Capítulo XV
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Já era sexta feira e eu estava em meu closet tentando achar alguma roupa para usar. Papai estaria passando em mais ou menos uma hora para buscar eu e meu irmão e irmos jantar em algum restaurante chique, então eu tinha que estar apresentável. Meus cabelos estavam amarrados em um coque apertado, para que formassem cachos quando eu os soltasse e meu corpo estava coberto pelo meu roupão felpudo. Nada do que eu via parecia me agradar e eu já começava a ficar irritada.
- Toc toc. – Liam disse, já entrando no quarto. A minha porta estava aberta, então não havia necessidade de esperar uma resposta.
- Hey, Leeyum. – Choraminguei, parando encostada na porta do closet.
- Seu irmão me mandou ver se você já estava pronta... – Ele deu uma boa olhada no meu roupão. – Acho que não.
- Não mesmo! – Nós dois rimos e eu caminhei até ele, o abraçando pela cintura. Liam me abraçou de volta e depositou um beijo em minha cabeça.
Depois da noite em que assistimos o filme “abraçados” e, tecnicamente, dormimos juntos, nosso tratamento um com o outro mudou um pouco. Agora era mais fácil nos ver abraçados pela casa, ou eu sentada no colo dele enquanto recebia carinhos na cintura e beijinhos no ombro. Mas nunca passava disso. Não que eu me recusasse, mas ele não parecia tomar uma atitude mais drástica, como me beijar ou coisa parecida. E também tinha a Candice, já que eu não sabia se os dois estavam de fato namorando, mas ela costumava ligar pra ele algumas vezes durante o dia, o que me fazia acreditar que tinha algo acontecendo.
- Eu preciso de um amigo gay. – Resmunguei, diminuindo um pouco o abraço.
- Quer que eu vá chamar o Harry? – Ele me fez gargalhar um pouco alto demais. Tadinho do meu cupcake.
- Até que não seria uma má ideia, já que ele se veste bem. – Cogitei a possibilidade de pedir a sua ajuda.
- Eu gosto quando você usa saia.
- Sério?
- Sim... Você tem pernas bonitas. – Coçou a nuca, tímido.
- Então acho que sei o que usar! – Sorri e voltei para o closet.
- Vai ficar linda com qualquer coisa. – Falou tão baixo que eu me perguntei se deveria ter escutado. Liam logo deixou o quarto e fechou a porta para que eu pudesse me arrumar em paz.
Não demorou muito para que eu estivesse arrumada e pronta para descer. Meu quarto estava tão bagunçado que me dava até vergonha. A cama estava toda revirada e eu já deveria ter trocado os lençóis, mas admito que ainda não tinha feito isso porque não queria que o cheiro que Zayn deixou ali fosse embora. Sim, eu deveria estar ficando louca e sabia disso. Mas não é todo dia que um modelo Armani que cheira a Gucci dorme na minha cama.
Saí do quarto para encontrar os meus três meninos brincando de Uno na sala. Harry e Liam estavam de pijamas e eu desconfiava que o primeiro estivesse se mudando de vez para aquela casa. Meu irmão estava mais arrumado; com uma calça jeans escura, camisa roxa e uma jaqueta jeans por cima.
- Lou, o papai ainda vai demorar? – Anunciei a minha presença na sala e os três pararam de jogar para me olhar.
- Mudança de planos, %Tah%... Nós vamos jantar na casa dele mesmo, então eu vou dirigindo. Parece que a Lux ta dodói e não querem tirar ela de casa. – Meu irmão me explicou e fez um bico ao falar da nossa irmã.
- Você está muito bonita. – Liam me elogiou e eu sorri, corando. Harry aproveitou que estavam distraídos e devolveu algumas de suas cartas ao monte, ficando com apenas três na mão.
- Harry. – O chamei e ele se assustou, achando que eu iria denunciá-lo. – Boa noite.
- Bo-boa noite, %Tah%. – Gaguejou, mas estava um pouco aliviado.
- Vamos, Lou? – Fui até Liam e o beijei na bochecha, me despedindo.
Logo saímos de casa e entramos no carro. Diferente de Liam e Zayn, Louis não abria a porta pra mim. Eu tinha sorte só de ele me esperar entrar pra começar a andar. Não demorou muito e já passávamos pelos portões do condomínio. Era incrível como aquele mesmo trajeto podia ser tão rápido de carro e tão terrivelmente lento quando eu estava a pé. Por isso eu mal podia esperar o meu baby chegar, já que eu não precisaria mais depender de ninguém pra me levar aos lugares. “Espere só mais uma semana e seu carro vai chegar, %Tah%.” Meu irmão tentava me acalmar quando eu começava a ameaçar processar a empresa que estava fazendo o transporte do meu veículo.
A noite nas ruas de Londres estava normal. Não havia estrelas no céu coberto por nuvens e provavelmente começaria a chover há qualquer momento. Quase todas as noites naquela cidade cinzenta eram assim; “sem graça”. Mas eu gostava. Sempre fora fã de dias chuvosos, frio, casacos de lã, luvas e todas essas coisas com cara de inverno. Quando estava nevando então? Pra mim era o paraíso! Claro que eu também nunca negava alguns raios de sol de vez em quando, principalmente quando viajava até a praia.
- Hey, Lou... – O chamei distraída, olhando as luzes que piscavam nos postes.
- Sim, %Tah%?
- O que tá rolando entre o Liam e a Candice? – Ele sorriu ao escutar a minha pergunta e eu quase me arrependi de tê-la feito.
- Eu sabia que você iria me perguntar isso mais cedo ou mais tarde. – Seu sorriso aumentava. Só eu sabia como Louis gostava de adivinhar os meus passos.
- E então? – Continuei encarando-o. Só ele sabia como eu odiava aquele seu suspense.
- Eles não estão namorando, nem nada... – Deu de ombros, parando em um sinal vermelho e me olhando. – Mas não é isso o que a Candice acha. Já percebeu que ela liga pra ele todos os dias?
- Exatamente por isso que eu perguntei! – Tive que rir ao me lembrar das caretas que Liam fazia ao ver o nome dela piscando no visor de seu celular. – Mas porque ele não conversa direito com ela e esclarece tudo?
- Você não gosta dela, né? – Gargalhou.
- I strongly hate her. – Fiz uma careta. Eu realmente a odiava e não adiantaria mentir para o meu irmão, já que ele tinha o poder de ler a minha mente.
- Mas você a odeia porque gostaria de estar no lugar dela, ou porque não vai com a cara da coitada? – “Coitada”? Ele ia mesmo começar a defender aquela garota?
- Eu nunca fui com a cara dela! – Exclamei.
- %Star%... – Me olhou pelo retrovisor, desconfiado.
- Olhe pra frente, Louis! – Virei para o outro lado, evitando seu olhar. – Eu só acho que ele merece alguém melhor...
- Como você? – Lá estava aquele sorrisinho sabichão. – É o que ele quer.
- Como é? – Virei o rosto com tanta força que o senti estalar e gemi de dor.
- Vai dizer que nunca percebeu, %Tah%? Ele tem uma queda por você e não é de hoje. Só que ele não sabe bem como lidar, ou como te chamar pra sair. Liam realmente não leva jeito com isso. E ainda tem a Candice pra complicar tudo...
- Hm... – Eu escutava todas aquelas palavras atentamente. Sim, aquilo já estava claro pra mim, mas era a primeira vez que alguém realmente confirmava em voz alta.
Não soube mais o que falar e Louis percebeu isso. Graças a Deus ele sempre foi muito bom em respeitar o meu espaço e continuamos em silêncio até chegar ao apartamento de meu pai. O manobrista veio até o carro e abriu a porta para que eu pudesse sair. Em seguida ele esperou meu irmão também sair e partiu para estacionar o carro. Aquele prédio tinha tanto luxo que eu não sabia se conseguiria me acostumar a morar ali. Meu pai sempre gostou de coisas boas. Carros bons, apartamentos bons, roupas de marca... E, por sorte, tinha muito dinheiro pra gastar com suas regalias. Apesar de rico, ele não era daqueles esnobes que se achavam superiores a todo mundo. Papai sempre foi humilde e tratava a todos com igualdade.
Não demoramos muito para entrar no elevador e eu apertei o botão para a cobertura. Eu e Louis nos entreolhamos e eu acabei fazendo alguma piadinha sobre ser um milagre ele não estar usando suspensórios. Recebi um “cala a boca” e ri mais ainda. A porta do elevador abriu e já entramos no hall de entrada do apartamento, como em Gossip Girl.
- Eu sabia que tinha ouvido risadas! – Rachel, a nova mulher de meu pai, se aproximou de nós dois com um sorriso enorme no rosto. – Você está cada dia mais linda, %Star%.
- Obrigada, Rach. – Nos abraçamos. – Amei o seu novo corte de cabelo! Está bem melhor repicado assim.
- Foi ideia do seu pai! – Ela piscou pra mim e foi abraçar o meu irmão. – Ele está na cozinha, aliás.
Tirei meu casaco e o pendurei em um armário próprio pra essas coisas e comecei a ir em direção à cozinha. Fazia algum tempo que não via o meu pai e estava com saudades. Era sempre assim, já que ele trabalhava demais. Cheguei à cozinha e sorri com o que vi: Meu pai estava com um avental florido e checava algo no forno. Vê-lo cozinhar era algo novo, coisa que nunca fizera quando era casado com a minha mãe. Rachel realmente estava fazendo dele um homem diferente; um homem feliz.
- Eu estava torcendo para que você não estivesse tentando cozinhar hoje. – Brinquei e ele se virou na minha direção.
- %Star%! – Seu sorriso era enorme e eu pude ver que ele estava feliz em me ver.
- Daddy! – Fui até ele e o abracei.
- Quando você ficou tão crescida assim? – Após retribuir o abraço, ele me fez dar uma voltinha e eu fiquei vermelha. – Até parece uma mulher.
- Para com isso! – Eu ri. – Ainda sou só uma garotinha.
- Como eu queria que isso fosse verdade... – Sorriu de forma paternal, quase dizendo que eu sempre seria a sua bebê.
- Onde está a minha pequena? – Resolvi mudar de assunto antes que tivesse que escutar alguma história embaraçosa de quando eu era criança.
- Ela está no quarto. Porque não vai vê-la enquanto eu termino o jantar? E fale pro seu irmão vir falar comigo.
Nem precisei chamar Louis, já que ele entrou na cozinha assim que eu saí de lá. Rachel arrumava algo na mesa de jantar e eu fui até o quarto da minha irmãzinha. A porta estava entreaberta e eu espiei antes de entrar. Lux estava sentada em um tapete felpudo cor de rosa – assim como quarto inteiro – e brincava com um cachorrinho de pelúcia. Mais precisamente, dava mamadeira e conversava algo que eu não entendia o que era. Abri a porta o suficiente para que eu pudesse passar e a pequena me olhou na mesma hora.
- %Tah%! – Ela sorriu tanto que até deixou a chupeta cair de sua boca.
- Baby girl! – Lux era a criança mais fofa do mundo e eu amava cada pedacinho dela. Ao contrário de outras crianças, ela não fazia o tipo birrenta e mimada, mesmo tendo absolutamente tudo. – Como você está, meu amor?
- Dodói eu. – Me sentei no tapete também e ela levou a mão até a testa, como se estivesse sentindo a própria temperatura. Provavelmente sua mãe tinha feito isso algumas vezes e ela repetia.
- Está dodói? – Ela afirmou com a cabeça e eu toquei em seu pescoço. Estava um pouco quente sim, mas a febre estava baixa. – Você vai ficar boa logo, tá? E aí vamos nadar lá em casa.
Lux bateu palmas e acenou que sim mais uma vez. Me levantei com cuidado, odiando ter escolhido uma saia tão justa e que impossibilitava os meus movimentos.
- Quer ir ver o Lou? Ele está lá fora.
- Boo? Quero. – Sorriu novamente e esticou os bracinhos para que eu a carregasse.
Abaixei-me novamente e entreguei a chupeta para que ela a segurasse. Em seguida, a peguei por baixo dos braços e trouxe seu pequeno corpo até o meu. No mesmo instante em que a firmei em meus braços, Lux começou a brincar com os meus cabelos. Não sabia a graça que ela via neles, mas parecia gostar muito e enrolar as mãozinhas nos meus fios castanhos. Fomos até a sala e encontramos Louis e meu pai sentados no sofá, assistindo algum jogo de futebol. Pela forma que meu irmão cobria os olhos com as mãos deveria ser do time deles.
- Olha quem ta aqui, Lou.
- Minha princesinha! – Ele sorriu e se levantou. Também era louco por ela. Na verdade, quem não era?
- Boo-boo. – Lux se jogou nos braços dele e eu ri.
Louis a segurou e começou a brincar de aviãozinho. Ela gargalhava tanto que nem parecia estar doente. Deixei os dois brincando e fui me sentar ao lado de meu pai. Dei uma olhada para a tela da TV e tentei assistir o jogo, mas eu nunca fui muito fã de futebol então bufei entediada.
- Eu estava esperando você fazer isso. – Meu pai riu e desligou a televisão. - Algumas coisas nunca mudam. – Também ri e sentei de lado, ficando de frente pra ele. – Mas você não precisa parar de assistir por minha causa.
- Minha filha é mais interessante que o final do campeonato. – Sorriu. – Como está tudo na escola?
- Escola, pai? – Rolei os olhos. – Ao menos fale “academia”, ou “Academy” que é como todos falamos.
- Tudo bem, senhorita crescida. Como está tudo na Academy?
- Bem melhor! – Sorri satisfeita. – Tudo está ótimo... As aulas são puxadas, mas é assim que eu gosto. Quarta feira eu tenho um teste para a peça de fim de semestre!
- Um teste? Pra qual papel? – Ele parecia realmente interessado.
- A peça é Romeu e Julieta... Então eu vou tentar conseguir o papel de Julieta.
- O papel principal? Uau, isso é grande!
- Eu sei! Mas como eu sou uma “caloura”, não criarei muitas esperanças. Geralmente dão o papel principal pra quem está no último ano, então...
- Ei, ei, pode parar! – Papai me interrompeu e colocou a mão no meu ombro. – Se a academia é tão boa quanto você diz, eles vão ser justos e dar o papel principal pra quem for o melhor. E eu sei que posso ser suspeito pra falar, mas você é a melhor dançarina que eu já conheci.
- Obrigada, pai... – Eu poderia ser a única dançarina que ele conhecia, mas o que importava era que meu pai acreditava em mim.
- E você tem muitos amigos por lá? Seu irmão me disse que você saiu semana passada...
- Tenho alguns... – Olhei para Louis de soslaio e ele fingiu não estar escutando a nossa conversa. – A minha melhor amiga se chama %Abi%. Ela é meio doidinha, mas um amor de pessoa!
Ficamos conversando por mais vinte minutos até que Rachel nos chamou para jantar. O cheiro estava delicioso e eu estava com muita fome. Papai sentou na ponta da mesa e eu me sentei ao seu lado esquerdo, com Rachel na minha frente. Louis estava ao meu lado e Lux na frente dele, sentada na cadeirinha de bebê. A lasanha estava tão bonita que eu fiquei com água na boca. Tudo bem que não era a mesma coisa de quando a minha avó cozinhava, mas ainda parecia deliciosa. Todos foram se servindo e começando a comer. Meu pai abriu uma garrafa de vinho e eu pedi uma taça. Ele ficou surpreso, mas não reclamou. Acho que aos poucos estava percebendo que eu realmente já parecia mais com uma mulher do que uma garotinha que costumava esperar ele chegar do trabalho pra ouvir uma história de ninar.
- E então, %Tah%... – Rachel chamou a minha atenção e eu terminava de engolir uma garfada de lasanha. – Algum garoto interessante na sua vida?
- Ahn. – A pergunta me pegou de surpresa e eu não sabia o que responder. Ela sorriu da minha reação e meu pai também me olhou. Olhei pra ele e em seguida para Rachel. Antes de responder, peguei meu copo e dei um gole.
- Tem pelo menos três. – Louis respondeu antes que eu pudesse falar qualquer coisa e eu engasguei com o vinho.
- Três? Que história é essa? – Meu pai se preocupou. Meu irmão realmente adorava me fazer passar por vadia.
- Nick, Liam e Za... AI. – Meu irmão estava disposto a criar a minha fama enquanto eu tentava retomar o ar, então não o deixei terminar e chutei a sua perna por baixo da mesa.
- Não é nada disso, pai. São só amigos. O Louis está brincando. – Tentei contornar a situação, mas ele parecia não me escutar.
- Nick? Esse Liam não é o que está morando com vocês? E o que é “Za”?
- Daddy, me escuta… - Respirei fundo e olhei pra Rachel, pedindo ajuda. – Nicholas é um amigo da academia... E o Liam é esse mesmo, mas também não passamos de amigos. E o Zayn... É um amigo da %Abi%.
- Não é que eu pense que você não vai namorar, ou beijar na boca... – Meu pai começou e eu escondi o rosto nas mãos. Momento constrangedor mode on. – Mas só espero que tenha cuidado. Você tem camisinhas em casa? Se quiser posso trazer umas pílulas do hospital pra você...
- Pai! – Meu rosto devia estar mais vermelho que um tomate e meu irmão só fazia rir ao meu lado. – Não preciso de nada disso!
- Mark, deixe a menina em paz. Isso é coisa de mulher e ela sabe que pode sempre vir falar comigo. – Rachel se intrometeu e pareceu acalmar meu pai. – Não sabe?
- Claro que sei! – A agradeci com o olhar e voltamos a comer.
Louis iria me pagar por aquilo, ahhh, se ia! Depois da lasanha, Rachel serviu um suflê de chocolate que estava simplesmente divino. Eu comi pelo menos dois pedaços enormes. Lux também pareceu adorar, porque no final da refeição estava com a boca toda suja de chocolate. Meu pai conversava com a esposa e meu irmão começava a tirar a mesa; claro que não por vontade própria. Me levantei e peguei a minha irmãzinha no colo. Usei um guardanapo para limpar o seu rosto e ela riu enquanto eu fazia caras engraçadas. Meu celular começou a tocar dentro da minha bolsa que estava em cima co sofá.
- Vamos ver quem está ligando pra gente, Luxy?
Ela não entendeu absolutamente nada, mas balançou a cabeça em afirmação e nós fomos até o sofá. Me sentei e a coloquei no meu colo enquanto procurava o meu iPhone e torcia pra que desse tempo de atender. “FaceTime: %Abi% calling” era o que dizia. Cliquei para aceitar a chamada e a imagem dela logo preencheu a tela. De acordo com o que Zayn tinha me falado eles deveriam estar no Pub, mas eu não reconheci lugar em que esta estava.
- Hey, %Tah%! – Ela sorriu. – Quem é essa coisa fofa no seu colo? Eu não sabia que você tinha uma filha!
- A %Star% tem uma filha? – Escutei a voz de Niall e ele se juntou à namorada. Percebi que os dois estavam em uma cama. – Oi, lindaaaaaa.
- Hey, guys. – Ri da bagunça que eles estavam fazendo. – Essa é a Lux, minha irmã mais nova. Diz oi, Lux.
- Oi... - Ela falou bem baixinho e um tanto tímida, mas acenou pra eles.
- Que gracinha que ela é! – %Abi% fazia palhaçadas tentando chamar a atenção de Lux e estava conseguindo.
- Tinha que ser minha irmã, né? – Me gabei. – Onde vocês estão, aliás?
- Estamos na casa do Zayn. O Pub estava muito chato, então viemos fazer uma festinha aqui. – Minha amiga explicou.
- E ele sabe que vocês estão ficando animadinhos no quarto dele? – Brinquei.
- Ele está aqui também e eu acho que quer participar... – Niall disse e eu gargalhei.
- Zayn, diz oi pra %Tah%! – %Abi% virou o próprio celular e apontou a câmera para Zayn; que estava sem camisa, se me permite o comentário.
- Vas happening? – Ele sorriu e pegou o celular. Por sorte da minha sanidade mental, focou apenas em seu rosto. O que também era algo muito bom de se olhar. – Essa é a famosa Lux?
- Hey, Zayn! É sim. A minha pequena. – Sorri e deixei um beijo na bochecha dela, que já não entendia mais nada.
- Está na casa do seu pai? – Ele perguntou.
- Sim, acabamos de comer.
- Isso explica o alface no meio dos seus dentes. – Na hora que Zayn falou aquilo eu gelei. - Como é? – Cobri a boca com uma mão e já comecei a passar a língua pelos dentes. Ele gargalhou.
- Eu to brincando, %Tah%. Você está perfeita, como sempre. – É claro que ele estava brincando! Eu nem ao menos tinha comido alface!
- Idiota. – Rolei os olhos, mesmo querendo rir.
- Eu tenho que devolver o celular agora, ou %Abi% me mata. Ela já está me olhando feio! – Ele se despediu e assoprou um beijo pra mim e um pra Lux, que o imitou.
- E aí, girl? Voltei. – %Abi% sorriu. – Já decorou o texto que vai apresentar na quarta?
- Texto? Que texto? – Me assustei.
- Para o teste? Hello? Você vai ter que apresentar uma cena de Romeu e Julieta. – Como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, %Abi% me explicou.
- Eu não fazia idéia que teria que fazer isso... Pensei que só precisaria dançar. – Até na minha voz era possível ver o desespero que me dominava.
- O que você faria sem mim? – %Abi% balançou a cabeça em negação. – Eu vou te ajudar, ok? Vamos ensaiar até você decorar o livro todo, se for preciso. Porque se você não for a Julieta, a Brigitte vai ficar no seu lugar. E eu não quero ter que contracenar com ela!
- Eu realmente não sabia o que faria sem você... – Sorri, um pouco mais aliviada. – Agora eu tenho que ir, ok? Meu irmão já está me chamando pra ir embora. Aliás... Tenho uma coisa pra te contar.
- COMO ASSIM DIZ QUE TEM QUE IR E DEPOIS FALA QUE TEM ALGO PRA CONTAR? – Gritou e até Lux se assustou.
- Depois eu conto, %Abi%! Beijo. Tchau meninos! – Falei alto suficiente pra que eles escutassem, mas não esperei uma resposta.
Desliguei o celular e Lux me olhou. Ela devia estar achando que eu era algum tipo de mágica por conseguir ver pessoas em um celular. Eu fiz uma caretinha e ela riu. Eu me sentia muito bem quando a fazia rir, porque me sentia a pessoa mais engraçada do mundo. Levantei com ela em meu colo e a abracei bem forte antes de entregá-la para a mãe. Tinha vontade de morar com meu pai só pra ficar mais perto dela, ou até mesmo levá-la pra morar comigo. Mas acho que meu pai tinha um ataque de vez, com todos os filhos dele morando sozinhos. Também me despedi dele e da minha madrasta. Eu avisei pra ela levar Lux pra ficar comigo quando a pequena estivesse melhor da gripe e assim ela poderia ter um dia pra ficar só com meu pai. Ele gostou muito daquilo, afirmando que precisava de uma noite romântica de vez em quando e eu puxei Lou para dentro do elevador antes que nosso pai começasse outra conversa constrangedora.
- Muito obrigada, Louis. – Falei em tom severo depois que as portas se fecharam.
- Pelo quê? – Ele se fez de desentendido, mas riu.
- Você sabe muito bem!
+++ Chegamos em casa em quase trinta minutos. Louis foi atender uma ligação na cozinha e me deixou sozinha na sala. Aquilo me pareceu meio suspeito, já que era muito tarde pra alguém estar ligando. Dei de ombros e tirei os sapatos. Eu adorava usar saltos, mas meus pés sempre ficavam muito doloridos depois que eu os tirava. Escutei o barulho de alguém descendo a escada e me virei para olhar Liam andar até o meu encontro.
- Eu sabia que tinha escutado alguém entrar! – Mesmo sonolento, o garoto sorriu pra mim.
- A gente te acordou? – Sentei no braço do sofá e comecei a massagear o meu pé direito.
- Não, não... Eu não estava dormindo. Estava tocando violão e tentando terminar uma música pra passar o tempo.
- Você está escrevendo uma música? Posso ouvir? – Já comecei a me animar. Eu amava ouvir Liam cantar, ainda mais se fosse uma de suas criações.
- Ainda não está pronta, então não. – Contraiu os lábios e balançou a cabeça.
- Poxa! Tudo bem. – Fiz um biquinho. – Vocês homens tem sorte por não usarem salto!
- Alguns de nós usam. – Deu de ombros e eu gargalhei. – Quer ajuda pra subir as escadas?
- Sim, por favooooor! – Choraminguei e ele se aproximou ainda mais, com aquele sorriso impecável sempre no rosto.
- Pula aí. – Virou de costas e se abaixou um pouco para que eu pudesse subir.
- Eba! – Comemorei e pulei nas costas dele, sem me importar em estar de saia.
Liam passou os braços por baixo dos meus joelhos e eu o abracei pelo pescoço. Logo começamos a subir as escadas e ele tinha o maior cuidado do mundo, como se eu fosse uma boneca de porcelana.
- Espera, espera! – Exclamei e ele obedeceu. – Podemos ir à cozinha, primeiro? Quero pegar o meu chá pra não ter que voltar aqui depois.
- Você é que manda. – Liam deu meia volta e desceu as escadas.
Fomos até a cozinha e Louis estava com uma expressão preocupada. Já havia desligado o celular e encarava um lugar qualquer, mas seu olhar estava vazio. Assim que ele nos viu, sorriu e fingiu que estava tudo bem; murmurou um “boa noite” e sumiu. Liam também notou que algo estava errado, mas nenhum de nós falou coisa alguma. Ele caminhou até a geladeira e parou de lado para que eu pudesse pegar a minha garrafinha de chá gelado.
- Você sempre bebe chá antes de dormir? – Perguntou.
- Sim... Desde criança. É meio bobo, né?
- Não é bobo coisa nenhuma. Nada que vem de você é bobo. – Ele me olhou de lado e eu dei um beijo em sua bochecha. – Podemos ir, duquesa?
- Sim, podemos! – Sorri por ele ter me chamado assim.
Dessa vez não o interrompi quando voltamos a subir as escadas e ele logo me colocou no chão. Eu torcia pra não tê-lo machucado, até porque sabia que não era a pessoa mais leve do mundo. Nos despedimos com um abraço bastante demorado e fechei a porta do meu quarto. Notei que Liam ainda demorou um pouco do outro lado, pois eu podia ver a sua sombra por baixo da porta. Por um segundo eu achei que ele fosse me chamar e finalmente contar tudo que estava engasgado em sua garganta, mas é claro que eu estava errada. Não que eu passasse todos os dias esperando uma declaração e também não estava apaixonada por ele. Mas me sentia atraída e já não tinha mais aquele medo de antes. Nós éramos amigos o suficiente pra não deixar nada abalar aquilo, mesmo que nosso “envolvimento” terminasse mal.
Incrível como uma pessoa acaba criando expectativas mesmo sem querer, né? Resolvi não me preocupar mais com aquilo e deixar rolar. Eu não tinha pressa alguma e ele viria falar comigo quando estivesse pronto. Me tranquei no banheiro e tomei um banho quente e demorado; perfeito para me preparar para uma longa noite de sono.