Capítulo XLVI
Tempo estimado de leitura: 55 minutos
“I'm wide awake and I can see the perfect sky is torn. You're a little late I'm already torn...” A apresentação dos meninos foi muito boa, eu sei disso, mas sonhar com eles cantando Torn já era um pouco demais, não acha? Meu corpo estava um pouco dolorido, mas nada que um relaxante muscular não resolvesse em vinte minutos. Minha cama estava quentinha e embalava o meu sono tranquilo. %Abi% estava ali também, pois eu conseguia sentir o cheiro de seu shampoo de maçã verde mesmo sem ter que abrir os olhos. O fato de eu começar a perceber esses pequenos detalhes era a prova que eu precisava pra entender que estava despertando e acordando, porém, a música do meu sonho não se cessou quando eu abri levemente o olho direito e fiz careta com a claridade.
- Olha quem acordou! – %Abi% falou alto demais e me fez resmungar e puxar o edredom lilás até o meu ouvido. – Oh, desculpe. Estou gritando? Ou foi você que beber demais ontem a noite?
- Shhh, %Abi% linda... Fala baixinho... Bom dia, raio de sol... – Sussurrei dando uma espiada na minha amiga, notando que o meu notebook estava aberto em seu colo. Ambas sabíamos que eu passara dos limites na noite anterior e por isso devia ser o mais carinhosa possível com aquela garota que sempre cuida tão bem de mim. – O que você está fazendo?
- Editando o vídeo dos meninos. Não temos muito tempo pra mandar... – Falou normalmente, aparentemente me desculpando pela bebedeira. – Eu dei uma mexida no som e na imagem, pra melhorar a iluminação e tirar um pouco dos gritos.
- Tiveram muitos gritos, né? – Sorri ao me lembrar do grande sucesso dos meninos e já consegui descobrir o meu rosto para sentar na cama. – Eles foram incríveis.
- Foram mesmo! E eu odeio dizer isso, mas estava certa ao ter essa ideia de juntar todos. – Arrumou o óculos de grau sob o nariz e sorriu cheia de si.
- Como é? Primeiro que você AMA fazer isso. E segundo... A ideia não foi sua coisíssima nenhuma! – Contei nos dedos e ri daquela loucura que escutava. – Eu me lembro muito bem quando EU dei essa ideia!
- Você pode ter dado a ideia, mas que achou esse concurso fui eu. – Estirou a língua.
- Por pura sorte. – Dei de ombros. – Mas isso não importa agora. O que temos que fazer?
- Bem... Pelo que eu entendi, só precisamos preencher essa ficha de inscrição com os dados dos participantes... – Minimizou a janela do vídeo e me mostrou do que estava falando. O site do X Factor tinha uma área reservada só para esse concurso de novos talentos e tudo estava bem explicado ali, pelo menos na parte que deu pra ler. – Eu estava te esperando acordar, porque tem coisa aqui que eu não sei.
- Pode perguntar o que quiser e eu respondo. – Provavelmente %Abi% tinha duvidas quanto ao nome completo de algum dos meninos e datas de nascimento. Levantei da cama com cuidado pra não acabar ficando tonta e amarrei os cabelos de qualquer jeito, usando a liguinha que sempre ficava em meu pulso. – Só vou ao banheiro, mas estou te escutando.
- Então vamos do começo... – Tirou os olhos de mim assim que virei de costas e mexeu no computador. – Por ordem alfabética, o nome completo e data de nascimento. Harry é o primeiro, certo?
- Yep. – Deixei a porta do banheiro encostada para que pudéssemos nos comunicar enquanto eu fazia a minha higiene matinal. – Harold Edward Styles. Dia primeiro de fevereiro, 1994.
- Eu não sabia que ele era tão novo! – A escutei falar mesmo com o barulho da descarga. – Próximo! Liam ou Louis?
- %Abi%, você não conhece o alfabeto? – Ri, me concentrando em colocar um pouco de pasta de dente na minha escova cor de rosa. – Liam James Payne, 29 de agosto, 93.
- Só um minuto... – Também escutei o barulho de teclas e com isso comecei a escovar os dentes. – E eu conheço o alfabeto sim, só estou te testando. Louis Tomlinson, esse eu sei.
- Quase. – Falei com a boca “cheia”. – Louis William Tomlinson. 24 de dezembro, 91.
- Véspera de natal! Aliás, o aniversário dele está chegando. Vai ter festa?!
- Eu acho que vamos fazer alguma coisa, mas ainda não falei com ele...
- Moving on... Quem é agora? A, b, c, d... – Sim, ela começou a recitar o alfabeto.
- Niall Horan, sua besta. – Rolei os olhos e quase machuquei a gengiva por estar rindo. – Esse você sabe, né?
- Claro que sei! Niall Pudincup Horan.
- Troque o “pudincup” por “James” e aí tudo certo. – Peguei um pouco de água com as mãos para fazer gargarejo. – Huhum huum hum, hum?
- Não entendi nada depois de huhum. – Riu.
- Você sabe o aniversário dele, certo? – Traduzi depois de lavar a boca e me secar com a toalha.
- 13, setembro, 93. Bingo! – A vi comemorar assim que saí do banheiro.
- O último, mas não menos importante... – Suspirei com um sorriso bobo e me sentei na ponta da cama. Diferente do que eu esperava, não estava de ressaca e meu corpo começava a perder as dores. – Zayn Jawaad Malik. 12 de janeiro, 93.
- Pronto! – Fez sinal de “ok” com os dedos depois que terminou de digitar. – Agora precisamos de um número de celular para contato... Posso colocar o seu?
- Pode sim. – Cruzei as pernas. – Mas isso me torna a empresária da banda?
- Mais ou menos. – Digitou mais algumas coisas, o que me fez pensar que ela sabia o meu número de cor. – Acho que é só isso. Quer ver o vídeo antes de mandar?
- Eu confio na sua capacidade. E tenho medo de começar a chorar de emoção se for ver a apresentação de novo. – Abracei os joelhos e fiz bico.
- Então ótimo! Aliás, o Zayn está lá embaixo te esperando. – Falou super naturalmente e me fez pular da cama.
- Como é?! E você não me avisa? – Passei a mão pelo cabelo amarrado, abaixando alguns fios bagunçados.
- Ele me mandou uma mensagem quando você estava no banheiro...
Nem esperei pelo resto da frase e já comecei a correr para fora do quarto e escada abaixo. Desde quando ele ia para a minha casa em um sábado de manhã e avisava %Abi% e não eu? Desde quando ninguém me avisa quando o meu namorado vem me visitar? “Isso não importa, %Star%.”, minha consciência me fez ficar calma na medida do possível e eu consegui chegar na sala de casa. Entretanto, apenas Harry estava por ali e se deliciava com uma xícara de chá. “Bom dia, Tah”, foi o que ele falou, mas eu o ignorei ao dar meia volta. Atravessei o hall novamente e terminei na sala de jantar. Toda a minha pressa foi embora assim que eu avistei Zayn encostado na bancada americana conversando com Louis.
- %Star%, acordou! – Louis me viu primeiro e acenou com um sorriso.
- Morning, beautiful. – Zayn se virou ao escutar o meu nome e sorriu com os braços abertos.
- Bom dia! – Sorri mais ainda e saltitei até ele, me jogando em seus braços. – Eu não estava dormindo até agora, é que a imprestável demorou pra me avisar que você estava aqui.
- Não fala mais comigo? – Vi pelo canto do olho que Louis cruzou os braços.
- Ela também não falou comigo. – A voz de Harry veio atrás de mim, mas não me esforcei para olhá-lo.
- Feliz um mês de namoro. – Zayn sussurrou na minha orelha.
- Você lembrou! – Fiquei bem surpresa e o encarei, ignorando qualquer outra pessoa. – Feliz primeiro mês de namoro!
- Como eu iria esquecer? – Tocou meu nariz com a ponta do seu e foi a minha deixa para roubar um selinho demorado. – Vim te buscar pra irmos passear. Topa?
- Claro que sim! – Dei um pequeno pulo sem sair do lugar. – Pra onde vamos?
- Você vai saber quando chegar lá. – Beijou a minha bochecha e meu sorriso diminuiu um pouco.
- Então como vou saber o que vestir? – Cruzei os braços, mas ele não largou a minha cintura.
- %Abi% já deve ter cuidado disso pra você.
- Vocês dois estão cheios de segredo comigo hoje! – Olhei para o lado emburrada, mesmo sabendo que devia confiar naqueles dois.
- Vai valer à pena, %Tah%. – Balançou-me de um lado para o outro na tentativa de me fazer sorrir; o que conseguiu na mesma hora.
- Tudo bem! – Rolei os olhos com um riso baixo. Ele não se cansava de conseguir tudo que queria? – Me dê uns minutos pra trocar de roupa, então?
- Só não demore muito. – Sorriu e me soltou.
- É melhor sentar, Zayn. – Lou deu a entender que eu demorava pra me arrumar, mas ele sempre era o último a ficar pronto e não eu!
- Muito engraçado. – Fiz careta para o meu irmão e me dirigi para a saída, passando por Harry. – Bom dia, Hazza-bear.
- Bom dia, bella. – Ele bagunçou os meus cabelos quando nos cruzamos e sorriu.
Depois que Harry arriscou no italiano ao me chamar de bella, eu saltitei o resto do caminho pelo hall até chegar nas escadas. Corri para o quarto, pois já não tinha mais tempo a perder. Eu não iria dar esse gostinho a Louis de jeito nenhum. Ao abrir a porta, quase a levei ao chão e %Abigail% gritou de susto. Eu teria rido se não tivesse me assustado também, mas por outro motivo. Pelo menos metade das minhas roupas estava fora do closet e espalhadas pelo chão e móveis. Parecia que um furacão passara por ali e meus olhos se arregalaram. Eu já tinha entendido que ela iria escolher a roupa que eu deveria usar nesse tal passeio, mas tinha mesmo que fazer aquela bagunça toda?
- Não vou nem perguntar. – Só cruzei os braços e balancei a cabeça.
- Melhor assim. – Sorriu toda sapeca e apontou para um conjunto de roupas esticado em cima da minha cama. – Diga aí, %Tah%... Eu devia ser a sua personal stylist.
- Acho que podia ser pior... – Não dei o braço a torcer na frente dela, mas até que o resultado ficaria legal.
- Mal agradecida! – Segurou a minha mão e me puxou para dentro do quarto, fechando a porta. – Eu vou te ajudar!
- Eu ainda sei trocar de roupa sozinha, %Abi%. – Resmunguei, mas não adiantou. A menina foi pegar alguma coisa em sua maleta e eu já me preparava para os milhares de cremes que ela me obrigaria a passar.
- Ainda bem que você tem uma pele bonita quando acorda, então eu não terei muito trabalho por esse lado. Mas teremos que dar um jeito nesse seu cabelo aí. – Nem me olhou ao pegar um pote roxo com o desenho de uma uva nas laterais.
Como sempre, eu não teria escolha alguma. Acenei que sim com a cabeça e dei um pequeno suspiro, tirando a blusa do meu pijama e vestindo o sutiã preto e sem alças que %Abi% separara junto das outras peças de roupa. Eu não estava fedendo e nem me sentia suja, por isso um banho não era muito necessário. A calça do pijama também se foi rapidamente e deu lugar à meia calça preta que ia até um pouco acima do joelho. Usei o desodorante que encontrei no meio das coisas e corri pra entrar na saia e blusa que me foi escolhida. Como também não iria morrer de frio, vesti a jaqueta pesada por cima de tudo. Foi fácil me arrumar até ali, mas então %Abi% puxou a cadeira da minha escrivaninha e me mandou sentar nela.
- Vai ficar linda! – Cantarolou e soltou os meus cabelos assim que eu me acomodei na cadeira.
- E você sabe para onde serei levada? – Arqueei uma sobrancelha na tentativa de conseguir alguma informação.
- Sei sim. – Usou a minha escova de cabelo para pentear os meus fios castanhos e prestou bastante atenção nas pontas claras. – Mas não te digo.
- É claro que não! – Cruzei os braços e fiz uma pequena careta ao ter o cabelo puxado. – Outch!
- Não reclama! – Parou por um instante e jogou algumas coisas em cima de mim. – Vai se maquiando enquanto isso.
- Ok, ok. – Levantei as mãos em sinal de paz e peguei o pequeno espelho e o lápis de olho no meu colo. – Eu só estava curiosa...
- Depois desse tempo todo você ainda não conhece o namorado que tem? Ele adora fazer surpresas, principalmente pra você. – Pegou o pote roxo –que eu descobri ser um modelador de cabelo- e separou algumas mechas para arrumar.
- Eu sei disso! – Parei um pouco de pintar os meus olhos para observar o sorriso bobo que apareceu em meus lábios.
- Você sempre faz essa cara quando fala dele. – Notei que ela me olhava pelo reflexo do espelhinho e minhas bochechas ganharam um tom mais avermelhado.
- Não sei do que está falando! – Meu sorriso acabou crescendo e voltei a me concentrar na maquiagem que eu tentava fazer.
- Então devia ver a cara que ele faz quando escuta o seu nome. – Brincava com o meu cabelo e o enrolava nos dedos, provavelmente tentando criar algumas ondulações. – É bem engraçado, pra falar a verdade.
- Se você diz... – Tentei não ficar pensando naquilo, mas gostei muito do que escutei. Após o lápis de olho, fiz um risco suave com o delineador em cada pálpebra e finalizei com uma sombra cor de rosa bem clara. Ainda era cedo e eu não queria me arrumar como se estivesse indo para uma festa. – Como estou?
- Perfeita! – Se inclinou sobre mim para olhar o meu rosto e me passou um batom da mesma cor da sombra. – Já estou quase terminando o seu cabelo.
E realmente estava quase terminando. Menos de um minuto depois ela já estava lavando as mãos no banheiro para tirar a cremosidade causada pelo modelador e eu mexia nos cabelos super animada. Não importava o quanto eu os bagunçasse, os fios se tornaram obedientes e voltavam para o lugar. Eu teria que dar um jeito de roubar aquele modelador, mas não tinha tempo pra isso agora. %Abi% me entregou a bolsa que eu deveria levar e informou que tudo que eu precisava já estava ali dentro. Tive medo de espiar e encontrar uma faca ou coisa parecida, mas conhecendo aquela ruiva não seria nada impossível. Também fui obrigada a colocar um chapéu na cabeça, pois segundo a minha stylist, eu ficava fofa com esse tipo de acessório e poderia tirar quando chegássemos “lá”. Mas quem disse que ela disse onde esse tal de “lá” ficava? Me perfumei bastante e coloquei algumas jóias para finalmente calçar as botas de cano médio. Tudo que eu menos queria era um salto alto, mas teria que fazer aquele esforço.
- Babe, está pronta? – Zayn bateu na porta.
- Prontíssima!
+++ O bom de se ter um namorado, além das razões óbvias, é que quando você está com frio pode se aninhar nos braço dele e ser aquecida da forma mais gostosa do mundo. Era bem assim que Zayn e eu caminhávamos pelo bosque; abraçados e agarrados um ao outro. As pequenas gotas de chuva que caiam do céu eram interceptadas pelas folhas das árvores altas que tomavam conta das laterais do caminho que percorríamos, por isso não nos incomodavam. Zayn continuava sem querer me contar para onde estava me levando, mas àquela altura eu pouco me importava. Só de estar ao lado dele e longe do resto do mundo já era perfeito. Eu também não ligaria a mínima se nosso passeio fosse pela floresta cheia de animais selvagens e mosquitos insuportáveis. O clima poderia estar pior e eu continuaria feliz. Tinha um namorado perfeito no meu braço direito e um café quentinho no esquerdo. Ah, é, passamos em uma Starbucks antes de seguirmos com o passeio.
- Ainda falta muito pra chegar? – Perguntei ao levantar o rosto para olhar Zayn, que manteve o seu para frente.
- Você perguntou a mesma coisa cinco minutos atrás! – Riu divertido.
- Sorry. – Fiz bico. – Eu só estou curiosa...
- Como sempre. – Me olhou com aquele mesmo sorriso impecável e tocou o meu queixo com a ponta dos dedos. – Mas dessa vez a minha resposta vai ser diferente... Porque nós chegamos.
- Chegamos?! – Separei o abraço para olhar em volta animada. – Onde estamos?
- Estamos em Little Venice. – Apontou para o canal em nossa frente, onde o rio Tamisa corria tranquilamente em seu curso e alguns barcos alongados estavam parados em sua margem. – Está vendo aquele ali?
- O barquinho colorido? – Olhei para onde ele estava apontando. O barco devia ter uns quatro metros de comprimento e era bem estreito, mas seguro e aconchegante.
- Esse barquinho é chamado de narrowboat, pela sua forma estreita. Muitas pessoas costumam viver nesses barcos, sabia? – Segurou a minha mão e nos aproximamos da margem.
- Então você teve a ideia de comprar um pra morarmos juntos? – Me abaixei perto da janela pra conseguir ver melhor o lado de dentro.
- Quase isso. – Riu. – Não vamos morar... Mas vamos passar o dia em um.
- Sério?! – Sorri bem animada com aquela nova aventura que teríamos pela frente. – Até que pra alguém que tem medo de água, você sempre dá um jeito de ficar perto dela.
- O que posso dizer? Não há nada que eu não faça por você. – Deu o primeiro passo e pulou para a traseira do barco, esticando a mão para que eu fizesse o mesmo.
- E onde está o piloto? – Peguei todo o apoio que consegui e me juntei a Zayn na popa da embarcação.
- Você está olhando pra ele. – Me deixou absorvendo aquela informação e foi desatar a corda que amarrava o barco na doca.
- Malik, você já dirigiu um barco desses antes?
- Não. Mas sempre existe uma primeira vez, né? – Desceu os três degraus que levavam até a entrada da cabine e eu o segui. – E acredito que o termo correto seria: “Pilotar um barco desses”.
- Entendi, capitão. – A aventura seria maior do que eu imaginava.
Zayn tirou uma chave do bolso para poder abrir a porta da cabine e me deixou entrar primeiro, como o bom cavalheiro que era. Disse para eu me sentir em casa e foi bem isso o que eu fiz. O lado de dentro parecia uma casinha de bonecas, pois tudo era pequeno e bonitinho. Logo na entrada, um sofá-cama vermelho tomava metade do espaço e foi ali que eu deixei a minha bolsa e chapéu. Um pouco mais adiante havia uma “cozinha”, ou seja: uma bancada, fogão, frigobar e pia; seguida por uma espécie de mesa com apenas duas cadeiras. Não sei como alguém consegue de fato morar em um narrowboat, porque é simplesmente pequeno demais! De qualquer forma, continuei o meu passeio para conhecer aquela embarcação e encontrei duas portas no fim do corredor: A primeira era a entrada do banheiro igualmente pequeno e a seguinte levava para frente do barco, onde a cabine do piloto ficava. Mesmo o barco ainda não estando ligado, ou seja lá qual for o termo certo, a correnteza do Thames já nos colocava em curso. Fui para o lado de fora sabendo que Zayn me seguiria. Com certeza aquela surpresa me pegou desprevenida, já que eu nunca teria pensado em algo assim.
- E então, o que acha? – Como era de se esperar, Zayn se juntou a mim na parte da frente da embarcação.
- Isso é tão legal! – Sorri e subi a pequena escada que levava até a parte mais frontal. – Vem aqui...
- Você não está pensando no que eu acho que está pensando... Está? – Riu, mas me seguiu de qualquer forma.
- Estou! – Também ri e o esperei se juntar a mim ali em cima. A primeira coisa que fiz foi dar as costas pra ele e abrir os braços no maior estilo Titanic. – Oh, Jack... I’m flying!
- Só não caia, Rose! – Segurou as minhas mãos e se posicionou atrás de mim, dando-me todo o equilíbrio que eu precisava.
- Every night in my dreams, I see you, I feel you... That’s how I know you go on… - Fala sério, não há momento melhor pra cantar a música tema do filme mais romântico dos últimos tempos do que em um barco de verdade. – Far across the distance and spaces between us...
- Como cantora você é uma ótima bailarina. – Zayn me interrompeu com uma risada e acabou com todo o romantismo do momento.
- Malik! Uau, muito obrigada. – Cruzei os braços desistindo de interpretar a Rose ou qualquer outra personagem. Eu sabia que não cantava bem, ainda perto de quem estava, mas ele tinha mesmo que passar na minha cara?!
- O que foi que eu falei? – Se fez de inocente, mas as suas risadas o denunciavam. Zayn me segurou pela cintura e fez-me girar até estar de frente pra ele. – Por que você não deixa a cantoria pra mim e fica só com a dança?
- É melhor mesmo. – Dei de ombros e acabei sorrindo por não conseguir ficar brava com ele nem de brincadeira. – Mas seria bom ter uma segunda opção...
- Eu sei qual pode ser a sua segunda opção. – Sorriu malicioso e me puxou mais pra perto.
- Você não está pensando no que eu acho que está pensando, está? – Tentei imitar a voz dele por engrossa a minha, mas acabou não dando muito certo.
Fiz o garoto rir e a minha única alternativa para pará-lo foi colar as nossas bocas. Ok, não a minha única alternativa... Mas a minha preferida, com certeza. O envolvi com os braços pelo pescoço e toda a graça desapareceu em um fechar de olhos. Modelei os lábios dele com os meus, sendo o mais delicada possível. Zayn fez o mesmo e retribuiu o beijo com paixão e quase calor; se é que me entende. Fiquei o mais parada possível, pois ainda tinha um pouco de noção de onde estava e não seria nada legal cair no rio, principalmente por ser a única ali que realmente sabia nadar. O garoto em meus braços também não se mexeu muito, mas algo não estava certo ali... E não, eu não me referia às pessoas que podiam estar nos olhando de outros barcos e nem de pedestres que passeavam pelas margens do rio. O caso é que a nossa própria embarcação começou a mover-se de forma um tanto estranha.
- Baby... Você está sentindo isso? – Afastei um pouco os nossos rostos e olhei para os lados.
- Estou... – Sussurrou, mas não estávamos falando da mesma coisa. - Não isso... – Estreitei os olhos em reprovação e dei meia volta para descobrir o que me incomodava. – Nós saímos do curso... Zayn, vamos bater!
É óbvio que eu me desesperei, mas Zayn ainda levou alguns segundos para entender o que estava acontecendo. Culpa do sangue que demorou para subir para a sua outra cabeça, cof cof. Como eu já desconfiava, um narrowboat não foi feito para ficar navegando por aí com o seu motor desligado e por esse motivo foi fácil começarmos a virar de lado, causando a proa e a popa a irem de encontro com as margens do canal – que era bem mais estreito que o comprimento do barco. Ao retomar seus sentidos, meu namorado saiu correndo o mais rápido que pode até a cabine de pilotagem e eu fui deixada ali sem saber o que fazer. Em questões de segundos nós iríamos nos chocar e eu tinha medo até de pensar nos danos que poderiam ser causados à embarcação. “O que eu faço agora?!” Olhei em todas as direções possíveis e Zayn não parecia estar menos perdido que eu. Por impulso, a primeira coisa que passou pela minha cabeça foi pular de volta para a passarela de pedra onde a batida iria acontecer. A distância não era muito grande, por isso obtive sucesso no meu salto. Escutei um grito perguntando o que eu estava fazendo, mas não tinha tempo para explicar o meu plano.
Enquanto Zayn sofria pra dar partida no motor do barco e obter controle sobre ele, eu me abaixava até quase ficar de joelhos no chão. Para a minha sorte, o narrowboat não era tão pesado assim, então consegui segurar a sua “ponta” e empurrá-lo para longe da borda, evitando a colisão. Bem a tempo, o motor finalmente resolveu cooperar conosco e a velocidade do barco aumentou consideravelmente, voltando a apontar para frente e seguir seu curso. Vi Zayn comemorar na cabine do capitão e eu fiz o mesmo, esquecendo de um pequeno detalhe; como eu iria voltar?
- %Tah%, nós conseguimos! %Tah%? – Zayn parecia me procurar, achando que eu já estava dentro do barco novamente.
- Zayn, eu preciso de ajuda! – Eu andava em passos largos pela calçada, tentando criar coragem para pular em uma distancia bem maior que antes.
- O que você ainda está fazendo aí? – Levou as mãos até a cabeça e gargalhou achando aquela situação extremamente hilária.
- Eu estava salvando o nosso passeio! – Gritei em resposta tentando ser mais rápida.
- Mas o passeio só vai ser bom se você estiver do lado de cá! – Caminhou até a borda e esticou as mãos na minha direção, ainda rindo.
- Então você deveria me ajudar! – Com certo esforço consegui tocar na mão dele com a ponta dos meus dedos, mas ainda não era o suficiente. – E não ficar rindo como um maluco!
- Ok, ok, desculpa! – Tentou segurar o riso e agarrou a minha mão com força. – Agora você tem três segundos pra pular.
- Como assim? – Minha resposta não viria da boca dele, porque assim que eu olhei para a minha frente, vi que a calçada só tinha mais alguns poucos metros antes de se transformar em um túnel por onde só embarcações passavam. – Deixa pra lá!
Como eu não tinha mais tempo pra criar coragem ou pensar em uma forma mais segura de saltar para dentro do barco, respirei fundo para pular de qualquer jeito. Zayn entrelaçou nossos dedos com mais firmeza, sem rir tanto dessa vez. Utilizei alguns princípios do ballet, como dobrar o joelho e pegar o maior impulso possível no chão, e me joguei de qualquer jeito nos braços do garoto que me aguardava. Em questão de segundos tivemos que nos abaixar para não bater a cabeça no túnel e com isso acabamos nos atrapalhando e caindo na madeira úmida. Por sorte não tivemos muitos danos e eu não torci o pé mesmo estando com um salto tão gigante quanto aquele.
- Você está bem? – Perguntei ao sair de cima de Zayn, mas continuando abaixada.
- Acho que você quebrou minhas costelas quando caiu em cima de mim. – Fez uma careta de dor e eu realmente me assustei. – Estou brincando, sua besta.
- Você é muito idiota, sabia disso? – Rolei os olhos e o empurrei assim que ele tentou se levantar, causando uma nova queda.
- %Star%! – Riu depois de voltar ao chão e tentou agarrar o meu braço. – Era uma brincadeira!
- Sai daqui! – O túnel acabou e junto com os poucos raios de Sol que atravessavam as nuvens, eu pude me levantar e sair de perto do garoto caído. – Não quero saber!
- Volta aqui! – Levantou-se mais rápido do que eu gostaria, me fazendo apressa o passo.
- Não!
Eu não estava brava ou com raiva, por isso até ria de vez em quando durante a minha tentativa de fuga. Fui direto para a entrada do barco e passei correndo pelo corredor apertado até chegar na dita cozinha. Foi naquele momento que eu parei para olhar pra trás e descobrir que Zayn já não me seguia mais, o que me surpreendeu, e eu não escutava mais som algum além do barulho normal da água do rio correndo abaixo de mim. Aquilo era suspeito, muito suspeito... Conhecendo Zayn como eu conhecia, tinha certeza que ele estava aprontando algo. Fui dando pequenos passos para trás, sempre mantendo o olhar na porta aberta no fundo do barco, aguardando alguém aparecer ali do nada. Uma corrente de ar vindo por trás de mim balançou os meus cabelos levemente eu senti um pequeno arrepio.
- RAAAAAAAAWR. – Fui agarrada pela cintura por dois braços fortes e levantada do chão.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAH! – Mesmo sabendo que era Zayn, fui surpreendida e gritei me debatendo para me soltar daquele terrível monstro que queria comer as minhas entranhas. – MALIK!
- TOMLINSON! – Me imitou até no tom que eu usei e me colocou no chão, mas não me soltou. – Você devia ter visto a sua cara...
- Eu não acredito que você fez isso! – Escondi o rosto nas mãos ignorando as risadas que eu escutava. Ele devia ter dado a volta pelo lado de fora do barco e eu me senti no mínimo muito burra por não ter antecipado isso. – E não acredito que eu caí nessa!
- Eu sou um gênio, %Tah%. – Deixou um beijo estalado na minha bochecha e se jogou no sofá avermelhado que estava próximo de nós, me levando junto.
- Como é que eu fui me apaixonar por alguém tão idiota, meu Deus?! – Olhei para cima ao fazer a minha pergunta retórica e Zayn se acomodou no pseudo divã.
- Eu sei como. – Apoiou a cabeça em uma almofada para ficar mais confortável e tirou os tênis com os próprios pés.
- Pois essa eu quero escutar. Como? – Arqueei a sobrancelha e me inclinei para tirar os meus próprios sapatos e ficar confortável. Já que não queria cair mais uma vez, também retirei a meia calça escorregadia e a guardei dentro das botas.
- É simples, babe. – Assim que terminei de ficar a vontade, Zayn segurou o meu braço com cuidado e fez com que eu me deitasse ao seu lado. – Sou irresistível.
- Nah, você está certo. – Dei de ombros e me acomodei em seus braços, entrelaçando as nossas pernas para ocupar o menor espaço possível naquele sofá que já não era tudo isso. – A verdadeira dúvida aqui é como você se apaixonou por mim.
- Essa é mais fácil ainda! – Pegou a minha mão direita e começou a brincar com os meus dedos. Seu olhar estava preso a eles e ao anel que a minha avó me dera e eu nunca tirava. Diferente de antes, aquilo não seria mais uma piada ou brincadeira. – Eu me apaixonei porque você sempre sorria.
- Fácil assim? – Sorri sem nem perceber e o olhar dele se voltou para os meus olhos.
- Fácil assim. – Também sorriu e encostou a testa à minha.
- Então você não é tão idiota assim... – Ri baixo e toquei seu rosto com a ponta dos dedos que o distraiam anteriormente. – Mas é bobo.
- Acho que posso conviver com isso. – Mordiscou o próprio lábio inferior e atraiu minhas íris no mesmo instante.
- Eu gosto quando estamos juntos... Só nós dois. – Levantei o olhar para estudar o rosto anguloso e perfeito demais daquele garoto, que de perto ficava ainda mais lindo.
- Yeah? Por quê?
- Porque é fácil. Eu posso ser eu mesma, sem precisar me preocupar em ser perfeita o tempo todo. A bailarina perfeita, a amiga perfeita, a filha perfeita... Eu sou só... Só eu. – Suspirei ao terminar de falar, acariciando a lateral do pescoço de Zayn com a ponta das unhas, arrancando um arrepio discreto. - Pra mim, quando você é só você... Isso sim é perfeição.
Eu não sabia o que responder e tampouco precisava. Apertei um pouco mais o abraço e deitei o rosto no peito de Zayn, podendo sentir a sua respiração pesar. Ele encostou a cabeça na minha e começou a passar os dedos pelo meu cabelo, desembaraçando alguns fios e fazendo um cafuné gostoso. Todos os problemas ficaram para trás e aquela paz que sempre me atingia quando Zayn e eu ficávamos juntos tomou conta do barco inteiro. Aparentemente o narrowboat estava em “piloto automático” e fui assegurada que nenhum outro acidente poderia acontecer e fechei os olhos tranquila.
Infelizmente, aquela tranquilidade não durou muito, me obrigando a confirmar o ditado popular que diz que “tudo que é bom dura pouco”. Minha bolsa ainda estava em um canto do sofá e ela começou a vibrar e tocar. A não ser que aquele fosse um novo dispositivo fashion, era o meu celular que estava recebendo uma ligação. “She’s a very kinky girl... The kind you won’t take home to mother...” E de acordo com aquela música, eu já sabia bem quem era a criatura infeliz que tentava falar comigo. Fechei os olhos com força, torcendo para que o toque se encerrasse e eu não fosse obrigada a atender.
- Uhn, %Tah%? – Fui cutucada de leve. Zayn devia achar que eu estava dormindo e por isso não me mexi para atender.
- Já ouvi... – Abri os olhos e fiz um bico enorme. – É a %Abi%. Você se importa se eu atender?
- Não mesmo. – Sorriu e levantou o corpo até ficar sentado. – Eu vou preparar as coisas para o nosso almoço enquanto isso.
- Só não se perca. – Também me sentei e o observei se espreguiçar demoradamente.
É claro que ele não iria se perder, porque o barco era pequeno demais até pra isso. Sim, foi uma piada, pode rir agora. Haha. Enfim, ao tempo em que eu consegui pegar o meu celular de dentro da bolsa, %Abi% já desistira de ligar, mas quem não desistiria de falar com ela era eu. O momento ‘cuddles’ entre Zayn e eu já tinha sido arruinado pela sua interrupção, então eu tratei de retornar a ligação. Ela podia não bater bem da cabeça e ser impulsiva, mas sabia que eu estaria curtindo a minha comemoração de um mês de namoro, por isso não ligaria a não ser que fosse algo importante.
Levei o aparelho até a orelha e dei uma última olhada em Zayn, que procurava algo dentro do frigobar. Ele não estaria nem um pouco interessado na conversa com a minha melhor amiga, mas ainda assim preferi sair da cabine quentinha e enfrentar o lado de fora. Meus pés descalços não gostaram muito daquela ideia, porém não os dei muita escolha e os obriguei a pisar na madeira fria. %Abigail% devia estar testando a minha paciência, pois esperou até o último beep para atender.
- Hey, little bunny, como está o passeio amoroso? – Eu podia quase ver a sua carinha de “owwnt”.
- Estava ótimo até você me ligar! – Respondi com menos da metade da sua animação. – E “little bunny”?
- Achei que precisávamos de um apelido fofo! Já estamos nesse nível de relacionamento.
- Ok, bitch, eu concordo. – Ri de mim mesma e me sentei na escadinha; aquilo iria demorar. – Mas anyway... Espero que você tenha me ligado por algo importante.
- Por que eu te liguei mesmo? – Rolei os olhos ao escutá-la falar aquilo. – AH, É! Eu mandei o vídeo certo? E aí você recebeu um e-mail de resposta...
- Espera, espera... – Levantei a mão direita em sinal de “pare” mesmo que ninguém pudesse ver. – Eu recebi um e-mail? Como você sabe?
- Por favor, %Tah%... “McFly123” não é uma senha muito difícil de ser adivinhada. – Droga! Eu devia saber que deixar o meu notebook nas mãos dela não seria uma boa ideia. – Eu mandei o seu e-mail na ficha de inscrição, junto com o seu número de telefone. E adivinha?! Recebemos a confirmação! Os meninos estão oficialmente no concurso!
- Yaaaaaay! – Vibrei um pouco alto demais. – E o que dizia no e-mail?
- Nada muito sério, só que os produtores e uma equipe especial estarão avaliando pra escolher os melhores e blábláblá... E que o resultado sai no dia onze de dezembro. Acho que era só um e-mail automático, mas mesmo assim, né?
- Onze de dezembro?! Isso já é semana que vem... – Fiquei preocupada com aquela data porque quem poderia me garantir que o nosso vídeo seria visto a tempo?
- Quarta feira, pra ser mais exata. Mas não se preocupe, %Tah%, vai dar tudo certo... – Ela não parecia tão certa daquilo, mas tentava nos acalmar.
- Vai sim, claro que vai! – Forcei um sorriso e me obriguei a me manter positiva. – Sem querer ser chata nem nada, %Abi%, mas eu tenho um tenho um namorado me esperando lá dentro...
- Já entendi tudo. – Deu um daqueles risinhos de quem entende até demais. – Vá lá, little bunny. Aproveiteeeeeee.
- Aproveitareeeeeei. – A imitei cantarolando, mas me senti um tanto ridícula ao fazer isso. – Bye, little bitch.
E com essa despedida carinhosa eu desliguei o telefone e o guardei no bolso da minha jaqueta. Pude me levantar da escada e voltar para dentro da cabine, onde a primeira coisa em que bati os olhos foi Zayn, que se encontrava no mesmo lugar de antes; na “cozinha”. A única diferença era que ele não estava mais todo agasalhado como antes e seu casaco se encontrava junto da minha bolsa no sofá. Eu podia entender bem porque ele estava apenas com a sua camisa branca, já que o forno do fogão parecia estar ligado e isso alterava bastante a climatização do ambiente. Ei, lembra quando eu disse que gostava quando ele usa azul? Acontece que eu também gosto quando ele usa branco. Ou preto. Ou qualquer outra cor, vamos combinar. Também já sentindo o frio ir embora, deixei minha jaqueta escorregar pelos meus ombros e cair para trás. A joguei de qualquer jeito por cima da de Zayn e caminhei até o mesmo.
- O que o capitão/chef vai fazer para o nosso almoço hoje? – Fiquei na ponta dos pés para poder abraçá-lo por trás e pousar o meu queixo em seu ombro, bem como ele gostava de fazer comigo.
- Pizza caseira! – Me olhou de esguelha e sorriu todo orgulhoso de si mesmo.
- Você que fez isso? – Dei uma espiada na bancada um pouco suja de farinha e na massa que ele tinha em mãos.
- Eu mesmo. – Como não tínhamos um rolo de macarrão por ali, ele teve que estirar a massa com as próprias mãos e ficou super sexy ao fazer isso. – Você não vai me ajudar?
- Eu adoraria, sabe? – Comecei a distribuir alguns beijos pelo pescoço e ombros do garoto. – Mas tem um pequeno problema...
- Qual? – Perguntou com a voz um tanto trêmula, o que fez sorrir.
- Eu não consigo tirar as mãos de você. – Sussurrei em seu pé do ouvido com uma risada baixa em seguida.
O que eu falei era completamente verdade, pois minhas mãos começaram a passear pelas costas de Zayn, sentindo cada linha, cada traço que a camisa escondia pelo bem da minha sanidade. Tentando não perder a concentração no que estava fazendo, ele continuou a amassar a massa, por mais bobo que isso soe. Tenho certeza que meus carinhos fizeram-no repetir a mesma coisa pelo menos três vezes e foi bom me sentir no comando pelo menos uma vez na vida, já que aquelas provocações costumavam acontecer de forma contrária.
- %Tah%... Espero que saiba que o que você está fazendo só vai atrasar o nosso almoço. – Pude ver que ele fechou os olhos e apertou os lábios um no outro após umedecê-los.
- Você venceu! – Dei um último beijo em sua nuca e parei com as minhas carícias. – O que eu faço pra ajudar?
- Quem falou que você devia parar? – Fez uma cara engraçada quando fiquei ao seu lado procurando algo pra fazer. – Eu não ligo pro almoço, foi só um comentário!
- Teremos tempo pra isso depois! – Ri e me inclinei sobre ele pra receber um beijo rápido antes de me ocupar com o pote de molho de tomate. – Agora vamos ao que interessa... Eu posso não saber cozinhar quase nada, mas creio que o próximo passo é colocar o molho na massa, certo?
- Précisemment. – Enrolou a língua para arriscar o francês e o resultado foi muito bom. Ele me passou a massa para que eu pudesse espalhar o molho, enquanto ele mesmo foi fatiar o queijo. – Espero que goste de pizza quatro queijos.
- Pizza é pizza. – Afirmei com a cabeça e derramei um pouco do molho na massa. – Tem alguma colher por aí?
- Ou, nesse caso, pizza um queijo só. – Falou tão baixo que eu quase não escutei, mas comecei a rir assim que entendi. – Colher? Opa...
- Zayn, você não trouxe uma colher? – Ri mais ainda do namorado desligado que eu tinha e lavei as mãos, já sabendo onde isso iria acabar. – Se o Liam tivesse esquecido, eu até entenderia...
- O Liam? – Olhou-me sem entender muita coisa e eu percebi que tinha falado alto demais.
- É... Ele tem medo de colheres. Mas não me pergunte o porquê. – Tive que secar as mãos molhadas na barra da saia, porque pelo visto Zayn também se esqueceu do pano de prato. Já devidamente higienizada, usei os dedos para espalhar bem o molho de tomate. – É isso que eu chamo de colocar a mão na massa...
- E depois eu é que sou idiota! – O outro gargalhou jogando a cabeça para trás.
- Estou aprendendo com o mestre! – Estirei a língua e aproveitei que Zayn estava distraído para desenhar um coração de molho de tomate em sua bochecha.
- Eeeeei! – Reclamou assim que percebeu o que eu fizera.
- É um coração, baby! – Fiz uma carinha fofa tentando amolecê-lo.
- Eu não ligo se é a Monalisa! Pode tratar de limpar.
- Você é muito chato, sabia? – Rolei os olhos. Enquanto ele espalhava o queijo pela pizza, eu voltei a ficar na ponta dos pés e o envolvi de lado, com cuidado para não acabar sujando-o ainda mais. Estiquei a pontinha da língua e a arrastei pelo coração, fazendo-o desaparecer. – Hm, até que o molho é gostoso!
- Só o molho é gostoso? – Sorriu daquele jeito maroto e eu voltei para o meu lugar, lambendo a ponta dos dedos.
- Você é meio salgado... – Fiz careta, lavando as mãos e me segurando pra não rir.
- Wow, %Star%, muito obrigado! – Usou o quadril pra me empurrar para o lado e lavar as próprias mãos.
- De nada, sweetheart. – Gargalhei baixo e dessa vez sequei as minhas mãos na calça jeans que ele usava.
- %Star%, agora a minha bunda vai ficar molhada! – Reclamou mais uma vez ao fechar a torneira. O pior é que depois de escutar a frase sair de sua boca, ele se juntou a mim e nós dois rimos descontroladamente. – Você vai ver só!
- Tira a mão, sai! – Ri um pouco mais alto tentando afastar as mãos molhadas que Zayn queria secar na minha blusa. – Eu não sou uma toalha!
Minhas reclamações não adiantaram de nada, porque ele só descansou depois de se vingar e secar as mãos no tecido fino da minha roupa. Minha única saída foi me afastar o mais rápido possível até estar sentada na ponta livre do sofá. Zayn não pode me seguir porque era parte do seu trabalho colocar a pizza na bandeja que deveria ir para o forno. Aquela pausa me deu tempo de passar as mãos pelo meu cabelo e sentir o cheiro de uva que saía deles. O clima da embarcação já começava a mudar mais uma vez e o frio voltava, principalmente agora que eu estava bem molhada. E não, não leve pelo duplo sentido. Ou talvez sim... Não! “Star, se controle.”
- Temos quarenta e cinco minutos enquanto a pizza não fica pronta. O que quer fazer? – Marcou alguma coisa no relógio e eu olhei em volta, cansada de ficar ali dentro.
- Quero explorar! – Peguei a minha jaqueta e a entreguei para Zayn, já começando a vestir o casaco dele em seguida.
- %Tah%, você sabe que trocou, né? – Me olhou como se eu estivesse louca, mas foi logo passando os braços para dentro da minha peça.
- Claro que eu sei! Mas não tenho culpa se fico bem nas suas roupas. – Dei uma voltinha sem sair do lugar pra mostrar como o casaco preto caia perfeitamente em mim. Ficava um pouco grande demais... Mas ainda assim era perfeito! – Então não posso te deixar com frio, certo?
- Você adora roubar as minhas roupas. – Cruzou os braços. – Esse é o terceiro casaco que acho que nunca mais vou usar.
- Pois pode ter certeza. – Dei alguns passos até ele pra poder segurar a sua mão. – Vem, vamos explorar!
- Babe, estamos em um barco. Onde você quer explorar? – De repente eu era a criança da relação e Zayn fez corpo mole para me acompanhar.
- Mexe essa bunda molhada e vem logo! – Ri mais do que devia da minha própria piadinha sem graça e só soltei a mão do rapaz quando chegamos ao lado de fora da cabine. – Qual a graça de se estar navegando se a gente não vê o que está acontecendo do lado de fora?
- O que está passando por essa cabecinha? – Bateu na minha testa como se fosse a madeira de uma porta e eu bufei.
- Só me segue, ok?
Dei meia volta, mas ainda tive tempo de ver Zayn fazendo caretas em uma tentativa de me irritar. Acabei rindo daquela infantilidade e deixei pra lá, porque o dia estava sendo legal demais pra começar a reclamar por alguma besteira. Assim que chegamos naquele narrowboat, uma das primeiras coisas que notei foi uma escada na lateral que levava até o telhado e era bem ali que eu queria “explorar”. O meu acompanhante deve ter percebido o que eu pretendia fazer, por isso até me ajudou a subir a pequena escada e me seguiu. Como o barco não estava andando tão depressa, nós conseguimos ficar de pé com facilidade. Olhando a paisagem pela primeira vez, constatei que não estávamos mais no mesmo lugar de antes, porque éramos rodeados por pinheiros e não haviam outros barcos por perto.
- Tá vendo só? – Abri os braços, indicando a nossa volta. – E nós estávamos perdendo essa vista linda do lado de dentro!
- Pois eu tinha uma vista linda desde que saímos da sua casa. – Sentou na metade do telhado e indicou para que eu fizesse o mesmo.
- Por que? – Eu já esperava por uma resposta meio “cheesy”, mas daria aquela chance à ele. Passei por Zayn para ficar na sua frente e me acomodei entre as suas pernas, encostando as costas em seu peitoral.
- Porque você se tornou tudo que eu via.
- Awwwwwwwn, que namorado mais lindo! – Ri ao ser envolvida por ele em um abraço apertado.
- Essa foi boa, não foi? – Devia estar pensando no mesmo que eu, porque começou a rir também.
- Foi ótima, baby! – Cruzei as pernas por ainda lembrar que estava usando saia e me acomodei mais no corpo de Zayn. – Posso te fazer uma pergunta?
- Claro que pode. – Encostou o rosto ao meu assim que deixei a minha cabeça cair pra trás e pousar no ombro do mesmo.
- Ontem, no Pub... Você gostou de cantar com os meninos, não gostou?
- Por que será que eu sabia que essa seria a sua pergunta? – Beijou a minha bochecha com carinho e eu fechei os olhos. – Mas sim, eu gostei... Foi algo diferente.
- Diferente é bom, certo?
- Certo. – Pude ver o seu sorriso porque parei de olhar pra frente e virei um pouco o corpo para o lado, encontrando seus olhos com os meus.
- Eu acho que poderia morar em um barco desses, sabia? – Mudei de assunto e dei uma batidinha no telhado embaixo de mim. – É tão sereno e quieto... Eu poderia me acostumar com o tamanho.
- Sério? Que bom, porque esse era o plano o tempo todo. – Passou uma mecha do meu cabelo pra trás da minha orelha e por um momento eu achei que falasse sério. – Bem vinda à nossa nova casa!
- Yay! – Comemorei entrando na brincadeira e abri os braços fazendo gestos entusiasmados. – Agora vamos poder navegar os sete mares, viajar pelo mundo inteiro... Dá pra imaginar que aventura seria?!
- Você tem falado muito sobre aventuras ultimamente... – Sorriu com o meu exagero, mas me estudava com atenção. – Por que?
- Eu tenho? Nem percebi... – Parando pra pensar, ele até que podia ter razão. – Lembra quando eu falei sobre o presente que o meu avô me deixou? E que eu achei há pouco tempo?
- A caixinha de música? – Se lembrou no mesmo instante do que eu estava falando e balancei a cabeça em afirmação.
- O caso é que... Dentro dessa caixinha tinha um bilhete. Só um pedacinho de papel mesmo, onde papá escreveu algo como “A vida é uma aventura” e que eu devia viver. – Olhei para os meus próprios pés ao falar aquilo, porque tinha medo de começar a chorar do nada. – Acho que isso acabou ficando na minha cabeça.
- É uma coisa boa pra ficar na sua cabecinha de vento... – Cutucou a minha testa novamente, me fazendo olhar pra ele.
- Cabecinha de vento? – Cruzei os braços, emburrada. – Por que isso agora?
- Só uma cabecinha de vento esquece de colocar a tampa quando está fazendo pipoca de panela...
- EI, ISSO SÓ ACONTECEU UMA VEZ! – Me exaltei, mas o maior motivo de preocupação veio depois: - Mas como é que você sabe disso?!
- Um passarinho verde me contou. – Deu de ombros se fazendo de desentendido e a sua expressão o denunciou.
- LIAM! – Estreitei os olhos e meu queixo caiu. – Eu já falei que não gosto dessa amizade que vocês dois estão tendo?
- Só porque nós ficamos falando de você o dia inteiro? – Zayn riu da cara que eu fiz ao escutar aquilo e tratou de se desmentir. – Mais uma vez, eu estou brincando, %Tah%! Você tem que parar de me levar tão a sério.
- Foi mal se eu acredito no meu próprio namorado, ok?! – Fiz mais drama que o necessário, já descruzando os braços. – Mas já que estamos falando sobre isso... Sobre o que garotos conversam? Por exemplo, em uma noite do pijama... Qual é o assunto?
- Pra começo... Nós não chamamos de “noite do pijama”. E depois, não é nada demais. Só conversamos sobre esportes, música, filmes...
- Bo-ring! – O interrompi entediada. – Vocês não falam sobre garotas? Fofocas? Novidades?
- Ahn... Nós somos garotos, %Tah%. Então falamos sobre coisas de garotos.
- Ser garoto é tão chato! – Sim, eu parecia uma menina de cinco anos falando isso, mas pelo menos o fiz rir.
- Ser garoto é bem legal, sabia? – Puxou as minhas pernas com cuidado, mudando a direção do meu corpo e deixando-me completamente de lado pra ele. – Porque podemos fazer isso...
Colocou uma mão de cada lado do meu rosto, puxando-o para si com o mesmo cuidado que me girou. Minhas pálpebras pesaram instantaneamente e fechei os olhos enquanto inclinava e rosto para a esquerda, esperando o que estava por vir. Nesse caso, ser uma garota também era bem legal, porque eu pude segurá-lo pela nuca e entrelaçar meus dedos em seus cabelos. Entreabri os lábios no mesmo instante que pude sentir os dele sendo pressionados nos meus e me entreguei àquele beijo que eu tanto desejava. Dessa vez não havia problemas com o narrowboat ou espectadores que me separariam de Zayn e tenho certeza que ele sentia o mesmo. Minha única preocupação era sentir a respiração tranquila dele que batia suavemente no meu rosto e os meus dedos ágeis que traçavam caminhos pelos braços e ombros do meu garoto. Porque naquele momento mais que em qualquer outro, ele era meu.
- Esses foram os 45 minutos mais rápidos que eu já vivi! – Ri baixo com um pouco decepção assim que o alarme do relógio de pulso de Zayn começou a apitar.
- Eu não me importo de comer pizza queimada... – Ainda com os olhos fechados, me impediu de levantar e tentou conseguir outro beijo.
- Mas eu me importo... – Resmunguei entre um selinho e outro. – Você se esforçou tanto pra fazer esse almoço...
- Tudo bem, tudo bem... – Juntou os lábios em um bico gigante na tentativa de me amolecer.
- Depois do almoço eu te dou quantos beijos você quiser...
+++ - Babe, eu não quero iiiiiiiiir. – Acredite ou não, Zayn estava fazendo manha na varanda da minha casa enquanto me abraçava tão forte que eu quase perdi o ar.
- Eu sei disso... Mas é seu primo! Você tem que ir... – Acariciei as suas bochechas com os polegares e ele choramingou. – Além do mais, festa de aniversário sempre tem coisas gostosas pra comer!
- Então vem comigo?! – Sorriu com a própria ideia brilhante, mas a cara que eu fiz em seguida o desencorajou.
- Eu adoraria, de verdade. Mas nem conheço o menino... E é uma festa para a família!
- Mas você é família. – Zayn podia ser pior que %Abi% ao me pedir alguma coisa, mas ele eu conseguia “controlar”.
- Não necessariamente! – Sorri de canto mesmo querendo pedi-lo pra ficar o resto da noite comigo.
- Mas eu estou com saudades... Quase não ficamos juntos hoje. – O bico não parecia querer sair da boca dele e tampouco o seu enlace em minha cintura.
- Baby, são oito horas da noite. Nós passamos o dia inteiro juntos hoje. – Ri baixo fazendo um pequeno cafuné em seus cabelos enquanto meu olhar admirava cada pequeno detalhe de seu rosto. – E por mais que eu vá sentir saudades no momento que entrar por essa porta, você tem que fazer o que é certo e ir para a festa do seu primo...
- Arghh. – Resmungou, me fazendo rir. – Ok.
- Isso mesmo! – Continuei rindo e o abracei com força, escondendo meu rosto em seu pescoço. – Aproveite e mande um beijo para a sua mãe e irmãs.
- Tem certeza que eu não posso entrar nem pra dar oi para os lads? – Retribuiu o meu abraço com ainda mais força.
- Eu digo que você mandou oi, porque se te deixar entrar aí, nunca mais sai! – O olhei sem partir o abraço, mantendo nossos rostos bem próximos. – Se divirta na festa, ok? Mas não muito...
- Vou me cuidar, %Tah%. – Sorriu entendendo bem o que eu queria dizer e juntou os nossos lábios uma última vez. Ou talvez penúltima...
- Isso mesmo! – O enchi de selinhos demorados, tentando prolongar a nossa despedida. – Te deixar ir está sendo um pouco mais difícil do que eu esperava...
- Agora você me entende! – Riu baixo e eu finalmente o soltei.
- É melhor eu entrar primeiro. – Balancei a cabeça em negação, me dando mais coragem pra virar as costas e segurar na maçaneta da porta.
- Hey, %Tah%... – Sua voz me fez parar mais uma vez e apenas virar o corpo o suficiente para olhá-lo. – Eu te amo.
- Eu sei... – Sorri completamente entorpecida e segurei a maçaneta da porta com mais força, me proibindo de correr até lá. – Mas eu te amo mais.
Ambos já sabíamos como aquela discussão poderia se estender por horas, então preferi correr para o lado de dentro e guardar a última visão do sorriso bobo de Zayn no fundo da minha memória. Por sorte não havia nenhum espelho por ali, caso contrário eu teria me sentido ridícula com o sorriso mais bobo ainda que estampava a minha cara. Com suspiros e mais suspiros, encostei o meu corpo à madeira da porta fechada atrás de mim, esperando o ronco do Volvo de Zayn soar e mostrar que ele estava mesmo indo embora. Por mais que meu coração tenha se apertado um pouco, o certo era ele partir. Eu estava entrando naquela família, mesmo que aos poucos, e não queria ser conhecida como “a garota que não deixa o Zayn sair com os familiares.”
- Meu namorado é um sonho! – Uma voz feminina que eu não esperava escutar chamou a minha atenção. %Abi% estava parada na entrada da sala e me olhava como se EU estivesse pensando aquilo que ela falou.
- Você ainda está aqui? – Rolei os olhos por não aguentar mais a presença da minha melhor amiga por ali.
- É claro que estou! Ei, onde você está indo?
A ruiva tentou me segurar quando eu parti em frente até as escadas. Mais que claramente ela ia me seguir, por isso não me preocupei em chamá-la ou coisa parecida. Eu sabia que os meninos estavam na sala, pois escutei as suas vozes, mas seria mais fácil lidar com %Abigail% sozinha e depois enfrentá-los. Todos ficavam super curiosos pra saber tudo que acontecia na minha vida, mas se fosse o contrário eu também gostaria de saber de tudo. Meu quarto estava bem mais arrumado do que antes e por isso a pseudo-moradora devia ganhar um prêmio. Ninguém falaria que um furacão vermelho passou pelo closet afim de separar as roupas que eu ainda usava, tamanha era a organização do cômodo.
Ainda com o sorriso no meu rosto e um pouco mais contente com a presença de %Abi%, joguei minha bolsa e casaco em cima da escrivaninha. Em seguida, pulei deitada na cama e encarei o teto sem falar nada. Conhecendo a outra garota, ela devia estar cheia de perguntas e se roendo de curiosidade. A observei se aproximar e sentar na cama para me ajudar a tirar os meus sapatos, ação que me espantou demais. Estiquei as pontas dos pés e escutei um estralo, como se eles estivessem agradecendo pela liberdade. A minha ajudante se deitou ao meu lado e apoiou o rosto nas mãos, me encarando cheia de perguntas no olhar.
- E então? – Ergueu uma sobrancelha.
- Oi, %Abi%! – Sorri me fazendo de besta. – Quanto tempo!
- Para de enrolar, %Star%! Pode começar a falar. – Bufou e usou um travesseiro pra bater em mim. – Como foi o passeio?!
- Outch, ei! Sem violência, por favor. – Ri e abracei o objeto fofo depois de ser atingida por ele. – Foi tão lindo, %Abi%... Tudo foi perfeito. Não sei nem por onde começar a falar, porque todas as partes foram as minhas preferidas.
- Awwwwwn, que gracinha! – Sentou-se de joelhos e sorriu de orelha à orelha. – E aonde vocês foram?
- Sabe que eu não sei?! Ficamos rodando pelo canal... Começamos e terminamos em um lugar chamado Little Venice. – Dei de ombros, até porque não prestei muita atenção no caminho que fizemos. – Demos a volta completa, por isso levamos quase o dia inteiro...
- Zayn disse que vocês iam passear de barco, mas não especificou! Little Venice é lindo, né?
- Tudo foi lindo, %Abi%. Principalmente a companhia. – Suspirei e cobri o rosto com o travesseiro. Eu já estava acostumada a falar daquelas coisas com a minha amiga, mas não deixava de ficar vermelha em nenhuma das vezes.
- Só tem uma coisa que eu quero te perguntar... – Não precisei olhá-la pra saber o que vinha pela frente. – Aconteceu?
- Claro que não! – Deixei o travesseiro de lado e me sentei na cama. – Nosso passeio não foi pra isso... Foi? Você acha que era o que o Zayn queria? Quero dizer, nós estávamos sozinhos no meio do nada... E tivemos alguns momentos mais quentes... Ai, meu Deus, esse era o plano não era?
- Dá pra parar de se desesperar? – %Abi% riu da minha preocupação. – Zayn não falou nada disso pra mim e nem pro Niall, então acho que se o objetivo dele fosse esse, você saberia.
- Eu acho que sim... – Respirei fundo.
Aquele assunto já não me deixava tão nervosa e apreensiva quanto antes, tanto é que eu já não corria e não parava Zayn do nada durante os nossos amassos. Só acho que a oportunidade e o momento ainda não haviam chegado porque, por mais que eu não fosse propriamente virgem, queria que tudo fosse... Especial. E com isso eu não quero dizer que a nossa comemoração de um mês de namoro não foi especial; só acabou não rolando. Eu e Zayn não precisávamos dessa demonstração carnal, porque só estarmos juntos, nos divertindo e felizes um com o outro era o suficiente. Eu sabia que o sexo viria como um bônus consequentemente, mas nenhum de nós precisava daquilo pra se afirmar na relação. Nós tínhamos isso de diferente de %Abi% e Niall, porque os dois pareciam considerar “aquilo” como parte fundamental do namoro. Não vou julgar qual maneira é a correta ou a mais provável de dar certo, já que éramos todos diferentes. O importante mesmo era que ninguém estava insatisfeito em suas devidas situações.
%Abigail% também aprendeu a maneirar nos comentários maldosos ou explícitos demais, respeitando o meu espaço e me apoiando em qualquer coisa que eu falasse. Ainda era entranho vê-la falando sério e sendo honesta mesmo quando eu não queria escutar certas coisas, entretanto, isso mostrava que o relacionamento entre nós duas também estava amadurecendo. Ela me contou tudo sobre o próprio dia, ficando bem animada na parte que disse que ganhou todos os meninos quando jogaram Rock Band – mesmo que eu ainda duvide muito, mas enfim. Fez questão de passar na minha cara que Liam não perguntou de mim uma vez que fosse e aquilo me incomodou um pouco, mas não soube explicar o motivo. Harry, por outro lado, teve ataques de ciúme e ameaçou várias vezes me ligar e pedir para que eu voltasse mais rápido. E o pior era que eu também senti falta do meu cupcake e de todos os outros, mas a presença de Zayn tomava conta de tudo que eu via, de tudo que era o necessário pra mim. Vai ver é por isso que falam que o amor é cego... Porque eu ficava cega ao lado dele.
Minha seção “girl talk” foi interrompida pelo toque do meu celular apitando dentro da bolsa. Por mais que eu pedisse para %Abi% esticar o braço e pegá-la pra mim, a ingrata se fez de preguiçosa e não me fez aquele favor. Como a minha curiosidade sempre foi maior que tudo nesse mundo, me arrastei pra fora da cama e fui até a escrivaninha, puxando a cadeira pra poder me sentar. Não me leve a mal, eu não sou uma sedentária; é só que minhas pernas estavam cansadas de todo esforço que fiz durante o dia. Como a bolsa não estava cheia, achei o iPhone em poucos segundos, vendo na tela que eu recebera uma mensagem:
“Você estava certa, sabia? Mas ainda sinto a sua falta. ”