Capítulo XIII
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O relógio da mesinha de cabeceira marcava pouco mais de 13h40min quando eu consegui deixar a preguiça de lado e me sentar no colchão. Imagens da noite passada passaram na minha mente e eu não seguirei um sorriso. Harry e Niall cantando, %Abi% bêbada, Zayn no chuveiro... Ahh, Zayn no chuveiro. A água gelada escorrendo pelo corpo e arrepiando a sua pele... “Gatinhos. Bolo de chocolate. Algodão doce!” Tentei ocupar a minha mente com coisas mais puras. Olhei para o lado e notei que Zayn ainda dormia profundamente e seria melhor que ele continuasse assim, já que teria uma baita ressaca ao acordar.
Levantei com cuidado e fui em direção à porta tentando fazer o máximo de silêncio possível. Deixei o meu quarto e preferi usar o banheiro do corredor para fazer a minha higiene e não acabar acordando o meu “convidado”. Amarrei o cabelo em um rabo de cavalo alto e escovei os dentes.
- %Tah%? Tem comida pronta lá na cozinha. – Louis bateu na porta do banheiro e eu a abri quase que no mesmo momento.
- Eu gosto de comida. – Ri de mim mesma, já que estava parecendo Niall.
- Alguém acordou de bom humor hoje. – Meu irmão sorriu e passou o braço em volta dos meus ombros para descermos juntos.
- O que posso fazer? Eu dormi bem, só isso. – Dei de ombros, sorrindo.
Chegamos à cozinha e o cheiro de panquecas e mel me preencheu, fazendo a minha fome aumentar. Louis foi para a sala assistir televisão e me deixou sozinha com Liam, que era quem estava cozinhando.
- Bom dia, Leeyum. – Caminhei até ele praticamente saltitando e deixei um beijo em sua bochecha.
- Já é boa tarde, %Tah%. – Ele sorriu, mas não se virou pra me olhar.
- Pra mim só vai deixar de ser bom dia depois que eu comer. – Sentei na bancada da pia e comecei a balançar os pés no ar.
- Tem um carro prata aí na porta.
- Ah, eu sei! – Falei descontraída. – É o carro do Zayn. Ele ainda está dormindo...
- Hm. – Liam sempre foi do tipo comunicativo e alegre, mas naquela tarde ele estava muito estranho.
- O que foi, Liam? Porque você está assim?
- Não é nada, %Star%. – Ele falou ainda sem me olhar.
- E te conheço e sei que tem algo te incomodando. Mas deixa pra lá. – Rolei os olhos. Se ele não queria falar, eu não iria insistir.
- Eu também achei que te conhecia.
- O que quer dizer com isso? – Naquele ponto eu já começava a me perguntar o que tinha feito de errado.
- É só que eu fiquei tão preocupado como que você poderia pensar naquele dia que a Candice passou a noite aqui... – Ele largou a frigideira com violência dentro da pia ao meu lado e eu me assustei com o barulho, descendo da bancada em um impulso. Liam começou a despejar as palavras em cima de mim. – Mas parece que você também é uma qualquer.
- O que você acabou de dizer? – Tudo aconteceu tão rápido que eu mal pude acreditar no que estava ouvindo. Liam pareceu arrependido no mesmo momento em que falou tudo, como se não tivesse pensado direito. Mas não importava, porque tinha me machucado do mesmo jeito.
- %Star%... – Coçou a nuca e tentou tocar o meu braço, mas eu me afastei. – Eu não queria...
- Como você pode pensar algo assim de mim? Eu não transei com o Zayn, Liam. Nem ao menos dormimos na mesma cama. – Comecei a falar um pouco alto de mais e vi pelo canto de olho que Louis veio ver o que estava acontecendo. – Ele só estava bêbado demais pra ir pra casa e eu o trouxe aqui. Porque eu me preocupo com os meus amigos.
- Eu pensei... Eu só... – Ele gaguejou e eu me afastei ainda mais.
- Mas pense o que quiser, porque eu não te devo explicação nenhuma.
Deixei a cozinha o mais rápido que pude, perdendo completamente a fome. Enquanto eu subia as escadas, escutei meu irmão falando pra Liam não vir atrás de mim, porque acabaria piorando as coisas. Ainda bem que ele sabia disso. Eu tinha pequenas lágrimas nos olhos, mas não eram de tristeza. Era decepção e quase raiva. Voltei para o meu quarto e tranquei a porta. Zayn ainda estava dormindo e eu comecei a cogitar a possibilidade de ele estar desmaiado. Respirei fundo umas cinco vezes e pensei em coisas boas. Não valia a pena ficar irritada por uma besteira.
Aproximei-me da minha cama e sentei com cuidado. Zayn parecia estar em paz. Ele estava deitado com as costas na cama e o rosto virado na minha direção. Seu peito subia e descia com a respiração lenta e eu senti vontade de tocá-lo. Não sei exatamente o porquê, mas estiquei a mão e passei a ponta dos dedos pela testa dele, brincando com alguns fios de cabelo que estavam bagunçados por ali. Parei por um momento, esperando alguma reação. Nada. Deslizei os dedos pela lateral do rosto de Zayn, indo até a maçã do rosto e seguindo caminho pelo nariz. Desci pelos lábios e perdi o meu olhar por ali. Eram tão vermelhos e bem desenhados... Na verdade, todas as partes dele deveriam ter sido desenhadas por anjos. Ele se mexeu um pouco e eu recolhi a mão. Zayn resmungou alguma coisa sem sentido e suspirou. Eu sorri e o observei abrir um pouco os olhos.
- Hora de acordar... – Sussurrei.
- Hum? – Resmungou, puxando o edredom pra cima do rosto.
- Zayn... Acorda... – Abaixei o cobertor e ele me encarou desnorteado.
- %Tah%? O que você está fazendo aqui? – Perguntou sonolento, fechando e abrindo os olhos.
- Na verdade... É você que está aqui. – Ri. – Você está na minha casa, Zayn. Eu não quis te levar pra casa naquele estado ontem.
- Eu não me lembro de nada... – Ele começou a se sentar e levou uma mão até a testa. – Ai, minha cabeça.
- O nome disso é ressaca. E das grandes.
- Que roupas são essas? – Olhou para o próprio corpo e percebeu que aquelas roupas não eram as dele.
- São do meu irmão. Depois que eu te dei banho, você as vestiu pra dormir.
- Você me deu banho? – Ao mesmo tempo em que parecia assustado, ele estava rindo.
- Ahn... É. – Falei demais. Eu poderia ter dito que ele havia se lavado sozinho, mas não! Tive que falar que EU dei banho no infeliz. – Mas você estava de cueca, então não tem problema.
- Me sinto violado. – Brincou, fazendo uma cara de espanto.
- Se serve de consolo, você também me viu de calcinha. – Acabei rindo com a lembrança de nós dois no chuveiro.
- Vi?! Agora sim eu estou com raiva por não lembrar de nada!
- Você realmente não se lembra de nada? Nadinha?
- Bem... Eu lembro de cantar. E também lembro da %Abi% dançando no palco. – Nós dois rimos. – E eu também lembro de cantar com você...
- Só isso? – Então ele não se lembrava da nossa dança... Enquanto eu não conseguiria esquecer. Mas seria melhor assim.
- Tem mais coisa?
- Nada importante. – Menti e levantei da cama. – Vem.
- Pra onde vamos? – Também foi levantando e me seguindo até a porta.
- Já que eu estou cuidando de você, vou fazer isso direito! Primeiro você vai ao banheiro, lavar esse rosto de sono, e depois vai me encontrar na cozinha. Meu irmão tem um remédio ótimo pra ressaca.
- Sim, chefe.
+++ - %Star%! %Star%! %Star%! – Louis gritou descendo as escadas. – Tenho uma surpresa pra você!
- Eita, Lou ta aprontando alguma coisa. – Ri e abaixei a cabeça, encostando a testa na mesa da sala de jantar. Zayn estava sentado na minha frente, com uma garrafa de “energy juice” nas mãos. – E eu já falei pra você não perguntar o que tem aí, Zayn. Só beba, porque vai ajudar.
- Tem certeza? Eu nem consigo ver a cor desse troço, porque você colocou em uma garrafa escura! – Ele balançava o líquido e tentava sentir algum cheiro. – E se for uma coisa gosmenta?
- Larga de frescura, Malik. Bebe logo! – Levantei a cabeça e fiz careta para o moreno. – Uh oh.
Louis entrou na sala de jantar e trouxe uma caixa preta em suas mãos. Zayn o olhou com curiosidade, mas eu sabia exatamente o que estava ali dentro; o motivo dos meus pesadelos. Meu irmão mais velho riu da minha cara de tristeza e colocou a caixa em cima da mesa.
- Lembra disso, %Tah%? – Puxou a tampa da caixa para abri-la e tirou um par de patins azuis.
- Hm? O que é isso? Não faço ideia! – Me fiz de desentendida e ele riu de novo.
- Wow! Eu adorava andar de patins! – Zayn pegou outro par de dentro da caixa e começou a brincar com as rodinhas. – Por que você está fazendo essa cara, %Tah%?
- Porque ela mal consegue ficar em cima de um desses. – Louis me dedurou.
- Em minha defesa... É muito complicado. – Cruzei os braços. – Mas onde você os encontrou?
- Nosso pai veio aqui ontem e trouxe. Estava no armário da despensa dele. – Explicou.
- O papai esteve aqui? Você falou pra onde eu fui?
- E trouxe a Lux. – Choraminguei quando escutei, porque adoraria ter visto a minha pequena. – Eu disse que você foi encher a cara com garotos da Academy.
- LOUIS! – Eu tenho um irmão que é realmente um amor. É claro que Zayn morreu de rir. – Espero que você não tenha falado isso.
- Quem é Lux? – Zayn perguntou.
- Nossa meia-irmã por parte de pai. – Lou respondeu enquanto ajeitava alguma coisa no meu patins.
- Não sabia que você tem uma meia-irmã... Está escondendo-a de mim por quê? – Ele fez uma cara de safado e eu sorri irônica.
- Tem muita coisa que você não sabe sobre mim, Malik. E ela tem dois anos de idade.
- Muito nova pra mim. Mas de qualquer forma, eu prefiro a irmã dela. – Piscou. É claro que Louis me olhou com um sorrisinho no canto dos lábios que me deu vontade de bater nele. Bater nos dois, na verdade.
- Tá, claro. – Rolei os olhos. – Beba seu energy juice e pare de falar besteira.
- Então, %Tah%... Lembra do que me prometeu, né? – Louis levantou uma sobrancelha.
É claro que eu me lembrava... Há quase um ano atrás, fiz meu irmão comprar pra mim aqueles patins, porque todos sabiam andar menos eu. Então eu estava cansada de ver ele e Harry patinando por aí e eu tendo que seguir na bicicleta. O problema é que aprender a usá-los acabou sendo mais complicado do que eu achava. É claro que ter equilíbrio deveria ser algo fácil para uma bailarina capaz de ficar horas em cima da ponta do pé, mas não era; não pra mim. Minha sorte é que os patins ficaram na casa do meu pai, em Londres, então eu os deixei para trás quando o verão acabou e tivemos que voltar pra Paris. Louis ficou super irritado, falando que tinha gastado o próprio dinheiro pra me dar aquele presente e o mínimo que eu poderia fazer era tentar aprender. Então eu prometi que assim que voltássemos à Londres, eu deixaria ele tentar me ensinar.
- Lembro sim, Lou. – Choraminguei, aceitando o meu destino.
- Ótimo! Começaremos as aulas hoje mesmo. – Voltou a guardar os patins dentro da caixa e foi para a sala sem nem me dar tempo de reclamar.
- Você vai ver que é fácil, %Tah%. Vou te ensinar umas técnicas que... – Zayn já começou a se convidar pra assistir a aula.
- Você ainda vai estar aqui? – Brinquei, querendo irritá-lo. – Terminou?
- Terminei sim... Até que não estava tão ruim... – Levantei e ele me entregou de volta a garrafa vazia. Antes que eu pudesse chegar à cozinha, Zayn começou a “tremer” na cadeira como se estivesse tendo convulsões, fazendo uma cara engraçada.
- Zayn? O que está acontecendo? – É claro que eu estava preocupada, principalmente quando ele caiu no chão –se jogou– e ficou tremendo lá. Eu me aproximei assustada e tentei segurar seus ombros. – Zayn!
- Você disse que o nome era energy juice... – De repente ele parou com aquela brincadeirinha e começou a rir; provavelmente da minha cara.
- Isso... Não... Se... Faz! – Dei tapas nele entre cada palavra. – Idiota!
Saí de perto dele, irritada. Entrei na cozinha, mas ainda conseguia escutar as risadas. Teria sido realmente engraçado se eu não achasse que ele estava tendo um ataque. Vai saber, né? Ele podia ter alergia ou algo assim. Caminhei até a pia e comecei a lavar os pratos pra me distrair. A frigideira ainda estava lá no mesmo estado em que Liam deixara e ele devia estar trancado no quarto, pensando no que fez. Contanto que eu não precisasse olhar pra ele, poderia ir pra qualquer lugar.
Zayn entrou na cozinha e eu permaneci de costas pra ele, com as mãos ensaboadas e dando total atenção a um copo de vidro. Senti a sua aproximação, mas continuei focada. Quando ele se preparava pra falar ou fazer alguma coisa, o celular em seu bolso começou a tocar.
- Hey, mum... – Ele atendeu e eu me virei um pouco, fitando-o por cima do ombro. – É, eu ainda estou aqui na casa... Do meu amigo? – Me olhou. – Que eu falei na mensagem ontem? – Terminei de lavar os pratos e sequei as mãos. Zayn ainda me olhava como se perguntasse: “Você tem algo a ver com isso?” E eu respondi: “Culpada.” Apenas mexendo os lábios. Não queria que a mãe dele escutasse a minha voz e ficasse pensando besteira. – Claro, não se preocupe... Eu já vou. Tá bem, mãe. Eu também te amo.
- Que coisa mais linda! – Ri quando ele desligou. – Você não parece ser do tipo que fala “eu te amo” para a mãe.
- Cala a boca, %Star%. – Foi a vez dele de ficar irritado comigo. Mas logo abriu um sorriso e continuou. – Ela está preocupada... Quer que eu vá pra casa.
- Que pena que você não vai estar aqui pra me ver cair do patins! – Falei irônica enquanto ele mexia no celular. Deveria estar procurando a mensagem que a mãe dele disse que recebeu.
- É realmente uma pena... Mas eu vou pedir ao Louis pra gravar um vídeo e me mostrar depois. – Ele riu.
Ajudei Zayn a recolher as coisas e o levei até o carro. Estava gostando de passar um tempo com ele, apesar de sempre acabar ficando irritada com as suas gracinhas. Ele não era a pior pessoa do mundo, vamos concordar. Nos abraçamos antes que ele entrasse no carro e eu constatei que estávamos passando para um nível mais avançado no nosso relacionamento. Deixamos de ser colegas e começávamos a virar amigos. Claro que depois do quase banho que tomamos juntos não podia ser diferente. Ele partiu e eu me pequei observando o Volvo dobrar a esquina. Quando o carro já não podia mais ser visto, me virei e dei de cara com Louis parado no batente de casa. Ele já estava vestido com uma bermuda marrom, uma camisa listrada (pra variar) e os patins nos braços.
- Vá se trocar e eu te espero aqui! – Mandou.
Não respondi nada, mas o obedeci e entrei correndo em casa. Subi as escadas com pressa e passei pelo corredor mais rápido ainda. Não queria acabar encontrando Liam no caminho. Tirei meus pijamas e procurei pelo closet alguma roupa que eu não me importaria em sujar, ou até mesmo rasgar. Pelas minhas previsões, eu iria cair muito. Me vesti apropriadamente e prendi os cabelos em coque alto.
Voltei a deixar o quarto, que estava muito bagunçado por sinal, e fui de encontro ao meu irmão. Louis conversava animadamente com uma senhora que molhava as plantas; provavelmente a nossa vizinha. Acenei pra ela educadamente e meu irmão viu que eu já estava pronta. Os dois se despediram e a mulher nos convidou para ir até a casa dela mais tarde, porque faria cookies. É claro que Lou aceitou o convite na mesma hora.
Começamos a caminhar na direção da área da piscina, já que ali perto também tinha uma espécie de espaço próprio para skate, patins, bicicleta e coisas assim. Eu teria preferido ficar na rua de casa, já que a probabilidade de alguém me ver seria muito menor. Mas Louis argumentou que seria perigoso demais por causa dos carros e que tinha medo de eu ser atropelada. Claro que dei um tapa em sua cabeça quando ele fez uma gracinha.
Assim que chegamos à pracinha – que estava vazia, graças aos deuses – Louis já me mandou calçar o patins e ele fez o mesmo. Me sentei em um banco de mármore e tirei os sapatos, trocando-os pela arma que seria responsável pela minha morte. Lou sentou ao meu lado e me imitou. Porém, ele foi muito mais rápido e logo levantou. Se exibindo, foi até o outro lado e voltou de costas.
- Metido. – Falei baixo.
- Eu escutei isso! – Riu.
- Era pra ouvir mesmo! Agora venha cá e me ajude a levantar...
- Okay! Primeiro você vai só tentar ficar em pé, já que nem isso conseguiu da outra vez. – Eu estava com os braços esticados e ele segurou as minhas mãos. Me puxou com cuidado até eu encontrar apoio.
- Mas da outra vez eu não conseguia parar de rir porque você e o Harry não paravam de fazer palhaçada! – Meu pé direito foi muito pra frente e eu quase perdi o equilíbrio, mas Louis colocou o próprio patins na frente do meu e o fez parar. – Wow.
- Pare de reclamar e se concentre, %Star%! – Brigou comigo. – Agora eu quero que você vá arrastando um pé após o outro... Pode fazer isso?
- Não me solta. – Segurei suas mãos com força, o impedindo de me largar, mas assenti. Devagar e quase sem sair do lugar fiz o que ele pediu. Arrastei os pés um depois do outro, tentando andar. – Assim? Não parece certo...
- Você precisa deslizar um pouco mais. Deixa eu mostrar. – E me soltou. Com o susto, eu abri os braços e curvei o corpo para frente. Não estava nada bonita, mas pelo menos consegui achar um pouco de equilíbrio. Ele começou a deslizar os pés, tentando me dar um exemplo do que eu deveria fazer. – Entendeu?
- Talvez... – Eu mal respirava, com medo de cair. Ao ver aquela minha pose, Louis começou a rir e eu tentei não fazer o mesmo.
- Agora é a sua vez. Venha até mim, mera mortal. – Esticou os braços. Ele ainda estava um pouco longe, mas acho que era proposital.
- Olha como fala comigo. Eu ainda posso mandar cortarem a sua cabeça! – Acabei rindo. Mexi os pés do jeito que ele fizera e consegui sair do lugar. Ainda parecia meio desajeitada, mas pelo menos estava me mexendo.
- Você está indo muito bem... – Lou sorriu companheiro. Eu já estava quase chegando até onde ele estava, mas o infeliz caminhou pra trás na mesma hora em que eu investi contra a sua mão. Ou seja: Perdi completamente o pouco de equilíbrio que tinha e fui de cara ao chão. Não literalmente, porque usei minhas mãos para amortecer a queda. – Desculpa, %Tah%!
- LOUIS! – Gritei! Era exatamente por isso que eu não gostava quando ele tentava me ensinar. Sempre dizia que ia me segurar, mas acabava soltando. – Eu vou te matar!
- Pra isso você teria que me alcançar! E desse jeito não vai nem chegar perto. – Saiu de perto de mim, rindo. Eu fiquei de joelhos, calculando como faria para levantar.
- Eu posso te matar enquanto você estiver dormindo. Melhor aprender a dormir com o olho aberto. – Eu estava emburrada, principalmente por ele não querer me ajudar.
- Que meeeeeeedo. – Levou as mãos para o rosto e fez uma cara de espanto.
Eu apoiei as duas mãos no chão e tentei encostar as rodinhas do patins ali também. No começo não deu muito certo e eu acabei caindo de novo. Dessa vez, batendo a bunda no chão. Gemi de dor e Louis riu mais ainda. Tentaria de outra forma. Mantive as mãos firmes no chão, mas ao invés de jogar o corpo pra frente, coloquei a bunda pra trás. Não sei como, mas consegui ficar de cócoras. Já era um começo. Sem me importar com a vulgaridade, fui empinando a bunda até estar com as pernas retas. Metade do caminho já foi... Eu mesma comecei a rir porque não conseguia levantar o tronco. Qualquer força que eu fizesse com os pés, faria o patins escorregar.
- Lou, me ajuda... – Implorei. – Boo bear... Por favor...
- Você sabe que eu não consigo negar quando você me chama assim. – Bufou e veio até mim. Parou ao meu lado e segurou a minha cintura. – Pode levantar agora.
- Se você me soltar, eu realmente te mato. – Mas ele não me soltou. Segurou minha cintura com mais firmeza e eu finalmente fiquei de pé.
Continuamos tentando andar em cima daquele objeto mortal de seis rodas por um bom tempo. Ou melhor, eu continuei tentando e Louis ficou se exibindo. Provavelmente torcendo para que alguma garota aparecesse e ficasse encantada com as suas habilidades. Meu professor fajuto decidiu que antes de aprender a andar, eu deveria aprender a levantar. Eu já havia caído umas quatro vezes quando comecei a pegar as manhas pra levantar. Meus joelhos estavam totalmente ralados e um de meus cotovelos sangrava e sujava o meu casaco. Meu próximo banho seria muito dolorido...
Eu já estava suada e Louis pareceu olhar em algum ponto atrás de mim. Não ousei me virar, porque não queria cair de novo. Ele me puxou até o banco e eu me sentei, agradecendo eternamente por aquilo. Se abaixou para pegar seus sapatos, mas não tirou o patins.
- Eu vou indo pra casa, ok? De patins eu chego mais rápido! – Usou essa desculpa e patinou até a calçada.
- E me deixar voltar sozinha? – Não adiantou, pois ele já estava indo.
Eu o segui com o olhar e percebi Liam parado há alguns metros de mim. Nossos olhares se encontraram e eu desviei quase no mesmo instante. Fingi não ter notado a sua presença e comecei a tirar os patins. Ele foi se aproximando devagar, esperando alguma reação da minha parte.
- %Star%? Eu... Eu posso conversar com você? – Sua voz era baixa e ele parecia medir cada palavra.
- Claro. – O olhei pela primeira fez, depois de calçar o meu tênis. Não esperei por ele e comecei a caminhar de volta pra casa.
- Me desculpa, %Tah%... Pelo que eu disse mais cedo. – Liam encarava os próprios pés e andava ao meu lado. – Você não é como nenhuma outra. Eu não devia ter pensado aquilo... Na verdade, eu nem pensei. Só saiu...
- Doeu, Liam. – Eu o olhei e meu coração não aguentou. Ele parecia realmente arrependido e chateado. – Mas eu entendo...
- Entende? – Dessa vez ele é que me olhou.
- Eu sei como é sentir ciúmes, Liam. Senti o mesmo quando vi a Candice na cozinha. – Dei de ombros, me entregando.
- Sentiu? – Continuava confuso.
- É claro! Você é um dos meus melhores amigos... Então é normal sentir esse tipo de ciúme de irmão. Do mesmo jeito que você sentiu hoje. O Louis sempre dava ataques assim quando me via com outros garotos. – Dei de ombros quando viramos uma esquina.
- Ciúme de irmão? %Star%...
- Mas não se preocupe, vocês ainda são os homens da minha vida. – Ri e passei um braço por cima dos ombros dele. Como eu era mais baixa, tive que ficar na ponta dos pés e ele me envolveu pela cintura. – Agora desfaz essa cara amarrada porque eu quero o seu sorriso.
- Só se eu ganhar um beijo. – Liam falou quando paramos na frente de casa.
- Chantagem? Mas eu aceito. – Sorri e larguei o patins na grama, virando de frente pra ele.
- Você primeiro. – Continuou com a cara fechada, segurando o riso.
- Tudo bem! – Havia um brilho no olhar dele e eu aproximei o meu rosto. Pressionei os lábios contra a bochecha esquerda de Liam e demorei uns bons segundos assim. Antes mesmo que nos separássemos, pude sentir que ele sorriu. Eu acabei sorrindo junto e nos afastamos.
- Impossível não sorrir assim! – Senti um toque de desapontamento em sua voz, mas devia ser impressão minha.
- Fizeram as pazes? – Louis deveria estar brincando de porteiro, porque sempre aparecia na porta!
- Eu não consigo ficar brava com essa carinha linda. – Apertei o queixo de Liam levemente. Ele sorriu mais uma vez e fomos entrando em casa.
- É... – Ele respondeu e eu caminhei até a sala de jantar, deixando os dois no hall de entrada.
- Falou pra ela? – Louis sussurrou, mas mesmo assim eu consegui entender. A minha curiosidade me fez parar pra tentar escutar o resto.
- Não consegui, Louis...
- Por que não? Você é realmente muito ruim com mulheres, Payne.
- Eu sei.
- É bom que você melhore. Ou vai esperar aquele Zayn fazer o que você não consegue?
Decidi parar de escutar aquela conversa pelo bem da minha sanidade mental. Cheguei na cozinha e peguei a garrafa d’água, me servindo. Estava morrendo de sede. Meu irmão gritou que estava indo comer cookies na casa da vizinha e Liam se juntou a mim. Eu senti que ele queria falar algo, mas tinha medo de saber o que era. A voz de %Abi% apareceu na minha cabeça e eu senti um frio na barriga. “O Liam gosta de você, %Star%.” Por mais que eu tentasse não acreditar naquilo, estava ficando cada vez mais difícil. Terminei o meu copo e o olhei em silêncio. Se ele quisesse falar, eu iria ouvir.
- %Star%... – Olhei em seus olhos e ele corou.
- Sim, sweety?
- A Candice me pediu pra perguntar qual shampoo você usa. Porque ela gostou do seu cabelo. – Liam falou depois de um longo suspiro. Nada daquilo fazia sentido.
- Ahn... Depois eu passo o nome pra ela. – Não consegui lembrar o nome do meu shampoo, obviamente. Tinha me preparado pra uma coisa e o que ouvi foi outra totalmente diferente. – Eu tenho que ir, ok? Preciso tomar um banho e limpar esses cortes.
- Tudo bem... – Seu olhar era triste quando o deixei na cozinha. Escutei o barulho de algo caindo, mas não tenho certeza se foi uma queda ou alguém derrubou de propósito.