Ballet Shoes


Escrita porElla Souza
Editada por Isabelle Castro


Capítulo XI

Tempo estimado de leitura: 21 minutos

  Já era manhã de terça feira e eu estava sentada em um ônibus de dois andares em direção à academia. Como a minha única aula particular da semana não era tão cedo naquele dia, não pude pegar carona com Lou e Liam nem com %Abi%. A aula particular dela era na sexta feira, então tinha a terça feira livre. Eu agradeci por meu dia livre ser na sexta, já que seria como se o meu final de semana começasse mais cedo. De qualquer forma, eu não me importava em pegar ônibus, porque eles eram bem confortáveis e nunca estavam cheios demais. A única coisa que realmente me desanimava era os três quarteirões que eu tinha que caminhar do ponto de ônibus até a Academy.
  Chovia um pouco do lado de fora, então eu abri a minha sombrinha ao sair. Sim, tinha começado a levar uma na mochila. Senti pena da minha bota ao pisar sem querer em uma poça de água, mas não havia muito que fazer. Segui o meu caminho me encolhendo dentro do meu casaco de lã, tentando afastar o frio. Por mais incrível que pareça, eu não demorei quase nada pra chegar à minha “escola”. Subi as escadas com cuidado pra não escorregar e empurrei as pesadas portas de madeira que ficavam fechadas quando estava chovendo. Um pequeno grupo de alunos conversava e andava com pressa pelo caminho que eu me lembrava ser do auditório. Eu não costumava ficar escutando conversas alheias, mas eles estavam falando tão alto que eu não pude deixar de ouvir quando falaram: “Eu não acredito que vão revelar a peça hoje. Geralmente enrolam até o meio do semestre.” Liguei uma coisa à outra e entendi do que se tratava aquele furor; o tal espetáculo que era apresentado cada final de semestre.
  Segui o grupo, curiosa. Eu também queria saber qual era a peça que estaríamos apresentando. “Estaríamos” porque eu iria participar nem que fosse como figurante, ou mesmo como uma árvore se fosse o caso. Não estava tão familiarizada em como as coisas funcionavam por ali, mas tinha entendido o peso que aquelas apresentações teriam no meu futuro acadêmico e até mesmo depois dele. Entrei no auditório, que já estava com as luzes apagadas, em silêncio. Comecei a andar pelo corredor, procurando alguma figura conhecida.
  - Psssssss.
  - Quem me chama? – Sussurrei, olhando em volta.
  - Pssssss, %Star%! Aqui. – Zayn acenou para mim, em uma das fileiras de trás.
  - Eu não vou me sentar com você! – Tentava sempre manter a voz baixa para não chamar atenção.
  - Por que não? – Ele também sussurrava.
  - Pelo que eu me lembre, você não é do tipo que fica quieto durante essas reuniões no auditório.
  - Vem logo, %Star%. – Bufou um pouco alto demais.
  - Silêncio aí atrás. – A diretora Agnes, que estava no palco e falava algo ao microfone, reclamou. Senti meu estômago congelar e torci para que estivesse escuro demais para eu ser reconhecida. Me sentei no lugar vazio mais próximo que encontrei, sentindo minhas bochechas arderem.
  - Viu o que você fez? – Zayn havia saído do lugar em que estava e se sentou ao meu lado.
  - Shhh. – Fiz sinal de silêncio, levando o dedo indicador até os meus lábios e ele apenas riu.
  A diretora continuou o discurso dela e eu tentei pegar o bonde andando. Ela enrolou bastante, falando que era sempre uma honra dirigir a peça de encerramento do semestre e como era um orgulho ver os seus pupilos brilhando no palco.
  - É com muita felicidade que eu anuncio qual será a peça que iremos encenar esse semestre... – Ela fez um suspense e eu ficava cada vez mais curiosa. – Romeu e Julieta!
  O auditório gritou em comemoração; principalmente as garotas. Eu aproveitei o embalo e bati palmas também. Romeu e Julieta era meio clichê, mas não deixava de ser uma história bonita.
  - Eu amo essa história... É tão romântica. O amor deles... Eu nunca vi igual. – Disse com um suspiro.
  - Eu acho que é um exagero. – Zayn disse ao meu lado e eu o encarei.
  - É claro que é um exagero! Mas essa é exatamente a questão. O amor louco e exagerado. – Falei inspirada. – Vai dizer que você nunca teve um amor desses?
  - Eu não. Amores assim não existem. – Ele falou descrente e eu rolei os olhos, levantando.
  - De qualquer forma, eu quero participar dessa peça. – Fui saindo do auditório junto com os outros alunos e Zayn me seguia.
  - Então eu irei assistir! – Sorriu.
  - Você não vai participar?
  - Eu nunca participo. Acho ridícula essa coisa toda. Frescura. – Deu de ombros.
  - Sei... – Zayn sempre parecia manter aquela postura de badboy, mas eu sabia que ele não era só aquilo. Não poderia ser.
  Deixamos esse assunto acabar e fomos nos afastando da multidão. Eu deveria estar uns dez minutos atrasada para a minha aula, mas como todos os professores estavam no auditório, eu não achei que teria problema.
  - Ei, %Star%! Espera! – Ouvi alguém me chamar e me virei pra ver quem era. Vi Nick correndo na minha direção e sorri inconscientemente.
  - Oi, Nick. – Esperei ele chegar e senti Zayn enrijecer ao meu lado.
  - Oi! Tudo bem? – Nicholas me cumprimentou sem nem olhar para o menino ao meu lado.
  - Tudo ótimo! Gostou da peça escolhida? – Era a primeira vez que nos falávamos depois de sábado, então eu tentava me manter calma e afastar o nervosismo.
  - Gostei muito. Romeu e Julieta sempre foi um dos meus romances preferidos. Vou fazer o teste para o papel de Romeu.
  - Uau, Nick. Eu espero que você o consiga! – Sorri sincera.
  - Eu gostaria que você fosse a minha Julieta. – Senti as minhas bochechas corarem e não consegui responder.
  - Quando são os testes mesmo? – Zayn se juntou a conversa, praticamente se colocando entre Nick e eu.
  - Semana que vem, na quarta e quinta. Quarta feira são os primeiros... E quinta feira o callback. – Nick nos explicou. – Bem, eu tenho que ir... Estou atrasado.
  - Eu também estou... Então até logo, Nick. – Ele se despediu de mim deixando um beijo um tanto demorado na minha bochecha e acenou um “tchau” para Zayn.
  - Já vai tarde. – Zayn falou quando Nicholas já estava longe demais para escutar.
  - Eu achei que você não participava dessas peças. Que era tudo “frescura”. – Fiz aspas no ar e gargalhei.
  - Frescura? Eu nunca falaria isso! – Ele se fez de ofendido e eu ri mais ainda.

+++

  Mesmo sem %Abi% foi fácil achar a minha sala no quinto andar. O docente já me esperava e eu tive uma surpresa ao ver quem era. O senhor Hofstheder seria o meu professor particular. Ele me explicou que costumava dar aquelas aulas apenas para alunos mais avançados, dos últimos semestres, mas que a diretora o pediu para me acompanhar pelo menos no primeiro mês. Troquei a minha roupa normal pelas roupas de ballet e me preparei para darmos início.
  - Na aula de segunda feira eu notei que você precisa melhorar os seus saltos. Ganhar mais confiança. – Ele me examinava com seriedade enquanto eu me alongava. – Mas primeiro eu gostaria de ver a sua ponta. Pode trocar de sapatilha, por favor?
  - Claro... – Terminei os alongamentos e troquei a sapatilha pela de ponta, amarrando delicadamente a fita de seda em volta do meu tornozelo. – Pronto.
  - Ótimo. – O professor andou até onde eu estava e esticou a mão para que eu a segurasse. Não entendi muito bem o que ele queria com aquilo, mas a segurei. Com um movimento da mão livre, ele me indicou que eu devia ficar na ponta dos pés.
  Me equilibrei em cima da ponta sem me apoiar na mão do professor. Em seguida, ele me pediu para dar alguns passos pela sala enquanto me olhava. O obedeci, aproveitando para dar alguns giros. Ora eu girava em cima de um pé só, ora dos dois. Sempre mantinha meus braços em uma circunferência perfeita em frente ao meu corpo ou acima da minha cabeça. Meus olhares estavam presos em um local fixo, me impedindo de ficar tonta.
  - Muito bom, muito bom... Agora quero testar uma coisa. – Ele me fez parar em frente ao espelho e ficou atrás de mim, me segurando pela cintura.
  Eu não gostava muito de todo aquele contato corporal, mas não podia reclamar. Ele era um ótimo profissional, então devia saber o que estava fazendo. Me mandou fazer 90º com as pernas e assim eu fiz; me colocando em cima da ponta esquerda e levantando a perna direita até formar um ângulo reto perfeito. Estiquei os braços e o professor começou a andar em círculos, me fazendo girar. Aquela posição era um tanto dolorida e me fazia sentir a minha perna queimar, mas eu aguentei com um sorriso. Dores faziam parte do dia-a-dia de uma bailarina, então eu já estava mais que acostumada.
  A aula teve duração de mais ou menos uma hora e meia e o professor usou esse tempo para conhecer um pouco mais das minhas manias e habilidades na ponta. Preciso dizer que meus pés estavam latejando quando finalmente me livrei das sapatilhas? Achei que não. O senhor Hofstheder parecia estar com pressa, então me deixou sozinha na sala. Me vesti normalmente e procurei o meu celular dentro da mochila. Havia uma mensagem de Zayn; eu sabia que era dele porque %Abi% salvou o número do garoto na minha agenda sem que eu percebesse.

“Estamos te esperando no estacionamento. - Malik”

  É claro que eu ri depois de ler a mensagem. Desde quando ele assinava como “Malik”? Juntei o resto das minhas coisas na minha mochila e a pendurei em um ombro só. Segui rapidamente para o estacionamento, tentando adivinhar a quem o “estamos” se referia. E, por mais que nunca fosse admitir em voz alta, eu não queria voltar pra casa sem vê-lo novamente. Eu continuei o caminho inteiro repetindo para mim mesma que ele era “perigo” e eu não devia cair nessa novamente.
  - %Star%! – Zayn, que estava encostado e um carro prateado, sorriu ao me ver. No que eu estava pensando mesmo?
  - Hey, guys. – O cumprimentei e Niall; que estava parando em frente ao amigo.
  - Vem, %Tah%. Estamos indo almoçar. – Niall me chamou. Aparentemente os dois estavam só me esperando pra partir.
  - Desculpa, mas eu já falei que não entro no carro dele. – Usei essa desculpa novamente, apontando para Zayn. Ficar trancada em um espaço tão pequeno com aquele garoto seria perigoso demais.
  - Não seja por isso. – Zayn sorriu, abrindo a porta do banco do passageiro do carro prateado. – Eu troquei de carro com a minha mãe.
  - Você fez o quê? – Não acreditei no que acabara de ouvir. Ele parecia ter um carinho muito grande pelo seu Land Rover para simplesmente trocar por um Volvo.
  - Pelo menos agora você vai poder aceitar a minha carona. – Muito bem, Zayn, acabe com as minhas desculpas esfarrapadas! Ele continuou com a porta aberta, esperando que eu entrasse. – Anda logo, eu estou com fome.
  - Vamos, %Tah%... %Abi% já está lá esperando. – Niall também estava parado, aguardando algum movimento meu.
  - OK! Vocês venceram. Mas só porque eu estou com muita fome. – Bufei e entrei no carro passando por Zayn, que fechou a porta ao meu lado.
  Niall entrou no banco de trás e Zayn logo estava sentado ao meu lado. Coloquei o sinto de segurança e os meninos riram de mim. Não tenho culpa se não confio nas habilidades do motorista, tenho? Claro que não. Tentei ignorar o cheiro delicioso do perfume que o vento que entrava pela janela de Malik jogava direto no meu rosto. Liguei o rádio do carro para ocupar os meus pensamentos cantarolei a música que estava tocando.
  Em aproximadamente vinte minutos já estávamos parando em frente a um restaurante chamado Nando’s. A fachada de pedra era bastante convidativa e, por dentro, a ambientação me fez sentir bem à vontade. Aparentemente aquele era o restaurante preferido de Niall, pois seus olhos brilhavam quando a gente entrou. Até mesmo alguns garçons pareciam conhecê-lo.
  - Meu pudincup! – Escutamos um grito de uma voz conhecida e nos viramos na direção de %Abi%.
  - Minha cerejinha! – Niall correu até ela e Zayn e eu trocamos olhares e começamos a rir.
  - Gente, vão acabar pensando que vocês estão pedindo uma sobremesa. – Me juntei a eles e abracei a minha amiga quando ela largou o loiro.
  - Isso só aconteceu uma vez. – Ela se defendeu e meu causou algumas risadas.
  - Sério? – Gargalhei.
  - Pior que sim. Mas até que o pudim de cereja estava gostoso. – Zayn puxou a cadeira para que eu sentasse, mas eu me sentei na cadeira ao lado da de %Abi%. Sim, faço birra mesmo.
  Logo estávamos todos sentados à mesa e eu folheava o cardápio. Os pratos pareciam deliciosos e eu logo descobri que aquele era um restaurante de frango. Tinha asinhas de frango, coxa de frango, frango disso, frango daquilo, frango, frango, frango. Por sorte eu gostava de frango, caso contrário não iria comer nada. Olhei para %Abi% como se pedisse ajuda, pois eu não sabia o que pedir. Ela sorriu e apontou um prato no meu Menu, sussurrando um: “É muito bom.” O garçom veio até a nossa mesa e anotou os nossos pedidos. Eu pedi o que %Abi% indicara e um suco de maçã.
  - %Abi%... Os meninos te contaram a novidade? – Perguntei assim que o garçom foi embora.
  - Novidade? – Ela olhou os meninos como se estivesse falando: “Tem uma novidade e vocês não me falam nada?” – Não contaram nada. São uns imprestáveis.
  - Eu não sou imprestável! – Niall tentou se defender. – Eu só não fico tão ansioso com essa peça de fim de semestre.
  - OMG. Já falaram o tema da peça? – A voz de %Abigail% soou tão aguda que eu tive que tapar os ouvidos pra não ficar surda.
  - Sim, %Abi%! – Eu comemorei com ela.
  - E qual é? Qual? Qual? – Os olhinhos claros dela pareciam brilhar.
  - Não digo. – Cruzei os braços.
  - Romeu e Julieta. – Zayn respondeu, me fazendo lançar um olhar feio em sua direção.
  - ROMEU E JULIETA? – %Abi% falou ainda mais alto. – Que perfeito!
  - Eu sei! Você vai participar, né?
  - É claro que sim, %Tah%. Li esse livro mais de cinco vezes. Já sei até qual papel eu quero. – Enquanto eu e %Abi% conversávamos, Niall e Zayn falavam sobre outra coisa totalmente diferente.
  - Qual? Julieta?
  - Julieta? Não mesmo. Quero ser a Senhora Capuleto. – %Abi% daria uma ótima Julieta. Já que seu sonho era ser uma atriz, nada mais óbvio do que pegar o papel principal. Mas, aparentemente, ela já tinha a mente formada em qual papel seria o melhor pra ela.
  - Sério? Achei que você ia querer o papel principal.
  - Até que eu poderia... Mas a Julieta é muito avoadinha, muito apaixonada. Sonhadora. – %Abi% parecia inspirada pra falar dela. – Você sim, daria uma Julieta perfeita.
  - Eu? – Me assustei. – É claro que eu adoraria... Mas sou do primeiro período, %Abi%. Claro que não vou conseguir o papel principal.
  - Não fique pensando assim, %Tah%. Pelo menos tente. Se não conseguir, vai ser porque não deu e não porque teve medo de tentar. – Até que pra uma pessoa tão pequena, %Abi% tinha coisas grandes pra falar.
  - Quem sabe, né? – Falei pensativa. – Eu acho que o Nick vai pegar o papel de Romeu.
  - Não se eu puder evitar. – Zayn falou tão baixo que parecia que tinha pensado alto. Todos da mesa pararam o que estavam fazendo para encará-lo, inclusive eu.
  - Zayn vai participar? – %Abi% o olhou desconfiada.
  - “Eu sou o badboy de Bradford” – Niall afinou a voz, tentando imitar Zayn. – “Eu não participo dessas coisas.”
  - Eu nem falo mais isso! – O moreno tentou se defender, mas terminou fazendo um bico tão grande que eu só consegui rir.
  O garçom logo voltou com os nossos pedidos e começamos a comer. Eu desafiei Zayn a pegar uma batata frita do prato de Niall e ele aceitou. É claro que Niall deu um chilique no meio do restaurante quando notou as batatas que estavam faltando, falando que não dividia comida. Aquela cena me lembrou tanto o Joey de F.R.I.E.N.D.S que eu comecei a rir sozinha. %Abi% nos repreendeu e disse que deveríamos deixar o namorado dela em paz, mas era tão divertido ver o menino irritado que nós não iríamos parar nem tão cedo. Pelo menos em uma coisa eles tinham razão; aquele restaurante era muito bom. Nunca comi um frango tão gostoso quanto aquele. O suco também era maravilhoso. No final do almoço, eu e %Abi% dividimos uma sobremesa e cada um dos meninos comeu a sua própria. Bando de gordos, não?
  Acabamos ficando por lá mais do que pretendíamos, conversando e rindo de tudo. Parecíamos uns idiotas, mas eu nunca me senti tão feliz como naquela tarde. Já que era a minha primeira vez no Nando’s, Niall fez questão de pagar a conta inteira. Eu relutei no começo, falando que não era justo, mas era impossível discutir com ele. Tinha que ser namorado de %Abigail% mesmo.

+++

  Quarta e quinta-feira passaram normalmente, sem grandes acontecimentos. A não ser pela noticia de que os testes para a peça foram adiados para uma semana depois do previsto. Eu fui às aulas com %Abi% e sempre nos juntávamos a Zayn e Niall. E eu posso dizer que começava a me acostumar com a presença de Malik, por mais que as suas brincadeirinhas ainda me tirassem do sério. Nick também tentava se aproximar de mim várias vezes, mas nunca trocávamos mais que dez palavras. Não sei se era pela falta de assunto entre nós dois, ou por sempre sermos interrompidos por um dos meus amigos.
  Já era sexta feira e eu havia dormido até as duas horas da tarde. A melhor parte de não ter aula é poder dormir até mais tarde e isso eu fiz com muito gosto. É claro que quando acordei encontrei três chamadas não atendidas da minha amiga, mas ela teria que me entender. Saí do banheiro, onde acabara de tomar um banho quente, e vesti uma roupa bastante confortável, daquelas que se usa pra ficar em casa. Por incrível que pareça, eu não estava com fome.
  “DING DONG”, fez a campainha, me assustando. Saí do meu quarto em direção ao andar de baixo. Quase tropecei no último degrau, pra variar, e ri sozinha da minha falta de coordenação motora. Era incrível que eu conseguisse me equilibrar em uma sapatilha de ponta quando eu mal conseguia andar com meus dois pés sem cair. Girei a chave na fechadura e abri a porta, dando de cara com os olhos verdes de Harry.
  - Onde está a sua chave? – Sim, ele tinha a chave da minha casa. Até porque parecia passar mais tempo lá do que na própria residência.
  - Eu esqueci, mãe. – Ele bagunçou os cabelos encaracolados e sorriu daquele jeito inocente.
  - Entra, curly boy. – Dei espaço pra ele passar e assim que Harry entrou em casa eu pulei nas costas dele, envolvendo o seu pescoço com os braços. – Weeeeeeeee.
  - Oh, não! Eu fui atacado. Ahhhhh. – Ele segurou as minhas pernas, dando-me mais apoio, e gargalhou junto comigo.
  - Aiô, Silver! – Dei tapinhas em suas costas e Harry começou a correr pela casa. Era sempre assim quando nós dois ficávamos sozinhos; parecíamos crianças. – Ao infinito e além!
  - O Buzz é que fala isso, %Tah%. E se você está montado um cavalo, deveria ser o Woody, ou a Jessie. – Explicou como se fosse o maior conhecedor de filmes infantis.
  - Cala a boca e corre, Bala no Alvo! – Baguncei os cabelos dele e ri.
  Haz obedeceu e saiu correndo até a sala de jantar, onde deu a volta na mesa de madeira, imitando barulhos de relincho. Eu estava rindo tanto que quase caí das suas costas, mas consegui me segurar a tempo. Meu celular começou a tocar no andar de cima e eu apontei para Harry, que começou a correr até lá. A escada era perigosa, mas ele não diminuiu a velocidade, então eu tive que me segurar com ainda mais força nos ombros largos do meu amigo. Assim que chegamos ao meu quarto, Harry se jogou na minha cama, me fazendo cair ao seu lado. Ele estava ofegante e com as bochechas rosadas e eu só conseguia rir ainda mais. Além de tudo, o danado ainda pegou o meu iPhone e atendeu a ligação.
  - A %Star% está ocupada no momento, mas posso anotar o recado? – Fez uma voz séria e eu tentei roubar o celular da sua mão.
  - Harry Styles, me dá isso agora! – Gritei, mas ele se levantou e ficou de pé na minha cama. Eu fiz o mesmo, mas ele continuava mais alto que eu. Aliás, quem consegue ser maior que ele? Ninguém.
  - Oh, oi, %Abi%! É o Harry sim. – Ótimo, agora ela ia ficar pensando besteira.
  - Me dá o meu celular. – Pedi bicuda, cruzando os braços.
  - Shh, fica quieta. – Ele falou pra mim, voltando a sua atenção para o telefone em seguida. – Claro que vamos.
  Desisti de brigar pelo telefone, já que seria uma causa perdida. Apenas voltei a me sentar na cama e cruzei as pernas. Harry pulou para o chão e foi até as minhas coisas, procurando algo. O pior era que enquanto ele procurava, ia derrubando as coisas pelo caminho. Fiquei puta com aquela bagunça, mas também não adiantaria reclamar. Ele pareceu achar o que queria e anotou algo em um pedaço de papel.
  - Ok, entendi sim. – Falava a %Abi%. – As 20hrs? Certo... Não precisa, eu tenho carro... Ela é uma aproveitadora mesmo, bem vinda ao meu mundo.
  - Wtf? – Olhava para Harry, indignada. Além de não saber quais eram os planos que eles estavam fazendo, eu ainda era chamada de aproveitadora? Ele só me encarava e fazia caretas.
  - Até logo, %Abi%. Pode deixar que eu falo sim. – Harry finalmente desligou e me entregou o aparelho.
  - E então?
  - E então o quê? – Ele se jogou na minha cama, deitando todo espaçoso.
  - Harold.
  - Não gosto quando me chama de Harold. – Fez um biquinho, mas eu continuei encarando-o séria. – Vamos sair com seus amigos hoje.
  - Eu, você, Lou, Liam e %Abi%? – Torci.
  - Nop. Você, eu, %Abi% e o namorado dela e aquele do topete. E ela mandou você não se vestir como criança. – Harry falou e gargalhou, ganhando uma almofadada na cara.

Capítulo XI
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