Ballet Shoes


Escrita porElla Souza
Editada por Isabelle Castro


Capítulo VIII

Tempo estimado de leitura: 14 minutos

~ Sexta feira ~

  - %Abi%, eu já falei que não vou usar esse vestido! – Repeti pela milésima vez, empurrando-a para fora do meu provador. Era a quarta loja que nós entrávamos e eu não conseguia achar nada que me agradasse.
  - Mas, %Tah%, ele é lindo! – %Abigail% bufou, voltando para o meu provador mesmo depois de ter sido expulsa. Eu a encarei sem acreditar na sua persistência. Ela segurava o vestido vermelho sangue, tomara que caia, mais curto que eu já vi. Ele era lindo, de fato, mas era justo demais. Meus seios só faltavam pular pra fora e se eu sentasse usando aquele vestido, meu útero ficaria de fora. – E coube perfeitamente.
  - Se com “perfeitamente” você quis dizer que eu fiquei esmagada dentro dele, então sim, ele coube perfeitamente. – Rolei os olhos, mandando-a para o provador dela e me trancando no meu. Sempre preferi provadores com portas ao invés daquelas cortininhas e agora ainda mais. – E se gostou tanto dele, porque não o usa?
  - O vermelho desse vestido não combina com o meu cabelo. – A escutei falar, rindo da sua desculpa.
  - %Abi%... – Chamei-a, me olhando no espelho do provador. – Acho que encontrei o vestido perfeito.
  - Sério? Quero ver! – E bateu afobada na porta. – Abre, %Star%!
  - Não mesmo. – Ri do seu desespero e abri o zíper do meu vestido, tirando-o com cuidado. – Amanhã você vê.
  - %Star% Tomlinson, abra essa porta agora mesmo. – Se ela continuasse batendo na porta do provador daquele jeito, nós duas seriamos expulsas da loja.
  - Pronto, já abri! – Destranquei o provador depois de ter escondido o vestido entre outras peças e colocado a minha própria roupa.
  - Injusto isso. Muito injusto. Você também não vai ver o meu vestido. – %Abi% tentou me convencer e eu comecei a andar em direção ao caixa.
  - Até parece que eu não sei que você escolheu o azul. – A deixei boquiaberta; provavelmente se perguntando como eu sabia que ela tinha escolhido aquele vestido. O caso era que eu a ouvira conversar com a nossa atendente e acho que todos podem concordar que ela não é a pessoa mais discreta do mundo. Aproveitei que %Abi% ainda tinha que juntar as suas coisas e me dirigi até o caixa.
  Retirei o meu cartão de crédito da carteira e o entreguei para a senhora no caixa. Seria a primeira vez que eu usaria o presente que ganhara de meu pai e madrasta e sentia como se estivesse tirando a sua virgindade. %Abi% se juntou a mim depois que o meu vestido já estava embalado e a salvo dos seus olhares curiosos. Nós duas estávamos prontas para sair quando uma figura alta e desagradável entrou na loja.
  - Eu acho que encontrarei o modelito perfeito aqui, amorzinho. – Brigitte passou pelas portas automáticas de vidro, seguida por um Zayn cansado e cheio de sacolas nos braços.
  - Você falou isso nas duas últimas lojas. – Ele reclamou. Eu e %Abi% nos entreolhamos sem saber se deveríamos falar com eles ou simplesmente deixar a boutique antes de sermos notadas.
  - Ora, ora, ora. – Tarde demais. A oxigenada olhou em nossa direção, entortando o nariz perfeitamente modificado por plásticas. – Parece que eu não encontrarei nada nessa loja. Não sabia que o nível estava tão baixo.
  - Hey, meninas. – Zayn nos cumprimentou, ignorando a indireta da namorada.
  - Hey. – Ele podia ignorá-la, mas eu não conseguiria. – Engraçado... Eu achava que o pet shop ficava do outro lado da rua.
  Falei para %Abi%, que riu. Tenho certeza que vi Zayn segurando o riso também, mas não fiquei pra ver se ele diria alguma coisa. Puxei a minha amiga pela mão e saímos da loja.
  %Abi% e eu já havíamos andado a Oxford Street inteira antes de achar a loja perfeita e estávamos cansadas. Após sairmos da boutique onde achamos as nossas roupas para a festa, decidimos dar uma parada na Starbucks mais próxima. Foi fácil encontrar a cafeteria, já que havia praticamente uma em cada esquina. Passamos pelas portas giratórias, escutando o sininho tocar e avisar a entrada de novos clientes. Fomos direto para a fila, ficando atrás de apenas duas pessoas, já que o lugar não estava tão cheio. Assim que a nossa vez chegou, eu pedi um frappuccino de caramelo e %Abi% escolheu o de morango. Enquanto fazíamos o nosso caminho para uma mesa mais afastada pra esperar nossos pedidos ficarem prontos, escutei o celular tocar dentro da minha bolsa.
  - Aposto que é Liam ligando. – %Abi% sorriu marota. Mal sabia ela que se ele fosse ligar pra alguém, não seria pra mim.
  - Shiu, %Abi%. – Estirei a língua pra ela e procurei meu celular na bolsa. Assim que o achei, notei que era um número desconhecido ligando. De novo. – Alou?
  - Hey, %Tah%! – Uma voz de homem falou do outro lado da linha. É claro que reconheceria aquela voz em qualquer lugar, mas me fiz de desentendida.
  - Quem é que está falando? – Perguntei me segurando pra não rir. %Abigail% me olhava como se perguntasse: “Quem é?”
  - Eu não acredito que você ainda não salvou o meu número, %Star%. – Zayn parecia magoado. Se eu não o conhecesse, acreditaria.
  - Ah, oi, Malik. – Fui simples, mas um sorriso escapou nos meus lábios. Agradeci por ele não poder vê-lo. – Cuidado pra sua namorada não escutar você falando comigo, ou vai ter problemas.
  - Ela está com uma pilha de roupas pra provar, então eu estou seguro por agora. – A voz dele era sem animação alguma. Imaginei Zayn sentado com cara de tédio em uma poltrona, enquanto Brigitte provava milhares de peças de roupas e odiava todas. – Você ta rindo do quê?
  - Da cara que você deve estar fazendo agora. – Gargalhei e escutei ele rir também.
  - Meu tédio está tão óbvio assim? – Algo me dizia que ele estava sorrindo. Olhei %Abi% levantar e ir buscar nossos pedidos.
  - Mais do que você imagina. – Encostei na cadeira estofada, ficando mais confortável.
  - Eu devia ter trazido algum livro pra ficar lendo... – Acho que ele comentou aquilo mais pra ele mesmo do que pra mim. – Anyway, eu estou ligando pra pedir desculpas. O jeito que a Brie se comportou quando viu você a %Abi% não foi legal.
  - Zayn... Eu a chamei de cachorro. – “Brie”? Rolei os olhos. – Então não se preocupa.
  - Sim, mas ela mereceu! – Escutei-o gargalhar. – Foi difícil não rir também.
  - É, eu percebi. – Quando %Abi% chegou, eu estava rindo. Ela falou um tipo de ‘uhhh’ e sorriu daquele jeitinho que só ela fazia. – Obrigada, %Abi%.
  - Onde vocês estão?
  - Starbucks! – Respondi com a boca cheia de frappuccino.
  - Coma um muffin por mim, ok? Tenho que ir agora... – Não queria ter que desligar, porque apesar de toda implicância e mesmo sem admitir, eu gostava de conversar com ele.
  - Tudo bem, Z. Boa sorte aí...
  - Se cuide, francesinha. – E com isso ele desligou.
  Guardei o iPhone na minha bolsa e esperei %Abi% falar alguma coisa. Ela deveria estar se segurando pra fazer algum comentário, só pela forma que me olhava. Esperando o veredicto de minha amiga, eu me ocupei em beber meu café.
  - Liam que se cuide. – Disparou, quase me fazendo engasgar. – A concorrência está demais.
  - Você é que está demais, %Abi%. Sempre vendo coisa onde não tem. Estou começando a ficar preocupada.
  - Um dia você vai ver que tenho razão! – Ela arrumou o óculos de grau e balançou os cabelos ruivos. – Eu sempre tenho razão.
  - Por falar nisso... Tenho que te contar uma coisa. – Achava que aquele era o momento certo pra falar sobre o que descobrira. – O Liam não está afim de mim.
  - É claro que está! – Ela balançou a cabeça, cansada da minha negação.
  - Eu falei com o Harry e ele confirmou o que eu já desconfiava. Não é de mim que o Liam gosta, e sim de você. – Expliquei com calma e ela começou a rir. Sim, rir. – É sério, %Abigail%!
  - Não me chama de %Abigail%, %Star%. – Reclamou, mas pelo menos parou de rir. – Mas me conte a sua teoria, vai.
  - Lembra quando os meninos estavam jogando futebol e você disse que ele não parava de olhar pra mim? – Ela assentiu, entediada. – Não era pra mim que ele estava olhando, e sim pra você. E você estava sem óculos, por isso confundiu a direção dos olhares!
  - Aham, aham. E o que o Harry falou?
  - Que ele gosta de você. – Levantei os braços como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
  - Espera... O Harry falou: “O Liam gosta da Abi”? – Levantou uma sobrancelha.
  - Não exatamente com essas palavras...
  - Como ele falou, %Star%? – Colocou uma mão na testa, me encarando ainda com tédio.
  - Ele me deixou fazer três perguntas e respondeu com sim ou não. – Tentava me justificar. – Então ele disse que o Liam está sim afim de uma garota, ela não sabe disso e eu a conheço. Mas, %Abi%... Você é a única garota que eu conheço.
  - Pensa aqui comigo, coisa linda. – Ela segurou as minhas mãos por cima da mesa. – Que eu saiba, você é uma garota. Eu já te vi de biquíni, então essa parte confere. – Começou a contar com os dedos. – Segundo: Você não sabe que ele está afim de você. Tecnicamente, porque eu já te falei isso mil vezes. Mas confere. E terceiro e mais importante: Você pode até me conhecer. Mas você SE conhece. Então confere.
  - Eu desisto. Não vou mais falar sobre isso com você. – Levantei da cadeira, pegando as minhas sacolas de compra com uma mão e o frappuccino pela metade com a outra. – Vamos, eu quero ir pra casa.
  - É verdade, o Liam deve estar preocupado. – Ela me irritou e levantou também.
  Não me dei ao trabalho de respondê-la. Estava emburrada. Caminhei em passos largos para a saída, ficando presa entre as portas giratórias por causa de um senhor – MUITO LENTO – Que resolveu passar na mesma hora que eu. %Abi% só fazia rir e eu queria bater nela. Pense em uma pessoa irritante. Pensou? Agora multiplique por 300. Conseguiu? Então. Essa é %Abi%. Ela gritou algo como: “Fica calma, %Tah%!” E eu só não mandei ela calar a boca porque era uma pessoa educada e não queria assustar o senhor que ainda não parecia entender como aquelas portas funcionavam. Vai que ele morre ali? Aí é que eu não poderia sair mesmo. Passamos cinco minutos inteiros tentando decidir para qual lado girar. Quando finalmente consegui sair de lá, esperei %Abi% se juntar a mim. Ela saiu com tanta graciosidade que eu tive vontade de me jogar de alguma escada. Sim, eu estava sendo dramática e sabia disso, mas ela merecia o meu ódio.
  - Não fica assim, %Tah%. – Ela veio até mim e pulou no meu pescoço. – Você sabe que eu te amo.
  - Sai. – Tentei me soltar, mas a baixinha era mais forte do que parecia. – Solta, solta.
  - Não solto! – %Abi% riu, me agarrando ainda mais. As pessoas que estavam passando começavam a nos olhar. – Só se você falar que me ama.
  - Eu te amo, sua chata. – Não conseguia ficar brava com ela, por mais que tentasse.
  Encerramos aquela cena adorável e partimos para o New Beetle amarelo de %Abi%. Sei o que você deve estar pensando: “Onde está o seu carro?” Eu também me perguntava a mesma coisa, já que ele deveria estar comigo há três dias. Meu conversível estava sendo transportado da França para Londres e a sua entrega estava atrasada. Enquanto meu transporte não chegava, eu era obrigada a me virar com taxi e ônibus, mas tinha amigos tão maravilhosos que sempre conseguia uma carona.

+++

  %Abigail% me deixou na porta de casa, mas não quis entrar. Ela alegou que queria chegar logo em casa porque sua mãe a estava esperando, mas eu sabia que ela estava com saudades do namorado. Entrei em casa e não encontrei ninguém pela sala ou cozinha, o que era bem estranho, já que era noite e os meninos deveriam estar de volta do trabalho. Subi as escadas e encontrei todas as portas fechadas. Fui até o meu quarto e larguei minhas coisas em cima da cama, logo voltando para o corredor. Eu tinha duas portas para testar.
  Comecei batendo delicadamente na porta da direita; o quarto de Liam. Não recebi resposta. Tive medo de abrir e acabar acordando-o. Passei para a porta da esquerda, batendo no quarto do meu irmão.
  - Quem vem lá? – Escutei Louis perguntar. Só ele conseguia ser idiota assim.
  - Ora, sou eu... A duquesa Tomlinson. – Entrei na brincadeira, esperando-o abrir a porta.
  - Por favor, duquesa, entre... – E abriu a porta, me esperando passar.
  - Hey, Lou. – Deixei um beijo em sua bochecha antes de entrar. – Onde está todo mundo?
  - Eu sei que parece que o Harry mora aqui, %Tah%, mas ele teria que ir pra casa algum dia. – Ele se sentou cadeira próxima a mesa onde o computador dele estava e eu me deitei em sua cama.
  - E o Liam? – Tentei fazer uma cara de: “Não que eu me importe” que não teria enganado %Abi%.
  - Ele saiu com a Candice.
  - Quem? – Minha voz pode ter saído um pouco mais aguda do que eu pretendia.
  - Candice. – Ele respondeu como se aquilo fosse diminuir as minhas dúvidas. – É uma modelo que ele fotografou hoje. Os dois se deram muito bem, então Liam a chamou para sair.
  - Huh. – Eu não sabia o que falar. Aquilo me pegou de surpresa. Não que eu estivesse com ciúmes... Pelo menos não nesse sentido. Quero dizer, ele poderia sair com %Abi% e eu não me importaria. Mas Candice? Eu nem a conhecia! Vai que era uma vadia dessas que sai com todos os fotógrafos que conhece? Liam não era qualquer um. – Sei.
  - Qual o problema, %Tah%? – Lou estreitou os olhos, lendo a minha expressão.
  - Problema? Problema nenhum. Está tudo perfeito! – Dei o meu melhor sorriso falso e me sentei. – Vocês vão pra festa comigo amanhã, né?
  - Uh oh.
  - Uh oh? Uh oh o quê, Louis? – E quando eu digo que há algo errado...
  - É amanhã a festa do Zayn? – Ele coçou a nuca. – É que a Candice nos chamou pra uma festa amanhã também. E nós meio que já falamos que vamos...
  - Huh. Huh, huh, huh. – Essa menina de novo? Tá de brincadeira com a minha cara. – Tudo bem. Boa festa pra vocês. Harry vai também?
  - Provavelmente... – Lou sabia que eu estava chateada. Ele havia prometido pra mim que iria na “minha” festa. E de repente muda de ideia?
  - Ótimo. Boa noite, Louis. – Saí do seu quarto e fiz questão de bater a porta.
  Ele sabia que não devia vir atrás de mim. Quando eu fico com raiva de alguma coisa, a melhor saída é me deixar quieta até o sangue baixar. Sempre fui muito possessiva e ciumenta, principalmente com os meus melhores amigos. E de repente aparece essa menina e começa a roubar todos de mim? Ok, pode ser drama meu, mas quem liga? A história é minha mesmo. Não me dei ao trabalho de descer pra jantar; estava sem fome. Tranquei a porta do quarto para não ser perturbada e me joguei na cama. Fiquei escutando música no meu iPod até pegar no sono.

Capítulo VIII
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