Ballet Shoes


Escrita porElla Souza
Editada por Isabelle Castro


Capítulo VII

Tempo estimado de leitura: 10 minutos

  Eu dormia tranquilamente abraçada ao meu travesseiro quando senti alguém se mexer na cama. Sabia que não era Harry, pois os movimentos pareciam leves demais, delicados demais. As cortinas do quarto ainda estavam fechadas, então eu não era cega pela claridade. Devagar fui despertando, tentando abrir os olhos para ver o que acontecia no meu quarto.
  - Olha quem acordou... – Ouvi a voz de Harry, mas não era ele que estava sentado ao meu lado na cama.
  - ‘Codooooou. – Uma voz de criança me fez terminar de despertar e sorrir. – %Tah%!
  - Luxy! – Eu reconheceria aqueles cabelos loiros e as bochechas rosadas em qualquer lugar. – Baby, o que você está fazendo aqui?
  - A mamãe deixou ela aqui, não foi, Lux? – Harry estava sentado na ponta da cama, nos olhando. O jeito que ele falava com a minha irmãzinha era tão fofo que às vezes eu gostava de ficar só observando os dois brincarem.
  - Vai passar o dia com a gente? – Eu sorri, levantando até ficar de joelhos na cama. Lux se assustou, mas logo gargalhou e bateu palmas. Ela não era de falar muitas palavras, mas ainda assim conseguíamos nos comunicar. Quando queria alguma coisa, ela apontava e fazia barulhinhos com a boca; os quais eu entendia perfeitamente. Ela não conseguia pronunciar o meu nome, mas me chamava de “Tah”. Harry era só “Haz” e Louis era “Lou”.
  - Vai sim! Agora vá trocar de roupa e nos encontre lá embaixo pra comer alguma coisa e irmos ao... – Ele olhou para Lux, esperando que ela terminasse sua frase.
  - Paque! – Entendi que iríamos ao parque pelo tamanho do seu sorriso.
  - Yay! – Também comemorei, ajudando-a a levantar na cama e correr para os braços de Harry.
  Ele a segurou pela cintura e a levantou, fazendo-a voar. Lux gritava de alegria, balançando os pés gordinhos e tentando mexer nos cachos do maior com as mãozinhas. Os dois saíram rindo do quarto e eu suspirei encantada. Gostaria de ter uma filha tão fofa quando Lux um dia, principalmente se o pai fosse como Harry. Levantei e me espreguicei, rumando mais uma vez para dentro do closet. Troquei os pijamas por roupas menos confortáveis e prendi os cabelos em um rabo de cavalo alto. Antes de me retirar do quarto, corri até o banheiro e fiz a minha higiene.
  Ao entrar na sala de jantar comecei a rir. Lux estava sentada sobre a mesa, com um cookie de chocolate em cada mão e a boca completamente suja. Harry não ficava muito atrás, já que tinha a boca cheia de biscoito. Fui até eles e me sentei, pegando também um cookie do jarro de biscoitos.
  - Está gostoso, dona sujinha? – Perguntei após engolir o primeiro pedaço do meu cookie. Ela me olhou sapeca e riu. Quando aquela menina parava de rir?
  - Ela quase acabou com o pote inteiro! – Harry disse, mas eu estreitei os olhos. Duvidava muito que ela tivesse comido tanto assim, ainda mais porque a camisa dele estava coberta de farelos, o que o denunciava.
  - Com certeza, Harry. – Fingi acreditar nele. Lux levou um dos biscoitos que segurava até a minha boca, indicando para eu mordê-lo. Assim que o fiz, ela levou o mesmo biscoito até Harry, que me imitou.
  - Ew, baba de %Star%. – Harry me olhou e sorriu maroto. Eu o respondi com uma careta e usei um guardanapo para limpar as bochechas da pequena.
  - Vamos? – Ela esticou os bracinhos pra mim e eu a carreguei, juntando seu corpinho ao meu.
  Harry se levantou e foi abrir a porta pra nós duas passarmos. A bebê encostou a bochecha no meu ombro e descansou ali. O cheiro de morango que vinha de seus cabelos ficaria marcado na minha blusa e eu adorava aquilo. Costumava ficar me cheirando toda depois que ela tinha que ir embora. Caminhei devagar com Harry ao meu lado e no meio do caminho ela quis ir para o chão. Terminamos o percurso todos de mãos dadas, com a menor entre nós dois.
  O parquinho do condomínio era lindo, assim como tudo nele. Tinha uma parte de grama e uma parte de areia. Todos os brinquedos eram de uma madeira bem cuidada. Casinha, balanço, escorregador, gangorra... Havia de tudo ali. Era a primeira vez que Lux ia naquele parquinho, então imagine a sua animação. Ela tentou se soltar da minha mão e correr para a areia, mas eu não permiti. Ela me olhou com um biquinho, como se perguntasse por que eu a havia impedido.
  - Me deixe tirar seu sapato primeiro, baby girl. Não quero que fique sujo... – Abaixei-me até ficar da sua altura e tirei o minúsculo Converce que ela usava. Harry me ajudou, segurando na sua pequena mãozinha. – Pode ir agora!
  Assim que foi liberada, a pequenina partiu em direção ao parque. Lux correu direto para a casinha de bonecas, deixando Harry e eu sentados em um banquinho que tinha ali por perto. Mal sentei e escutei meu celular apitar, informando o recebimento de uma nova mensagem. Ele me olhou com curiosidade quando eu tirei o aparelho do bolso. Fitei a telinha e notei que era um número desconhecido.

“Tem planos pra sábado? x”

  Dizia simplesmente, sem nenhum nome, ou maior informação. Harry me olhou confuso, pois lera a mensagem por cima do meu ombro.

“Depende de quem você for.”

  Respondi com simplicidade, esperando a resposta.

“Espera... %Abi% não te passou o meu número? –Zayn”

  É claro que aquela mensagem era dele. Bufei divertida. Harry resmungou algo ao meu lado, rolando os olhos e levantando pra ir atrás de Lux, me deixando sozinha.

“Ela não passou porque eu não pedi.”

  Fui seca, mas ele saberia que eu estava brincando.

“Outch, essa doeu, francesinha. Mas você não me respondeu... Tem planos pra sábado?”

  “Depende do que você tem em mente.”, pensei em responder, mas soaria atirada demais. Principalmente quando o cara em questão já era comprometido.

“Não que eu saiba...”

“Então agora você já sabe. Minha casa, às 21hrs. É uma pequena festa de encerramento das férias.”

  Mesmo se eu não quisesse ir, tenho certeza que %Abi% me arrastaria. A idéia de ir à minha primeira festa britânica me animava. Mas essa animação ia embora assim que lembrava que a oxigenada estaria lá, agarrando o namorado. Não que eu me importasse; é claro que não.

“Abi e Niall vão, certo?”

“É claro! Ela vai te chamar... Mas eu preferi te convidar primeiro.”

“E teve medo de me convidar por telefone?”

“Que eu saiba, estou usando o telefone pra mandar essas mensagens.”

“Você entendeu, Malik.”

“Já falei que adoro quando você me chama pelo sobrenome?”

“Vou parar de te chamar assim, então.”

“Só se for pra me chamar de: “baby”.”

“Te vejo no sábado, Malik.”

  Encerrei nossa conversa e guardei meu celular no bolso mais uma vez. Estava sorrindo e não sabia exatamente há quanto tempo. Ainda era quarta feira, mas eu desejava que sábado chegasse logo. Avistei Harry tirando Lux do balanço e vindo em minha direção.
  - Trinta libras pelo seu sorriso? – Ele também sorriu, sentando de novo ao meu lado.
  - Temos uma festa pra ir, Haz. – Comemorei, abraçando-o de lado.

+++

  Já estávamos em casa quando a chuva da tarde começou a cair. Lux estava limpinha e desmaiada no colo de Harry. A manhã no parque havia cansado-a completamente e depois que ela almoçou e tomou banho, dormiu na mesma hora. Esperávamos Rachel chegar para buscar a filha, por mais que eu quisesse que ela ficasse até o dia seguinte. Eu estava sentada no sofá, com a cabeça encostada no ombro de Harry, enquanto acariciava os cabelos da minha irmãzinha em seu colo.
  A campainha tocando me fez levantar e caminhar até a porta. Eu nunca perguntava quem estava batendo, por ser um condomínio fechado e os seguranças da portaria não deixarem qualquer um entrar. Então não tinha perigo de ser um assassino em série. Destranquei a porta, abrindo-a em seguida.
  - Rachel! – Abracei-a assim que a vi. – Que saudade.
  - %Tah%, você está linda. – É claro que ela retribuiu o abraço. Mas como assim, eu estava linda? Ela era uma modelo de 1,80, com os cabelos loiros mais sedosos que eu já vi e um rosto angelical. – Seu pai está estacionando o carro e... Oh, olhe ele ali.
  - Me-meu pai? – Gaguejei espantada. Não fazia ideia de que o veria naquele dia. Olhei para a direção em que ela apontou e vi meu pai caminhando na chuva pela calçada. Não aguentei esperar e corri até ele, sem me importar em ficar molhada. – Daddy!
  - %Star%! – Ele me segurou quando pulei para abraçá-lo. Ficamos parados na chuva, apenas nos abraçando. Não o via há meses e a saudade estava enorme. – Desculpa não ter vindo antes, pequena.
  - Não se preocupe com isso, daddy. Eu entendo. – Não queria partir o abraço, mas já começava a ficar com frio.
  - Vamos entrar, sim? Não admito a filha de um médico ficar doente. – Ele me segurou pela mão e nós entramos em casa.
  Papai pendurou sua capa de chuva no cabide que havia no hall de entrada e suas roupas estavam incrivelmente secas. Diferentemente das minhas, que estavam encharcadas. Mas eu não perderia tempo trocando de roupa; não mesmo. Apenas me cobri com um roupão que me protegeria do frio por um tempo. Voltei para a sala e encontrei Lux acordada, no colo de Rachel, enquanto Harry testava caras e bocas para fazê-la rir. Papai me olhava com alegria, esperando que eu me juntasse a ele no sofá. Não pensei duas vezes e andei até lá.
  - Me conte, %Tah%, como está tudo por aqui? Londres está sendo o que você esperava? Soube que já foi conhecer a academia... – Ele começou o interrogatório.
  - Tudo está maravilhoso, pai... – Contei pra ele tudo que havia acontecido desde a minha chegada até aquele dia. Contei de %Abigail%, Liam, e até mesmo Niall. Mas é claro que deixei Zayn e Brigitte de fora. Mencionei o espetáculo que a LRA organizaria e o quanto eu estava curiosa pra saber qual seria o tema. Contei da festa que iria no sábado e reclamei por não ter uma roupa pra usar.
  - Então eu acho que tenho a solução pra esse problema. – Ele e Rachel trocaram olhares significativos e ela me entregou um envelope branco que retirou da bolsa. – Isso é pra emergências.
  - Emergências como: Roupas novas, sapatos de marca, viagens pelo interior do país, presentes para os amigos, um carro novo... – Rachel comentou com um sorriso sapeca.
  - O que é isso? – Ri com a minha madrasta e abri o envelope, encontrando um pequeno cartão prateado lá dentro. – UM CARTÃO DE CRÉDITO?
  - Eu disse que ela iria gostar. – Minha fada madrinha falou.
  - Você estava certa, Rach. Como sempre. – Meu pai se inclinou em direção à esposa e lhe deu um selinho.
  - Ewwww. – Lux disse, tapando os olhinhos e causando risadas em todos.
  - Obrigada, papai! – Eu o abracei, partindo para Rach em seguida. – Obrigada, Rachel!
  Meu irmão chegou enquanto a nossa madrasta cozinhava algo para o jantar, mas Liam não estava com ele. Parece que tinha ficado preso no trabalho e só voltaria mais tarde. Harry, meu pai e Louis conversavam na mesa de jantar enquanto eu brincava com a mais nova. É incrível como crianças tem o poder de recarregar as energias com uma simples soneca.

Capítulo VII
0 0 votos
Classificação do artigo
Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários
Todos os comentários (6)
×

Comentários

×

ATENÇÃO!

História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

O Espaço Criativo não se responsabiliza pelo conteúdo das histórias hospedadas na sessão restrita ou apontadas pelo(a) autor(a) como não próprias para pessoas sensíveis.

Você não pode copiar o conteúdo desta página

0
Adoraria saber sua opinião, comente.x