – Falei ao entrar na cozinha.
- É bom te ver novamente, Dorota. – Zayn forçou um sorriso.
- Que gentil! – Ela sorriu e o abraçou. Acho que foi o abraço mais desconfortável que eu já vi. Fiquei rindo enquanto os observava. – Espero que você goste de panquecas!
- Eu adoro! – Sorriu e me olhou.
-Então vamos deixar você terminar em paz, ok? – Também abracei a minha babá. Sim, eu ainda a chamava de babá.
Zayn foi o primeiro a sair da cozinha e eu o segui em direção à sala. É claro que ele tentou subir as escadas e ir até o meu quarto, mas eu o puxei pelo braço. Seria bem mais seguro ficar ali na sala, onde apenas sentaríamos no sofá, do que em meu quarto, onde deitaríamos na cama... Sala, é. Melhor, aham. Tirei os sapatos e as meias, me jogando no sofá em seguida. Zayn seguiu o meu exemplo e tirou os tênis. Eu ri porque ele já estava se sentindo em casa o suficiente para andar descalço por ali.
- Do que você está rindo? – Ele perguntou enquanto eu gargalhava.
- De nada, ué. – Continuei a rir, deitando no sofá com a cabeça em uma almofada.
- Você não vai me dizer? – Me encarou sério, segurando os meus pés. Ele estava bolando algum plano, eu sabia disso.
- Não vou! – Gargalhei mais alto e Zayn puxou as minhas pernas, me fazendo quase cair do sofá. – O que você está fazendo? Eu vou cair!
- Então me diz do que você está rindo! – Levantou as minhas pernas e eu fiquei com metade do corpo no sofá e metade fora.
- Eu estou rindo de você, seu bobo! – Tentei me segurar nas laterais do sofá.
- Isso é pior ainda! – Zayn riu e me puxou um pouco mais.
- Para de me puxar! – Eu não conseguia parar de rir e isso dificultava a minha tentativa de me segurar.
- Peça desculpas por rir de mim!
- Nunca! – Eu tentava mexer as pernas para me soltar, mas Zayn era muito forte. – Me solta! Solta!
- Te soltar? Tudo bem. – Zayn deu de ombros e soltou as minhas pernas. O problema é que eu estava com metade do corpo fora do sofá, então eu acabei caindo de qualquer jeito.
- Zayn! – Reclamei assim que caí de bunda no chão.
- Opa. – Ele riu.
Como vingança, eu agarrei as pernas dele assim que ele tentou andar, o que acabou rendendo na queda dele. Eu dei uma risada do tipo: “Muahaha” e ele ficou me olhando sem acreditar no que eu havia feito. Eu sabia que poderia ter o machucado e isso me preocupou por um tempo, mas a risada dele me tranquilizou. Entrei no riso e fiquei de joelhos para levantar do chão. Zayn não permitiu que eu me afastasse e me puxou pela mão, fazendo-me cair deitada no chão. Ele subiu em cima de mim, mas sem fazer peso. Seu rosto estava a centímetros do meu.
- Será que você poderia parar de me derrubar? – Perguntei. Meus olhos estavam passeando pelo rosto perfeito do garoto e meu lugar preferido, naquele momento, a boca avermelhada dele.
- Ou então você vai fazer o que? – Me desafiou e notou a direção do meu olhar, o que o fez se aproximar ainda mais e tentar encostar os lábios nos meus. Eu virei o rosto na mesma hora e ele beijou a minha bochecha.
- Ou então eu nunca mais te beijo! – Aquilo era algo difícil até pra mim, mas era a única coisa que eu tinha pra usar contra ele.
- But if you deny me one of your kisses... I don’t know what I’ll do. (Mas se você me negar um de seus beijos, eu não sei o que farei) – Zayn cantarolou e me deixou sem reação.
- Você cantou uma música do McFly? – Pisquei algumas vezes.
- Um passarinho verde me contou que é a sua banda preferida, então... – Ele sorriu. Eu estava maravilhada com aquilo.
- Sendo assim, você pode me derrubar quantas vezes quiser. – Ri e toquei o rosto dele com a ponta dos dedos.
- Eu prefiro te beijar quantas vezes eu quiser. – Zayn também riu e encostou o nariz no meu, em um beijo de esquimó.
- Concordo. – Sussurrei.
Após o meu sussurro Zayn finalmente acabou com toda a distância entre nossos lábios e os juntou. Passei meus dedos entre os cabelos dele, entreabrindo os lábios para dar início ao beijo lento. Assim como na sala de música, aquele momento entre nós dois foi calmo e tinha uma carga emocional muito grande. Eu sentia um frio na barriga que também não sabia explicar, mas gostava. O menino estava em cima de mim e uma de suas mãos acariciava a lateral do meu corpo enquanto a outra tocava o meu rosto. Nossas bocas se encaixavam perfeitamente. O chão de madeira devia estar frio, mas quando eu estava perto de Zayn tudo que conseguia sentir era calor. Não necessariamente o calor sexual, mas sim um “aquecimento”, aquele conforto que eu tinha só de estar ao lado dele.
- Ora, ora, ora, o que temos aqui? – Dorota estava parada na entrada da sala e nós nos separamos um pouco.
- Nada, Dora! – Me senti envergonhada e cobri o rosto com as mãos. Eu não me importava de ter sido flagrada pelo meu irmão, ou por meus amigos, mas com ela era diferente. A mulher que havia trocado as minhas fraldas e praticamente me criado... Era estranho.
- Nada? É assim que vocês jovens estão chamando hoje em dia? – Ela riu.
- O almoço está pronto? – Mudei de assunto e finalmente consegui olhar pra ela. Zayn já estava em pé e me olhava com um sorriso sapeca no rosto. Aposto que ele estava achando graça da minha timidez.