Ballet Shoes


Escrita porElla Souza
Editada por Isabelle Castro


Capítulo XLIV

Tempo estimado de leitura: 70 minutos

  - But I swear, she will never... Never drive my TVR.
  Cantarolei no banheiro vazio do quinto andar enquanto eu trocava as minhas roupas normais pelo uniforme de ballet. Eu já havia perdido muitas aulas nos últimos tempos e por isso acordei super cedo naquela quarta feira para poder correr atrás do tempo perdido. Meu humor estava bem leve, mesmo ainda sendo manhã, afinal... Tudo parecia estar voltando para o lugar aos poucos. Eu e Zayn estávamos juntos e nos amávamos, meu futuro e presente ainda estavam em Londres, meus amigos não ficariam sem mim, e o mais divertido... Eu teria o prazer de assistir o susto que %Abi% levaria ao me ver entrando na sala de aula. No dia anterior, a criatura nem ao menos se deu ao trabalho de me ligar pra avisar que não iria mais para a minha casa e me deixou esperando. De certa forma até que foi bom, porque assim eu e o meu namorado pudemos aproveitar esse tempo sozinhos. Pra me vingar, também não liguei pra ela e não avisei sobre a minha mudança de planos, inclusive fiz Zayn me prometer que não contaria nem pra ela e nem para Niall. Eu queria fazer uma surpresa e aquela seria das grandes.
  A minha aula começaria em mais ou menos cinco minutos, mas mesmo se eu estivesse atrasada tenho certeza que a professora Holly me deixaria entrar. Levando em conta o quanto ela e Nicholas estavam íntimos, era mais que provável que ele tivesse contado sobre a minha volta para Paris. Como a mulher era a minha professora preferida e eu também devia ser uma de suas melhores alunas – modéstia a parte – ela ficaria feliz em saber que foi apenas um surto momentâneo. Me olhei no espelho e encarei o meu reflexo com um sorriso. Agora sim eu conseguia me reconhecer, agora sim eu era eu. Talvez até um “eu” melhorado, pois resolvi seguir ao pé da letra o que aquele bilhete tão simples do meu avô pedia. Ele queria que eu vivesse a minha vida como uma aventura e não podia deixar medos me prenderem ou me fazerem recuar. Eu iria ousar mais e já dei o primeiro passo naquele dia mesmo: Estava usando preto, o que raramente acontecia, um vestido de dança um tanto quanto justo e decotado e o coque em meu cabelo estava bem frouxo, quase desleixado.
  “É isso aí, %Star%, vamos arrasar!” Ri comigo mesma e recolhi todas as minhas coisas do banheiro. Pendurei a minha mochila sob o meu ombro e deixei aquele lugar para trás, já dando de cara com alguns alunos no corredor. Houve uma pausa geral nos assuntos quando eu passei e senti que a parcela masculina era a que mais me observava. Felizmente Zayn não estava ali para notar e causar alguma confusão por causa de ciúmes ou coisa assim e eu pude andar direto para a minha sala que era a terceira porta à direita. Espiei pela parte de vidro e %Abigail% estava ali dentro, sentada em um canto, meio cabisbaixa. Holly estava perto dela e mexia em algo no aparelho de som enquanto os outros alunos já se alongavam espalhados pela sala.
  Respirei fundo e fiz a minha melhor cara de “é apenas mais um dia normal”. Abri a porta da sala e meus colegas foram os primeiros a me olhar e murmurar um bom dia enquanto eu atravessava a sala. %Abi% nem levantou o rosto e Holly finalmente notou a minha chegada. Ela sorriu visivelmente surpresa e feliz por eu não ter ido embora. Em seguida olhou para a minha amiga, provavelmente pensando o mesmo que eu. “Será que ela não vai me notar?”
  - Bom dia, %Abi%. – A cumprimentei e larguei a minha mochila ao seu lado casualmente.
  - %Star%? – Levantou o rosto e me estudou dos pés até a cabeça. – Eu estou sonhando?
  - Talvez... Eu tenho asas ou algo assim? – Olhei para os meus ombros em brincadeira e ri.
  - %Star%! – A sua ficha pareceu cair e levantou de uma vez, pulando em cima de mim. – O que você está fazendo aqui?!
  - Como assim? Eu tenho aula junto com você... – A abracei de volta.
  - Para de brincadeira, menina! Pra você estar aqui...
  - É, eu não vou embora. – A interrompi e nos soltamos.
  - AI MEU DEUS! – Gritou em animação e todos da sala olharam na nossa direção.
  - Ainda bem que você resolveu ficar, %Tah%! – Holly, que estivera escutando a nossa conversa, tocou o meu ombro e sorriu sincera. – Eu não queria perder a minha melhor aluna.
  - Epa, pensei que a sua melhor aluna era eu! – %Abi% reclamou e nem ela mesma acreditou naquilo que falara, então nós três rimos.
  - Eu também estou feliz por ficar, professora. – Ainda ria um pouco da minha amiga.
  - Muito bem, então podemos começar a aula? – A docente perguntou não só para mim, mas como para todos da sala.
  - Sim! – Respondi prontamente enquanto os outros resmungavam um “não”.
  - Já sabem o que fazer, formem duplas e vão se alongando.
  - Quem será a minha dupla hoje? – Olhei em volta pensativa e a professora voltou a mexer no som.
  - Ha ha, muito engraçada. – %Abi% passou o braço pelo meu, super possessiva, e me arrastou até perto da janela onde costumávamos ficar. – Agora pode me explicar que milagre aconteceu pra você resolver ficar?
  - Vamos dizer que o meu avô ainda me faz surpresas mesmo depois de partir. – Sentei-me ao chão fazendo uma abertura de quase 180º com as pernas.
  - Não vai me dizer que ele apareceu pra você, né? Tipo... O espírito dele... – Fez uma cara de susto e sussurrou as últimas palavras. Ela imitou a minha posição e encostou a ponta dos pés nos meus.
  - Claro que não, idiota. – Rolei os olhos. – Mas até que seria bem legal... Enfim, ele me mostrou que a vida e uma aventura e deve ser vivida. Por isso eu não podia voltar pra Paris!
  - Eu sempre gostei desse senhor. – Sorriu e demos as mãos. Vez ela me puxava e esticava as minhas pernas, vez eu fazia isso com as dela. – E também acho bom que você esteja superando tão bem.
  - Estou mesmo, né? – Suspirei. – Isso me deixa bem culpada, %Abi%. Eu não deveria estar mais deprimida ou sentida? Quero dizer, é claro que eu sinto muita falta do papá e desejo que ele estivesse aqui... Mas eu comecei a aceitar...
  - %Tah%, me deixe te interromper por aqui. – Mudamos de posição, onde eu fiquei deitada no chão com as pernas para cima e ela girava os meus pés de um por um. – Superar não é esquecer, não pensar ou ignorar. Não é ganhar ou perder, não é esquecer as memórias e não é ter pensamentos tristes. Superar não é a perda e não é a derrota. É apreciar as memórias, mas seguir em frente. É ter uma mente aberta e confiante para o futuro. Superar é ser agradecida pelas coisas que te fizeram rir e as que te fizeram chorar, o que você tem, o que você tinha e o que você vai ganhar. Superar é ter a coragem para aceitar o que mudou e a força pra seguir em frente. Superar é crescer.
  - Isso e lindo, %Abi%... – Por sorte não fiquei com lágrimas nos olhos depois de ouvir todas aquelas coisas. – Conclusões filosóficas antes das oito horas da manhã...
  - Sou uma verdadeira poeta, minha cara amiga. – Me ajudou a levantar com um sorriso convencido em seu rosto. – Agora é a minha vez.
  - Já tiveram tempo suficiente, né? – Holly nos chamava para o meio da sala e a minha amiga reclamou por ter acabado de se deitar.
  - Talvez um outro dia, %Abi%. – Ri e a deixei para trás.
  - Que melhor amiga essa que eu fui arrumar. – Me fuzilou por não ajudá-la como havia feito comigo.
  - Sei que todos conhecem essa música, portanto não será muito difícil entrarem no ritmo. – A professora ligou o som com o controle remoto e a música “She’s a maniac” começou a tocar em um volume um tanto quanto alto. – %Star%, Melanie, Jô, Bill, Ann e Lisa... Quero vocês no plano superior. Quanto ao resto, no inferior.
  Aquela tarefa era bem interessante, pois alguns de nós deveria dançar apenas em um plano e interagir com os alunos do outro plano. Ou seja, enquanto eu devia dançar na ponta dos pés ou o mais “alta” possível, %Abi% dançaria pelo chão, de joelhos ou até mesmo deitada. Holly devia ser a melhor professora de técnica corporal do país, pois ela sempre inventava novas formas de trabalhar o nosso corpo inteiro. Aquela era a única aula em que eu podia realmente extrapolar e me jogar na dança. Eu já não tinha mais vergonha de nada e conhecia todas as pessoas que estavam ali dentro comigo, por isso não havia motivos para me segurar e tentar agir normalmente. Bill veio para o meu lado e começamos a dançar; não necessariamente um com o outro, apenas relativamente próximos. Ele saltitava e eu joguei os braços para cima, mexendo os pés como se o chão estivesse muito quente e eu não pudesse encostar ali por muito tempo. Algumas meninas andavam de quatro e davam cambalhotas, mas %Abigail% estava de barriga encostada no chão e fingia estar nadando. Não sei bem como ela chamava aquilo de dança, mas não segurei uma risada.

+++

  - ZAYN, ZAY, ZAYN. – %Abigail% correu para o lado de fora da Academy.
  Assim que a nossa última aula do dia acabou, nós fomos até o banheiro e nos trocamos como de costume. É claro que ela foi mais rápida que eu e logo ligou para o namorado, pedindo para que ele e Zayn nos encontrassem na escadaria em dois minutos, pois ainda não tínhamos nos visto naquela manhã. Além do que, o loiro não sabia da novidade do momento. O caso é que %Abi% estava tão desesperada pra contar aquilo pra alguém que nem me esperou e saiu correndo pelo corredor do primeiro andar, me fazendo apressar o passo para acompanhá-la.
  - Espera por mim!
  - ZAYN, CADÊ... ACHEI! ZAYN! – A ruiva gritou mais ainda quando o encontrou sentado na escada e rolou dela pra chegar até ele.
  - Bom dia, love... – A ignorou completamente e sorriu na minha direção. Se levantou e deixou uma baixinha confusa na escada. – Como foram as aulas?
  - Ótimas! – Sorri de canto a canto e caminhei até Zayn como se estivesse flutuando. O abracei ficando na ponta dos pés e colei os nossos lábios em um selinho. – Mas eu prefiro quando elas acabam e eu posso ficar com você.
  - Eu perdi alguma coisa? – Niall perguntou para a namorada.
  - É exatamente o que você está pensando, Ni. Ela vai ficar. – %Abi% explicou bem animada. – Mas custava me falar que você já sabia, Malik? Eu vim toda animada pra te contar!
  - Você saberia disso se cumprisse o que promete e tivesse ido até a minha casa ontem. – Fiz cara feia pra ela.
  - Mas já era de se esperar que eu não fosse te ajudar a fazer a mudança!
  - Ei, vocês duas, dá pra parar de brigar? – Niall se pôs de pé. – O que importa é que a nossa %Star% vai continuar aqui!
  - Minha %Star%. – Zayn sussurrou e beijou a minha bochecha, me fazendo olhar pra ele e nem perceber quando Niall e %Abi% entraram nosso abraço.
  - Abraço em grupo! – %Abi% me apertou e eu gargalhei.
  - Socorro! Vocês vão me esmagar! – Eu ainda não estava totalmente curada do hematoma no meu quadril, por isso ele ainda doía um pouco, mas eu estava tão feliz naquele instante que nem me importei.
  - Oh em gee, nós temos tanta coisa pra fazer, %Star%! Temos que passar o texto da peça juntas, tirar as medidas para os figurinos, fazer as compras para o natal... %Star%, TEMOS QUE FAZER AQUILO. – Minha amiga desesperada começou a andar de um lado para o outro e arregalou os olhos ao lembrar daquilo que pensou que eu tivesse esquecido.
  - Eu sei disso! – A repreendi com o olhar, pois não era hora e nem local de falar sobre... Bem, aquilo. – Sexta feira. Ainda dá tempo, certo?
  - Sim, mas temos que correr. É até domingo...
  - Só eu não sei do que vocês duas estão falando? – Zayn cruzou os braços e levantou uma sobrancelha.
  - É coisa nossa, sweety. – Respondi como se nosso assunto não tivesse importância. – Coisa de mulher.
  - Aposto que tem algo a ver com o ciclo... – Niall cochichou para Zayn, mas não foi nada discreto.
  - Que ciclo? – Pareceu mais confuso ainda. Os dois ficaram nos encarando como se estivessem tentando descobrir o maior segredo nacional.
  - Não faço ideia. – Ni levou o indicador e o polegar ao próprio queixo e estreitou os olhos. – Mas acho que algo tem que sincronizar ou algo assim.
  - Dá pra vocês dois pararem de paranoia? – Ri e rolei os olhos ao mesmo tempo, puxando os dois pelas mãos. – Podemos ir comer?
  - Sim, senhora. – Responderam ao mesmo tempo.
  Comecei a descer as escadas com um menino em cada mão e eu sabia que %Abi% vinha atrás de nós por causa do barulho dos seus sapatos. Ninguém reclamou por eu estar nos guiando para o estacionamento e eu não devia ser a única a estar com fome por ali. Não estava chovendo ainda, mas o dia estava nublado. Não demoramos nada pra chegar até os nossos carros, mas algo nos impediu de entrar neles.
  - Bom dia, alunos. – A diretora Agnes devia ter acabado de chegar na Academy. – %Star%, soube que você queria falar comigo.
  - Ahn, sim... – Mexi nos cabelos nervosa. Como eu falaria que não era nada por eu ter mudado de ideia? Precisava falar alguma coisa, qualquer coisa. – Eu só queria falar que estou pronta para o papel principal. Vou cantar, aprender a atuar e dançar até sangrar.
  - É muito bom ouvir disso, mas eu já sabia. – Me respondeu com um de seus super raros sorrisos. – Eu confio em você, %Star%. Sei que não cometi um erro ao te dar esse papel.
  - Obrigada, diretora. Não vou te decepcionar!
  Nos despedimos brevemente e ela retomou o seu caminho para que eu pudesse seguir o meu. Zayn era o único que ainda me esperava fora do veículo, já que %Abi% havia pulado para dentro do meu e Niall estava no Volvo. Meu namorado esticou a mão para que eu a segurasse logo o fiz, para que ele pudesse me puxar pra mais perto até estarmos abraçados mais uma vez. Seu sorriso me falava tudo que eu precisava saber: Que o que falamos no dia anterior ainda era verdade e que eu não estava sonhando com aquilo.
  - Estou orgulhoso de você. – Me segurou pela cintura.
  - Eu sei que está... – Brinquei com os cabelos em sua nuca. – E eu estou fazendo isso por você.
  - Então faça por nós dois. – Encostou a boca na minha e ficamos trocando alguns selinhos.
  - HEY, VOCÊS DOIS. – Niall gritou de dentro do carro prateado e buzinou. – Dá pra andarem mais rápido?
  - VOCÊ NUNCA BEIJOU A %STAR%, ENTÃO NÃO SABE COMO É! – Zayn gritou de volta e me pegou de surpresa.
  - Malik! A academia inteira não precisa ficar sabendo que meu beijo é bom! – Olhei em volta preocupada que alguém pudesse ter nos ouvido. – E o Niall tem razão, nós temos que ir.
  - Tá bem, tá bem! – Fez cara de triste e soltou a minha cintura. – Pra onde estamos indo mesmo?
  - Nando’s!
  Tirei a chave do carro da minha bolsa e o destranquei, ouvindo Niall comemorar no carro ao lado por estarmos indo ao seu restaurante preferido. Não estava com nenhum desejo específico de comida, por isso não me importava em ir até aquele estabelecimento, além de estar com muita vontade de provar uma sobremesa nova. %Abi% estava no banco de trás, onde sempre gostava de andar quando não estava dirigindo, e já pedia pra ligar o radio ou colocar algum de meus CD’s. Eu já ia fazer isso de qualquer forma, só queria tirar o carro daquela vaga apertada primeiro. Zayn acenou pela janela do próprio carro e saiu primeiro, me fazendo segui-lo. Aquilo era até melhor do que se eu tivesse que ir na frente, já que provavelmente acabaria pegando uma rua errada e faria todos nós ficarmos perdidos. Também não demoramos nada para dar a volta na pequena praça em frente ao prédio da Academy e sair em uma das avenidas de Londres.
  %Abi% era a pessoa mais impaciente que eu conhecia, pois não me esperou ligar o rádio e ela mesma se esticou para o banco da frente e mexeu em alguns botões. Reclamei que ela iria acabar mudando a configuração inteira e depois sobraria pra mim, mas como sempre, a ruiva não me deu ouvidos. Pelo menos ela conseguiu sintonizar e achar uma estação boa. A música que estava tocando não era muito conhecida, mas soava agradável aos meus ouvidos.
  - %Abi%... – Logo que paramos no primeiro sinal vermelho eu a chamei. – Se eu te contar uma coisa, você promete que não faz um escândalo?
  - Claro que prometo!
  - Tudo bem... Sei que essa promessa não vai adiantar de nada, mas vou te contar assim mesmo. – Respirei fundo torcendo para que ela não gritasse. – Você lembra que Liam e eu saímos na sexta à tarde, né?
  - Lembro... Vocês foram ao Zoo, se eu não me engano. Mas o que tem?
  - O dia inteiro foi muito divertido e agimos como os bons amigos que somos, mas... No final do passeio, ele me beijou.
  - Woooooow, tá falando sério? – Esticou o pescoço para olhar na minha direção e seus olhos estavam arregalados. – E o que você fez?!
  - O que eu podia fazer, %Abi%? Liam é importante demais pra mim pra que eu o empurrasse ou lhe batesse!
  - Você o beijou de volta?! – Colocou a mão sobre os lábios, mais espantada ainda.
  - Não! Quero dizer... Eu não sei! – Bufei apertando o volante com força. Meus atos eram automáticos, pois já estava acelerando mais uma vez e dobrando em uma rua. – Eu não retribuí o beijo, sabe? Mas também não saí correndo.
  - Eu não sei nem o que falar... – Grande ajuda, %Abi%, valeu. – E como você e o Liam estão se tratando? Você contou para o Zayn?
  - Tudo aconteceu tão rápido que eu nem tive muito tempo de processar direito. Logo que chegamos em casa eu tive a noticia que meu avô morreu e horas depois já estava em Paris, preocupada com outra coisa bem pior. – A espiei pelo retrovisor. – E eu não contei nada para o Zayn... Será que eu devia?
  - Claro que não! – Balançou a cabeça para dar ênfase às suas palavras. – %Tah%, tudo que nós não queremos agora é uma confusão entre eles. Eu conheço o Zayn muito bem pra saber que ele não entraria em uma banda com um cara que beijou a namorada dele.
  - Eu também sei disso, mas não contar não seria como esconder algo dele?
  - Tecnicamente falando, sim. Só que não podemos esquecer que não significou nada pra você, então não é como se fosse uma traição ou coisa assim.
  - Acho que você está certa... – Suspirei mais calma observando a traseira do carro de Zayn entrar na minha direita. – Agora podemos falar de um assunto bem melhor?
  - Sim, por favor! – Sorriu.
  - Eu disse que o amo, %Abi%. – Também sorri e mordi o lábio.
  - Para o Liam?!
  - Não, idiota! Para o Malik! – Essa garota precisava urgentemente de comida, pois estava devagar demais.
  - FINALMENTE! – Riu. – Eu já sabia disso, %Tah%. Você o ama desde que ele te pediu em namoro. Talvez até antes disso! E tenho certeza que ele falou de volta.
  - Falou sim... E fez questão de repetir a noite inteira.
  - Awn, como são lindos! – Sorriu pra mim e depois virou para o lado e fingiu vomitar, achando que eu não veria.
  - Falsa! – Gargalhei e já pude avistar o Nando’s no final da rua.
  - O que você vai fazer essa tarde? Se estiver livre podemos tomar aquele chocolate quente...
  - Sorry, hoje não dá! A Lux e meus primos pequenos vão lá pra casa hoje. Ficarei de babá!
  - Ihh, sinto muito, %Tah%. – Fez cara de quem comeu e não gostou como se aquilo fosse uma coisa ruim.
  - Por que? Eu amo os meus pequenos! – Sorri enquanto dirigia até o estacionamento. – Além do mais... Eu não estarei sozinha com eles. O Zayn vai me ajudar.
  - Hmmm, já entendi tu-do! – Sorriu sapeca e piscou pra mim pelo retrovisor. – Só tenham cuidado, porque crianças são muito impressionáveis e não podem ver vocês dois se agarrando pelos cantos!
  - Vamos tentar. – Pisquei de volta e gargalhei.
  Eu ainda seguia o Volvo quando encontrei um lugar onde o meu carro cabia perfeitamente. Não, meu conversível não era um carro gigante, mas também não era dos menores, o que constantemente me trazia dores de cabeça da hora de encontrar uma boa vaga. Zayn e Niall ficaram para trás quando passamos por eles e eu manobrei para parar o automóvel no espaço certo. Mais uma vez %Abigail% não usou a porta e pulou para fora do carro, quase sendo atingida pela capota que começava a se fechar. Como o tempo começou a ficar um pouco instável, seria perigoso demais deixar o meu carro descoberto. Assim que tudo estava desligado e fechado, pude pegar a minha mochila no banco ao meu lado e descer para ir ao encontro da minha amiga.
  Passei o meu braço em volta do de %Abigail% e fomos para a calçada, procurando os meninos com os olhos. Nenhum deles estava nos esperando, o que me fez achar que eles eram muito mal educados por não acompanharem as suas damas, ou então eficientes o suficiente para ir pegar uma mesa. Como o Nando’s era bem popular, era comum ficar cheio nas horas de almoço e jantar, entretanto, como os três já eram bem conhecidos ali eu não acreditava que teria algum problema quanto a isso. A ruiva abriu a porta para que nós duas entrássemos no restaurante e um garçom fez sinal para que o seguíssemos. Nos entreolhamos e resolvemos ir atrás dele mesmo sem ter certeza se era o certo a se fazer.
  - Seus amigos as aguardam, senhoritas. – Apontou educadamente para uma mesa mais afastada onde Zayn e Niall já olhavam os cardápios.
  - Merci, monsieur. – Dei o meu melhor sorriso e assisti o garçom corar.
  - Ahn... Po-pode me chamar de algo. – Se embaralhou nas palavras e gaguejou, fazendo %Abi% rir, mas eu continuei com o mesmo sorriso. – Digo, digo, pode me chamar se precisar de algo.
  - Eu chamarei.
  Assenti com um aceno e arrastei %Abi% para a nossa mesa. Ela ainda olhou para trás mais uma vez enquanto nos afastávamos e cochichou que o tal garçom ainda estava nos olhando. Ou melhor, me olhando. Eu afirmei que não tinha nada de mais no que eu havia feito, mas desde quando ela escuta algo do que eu falo? Zayn se levantou assim que nos aproximamos e puxou a cadeira ao seu lado para que eu pudesse me sentar. Niall não o imitou, fazendo a sua namorada bufar e reclamar da vida.
  - Que namorado incompetente. – Reclamou, mas Ni estava tão entretido no cardápio que nem percebeu que era com ele. – %Star%, você vai me ensinar a falar francês. Quem sabe assim eu arrumo um namorado tão bonito quanto aquele garçom que estava flertando com você.
  - Que história é essa? – Zayn levantou uma sobrancelha e eu a repreendi com o olhar.
  - Não é nada, baby. Loucura dela.
  - Loucura minha? Aham! – Riu irônica e olhou para o meu namorado, pronta pra me denunciar. – A %Star% foi toda “mercier, monsir” pra cima do cara!
  - Pra começo de conversa, é “merci, monsieur”, não isso aí que você falou. – A imitei ao falar e depois olhei para Zayn. – Eu só agradeci por ele ter nos mostrado onde vocês estão.
  - Sei... – Levantou um pouco da cadeira para olhar em volta e checar se alguém me observava.
  - Po-pode me chamar de algo. – %Abi% afinou a voz ao imitar o pobre garçom e eu tive que rir, mesmo sem gostar daquela gozação.
  - Cala a boca, %Abigail%!

+++

  As minhas crianças só chegariam às duas e meia da tarde, o que me deu um tempinho para tomar um banho rápido e trocar de roupa depois que eu cheguei do almoço. Também aproveitei para dar um jeito na casa, como esconder coisas afiadas, pontudas e que quebrariam com facilidade. Dar conta de uma criança que aprendeu a correr a pouco tempo já era complicado demais, imagine três. Tudo bem que Lux, Heidi e Ben não eram os mais endiabrados do mundo, mas ainda eram crianças! Na cozinha, eu escondi todos os copos e pratos de vidro nos armários mais altos, assim como facas e tesouras. Seria a primeira vez que eu iria ficar sozinha com os três de uma vez só e queria que tudo desse certo. Zayn estaria chegando há qualquer momento, pois havia me mandado uma mensagem avisando que estava na esquina, Harry pegou um turno extra no trabalho e Louis e Liam estavam fugindo da creche, por isso preferiram ir para qualquer outro lugar. Eu nem reclamei com esses dois últimos, pois seria um pouco constrangedor passar a tarde com o meu namorado e o garoto que gostaria de ser o meu namorado. Não que eu achasse que Liam pudesse fazer alguma coisa, ou tratá-lo mal, mas eu mesma acabaria agindo estranho e deixando na cara que tinha algo errado. Já que eu estava na cozinha mesmo, me servi de um copo de água e dei o primeiro gole.
  - Pensativa? – Uma voz que saiu do nada quase me fez engasgar.
  - Que susto, Zayn! – Tossi um pouco e me virei para encará-lo. – Como você entrou aqui?!
  - Pela porta? – Sorriu cheio de si e cruzou os braços.
  - Disso eu sei, né? – Falei com desdém e coloquei o meu copo pela metade dentro da pia. – Nem toca mais a campainha? O porteiro nem avisa mais que uma visita chegou?
  - Eu já sou de casa. – Riu de forma gostosa e andou até o meu encontro. – E se eu tocasse a campainha, não teria chances de te flagrar trocando de roupa, ou no banho.
  - Sempre com um plano na manga, Malik.
  Acabei rindo daquela brincadeira, mas sabia que tinha um fundo de verdade em suas palavras. Depositei um beijo rápido em seus lábios e segurei a mão do mais alto para que pudéssemos ir até a sala. Pelo que eu me lembrava “Zayn + cozinha” não é uma combinação muito boa; ou quem sabe seja a melhor delas, dependendo do ponto de vista. Mas o caso é que estávamos esperando companhia, então não seria nada legal eles chegarem e nós dois estarmos desarrumados ou descabelados. Aposto que ele também sabia daquilo, por isso resmungou quando o puxei pelo hall e o forcei a sentar no sofá comigo.
  - Essas crianças são as mesmas que eu conheci na casa do seu pai, certo? – Perguntou assim que eu passei as pernas por cima das dele e entrelaçou nossos dedos.
  - Sim, aqueles anjinhos. – Afirmei e comecei a brincar com os dedos dele.
  - Anjinhos? Não tenho tanta certeza... A Lux tem uma cara de sapeca!
  - Hey, não fala assim da minha baby girl! – O repreendi. – Aliás, fique atento, porque hoje vai ser um teste pra ver se você vai ser um bom pai ou não.
  - E se eu não for? – Mediu as nossas mãos e é claro que a dele era bem maior que a minha.
  - Aí teremos que terminar. – Dei de ombros. – Não posso ficar com uma pessoa que não vai saber cuidar bem dos meus doze filhos.
  - DOZE? Uau... – Me olhou impressionado. – Se você quer ter tantos filhos assim, é melhor começar a fabricá-los.
  - Você acha?! – Gargalhei e encostei-me ao braço do sofá.
  - Tenho certeza! – Continuou com a brincadeira e se aproximou um pouco mais. – E posso te ajudar, se quiser...
  - Eu acho que quero... – Respondi baixinho, mas alto o suficiente para ser escutada.
  Entrelacei os dedos aos dele mais uma vez e mordi o meu lábio inferior. Creio que Zayn entendeu aquilo como uma provocação, pois logo se inclinou sobre mim e levou a minha mão que estava presa à dele até acima da minha cabeça, fazendo-me descer um pouco mais no sofá até estar deitada sobre o mesmo. Aproveitando-se da posição, o menino também se deitou sobre mim, por mais que ele não fizesse peso algum. Tocou a ponta do meu nariz com o seu e nossos hálitos se misturaram. Trocamos alguns olhares até que soltou a minha mão e eu pude segurá-lo pela nuca e acabar com a distância que parecia bem maior do que realmente era. Mexemos os lábios em sincronia, dando início a um beijo molhado e apaixonado, pra não falar outra coisa. Fiz aquilo que tanto gostava e passei os dedos entre os fios negros de Zayn, já que eu era a única pessoa que ele realmente deixava fazer isso, sem nem mesmo se importar em ter o penteado que demorava tanto pra aperfeiçoar destruído. Sem querer ficar pra trás, desceu a mão que não estava usando de apoio no sofá pela lateral do meu corpo até chegar na minha coxa, onde apertou um pouco e levantou com cuidado, de forma que ele pudesse ficar entre as minhas pernas. Não me importei nada com aquilo e fiz questão de prendê-lo um pouco mais, começando a sentir coisas.
  Brincalhão, Zayn interrompeu o beijo com uma mordida no meu lábio inferior e escorregou a boca até encontrar o meu pescoço. Continuei com os olhos fechados, mas dessa vez as minhas mãos passearam por seus ombros largos e eu jurava poder sentir seus músculos das costas se contraindo. Soltei um pequeno suspiro ao ter a minha pele sugada, sabendo que ficaria uma marca ali. Assim que me preparava para tentar algo mais audacioso, o barulho da campainha soou em alerta e eu abri os olhos com um susto. Zayn parecia não perceber nada, pois continuou me apertando e beijando a minha clavícula.
  - Baby, alguém tocou na porta... – Sussurrei, pois estávamos próximos da janela e tive medo que quem quer que fosse pudesse me escutar.
  - É impressão sua... – Murmurou tentando me beijar de novo.
  - Zayn, para com isso! – Ri do desespero que ele estava e juntei todas as minhas forças para poder tirá-lo de cima de mim. – JÁ ESTOU INDO!
  - Agora que estava ficando bom! – Reclamou como uma criança birrenta e eu consegui sair do sofá.
  Eu sabia que estava ficando bom, talvez bom até demais. Dei um jeito na minha roupa, tentando colocá-la no lugar, e passei a mão pelos cabelos. Tentei ao máximo fingir que nada tinha acontecido e que quem quer que fosse não havia atrapalhado nenhuma troca de afeto entre duas pessoas com os hormônios a flor da pele. Respirei fundo para igualar a minha respiração e girei a fechadura para abri-la. Dei de cara com Rachel e as três crianças, uma sorrindo mais que a outra. Lux estava no braço da mãe e o outro casal de irmãos estava mais a frente. Todos eles pareciam bem animados com o dia que teríamos à nossa frente, mas o sorriso da minha madrasta não tinha preço. Pelo que eu sabia, a mais velha ia tirar o dia livre em um tipo de SPA, então realmente estava ansiosa com o seu próprio dia sem crianças ou afazeres domésticos.
  - Hey, pequeninos! – Os cumprimentei com um sorriso bem grande e Lux voou para os meus braços. Ela tinha mania de se jogar para as outras pessoas, por isso tínhamos que ficar bem atentas perto dela. – Luxy!
  - %Tah%! – A loirinha me abraçou e Ben e Heidi também abraçaram as minhas pernas.
  - Como vocês estão? Prontos para a diversão?! – Coloquei a minha irmã no chão e me abaixei para poder abraçar os outros dois. – Oi, Rach!
  - %Star%, você não tem ideia do quanto eles estão felizes. – A loira sorriu. – Lux quase não conseguiu dormir depois que você ligou ontem pra convidá-los pra vir aqui.
  - Eu também estou feliz. – Dei um beijo na testa dos três e me levantei. – Não precisa se preocupar, viu? Eles vão ficar bem.
  - Tenho certeza que sim. – Tirou uma bolsa um tanto quanto grande das costas e me entregou. – Aí estão algumas coisas que eles podem precisar... E você tem o meu número, então pode me ligar se algo acontecer.
  - Não vai acontecer nada, Rach, vá curtir o seu dia livre! – Fiz sinal de “vá embora” com a mão e pendurei a bolsa no meu próprio ombro.
  - Tudo bem, eu vou... – Suspirou. Mesmo que ela quisesse ter o seu dia de descanso, também devia ser difícil sair de perto de Lux. – Tchau filha...
  - Tchau, mummy. – Lux acenou para a mãe, mas não prestou muita atenção, pois estava agarrada na minha perna enquanto Heidi segurava uma de minhas mãos.
  - %Tah%, quer ver o brinquedo novo que eu ganhei? – Ben segurou a minha outra mão e também me puxou para um lado.
  - Quero sim, Bennie... Porque não vai lá pra sala com as meninas enquanto eu dou tchau para a tia Rach, huh?
  - Tá bem! – Sorriu e segurou a irmã e Lux pela mão. Às vezes ele parecia um homenzinho, pois era bem responsável e compreensivo para a idade.
  - Então até mais tarde, %Tah%. – Minha madrasta me abraçou com força e eu retribuí da mesma forma.
  - Aproveite!
  Rachel ainda deu uma espiada por cima do ombro antes de partir de vez. Por mais que confiasse em mim, devia ter um pé atrás por ficar longe da sua primeira filha. De qualquer forma, ela se foi e eu não esperei ela entrar no carro para fechar a porta de casa. Eu tinha várias atividades em mente e se quisesse realizar todas, deveríamos começar logo. Me direcionei para a sala onde as crianças e Zayn já se cumprimentavam. O mais velho fazia sinal de “high five” e apenas Lux não soube como responder aquilo. Ben e Heidi sentaram-se no sofá e a minha irmã veio ao meu encontro pedir colo. Eu a levantei na mesma hora e também fui me juntar aos outros no sofá.
  - Vocês se lembram do Zayn, né? – Sorri e troquei olhares com o moreno.
  - Ele é seu namorado! – Ben respondeu com uma cara de sapeca que me fez rir.
  - Eu gosto desse garoto. – Zayn também riu e bagunçou os cabelos do meu primo.
  - %Tah%, podemos ver um filme? – Heidi me olhou com os olhinhos brilhando.
  - Vocês querem ver um filme agora? – Comecei a brincar com alguns cachinhos finos no cabelo da bebê em meu colo. – Ou poderíamos ir para o parque e assistir um filme na volta, o que acham?
  - Parquinho! – Lux balançou a cabeça e sorriu animada.
  - Isso, vamos ao parque! – Ben pulou do sofá e Heidi o imitou.
  - Então está decidido! Weeeeee. – Comemorei junto com eles e também me levantei, ainda carregando Luxy. Deixei a mochila que Rachel me entregou por ali mesmo, pois, como o parque não ficava longe de casa, ninguém precisaria de nada que estava ali dentro.
  - %Tah%, posso brincar no parque também? – Zayn me seguiu e fez bico.
  - Só se você prometer que vai ter cuidado! – Desde quando ele virava uma criança e eu a mãe?
  - Eu prometo! – Bateu continência. – Palavra de escoteiro.
  - Você foi escoteiro? – O menino mais novo perguntou.
  - Não... Mas eu já acampei.
  O mais alto parecia não querer decepcionar o garoto, por isso acho que ele estava inventando aquela história de ter acampado. Se havia uma coisa que não combinava nada era Zayn, um cara super hiper mega vaidoso no meio do mato, sem banheiro ou espelhos. Mas por outro lado... Ele também parecia gostar de se aventurar e experimentar coisas novas, por isso resolvi dar a ele uma chance. Os irmãos já nos esperavam na porta e, diferentemente do que eu acreditava, nenhum dos dois correu quando eu a abri e pudemos rumar em direção ao parque. Lux não me soltava de jeito nenhum e eu já não sabia se era ciúmes ou preguiça. Pelo menos com ela em meu colo eu podia beijar as suas bochechas quantas vezes quisesse, mesmo que isso a irritasse um bocado.
  - Baby girl, tem certeza que não quer ir no chão como a Heidi e o Ben? Você está pesada.
  - Não... – Me agarrou mais ainda com medo que eu a soltasse.
  - Eu posso levar ela, se quiser. – Zayn tocou a bochecha de Lux com o indicador e ela o olhou.
  - O que você acha, huh? Quer ir com ele? – Sorri encorajadora e ela afirmou que sim com a cabeça, um pouco tímida.
  - Quer ir nas minhas costas? – Paramos de andar pela calçada e Zayn ficou na minha frente, se abaixando um pouco para que eu pudesse ajudá-lo.
  - Uhum. – Lux se esticou e eu tive que agir rápido, caso contrário ela poderia cair.
  - Isso mesmo... – Coloquei-a sentada nos ombros de Malik e ele segurou as suas perninhas. – Está segura?
  - Eu estou segurando ela, %Tah%, não se preocupe. – Sorriu e pegou uma de minhas mãos, entrelaçando os nossos dedos.
  - Não estou preocupada! Eu confio em você. – Fiquei na ponta dos pés para dar-lhe um beijo na bochecha, mas ele foi mais rápido e roubou um selinho.
  Escutei Ben gargalhar e vi que ele estivera nos observando. Não sei por que, mas ele se divertia muito em ver eu e Zayn fazendo coisas de namorados. Ao mesmo que eu me perguntava se ele tinha alguma “namoradinha” na escola e por isso ficava rindo, lembre-me do que %Abi% falou sobre crianças serem impressionáveis. Tudo que eu não queria era que ele saísse por aí repetindo o que me via fazendo e depois se alguém perguntasse onde ele aprendeu essas coisas, respondesse que foi comigo. Aí com certeza a minha tia nunca mais deixaria nem ele ou Heidi passarem o dia comigo.
  Lux brincava com os cabelos já bagunçados de Zayn e puxava sem querer de vez em quando. Ele não se importava nada e até fazia brincadeiras, fosse imitando um cavalo e dando alguns pulinhos, ou fingia que ia cair e ela gargalhava de felicidade. Por um momento eu não consegui tirar os olhos daqueles dois e sorrir. Era a segunda vez que se encontravam e, por mais que Lux estivesse tímida no começo, já pareciam bem íntimos. Segurei a mão de Heidi de um lado e Zayn segurou a de Ben do outro para que pudéssemos atravessar a rua. O condomínio não estava tão movimentado assim e nenhum carro passara por nós durante o nosso translado, mas quando se está com crianças, todo cuidado é pouco. Literalmente.
  - Então, Dee-Dee, em qual brinquedo você quer ir primeiro? – Balancei o bracinho dela enquanto passávamos para o outro lado da calçada.
  - Na casinha! – Apontou feliz para a casinha de bonecas em tamanho real e nem esperou uma resposta minha para soltar a minha mão e começar a correr. – Vem, Lux!
  Ben também se soltou de Zayn e foi correndo para o balanço. Lux deve ter se arrependido de não ter ido no chão, pois se desesperou para seguir os primos mas não pôde. Tentei pedir para que ela se acalmasse enquanto eu a tirava dos ombros de Zayn, mas não adiantou. A loirinha mexia as pernas e os braços tentando ir mais rápido, mas isso só me atrapalhou mais. Por fim, consegui carregá-la e assim que a soltei, foi direto para a casinha com Heidi. Meu namorado me abraçou de lado e eu encostei a cabeça em seu ombro. Se alguém passasse por ali agora, poderia jurar que eles eram nossos filhos. Gravidez na adolescência é o que há! Tsc.
  Como a maioria da nossa família inglesa por parte de pai ainda morava em Doncaster, a maioria dos nossos primos também era de lá, deixando apenas Heidi e Ben em Londres. Sendo assim, Ben só tinha meninas pra brincar e por isso acabava se isolando um pouco e muitas vezes brincava sozinho. Eu não gostava nem um pouco disso, portanto sempre fazia questão de dar atenção pra ele e entrar nas brincadeiras, o que me fazia ser muito querida; não só por ele, diga-se de passagem. Zayn também percebeu que ele estava sozinho no balanço e as duas meninas já tinham se distraído completamente dentro da casinha de madeira. Trocamos olhares e um sorriso que já dizia tudo. Apontei o “trepa-trepa” com a cabeça e ele afirmou que sim, também com a cabeça. Sem me falar nada, ele começou a correr até o brinquedo.
  - Quem chegar por último perde! – Gritou quando já estava no meio do caminho.
  - Ei, isso não vale! – Gritei de volta e me pus a correr. – Vem brincar com a gente, Benny!
  - Você vai perder, %Star%! – Entrou na brincadeira e também correu.
  - Espera por mim! – Tentei chamar a atenção de alguém, mas não adiantou. Ben acabou chegando antes mesmo de Zayn e eu com certeza seria a última.
  - Ganheeeeeei. – O mais novo comemorou, já se emaranhando no meio do brinquedo.
  - %Tah% é perdedora. %Tah% é perdedora... – Zayn cantarolou ao também chegar no brinquedo.
  - Essa competição não valeu! – Estirei a língua para os dois e também entrei no trepa-trepa, me segurando em alguns ferros e começando a subir. – Eu quero uma revanche.
  - Então quem chegar ao topo primeiro ganha! – Ben nem terminou de falar para começar a subir no brinquedo. Por mais que seus braços e pernas fossem pequenos, ele tinha uma habilidade tremenda em escalar.
  - Essa eu não vou perder! – Me apressei em subir o mais rápido que consegui. Como já estava pelo menos na metade do caminho, consegui chegar ao topo antes de Zayn, mas ainda assim perdi para o mais novo.
  - Quem é o perdedor agora, baby? – Levantei uma sobrancelha e me sentei em um ferro, segurando nas laterais para não acabar caindo.
  - O Zayn é perdedor! – Ben riu e apontou para ele.
  - E você é o Homem Aranha, porque eu nunca vi alguém escalar tão rápido! – Falou impressionado, fazendo o garotinho se sentir o próprio super herói.
  Zayn terminou de subir e se sentou ao meu lado, deixando as pernas em frente as minhas, o que de certa forma me deixou mais presa e com menos perigo de escorregar e acabar caindo. Desastrada como sou, agradeci por aquele cuidado com um sorriso. Ben até que ficou por ali conosco um pouco, mas só ficar sentado não era algo realmente interessante para ele, o que o levou a descer e partir para outro brinquedo. Ali de cima podia ver vários telhados de casas e árvores que cercavam o condomínio, assim com a quadra de esportes e a piscina que raramente era usada no inverno. Eu não fazia ideia do tamanho daquele complexo, mas dava pra perceber que era muito grande.
  - Você leva jeito com crianças. – Comentei ao olhar para o homem ao meu lado.
  - Você acha? – Me olhou de volta e deu de ombros. – Todos os meus primos tem mais ou menos a minha idade, então além da Safaa eu nunca tive muito contato com elas.
  - Ah, eu acho sim. O que você falou sobre o Homem Aranha? Ele vai ficar pensando nisso até a próxima semana! – Ri e apontei para o pequeno que subia no escorregador pelo lado oposto e fingia soltar teias pelo pulso.
  - Podemos ter um filho como ele? Deixa, deixa? – De novo aquela brincadeira. Desse jeito eu ia acabar acreditando.
  - Um dos doze? Podemos sim! – Ri. – Depois da Emma.
  - Antes da Emma! Porque assim o pequeno Thor pode proteger a irmã.
  - THOR?! – Perguntei com uma gargalhada alta. – Meu filho não vai se chamar Thor!
  - Por que não? Aí ele seria melhor amigo do Loki. – Cruzou os braços como se aquilo fizesse algum sentido.
  - E quem é Loki? – Ergui uma das sobrancelhas.
  - É o filho do Liam... Você não ia entender, foi uma conversa que tivemos. – Descruzou os braços, decidido a esquecer aquele assunto. Liam e Zayn conversando? Isso era novidade...
  - Espera, espera... Vocês dois conversam? Quero dizer, quando eu não estou por perto?
  - Tem algum problema, babe?
  - Não, não, claro que não... – Forcei um sorriso. “Calma, é algo normal seu namorado querer ser amigo dos seus amigos.”
  - Você ficou nervosa. – Sorriu de lado. – Quando você fica assim começa a repetir as palavras, como “não, não” e “espera, espera”.
  - Eu faço isso? – Escondi o rosto nas mãos. Porque todos percebem as minhas manias menos eu?
  - Faz sim. – Tirou as minhas mãos do meu rosto e tirou a franja dos meus olhos. – Mas não se preocupe, nós não falamos sobre você. Pode ficar tranquila que ele não me conta os seus desastres domésticos.
  - Acredito muito. – Ri um pouco mais tranquila em saber que eu não era o assunto das conversas entre os dois. – E se quiserem filhos com esses nomes, adotem gêmeos pra vocês e se casem! Ou então comprem cachorros.
  Zayn riu do meu exagero e disse que preferia a primeira opção, pois sempre achou que Liam fazia o seu tipo. Para piorar, ele ainda se fez de gay e disse que só se aproximou de mim pra chegar perto dele e me fez rir mais uma vez, por mais que eu estivesse tentando permanecer séria. Um trovão alto chamou a nossa atenção e me fez olhar em volta. O céu começava a escurecer rapidamente e logo a chuva iria cair. Resmunguei alguma coisa parecida com “é melhor irmos pra casa” e comecei a descer do trepa-trepa. Confesso que meu pé escorregou em determinado momento e meu coração acelerou com a adrenalina, pois eu jurei que fosse cair. Por sorte tive tempo de me segurar com as duas mãos em uma barra mais alta e acabei ficando pendurada. Aproveitando que não estava tão longe do chão, pulei e fiz de conta que o meu escorregão foi proposital e ninguém pareceu notar nada. Eu me preparava para ir chamar as meninas na casinha de bonecas, mas a voz de Zayn me fez parar.
  - Psiu, babe. – Me fez virar de volta em sua direção.
  - O que você está fazendo, Malik? – Perguntei ao ver que ele estava de cabeça para baixo, se segurando apenas pelos joelhos dobrados no ferro.
  - Eu também quero ser o Homem Aranha. – Sorriu e esticou uma mão na minha direção para que eu me aproximasse, mas logo voltou a usar as duas para se segurar.
  - Ah, é?! – Eu sabia bem onde ele queria chegar com aquilo. – Bem... Só tem um jeito de saber se você pode ser o Homem Aranha ou não.
  Sorri divertida, ainda sem acreditar muito no que eu estava prestes a fazer. Zayn me olhava como se medisse até onde eu realmente poderia ir e considerei aquilo quase como um desafio. Terminei de me aproximar e o garoto quase não se mexeu, permanecendo de cabeça para baixo. Parei quando nossos rostos estavam a centímetros de distância e o meu nariz quase encostava ao queixo dele e vice-versa. Notei que Zayn logo fechou os olhos e resolvi brincar mais um pouco. Rocei nossos lábios e deixei alguns selinhos, tocando a lateral de seu rosto com as mãos. Aos poucos fui aprofundando o beijo, dando algumas sugadinhas nos lábios do outro para só então encaixar nossas bocas. Por estar de cabeça para baixo, foi um pouco complicado no começo para acharmos o nosso ritmo e nos encontrarmos, mas um já conhecia o outro bem o suficiente para chegarmos a um acordo e fazer aquele beijo acontecer. A posição inusitada me fez me imaginar dentro do filme do Homem Aranha e por incrível que pareça, eu gostei da sensação que a novidade me trouxe. Naquele momento que dividimos, me esqueci completamente das crianças e do que eu deveria estar fazendo, apenas voltando para a realidade quando um pingo de água caiu na minha cabeça.
  Sem me desesperar, parei o beijo devagar e sorri ao abrir os olhos e ver que Zayn também sorria. Eu o ajudei a se levantar e ele tocou a testa como se estivesse tonto. Me preocupei, pois se ele inventasse de cair ali de cima, eu não seria capaz de aguentar o seu peso. Isso é que dá, ser tão pequena. Felizmente nada de ruim aconteceu e ele conseguiu chegar são e salvo à grama, me abraçando assim que teve a primeira oportunidade, inclusive fazendo os meus pés saírem do chão.
  - E então, passei no teste? – Continuou me carregando naquele abraço enquanto andava até a casinha de bonecas.
  - Não sei se você daria um bom Homem Aranha, considerando que tem medo de altura... – Me segurei nos ombros dele. – Mas com certeza é o meu super herói.
  - É o suficiente pra mim. – Sorriu satisfeito e me colocou no chão, beijando a minha testa em seguida. – Eu vou lá buscar o Ben...
  - Ok, sweetie. – O observei se afastar por longos segundos e balancei a cabeça para voltar à realidade. Estava começando a chover e teríamos que voltar pra casa logo. Me abaixei para espiar o interior da casinha pela janela e chamar as meninas. – Girls, temos que ir.
  - Mas já? – Heidi fez bico.
  - Só mais um pouco, %Tah%... – Lux também insistiu.
  - Outro dia a gente volta, tá? É que está começando a chover. – Abri a portinha para que elas saíssem. – Nós vamos assistir um filme, comer alguma coisa... Vai ser divertido!
  - Eba! – Minha irmã foi a primeira a sair e segurou a mão de Heidi para que ela viesse junto. – Vamos, Deedee.
  - Prontas pra ir? – Zayn voltou, mas Ben não estava ao seu lado, e sim nos seus ombros. Mas não da mesma forma que Lux estivera antes, pois estava praticamente jogado em um de seus ombros como um saco de batatas.
  - Não vou nem perguntar o que é isso. – Balancei a cabeça sem acreditar muito naquilo, mas pelo menos Ben estava rindo e se divertindo. – Vamos logo porque a chuva está piorando.
  Coloquei o capuz do casaco de Lux sobre a cabecinha dela para que não se molhasse muito e entreguei o meu próprio casaco para Dee se cobrir. Demos as mãos e começamos a voltar pelo mesmo caminho de antes, mas com um pouco mais de pressa dessa vez. Durante o caminho todo Zayn fazia palhaçadas e fingia que ia deixar Ben cair, que, por sua vez, gritava pedindo socorro. As meninas estavam entretidas demais em uma conversa cujo assunto eu não conseguia entender e só me restava olhar para todos. Pelo que parecia, estávamos nos divertindo bastante e nada de ruim tinha acontecido. Eu torcia para que continuasse assim e não havia motivos para ser diferente.
  Como estávamos quase correndo, demoramos pouco mais de cinco minutos para estarmos de volta em casa. Parecia um milagre, mas assim que estávamos protegidos pelo telhado da varandinha de entrada, uma chuva assustadoramente forte começou a cair. Teríamos nos encharcado se tivéssemos saído do parque um minuto depois. Zayn abriu a porta e deu espaço para que as crianças entrassem primeiro, já que Ben já estava no chão novamente. Também passei antes dele e fui envolvida por um casaco de moletom cinza, o mesmo que ele estivera usando. O frio logo foi embora e assim como o calor, também fui invadida por ondas do cheiro de Malik que estava grudado naquela peça de roupa. Eu estava no paraíso.
  - Crianças, vão lavar as mãos, ok? – Fui até a sala e pedi. – Ben, pode ajudar as meninas, por favor?
  - Deixa comigo! – O pequeno já devia saber onde o banheiro da sala ficava, pois logo indicou o caminho para as mais novas.
  - E o que eu faço, chefe? – Zayn encostou-se à parede e cruzou os braços. Eu sempre amei quando ele usava camisa azul, mas já era um crime me olhar do jeito que ele estava fazendo.
  - Você vai... – Mordi o lábio afastando todos os pensamentos pecaminosos. Não era hora pra isso. – Subir até o quarto do Liam e pegar um filme pra gente assistir. Ele só tem desenhos lá, então não deve ser muito difícil.
  - Você é que manda. – Deu meia volta e começou a subir as escadas.
  Juro que tentei não encará-lo enquanto subia as escadas e muito menos reparei nas suas costas coladas na camisa ou nas suas pernas modeladas pela calça justa. “Star, concentre-se!” Resolvi escutar a pequena voz na minha cabeça e fazer o meu caminho para a cozinha. Teria que me virar com o que tinha por ali e tentar fazer um lanche saudável para quatro crianças esfomeadas. Sim, Zayn estava incluído nisso. Pelo que eu me lembrava, tinha um pacote de pão de forma dentro de algum armário e queijo na geladeira, o que me resultaria em um queijo quente delicioso! Também incrementaria com alguns biscoitos e suco. Geração saúde, com certeza. Ri sozinha das minhas próprias piadas e comecei a reunir os ingredientes para começar a minha obra prima: O pão (que realmente estava no armário), o queijo (que não poderia faltar) e o pote de manteiga. Também peguei alguns pratos para que eu pudesse montar os sanduíches e lavei as mãos antes de começar.
  Me distraí completamente passando um pouco de manteiga em cada fatia de pão que eu havia separado e quando fui perceber estava fazendo a mesma coisa duas vezes. Não é que eu estivesse pensando em algo exato... Sabe aqueles momentos que você só viaja? Sim, eu estava viajando na maionese. Ou deveria dizer... Viajando na manteiga? Huh? Huh? “Deus, eu estou andando muito com o Harry.” Apenas ele fazia essas piadinhas sem graça, então era de se esperar que Hazza fosse a minha má influência. Passei para a segunda etapa: Colocar uma fatia de queijo em cada sanduíche.
  - Encontrei O Rei Leão, meu filme preferido de quando eu era criança. – Zayn voltou de sua busca e colocou o DVD em cima da bancada americana. – Eu deveria me preocupar por um cara de dezenove anos ter o filme da Branca de Neve?
  - Ahh, não! – Ri e fiz aspas no ar. – Esse filme é da “irmã” do Li.
  - Interessante. – Também riu e ficou me olhando. – Ele tem várias fotos suas no quarto dele.
  - Tem? – Fiquei surpresa, mas continuei com o meu trabalho.
  - Do lado de dentro da porta do guarda roupa... Eu vi porque estava procurando os filmes. – Veio para o meu lado e começou a me ajudar com o lanche. – Tem uma foto sua com uma borboleta na cabeça... E outras de vocês dois em uma fonte.
  - Tiramos essas fotos quando fomos ao Zoológico. – Expliquei e fechei os dois primeiros sanduíches. – Ele deve ter revelado quando eu estava em Paris.
  - Você está linda em todas elas. – Me tocou com o cotovelo e eu sorri. – Nós dois não temos muitas fotos juntos, %Tah%...
  - Então já vamos dar um jeito nisso! – Não queria que ele sentisse ciúmes ou “menos importante”. – Você pode terminar o lanche? Eu vou dar uma olhada nos pequenos, porque eles estão quietos demais!
  - Posso sim, love. – Prontamente ocupou o meu lugar.
  - Tem suco de maçã na geladeira, viu? – Peguei o DVD em cima da bancada e apontei para a geladeira em seguida.
  Zayn só afirmou que sim com a cabeça e eu o deixei sozinho na cozinha. É óbvio que eu fiquei bem surpresa com aquela noticia que Liam tinha revelado as fotos daquele dia, principalmente por ele não ter me contado, mas esse não foi o motivo que me fez afastar-me de Zayn. Eu realmente queria ver o que as crianças estavam fazendo e tinha um bom motivo pra isso. Assim que cheguei na sala, encontrei Lux tentando ficar de pé no braço do sofá e isso não acabaria bem. Benny e Deedee também estavam se aventurando por ali e eu corri até a minha irmã, já que era a mais vulnerável.
  - Posso saber o que vocês estão fazendo? – Segurei Lux pela cintura e a dei mais equilíbrio e segurança.
  - Estamos brincando de piratas, %Tah%. – Ben respondeu, parando o que estava fazendo.
  - É, e a Lux estava andando na prancha. – Heidi se sentou e eu vi que ela estava usando o meu casaco como uma capa.
  - Só se ela estiver sendo punida por excesso de fofura! – Ri e ataquei a pequena, me jogando no sofá e puxando-a pra cima de mim.
  - Pala, %Tah%! – Lux tentava se esquivar e ria das cócegas que eu começava a fazer.
  - ATACAAAAAAAR! – Ben gritou e foi a minha vez de ter medo.
  Como eu tinha que me proteger do tal ataque, soltei Lux e a deixei fugir. Ben e Heidi se jogaram em cima de mim e eu acabei caindo deitada no sofá. Eles não sabiam muito bem como, mas deviam estar tentando fazer cócegas em mim também. Como nunca fui de cortar o barato de ninguém – cof cof – fingi que estava sofrendo e comecei a me debater. Mesmo que o sofrimento fosse de mentirinha, minhas risadas eram verdadeiras, assim como as das três crianças.
  - SOCORRO! OS PIRATAS ESTÃO ME ATACANDO! – Levantei os braços pedindo pela ajuda que não viria.
  - Você não tem chance contra mim! – Ben subiu no braço do sofá e fez uma pose de capitão, enquanto Lux prendia os meus pulsos e Heidi os meus pés.
  - Por favor, deixe-me ir, oh capitão todo poderoso.
  - Só se você me disser onde o tesouro está escondido!
  - Eu digo! Prometo que digo! – Choraminguei fingindo estar desesperada.
  - O lanche está pronto... – Zayn entrou na sala carregando uma bandeja e riu ao ver o que estava acontecendo ali.
  - O tesouro chegou. – Também ri e todos me soltaram. Acho que a comida era mais interessante que a brincadeira.
  - Calma, calma! – Zayn levantou a bandeja alto o suficiente para que ninguém alcançasse. – Tem pra todo mundo!
  - Por que vocês não sentam no sofá, huh? – Levantei e fui ajudá-lo.
  Crianças são uma coisa linda, mas temos que concordar que elas não se cansam nunca. Prova disso e que correram de volta para o sofá e se sentaram como eu havia pedido. “Estou ficando velha demais pra isso...” Começava a mudar de ideia quanto aos meus planos de ter doze filhos. Acho que um já está de bom tamanho, né? Aham, concordo. Zayn depositou a bandeja em cima da mesinha de centro e entregou um pratinho de plástico com um queijo quente (partido ao meio pela diagonal e sem as bordas do pão) para cada um, me deixando espantada com aquele cuidado todo. Enquanto ele servia os copos de suco, eu peguei o DVD que foi parar no chão para começar o filme. Se Liam soubesse disso, arrancaria os poucos cabelos que lhe restava, pois tinha o maior cuidado com as suas coisas. “Espera... Por que eu não consigo parar de pensar nele?!” Minha consciência teria que ficar sem resposta, porque se eu fosse começar a pensar nessas coisas acabaria dando uma de %Abigail% e exagerando.
  Assim que televisão foi ligada e eu terminei de colocar o filme para rodar, me virei para as quatro pessoas que estavam no sofá. Deedee, Lux e Ben (nessa mesma ordem) comiam e se lambuzavam com o sanduíche. Zayn, por outro lado, estava na menor parte do “L” que o sofá formava. Essa parte era a que ficava de lado para a TV, mas pelo menos cabíamos nós dois juntos. O menino abriu os braços em um convite no mínimo tentador, não me deixando outra opção a não ser “correr” para lá e me encaixar em seu abraço. Como a menina folgada que sou, tirei as sapatilhas e coloquei os pés para cima, encostando a cabeça no ombro de Zayn e praticamente me deitando ali. É claro que não o incomodei em nada, e fui envolvida carinhosamente por seu abraço.
  A chuva lá fora aumentava cada vez mais e o barulho dos pingos batendo contra o vidro da janela chegava a ser bem alto. Alguns trovões enfeitavam a festa e eu parecia ser menor que as crianças, pois elas assistiam o filme tranquilamente e eu estremecia a cada novo raio. No começo até que tentei esconder o meu medo, mas em determinado ponto não foi mais possível. Zayn começou a me fazer um cafuné tão gostoso que eu cheguei a piscar demoradamente algumas vezes, completamente relaxada.
  - Não precisa ter medo, babe... – Sussurrou.
  - Medo? De que? – Me fiz de desentendida levantei o rosto para olhá-lo nos olhos. Quase na mesma hora mais um trovão soou e me fez apertá-lo em meu abraço por impulso.
  - Medo disso. – Riu da situação e me puxou mais pra perto.
  - Sou patética, né? – Rolei os olhos e fiz um bico de lado.
  - Não só por isso... – Zombou de mim indiretamente e levou um tapa no ombro como resposta. – Outch!
  - Bem feito! – Fiz careta. – Você também é patético, ok?
  - Ah, sou? – Seu sorriso continuava impecável, como se meu insulto não surtisse efeito algum. – Mas você me ama do mesmo jeito.
  - Não amo! – Tentei negar, porém acabei sorrindo com aquela fala dele. – Só um pouco. Bem pouco. Quase nada!
  - Não sabe nem mentir! – Riu e segurou o meu rosto pelo queixo, pegando-me de surpresa e roubando um beijo.
  - Continue pensando assim! – Após retribuir o beijo roupado, pisquei dissimulada.
  - É assim, %Star%?
  - %Tah%... – Heidi nos interrompeu e me fez olhar pra ela. – Porque o irmão do Mufasa não ajudou ele?
  - Como eu posso explicar? – Perguntei para mim mesma e olhei a tela da televisão, constatando que estava na parte mais triste do filme todo.
  - O Scar era o irmão mais novo do Mufasa, por isso tinha inveja dele e queria ser o rei. – Zayn foi mais rápido que eu e começou a explicar. – A única forma de fazer isso foi traindo o irmão...
  - O que é muito feio e errado! – Acrescentei uma liçãozinha de moral básica, mas a pequena nem prestava mais atenção em mim.
  - Isso mesmo, %Tah%, ensine o que é certo. – Zayn riu, mas eu sentia que ele estava era implicando comigo.
  - Obrigada, Malik. – Aceitei o elogio de qualquer forma.
  Mais uma vez voltei a me acomodar nos braços fortes do meu namorado e resolvi prestar atenção no filme. Quem sabe assim eu não conseguiria esquecer a trovoada do lado de fora? Veja bem, chuva, frio, neve... Todas essas coisas me agradam bastante. Mas trovões, raios e relâmpagos? De jeito nenhum! Também não chegava a ser um medo irracional que me traria pesadelos ou coisa assim, eu simplesmente não gostava. Não me sentia confortável e pronto. Lux também não devia gostar muito da tempestade, pois assim que fui ver, ela já estava engatinhando pelo sofá e arrumando um lugarzinho entre eu e Zayn. Segurei a sua pequena mãozinha para que ela se sentisse mais segura e o menino passou os dedos pelos fios loiros de seu cabelo fino.
  Parecia que estava adivinhando, pois um trovão mais forte cortou o silêncio e foi seguido por um pipoco próximo demais daquela casa, o que acabou causando a queda da energia. A televisão e todas as luzes se apagaram de uma vez, pegando as crianças de surpresa e inclusive eu. Com o susto, Heidi gritou e aquilo deu mais medo em Lux do que o próprio apagão. Minha irmã mais nova começou a chorar e olhar em volta, provavelmente sem entender nada. Acho que foi o efeito bola de neve, pois o choro de Lux assustou Heidi, que gritou novamente e desesperou Ben, que a abraçou com medo. Por um momento eu não sabia o que fazer e olhei para Zayn como se pedisse ajuda.
  - Fiquem calmos, tá? A energia caiu por causa da chuva, mas isso é normal e não vai demorar pra voltar... – Pediu calmamente e se aproximou das duas crianças mais afastadas de nós.
  - Shh, baby girl... – Peguei Lux no colo e a abracei, tentando confortá-la. – Ouviu o que o Zayn falou? Não precisa ter medo, é só por causa da chuva...
  - Tá iculo... – Choramingou se escondendo no meu pescoço.
  - Tá escuro? – A sala realmente estava escura sendo mais iluminada pelos raios que caiam de vez em quando, o que assustava mais ainda. – Tive uma ideia! Porque não vamos todos para o meu quarto? Eu tenho uma lanterna lá!
  Todos concordaram com um balanço de cabeça, uns mais desesperados que os outros. Levantei com Lux grudada no meu pescoço e Zayn provou o quanto era forte ao também deixar o sofá e trazer uma criança em cada braço. Mas é claro que ele era forte... Se conseguia me carregar com facilidade, também daria conta de duas crianças de cinco e sete anos. Atravessei a sala com cuidado para não acabar chutando algum prato ou copo que porventura viesse a estar no chão e Zayn me seguia. Eu arrumaria aquela bagunça depois, visto que o que importava naquele momento era acalmar os nervos gerais e deixar tudo bem novamente. Subir a escada com pouca luminosidade foi a parte mais complicada do trajeto até o segundo andar, mas como não estava um breu completo, conseguimos chegar sãos e salvos. A porta do meu quarto já estava aberta, então só entrei lá e deixei a minha irmã sentada na cama. Fui procurar a lanterna dentro do meu closet e Zayn também colocou Dee e Ben ao lado de Lux, aproveitando para sentar ali enquanto me esperava. A minha cortina estava bem aberta, por isso o quarto estava mais claro que a sala. Apenas peguei a lanterna dentro da minha gaveta de tralhas para o caso de mais alguma coisa acontecer e precisarmos dela.
  - Por que não montamos uma cabana? – Zayn perguntou para os meninos e eu já começava a captar aquela ideia.
  - Eu acho que é uma ótima ideia. – Fui me juntar a eles. – Podem descer da cama enquanto a gente monta?
  Ainda que não estivessem certos do que estávamos falando, concordaram em descer da cama e esperar próximos à parede. Zayn afastou meus travesseiros e tirou o lençol mais fino que cobria a cama. “No único dia que eu realmente arrumo a minha cama, nós temos que bagunçá-la...” Fiquei de pé sobre o colchão e amarrei uma ponta do lençol no lustre que pendia do teto, torcendo para que ele não quebrasse e nem caísse sobre nós. Zayn pegou as outras pontas e amarrou na cabeceira da cama, dando mais espaço para o interior da nossa barraca. Até que o resultado ficou bem legal e aconchegante. As crianças também pareceram gostar, pois assim que tudo estava mais ou menos pronto, correram de volta para a cama e só Lux precisou de ajuda para subir, já que era alta demais pra ela. Cada um pegou um travesseiro ou almofada e sentou mais para o fundo da cabana, ficando bem protegidos pelo teto. Zayn se sentou na ponta e eu me deitei na parte que restou.
  - Esse ursinho é seu, %Tah%? – Heidi acabou encontrando o meu ursinho de pelúcia escondido entre os travesseiros.
  - É meu Teddy, Dee. – Olhei para Zayn com um sorriso. – Ganhei do meu namorado.
  - Ele é muito fofo! – A pequena brincava com o bichinho e Zayn fez uma cara engraçada ao perceber que não era dele que ela falava, e sim do brinquedo.
  - É sim! Nós dormimos agarradinhos todas as noites. – Estiquei a mão para fazer carinho no urso.
  - Sorte a dele. – Zayn comentou ao meu lado para que só eu escutasse.
  - O que a gente vai fazer agora? – Ben cruzou os braços. – Estou entediado.
  - Vocês querem desenhar? – Olhei para os três e recebi uma resposta positiva. – Ok, vou pegar as canetinhas...
  - Não demora... – Meu namorado pediu, me fazendo rir.
  - Eu nem vou sair do quarto. – Rolei os olhos, divertida.
  Zayn também riu do seu exagero e continuou sentado na cama enquanto eu me levantava para procurar as canetinhas de colorir. Normalmente elas ficariam em cima da minha escrivaninha, mas depois da minha arrumação geral, elas foram parar em outro lugar. “Acho que guardei na gaveta...” Bingo! Meu estojo cor de rosa estava mesmo na gaveta, ao lado da caixinha com lápis de cor, mas aquele material não serviria para o que eu tinha em mente. Saltei de volta para a cama e dessa vez me mantive sentada. Primeiramente eu abri o estojo e despejei todas as canetas na cama, agradecendo por estarem bem tampadas, caso contrário, meu lençol terminaria cheio de manchas coloridas.
  - Não esqueceu de nada, %Tah%? – Zayn pegou a canetinha na cor vermelha. – Cadê o papel?
  - Quem precisa de papel... – Sorri sapeca e puxei seu braço direito. – Quando temos um caderno de desenhos bem aqui?
  - Ei, ei, ei... Você não está pensando o que eu acho que você está pensando, certo?
  - Quem quer pintar as tatuagens dele? – Perguntei para as crianças e ignorei as reclamações do mais velho.
  - Eu! – Deedee pegou a caneta rosa e se aproximou.
  - Eu também quero. – Ben já foi destampando a canetinha azul e também chegou mais perto.
  - Eu telo... – Lux pegou a caneta verde e segurou a outra mão de Zayn; aparentemente querendo fazer outra tatuagem além daquelas já existentes.
  - Isso sai com água, certo? – Me perguntou com uma sobrancelha levantada ao ver os menores já começarem a rabiscar a sua pele.
  - Talvez. – Dei de ombros e ele arregalou os olhos. – Estou brincando, babe! É claro que sai com água. E você também não vai ter alergia, não se preocupe.
  - Assim está melhor. – Riu mais tranquilo. – Aliás, porque você não tem nenhuma?
  - Nenhuma o que? – Franzi o cenho, mais lerda que tudo. Peguei a caneta vermelha de sua mão e levantei a manga da camisa do mesmo.
  - Tatuagem, %Star%! – Rolou os olhos do mesmo jeito que eu fazia e gargalhou por isso.
  - Não sei, pra falar a verdade... Mas até que era de se esperar, já que meu irmão e Harry parecem um caderno de rabiscos ambulante. – Ri e balancei a cabeça, começando a desenhar algo no ombro de Zayn. – Acho que eu tenho medo da dor. Além disso, gosto de coisas originais, então só faria uma tatuagem se fosse algo exclusivo.
  - E se eu desenhar uma pra você? – Perguntou com naturalidade e me fez levantar o olhar para o seu.
  - Você faria isso? – Sorri animada com aquela ideia.
  - É claro que sim. – Também sorriu e eu quase podia ver as milhões de ideias passando por sua cabeça.
  - Mas eu não quero nada muito grande... E algo delicado...
  - Você é que manda.
  - Yay! – Comemorei e voltei a me concentrar no meu próprio desenho. – Ah, e você vai ter que ir comigo e me deixar apertar a sua mão!
  - Combinado.
  - E não pode rir de mim se eu gritar...
  - Tudo bem, %Tah%. – Se divertiu com o meu nervosismo.
  Então era oficial? Eu ia mesmo fazer uma tatuagem?! Ao mesmo tempo em que eu estava louca pra contar a novidade para os meus amigos tatuados, tinha medo que eles acabassem se empolgando demais e decidindo também fazer novas tattoos. O caso é que eu não queria ser responsável por influenciar aquele tipo de comportamento. Zayn ficou bem parado enquanto eu terminava a minha obra de arte e não se importou em estar tendo os braços desenhados e riscados quase sem nexo algum. Heidi estava bem ocupada pintando a tatuagem dos dedos cruzados e Ben se divertia pintando a palmeira. Lux, por outro lado, desenhava o que devia ser um boneco daquele de pauzinhos.
  - E voilá! – Sorri ao terminar de desenhar os lábios vermelhos, como se alguém tivesse deixado uma marca de batom ali.
  - Hey, até que ficou legal...
  - Nem pense nisso, Malik!
  - Pensar no que? – Se fez de desentendido, mas nós dois sabíamos o que ele estava pensando.
  - Você não vai tatuar esse beijo! Eu não deixo. – Cruzei os braços e fiz cara de séria.
  - E quem disse que você tem que deixar?
  - Eu mesma! Além do mais, o único beijo que você pode ter é esse aqui. – Aproximei o rosto do dele e selei nossos lábios. Diferentemente de Zayn, quando eu roubava um beijo era bem mais delicada e cuidadosa.
  - Esse beijo é bem melhor... – Sorriu ainda de olhos fechados e eu não consegui resistir.
  O segurei delicadamente pela nuca, impedindo-o de se afastar. Apenas fiquei brincando com aqueles lábios avermelhados, trocando selinhos demorados e apaixonados sem nunca me cansar. Ahh, como eu amava aquele menino... Tudo sobre ele me encantava. Seu jeito misterioso de quem guarda os segredos mais íntimos, mas que podia me contar todos eles com apenas um olhar. Seu cheiro, seu gosto, seu toque eram irresistíveis. Quase como na música que um dia ele cantou pra mim na serenata. O sentimento mais frustrante era tentar colocar em palavras tudo o que eu sentia quando estava ao lado dele e não conseguir, pois não havia palavras doces o suficiente em qualquer idioma que fosse.
  Assim que paramos aquela troca de carinhos, apenas ficamos nos olhando e trocando pequenos sorrisos e suspiros –principalmente da minha parte. Estava pronta pra falar alguma coisa quando uma música bem conhecida começou a tocar, mesmo que em um volume muito baixo. Era o meu celular tocando, eu tinha certeza! Fiz um bico por ter que me separar de Zayn, mas tratei de ficar em pé na cama e pular para o chão, correndo porta a fora. Preciso dizer que quase destruí a nossa cabaninha? Achei que não! Malik ficaria tomando conta das crianças, por isso fiquei tranquila em descer correndo pela escada, torcendo para que o meu celular não parasse de tocar. Fui direto para a sala, pois lembrava que tinha deixado o aparelho pela estante, como de costume.
  - Já vai, já vai! – Pedi mesmo sabendo que ninguém me escutaria. Agarrei o iPhone e li o nome “Mum” na telinha. Aquilo me surpreendeu, mas não demorei nada pra atender. – Allo.
  - Minha %Estrelinha%! – Minha mãe falou do outro lado. – Como você está, meu amor? Eu estava com saudades!
  - Mas nós nos falamos ontem mesmo, maman! – Ri. Desde quando minha mãe era tão apegada a mim assim? – Mas eu estou bem... E você?
  - Estou ótima! Cada vez melhor. – Pela animação em sua voz ela devia ter alguma novidade pra contar. – Os planos para o casamento então de vento em popa.
  - Primeiramente, eu fico muito feliz em saber que você está tão bem assim! Segundo, eu não acho que ainda se diz “de vento em popa”. – Caminhei até o sofá e me sentei. – Terceiro... Você sabe que ainda falta quase um ano pra esse casamento acontecer, certo?
  - A sua avó fala a mesma coisa! – Riu como se estivesse se divertindo muito. – Mas o Dan e eu estamos muito animados. Foi exatamente por isso que eu te liguei hoje...
  - Pode falar, mum.
  - Dan me pediu o seu telefone, pra que ele possa falar com você sobre as ideais e os planos que estamos fazendo... Tem problema?
  - Claro que não tem problema! Eu vou adorar saber de tudo. – Sorri, já que aquele assunto sempre foi algo que me encantou desde que eu assisti o casamento de meu pai e Rachel. – Serei a conselheira oficial?
  - Isso mesmo! Então eu vou dar o seu telefone e ele logo vai falar com você.
  A ideia de conversar com Dan me agradava bastante, porque desde que o conheci ele se mostrou muito simpático e legal. E é claro, a parte mais importante: Dan fazia a minha mãe realmente feliz. Jay parecia ter mudado da água para o vinho e eu sabia que a culpa disso era o seu novo amor. Finalmente parecia ter esquecido o meu pai e nunca mais voltou a tocar no nome da minha madrasta. Mesmo tendo perdido o pai há pouco tempo, ela estava superando e seguindo em frente assim como eu e a culpa daquilo com certeza era do seu noivo. Minha mãe também perguntou sobre Zayn e Louis, até mesmo de Harry e sua mãe. Aproveitei que estávamos naquele assunto para avisar que Anne sentia saudades e que as duas deveriam se falar para colocar o assunto em dia e coisa e tal.
  O assunto fluiu de maneira bem confortável, como eu gostaria que tivesse sido a vida inteira. Provavelmente continuaríamos nos falando por mais tempo se eu não tivesse escutado um barulho vindo do andar de cima, seguido por um choro de criança. Algo devia ter acontecido e aquilo me preocupou um pouco. Levantei do sofá na mesma hora e pedi desculpas para a minha mãe, falando que precisava ir. Ela não entendeu muito bem o que estava acontecendo, porém me deixou desligar e avisou mais uma vez que Dan entraria em contato comigo. Assim que encerrei a ligação, guardei o celular no bolso e terminei de correr até o meu quarto.
  Assim que passei pela porta, encontrei um Zayn desesperado andando de um lado para o outro e Heidi chorando sentada no chão. Ben e Lux ainda estavam sentados na cama e olharam pra mim como se não entendessem o que estava acontecendo. Pelo que eu pude perceber, o joelho de Deedee estava sangrando um pouco, mas não parecia nada sério. Zayn, por outro lado, estava pálido como se tivesse visto um fantasma. Fui até a minha priminha e a tirei do chão, juntando seu pequeno corpo ao meu e mantendo-a no meu colo. Praticamente no mesmo instante ela parou de chorar e abraçou o meu pescoço, secando suas lágrimas na minha roupa.
  - O que houve aqui? – Perguntei balançando-a devagar de um lado para o outro.
  - %Star%... Eu sinto muito... Nós estávamos brincando e ela escorregou... – Zayn avançou na minha direção e quase se atrapalhou nas palavras. – Foi um acidente...
  - Baby, calma... – Ri do seu desespero e sentei na ponta da cama, acomodando Heidi ao meu lado. – Ela é uma criança, essas coisas acontecem.
  - Mas ela estava chorando... E eu não sabia o que fazer...
  - Foi só o susto, né? – Olhei para a loirinha que já estava bem mais calma. – Vamos colocar um Band-Eid e vai ficar tudo bem.
  - Me desculpa, Dee? – Zayn ficou de joelhos na nossa frente e a pequenina sorriu.
  - Eu caí sozinha, não foi culpa sua. – Tocou o ombro dele de leve e, naquele momento, eu podia jurar que ela era mais madura do que ele.

Capítulo XLIV
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