Ballet Shoes


Escrita porElla Souza
Editada por Isabelle Castro


Capítulo XIV

Tempo estimado de leitura: 25 minutos

  Já era terça-feira e eu estava sentada nas escadarias da Academy ao lado de %Abi%. Ela não tinha aula naquele dia, mas foi pra lá do mesmo jeito só pra ficarmos fofocando. Como não falei com ela no domingo e passei a segunda-feira inteira enrolando pra contar como foi o meu fim de semana, ela me sequestrou depois da minha aula particular e me obrigou a falar tudo.
  - Então deixa ver se eu entendi... – Ela arrumou o óculos nos olhos. – Você levou Zayn para a sua casa, os dois tomaram banho juntos, ele dormiu na sua cama, Liam te chamou de puta, você se esfolou toda andando de patins, Liam pediu desculpas, Liam pediu um beijo, Louis disse que Liam devia te falar algo antes que Zayn fizesse isso e Liam foi falar com você, mas acabou falando da Candice?
  - Precisa de mais dedos? – Ri do jeito que ela ia enumerando os acontecimentos nas mãos. – Você não entendeu quase nada. Sim, eu levei o Zayn até a minha casa, mas só porque não queria ter que voltar de taxi pra casa. Nós não tomamos banho juntos, tecnicamente, e estávamos vestidos. Ele dormiu na minha cama, mas eu não estava lá! Liam não me chamou de puta exatamente, só entendeu errado porque teve ciúmes. A parte do patins até que é verdade e Liam pediu desculpas sim, mas não pediu um beijo. Não desse jeito que você está pensando! E essa história que o Louis falou... Eu realmente não entendi.
  - Respira, %Star%! - Ela riu e eu recuperei o fôlego por ter falado tudo de uma vez só. – Isso tudo aconteceu em um dia só... Uau.
  - Só pra me deixar louca! – Choraminguei e encostei a cabeça nos joelhos.
  - Posso falar a minha teoria? – A ruiva perguntou, olhando por cima dos óculos e eu acabei sorrindo por lembrar meu avô.
  - Não mesmo! – Recusei, mas ela fez um bico tão grande que eu me rendi. – Tá bem, %Abi%. Fala.
  - Eu acho que o Liam continua gostando de você... E era sobre isso que o Louis estava falando. Que ele deveria te chamar pra sair antes que Zayn fizesse isso. Mas eu não sei se você já notou, o Liam é muito tímido. Ele demorou meia hora pra conversar direito comigo quando eu o conheci. E a Candice... Pode ser só um jeito pra tentar te esquecer.
  - Pra começar, ele não precisa se preocupar com o Malik. – Balancei a cabeça. Zayn nunca me chamaria pra sair, porque eu tinha certeza que não fazia o tipo dele. – E o Liam nunca foi tímido comigo... Desde o primeiro momento. Além do mais, não é como se eu não desse oportunidade pra ele falar algo...
  - Mas é diferente falar sobre coisas idiotas e sobre vocês dois namorando. – Até que ela podia ter razão, mas eu não queria ter que ficar pensando naquilo.
  - Quem está namorando? – A voz de Niall apareceu atrás de nós duas e ele logo se sentou entre eu e a namorada.
  - Vocês dois, é claro! – Sorri e baguncei os cabelos claros do irlandês.
  - Não precisa mudar de assunto só porque eu cheguei. – Ele se fez de ofendido.
  - Eu nunca faria isso!
  - A gente estava falando sobre uns amigos fofos da %Star%. – %Abi% devia estar tentando fazer ciúmes em Niall.
  - Ah, é? – E ele mordeu a isca!
  - É sim... – Entrei na brincadeira. – Eu estava falando pra ela de como os cabelos cacheados de Harry são macios. E aqueles olhos verdes... E as covinhas... Ele é perfeito.
  - E a voz? Nossa, ele canta muito bem! – %Abi% alfinetou e Niall a olhou bravo.
  - Você deveria namorar com ele, então! – Cruzou os braços e levantou da escada, descendo os degraus.
  - Eu prefiro loiros! – Ela levantou rindo e foi atrás dele.
  Eu fiquei ali sentada, rindo dos dois. Niall estava tentando correr de %Abi%, mas ela conseguia ser mais rápida que ele.
  - Por que o Niall quer matar a ruivinha? – Zayn sentou ao meu lado e eu senti um arrepio percorrer meus braços. Por sorte estava de casaco e ele não percebeu.
  - Ela fez ele ter ciúmes do Haz. – Ri mais uma vez, ainda sem me virar para encará-lo.
  - Do Harry? Ah, ele é legal. – Zayn também riu ao ver que %Abi% e Niall estavam caídos no chão.
  - Ele é meu anjinho. – Um sorriso bobo apareceu nos meus lábios e eu encarei minhas mãos.
  - Aliás, acho nós vamos ao Pub essa sexta de novo... Vocês dois deveriam ir também. – Era assim que Zayn me convidava pra sair com eles?
  - Eu não posso ir. Já tenho planos pra essa sexta. – Levantei da escada e passei as mãos pela calça, tirando qualquer sujeira. – Mas acho que ele está livre!
  - Uhh, tem planos? Vai sair com o Nick? – Zayn fez uma careta e eu ri.
  - Com o meu pai! Nós vamos jantar. – Passei a mochila por cima do meu ombro e comecei a descer as escadas.
  É claro que Zayn me seguiu escada abaixo e nos juntamos ao casal. Se antes eles estavam brigando, agora faziam totalmente o contrário. Já tinham levantado do chão, mas estavam se agarrando no meio da calçada.
  - Get a room! – Exclamei e os dois se separaram, rindo.
  - Você está é com inveja. – %Abi% estirou a língua.
  - Totalmente. – Rolei os olhos com ironia. – Eu já vou indo, ok?
  - Não vai pegar carona com a gente hoje? – Niall perguntou.
  - Sorry, hoje não. Tenho que passar em um restaurante e pegar almoço para as minhas crias. Depois passar em uma locadora... E comprar sorvete. Os meninos vão chegar mais cedo do trabalho e nós vamos fazer alguma coisa lá em casa, como nos velhos tempos. – Expliquei, mas esperava que não ficassem chateados por eu não os ter convidado.
  - Tudo bem, %Tah%... Nos vemos amanhã, então. – Minha amiga me abraçou e os meninos apenas acenaram.

+++

  A noite já começava a cair quando finalmente conseguimos decidir qual filme assistiríamos primeiro. Quando saí da Academy acabei pegando um taxi e o motorista foi muito simpático, me indicando uma boa locadora. Além disso, ele ainda me esperou ao lado de fora, sem cobrar mais por isso. Claro que eu não demorei, já que já tinha em mente os filmes que queria alugar: Grave Encounters e As Branquelas. Um de terror e um de comédia; perfeito. Em seguida, fui até um restaurante que tinha todos os tipos de comida em um lugar só, já que cada um dos meus amigos queria uma coisa diferente. Harry queria tacos, Louis pediu macarrão e Liam, algo de peixe. Pra mim, escolhi o bom e velho sanduíche com batata frita. Ok, sem aparte do velho.
  Assim que cheguei em casa e troquei de roupa, nós comemos tudo e fizemos uma bagunça enorme, como sempre. Jogamos algumas partidas de Guitar Hero e eu venci todos pelo menos uma vez. A discussão realmente começou quando nós fomos escolher a ordem dos filmes. Eu estava pedindo pra começar pelo filme de terror, já que o de comédia iria tirar as cenas ruins da nossa cabeça. Mas como ninguém nunca me dá ouvidos, eles votaram pra que começássemos pelo filme de comédia.
  Eu estava na cozinha com Harry, preparando as bacias de pipoca. Liam e Louis estavam na sala, arrumando o lugar pra ficarmos todos confortáveis. Eu cantarolava uma música da Beyoncé e Harry reclamava que eu estava atrapalhando-o. Quer uma dica? Nunca brinque com ele quando estiver cozinhando, porque isso o deixa furioso. Mas é claro que eu não tinha medo do curly boy, por isso peguei o frasquinho que continha sal e o usei de microfone.
  - To de left, to the left! – Fiz um passinho de dança ridículo.
  - %Tah%, você viu o sal? – Continuei dançando e cantando sem nem escutar o que ele estava dizendo.
  - To the left, to the left. Everything you own is in the box to de left!
  - %Star%, cadê… - Ele me encarou irritado e pegou o meu microfone quando percebeu que era o que ele estava procurando.
  - Hey! Eu estava cantando. – Tentei pegar de volta e ele levantou o saleiro para o alto. Eu odiava que ele fosse tão alto.
  - Get out of my kitchen! – Fez uma cara engraçada e eu tive que obedecer, ou então a pipoca não ficaria pronta.
  Cheguei à sala e encontrei os outros dois fazendo uma guerra de travesseiros. Eles haviam afastado o sofá para trás e tirado a mesinha de centro do lugar, colocando um colchão de casal e um de solteiro lado a lado ali. Assim todos poderíamos ficar juntos em frente à televisão. Claro que eu não ia ficar só olhando os dois correrem de um lado para o outro, então peguei o travesseiro mais próximo e entrei na briga. Lou estava de costas pra mim na hora do meu ataque, portanto não viu quando eu bati em sua cabeça e caiu deitado no colchão. Eu esperava que Liam fosse me ajudar a bater nele, mas estava errada. A única coisa que vi foi o tecido branco vindo em minha direção e abaixei em uma tentativa de escapar. Louis aproveitou esse momento e jogou o travesseiro na minha barriga. Eu soltei um grito seguido por risadas. Acabei caindo de joelhos no colchão e quando meu irmão tentou me atacar novamente, Liam me defendeu e bateu nele com uma almofada. Liam gritou um “HAHA”, mas eu o surpreendi e joguei o travesseiro em suas costas. Foi a vez de Louis rir.
  Quando já estávamos ofegantes e cansados de lutar bravamente, Harry entrou na sala com uma bacia de pipoca em cada mão. Ele nos reprovou com o olhar, mas eu o mandei um beijo no ar.
  - Podem agir como pessoas civilizadas agora? – Ele brincou. Harry seria o último a poder falar aquilo, já que ele era tão bagunceiro quanto nós. Haz era do tipo que topava tudo e meu irmão sempre testava seus planos e ideias malucas com ele.
  - Só porque eu estou com fome. – Ri e fui pegar uma bacia de pipoca.
  - Lou, meu boo bear, você divide essa comigo? – Em um momento muito gay, Harry se virou para o meu irmão e fez uma cara angelical.
  - Claro que sim, meu cupcake. – Louis respondeu mais gay ainda.
  - Meu boo bear e meu cupcake. – Falei como se fosse óbvio, enciumada. Mas não me importava que os dois tivessem aquele amor todo um com o outro e até gostava. Perdi a conta de quantas vezes apanhei por falar que eles tinham um relacionamento secreto e até os apelidei de Larry Stylinson.
  - Vem pra cá, %Tah%. Deixa os dois aí e nós dividimos essa que ta com você. – Liam me chamou. Virei para olhá-lo e ele já estava sentado no colchão com as costas apoiadas no sofá.
  - Mas essa pipoca é só minha. – Brinquei e logo me sentei ao seu lado.
  Com Liam do meu lado direito, Louis ocupou o esquerdo e Harry sentou na outra ponta. Colocamos o filme As Branquelas pra rodar e começamos a comer. Aquele era um filme que todos poderiam assistir dez vezes, mas continuaria sendo muito engraçado. Desde o começo nós gargalhamos e eu quase engasguei quando Louis imitou a voz de uma das irmãs Wilson.
  - Eu nunca sei quem é quem. – Liam comentou ao meu lado.
  - Brittany é mais alta e Tifanny é a outra. – Expliquei enquanto pegava mais um punhado de pipoca.
  - Esses olhos azuis delas/deles me dão arrepios...
  - Você não gosta de olhos azuis? – O encarei e abri bem os olhos. Minhas íris também tinham a cor azul, assim como as de Lou e nosso avô.
  - Eu amo os seus... Digo, eu amo olhos azuis! – Tentou se justificar. – É que essa lente de contato é estranha.
  - Eu to brincando, Leeyum. Eu também não gosto delas. – Ri e voltamos a prestar atenção no filme.
  Depois de quase quarenta minutos, eu estiquei a mão até a bacia de pipoca sem saber que já estava vazia. Na mesma hora, Liam fez o mesmo que eu e nossas mãos acabaram esbarrando. Nos entreolhamos e eu sorri. Notei que ele estava corando e meu sorriso só aumentou. O barulho do filme nos fez desconectar os olhares e eu passei a bacia vazia para que Harry a colocasse no chão.
  Durante todo o resto do filme eu tentei permanecer imóvel e mal me mexia pra respirar. Tinha medo de acabar esbarrando novamente em Liam. Não é que eu estivesse evitando o seu toque, é só que eu não saberia o que fazer. Eu não sabia o que ele queria. Tinha medo de fazer algo por influencia das ideias de %Abi% e acabar sendo “rejeitada”.

+++

  Assim que os créditos apareceram na tela da televisão, eu, Lou e Haz batemos palmas. Não sei exatamente o motivo, mas sempre que o filme era bom nós acabávamos aplaudindo. Outra mania que acabou permanecendo durante os anos. Liam nos olhou como se fossemos pessoas loucas e eu gargalhei.
  - Posso colocar o outro filme? – Louis esticou os braços para cima e se espreguiçou.
  - Eu preciso lavar as mãos pra tirar o sal da pipoca. E acho que vocês também deveriam fazer isso! – Levante-me do colchão.
  Fui até o banheiro do primeiro andar. Não costumava usar aquele banheiro, mas estava com muita preguiça para subir as escadas e ir até o banheiro do meu quarto. Pude ouvir barulhos na sala mesmo estando com a porta fechada e imagino que os meninos me obedeceram e também foram lavar as mãos. Assim que saí do banheiro Liam e Harry pararam de conversar e olharam pra mim. Eu sabia que estava atrapalhando, então peguei meu celular em cima da estante da TV e fui procurar o meu irmão. Lou estava bebendo água na cozinha e eu fiquei pela sala de jantar. Apressada, digitei uma mensagem para %Abi%:

“Estou assistindo o filme ao lado de Liam. Nossas mãos se encostaram e ficou uma tensão terrível entre nós dois. Sim, eu te culpo por ficar enchendo a minha cabeça de ideias.”

  E em menos de um minuto já recebia a resposta:

“O nome disso é tensão sexual, baby. Segure a mão dele e seja feliz.”

  Pra ela tudo era sempre tão simples! Eu acabei rindo com aquela mensagem e Louis saiu da cozinha. Nós dois voltamos para a sala e eu deixei o meu celular no mesmo lugar de antes.
  - Agora vamos assistir o de terror! – Harry se aproximou do aparelho de DVD e foi trocar os filmes.
  - Liam, tem certeza que vai ficar ao lado da %Star%? – Meu irmão se ajeitou em seu lugar e eu voltei para o meu.
  - Por quê? – Perguntou confuso.
  - Porque ela tem mania de apertar quem estiver por perto nas horas de susto. – Aquilo era verdade, de fato. Não que eu tivesse medo, mas gostava de apertar algo durante as partes tensas.
  - Eu vou apertar você, Lou! – Ri.
  - Eu não me importo. – Liam deu de ombros e eu sorri.
  Todos deitamos no colchão e nos cobrimos com um edredom grosso. As janelas estavam fechadas, mas mesmo assim estava frio ali dentro. O filme começou tranquilo e eu estava relaxada. A história do filme era a seguinte: Um grupo de investigadores paranormais ia até um hospício abandonado para investigar os acontecimentos estranhos que ocorriam lá. Claro que isso não daria certo, concorda? O que me deixava mais apreensiva é que a filmagem foi feita como no filme REC e A Bruxa de Blair, como se as filmagens fossem verdadeiras.
  Enquanto eu assistia ao filme passar, fui me encolhendo devagar. Tinha a impressão de que algo iria acontecer a qualquer momento. A tela da TV ficou escura e a cena mostrava a visão noturna da câmera. Para piorar, o personagem principal filmava bem devagar e na minha cabeça já passava as milhares de coisas que poderiam aparecer há qualquer momento. Senti um roçar de dedos na minha mão e não olhei para o lado pra confirmar que era Liam. Quase por reflexo também mexi meus dedos e brinquei com os dele. Aos poucos nossas mãos foram se entendendo e nossos dedos se entrelaçaram. Quando eu ficava tensa, por causa do filme, acabava apertando a mão dele e recebia carinhos do polegar do mesmo.
  Quando a primeira pessoa do filme morreu, houve um barulho tão grande que eu acabei me encolhendo e me aproximando ainda mais de Liam. Deitei a minha cabeça no ombro dele e senti a sua respiração pesar. Com a mão livre, comecei a acariciar o braço do menino e ele apoiou a cabeça sobre a minha. Não demorou muito pra que ele soltasse a minha mão e passasse o braço por meus ombros e eu me deitasse em seu peito. Já não conseguia mais prestar atenção ao filme e só escutava os batimentos acelerados do coração que pulsava próximo a minha orelha. Seus dedos acariciavam o meu braço e os meus dedilhavam a barriga de Liam. Por mais incrível que pareça, eu não estava com segundas intenções. Apenas fazia carinho e gostava dos que recebia. Estiquei o pé para encontrar os dele e entrelacei nossas pernas. Fechei os olhos por um segundo e o sono chegou, fazendo-me adormecer sem querer.

+++

  Sabe quando você está tento um sonho tão bom que deseja não acordar mais? Foi bem assim naquela manhã. Eu estava em uma praia, correndo em liberdade, sentindo o vento balançar os meus cabelos e só fazia sorrir. Um homem estava na minha frente e eu tentava alcançá-lo, mas como em todos os meus sonhos, eu não conseguia correr rápido. Nem ao menos sabia quem ele era... Digo, o “eu” do sonho o conhecia e até mesmo chegou a chamá-lo, mas o meu “eu” de verdade não o reconhecia. Tudo começou a ficar claro demais e o mar foi sumindo aos poucos. Eu estava despertando. Tentei segurar a mão estendida do meu “companheiro”, como se aquilo fosse me impedir de acordar, mas ele também se tornou cada vez mais distante.
  Me mexi na minha cama tentando voltar a dormir e terminar o sonho, mas foi inútil. Comecei a retomar os meus sentidos e pude sentir algo pesado em cima da minha barriga. Abri os olhos o mais devagar possível e dei de cara com o rosto de Liam, que dormia no meu travesseiro. O peso sobre a minha barriga era o braço dele. Apertei os olhos tentando entender o que era aquilo tudo e lembrei-me da noite passada. Eu devia ter dormido durante o filme, e o pior, em cima dele. Ou o melhor, dependendo do ponto de vista. Do meu outro lado Harry e Louis dormiam abraçados. Era a cena mais fofa do mundo e eu não podia deixá-la ser esquecida nunca. Com cuidado para não acordar nenhum dos três, me desfiz do abraço que estava recebendo e me levantei. Peguei meu celular em cima da estante e abri na câmera. Primeiro tirei uma foto de Harry e Lou, em pelo menos três ângulos. Em seguida, fotografei Liam, que parecia um bebê. Comecei a rever aquelas fotos e meu olhar bateu no relógio: Passava das sete e meia da manhã e minha aula começaria as oito. Eu estava super atrasada!
  Tentei não me desesperar, mas foi inútil. “Eu não vou conseguir chegar a tempo...” Corri até o segundo andar e entrei como um furacão no meu quarto. Por sorte já tinha separado a roupa que queria usar e a vesti de qualquer jeito. Os meninos ainda estavam dormindo e não seria justo acordá-los em um dia de folga. Eu também não poderia ligar para %Abi% e fazê-la se atrasar comigo. Bufei, decidindo pegar um taxi.
  Saí de casa o mais rápido que consegui e ainda tive que caminhar até a portaria do condomínio. Pelo menos tive um pouco de sorte e o porteiro me ajudou a encontrar um taxi livre. Tentava não olhar no meu relógio para não aumentar o meu desespero, mas já sabia que não daria tempo. O trânsito de Londres não foi tão gentil comigo quanto eu esperava que fosse. Por mais que eu tentasse apressar o motorista, ele me olhava pelo espelho e falava: “Eu não posso passar por cima dos carros, moça.” Moça? Não gostei.
  Joguei uma nota com um valor bem maior do que o preço da corrida, mas não tinha tempo de esperar pelo troco. Praticamente pulei do carro ainda em movimento e corri pela calçada até chegar à escadaria. Incrivelmente não tropecei em nenhum degrau e continuei o meu caminho. Minha aula seria no último andar e eu desejei ter asas. A minha única saída foi continuar correndo pelos corredores e desviando de pessoas até chegar à escada de incêndio. O elevador demoraria demais pra chegar e eu já não tinha mais tempo a perder.
  No terceiro andar eu já estava morta de cansaço e sem ar. Meu corpo não aguentava mais continuar, então eu tive que parar e me apoiar na parede. Respirei fundo e senti a vista ficar escura. Dica: Nunca saia de casa sem comer nada e corra como se estivesse em uma maratona. Me sentei em um degrau qualquer pra evitar uma queda e chequei as horas. 8h20min. Não poderia entrar na sala de aula mesmo que conseguisse chegar até o quinto andar com vida.
  Fiquei sentada ali até parar de ofegar como um cachorro depois de um passeio e tentava decidir o que faria. Tinha duas horas livres até a minha próxima aula. Poderia ir comer alguma coisa na cafeteria da Academy, mas estava enjoada demais por ter chegado atrasada pra tentar comer qualquer coisa. Meu perfeccionismo não me permitia falhar e aquilo era uma falha. Uma muito grande, aliás. Como eu pretendia me destacar assim? E o pior... Agnes disse que estaria de olho em mim e com certeza aquilo não passaria batido. Adeus chances de pegar “matérias” de níveis mais avançados.
  Se eu continuasse parada e pensando naquelas coisas acabaria chorando ou me jogando da escada. Levantei do batente e decidi dar uma volta naquele andar mesmo. Seria uma oportunidade de espiar os outros alunos, já que todas as portas das salas tinham uma parte de vidro. Saí da escada e encontrei o corredor completamente vazio. Aparentemente eu era a única a “matar aula”. A primeira sala que eu encontrei era de uma turma de teatro, já que eles estavam encenando uma cena de Hamlet. Sim, aquela onde o cara segura o crânio e pergunta: “Ser ou não ser? Eis a questão.” Assisti por um tempo até ficar entediada e passei para a próxima sala. Vazia.
  Pulei algumas salas e encontrei uma onde um casal dançava enquanto o resto da turma assistia. Com a porta fechada eu não conseguia escutar qual era a música, mas os dois eram tão encantadores que não havia necessidade de uma trilha sonora. O homem estava de costas para mim e eu não conhecia a bailarina que girava e subia e descia da ponta. Só sabia que nunca tinha visto uma dança tão linda em toda a minha vida. Ele a levantava para o alto e aos poucos ela ia se curvando sobre ele até quase se beijarem. Mais um rodopio aconteceu e eles trocaram de lado. O bailarino ficou de frente pra mim e eu descobri que era Nicholas. Ele logo notou a minha presença atrás da porta, mas não perdeu a concentração por nenhum segundo. Pelo contrário, parecia querer me mostrar o seu melhor. Não que precisasse, já que eu já estava encantada.
  Nunca imaginaria que Nick era tão bom dançarino. Eu viajei em seus movimentos e acabei sorrindo. Ele também sorriu e a professora olhou na minha direção, como se estivesse querendo saber para onde ele estava olhando. Me escondi atrás da parede e decidi não atrapalhar mais.
  Caminhei até o fim do corredor e parei em frente à última porta. Mesmo ele estando de costas, vi que era Zayn que estava sentado em um piano de cauda. Em pé ao seu lado estava um homem ruivo, provavelmente o professor, que lhe entregou uma partitura. Zayn a folheou algumas vezes e falou algo que eu não fui capaz de escutar. Maldita porta a prova de som. O professor se afastou um pouco e Zayn dobrou as mangas da camisa, se preparando para tocar algo. Eu sempre fui apaixonada pelo som de piano, tanto é que quis aprender quando era mais nova, mas tive que me dedicar ao ballet. Não iria perder a oportunidade de ouvi-lo tocar. Girei a maçaneta da porta e prendi a respiração, com medo que a madeira rangesse e eu fosse denunciada. O que não aconteceu e eu pude respirar aliviada. Não abri muito a porta, só o suficiente para que o som pudesse chegar até os meus ouvidos.
  Os dedos de Zayn começaram a deslizar sobre as teclas e os pés se mexiam no ritmo da música, provavelmente pisando naqueles pedais que eu nunca entendi a utilidade. Eu não conhecia a música, mas era linda. Bem lenta e um tanto triste. Ele começou a cantar e eu fiquei hipnotizada.
  - I don’t know where I’m at. (Eu não sei onde estou) I’m standing at the back and I’m tired of waiting. (Eu estou parado na parte de trás e estou cansado de esperar) – A voz dele era rouca e ao mesmo tempo suave. Eu podia sentir todo o sentimento por trás da letra da música. – Waiting here in line, hoping that I find wath I’ve been chasing... (Esperando aqui na fila com esperança de encontrar o que eu estive procurando)
  Eu poderia ficar ali escutando até que a aula acabasse, mas quando a música chegou ao segundo refrão eu fui interrompida. Alguém me cutucou por cima do ombro e eu me assustei. Já imaginava que era a diretora pronta pra me expulsar, mas sorri por me virar e ver que era apenas Niall.
  - Sabia que é feio espiar os outros? – Ele me fez fechar a porta da sala, para não sermos escutados.
  - Já ouvi isso em algum lugar... – Mordi o meu lábio inferior, envergonhada por ter sido pega.
  - Você pode entrar na sala pra assistir, sabia? – Ele tentou abrir a porta, mas eu o impedi. Não queria que Zayn soubesse que eu estava o escutando.
  - Deixa pra lá, eu já tenho que ir mesmo...
  - Você não devia estar na aula? %Abi% estava te procurando mais cedo.
  - Deveria sim, mas acabei perdendo a hora. – Escondi o rosto nas mãos e choraminguei.
  - Não fica assim, %Tah%. – Ele me abraçou. – Aposto que ninguém nem sentiu a sua falta.
  - Poxa, Nialler, obrigada. – O abracei de volta e acabei rindo.
  - Tem certeza que não quer entrar? Eu gosto muito dessa música e acho que você também ia gostar...
  - Eu realmente tenho que ir, mas quem sabe outro dia, né?
  - Tudo bem, %Tah%. Te vejo na saída, então? – Ele sorriu, mostrando o aparelho invisível nos dentes.
  - Como sempre! – Deixei um beijo em sua bochecha. – Só não conta pra ninguém que você me viu aqui, ok?
  - Pode deixar! – Niall fez um “joinha” com a mão e entrou na sala.
  Eu observei Zayn se levantar do banco para abraçar Niall quando o viu. Os dois deveriam ser realmente melhores amigos e até Ed se juntou a eles. É claro que eu ri quando Niall tentou empurrar o professor e ficar com Zayn só pra ele. Meu celular começou a vibrar no bolso da minha calça e eu já sabia quem era. A aula provavelmente havia acabado e %Abi% estaria me procurando em todo canto.

“Star, você morreu? Porque só assim pra faltar uma aula. Xx %Abi%. ps: Se você morreu mesmo, me desculpe pela brincadeira.”

  Claro, porque se eu morri estaria lendo a mensagem dela direto do além. Ri sozinha, me afastando da sala. Fui até o elevador enquanto digitava uma resposta:

“Perdi a hora. Me encontra no refeitório? xx – %Tah%. ps: Morri sim, procure o meu espírito.”
Capítulo XIV
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