Capítulo XLV
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- LOUIS! Cadê a sua câmera de vídeo?! – Eu andava de um lado para o outro da casa a procura daquele objeto e, por mais que perguntasse repetitivamente, ele não me respondia.
- Pra que você a quer, %Star%? – Parou na porta do próprio quarto enquanto eu terminava de subir as escadas. – Você tem uma máquina fotográfica, sabia?
- Mas a sua é melhor! – Fiz o meu maior bico. – %Abi% e eu queremos começar um canal no Youtube e pra isso precisamos da sua câmera de vídeo...
- Pessoas ainda fazem isso? – Levantou uma sobrancelha, mas começava a ficar balançado.
- É claro que sim! Por favor, Lou? Seja o melhor irmão do mundo e me empreste... – Segurei suas mãos e comecei a balançar como uma criancinha. – Eu juro que vou ter cuidado!
- Urgh, tudo bem, %Tah%... Mas tenha cuidado mesmo, certo? – Se soltou de mim desesperadamente e entrou no quarto.
- Yes! – Fiz sinal de vitória e comemorei com uma dancinha nada ridícula, pra não dizer o contrário.
- Aqui está... – Louis suspirou e por fim me entregou uma maleta onde guardava as coisas da sua câmera; como tripé, lentes, carregador e etc.
- Obrigada, obrigada, obrigada! – Segurei aquela maleta com cuidado e deixei um beijo estalado na bochecha do meu irmão.
- Aham, claro.
Louis sempre me emprestava as suas coisas e nunca me negava nada, mas é claro que isso me custava muitos pedidos e puxação de saco. Francamente nunca entendi porque ele fazia tanto drama, já que no final acabaria cedendo mesmo. Ainda comemorando a minha vitória, atravessei o caminho até o meu quarto e me tranquei lá dentro, figurativamente falando. %Abigail%, que viera direto para a minha casa depois da sua aula naquela sexta-feira, saiu do meu banheiro com vários bobs enrolados no seu cabelo. Segundo ela, aquela era “uma tentativa nova de cachear as mechas sem sujeitar os fios delicados ao calor e maltrato do babyliss”. Quem iria discutir com ela? Eu é que não! Meu notebook estava aberto em cima da minha cama e foi em frente a ele que eu me sentei. %Abi% também se dirigiu até lá, mas levou consigo uma bolsa de cremes e produtos de beleza que trouxera de casa.
- E aí, ele acreditou na história do Youtube? – Perguntou enquanto começava a revirar a sua nécessaire.
- Ficou um pouco desconfiado, mas acreditou... – Sorri com o sucesso da nossa mentira e apontei para a maleta em meu colo.
- Eu falei que era melhor a gente ter falado que ia gravar a nossa primeira relação juntas, mas você não me deu ouvidos... – %Abi% fez cara de safada e piscou na minha direção. Só ela mesmo pra pensar algo assim.
- Cala a boca, %Abi%! – Rolei os olhos, mas não contive uma risada. – Aí é que ele não ia me emprestar mesmo.
- Ou então pediria pra participar.
- Ewwwwww! – Balancei a cabeça tentando tirar aquela imagem da minha cabeça.
- Mas então, qual é o plano mesmo? – A ruiva parecia mais preocupada em ler o rótulo de um de seus produtos do que prestar atenção em mim.
- Pela milésima vez... Nós vamos gravar hoje, editar amanhã e enviar o mais rápido possível! – Expliquei com calma, já abrindo a maleta preta e procurando as baterias.
- Disso eu sei, né?! – Me olhou entre um produto ou outro que encontrava. – Até porque o concurso só vai até a meia noite de amanhã... E pelo que eu tenho lido, os produtores já tem assistido diariamente o que o pessoal manda e já tem seus favoritos.
- Sem pensamento negativo nessa casa! – Levei as mãos para o alto como se aquilo fizesse parte de algum ritual para afastar as energias negativas. – Mas se essa não é a sua duvida o que você ainda não entendeu sobre o plano?
- Eu ainda não entendi como vamos convencer os cinco a cantar juntos. – Separou dois cremes na sua frente e encontrou um pote vazio no meio de suas coisas. – Você sabe tão bem quanto eu o quanto eles não gostaram dessa ideia de formar uma banda...
- Essa parte pode deixar comigo. – Pisquei pra ela e liguei a câmera de vídeo para checar o nível de bateria. – Eles só não querem formar uma banda porque não sabem o quanto seriam bons.
- E você sabe? – Levantou uma sobrancelha, começando a misturar os seus cremes no pote vazio.
- O que há de errado com você hoje, %Abi%? Não preciso ser uma expert em música pra entender que os cinco se completam. – Minha amiga estava muito pessimista para o meu gosto e por isso tinha que mudar aquela sua atitude. – Vamos analisar... O Harry tem aquela voz rouca e profunda que te causa arrepios, o Liam tem os falsetes mais bonitos que eu já ouvi, Lou é como se fosse o baixo, porque ele tem a voz macia e praticamente dá a harmonia para a melodia. O Zayn tem os maiores alcances e aquela voz criada por anjos, e eu não preciso nem falar sobre o Niall, porque esse você conhece muito bem!
- Você está certa, %Tah%... Desculpa. Eu só estou nervosa. – Fez bico e parou um pouco o que estava fazendo. Com um suspiro continuou: - É que... Já imaginou o que pode acontecer se eles forem selecionados para a segunda etapa? Ainda mais se ganharem o concurso?! A vida de todos nós vai mudar...
- Mas não é isso o que nós queremos? – Também suspirei. Era a primeira vez que eu realmente parava pra pensar nisso. – E além do mais, mesmo que eles se tornem a banda mais famosa do mundo não vão se esquecer da gente. Isso não vai mudar.
- Eu espero que não. – Sorriu um pouco menos abalada. – Não precisamos pensar nisso até terça feira!
- O que tem terça feira? – Voltei a me concentrar na minha tarefa e tirei as baterias da câmera, logo as conectando ao carregador e esse último a tomada.
- O resultado da primeira etapa já sai na terça... Por isso temos que correr. – Terminou de misturar a sua gororoba cremosa com uma paleta e começou a aplicá-la ao rosto.
- Temos mesmo e... Ew, o que você tá fazendo? – Fiz careta de nojo ao vê-la se cobrir com aquele troço.
- Isso se chama “máscara de argila”, meu bem. Retira dez anos de idade. – Continuou se empapando em todos os lugares possíveis do rosto, deixando apenas os olhos e lábios sem.
- Então você quer terminar com oito anos de idade? – Ri, pois apesar de tudo ela estava bem engraçada.
- Mais ou menos isso. – Também riu ao se dar conta do que acabara de falar e voltou a procurar algo em sua bolsa. – Tenho algo aqui pra você! É um esfoliante caseiro. Eu mesma fiz.
- Não tenho certeza se quero... – Permaneci relutante ao vê-la tirar um frasco de vidro com um líquido de três densidades diferentes.
- Não seja preconceituosa! Isso aqui faz milagres. Você usa no corpo inteiro na hora do banho e sai de lá como se estivesse no céu. – Colocou o vidro na minha mesinha de cabeceira, sem aceitar minha negação. – É feito com açúcar, limão e azeite.
- Se você diz, Shrek...
Ri sozinha da minha própria piada, pois %Abigail% não achou a mínima graça. Dei uma lida rápida no manual da filmadora, ou seja: Passei os olhos pelas páginas e prestei mais atenção nas figuras do que nas instruções. Ah, qual é?! O que de tão difícil poderia ter escrito ali? Além do mais, eu já tinha baixado vários programas de edição de vídeo no meu computador e qualquer problema com o áudio ou imagem poderia ser corrigido ali. Tá que eu também não era uma fera da computação, mas sempre fui seguidora da teoria que é mexendo que se aprende. %Abi%, por outro lado, não podia se importar menos com o nosso plano para aquela noite! Ela devia estar pensando que o foco da gravação seria ela, porque não parava de se cobrir de cremes e produtos de beleza. Eu só olhava pra ela e rolava os olhos, jurando que a minha amiga havia se inscrito no programa: “Brigitte por um dia.” Se existisse algo assim na televisão eu perderia o resto de fé que ainda tinha na humanidade e poderia me matar tranquilamente, pois nem o outro lado poderia ser tão ruim assim.
Depois de ficar entediada de tanto ler nomes técnicos e dar mais uma olhada no Pinnacle – Studio Plus (o programa de edição que comentei mais acima), resolvi me render ao meu lado feminino. Não, eu não ia passar a máscara de abacate, ou seja lá do que, que %Abi% insistia em dividir comigo e também não ia colocar pepinos nos meus olhos, mas o esmalte em minhas unhas já começava a descascar e era hora para mudar a cor. Deixei a maleta no chão e a câmera em cima da escrivaninha, pois tudo o que menos queria era derramar acetona em cima dela e assinar o meu próprio atestado de óbito. Fui até o closet e peguei a caixinha de esmaltes e produtos para unhas em uma das maiores gavetas. Eu podia não ter as últimas novidades em maquiagem ou produtos para cabelo, porém devo admitir que esmaltes sempre foram o meu ponto fraco. Na minha coleção não faltava cor alguma, desde o índigo ao branco que brilha no escuro. %Abigail% me estudou em todos os meus movimentos, só faltando gritar quando viu a quantidade de esmaltes que eu despejei em cima da cama.
- Eu nunca mais vou a um salão de beleza na vida!
- Uhh, girl, o Jean não vai gostar nada de saber disso! – Imitei o cabeleireiro que pintou meus cabelos e gargalhei. – O ruim é que eu não sei tirar cutículas, por isso só pinto as unhas... Mas não fica feio!
- Não tem importância! Ninguém vai ficar prestando atenção nisso mesmo. – Ficou sentada de frente pra mim e eu encostei-me em um travesseiro grande. – Qual cor você vai usar?
- Como eu passei essa semana com um esmalte claro... Acho que vou usar esse vermelho aqui.
- Qualquer cor fica linda em você, %Tah%. – Sorriu e pegou um esmalte preto e um dourado. – Acho que vou combinar esses dois!
- Perfeito.
Cada uma de nós pegou um pedaço de algodão e molhou no removedor de esmaltes para remover os nossos esmaltes (duh). Como o meu era bem claro e já estava quase pela metade, consegui retirá-lo em segundos. %Abi%, coitada, demorou pouco mais de um minuto. Como ela não tinha muita experiência naquele assunto, tive que dar algumas dicas, como por exemplo: Ela devia começar pela mão esquerda e deixar o frasco em questão o mais perto possível, pois não ia querer demorar muito com o pincel fora dele. Fora isso, pedi para que me observasse e acompanhasse os meus movimentos, mas isso não seria nada fácil. “Uma garota deve aprender essas coisas sozinha!” Foi o que ela falou que me fez desistir de auxiliá-la. A partir daí me preocupei apenas com as minhas próprias unhas. Primeiramente passei uma camada de base em cada mão e enquanto as esperava secar, senti meu celular vibrar no travesseiro ao meu lado.
- Quem é Dan? – %Abi% perguntou curiosa espiando a telinha do aparelho.
- É o noivo da minha mãe... Lembra que eu te falei dele? – Pelo menos era uma mensagem e não uma ligação. – Eu estou ajudando-o a decidir algumas coisas para o casamento.
- E o que ele quer agora?
- “Acabei de encomendar vinte desses para os centros de mesa. O que acha, %Tah%?” – Li em voz alta e deixei a ruiva espiar a foto que ele mandou junto com a mensagem. – Dan, Dan, Dan... Não faz isso comigo!
- Ele tem mal gosto, mas pelo menos ele tenta... – %Abi% tentou me consolar e o celular começou a vibrar na minha mão. – O que foi agora?
- “Mudança de planos! O que acha desses?” – Uma segunda foto chegou e eu fiquei mais desesperada ainda. – O que eu falo, %Abi%?
- Manda uma foto pra ele também... Mas de um centro de mesa com flores.
- Tá bem... Vamos procurar.
Por um momento eu deixei as minhas unhas de lado e entrei na internet pelo próprio celular. Eu juro por todos os deuses que o iPhone foi a melhor invenção tecnológica até hoje. Digitei algumas palavras chaves no Google, torcendo para encontrar alguma coisa logo. Eu até que gostava bastante de estar ajudando meu futuro padrasto e a minha mãe naqueles assuntos do casamento – por mais que ainda faltasse muito tempo para tal ocasião – e ficava meio assustada com a quantidade de coisas que deveriam ser feitas. Me julgue se quiser, mas eu baixei um aplicativo chamado “Casando – Vestida de Noiva”, que tinha várias listas do que deveria ser decidido meses antes e algumas coisas pareciam complicadas demais. Por essa e outras razões eu começava não querer ter o meu próprio casamento.
“Olha como esse é lindo, Dan: (x)”
“Ou quem sabe esse se você quer algo maior: (x)”
“Mas esses não tem peixes...” “Eu sei que esses não tem peixes, Dan, mas é justamente o meu objetivo!” Pensei em responder isso, mas não seria muito educado da minha parte, ainda mais por ele ser um cara tão legal que só não tinha muita noção de estilo. Já começava a entender porque a minha mãe quis tanto que ele entrasse em contato direto comigo; ela sabia que eu não deixaria ele tomar nenhuma decisão exagerada ou brega. Meu sexto sentido fashion não seria machucado desse jeito. “Eu vou ter muito, muito trabalho...”
+++ Qual é o objetivo de ter um carro grande se mesmo assim as pessoas ainda vão apertadas no banco de trás? Sinceramente eu não sei e essa era a filosofia que passeava pela minha mente durante o nosso caminho de casa para o Pub. Além de %Abi% ter me obrigado a usar uma roupa que ela mesma escolheu pra mim, demorar demais durante o banho (culpa de todos aqueles cremes e produtos), ela ainda não deixava ninguém sentar muito próximo a ela por “medo de amassar seu vestido”. Se era assim, a ruiva deveria ir no banco da frente onde Liam estava, e não entre Harry e eu no banco de trás. Preciso falar que o meu irmão era quem dirigia? Pra piorar ele ainda fazia curvas bruscas demais de propósito, só pra fazer %Abi% reclamar e quase me bater.
- O que você quer que eu faça, %Abigail%? Quer que eu vá no colo do Harry pra você ter metade do banco inteiro só pra você? – Reclamei tentando não me estressar demais.
- Eu sabia que devia ter ido no banco de trás! – Liam bateu na própria testa, me fazendo desarmar toda a raiva que tentava se formar dentro de mim. – Poderia estar com a %Tah% no colo agora!
- Uhh. – %Abi% comentou baixinho para só eu escutar e me olhou com aquela cara.
- Calma aí, Payne. – Ri ao mesmo tempo em que lancei um olhar mortal para a outra menina. – Na verdade, quem deveria ir na frente é essa chata aqui.
- Hey, eu não sou chata! Só quero estar bem arrumada quando chegarmos ao Pub.
- E pra isso você precisa me desarrumar? – Rolei os olhos.
- Ei, crianças, vocês podem parar de discutir por um minuto? – Meu irmão fingiu ter um pingo de maturidade.
- Você continua linda, %Tah%. – Liam virou um pouco de lado para poder me olhar.
- Obrigada, Leeyum. – Apertei a sua bochecha e ele reclamou com uma careta.
- %Star%, até parece que o Zayn não vai te desarrumar quando você chegar lá. – %Abi% falou nem um pouco delicada.
- Shhhhhhhh. – Tapei a boca dela com uma mão, mesmo que estivesse corando e com um sorriso bobo.
- O lugar é aquele ali, Lou... – Harry, que estivera absorto no seu próprio mundinho durante a discussão inteira, apontou para o pub na esquina. – Onde tem o letreiro, tá vendo?
- Thanks, Hazza. E tem lugar pra estacionar?
- Tem sim. – Fui eu quem respondeu. – Mas se quer uma dica, não pare no estacionamento. Tem uma rua ali por trás que é melhor pra deixar o carro.
- Uma rua? É segura? – Lou não acreditava mais na irmãzinha?
- É claro que é! Estou falando com a voz da experiência. – Expliquei e %Abi% gargalhou ao meu lado. – O que foi agora?
- Você... Com a “voz da experiência”. – Gargalhou mais uma vez.
- Shut up.
Rolei os olhos. %Abi% realmente estava nervosa quanto aos nossos planos para aquela noite e isso afetava completamente o seu humor. Uma hora ela estava super simpática e feliz, mas outra era um Deus nos acuda. Eu particularmente estava mais ansiosa do que com medo e tinha certeza que tudo daria certo. Lou acabou seguindo o meu conselho e entrando uma rua antes da rua própria do Pub, para poder fazer a volta e estacionar na rua que eu indiquei. Dali pra frente %Abi% se comportou como uma lady, Liam não voltou a fazer comentários sobre a minha pessoa e Harry começou a se animar; contando da primeira vez que estivemos naquele lugar e como estava ansioso para cantar novamente. Troquei olhares significativos com a ruiva ao meu lado, pois isso era bom, muito bom. Até que, pra falar a verdade, eu sabia que “convencer” Hazza daquela história toda não seria nada complicado. Como é fácil de perceber, Harry sempre estava disposto a qualquer coisa, por mais idiota que fosse. Lou o acompanharia de qualquer jeito, visto que os dois eram almas gêmeas. Liam também faria o que eu quisesse, contanto que pedisse com jeitinho. Niall só precisava de umas cervejas para se desinibir e também entrar na onda dos meninos, principalmente se a namorada usasse as chantagens de sempre. Zayn era a peça que me daria mais trabalho, já que sempre fora orgulhoso demais e, claro, seu primeiro plano era seguir uma carreira solo.
Durante meus devaneios, Louis estacionou o carro e os meninos começaram a descer, me deixando para trás, só encarando o nada. Despertei apenas quando alguém bateu na janela ao meu lado e fez sinal para que eu saísse também. Meio desnorteada por ter perdido a noção do tempo, pendurei minha bolsa no ombro e saltei para fora do automóvel. Não demoramos nada pra começar a andar em direção ao Pub que nem estava tão longe assim, pois podíamos ver um movimento abaixo do letreiro colorido que piscava a mesma frase de antes: “Karaoke Night”. O vestido de %Abi% não estava nada amassado, como já era de se esperar, mas em comparação o meu quase virava do avesso. Tive que correr alguns passos para alcançar meus amigos que não se importaram em me esperar atacar a fivela do meu salto que teimou em se soltar.
- Vocês não vão me esperar mesmo? – Bufei apertando a minha jaqueta contra o corpo por causa da rajada de vento que me atingiu.
- Aqui está frio, %Tah%... Vamos entrar logo! – %Abi% acenou pra mim, mas se eu corresse um pouco mais acabaria caindo e virando o pé.
- Eu estou tentando! – Respondi entre dentes.
- Precisa de ajuda aí? – Liam gritou, mas ele já estava na entrada do pub e o segurança o fez entrar antes que eu pudesse responder.
- %Star%... – Harry tentou me chamar, mas o mesmo aconteceu com ele.
Como eu estava uns bons três metros de distância de todos eles, acabei sendo deixada para trás mais ainda, especialmente quando um grupo de umas cinco pessoas chegou à porta mais rápido e formou uma pequena fila. “Eu não vou reclamar, não vou me estressar, vou permanecer calma...” Repeti para mim mesma várias vezes; dentro da minha cabeça, é claro. Eu já estava aparentando ser louca o suficiente pra ainda começar a falar sozinha do nada. O segurança se mostrou bem eficiente ao olhar as identidades de quem ia entrando e logo chegou a minha vez. Entreguei o meu documento e forcei um sorriso, tentando não aparentar nervosismo. Além de estar com muita cara de criança naquela foto, minha ID ainda era de Paris e isso chegou a me causar alguns problemas burocráticos simples.
- Tenha uma boa noite, senhorita. – O segurança não sorriu, mas foi simpático o suficiente ao me deixar passar.
- Obrigada, o senhor também. – Não sei bem que tipo de boa noite ele poderia ter parado na porta o tempo inteiro, mas não me custava nada ser simpática de volta.
A ambientação do Pub continuava do mesmo jeito que eu conseguia me lembrar. As luzes piscando, a atmosfera divertida e aconchegante ao mesmo tempo... É, aquele lugar me trazia boas lembranças. Tentei ficar na ponta dos pés para procurar os meus amigos, mas só o que consegui encontrar foi um mar de cabeças flutuantes. Ok, talvez não tão flutuantes assim, mas enfim. Passei livremente por algumas pessoas aqui e ali, até porque o lugar não estava muito cheio a ponto de me fazer esbarrar em alguém. Eu estava quase atravessando o salão quando senti uma mão agarrar o meu pulso e me segurar. Minha primeira idéia do que fazer foi gritar, mas olhei em volta e descobri que não havia motivo algum para pânico.
- Achei você! – Zayn sorria ao me levar pra junto dele.
- Baby! – O abracei pelo pescoço e juntei os nossos lábios em um selinho na primeira chance que tive. – Você me assustou.
- Pensou que fosse outra pessoa? – Acariciou a lateral do meu rosto após retribuir o meu beijo.
- Pensei sim... – Ri e passei a mão pelos fios do cabelo dele. – Já estava prestes a gritar.
- Era só me chamar que eu viria correndo te salvar. – Desfez o abraço, mas segurou a minha mão com força. – Vem, todo mundo já está na mesa...
- Esses imprestáveis nem me esperaram! – Assim que Zayn começou a andar, fui seguindo-o e fazendo caretas.
- Eles falaram que você estava demorando demais pra andar. – Me olhou com um sorrisinho e eu estreitei os olhos.
- É difícil correr com isso aqui, ok? – Apontei para os meus sapatos com a mão livre e bufei, logo avistando a mesa suficientemente grande para caber as sete pessoas.
Da última vez que eu estivera ali, me lembrava bem de ter ficado em uma mesa mais afastada do palco, mas aquela ali ficava bem próxima dele; ao lado da “pista de dança”. Não sabia há quando tempo Zayn estava por ali, mas devia ter chegado bem cedo pra conseguir uma mesa tão bem localizada. %Abi% estava sentada entre uma cadeira vazia, que devia ser de Niall, e Harry, que já tinha uma garrafa de cerveja na mão. O seguinte era Louis e por fim Liam. Ao lado desse último estavam mais duas cadeiras vazias que serviriam para Zayn e eu.
- Weyhey, olha quem chegou! – Niall surgiu atrás de mim, com um drink em cada mão.
- Whasup, Nialler? – O observei depositar as bebidas em cima da mesa e se virar para mim.
- Você está bonita hoje, %Tah%. – Sorriu mostrando seus dentes recém arrumados e livres do aparelho, abraçando-me em seguida.
- Obrigada. – %Abi% foi quem agradeceu por mim. – Eu escolhi as roupas que ela está usando hoje!
- É verdade... Fui obrigada a obedecer a sua namorada. – Ri baixo e nos separamos.
- Ela vez uma boa escolha. – O loiro continuou e foi sentar-se ao lado da ruiva.
- Mas não é difícil achar alguma roupa que fique bem nela. – Zayn falou para %Abigail% e eu percebi que era a única ainda de pé.
- Awn, quanto amor! – %Abi% bebia do seu drink que Niall trouxera.
Apenas sorri com aquilo tudo e finalmente me sentei. Por mais incrível que pareça, Zayn foi quem sentou ao lado de Liam e os dois já começaram a conversar animadamente. %Abi% fez Niall trocar de lugar com ela para que pudéssemos ficar juntas e trocamos olhares de quem está pensando na mesma coisa. Eu gostava muito que os dois estivessem se tornando tão amigos assim, mas tinha medo do que Liam pudesse contar. Eu não queria que meu namorado ficasse sabendo do “beijo” que aconteceu entre Li e eu e ainda seria pior se ele descobrisse por outra pessoa. Por mais que eu tentasse acalmar a minha consciência, alegando que o beijo não foi nada de mais, não era algo que eu gostaria que acontecesse o contrário. A ideia de outra pessoa beijando Zayn era repulsiva.
- Então, gente, quem vai cantar primeiro? – %Abi%, a sutileza em pessoa, foi direto ao assunto.
- Esse karaokê é pra qualquer um? Achei que era só para os alunos da LRA... – Liam parecia animado com aquela ideia de poder cantar.
- É sim! – Respondi com um sorriso. – E você e Louis são obrigados a cantar, porque é a sua primeira vez aqui no Pub.
- Quem disse isso? – Lou duvidou de mim mais uma vez.
- São as regras, Tommo. Odeie o jogo, não o jogador. – Dei de ombros mesmo sem ter certeza se aquele ditado era assim mesmo.
- Eu sei que eu quero cantar! – Harry levantou a mão.
- Eu também. – Niall riu alto. Do que? Também não sei. – Nós temos que dar outro show, Harry.
- De novo não! – Gargalhei ao balançar a cabeça. – Não vão cantar I Will Survive mais uma vez, né?
- Eu me lembro disso! – Zayn também riu.
- Não lembra não! – Olhei para o moreno. – Você estava bêbado demais pra se lembrar de qualquer coisa!
- Isso é o que você pensa. – Piscou se aproximando mais de mim e me fez sentir um frio na barriga.
- Como assim? Você se lembra?
- Eu lembro de tudo, babe. – Sorriu, segurando a minha mão por baixo da mesa, apoiando-a na minha coxa. – Lembro da primeira vez que dançamos juntos... Lembro de ser levado pra sua casa... E, principalmente, lembro de você no chuveiro.
- Malik! – O olhei com repreensão, mesmo que estivesse rindo daquelas revelações. – E porque você não me falou nada?
- Porque eu não sabia se era apropriado falar que me lembro de você quase sem roupa, francesinha. – Com esse quase sussurro, aproximou os nossos rostos de vez e juntou nossos lábios, desarmando qualquer reação que eu pudesse vir a ter.
- Isso é tudo muito lindo, mas alguém ainda tem que ir colocar os nossos nomes na lista! – %Abi% chamou a minha atenção e me fez interromper o beijo rápido demais. – Já está começando a encher e eu não quero ficar esperando a noite toda.
- Deixa que eu vou. – Falei ainda sem tirar os olhos de Zayn, mordendo o meu lábio inferior discretamente. Deixei a minha bolsa por cima da mesa mesmo e levantei. – Aproveito e pego algo pra beber. Alguém quer alguma coisa?
- Pra mim não, %Tah%. – Liam negou.
- Eu estou bem. – Harry levantou a garrafa que bebia.
- O bar está bem cheio, %Tah%... Se você for agora vai demorar mais. – Niall confirmou o que eu já desconfiava.
- Talvez sim... – Abri o zíper da minha jaqueta e a tirei, deixando na cadeira. Também passei a mão pelos cabelos e dei uma bagunçada. – Talvez não.
Pisquei para o irlandês e mandei um beijo no ar para quem continuava na mesa. %Abi% me olhou como quem dizia: “Você não presta mesmo.” E só me fez rir. Não tenho culpa em usar meu charme para conseguir alguma coisa, tenho? Claro que não! Essa é uma arma que toda mulher deve usar. E não é como se eu fosse pedir as bebidas de graça... Só iria consegui-las um pouco mais depressa. Dei meia volta e me afastei da mesa. Antes de ir ao bar, teria que dar os nossos nomes para o homem que estava na mesinha ao lado do palco, segurando uma prancheta e uma caneta. Ele era quem ficava responsável pelas apresentações e tinha um papel importante no plano, mesmo que não soubesse disso. Caminhei a passos largos na sua direção, quase saltitando. O homem levantou o olhar assim que notou a aproximação de alguém e eu sorri.
- É com você que eu falo pra poder cantar, certo? – Eu já sabia a resposta, mas aquele foi o meu jeito de puxar assunto.
- Isso mesmo. – Também sorriu em resposta. – Qual o seu nome?
- Tomlinson, %Star% Tomlinson. – O observei escrever o meu nome na prancheta. – E eu também gostaria de colocar os meus amigos na lista...
- Pode falar... – Não tirou os olhos do seu papel.
- Harry Styles, Liam Payne, Louis Tomlinson, Niall Horan e Zayn Malik. – Optei pela ordem alfabética para que ninguém tivesse ciúmes. – Ah, e eles vão cantar juntos, ok?
- Os cinco? – Terminou de anotar os nomes e me encarou. – Tá aí, isso eu nunca vi.
- Sim, sim... Vai ser bom, pode confiar. – Sorri de volta. – Tudo certo?
- Certinho, %Star%. Logo eu te chamo. – Levantou-se e pegou o microfone.
O homem, que eu ainda não sabia o nome, foi até o palco onde uma menina acabara de cantar, pronto para anunciar a próxima atração. Pelo que pude ler do papel dele, ainda tínhamos um tempo para nos preparar e aproveitar a noite enquanto outras pessoas cantavam. Por mais incrível que isso pareça, eu não estava com medo de cantar na frente daquela centena de pessoas e até estava bem animada com isso. Karaokês são supostos a ser bem divertidos, até porque ninguém é obrigado a saber cantar bem, o que me agradava bastante. Além do mais, todos os meus amigos estariam ali comigo, me apoiando mesmo que eu cantasse pior que uma pata choca.
Minha tarefa estava cumprida por enquanto e tudo parecia estar encaminhado. Suspirei contendo um pequeno sorriso e dei mais uma volta, atravessando a pista de dança que ainda estava bem vazia. Várias pessoas riam a minha volta, brincando e se divertindo. A quantidade de copos vazios que eu encontrava ao olhar rapidamente pelas mesas era exorbitante e os poucos garçons que trabalhavam ali eram chamados a todo o instante. Não me era estranho que nenhum tivesse ido até a minha mesa, obrigando Niall a ir até o bar e agora eu também. Não demorei nada pra encontrar a confusão de pessoas que tentava chamar a atenção dos bartenders. Uns falavam mais alto que os outros e ninguém parecia chegar a um acordo. Eu teria tranquilamente ficado em uma fila, mas organização era a última coisa que eu encontraria ali. Quase fui atropelada por uma mulher que tinha desistido e saiu bufando, me dando a chance de ocupar o seu lugar próximo ao balcão. Mesmo se eu levantasse a mão e chamasse alguém, não seria escutada e muito menos atendida. “Eu preciso arrumar um jeito de chamar a atenção de alguém...”
Olhei em volta procurando alguma coisa, mas só o que eu consegui encontrar foi um banco daqueles que geralmente se encontra em bares e tabernas. “Ahá!” Quase foi possível ver uma lâmpada acendendo em cima da minha cabeça quando eu tive uma ideia. Puxei o banco pra mais perto de mim e recebi um olhar feio de um garoto loiro, mas claro que o ignorei. Apoiei um dos pés na madeira do banco também usei o balcão como suporte; impulsionando-me para cima dele, terminando de joelhos sobre o estofado do assento. Assim, fiquei mais alta que todo mundo ali e com certeza seria notada.
- Com licença? – Balancei uma mão para o alto tentando me manter equilibrada. – Alguém pode me atender, por favor?
- Estou às ordens, senhorita. – O barman de olhos azuis sorriu galanteadoramente na minha direção e se aproximou. – Em que posso lhe ser útil?
- Eu gostaria de um Bloody Mary, por favor... – Sorri em retorno, mas não da mesma forma, é claro.
- Seu desejo é uma ordem. – Fez sinal de positivo com a mão e se afastou para ir preparar minha bebida.
- Merci. – Aproveitei para descer do banco e sentar-me sob o mesmo.
- A francesa tem um nome? – Um garoto apareceu ao meu lado, inclinando-se no balcão e praticamente assoprando o seu hálito de bêbado no meu rosto.
- Tem sim. – Me afastei o suficiente para que ele não ficasse tão próximo de mim. – E ela também tem um namorado.
- Eu não me importo com isso, gracinha. – Tentou tocar o meu rosto, mas afastei a sua mão.
- Que bom pra você. Se importaria de sair? – Tentei ser educada, mas a minha paciência para bêbados estava bem curta.
- Não faz assim, linda. Vamos conversar... – Continuou testando os meus limites e tocou a minha coxa parcialmente descoberta. – Quer sair daqui? Podemos ir pra outro lugar...
- Eu não quero conversar. – Falei gentilmente e segurei a mão dele na minha perna em um movimento rápido, agarrando um de seus dedos e o virando quase chegando ao ponto de quebrá-lo. – E se você quiser continuar com sua mão intacta, sugiro que saia daqui.
- Wow, wow, calma... – Fez uma careta de dor e eu o deixei puxar a mão de volta. – Estou indo, não precisa entrar na violência.
- Já vai tarde. – Comentei pra mim mesma assim que ele foi embora.
- Deve ser difícil pra você ter que aguentar esses caras. – O homem que estava me atendendo voltou e deixou um copo em minha frente.
- Eu sei me virar. – Dei de ombros e peguei um canudo para tomar a minha bebida. – Você tem que anotar o meu nome, certo? Pra cobrarem na saída?
- Por conta da casa.
E não é que eu terminei usando o meu charme para conseguir a bebida de graça? Não que eu tenha feito isso de propósito, claro. Agradeci mais uma vez e desci do banco, já dando o primeiro gole na minha bebida. O bartender caprichou no álcool, porque só naquela prova eu já senti a garganta queimando. Ao me afastar daquela bagunça e refazer o meu caminho, pude notar que a pista de dança já estava um pouco mais animada e que o casal que cantava “Endless love” fazia o maior sucesso. O homem da prancheta acenou pra mim assim que me viu novamente e depois apontou para o relógio, querendo dizer que não faltava muito para a minha vez de cantar. Inconscientemente dei dois goles longos no Bloody Mary e afirmei que sim com a cabeça. O som de meus saltos batendo no chão continuou quando me virei para mesa onde meus amigos estavam e conversavam como se eu não fizesse falta alguma. Zayn ainda conversava com Liam e mexia as mãos como se imitasse o movimento de um avião. Esse último sorriu discretamente pra mim e eu acabei retribuindo.
- %Abi%, vampiros não são imortais! – Harry praticamente gritou.
- É claro que são! – Ela rebateu da mesma forma, irritada.
- %Tah%, fala pra ela! – Haz nem me esperou chegar direito e já foi me puxando para o meio daquela discussão. – Se eles são imortais, como é que podem morrer?!
- Eles são imortais porque não morrem, Harry! São mortos. É diferente. – A ruiva me ignorou, por sorte a minha.
- Não é diferente nada. Se pode morrer, não é imortal!
- Vocês dois que me incluam fora dessa. – Ri daquela discussão sem cabimento algum e me sentei, passando um braço e volta do de Zayn.
- Demorou, babe... – Ele interrompeu a conversa com Liam e pegou a minha bebida para dar um gole antes mesmo que eu oferecesse.
- Tinha muita gente lá como o Ni falou. – Deixei um beijo na bochecha dele. – Mas sobre o que vocês estavam falando? Não quero atrapalhar.
- Sabia que o pai do Liam trabalha em uma fábrica de aviões? – Respondeu animado.
- Não sabia... Sério, Li?
Sei que Liam começou a falar sobre aviões e como estaria trabalhando com o seu pai se não tivesse se mudado para Londres, mas eu não prestei tanta atenção assim. Acabei ficando distraída com as mãos de Zayn que logo seguraram a minha. Fiquei brincando com seus dedos quentes como se fossem a coisa mais importante do mundo e vez ou outra me perdia nos olhares que ele lançava pra mim. O outro menino não se importou e muito menos pareceu perceber que eu não podia estar menos interessada naquele assunto. Eu não estava tentando ser mal educada e não me distraí porque não me importava, apenas aconteceu. Louis deve ter notado que Zayn também começava a prestar mais atenção em mim do que ao nosso redor e por isso chamou a atenção de Li para começar um novo assunto com ele.
- Sua pele está mais macia que o normal hoje... – Zayn subiu uma das mãos pelo meu braço, ombro e terminou na minha nuca, fazendo um carinho leve por ali.
- Droga! – Ri, mas ele não entendeu nada. – Não fale isso pra %Abi%, ok?
- Por que não? – Arqueou uma sobrancelha e deslizou os dedos pela lateral do meu pescoço.
- Ela me deu um creme de esfoliação para a pele e disse que ele fazia milagres... – Fechei os olhos por culpa daquelas caricias. – Mas você sabe como ela fica quando está certa.
- Insuportável. – Concordou comigo e riu baixo, tocando a minha bochecha com os lábios.
Esse toque me deixou mais arrepiada do que eu gostaria de admitir, mas estava entorpecida demais pra tentar disfarçar. Continuei com os olhos fechados quando Zayn fez seu percurso até a minha boca. Minha mão esquerda fez um caminho até a gola da camisa que ele usava e a deixei por ali. Entreabri os lábios assim que a língua dele pediu passagem e tratou de encontrar a minha. Como sempre, o nosso beijo parecia uma dança; um tango, se quiser chamar assim. Ele continuou com os carinhos no meu pescoço, já percebendo que eu gostava daquilo provavelmente mais do que deveria. Já eu, brinquei com os lábios do rapaz, sentindo o gosto da minha bebida misturada à dele. Se não me engano, tinha um toque de limão e vodka. Eu sabia que o casal tá terminara de cantar, mas não fazia ideia de que qual era a nova musica que animava o local, pois só o que ouvia eram ruídos. Ruídos e a minha respiração descompassada.
- %Star%? %Star% Tomlinson? – Uma voz que não era de nenhum dos meus amigos chamou a minha atenção.
- Ela já vai... – %Abi% falou para alguém e fez Zayn parar o beijo devagar.
- Vou pra onde? – Olhei em volta ainda um pouco abobalhada. Não era surpresa que eu não pudesse escutar a música tocar, pois não havia nenhuma. – Espera... Sou eu?
- Vai, %Tah%! Já te chamaram. – Niall riu da cara que eu estava fazendo e apontou para o palco.
“Ok, ok, tudo vai dar certo...” O lado bom de não saber que a minha vez de cantar estava próxima era que eu não ficara nervosa por antecedência. Mas em compensação tudo aconteceu de uma vez só, começando pelo frio na boca do estômago. Me apoiei na cadeira e me pus de pé, sentindo vários olhares em cima de mim. Eu sabia qual música iria cantar e estava bem confiante quanto a isso, mesmo sabendo que a minha voz não fora feita para tal ato. O apresentador, se por assim chamar, me aguardava perto das escadas e me ajudou a subir. Os holofotes iluminavam o centro do palco, onde um pedestal apoiava o microfone. Fui informada para ir até a banda e informar qual seria a minha música e obedeci no mesmo instante.
- LINDA! UHUUUUL! – %Abi% gritou e bateu palmas, me fazendo corar e nem olhar na direção dela.
- %Star%, certo? – O pianista foi bem amigável comigo e me deixou um pouco mais tranquila. – Já fez sua escolha?
- Sim... – Respirei fundo. – Conhece Talking to the moon do Bruno Mars?
- Ótima escolha. Bem sentimental. – Sorriu e estralou os dedos. – Qual o seu tom?
- Ahn... Eu não tenho ideia do que você está falando... – Passei a mão pelo cabelo, colocando a minha franja no lugar.
- Não tem problema, vamos descobrir quando você começar. Não se esqueça de respirar, certo? E se esquecer a letra, não fique nervosa, apenas continue. – Aquelas dicas, por mais óbvias que fossem, me deram um pouco de ideia do que eu teria que fazer.
- Respirar e continuar... Captei! – Fiz sinal de positivo com os dedos.
Não era a minha primeira vez naquele palco, mas era minha primeira vez sozinha. Isso me deixou um pouco insegura, mas eu tentei afastar esses pensamentos com todas as minhas forças. Me virei mais uma vez na direção do microfone e notei que tinha uma plateia em frente ao palco, composta por todos os meus amigos. Todos sorriam e se preparavam como se estivessem no meu show, até mesmo gritando e batendo palmas quando eu me aproximei do pedestal. Foi meio que um efeito dominó, pois quando eles bateram palmas, outras pessoas do Pub fizeram a mesma coisa. Desejei pedir para que não esperassem grande coisa, mas também não quis ser tão pessimista assim. “Vamos encarar isso como um treinamento. Vou ter que cantar na peça mesmo...” O garoto ao piano esperava o meu sinal para que ele e o resto da banda pudessem começar a tocar.
- Boa noite a todos! Eu gostaria de dedicar essa música a alguém que eu perdi muito recentemente, mas que nunca pareceu tão próximo quanto agora... – Foram as minhas palavras ao microfone. Quem me conhecia, sabia exatamente de quem eu estava falando e era o que importava. Dei uma olhada para a banda e fiz que sim com a cabeça, já escutando as primeiras notas daquela música que significava tanto pra mim ultimamente.
I know you're somewhere out there…
(Eu sei que você está em algum lugar lá fora)
Somewhere far away.
(Um lugar bem distante)
I want you back. I want you back…
(Eu te quero de volta. Eu te quero de volta...)
My neighbors think I'm crazy, but they don't understand.
(Meus vizinhos acham que estou louca, mas eles não entendem)
You're all I had…
(Você era tudo que eu tinha...) Comecei a cantar e as palavras foram saindo e fluindo pelo microfone. A cor do holofote era branca e clara, mas assim que o responsável pelos efeitos técnicos entendeu a mensagem que eu estava querendo passar, mudou o tom para algo mais azulado e sereno, até mesmo mais fraco. Isso me permitiu olhar mais para frente e não pra baixo como antes. Até que não estava sendo tão ruim, de jeito nenhum.
At night when the stars light up my room…
(À noite, quando as estrelas iluminam o meu quarto…)
I sit by myself talking to the moon…
(Eu sento sozinha, falando com a Lua…)
Trying to get to you… In hopes you're on the other side talking to me too.
(Tentando chegar até você… Com esperanças que você está do outro lado, falando comigo também)
Or am I a fool who sits alone talking to the moon?
(Ou eu sou uma boba que senta sozinha, falando com a Lua?) Toquei o microfone com a mão direita, ganhando um pouco mais de confiança e deixei a outra livre para se mover como quisesse, seguindo a melodia. Acho que vi algumas lágrimas no olho de Lou, mas podia ter sido enganada pela iluminação. %Abi% e Niall estavam abraçados e balançavam de um lado para o outro, sem tirar os olhos de mim. Harry e Liam também me observavam, mas o único que parecia realmente me entender era Zayn. Ele não se mexia, não sorria e nem chorava. Só... Me compreendia. Ele sabia que aquela era a minha homenagem para o meu avô e, mais do que ninguém, sabia o quando eu sentia a sua falta. Até porque foi em seus braços que eu chorei.
I'm feeling like I'm famous. The talk of the town.
(Estou me sentindo famosa. O assunto da cidade)
They say I've gone mad. Yeah, I've gone mad.
(Eles dizem que eu fiquei maluca. É, eu fiquei maluca)
But they don't know what I know…
(Mas eles não sabem o que eu sei…)
Cause when the Sun goes down someone's talking back.
(Porque quando o Sol se põe, alguém está falando de volta)
Yeah, they're talking back…
(Yeah, estão falando de volta) Meu próprio corpo ia levemente de um lado para o outro, sem nunca me afastar do pedestal. Ninguém estava me vaiando ou me mandando sair, o que era um bom sinal e me deu forças para continuar. Eu ainda não sabia o que o pianista quis dizer com o “meu tom”, mas parecíamos ter nos entendido, já que eu cantava sem ter que esforçar muito as minhas cordas vocais. É claro que eu também não tinha treinamento algum, por isso logo fiquei um pouco sem ar, mas não foi o suficiente pra me fazer parar de cantar. Levei a mão ao peito e fechei os olhos, imaginando o que papá diria ao me ver ali em cima, na frente de tantas pessoas. Arriscando e fazendo algo novo... Ahh, ele diria que estava orgulhoso de mim, como sempre.
Do you ever hear me calling?
(Você me escuta chamar?)
Cause every night I'm talking to the moon.
(Porque todas as noites eu estou falando com a lua)
Still trying to get to you.
(Ainda tentando chegar até você)
In hopes you're on the other side talking to me too.
(Com esperanças que você esteja do outro lado, também falando comigo)
Or am I a fool who sits alone talking to the moon?
(Ou sou uma boba que senta sozinha, falando com a Lua?)
I know you're somewhere out there.
(Eu sei que você está em algum lugar lá fora)
Somewhere far away...
(Algum lugar bem distante...) Assim encerrei a música e voltei a abrir os olhos, escutei vários aplausos, principalmente de quem estava bem na minha frente. Eu me sentia leve e triste porque a minha vez tinha acabado. Quem sabe depois eu poderia cantar de novo, certo? Ainda mais se fosse uma música para alegrar os ânimos que com certeza eu havia abaixado com aquela música do Bruno. Mais uma vez ninguém pareceu ter odiado e eu sorri com satisfação. %Abi% gritava e batia palmas quando eu me aproximei da borda do palco, esperando alguma ajuda pra descer. Zayn foi o primeiro a vir na minha direção, com um sorriso impecável. Esticou as mãos até tocar a minha cintura e eu me apoiei nos ombros dele, pulando e pousando graciosamente no chão.
- Você foi maravilhosa, babe. – Tocou o meu rosto.
- E você é suspeito pra falar! – Ri, mas acreditava no que ele falava. O abracei forte em comemoração ao meu sucesso (modéstia a parte) e outros vieram me cumprimentar também.
- Você devia mudar para o nosso curso, %Tah%. Falo sério. – Niall bagunçou os meus cabelos.
- Papá teria adorado. – Meu irmão apertou o meu nariz, coisa que não fazia em anos.
- Sei disso, Lou. – Sorri e afastei a mão dele com brincadeira.
- E agora eu gostaria de chamar ao palco... – O apresentador ocupou o espaço que antes era meu e se preparou para anunciar o próximo nome.
- %Tah%... – %Abi% me chamou e eu apenas afirmei que sim com a cabeça. Ela sorriu de volta e me mostrou a câmera que estava em sua mão.
- Harry, Liam, Louis, Niall e Zayn!
- LINDOS! – A ruiva também gritou pra eles.
- Nós cinco? De uma vez? – Liam olhou na minha direção, assim como os outros quatro.
- Eu dei os nomes de vocês... Ele deve ter feito confusão e achou que era um grupo só. – Menti. – É melhor vocês irem assim mesmo.
- Vão logo! O Steve já chamou, agora vão ter que ir. – %Abi% foi empurrando o namorado para o palco onde Harry já estava.
Mesmo um pouco relutantes, os meninos subiram ao palco e fizeram uma rodinha. Possivelmente estavam querendo decidir uma música que os cinco conhecessem e eu tinha certeza que não seria muito difícil. Olhei em volta procurando o meu Oscar de melhor atriz e %Abi% quase não parava de se mexer de tão nervosa que estava. Ela mesma pediu para gravar a apresentação, o que seria o mais sensato, já que eu sentia que podia desmaiar a qualquer instante. “É isso... Essa é a hora...” Pensei tentando me controlar e acenei para Zayn assim que ele olhou na minha direção enquanto Louis foi falar com a banda. Outros quatro pedestais foram colocados próximos ao que já estava lá e cada garoto ocupou o seu. A ordem foi a seguinte: Louis, Niall, Zayn, Liam e Harry; da esquerda para a direita. Como já era de se esperar, um alvoroço começou da parte feminina da plateia. Cinco meninos lindos juntos em cima de um palco... Como poderia ser diferente? A melodia começou e eu fui pega de surpresa com a escolha deles: Torn.
I thought I saw a girl brought to life.
(Eu achei ter visto uma garota trazida à vida)
She was warm she came around like he was dignified.
(Ela era carinhosa, ela se aproximou como se fosse digna)
She showed me what it was to cry.
(Ela me mostrou o que era chorar)
Well you couldn't be that girl I adored.
(Bem, você não podia ser aquela garota que eu adorava)
You don't seem to know or seem to care what your heart is for.
(Você não parece saber ou se importar com pra que serve o seu coração)
I don't know her anymore…
(Eu não a conheço mais) Liam foi o primeiro a começar a cantar, dominando o primeiro verso. Ele segurou o microfone e interpretou as suas palavras, querendo contar a sua história. Sua expressão facial era centrada, como se ele estivesse levando aquilo muito a sério; talvez sério até demais pra um show de karaokê. Mesmo assim, sua performance era bem natural e ele não precisava forçar nada. De vez em quando nossos olhares se cruzavam, mas ele também dava atenção ao resto da plateia. %Abi% se movia de um lado para o outro, tentando pegar o melhor ângulo de todos e focando principalmente em Liam durante a sua parte.
There's nothing where she used to lie.
(Não há nada onde ela costumava se deitar)
My conversation has run dry.
(Minha conversa esgotou)
That's what's going on… Nothing's fine I'm torn.
(É isso o que está acontecendo… Nada está bem, eu estou despedaçado)
I'm all out of faith. This is how I feel.
(Estou sem fé. É assim que eu me sinto)
I'm cold and I am shamed lying naked on the floor.
(Estou frio e envergonhado, deitado nu no chão)
Illusion never changed into something real.
(Ilusões nunca mudam pra algo real)
I'm wide awake and I can see the perfect sky is torn.
(Estou em acordado e consigo ver que o céu perfeito está despedaçado)
You're a little late I'm already torn.
(Você está um pouco atrasada, eu já estou despedaçado) Harry cantou o primeiro refrão e foi perfeito em cada nota, como era de se esperar. Sua voz rouca deu um toque pessoal àquela música que originalmente era cantada por uma mulher e qualquer um que não a conhecesse poderia achar que era própria dele. Hazza colocava tanto esforço e paixão em sua voz que as veias de seu pescoço chegaram a ficar mais evidentes em algumas de suas notas maiores. Ele foi o primeiro a perceber o que %Abigail% estava fazendo, mas isso não o fez parar. Inclusive fez algumas gracinhas e sorriu para a câmera. Nas últimas estrofes do refrão, Niall e Zayn se juntaram em uma espécie de coro. Os dois harmonizaram alguns “uhhhh”, ou algo parecido, para dar ainda mais ritmo à música.
So I guess the fortune teller's right.
(Então eu acho que a vidente está certa)
I should have seen just what was there
(Eu devia ter visto só o que estava lá)
And not some Holy light.
(E não alguma luz divina)
But you crawled beneath my veins and now I don't care, I have no luck…
(Mas você rastejou entr as minhas veias e agora eu não me importo, eu não tenho sorte...)
I don't miss it all that much.
(Eu já não sinto tanta falta)
There's just so many things that I can't touch.
(Existem tantas coisas que eu não consigo tocar)
I'm torn…
(Estou despedaçado...) Eu estava tão emocionada com os meus cinco meninos cantando em cima daquele palco que nem notei quando a pista de dança começou a ficar cada vez mais cheia de espectadores que queriam vê-los de perto. Cada um parecia profissional e juntos eram o paraíso em forma de homens. Zayn cantou depois de Harry e aquele trecho fez jus a sua voz. Sei que sou suspeita pra falar e não é a primeira nem segunda vez que eu comento isso, mas a afinação vocal desse garoto é algo de outro mundo. Qualquer um podia ver que ele nascera pra estar sob os holofotes e iria longe de um jeito ou de outro. Meus olhos azuis deviam estar mais límpidos do que nunca, já que eu sentia que podia chorar a qualquer momento. Arrepios já nem faziam mais efeito, pois eu estava entorpecida. %Abigail% também tinha sumido da minha área de visão e eu temia procurá-la e perder um segundo sequer daquele verdadeiro espetáculo.
I'm all out of faith, this is how I feel.
(Eu estou sem fé, é assim que eu me sinto)
I'm cold and I am shamed lying naked on the floor.
(Estou frio e envergonhado, deitado nu no chão)
Illusion never changed into something real.
(Ilusões nunca se transformam em algo real)
I'm wide awake and I can see the perfect sky is torn
. (Eu estou bem acordado e posso ver que o céu perfeito está despedaçado)
You're a little late, I'm already torn.
(Você está um pouco atrasada, já estou despedaçado)
Torn…
(Despedaçado...) Os cinco se juntaram para o segundo refrão, as suas vozes se misturaram e, de certa forma, se tornavam uma só. Eu nunca estive tão certa de algo na vida quanto estava naquele momento. Admito que cheguei a pensar algumas vezes que havia a possibilidade de não dar certo a junção deles, até porque sempre devemos olhar os dois lados da moeda, mas vendo-os ali na minha frente, se divertindo como nunca e fazendo algo que amavam... Era o impulso que eu precisava pra batalhar e passar por cima de qualquer coisa que os impedissem de ficarem juntos; fossem os egos e orgulhos ou “haters” que pudessem aparecer no caminho. Louis ganhou um pouco mais de destaque quando os outros quatro diminuíram o volume de suas vozes e o deixaram “roubar a cena” por uns instantes.
There's nothing where she used to lie.
(Não há nada onde ela costumava se deitar)
My inspiration has run dry.
(Minha inspiração secou)
That's what's goin' on…
(É isso que está acontecendo…)
Nothing's right I'm torn…
(Nada está certo, eu estou despedaçado…) A banda parou de tocar e Niall tomou o microfone, até mesmo dando um passo mais a frente. Algo que só então me ocorreu é que eles não tiveram tempo algum de ensaiar ou dividir as partes que cada um cantaria, portanto foi puro improviso. Ainda assim eles não se atropelaram ou se confundiram em momento algum. Mais uma vez, era como se tudo fluísse naturalmente. Os meninos trocavam olhares entre si, sorriam e até faziam algumas brincadeiras. Era realmente lindo e a plateia estava curtindo tanto quanto eu. Absolutamente todos que estavam perto do palco acenavam, batiam palmas, os encorajavam e algumas garotas mais oferecidas até gritavam certos elogios que não vou contar aqui. Se fosse em outro momento eu teria ficado cheia de ciúmes, mas havia coisas mais importantes me preocupando. O único irlandês do grupo olhou na direção de meu irmão, como se pedisse para que ele terminasse a música e assim Louis o fez. Respirou fundo e colocou toda a sua alma naquelas últimas palavras:
I'm all out of faith. This is how I feel.
(Eu estou sem fé. É assim que me sinto)
I'm cold and I am shamed bound and broken on the floor.
(Estou frio e envergonhado, amarrado e quebrado no chão)
You're a little late I'm already torn…
(Você está um pouco atrasada, eu já estou despedaçado...)
Torn…
(Despedaçado...)
+++ - %Star%! Desce daí! – Mesmo brigando comigo e tentando me segurar, %Abi% ria. – Você vai quebrar essa mesa!
- Obrigada por me chamar de gorda, sua amiga ingrata! – Gargalhei me esquivando das suas mãos ágeis e continuei dançando em cima da mesa. – Eu só estou me divertindo...
- Zayn, dá pra você controlar a sua namorada? – A ruiva se virou para o moreno, mas ele estava gostando demais do meu “show” pra fazer alguma coisa.
Zayn apenas se juntou às nossas risadas e continuou me observando, claramente divertindo-se com tudo aquilo. Eu virava o segundo copo de Kamikaze e quase me engasguei com cubo de gelo que fui inventar de chupar. Espera... Eu disse “segundo”? Quis dizer “quarto”. Ou seria o quinto? Sexto... Isso não importa! O caso é que depois que Harry descobriu essa bebida deliciosa de limão, eu não consegui maneirar no álcool e virei um atrás do outro. Com as minhas inibições nos pés, não existia ninguém que pudesse me segurar ou me impedir de fazer o que me passava pela cabeça. E, naquele momento, tudo o que eu queria era dançar. Nada melhor do que fazer isso em cima da mesa!
Chegamos a um ponto da noite onde não era mais necessário colocar o nome na lista pra poder cantar no karaokê, já que a maioria das pessoas estava tão louca quanto eu. Por esse motivo, qualquer um podia simplesmente subir ao palco e arrasar na cantoria. Eu não havia voltado aos holofotes depois da minha homenagem ao meu avô, mas estava louca de vontade. Harry e Niall mataram a vontade que os consumiam desde o começo da noite e se apresentaram com uma música do Michael Bublé e os outros três também subiram ao palco, mas eu estava distraída demais pra prestar atenção em qual canção era a da vez.
- %Star% Tomlinson, maldita hora a que eu decidi dormir na sua casa hoje, porque agora eu tenho que ficar de babá! – Rolou os olhos ou fez uma careta. De qualquer forma ela não estava nada feliz. – Ou você desce daí, ou eu mesma vou ter que te buscar!
- Pode vir, gatchenha. – Pisquei e a chamei com o dedo indicador, rindo por achar mais graça do que realmente tinha. – Não precisa me olhar assim, já entendi, já entendi... Eu desço... Mas com uma condição.
- Lá vem bomba. – Cruzou os braços e eu me ajoelhei na mesa para quase igualar as nossas alturas. – Fala, %Star%.
- Eu desço daqui se você cantar comigo! – Deixei o meu copo já vazio perto dos outros e arregalei os olhos com um sorriso animado.
- Eu canto em francês se for o caso, mas desce da mesa antes que você caia. – Terminou sorrindo com a minha condição e esticou a mão na minha direção.
- O show já acabou? – Zayn nos observava de perto e não parava de sorrir. Mais alguém estava “alegre” demais, se é que me entende.
- Mais tarde eu faço outro showzinho... Só pra você. – Pisquei com a minha noção de o que era ser sexy aumentada e o semblante do meu namorado foi de alegremente bêbado para maliciosamente animado em 2.5 segundos.
%Abigail% era a única pessoa sóbria do grupo de sete pessoas e por isso era a mais mal humorada. A coitada tinha que aguentar uma melhor amiga que fazia o que lhe desse na telha, o namorado dessa amiga que a apoiava em todas as loucuras, o próprio namorado que estava ensinando um grupo de pessoas a dançar como um irlandês e ainda ter que se preocupar com três adolescentes/adultos que não podiam ser encontrados em lugar nenhum. Não estranharia se Lou e Haz estivessem em um canto rindo das coisas mais idiotas e inventando as piadas mais sem graça do mundo, mas e Liam? Se eu estivesse com pelo menos metade da minha noção cognitiva funcionando também teria me preocupado com o seu paradeiro. Ele não costumava beber sempre por causa da sua saúde, porém todos merecem um descanso de vez em quando.
Tive um pouco de problema pra descer da mesa, já que ao menos estava preocupada com a minha roupa curta e não estava afim de mostrar a calcinha para a metade do bar. Estar de salto alto também não foi de grande ajuda. Zayn segurou a minha mão esquerda e %Abi% a direita, ambos me dando apoio para pular para o chão. Vamos ignorar o meu quase tropeço para conseguir me equilibrar e o fato de eu ter derrubado um copo de vidro que se espatifou no chão. A minha sorte é que ninguém estava ligando para praticamente nada e os garçons se mantiveram ocupados a noite inteira.
- Wow, vai com calma, Lindsay Lohan. – %Abi% riu e eu gargalhei alto, realmente achando aquilo engraçado.
- Eu estou bem, eu estou bem! – Respirei fundo e pude me soltar dos meus amigos e ficar de pé sozinha. – Agora não se esqueça do que me prometeu, %Abi%!
- Eu estava esperando que você esquecesse. – %Abi% fez bico quando eu envolvi Zayn em um abraço. – Não demore aí, ou eu vou acabar desistindo desse mico.
A menina se afastou e me deixou sozinha com Zayn, que me envolveu pela cintura e escondeu o rosto no meu pescoço. Sua barba mal feita roçou na minha clavícula e acabou fazendo cócegas, causando uma crise de risos da minha parte e da dele também. O que costumava causar arrepios acabou sendo motivo de graça e assim que Zayn voltou a me olhar seu rosto estava iluminado e feliz. Não sei se era a bebida continuando a fazer efeito ou se o garoto estava ainda mais lindo. Não precisei ficar na ponta dos pés para igualar as nossas alturas, já que o salto alto já fazia isso muito bem. O envolvi ainda mais pelo pescoço e pressionei os lábios contra os dele. Não transformamos aquilo em um beijo mais profundo, pois ficamos trocando selinhos e sorrisos que vez ou outra se transformavam em risadas sem motivo.
- Eu te amo, Malik. – Sorri ainda mais, fazendo carinho nos cabelos dele.
- Eu sei. – Respondeu convencido e levantou uma sobrancelha.
- É só isso que você vai falar? – Também elevei uma sobrancelha, esperando uma resposta melhor que aquela.
- Claro que não, babe. – Sorriu e beijou o topo da minha testa. – %Abi% está te chamando.
- Idiota! – Me soltei de seus braços mesmo sabendo que ele estava brincando.
- EU TE AMO, %STAR%. – O louco gritou no meio do pub enquanto eu começava a me afastar. – É ISSO MESMO, ELA É A MINHA NAMORADA.
Não me preocupei em olhar pra trás ou para os lados, mas sabia que muitos estavam olhando pra mim e que Zayn ainda sorria daquele jeito lindo de sempre. %Abi% sorria para nós dois com uma carinha fofa e me esperava em cima do palco. Dois pedestais estavam montados com microfones e um deles já estava sendo ocupado pela ruiva. Não me preocupei em subir as escadas e pulei direto para o meio do palco; não literalmente, é claro. Mais uma vez tropecei e gargalhei da minha própria falta de coordenação. Fui olhada com reprovação pela minha amiga, mas o carinha do piano também riu. Prefiro pensar que ele riu “comigo” do que “de mim”, mas isso é um detalhe. Fui até o meu lugar e a minha companheira sussurrou que já havia escolhido a música e que eu a conhecia muito bem, então só deveria “entrar na onda”, segundo a própria. A banda começou a fazer o seu trabalho e eu realmente conhecia a canção...
- YO, I'll tell you what I want, what I really, really want. (YO, eu te digo o que eu quero, eu realmente, realmente quero.) So tell me what you want, what you really, really want. (Então me diga o que você quer, o que você realmente, realmente quer) I'll tell you what I want, what I really, really want. So tell me what you want, what you really, really want. – %Abi% começou a cantar e parecia mais animada que eu! Aposto que seu drama todo pra cantar comigo era só charme. Ela pegou o microfone e mexeu os lábios de forma engraçada ao cantar. - I wanna, I wanna, I wanna, I wanna, I wanna really, really, really wanna zigazig ahh... (Eu quero, eu quero, eu quero, eu realmente, realmente, realmente quero...)
- If you want my future, forget my past. (Se você quer o meu future, esqueça o meu passado) If you wanna get with me, better make it fast. (Se você quer ficar comigo, é melhor ser rápido) – Foi a minha vez de me apoderar do meu microfone e arrasar na cantoria. Minha voz saiu firme e suave ao mesmo tempo, por mais que essa frase não tenha sentido algum. O importante é que eu estava me divertindo e me senti uma das Spice Girls. – Now don't go wasting my precious time. (Agora não vá gastar o meu tempo precioso) Get your act together we could be just fine. (Se componha e nós podemos nos dar bem) - If you wanna be my lover, you gotta get with my friends. (Se você quer ser meu namorado, tem que se dar bem com os meus amigos) Make it last forever, friendship never ends. (Faça durar para sempre, amizade nunca acaba) – Nós duas ficamos de frente uma para a outra e nos juntamos para cantar esse refrão. Eu me embolei um pouco em algumas palavras por estar rindo demais, mas ninguém parecia ligar. Zayn podia ter começado a dançar sóbrio depois que me conheceu, mas era durante as nossas bebedeiras que ele se entregava mais as batidas da música. Ele se mexia como se ninguém pudesse vê-lo e prendeu a minha atenção por uns eternos segundos. – If you wanna be my lover, you have got to give. (Se você quer ser o meu namorado, você tem que doar) Taking is too easy, but that's the way it is… (Receber é muito facil, mas é assim que as coisas são)
- Oh, what do you think about that? Now you know how I feel. (O que você acha sobre isso? Agora você sabe como eu me sinto.) Say, you can handle my love, are you for real? (Diga, você aguenta o meu amor? Você está falando sério?) – Enquanto %Abi% cantava e acenava para o “publico”, eu fazia passinhos desengonçados e jogava a cabeça pra trás e os braços para o alto. Liam e Louis voltaram a aparecer do nada e o mais velho tinha a câmera em mãos, filmando tudo. Aquilo era algo que eu não gostaria de gravar, com toda certeza. – I won't be hasty, I'll give you a try. ( Eu não serei apressada, te darei uma chance) If you really bug me then I'll say goodbye. (Se você realmente me perturbar, então eu direi adeus)
- Yo I'll tell you what I want, what I really, really want. So tell me what you want, what you really, really want. – Essa história de decidir quem canta qual parte era mais difícil do que eu esperava, por isso eu e a minha amiga acabamos nos atropelando.
- So, here's a story from A to Z. (Então, aqui está a história de A a Z.) You wanna get with me, you gotta listen carefully. (Você quer ficar comigo, escute com cuidado) – Eu não queria pegar a parte de rap da música porque tinha certeza que me atrapalharia toda; o que aconteceu praticamente nessa parte toda. Eu já não conseguia cantar direito sóbria, imagine com o nível alcoólico no meu sistema elevado. Isso não me impediu de fazer a minha performance e imitar uma gangster profissional, sem falar que rebolei de um lado para o outro e andei pela frente do palco inteira. - Easy V doesn't come for free, she's a real lady. And as for me, ha you'll see. (V* fácil não vem de grace, ela é uma dama de verdade. E quanto a mim, ha, você vai ver)
- Slam your body down and wind it all around. (Jogue o seu corpo e gire) Slam your body down and zigazig ah… - %Abi% tomou a frente e balançou os braços de um lado para o outro. Eu me juntei a ela pra cantar a parte final e dividimos um microfone só.
- If you wanna be my lover… (Se você quer ser meu namorado)