Ballet Shoes


Escrita porElla Souza
Editada por Isabelle Castro


Capítulo XLVIII

Tempo estimado de leitura: 40 minutos

  Uma das coisas boas de se chegar bem cedo na Academy é que o estacionamento está quase completamente vazio, facilitando o meu trabalho de achar uma vaga perto da entrada. Ainda dentro do carro consegui avistar uma figura ruiva e agasalhada do pés à cabeça esperando a minha aparição por ali. %Abi% não tinha motivo algum pra chegar tão cedo quanto eu, mas o fato de ela estar por ali mostrava que eu tinha uma amiga melhor do que imaginava. Eu já estava bem melhor do que na noite anterior e até consegui dormir por umas duas horas, sendo que nada disso teria sido possível se não pudesse contar com ela em qualquer horário ou situação.
  Peguei a minha bolsa no banco ao meu lado e a pendurei no ombro, preparando-me pra encarar o vento frio que assoprava com força as árvores do lado de fora. Coloquei os meus óculos escuros no rosto porque pelo menos isso esconderia os meus olhos cansados e olheiras. Retirei a chave da ignição e também a guardei na bolsa. Daí pra frente seria uma cena de filme se eu não estivesse tão sonolenta: Abri a porta do carro e saí em câmera lenta, com os meus cabelos sendo jogados ao vento e balançando com charme. Espiei %Abi% por cima das lentes escuras e sorri no maior estilo bondgirl, seja lá o que isso significar. Ela sorriu de volta e levantou do degrau onde estivera aguardando e abriu os braços, me convidando pra um abraço.
  - Bom dia, minha flor do campo. – Sorriu ainda mais e foi me encontrar na calçada.
  - Bom dia, cabecinha de fogo. – Mesmo ela sendo mais baixinha que eu, me enterrei em seus braços para receber aquele abraço que eu tanto precisava.
  - Como você está, huh? – Me apertou em seu abraço e eu deixei um beijo em sua bochecha.
  - Estou bem, coisa linda. Só precisava dormir um pouco. – Nos separamos e ela seguiu de volta para a escadaria, me fazendo segui-la. – Ainda estou com sono, mas isso é um detalhe.
  - Um detalhe que eu acho que posso resolver! – Ela fez aquela cara de quem pode resolver qualquer problema e tirou um copo da Starbucks de dentro da sua maxibag. – Um Macchiato quentinho só pra você!
  - %Abi%... – Meus olhos brilharam ao ver aquele copo tampado e perfeitamente confeccionado por deuses do Monte Olimpo. – Eu já falei que te amo?
  - Já, mas eu não me canso de ouvir! – Fez cara de apaixonada e me entregou a bebida.
  - Hm, hmmm... – Falei com a boca cheia após me deliciar com o primeiro gole. – Eu te amo, %Abi%! Com cobertura de caramelo!
  - Você me ama com cobertura de caramelo? – Riu.
  Não foi bem isso o que eu quis dizer, mas estava ocupada demais com o meu Macchiato pra perder tempo corrigindo-a. Apesar da minha bebida quentinha, resolvemos entrar na Academy pra fugir das baixas temperaturas que tomavam conta de Londres naquela manhã. Assim como o lado de fora, os corredores e pátio estavam vazios, nos deixando bem confortáveis em não ter que olhar ou falar com qualquer outra pessoa. Eu ainda tinha vinte minutos até a chegada de Nick e Collin, então poderia aproveitar um pouco mais da companhia de %Abigail% antes que ela tivesse que partir para a sua aula (que, aliás, eu teria que faltar) e me concentrar em tentar enganar o diretor da peça de que eu sabia exatamente o que estava fazendo. Ficar em alguma sala não seria tão confortável quanto as cadeiras do auditório, portanto foi pra lá que seguimos.
  Para a nossa sorte, o lugar não estava fechado e algum funcionário deveria ter acendido todas as luzes e colocado um piano de calda no canto do palco, pois eu me lembrava muito bem de não ter nenhum instrumento por ali no dia anterior. Zayn devia estar certo Ed me mostraria a canção que eu teria que aprender e fazer várias simpatias pra não desafinar. %Abi% não sabia nada sobre esse assunto, já que quando perguntei pareceu mais perdida que eu. Nos sentamos nas cadeiras do meio da terceira fila, ficando bem confortáveis. Tirei os sapatos e coloquei os pés em cima da cadeira em minha frente, quase deitando por ali.
  - E quando os seus ensaios começam? – Perguntei após um longo gole no meu café.
  - Você realmente não lê o roteiro, né? – Riu da minha cara e eu fiquei sem entender. – Todas as datas de ensaios estão nas últimas folhas...
  - Eu leio sim! Só não cheguei no final ainda...
  - Aham, claro. Mas de qualquer forma... – Não adiantava tentar enganá-la e eu sabia disso, mas ainda arriscava. – Nosso primeiro ensaio geral é essa sexta feira, mas eu acho que não vai ser lá grande coisa. Acho que só vamos começar a pegar pesado mesmo depois do Christmas Break.
  - Mon Dieu, eu havia me esquecido do Christmas Break! – Meus olhos brilharam com a lembrança de que logo teríamos duas semanas de “férias”. – Não falta muito tempo, né?
  - Pouco mais de uma semana! – Comemorou. – O semestre está passando muito rápido...
  - POR FALAR EM PASSAR MUITO RÁPIDO! – Quase fiz %Abi% cair da cadeira quando me sentei direito pra poder expressar toda a minha ansiedade. – Você sabe que dia é hoje, né?
  - Quarta feira, ué. – Deu de ombros como se não tivesse nada de mais nisso.
  - E? – Levantei uma sobrancelha esperando a ficha dela cair, mas estava complicado. – %Abi%... The X Factor...
  - Bloody shit! É hoje?! – Quase que como vingança pelo que eu fiz, a menina deu –literalmente- um pulo da cadeira e ficou de pé, me fazendo derrubar o copo vazio da Starbucks no meu colo. – Eu não estou preparada pra isso!
  - Pois pode ficar. – Agradeci mentalmente por não me sujado e deixei o copo de lado. Também tirei os meus óculos escuros tentando não me importar com os comentários que eu sabia que ouviria. – Hoje às nove e meia começa o programa... Eu não sei como eles vão anunciar os cinco finalistas, mas provavelmente vão enrolar bastante.
  - Aham, aham, aham. – Não voltou a sentar e começou a passar as mãos pelo cabelo. – E se eles não forem finalistas? A gente mandou muito em cima da hora, %Tah%... Ou se não gostarem? E se eles forem sim um dos finalistas? E se eles ficarem com raiva da gente? E se...
  - Ei, ei, calma... – A puxei de volta para o banco. – Agora é tarde demais pra ficar pensando nas consequências. Se eles não passarem nessa etapa, só nós duas saberemos disso. Mas se eles passarem... %Abi%, tenho certeza que vão gostar da noticia. Na menor das hipóteses, só vai ser uma chance de aparecerem na TV. O resto a gente vê depois.
  - Como você consegue estar tão calma? – Me olhava com espanto.
  - É o sono. – Respondi simplesmente. Se meu corpo e mente não estivessem tão cansados eu com certeza estaria pior que ela. – Você vai pra casa do Ni hoje?
  - Já vou direto depois da aula...
  - Ótimo! Então vocês dois vão assistir, certo? – Perguntei enquanto ela mexia na sua bolsa a procura de algo.
  - É claro que sim! E... Fica quieta, %Star%! – Brigou comigo porque eu me mexi na hora em que ela tentou passar algo no meu rosto. – E você vai fazer os meninos assistirem também.
  - O que é isso? – Parei de lutar, mas ainda não tinha tanta certeza do que era aquilo.
  - Base. Preciso dar um jeito nessas suas olheiras, credo. – Espalhou o creme abaixo dos meus olhos. – Acho que a parte mais difícil vai ser convencer o Zayn a assistir...
  - Acho que sei quem pode me ajudar com essa parte...
  Assim que %Abi% terminou de me embelezar, pude pegar o meu celular dentro da bolsa. Se tudo desse certo, ele iria assistir o programa de um jeito ou de outro. A ruiva ficou me observando com curiosidade e até com medo do sorriso maléfico que se instalou nos meus lábios. Bem... Não tão maléfico, até porque se tratava de mim, né? Mais uma vez a sorte estava do nosso lado, pois eu encontrei o número de telefone que estava precisando em poucos segundos. %Abi% leu o nome na tela, ficando mais confusa ainda por não saber de quem se tratava. Só a olhei como quem diz: “Você já vai ver” e ela resolveu esperar. Pensei em ligar, mas ainda era bem cedo e eu não queria acabar acordando outra pessoa antes da hora, por isso optei por mandar a mensagem:

“Dony, aqui é a %Tah%... Estou precisando de um favor enorme seu! xx”

  - Quem é Dony? – Eu estava até vendo %Abigail% começar a ter ciúmes da minha cunhada.
  - É a irmã mais velha do Zayn... Nós trocamos mensagens de vez em quando, a maioria sobre o McFly, mas acho que ela pode ajudar.
  - Eu espero que sim! – Sorriu um pouco mais calma por sua melhor amiga não estar sendo roubada.
  - Bom dia, jovens. – Uma voz masculina anunciou sua presença e ambas nos viramos para o diretor Colin que atravessava o auditório com sua velha pasta preta.
  - Bom dia, senhor Wall. – %Abi% tinha medo dele, por isso era o mais formal possível.
  - Bom dia, Colin! – Fui bem informal, já com certo nível de intimidade.
  - Uhh, “Colin”. – %Abi% sussurrou e eu só não bati nela porque mais alguém chegou.
  - Meus fãs, eu cheguei. – Nicholas fez o mesmo caminho que o professor, sentindo-se o próprio rei da cocada preta.
  - Hey, Nick. – Acenei e ri de sua palhaçada, mas eu era a única.
  - Bom dia, %Tah%. – Todo sorridente veio se juntar a nós na terceira fileira. – Tudo bem, %Abi%?
  - Tudo. – Forçou um sorriso amarelo e se levantou. – Tá na minha hora... Se cuida, %Tah%. Te vejo depois.
  - Tchau... – Acenei sem muita graça. Essa inimizade que ela tinha com o meu parceiro de dança me deixava super constrangida, mesmo que ele parecesse não ligar. – Desculpa por ela, ok?
  - Não precisa se desculpar todas as vezes que algum dos seus amigos é indiferente comigo. – Deu de ombros. – Já me acostumei.
  - Mas não é justo! Eu queria que eles vissem o quanto você é legal. – Fiz bico e cruzei os braços, aproveitando pra espiar o diretor e ver se já iríamos começar o ensaio.
  - Você sabe disso, então é o que importa. – Cutucou a minha bochecha com o indicador e me fez sorrir. – Trouxe as castanholas?
  - Não trouxe... – Comecei a levantar ao ver o diretor nos chamando com a mão. – Pode me emprestar as suas?
  - Outch. – Nick riu do meu sorriso sacana e fechou as pernas assim que eu passei por ele, se protegendo.
  Brincadeiras a parte, estava na hora de encarar um assunto muito sério, por isso eu e o garoto fomos até a frente do palco como de costume e nos sentamos ali. O diretor parecia estar de bom humor, porque sorriu nos cumprimentando direito e começando a explicar o faríamos naquele dia. Ele disse que tentaríamos novamente encenar a cena em que Romeu e Julieta se conhecem, mas que dessa vez nos ajudaria. Eu conhecia a história, pois havia lido o livro e visto o filme, então não seria tão complicado. Além do mais, estava bem mais disposta do que da última vez, mesmo estando quase desmaiando de sono. O bom daquele ensaio era que eu não precisava de uniforme de ballet, então permaneci descalça e com a minha roupa quentinha e confortável ao subir no palco. Nick me seguiu e Colin foi o único a usar as escadas.
  Sem muita enrolação, o docente marcou alguns lugares estratégicos no chão com pedaços de fita, mostrando onde deveríamos começar e terminar a cena; assim como outros detalhes importantes. O palco onde o espetáculo aconteceria ainda não havia sido definido, mas com certeza não ficava na Academy. Recordo %Abi% falando que o último foi no London Theatre e eu não me importaria que fosse lá novamente.
  - Muito bem, Julieta, lembre-se que é a festa da sua família. Todos estão bebendo, dançando e se divertindo. – Colin nos fazia imaginar um cenário quase perfeito e a nossa imaginação fazia o resto. Ele mexia os braços com animação e até dava alguns pulinhos como se realmente estivesse naquela festa. – Você está com as suas primas e todos vão formar uma grande roda... Fique aqui.
  - Certo. – Fui para o meu lugar de origem, já me imaginando com um longo vestido rodado e os outros personagens ao meu redor. Enquanto Colin ia explicar a parte de Nick, fiquei fingindo rodar meu vestido invisível e dançar uma música de época. – La La La. Dançando, me divertindo...
  - Gosto do seu entusiasmo. – O homem acenou com a cabeça, me pegando de surpresa. – Agora, Romeu... Você está na casa dos seus inimigos. Perdido dos companheiros que vieram com você, na tentativa de esquecer a tua Rosalina. Seu amor não correspondido.
  - Se meus olhos devotos falsidade tão grande sustentarem, que em fogueira de suas lágrimas morra sem piedade, como hereges passíveis de cegueira. – Nick recitou com tanta facilidade que eu parei o que estava fazendo para observá-lo. – Mais linda que ela! Nunca o Sol radiante no mundo todo viu tão bela amante.
  - Wow... – Falei baixinho, quase não percebendo quando Colin veio até mim para me guiar até o meio do palco, mas ainda olhava para Nick.
  - Era isso o que achava até esse momento. Então você a vê... Uma jovem com a pele tão branca como a neve. Olhos azuis como a água do rio mais cristalino... – Enquanto falava essas coisas, me fazia girar e valsar pelo salão enquanto segurava a minha mão. Dessa parte eu gostava, pois podia fazer o que eu mais sabia; dançar. – Um ser tão puro, mas que esconde algo mais por trás do olhar. Uma faísca que prende a sua atenção por completo. A partir desse momento você tem uma adoração inexplicável por ela.
  - Que dama é aquela que enriquece o braço daquele cavalheiro? – Nick deslizou pelo palco como se falasse com alguém. Era como se ele tivesse mudado da água pro vinho, pois nem se falava mais de castanholas e era como se soubesse o livro inteiro de cor.
  - Desconheço-a, meu senhor. – Colin me soltou, mas me fez continuar a minha dança com um homem invisível. Foi até Nick para dar sequência à cena.
  - Oh! Ela ensina a tocha a ser luzente. Dir-se-ia que da face está pendente da noite, tal qual joia mui preciosa da orelha de uma etíope mimosa. Bela demais para o uso, muito cara para a vida terrena. Como clara pomba ao lado de gralhas tagarelas, anda no meio das demais donzelas. Vou procurá-la, ao terminar a dança porque a esta rude mão possa dar a ansa de tocar nela e, assim, ficar bendita. Meu coração, até hoje, teve a dita de conhecer o amor? Oh! Que simpleza! Nunca soube até agora o que é beleza!

+++

  Depois da longa e produtiva manhã de ensaio, %Abi% me convenceu a ir junto com ela para a casa do Niall, pelo menos pra almoçar e passar a tarde. Sabendo que eu concordei, Zayn se ofereceu pra ir também e já dá pra imaginar a bagunça que tudo virou! Como ninguém queria cozinhar ou lavar pratos, acabamos pedindo comida tailandesa e comendo na própria embalagem. Era a minha primeira vez provando dessa cultura, então no começo foi meio estranho, mas logo me acostumei. Já me sentindo em casa, deixei os meninos conversando na sala e puxei %Abi% para o quarto do dono na casa, deitando na cama espaçosa. Eu não me importaria que os dois se juntassem a nós e até teria ficado pela sala se eles não estivessem tão interessados em uma partida de golfe. Segundo Niall era a final do campeonato e como ele sabia o nome de todos os colocados, deduzi que era um pouco fã. Só um pouco, quase nada.
  - %Abi%, %Abi%, %Abi%... – Eu estava deitada de barriga para baixo, com o meu celular em mãos e esperava a ruiva sair do banheiro.
  - O que foi, desesperada? – Abriu a porta enquanto secava as mãos pra que eu pudesse falar o quer que fosse.
  - A Dony respondeu! – Cochichei. O apartamento não era tão grande assim e mais ninguém poderia me escutar.
  - O que ela disse? – A cama fez um barulho enorme quando ela se jogou e eu desconfiei até que tinha quebrado. – Não fale nada!
  - Ok... – Gargalhei deixando todas as minhas piadinhas pra trás. – Ela falou: “Pode pedir qualquer coisa, %Tah%. Uma Galaxy Defender não pode deixar a outra na mão!”
  - Galaxy Defender? – Entortou o nariz.
  - Você não entenderia. – Daria trabalho demais explicar, então me concentrei em respondê-la: -“Preciso que você faça seu irmão assistir o X Factor hoje, as 21hrs. Acha que consegue?”
  - Tomara que sim! – %Abi% mudou de posição e deitou encarando o teto.
  - “Considere feito.” Yay! – Comemorei e deixei o meu celular em qualquer lugar da cama. – Agora eu posso dormir!
  Mesmo estando brincando, puxei o travesseiro branco de Niall e o coloquei na cabeça, me afundando naquela cama confortável e fechando os olhos com um suspiro. Se %Abi% não estivesse ali comigo falando sobre como foi a aula que eu perdi, com certeza teria caído em um sonho profundo. Segundo ela, a professora estava de TPM e por isso não queria dar aula. E não, não era a senhorita Holly. Por isso dividiu a turma em duplas e pediu para que fizessem vários exercícios, um mais chato que o outro. Ter achado graça naquilo só piorou a situação, pois %Abi% colocou na cabeça que a culpa de ela ter ficado sozinha na sala era minha. Mas que culpa eu tenho se ela não gosta de se socializar com alunos do primeiro nível? Exatamente. Nenhuma!
  - Posso entrar? – A voz de Zayn me fez abrir os olhos.
  - Só um minuto, ainda estamos nos vestindo! – %Abi% brincou e Zayn abriu a porta no mesmo instante.
  - Não vale me enganar assim, %Abi%. – Sua expressão era de desapontamento.
  - Vem cá... – O chamei manhosa, ignorando o assunto totalmente. Estava meio sonolenta e só queria que ele ficasse o mais próximo de mim possível.
  - Como recusar um chamado desses? – Zayn já estava sem sapatos, por isso apenas subiu na cama e ficou entre %Abi% e eu.
  - Finjam que eu não estou aqui... – %Abi% virou de costas pra nós e se entreteve com um joguinho eletrônico qualquer.
  - Você parece cansada... – Meu namorado se aproximou ainda mais, apoiando a cabeça no mesmo travesseiro que eu.
  - Não consegui dormir bem essa noite... – Eu sabia que tocar nesse assunto com ele não era a ideia mais sensata, pois poderia acabar falando demais. Ter o seu rosto tão próximo ao meu era uma tortura e uma satisfação ao mesmo tempo. Eu podia sentir a sua respiração e isso me fez sorrir.
  - Deve ser nervosismo com a peça... Não pode ficar assim. – Começou um carinho bem delicado nos meus cabelos e eu me aconcheguei em seu peito. – O que conversou com o Ed hoje?
  - Ele me mostrou a música, mas disse que ainda podem ter mudanças, então só vamos começar a trabalhar nela semana que vem... – Aproveitei que a camisa que ele usava tinha três botões e a abri discretamente, brincando por ali com a ponta dos dedos em seguida. – Você vai me ajudar?
  - No que precisar. – Beijou o topo da minha cabeça e não se importou com meus carinhos. – Se eu tiver que dançar... Você também me ajuda?
  - Ajudo... – Tentei me manter séria, mas não aguentei segurar as gargalhadas. – Desculpa, Zayn... Eu não queria rir, mas seria engraçado...
  - Também vou rir de você quando estiver cantando toda desafinada! – Para se vingar, Zayn aproveitou a nossa proximidade e atacou as minhas costelas, me enchendo de cócegas.
  - PARA COM ISSO! – Rindo mais ainda, tentei me esquivar e me soltar, mas ele era forte demais. – %ABI%, ME SALVA.
  - Nem estou aqui. – A menina nos ignorou parcialmente, pois eu sabia que ela ria de mim.
  - MALIK, PARA COM ISSO! – Gritei mais uma vez e dessa vez consegui empurrar o meu próprio corpo para o lado. O problema é que eu havia esquecido que três pessoas ocupavam aquela cama, então eu estava na ponta e acabei rolando para o chão. – Bugger!
  - %Tah%! Me desculpa! – Zayn me viu caída no chão e se preocupou. – Você está bem?
  - Estou, eu acho... – Apesar da dor na parte baixa da minha coluna, eu comecei a rir por me sentir bem patética.
  - Eu sinto muito mesmo. – O menino também riu e esticou a mão pra me ajudar.
  Logo que voltei para a cama, %Abi% se sentou e reclamou pelo xingamento que eu usei ao cair. Para usar as suas próprias palavras, “se eu quisesse virar uma inglesa de verdade, deveria aprender a xingar melhor”. Eu é que não ia ficar por aí gritando “fucking cunt” toda vez que caísse ou me machucasse, até porque não sou a pessoa mais coordenada do mundo. Zayn riu das loucuras da nossa amiga e deu um jeito de carinhosamente expulsá-la do quarto para que ficássemos sozinhos. Depois de muito inventar que Niall estava assistindo o campeonato de golfe só por causa das mulheres com pouca roupa que faziam propagandas durante os intervalos, %Abigail% correu para a sala e aparentemente demoraria pra voltar.
  Meu namorado pareceu bem preocupado por ter me feito cair da cama, principalmente por lembrar que o hematoma no lado esquerdo do meu quadril, causando pelo acidente de carro semanas atrás, ainda não tinha sido sarado completamente. Só ele sabia o quanto a manchinha roxa – por menor que estivesse ficando – me incomodava, então ele não se perdoaria se atrasasse ou atrapalhasse o processo de cura. Por mais que eu tentasse tranquilizá-lo de nada ruim tinha me acontecido, não fui dada ouvidos e praticamente obrigada a aceitar uma massagem no local. Bem, dessa parte eu gostei, é claro, mas fiz um pouco de charme negando por uns... Dois segundos, até aceitar e me acomodar mais uma vez deitada de barriga pra baixo e com os braços ao lado do meu corpo.
  - Sua mão está gelada... – Exclamei baixinho assim que os dedos ágeis de Zayn começaram a tocar o pedaço de pele nua entre o cós da minha calça e a barra da minha camisa.
  - Isso te incomoda? – Escutei um sorriso em sua voz e em seguida ele “pulou” para cima de mim, sentando-se sobre as minhas pernas, mas sem fazer peso algum.
  - Nem um pouco... – Fechei os olhos, deixando o meu corpo relaxar contra o colchão. A verdade é que o toque de Zayn poderia estar frio como um cubo de gelo e mesmo assim eu não me importaria.
  - Eu mal consigo ver o seu machucado, %Tah%... Já está ficando boa. – Como se usasse isso como desculpa, levantou a minha blusa até pouco acima da metade das minhas costas, passeando as mãos espalmadas por todo o local.
  - Agora ele fica coberto pela calça...
  Eu soltava suspiros e mais suspiros, tentando manter o controle sobre meus sons. O meu massagista particular apertava os dedos em pontos estratégicos da minha pele, causando uma dor boa e relaxante; se é que existe algo assim. Preferi não falar mais nada e apenas me preocupar em inspirar e espirar tranquilamente. Do jeito que eu estava, seria capaz de pegar no sono a qualquer momento e tenho certeza que Zayn não se importaria. Já eu... Me importaria muito em perder aquele momento tão delicioso por causa de uma noite mal dormida. O garoto arriscou subir uma das mãos por baixo da minha blusa dobrada e senti seus dedos roçarem pelo fecho do meu sutiã, mas ele não o abriu. Não que eu fosse impedi-lo de tentar qualquer coisa, porém não reprimi um sorriso ao sentir os apertos em minha nuca e ombros quando sua mão continuou subindo.
  Após dar certa atenção para os meus pontos de estresse, ele voltou a deslizar a mão até a parte baixa da minha cintura. Senti que ele brincou com as minhas covinhas abaixo da minha espinha e senti um pouco da pressão que seu corpo fez no meu quando o garoto se inclinou em minha direção. Não precisei abrir os olhos pra saber o que ele pretendia fazer e apenas aguardei o momento em que os seus lábios tocaram a minha bochecha. Sorri com o pequeno carinho e não arrisquei espiar quando sua boca juntou-se ao lóbulo da minha orelha. Os poucos pelos em meu braço se arrepiaram gritando “PONTO FRACO. ALERTA VERMELHO!” e eu apertei o lençol da cama inconscientemente. Minha reação não poderia passar despercebida e a risada nasalada e divertida que Zayn soltou, ainda perigosamente próxima à minha orelha, arrepiou-me mais uma vez.
  Apesar de estar adorando a massagem e as provocações, meu interior pedia por algo que não podia mais esperar pra ter. Notando que eu queria mudar de posição, Zayn me deixou dar meia volta e deitar com as costas na cama, podendo olhar pra ele direito. Seu sorriso ainda conseguia ser maior que o meu e, assim que o abracei pelo pescoço, ele voltou a inclinar-se sobre mim. Fechamos os olhos no mesmo instante em que nossos lábios se chocaram com delicadeza até estarem perfeitamente encaixados. Sem pressa alguma, movimentei os meus contra os dele e fui de encontro à sua língua com a minha. O frio que antes vinha de suas mãos desaparecera completamente, deixando um rastro de fogo por onde encostavam na minha pele.
  Algo naqueles toques, tanto de nossos corpos quanto de nossos lábios, era viciante. Clichês e aquele papo de “eu não consigo viver sem você” nunca colaram muito comigo, mas nos momentos em que Zayn e eu estávamos próximos assim eu começava a mudar de ideia. Pensar em não ter mais aqueles carinhos e olhares todos os dias da minha vida doía mais do que eu podia aguentar, então talvez começar a acreditar que o “para sempre” existe era a melhor saída. Se acreditasse que almas gêmeas existem mesmo, Zayn seria a minha. Nós dois nos completávamos de uma maneira maior que a terrena, maior que a humana; se é que dá pra entender. Eu precisava dele no sentido mais cru da palavra e sentia que a recíproca era verdadeira. Podia ser culpa da falta de sono ou da confusão de sentimentos que estava rondando a minha cabeça ultimamente, mas tudo que eu sabia naquele momento era que o amor incondicional, irracional e irrefutável que eu sentia por Zayn era verdadeiro e eu me seguraria a ele com todas as minhas forças.
  - Você tem alguma ideia do quanto eu te amo? – Perguntei em um sussurro, evitando ofegar após o nosso longo beijo.
  - Agora eu tenho. – Manteve a voz na mesma altura da minha e sorriu, abrindo devagar aqueles olhos amendoados que me tiravam o ar. – %Star%...
  - Hm? – Suspirei com um sorriso discreto, observando-o sair de cima de mim e deitar ao meu lado. Zayn segurou uma de minhas mãos e entrelaçou os nossos dedos.
  - Casa comigo? – Seus olhos eram sinceros, mas eu sabia que era uma brincadeira. Deveria ser.
  - Caso. – Soltei uma risada baixa.
  - Ei, qual é a graça? – Também riu, mesmo sem entender o meu humor.
  - Nenhuma! – Balancei a cabeça e segurei o seu rosto com a minha mão livre, roubando um beijo rápido. Já em um clima mais descontraído e leve, levantei o tronco até estar sentada na cama e me espreguicei, voltando a minha blusa para o lugar certo.
  - Eu gostava mais de como estava antes... – Zayn sorriu de forma sapeca apontando para a minha barriga recém coberta e continuou deitado de lado.
  - Eu sei disso, Malik. Estava gostando até demais. – Imitei o sorriso dele e depois apontei para a porta com a cabeça. – Mas o que os nossos amigos inocentes iriam pensar se entrassem aqui e me vissem com a blusa no pescoço?
  - Que eu sou muito sortudo! – Riu e também se sentou, ficando de frente pra mim. - %Tah%, o que você quer de presente de Natal?
  - De onde saiu essa pergunta?! – A mudança completa de assunto me pegou de surpresa enquanto eu passava as mãos pelos cabelos, colocando-os no lugar.
  - Niall e eu estávamos conversando sobre isso ontem e algo que você falou me lembrou disso. – Deu de ombros sem dar muita importância. – E então?
  - Eu quero um bebê... – O olhei com toda a seriedade que consegui juntar e ele pareceu se assustar por um segundo ou dois.
  - Então vamos dar um jeito nisso! – Também ficou sério por uns dois segundos e pulou em cima de mim, nos fazendo deitar na cama mais uma vez.
  - Zayn, para! – Gargalhei enquanto era atacada e o empurrei pra sair de cima de mim. – Você é louco! Mas falando sério... Você já me dá tudo que eu preciso.
  - Você não é divertida, %Tah%. – Me reprovou pela minha resposta, mas pelo menos me soltou.
  - Mas e o que você quer de presente?
  - Você já me dá tudo que eu preciso. – Me imitou na maior cara de pau, mas acho que eu já devia esperar por isso.
  - Ugh. Eu devia ter perguntado primeiro, não devia?!

+++

  Pontualmente às 20h20min da noite o alarme do meu celular começou a apitar e avisar que estava na hora de acordar. Após passar quase a tarde inteira no apartamento de Niall, fui para casa e simplesmente me joguei na cama do mesmo jeito que estava e apaguei. Se não tivesse programado o despertador horas antes, teria dormido até o dia seguinte e perdido o episódio mais importante de toda a oitava temporada do X Factor inglês; pelo menos pra mim. Mesmo ainda um pouco sonolenta e sem saber nem como se usa as pernas para sair da cama, cocei os olhos e desliguei o toque irritante que vinha do meu iPhone. Como a porta do meu quarto estava aberta, pude escutar barulhos de conversas vindo do andar de baixo.
  Cambaleei para o corredor do segundo andar praticamente me arrastei escada abaixo, guardando meu celular no bolso do casaco que vesti pelo caminho. Julgando pela bagunça que vi na sala de jantar, os meninos já haviam comido e nem se deram ao trabalho de me esperar! Não que eu estivesse com fome, ou que o nervosismo fosse me permitir comer alguma coisa, mas ser considerada sempre é bom. Passei direto até chegar na sala, com o sono começando a me deixar em paz. Harry e Liam estavam na extremidade esquerda e direita, respectivamente, do sofá e Lou sentava no chão, abraçado com uma almofada, mesmo que ainda tivesse muito espaço para nós quatro.
  - Olha quem acordou! – Harry notou a minha chegada e bateu no espaço vazio ao seu lado.
  - Achamos que você ia dormir até amanhã... – Louis sorriu pra mim enquanto eu atravessava a sala para ir até o sofá.
  - Bem que eu queria mesmo! – Sorri de volta e me joguei no sofá, deixando Harry passar um braço pelas minhas costas e me abraçar. – Você está cheiroso, Hazza.
  - Eu tomei banho. – Beijou a minha testa depois que me aninhei em seus braços. Ainda era estranho pensar que ele era mais novo que eu e conseguia ser consideravelmente maior. – Você devia tentar.
  - HA-HA-HA, muito engraçado. – Fiz careta, mas até que ele tinha razão, pois ainda não tomara banho desde que acordara. – Tenho certeza que o Liam não se importaria com o meu cheiro!
  - Não mesmo. – Li se pronunciou pela primeira vez, abrindo os braços e esperando que eu fizesse com ele o que fazia com Harry.
  - Ei, ela é minha! – Haz apertou o nosso abraço e fez cara feia para Liam, que não gostou nada.
  - Não briguem por mim! – Ri ao me sentir disputada assim. Liam devia estar com ciúmes de Harry e vice versa, mesmo que pelos motivos mais bobos do mundo, então resolvi não dar a vitória para nenhum dos dois. – Eu sou do Boo Bear.
  - Ihh, sai pra lá! – Louis tentou me impedir de sentar ao lado dele, mas fiz corpo mole e só desisti quando estava praticamente sentada em seu colo. – %Star%!
  - Louis! – O imitei e até fiz cara de brava, então ele percebeu que não teria escolha.
  - O que vamos assistir agora? – Meu irmão rolou os olhos, mas me deixou colocar as pernas sobre as dele.
  - Vai começar o X Factor! Já tá na hora... – Olhei para o relógio digital na parede e aproveitei um momento de distração de Lou para roubar o controle remoto de sua mão.
  - E desde quando você assiste isso, %Tah%? – Haz levantou uma sobrancelha, mas ninguém me impediu de mudar o canal.
  - Desde sempre, ué! – Não sei se foi por culpa do nervosismo, mas minha voz falhou e denunciou a minha mentira. – Ok, nem sempre... Mas já assisti alguns episódios paralelos e é muito bom!
  - Eu assisti as primeiras temporadas porque o Simon é jurado... – Liam comentou e eu o olhei como quem pede ajuda. – Mas pode ser que essa temporada também esteja boa. Quem sabe?! Vamos ver.
  - Isso mesmo! – Comemorei e aumentei o volume da TV.
  Eu sabia que seria fácil convencer os meus amigos a assistirem aquele programa comigo. Não por eu conseguir qualquer coisa que quisesse, mas por causa do gênero do mesmo. No fundo todos eles achavam legal que novos talentos musicais tivessem essa chance de se mostrar e, possivelmente, ganhar um contrato de cinco milhões de dólares. Eles poderiam não ter a coragem de se inscrever na competição de verdade, mas invejavam quem subia ao palco toda semana. Isso era claro nos olhos de cada um. Graças aos deuses da música, Harry, Liam, Louis, Niall e Zayn tinham duas anjas da guarda que deram o primeiro empurrãozinho para que eles pudessem ver seus sonhos virando realidade.
  Logo que a primeira vinheta de abertura passou na tela, toda a nossa atenção estava presa ao programa. Eu não sabia o que esperar e nem se o concurso manteria a sua “regra” de anunciar os vencedores da primeira etapa naquela noite, mas tinha que esperar pra ver. O nervosismo que me consumia desde que acordei naquela noite só fazia aumentar e eu balançava os pés de um lado para o outro. Assim que o tal de Dermont O’Leary se apresentou como o host do programa e chamou os mentores, meu coração começou a tremer dentro do peito. Literalmente tremer... Foi então que eu percebi que era o meu celular no bolso do casaco e não o meu coração. Menos mal, né? Era uma mensagem de uma das minhas cunhadas e eu já imaginava o assunto:

“Tudo sobre controle, %Tah%! Não foi fácil, mas consegui convencer Zayn a assistir o programa. Na verdade, a família inteira está assistindo! – Dony.”

  Meu sorriso ao ler a mensagem foi tão animado que Louis tentou esticar o pescoço para ler o que estava escrito, mas eu não deixei. Pedi privacidade e ele entendeu; ou quase isso. Encaminhei essa mesma mensagem de Donyia para %Abi%, incluindo uma minha própria perguntando se tudo estava sobre controle quanto a Niall. Mesmo com a sua demora pra responder, o garoto que menos me preocupava era ele, pois era só fazer com carinho que Ni atenderia a qualquer pedido. Quando eu já desistia de aguardar uma resposta da minha ruiva preferida, o celular vibrou na minha mão:

“Por aqui também está tudo tranquilo... Será que vão demorar muito pra anunciar esse resultado? Eu quase não tenho mais unhas pra roer!”
“Espero que não demore...”

  Minha resposta foi breve e quase sem emoção. Não é que eu não estivesse animada, muito pelo contrário. Só não sabia nem como colocar os meus pensamentos em ordem, quanto mais formular uma resposta com mais de quatro palavras? “E se eles não passarem?” “E se eles passarem, mas não gostarem que a gente se meteu onde não era chamada?” “E se eles não passarem e descobrirem isso?” “E se eles passarem e gostarem?” Mais uma vez só me restava esperar pra ver. Assim como todas as coisas boas da vida, qualquer que fosse o resultado, todos teríamos uma grande surpresa. Para tentar disfarçar os meus nervos acelerados, levantei do chão e me joguei no sofá entre Liam e Harry. Nenhum dos dois me olhou, pois estavam entretidos demais com a apresentação de um homem chamado Marcus Collins que cantava a música Moves Like Jagger e animava a plateia toda. Como a boa bailarina que sou, prestei bastante atenção nas dançarinas que coreografavam em volta dele.

+++

  Apenas quando voltamos do terceiro intervalo do programa é que o assunto do concurso apareceu. A primeira vaga das cinco disponíveis foi preenchida por uma garota que aparentava ter quinze anos de idade, mas com uma voz de trinta. Carly alguma coisa. Não fiquei nada feliz, mas ainda tínhamos quatro vagas pra manter a esperança. Eu e %Abi% trocamos mensagens durante metade do show e nenhum dos meninos parecia ligar muito para o que acontecia na televisão, desconfiando apenas dos gritos e reclamações que eu não conseguia disfarçar quando a segunda, terceira e quarta vaga foram tomadas. Cada nova apresentação, cada novo comentário dos juízes e do apresentador faziam o meu sangue correr mais rápido e o meu coração quase sair pela boca.
  - Essas garotas são muito boas... – Harry comentou distraído ao meu lado.
  - São mesmo. – Eu concordaria com qualquer coisa que qualquer um falasse, até porque não estava prestando muita atenção, mas foi só parar pra escutar as quatro meninas que deviam ter a minha idade que eu fiquei chocada. Elas realmente eram muito boas. – Quem são?
  - Little alguma coisa, não captei o nome todo... – Liam também parecia encantado por elas e isso me incomodou. – A loira tem uma voz muito poderosa...
  - Se você diz. – Dei de ombros e olhei para as minhas unhas, deixando de lado a “girl band” que arrasava no palco.
  - Alguém está com ciúmes... – Louis cantarolou para Harry, que riu.
  - Cala a boca! – Dei um tapa na cabeça de meu irmão e Haz se protegeu de mim com uma almofada.
  Liam, por sua vez, se divertiu com aquela cena toda e deve ter gostado muito de me ver com ciúmes. Mesmo que eu nunca fosse admitir sentir isso. Uma coisa todos tinham razão era que aquela loira que eu não sabia – e nem queria saber – o nome tinha a voz mais “diferente”, digamos assim, que eu já ouvira. Pelo menos em uma mulher, é claro. Nós telespectadores não éramos os únicos a achar isso, pois após o seu solo na música cada um dos juízes ficou de pé para aplaudi-la; assim como a plateia. A Academy estava perdendo uma aluna e tanto... Pois essa garota talvez fosse digna até mesmo do papel principal da peça. “Ei, o que você está falando?” Minha consciência foi alertada quando o surto de “baixa confiança” tentou me persuadir a me sentir inferior. “Você pode não ser uma cantora, mas é a melhor dançarina do mundo! E além do mais, a música que Ed passou pra você aprender, é bem fácil. Vai ver só como vai surpreender a todos!” Naquele momento de nervosismo, em uma escala, minha mente só trabalhava com 08 ou 80, pois eu me sentia realmente mal ou incrivelmente bem.
  - Ela nem é tão boa assim! – Falei do nada, mesmo sabendo que o assunto já havia mudado. Atraí todos os olhares na minha direção e meus lábios se contraíram em uma careta.
  - Mas olha como ela é bonita, %Tah%! – Harry apontou para a TV. A apresentação já havia acabado, mas os mentores davam as suas críticas.
  - Você já viu olhos azuis que brilham tanto assim? – Liam perguntou a Harry e foi demais pra mim.
  - Vai lá atrás dela então, Liam! E você também, Harry. Se casem e tenham lindos filhinhos de olhos azuis. – Levei as mãos para o alto, irritada. Qualquer chance de gostar daquela banda ia por água abaixo. – Com licença.
  - %Tah%, onde você vai? – Lou me chamou quando passei por ele e fui em direção à sala de jantar. Ele se divertia com tudo que estava acontecendo.
  - Eu descobri o nome dela! – Percebi pelo canto do olho que Harry vinha atrás de mim, só pra provocar ainda mais. – Futura senhora Styles!
  - Não, ela vai ser a senhora Payne!
  Eu sabia que eles estavam apenas brincando, mas isso não me deixava nem um pouco menos irritada. Pra começo de conversa, só tinha uma vaga restante do concurso e minhas esperanças estavam por um fio. Segundo, eu realmente fiquei impressionada com a banda inteira daquela loira que parecia ter encantado os meninos. E terceiro, sempre fui possessiva demais, principalmente com aqueles que eu amo, então ver Liam e Harry babando por outra pessoa na minha frente não era lá mais a situação mais agradável. Em quarto lugar... Nós precisamos mesmo de uma quarta razão?! Acho que não.
  Bufei ao atravessar a mesa de jantar, tentando despistar os meninos. O que não adiantou em nada, já que cada um foi para um lado e eu fiquei encurralada no meio. Aos poucos eu parava de me irritar com os seus comentários e passava a segurar o riso. “É só brincadeira deles...” O bichinho do ciúme parecia me deixar em paz, mas ainda tinha que me livrar daqueles garotos sem dar o braço a torcer.
  - Me deixa passar! – Cruzei os braços ao olhar de um para o outro, me mantendo o mais concentrada possível para não rir.
  - Por quê? Está com medo de tentar passar por nós e ser atacada? – Liam levantou uma das sobrancelhas, me fazendo pensar no que me aconteceria se eu realmente tentasse.
  - Claro que não! – Claro que sim! Observei-os dar um passo na minha direção. – O que é isso? Se ficar o bicho pega e se correr o bicho come?
  - Mais ou menos. – Harry usou as mãos como garras e se aproximou um pouco mais.
  - Para com isso, gente! – Arregalei os olhos analisando as minhas opções. – O que é aquilo?
  - O que?! – Li e Haz olharam ao mesmo tempo para o lugar no teto que eu apontei, dando-me a chance de me abaixar e passar por baixo da mesa o mais rápido que eu consegui.
  - Estou livre! – Comemorei com uma risada, seguindo até o hall engatinhando e correndo o resto do caminho até a sala.
  - Não por muito tempo! – Louis apareceu de surpresa atrás de mim e me agarrou pela cintura.
  - LOUIS! SOLTA! – Me debati. Pois é, eu odiava ser a mais fraca entre os meninos porque sempre acabava sendo capturada como uma boneca de pano.
  - Tudo bem. – Deu de ombros e me soltou antes do que eu esperava, me fazendo cair no chão.
  - SOCORRO! – Gritei entre risos e a última coisa que vi foram três homens se jogando em cima de mim e quase me esmagando completamente.
  - Você não devia ter corrido! – Liam foi o segundo a se deitar sobre mim, ainda ficando em cima de Lou.
  - Ou ficado com ciúmes. – Harry acrescentou, sendo a cereja do bolo.
  - Não consigo respirar! – Fizemos uma bagunça tão grande que eu quase não reparei na música conhecida que vinha de algum lugar na sala. – EI, ESPERA! Estão escutando isso?
  “Nothing is fine, I’m torn! You’re a little late and this is how I feel…” Assim que fizemos silêncio e encaramos a televisão, o estado de choque foi geral. Ninguém fazia ideia do que estava acontecendo e eu não estava muito diferente. Demorei uns dez segundos para assimilar tudo que acontecia ao mesmo tempo e o meu grito de felicidade fez os três meninos atônitos saírem de cima de mim. Levantei-me em um salto que desafiava leis da física e corri até estar de frente ao aparelho de televisão. O X Factor estava acabando e o último grupo a passar para a segunda etapa foi anunciado. É claro que eu reconheceria os cinco meninos que apareciam cantando em um clube de karaokê em qualquer lugar.
  - Por que nós estamos na TV? – Harry foi o primeiro a quebrar o silêncio.
  - Eu não acredito nisso! – Bati palmas com um sorriso maior que eu, ainda de olhos vidrados na tela plana.
  - O que está acontecendo? – Liam se levantou e foi até o meu lado, querendo alguma luz.
  - %Tah%... – Lou também me chamou, mas só me virei pra eles depois que os créditos do programa começaram a subir. – O que você fez?
  - Não me matem, ok? – Eu pulava sem sair do lugar, nem tentando conter a minha animação. – Mas eu e %Abi% inscrevemos vocês cinco nesse concurso de novos talentos do X Factor... E vocês passaram pela primeira fase!

Capítulo XLVIII
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