Capítulo V
Tempo estimado de leitura: 21 minutos
Minha estadia em Londres não podia estar sendo melhor. O condomínio em que eu estava morando tinha de tudo; piscina, academia, salão de jogos e etc. Nos dias em que os meninos tinham trabalho, eu geralmente ficava aproveitando as opções que o condomínio de luxo me oferecia ou pegava um taxi para passear pela cidade. Eu não me importava em ficar sozinha. Era bom ter um tempo só meu, onde eu pudesse organizar os meus pensamentos.
Faltava apenas uma semana para o começo das minhas aulas e eu não podia estar mais animada. Teria aulas com os melhores professores e nas salas por onde passaram bailarinos famosos. É claro que o nível de todos era muito acima do que eu já estava acostumada, assim como o nível de exigência. Eu estava nervosa com isso, mas seria uma forma de me superar ainda mais. Eu era muito competitiva desde pequena e esse tipo de desafio me excitava. Gostava de ser a melhor. Não passaria por cima de ninguém pra chegar ao topo, mas eu chegaria lá.
De acordo com a minha carta de admissão, eu deveria estar na academia as 14hrs para a palestra de boas vindas, pegar o meu horário de aulas e conhecer melhor o lugar. Como os ingleses eram conhecidos pela pontualidade, eu não podia me atrasar. Louis me levaria quando estivesse a caminho da agência e eu poderia voltar de ônibus. Dei uma última conferida na minha roupa e na papelada que eu teria que apresentar na secretaria. Estava pronta, então desci as escadas após passar no quarto de Liam para chamá-lo para ir. Logo estávamos no carro de Lou; eu no banco de trás e os dois na frente.
- E lembre-se, %Tah%, mesmo que você fique nervosa, continue falando em inglês. – Louis me olhou pelo retrovisor, deixando-me confusa.
- Como assim? – Arregalei os olhos.
- É verdade, %Tah%. Quando algo a deixa nervosa você começa a falar francês. – Liam explicou, me fazendo corar.
- Oh, Gosh. E eu nem tinha percebido isso. – Escondi o rosto nas mãos, imaginando quantas vezes troquei os idiomas. – Mas me deem um desconto. Meu idioma original é o francês e estou aqui há pouco tempo. É completamente normal.
- É assim comigo também, %Tah%, mas eu não troco. – Meu irmão riu da minha cara, sendo acompanhado pelo seu amigo bobo. E lindo. Mas ainda sim era bobo.
- Mas, mas, mas... Você nasceu nesse país. – Retruquei como se fizesse algum sentido. Louis era inglês de sangue, mas havia sido criado na França, então sua primeira língua também era o francês.
- Eu acho fofo pra caralho quando você troca os idiomas. – Liam falou de uma vez, me deixando sem reação. Louis olhou pra ele como se o repreendesse, mas o garoto deu de ombros.
- Obrigada. – Não sabia se era o certo a se falar, mas era o que eu tinha.
Seguimos o resto do caminho escutando o rádio enquanto eu olhava a paisagem do lado de fora. O Ranger parou em frente à Academy e eu fiquei encantada com a estrutura. Já tinha visto por fotos, mas aquilo era muito melhor. Literalmente parecia uma mansão vitoriana
- Você vai estudar aqui? – Liam parecia impressionado assim como eu.
- Ela não vai “estudar”. – Louis fez aspas com as mãos. – Só vai dançar.
- “Só vai dançar”? – O imitei fazendo as aspas no ar. Estava indignada com o seu desprezo e já me preparava pra dar uma boa resposta, mas ele sorriu e eu entendi que era só uma brincadeira. – Idiota.
- Boa sorte, %Tah%. – Meu irmão desejou ao me ver abrir a porta e sair do carro. Liam só sorriu pra mim e acenou.
- Bom trabalho, meninos. Até mais tarde. – Assoprei um beijo para cada um e segui o meu caminho.
Segui o fluxo de alunos que entrava pelos portões e passava por um corredor enorme. Eu só conseguia prestar atenção na decoração e nos quadros fotográficos que enfeitavam as paredes. Não sabia se estava no caminho certo até escutar alguém gritar: “ATENÇÃO. O auditório é por aqui.” Continuei distraída, sonhando com a minha foto entre aquelas penduradas e nem vi quando esbarrei em uma garota.
- Que merda é essa? – Ela se virou pra mim, furiosa.
- Pardon. Je n'ai pas vu... – Me encolhi com medo daquela menina, querendo me esconder por ter trocado o idioma como os meninos falaram que eu fazia.
- O que é? Não fala inglês, ou é retardada? – Continuou me ofendendo. Quem ela pensava que era?
- Eu pedi desculpas por ter esbarrado em você. – Continuei mantendo a calma. Não queria entrar em uma discussão no meu primeiro dia.
- Da próxima vez olhe por onde anda. – E a nojenta jogou os cabelos loiros na minha cara e saiu rebolando, empurrando quem estivesse em seu caminho. Isso porque dizem que os franceses são antipáticos e os britânicos são educados com todo mundo, né?
Eu só fiquei observando-a sumir, torcendo pra que ela fosse de qualquer curso menos do meu. Por sorte, as pessoas que tinham parado pra assistir o escândalo já haviam se dispersado e eu pude continuar o meu caminho. Dessa vez não olhei mais para a decoração, porque temia causar mais acidentes. Chegar ao auditório foi fácil. O lugar era bem iluminado e enorme. Na verdade, tudo ali parecia gigante. Várias cadeiras já estavam ocupadas e alunos se amontoavam pra pegar as cadeiras da frente. Me contentei em encontrar um bom lugar ao meio e perto do corredor. Seria fácil pra sair, eu não estaria tão na frente a ponto de ser notada e nem atrás demais pra de não ouvir o que os diretores iriam falar.
A bagunça pareceu diminuir e os alunos se sentaram para esperar o começo da palestra de boas vindas. No palco do auditório havia uma espécie de palanque e três cadeiras de um lado e duas do outro. Todas ocupadas. Um homem de meia idade vestido formalmente com paletó e gravata se levantou e foi até o microfone. Deu uma batidinha para testar se estava funcionando e começou a falar:
- Bem vindos a mais um semestre na London Royal Academy! – Ele abriu os braços e a maioria dos alunos bateu palmas e gritou em comemoração. – Para aqueles que estão chegando agora... Espero que encontrem aqui o que estavam procurando. Que esta seja a sua segunda casa. Que nossos professores tenham as ferramentas que levarão vocês ao sucesso! – O senhor, que descobri ser o diretor geral, parecia simpático. Apesar da sua aparência séria, ele falava muito animado e eu tinha certeza que ele desejava tudo aquilo que falava. – E para aqueles que já são da casa... Vamos continuar o bom trabalho e seguir em frente! E agora, eu gostaria de chamar ao microfone, minha querida companheira de trabalho: Agnes Wingermeier.
A mulher esquelética de cabelos negros e oleosos se levantou. Ela era tão fina que eu tive a impressão que iria partir no meio antes de chegar ao microfone.
- Boa tarde, estudantes. – Ela começou a falar, seca. Não me surpreendeu ela não receber uma resposta da plateia. – Darei algumas explicações gerais, só para que fique claro a todos os alunos e em seguida direi as regras. Cada um irá receber uma caderneta com todos os avisos e regras e sugiro que os mantenham sempre com você. – E então a senhora Wing... Alguma coisa, começou a explicação.
Os três cursos oferecidos pela London Royal Academy (dança, música e teatro) tinham duração de dois anos divididos em quatro semestres. Pelo que eu entendi, entre um semestre e outro existiam provas pra testar se o aluno estava preparado pra passar ao próximo nível. E essas provas deveriam ser como o teste que fizemos para sermos aceitos na academia, só que bem mais difíceis. Além disso, a LRA organizava espetáculos a cada seis meses juntando as três artes em uma espécie de musical que era apresentado para as pessoas mais importantes da Inglaterra; além de donos de importantes companhias artísticas do mundo inteiro. A participação nessas peças era de um peso enorme no currículo de qualquer um. Além disso, cada curso tinha seu próprio subdiretor. No meu caso, a Srtª Holly Jonhson era a minha subdiretora. Uma mulher elegante e adorável. Ela explicou que o curso era conhecido como “dança” e não “ballet clássico” porque o ballet não era a única modalidade que iríamos dançar. Aquilo me assustou um pouco, mas ela logo disse que o ballet era o principal e os calouros iriam gostar do curso. Cada subdiretor se apresentou brevemente e deu algumas informações sobre seus métodos de ensino. Em seguida, Agnes voltou para o microfone e começou a falar as regras.
- É extremamente proibida a entrada em qualquer classe depois de quinze minutos após a chegada do professor. Alunos que forem pegos com bebidas alcoólicas, ou cigarros e derivados nos perímetros da academia serão detentos, e até expulsos. Brigas os levarão direto para seus diretores. E o principal... Não será aceito o coito dentro de salas, banheiros, corredores, jardins, ou qualquer lugar da Academy. – Ela terminou de falar as regras e pareceu irritada com a última coisa que falou, como se já tivesse passado por isso antes.
- Bullshit! – Escutei um menino exclamar a algumas cadeiras atrás de mim. Ele arrancou risadas de boa parte dos alunos. Virei-me para ver quem era o idiota e seus olhos encontraram os meus. Uma coisa eu tenho que admitir, ele era lindo. A linha do seu maxilar era bem definida, dando um contorno perfeito ao seu rosto. As maçãs em suas bochechas eram altas, seu nariz tinha o tamanho exato e seus lábios não ficavam atrás; eu tinha certeza de que eram vermelhos e apetitosos. Não consegui ver a cor de seus olhos, mas o brilho que emanava deles era óbvio. Seus cabelos lisos estavam em pé, bagunçados de uma forma que os deixava arrumados; por menor sentido que isso faça. Minhas retinas teimariam em descer o olhar pelo pescoço daquele garoto, mas eu me reprimi. Acho que sustentamos aquela troca de olhar por uns cinco segundos, até que ele piscou pra mim, com um sorriso sacana brincando nos lábios. Eu apenas revirei os olhos e voltei a minha atenção para a diretora. Não estava no clima para gracinhas.
Agnes encerrou a palestra e os professores distribuíram as cadernetas que a diretora havia se referido anteriormente. Folheei rapidamente, constatando que tudo que estava ali já tinha sido falado. Os docentes se despediram e informaram que os novatos deveriam ir até a secretaria para dar entrada à papelada. Levantei-me rapidamente e segui para a porta de saída, já tentando evitar esperar em uma fila de alunos que iria fazer a mesma coisa que eu. É claro que esse plano teria dado mais certo se eu soubesse aonde ir, mas isso era apenas um detalhe. Parei para pedir informações a um segurança que encontrei em um corredor e ele me informou o caminho certo. O agradeci com um sorriso e segui adiante até encontrar uma sala com portas de vidro. A secretaria não estava cheia, mas deviam ter uns três alunos na minha frente. Uma senhora me mandou entrar e sentar ao lado de uma garota ruiva e esperar a minha vez. Respondi com um aceno de cabeça e fui até o banco em que eu deveria me acomodar.
- Hey, meu nome é %Abigail%. Mas todos me chamam de %Abi%, porque eu não gosto do meu nome. – Ela se virou pra mim, estendendo a mão.
- Olá... Me chamo %Star%. – Apertei a sua mão e notei que ela esperava eu falar o meu apelido. – Costumam me chamar de %Tah%, mesmo que eu goste do meu nome.
- Se eu tivesse o seu nome, também gostaria dele. – Ela riu, balançando a minha mão animadamente. – É nova por aqui, certo?
- Sim, primeiro dia. – Sorri. %Abi% parecia uma pessoa legal e o seu jeito era elétrico. Aparentemente ela não conseguir parar de se mexer.
- Seja bem vinda, %Tah%. – %Abigail% sorriu ainda mais, se é que era possível. – Deixe-me adivinhar... É bailarina?
- Acertou em cheio! – Me deixei contagiar pela animação da outra menina.
- Então seremos colegas de classe. – Bateu palmas antes de continuar: - Eu deveria estar indo para o segundo nível, mas não passei no teste, então vou repetir o primeiro. Mas não faça essa cara! Não é como se eu tivesse me esforçado. Queria estar na turma de teatro, mas minha mãe me obrigou a entrar pra dança. Era meio que o sonho dela e tal, mas como tinha condições o empurrou pra mim.
- Ahn... – A escutei calada, tentando absorver todas aquelas informações. Eu nem a conhecia e ela já estava contando a sua vida inteira pra mim. – Deve ser horrível ter que fazer algo que você não gosta. Eu sinto muito, %Abi%.
- É horrível mesmo, mas eu já estou acostumada. Foi sempre assim, então acho que tenho que aceitar. – Ela deu de ombros e trouxe de volta o sorriso alegre que desaparecera por um tempo. – Mas me fale de você, sim? Pelo seu sotaque, acho que não é daqui.
- Não sou mesmo, eu vim de Paris. Cheguei há algumas semanas atrás e ainda estou me adaptando. – Expliquei.
- Paris? Wow, isso é incrível! Eu sempre quis conhecer a França, mas nunca tive a oportunidade. Quem sabe você não me leva um dia? Imagina nós duas passeando de vespa pelas ruas de Paris!
- Claro! Seria bem legal... – Não sei se ela era apenas simpática demais, ou se era daquele tipo de pessoas que pega intimidade muito rápido. De uma forma ou de outra, era fácil conversar com %Abi%. Como eu não estava em condições de rejeitar uma amizade, entrei na onda.
A porta de vidro quase foi ao chão quando um menino entrou correndo e passou direto por nós, parando no balcão da secretária que havia me mandado sentar com %Abigail%. Ele era o mesmo que tinha feito a piadinha no auditório e piscado pra mim. Como alguém tão desagradável conseguia ser tão bonito? Mas ele não estava sozinho. A loira do corredor entrou logo depois dele, ignorando completamente os olhares de reprovação que ela atraiu por estar fazendo barulho com seu salto alto.
- Quem é aquele? – Sussurrei para %Abi%, apontando discretamente para o garoto do topete.
- Uhh, você tem bom gosto. – Fiz uma careta tentando explicar que não era nada do que ela estava pensando, mas não adiantou. – Aquele é o Zayn Malik. O terror dos professores e o Badboy da LRA.
- Sei...
- É do terceiro período de música e quase foi expulso duas vezes, não queira saber o por que. – Ela também sussurrava. Algo me dizia que eu já sabia o motivo que o levou a quase ser expulso duas vezes. – Apesar da sua fama, ele é um cara legal.
- Duvido muito. – Soltei sem pensar. – E aquela ali pendurada no pescoço dele deve ser a sua adorável namorada.
- Acertou em cheio. Menos na parte do adorável... Porque não há ninguém pior que a Brigitte nessa academia. Quem sabe no mundo. – Era óbvio que %Abi% também não era fã da oxigenada, o que me fez ficar aliviada.
- Brigitte é nome de cachorro. – Falei, fazendo a minha nova colega gargalhar alto. Brigitte escutou a risada e logo se virou na nossa direção. Assim que me viu rolou os olhos e bufou alguma coisa na orelha de seu namorado.
- O que foi isso? Acho que ela não foi com a sua cara. – %Abi% comentou, me fazendo contar pra ela o que havia acontecido mais cedo no corredor. – Sinto muito, %Tah%, mas acho que você entrou para a lista negra.
- Como é? – Perguntei espantada. Mal chegara à academia e já era da lista negra de alguém?
- Não se preocupe, eu estou lá também. – Ela tentou me tranquilizar e eu sorri. – Oi, Zayn!
- Whasap, ruivinha?! – Ele cumprimentou %Abi% com um sorriso, virando-se para nós; e que sorriso. Eu a encarei perplexa, sem entender nada. Então eles se conheciam? Não sabia onde enfiar a cara.
- Ah, é. Esqueci de mencionar que ele é o melhor amigo do meu namorado, então somos amigos por tabela. – Deu de ombros como se fosse a coisa mais normal.
- E você não podia ter me falado isso antes de eu começar a chamar a namorada dele de cachorro? – Reclamei tentando manter a voz baixa para não chamar ainda mais atenção.
- E perder a sua cara quando descobriu que eu o conheço? Não mesmo. – %Abi% riu como se fosse uma piada muito engraçada.
Não demorou muito e %Abigail% foi chamada pela secretária pra pegar o seu horário. Ela levantou e sussurrou um “Eu já volto” ao sair. Em menos de cinco minutos ela voltou com um papel na mão e me avisou que a diretora estava me esperando.
- Não olhe diretamente nos olhos dela, ou você vai virar pedra. – Brincou. Pelo menos eu acho que era uma brincadeira...
- Pode deixar. – Ri nervosa e segui pelo caminho de onde ela havia voltado.
O escritório da diretora Agnes era extremamente organizado. Uma mesa de madeira estava centrada na sala e a mulher me observava por trás dela, sentada em uma cadeira desproporcional ao seu pequeno corpo. Ela me indicou uma das cadeiras em frente à sua mesa e assim que eu me sentei ela começou a falar. Me deu as boas vindas e disse que ouvira elogios ao meu respeito, por causa do meu teste de admissão. Aquilo me pegou de surpresa, mas ao mesmo tempo me deixou muito feliz. Disse que eu seria observada nas primeiras semanas e que, dependendo do meu desenvolvimento, eu poderia pegar uma aula mais avançada. Dei uma olhada rápida pelo meu horário de aulas e assinei alguns papéis que não me dei ao trabalho de ler. Minhas aulas seriam de segunda a quinta e os horários eram variados. Nas segundas, eu teria duas aulas. A primeira era a aula em grupo, que eu entendi ser um ensaio geral, com todos os estudantes do curso de dança. A segunda aula seria a de dança contemporânea, onde minhas habilidades em outros ritmos seriam testadas. Na terça feira a minha única aula era com um professor particular. Teríamos duas horas juntos para que eu recebesse dicas e atenção especial. Quarta feira era o dia em que eu teria aulas de ballet com o meu próprio nível e em seguida a aula de técnica corporal – que eu ainda não sabia como seria. Na quinta feira, teria mais uma aula contemporânea e mais uma com a minha turma, encerrando as minhas disciplinas da semana. Era um horário leve e eu não ficaria cansada demais. Agnes me informou que todas as salas estariam a disposições de todos os alunos nos períodos da tarde, para ensaios. Tirei mais algumas dúvidas e me retirei da sua sala.
Procurei %Abi%, mesmo sem ter certeza de que ela estaria me esperando ou não. Saí da secretaria notando que Zayn e Brigitte já não estavam mais por lá. Não que eu estivesse procurando por eles, claro que não. Virei à direita e dei de cara com a minha colega atracada com um menino loiro que eu julguei ser seu namorado. Ela passava as mãos por seus cabelos e ele a apertava na cintura enquanto os dois se beijavam como se estivessem sozinhos no mundo. Reprimi uma risada e passei direto por eles, sem querer atrapalhar aquela troca de afeto.
- Onde a senhorita pensa que vai? – A voz de %Abigail% me fez parar e virar de frente para o casal.
- Já que você está meio ocupada... – Olhei dela para o loiro, que corou. – Eu estava indo embora.
- Não seja boba! – Me repreendeu e caminhou até onde eu estava parada, com o namorado em seu encalço. – Niall, essa a minha nova amiga %Star%. %Tah%, esse é o namorado mais perfeito do mundo, o meu Nialler.
- É um prazer, Niall. – Estiquei a mão para cumprimentá-lo quando %Abi% nos apresentou, mas ele ignorou tal ato e me puxou para um abraço.
- O prazer é meu, %Tah%. %Abi% já estava me falando tanto sobre você que fiquei curioso. – Mais um que já me chamou pelo apelido. Acho que eu poderia me acostumar com aquilo.
- Só falei coisas boas, eu juro! – Ela me abraçou de lado assim que Niall desfez o abraço e nós começamos a andar em direção à saída.
- Queria poder ter certeza disso, %Abi%. Mas não sei se posso confiar novamente em você. – Brinquei.
Logo chegamos ao lado de fora do campus e Niall disse que iria procurar “a carona” dele e já nos encontrava no estacionamento. %Abigail% ofereceu me deixar em casa também, mas eu recusei. Não queria abusar da sua boa vontade, muito menos abusar do motorista que estaria levando os dois namorados pra casa. Já estava pronta pra me despedir quando Niall voltou e trouxe consigo o meu pesadelo.
- Você deve ser a %Tah%. – Zayn parou em minha frente e eu esqueci de como se respira.
- %Star%, na verdade. – O corrigi. %Abi% olhou para o namorado e riu de alguma piada interna. Veja bem, eu não quis ser mal educada com Zayn, mas ele não era do tipo que exalava confiança, vamos concordar. Era bonito demais, com o rosto angelical demais e a voz agradável demais. Junte tudo isso em uma pessoa só e qual o resultado? Problema. Pior ainda se esse problema tiver uma namorada como a dele.
- Então, %Tah%, vai pegar carona comigo também? – Ele ignorou completamente o que eu falei e tirou as chaves do bolso de sua calça jeans.
- Na verdade eu vou de ônibus mesmo. Mas obrigada pelo convite, %Abi%. – Virei de frente para %Abi%, que ainda tinha aquele mesmo sorriso no rosto.
- Não seja por isso, %Tah%. É uma pena que você não queira vir com a gente. – Ela fez um biquinho e me abraçou. Apesar de pequenina, a ruiva tinha um abraço muito forte. – A gente se fala amanhã, certo?
- Você tem o meu número, então eu acho que sim! – Nós duas trocamos telefones antes que eu fosse falar com a diretora.
- Te ligo amanhã pra combinarmos algo. É a nossa última semana de férias, então temos que aproveitar. – Nos separamos e foi a vez de Niall me abraçar.
- Até logo, %Tah%. – Ele se despediu e eu comecei a andar antes que Zayn tentasse fazer o mesmo que os amigos. Não queria provar de seu perfume, porque não sei se resistiria por muito tempo.
- Tchau, guys. Tchau Zayn. – Também não era uma completa mal educada, então acenei pra ele.
- Espero te ver logo. – Zayn sorriu. Não qualquer sorriso, mas o sorriso dele. Senti meus joelhos fraquejarem por um momento, mas me recompus.
Assisti os três entrarem no carro de Malik e não os esperei partir para começar a andar e seguir o meu próprio caminho até a parada mais próxima. Que, aliás, de próxima não tinha nada. Tive que descer três quarteirões até achar um ponto de ônibus. Para piorar, o céu começava a escurecer e as nuvens pesadas informavam que ia chover. Quis me bater ao lembrar que não tinha uma sombrinha na minha bolsa. Que tipo de pessoa anda por Londres sem uma sombrinha? Resposta: Eu.