Capítulo LXX
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Assim como veio, o final de semana foi embora rápido. A terça-feira na Academy prometia ser animada, pois trouxe consigo o nervosismo e a ansiedade de vésperas de peça. As pessoas corriam de um lado para o outro nos corredores, com instrumentos musicais ou peças de roupas que lembravam muito os figurinos que Margot estava preparando. No dia anterior, todo o elenco do espetáculo havia sido suspenso de aulas para que pudéssemos fazer um ensaio geral. O palco do auditório daquela academia não era tão grande, mas teve que servir. Me senti bem mais tranquila quando esse ensaio geral acabou do que quando começou, pois no fim tive mais que certeza que já tinha tudo decorado na ponta da língua e na ponta dos pés. Minha conexão com Nick estava ainda maior do que na nossa apresentação do baile de inverno e soube que éramos o par perfeito; pelo menos naquele caso.
Voltando para a terça-feira... %Abi% me enviara uma mensagem mais cedo naquele dia, pedindo que eu fosse direto para o quadro de avisos no primeiro andar, então fui diretamente pra lá assim que cheguei na academia. Ainda não sabia direito qual era a urgência toda que ela tinha, mas preferi não questioná-la via mensagem. Me esquivei de dois meninos que carregavam uma mesa de uma sala para a outra e quase esbarrei em uma menina desavisada. Os nervos realmente estavam contagiando o lugar inteiro, porque posso jurar que nunca vi uma correria maior. Se aquele dia ainda já estava assim, imagine na própria sexta-feira de manhã?! Seria o verdadeiro caos.
- %Tah%, aí está você! – %Abi% correu até o meu encontro assim que me viu.
- Bom dia, cabecinha de fogo! – A cumprimentei com um abraço apertado.
- Você voltou mesmo, hein? – Ela sorriu assim que nos separamos. – Ainda bem, porque eu não queria ser presa...
- Não sei, eu gostava da %Star% rebelde... – Niall ficou de pé atrás da namorada e riu daquele jeitinho que só ele tem.
- Bom dia pra você também, Nialler. – Balancei a cabeça. Não é que eu tivesse “voltado”, mas depois do meu ataque de sábado, preferi não evitar completamente os meus sentimentos a não ser que fosse realmente preciso. Eu não podia mudar quem eu era, não podia fingir ser outra pessoa completamente desencanada. Todo mundo tem fazes assim, certo? Bem, a minha havia durado quatro dias. – O que vocês tinham de tão importante pra me mostrar no quadro de avisos?
- Vou resumir a história pra que você não fique tão chocada quanto eu, ok? – %Abi% voltou a falar e eu afirmei com a cabeça. – Lembra que eu falei que os exames são meio de surpresa?
- Exames médicos? – Elevei a sobrancelha direita. Eu já havia feito um exame médico naquele semestre e pra mim já bastava!
- Não, %Tah%... Exames de mudança de nível. – Ni explicou.
- A prova semestral? – Perguntei, esperando que eles dissessem que não. – “A” prova?
- Isso mesmo, que bom que você sabe do que se trata, porque a nossa é em... – %Abi% passou o braço pelo meu, dando meia volta e me arrastando pelo caminho que eu passara pra chegar ali. Olhou no relógio da parede e continuou: - Dez minutos.
- DEZ MINUTOS? – Meu quase grito chamou a atenção de algumas pessoas.
- Boa sorte, girls. – Niall acenou ao ir pelo lado contrário do nosso. – Meu exame é agora.
- Tchau, pudincup! – %Abi% assoprou um beijo pra ele e eu continuei calada, apenas andando na direção que me era indicada. – Fala alguma coisa, %Tah%.
- Co-como são esses exames? – Engoli em seco, parando apenas quando chegamos à porta do elevador. – São como os testes de admissão?
- Mais ou menos... – O tom que ela usou não serviu pra me tranquilizar. – A diferença é que esses exames tem duas etapas e a nossa apresentação solo tem que ser na frente de todo mundo.
- Ah, ok. – Respirei fundo. Normal, claro. – E como é essa primeira etapa?
- Você vai se sair muito bem, nem se preocupe. – O elevador abriu as portas e nós duas entramos. – É só a nossa sala e um professor. Ele vai pedir alguns passos, usando aqueles nomes estranhos e temos que mostrar que sabemos o que ele quer dizer.
- E você está calma assim, por que...? – Apertei o botão do terceiro andar e esperei ele começar a mexer.
- Porque eu tenho a minha cola!
Falando aquilo, %Abi% piscou pra mim e entendi que eu era essa “cola” que ela estava se referindo. Não iria negar ajudar a minha amiga caso ela precisasse se lembrar de algum passo ou coisa parecida, mas ambas sabíamos que ela não era do tipo discreta. Preferi apenas concordar com a cabeça e esperar pacientemente que o elevador parasse no nosso destino para que pudéssemos sair. %Abi% tagarelava, desejando que a professora Holly fosse a docente a administrar o nosso teste, já que qualquer outra ficaria de marcação com ela. Mal sabia %Abigail% que até mesmo Holly pegaria no pé dela. Na verdade, eu não sabia nem porque a minha amiga se importava. Não havia nada no curso de dança que a agradasse, pois seu sonho ainda era fazer teatro.
O caminho do elevador até a nossa sala foi bem curto. Algumas das meninas que eram do primeiro semestre como nós duas também estavam entrando na sala e eu já comecei a me preparar para trocar de roupa ali mesmo. Ainda bem que meu uniforme de ballet já estava por baixo da minha calça jeans e suéter, porque assim não precisei acompanhar %Abi% até o banheiro. Ela até que me pediu companhia, mas, se eu fosse junto, acabaríamos demorando mais que o necessário. Pedi para que a ruiva andasse rápido e quase corri para dentro da sala. Prendi a respiração ao ver que era o professor Hofstheder que estava ali para nos acompanhar. Meus colegas de turma o olhavam com um pouco de receio, pois nunca tiveram uma aula com ele, além da aula em grupo – que era bem maior e bem mais complicado de se ter um contato direito com o professor. Eu, por outro lado, já tivera muitas aulas particulares ao lado daquele homem severo e sabia muito bem o que esperar.
Falei “bom dia” só por educação e fui correspondida com um aceno de cabeça; que já era mais do que eu esperava. Fui até um canto e joguei a minha mochila naquele banquinho de madeira que era praticamente reservado pra mim. Também tirei a calça e o suéter, depois de tirar o tênis dos pés. Em seguida, foi só pegar a saia fina dentro da mochila assim como minhas sapatilhas de ponta. Tratei de me aprontar e amarrar os cabelos de forma comportada, querendo começar a me alongar o mais rápido possível. Agora que estava ali na sala, não me sentia tão nervosa quanto antes. E, ao mesmo tempo, me sentia mais preocupada com a próxima etapa, onde eu teria que apresentar um solo que não tinha nem ensaiado.
+++ - Não foi tão ruim assim, %Abi%... – Tentava consolar a minha amiga enquanto caminhávamos na medida em que a fila do refeitório andava também.
- Não foi? – Riu ironicamente. – Eu não sabia de quase nada! E achei muita sacanagem o professor ter nos separado. Você era a minha chance!
- Sei disso... E sinto muito. – Fiz um meio bico, e me servi de uma porção de ovos com bacon. Novidade: A cafeteria da Academy tinha contratado um novo chef de cozinha, por isso o cardápio estava bem mais apetitoso. – Pode me passar essa lata de chá gelado, por favor?
- Pêssego ou limão? – Perguntou, mas já foi logo pegando a que estava mais perto dela.
- Pêssego, claro. – Ri por ser justamente aquela que %Abi% me entregou e continuamos andando.
- Você sabe que se eu não passar dessa vez, vou ser convidada a me retirar daqui, não sabe?
- Nem brinca com isso! – Empurrei a bandeja da outra com a minha já que a fila andou, mas ela estava entretida demais fazendo drama. – Você tem que se sair bem na próxima etapa, %Abi%... Tem alguma ideia de solo?
- Ontem eu assisti o filme Anna Karenina, então estou pensando em fazer algo inspirado nela. Sabe como é.
- Sei... – Menti. Já havia assistido a esse filme, mas não fazia ideia de como %Abi% tiraria um solo de ballet dele.
- Ugh, cansei dessa fila. Ainda vai querer mais alguma coisa?
Balancei a cabeça negativamente e saímos daquela fila para ir até a do caixa. A academia em si podia ser “de graça”, ou “do governo”, mas a cantina era algo bem caro, diga-se passagem. Ambas esperamos a nossa vez, pagamos e fomos procurar uma mesa vazia que pudéssemos ocupar. Nick acenou ao longe, avisando que tinha guardado lugares para mim e %Abi%. A cutuquei com o cotovelo devagar, apontando na direção do meu amigo. É claro que ela resmungou alguma coisa, porém, não teve muita escolha quando eu a deixei para trás e fui me juntar ao moreno de olhos azuis. Ou ela sentava em uma mesa sozinha enquanto esperava o seu namorado de paradeiro questionável, ou vinha atrás de mim.
- Nicky! – O cumprimentei com uma piscadela de olho ao colocar a minha bandeja na mesa redonda e puxar a cadeira pra me sentar ao lado dele.
- %Tah%! – Riu e também piscou pra mim, se dirigindo à outra menina em seguida. – Olá, %Abi%.
- Olá, Nicholas. – Fez pouco caso dele e sentou ao meu lado, recebendo um chute na canela. – Outch! Quero dizer... Bom dia, Nick!
- Assim está melhor. – Ri e a menina estirou a língua pra mim. – Três amigos lanchando juntos!
- Esses ovos são bons? – Nick perguntou, roubando um pouco dos meus ovos mexidos.
- Intimidade é uma coisa, né? – O reprovei com o olhar e em seguida me servi da mesma coisa. – Ah, onde você estava ontem a tarde? Queria te chamar pra passar o texto, mas você não me atendeu...
- É verdade, foi mal por isso... – Deu um golo no seu copo de leite. – Estava ocupado.
- E essa tarde?
- Ocupado.
- Amanhã?
- Nope.
- Nicholas! – Briguei. – O que é mais importante que ensaiar?
- Não posso te contar. – Deu de ombros como se aquilo não fosse me deixar com mais curiosidade ainda. – E nem pense em me chutar por baixo da mesa também!
- Chato. – Eu parecia uma criancinha resmungando.
- %Tah%, você o chamou para hoje à noite? – %Abi% perguntou, interrompendo a nossa pequena discussão.
- O que tem hoje à noite? – Olhou a ruiva, interessado.
- Nada, você vai estar ocupado. – Sorri dissimulada após dar alguns goles no meu chá gelado pra ajudar o café da manhã a descer.
- Isso é realmente injusto. – Foi ele que resmungou agora e eu me diverti.
Continuei comendo enquanto Nicholas tentava arrancar informações de %Abi%, que também não contou o que estaríamos fazendo naquela noite. Tudo bem que a noite de microfone aberto onde eu cantaria junto com Ed não era algo tão secreto assim, mas ela parecia adorar vê-lo se mordendo de curiosidade. Acho que era a primeira vez que os dois conversavam civilizadamente sem se tratar mal. Sim, era estranho. E sim, era melhor do que se o clima na nossa mesa estivesse tenso. Terminei meus ovos com bacon e me concentrei em terminar o meu chá de pêssego, de olho no pudim de chocolate na bandeja de Nick. Talvez eu pudesse trocar minhas informações por aquela sobremesa. Isso! Quando me preparava para oferecer aquela troca justa, uma voz conhecida se fez ouvida pelos alto-falantes posicionados nos cantos do refeitório.
- Bom dia alunos! Aqui quem vos fala é o professor de música, Ed Sheeran. – Ed começou, me dando vontade de rir. – Não se preocupem, não estou aqui pra cancelar os exames finais!
- Droga! – %Abi% soltou um muxoxo.
- Sinto muito, %Abi%. – Niall também falou do microfone, como se estivesse ouvindo a nossa conversa.
- Ok, isso foi sinistro. – Ri, curiosa pra saber do que aquilo se tratava.
- Obrigado pelo comentário, Horan, mas vamos ao que interessa... – O professor continuou. – Um de meus alunos me pediu encarecidamente para fazer uma homenagem à garota que ele ama.
- Não... – Encarei a madeira branca da mesa.
- O nome dele é Zayn e acho que todos sabem quem é essa garota especial. – Ed ainda falava, mesmo que uma melodia de piano tivesse começado. Pude sentir vários olhares se virando na minha direção.
Lately I’ve been thinking. Thinking about what we had
(Ultimamente tenho pensado. Pensado no que tivemos)
I know it was hard, it was all that we knew, yeah.
(Eu sei que foi dificil, era turo que conhecíamos)
Have you been drinking, to take all the pain away?
(Você tem bebido, pra tirar toda a dor?)
I wish that I could give you what you deserve.
(Eu queria poder te dar o que você merece)
‘Cause nothing could ever, ever replace you…
(Porque nada nunca poderia te substituir)
Nothing can make me feel like you do.
(Nada pode me fazer sentir como você faz) Eu sempre gostei de ouvir Zayn cantar e aquele momento não foi diferente. Ele sempre conseguia colocar a sua alma nas músicas e era quase como se eu estivesse de frente pra ele naquele instante. Podia sentir a dor em sua voz, o arrependimento. Aquela emoção toda que ele colocava nas palavras e no som do piano era algo de outro mundo. Levantei o olhar apenas para encontrar o de %Abi%, tão surpresa quanto eu. Ela também não sabia daquela “homenagem”, isso estava claro. Nick fez um pequeno carinho nas costas da minha mão, sorrindo fraco. Ele ainda achava que tinha culpa no termino de Zayn e eu.
You know there’s no one I can relate to.
(Você sabe que não há ninguém com quem eu possa contar)
And know we won’t find a love that’s so true.
(E sei que não vamos encontrar um amor que é tão verdadeiro)
There’s nothing like us, there’s nothing like you and me.
(Não há nada como nós, não há nada como você e eu)
Together through the storm.
(Juntos através da tempestade)
There’s nothing like us, there’s nothing like you and me.
(Não há nada como nós, não há nada como você e eu)
Together…
(Juntos) - Ele perdeu a cabeça… - Falei baixinho, pensando em levantar e sair dali, mas seria inútil. As caixas de som estavam espalhadas pela Academy inteira, então eu não teria pra onde correr.
- Zayn está tentando, %Tah%... – %Abi% segurou a minha mão em cima da mesa. – Ele te ama muito.
- E agora ele está tentando mostrar isso pra todo mundo que puder ouvir. – Nick também ficou do lado do meu ex-namorado. – Eu acho que você devia ouvir o que ele tem pra dizer.
- Não custa nada. – A outra menina completou.
- Eu estou ouvindo. – Falei simplesmente, me soltando dos dois e encostando mais na cadeira em que estava sentada.
I gave you everything, baby, everything I had to give.
(Eu te dei tudo, baby, tudo que eu tinha pra dar)
Girl, why would you push me away?
(Garota, porque você me afastaria?)
Lost in confusion like an illusion.
(Perdido em confusão, como uma ilusão)
You know I’m used to making your day.
(Você sabe que estou acostumado a fazer o seu dia)
But that is the past now, we didn’t last now.
(Mas isso é o passado agora, nós não duramos)
Guess that this is meant to be…
(Acho que isso era pra ser assim)
Tell me was it worth it? We were so perfect.
(Me diga, value a pena? Nós éramos tão perfeitos)
But, baby, I just want you to see…
(Mas, baby, eu só quero que você veja)
There’s nothing like us.
(Não há nada como nós) Era bem claro pra mim que Zayn estava prestes a começar a chorar, ali, no microfone de onde qualquer um poderia escutar. Aquela homenagem foi mais do que simplesmente mandar entregarem flores na minha casa. Ele estava vulnerável, abaixando todas as suas guardas. A pose de Bad Boy que tanto gostava de sustentar dentro daquela escola tinha ficado pra trás. Zayn estava deixando a sua insegurança de lado, se abrindo completamente, de forma nua e crua... Pra mim. Por minha causa. Aquelas últimas palavras me deixaram arrepiada. Olhei para as minhas próprias mãos no meu colo, lentamente sentindo meus olhos se encherem de lágrimas. Ele tinha razão, nós éramos perfeitos.
- E então? – %Abi% quebrou o silêncio que preenchia o refeitório inteiro.
- Isso não muda nada.
+++ Para a segunda etapa dos nossos exames, acabamos ficando na nossa sala de costume; o que me agradou bastante, já que assim eu possuía todo o conhecimento do espaço que teria para realizar o solo. Outra coisa que foi diferente da primeira parte é que os solos seriam abertos para quem mais quisesse assistir, ou seja, qualquer um podia simplesmente entrar na sala e se sentar em um dos cantos para assistir. O único requerimento é que ficassem calados. Uma banca de jurados foi formada no canto esquerdo, onde os meus três professores se posicionaram com suas cadernetas e observavam furtivamente as apresentações improvisadas de seus alunos tão queridos – ou quase isso. A ordem dos alunos seguiu a linha do alfabeto, então %Abi% acabou tendo que ser uma das primeiras. Só pra constar, a ordem do alfabeto a que estou me referindo é a dos nossos sobrenomes, o que faz o “T” de “Tomlinson” ficar bem pro final. Por um lado isso era até reconfortante, mas por outro, a minha ansiedade crescia incrivelmente rápido.
Ah, é, e nem as nossas músicas eram escolhidas por nós mesmo. Tecnicamente éramos nós que tirávamos um papelzinho de uma urna, mas você entende os termos técnicos de um sorteio. O professor Sheeran se ofereceu para ficar no piano e tocar as músicas durante os solos, mas algo que dizia que ele estava ali por minha causa. Nós nos cumprimentamos no começo da aula, mas o assunto “Zayn Malik” não foi tocado. Por falar em amigos, Niall e Nick também se convidaram para assistir as apresentações; trazendo com eles alguns colegas que eu não fazia ideia de quem eram. Eu estava sentada no fundo da sala, alongando as minhas pernas enquanto ouvia a minha amiga sussurrar o quanto a sua apresentação avia sido incrível. De fato foi incrível, mas ela quase não dançou. %Abi% interpretou um monólogo de um de seus autores preferidos e durante os seus cinco minutos ninguém lembrou que aquilo era um exame de ballet e não de teatro.
A letra “S” chegou e com ela uma menina chamada Alguma Coisa Simons tomou o centro da sala após ter sorteado a sua música. Ed estralou os dedos e começou a tocar uma melodia animada que reconheci ser de Vivaldi. Olhei em volta para os meus colegas de turma. Podíamos não ser íntimos nem nada, mas eu recordava em os sobrenomes da maioria deles. “É, eu sou a próxima.” Respirei fundo, tentando controlar os meus batimentos cardíacos que aceleravam com cada passagem do ponteiro do relógio na parede que marcava os segundos. %Abi% tocou o meu ombro, me encorajando, e abri um meio sorriso. Não era a primeira vez que eu iria me apresentar para aqueles jurados, mas dessa vez parecia bem pior. No dia da minha audição, eu estava passando mal e quase desmaiando, porém, tinha a desculpa de que nenhum deles sabia o que esperar de mim. Agora, depois de um semestre inteiro ao lado deles, todos os professores tinham o direito de exigir excelência.
- Tomlinson. – O professor Hofstheder leu o meu nome no papel em suas mãos e todos se viraram pra mim.
- Deseje-me sorte. – Sussurrei para a minha amiga, levantando de onde estava.
- Você não precisa disso. – Ela sussurrou de volta, fazendo sinal de OK com os dedos.
- Aqui, %Tah%! – Ed me chamou, segurando a urna para que eu escolhesse a música.
- Certo, certo... – Quase esqueci desse pequeno grande detalhe e corri até o professor. Coloquei a mão dentro da urna e agarrei o primeiro pedaço de papel que toquei. – Pathetique, Beethoven.
- Ótima escolha. – O ruivo piscou como se dissesse “Confio em você”, o que me fez sorrir.
- Obrigada. – Respirei fundo e me preparei para voltar para o meio da sala.
- Quando quiser, %Star%. – Holly me assegurou, deixando a sua caneta na mesa e prestando atenção apenas em mim.
- Tudo bem... – Agradeci com a voz um pouco trêmula.
Olhei para os lados, encontrando os sorrisos confiantes dos meus três amigos que estavam ali presentes e na espera dos meus outros colegas que também queriam passar tranquilidade. Eu estava segura ali dentro, cercada por pessoas que só desejavam o meu bem. Fitei, então, os professores. Holly e Laura me estudavam calmamente, enquanto o homem entre as duas parecia me julgar. Segui a linha do olhar dele e parei nos meus pés. Para ser mais exata, nas minhas sapatilhas. Todas as outras meninas haviam se apresentado usando sapatilhas de ponta, mas a minha era a normal. Respirei fundo pela décima vez, dizendo para mim mesma que sabia o que estava fazendo. Também afrouxei a amarração em meu cabelo para dar um ar mais bagunçado à minha performance.
Com um aceno de cabeça, avisei a Ed que estava pronta e ele começou a dedilhar as teclas do piano. Fechei os olhos e deixei aquela sensação tão íntima e conhecida me contaminar. Com um pé comportadamente colocado na frente do outro em quarta posição, continuei parada no mesmo lugar, mas meus braços e mãos se mexiam. As pontas dos meus dedos se tocaram e não tirei os olhos delas, deslizando-as pelos meus próprios braços em seguida. Depois de ter tocado o meu próprio corpo como se conferisse que era meu mesmo, lancei o olhar para cima. O começo daquela música era pesado, mas meus movimentos suaves. Finalmente deixei que meus pés se mexessem pela sala, em um sobe e desce delicado enquanto dava voltas em torno de mim mesma. Arqueei as costas para trás, fazendo com que a minha cabeça caísse na mesma direção.
Acompanhando o ritmo da música, voltei a minha postura para a posição inicial mesmo que os meus pés não quisessem parar de deslizar pela madeira do chão da sala. Elevei os braços até o topo da minha cabeça, com as palmas viradas para fora e olhei apenas para um ponto qualquer na minha frente. Minha perna esquerda foi estendida para trás, enquanto a direita se manteve firme presa ao chão. Em seguida, usei a mesma perna que estava para trás para me impulsionar em um rodopio que logo se transformou em várias piruetas delicadas. O mundo a minha volta tinha sumido há algum tempo e me vi em cima de um palco. Esse palco, porém, não ficava em um teatro, auditório ou coisa parecida. Estava no meio do nada. Eu era cercada pela escuridão, mas ela não me assustava. Era até como se estivéssemos dançando juntas...
Sorri sozinha quando uma dessas sombras saiu do lugar e percorreu o chão à minha volta, fazendo-me ter que dar mais uma volta para não perdê-la de vista. Quando a sombra avançou na minha direção, cambaleei para trás com o susto, mas logo voltei a persegui-la, correndo por aquele palco e fazia isso dançando. A sombra parou; me encarou. Nossa pequena perseguição a devia ter cansado e usei isso ao meu favor. Como se quisesse pegá-la desprevenida, dei as costas a ela e me afastei, indo até um dos cantos daquele palco. A música a minha volta ganhou um ritmo mais acelerado, como se comandado pelos meus atos. Girando na ponta de um dos meus pés, dei meia volta e encarei a sombra como se quisesse ver através dela, mas era inútil. A massa negra era sedutora, quase chamando o meu nome. Aceitei aquele convite e me pus a correr. Chegando no meio do caminho, peguei impulso no chão e senti o meu corpo ir para o ar. Em um salto, abri os braços em forma de “L” e minhas pernas tomaram a forma de um “4” deitado.
O universo congelou por uns segundos enquanto eu estava no ar e aproveitei o meu pouso como se estivesse em câmera lenta. Ao cair de volta no chão, a escuridão me engoliu. Fui tomada pelos seus braços frios e senti que os meus cabelos se soltaram do coque previamente afrouxado. Os fios castanhos me cegaram momentaneamente enquanto a sombra me tirou pra dançar. Valsamos pelo salão e meus giros que se seguiram fizeram minhas mexas voar para trás do meu rosto. A música voltou a diminuir de velocidade e ficar cada vez mais baixa, como se estivesse se distanciando. Foi aí que eu senti medo. Medo de ter que me despedir daquela sombra que me encantava ao mesmo tempo em que me amedrontava. Eu a amava e não queria ter que ir embora daquele universo paralelo que descobrira.
“Adeus.” Posso jurar que escutei aquela simples palavra sendo sussurrada em meus ouvidos e então a escuridão sumiu completamente, me trazendo de volta à sala de ballet da Academy. Esse choque entre a fantasia e a realidade me fez perder o equilíbrio e então fui ao chão. Mas não foi um desmaio ou uma queda... Era como se eu tentasse pular novamente dentro da escuridão que me tocara com tamanho zelo momentos antes. Mais uma vez foi inútil. O sonho acabara. O momento escapou entre os meus dedos e escutar as palmas que encheram a sala ao meu redor não me fez sentir melhor. “O que foi isso?” Me levantei do chão ainda com um pouco de dificuldade de me situar e encarei os professores que aplaudiam de pé; inclusive o senhor Hofstheder.
Nos minutos que se seguiram, ninguém conseguiu falar nada. A pessoa que deveria vir depois de mim demorou a se tocar que era ela, mas os professores também não se lembravam que deveriam continuar com os exames. %Abi% ainda me esperava no fundo da sala e me abraçou que cheguei perto dela. Admito que me senti muito bem comigo mesma e, acima de tudo, me senti leve. Era como se todos os meus problemas tivessem desaparecido. Não pude deixar de pensar em algo que Louis me falara no último sábado... Dançar realmente era o que me salvava. Agora eu tinha certeza disso.
- Você continua me surpreendendo cada vez mais, sabia?! – %Abi% foi a primeira a quebrar o silêncio, me deixando sentar em um banco de madeira. – Isso porque estava nervosa!
- E-eu não sei o que aconteceu... – Passei as mãos pelos cabelos, querendo colocá-los pra trás.
- Eu te digo o que aconteceu! Você acabou de ganhar o prêmio Nobel da dança. – Colocou as mãos na cintura e riu do que acabara de falar. – Existe um prêmio assim?
- Acho que não. – Ri baixo, sem querer atrapalhar a menina que tomou o lugar em que eu estivera antes.
- Mas deveria existir! E você, meu bem, ganharia todos.
- Shh, %Abi%! Vamos prestar atenção na Sam.
- Já calei! – Passou os dedos na boca como se puxasse um zíper, mas logo voltou a falar: - Sabe quem também estava te vendo dançar?
- Quem? – Sussurrei enquanto olhava em volta.
- Zayn. – Aquela confissão me surpreendeu. – Ele não saiu da porta até você terminar de dançar.
- Ele gosta de me ver dançar... – Falei meio sem pensar, logo escondendo o pequeno sorriso que tentou se formar em meus lábios. – Mas ainda bem que não entrou na sala.
- Teimosa. – A ruiva resmungou.
+++ - Se você tivesse virado à direita e depois à esquerda como eu falei, nós já teríamos chegado lá! – Falei com um pequeno tom de reclamação.
- Você falou esquerda e depois direita! – Lou rebateu, sentado no banco do motorista, com Haz ao seu lado. – Harry, fala pra ela!
- O Harry não conta, porque ele vai concordar com qualquer coisa que você falar! – Eu estava no banco de trás, com Li ao meu lado, olhando a paisagem fora do carro.
- Sendo assim, o Liam também não pode falar nada. – Meu irmão afirmou.
- O que eu fiz agora? – Liam riu. – Estou quieto aqui...
- Você não fez nada, Leeyum! – Segurei a mão dele e fiz carinho com o polegar. – E a Dani aceitou vir com a gente?
- Ela disse que vai tentar sair do ensaio mais cedo e dar uma passada na cafeteria. – Sorriu meio tímido.
- Espero que ela consiga! – Celebrei, já mais acostumada com a ideia de Liam ter uma companhia.
- %Tah%, qual o nome do lugar mesmo? – Harry me olhou pelo retrovisor de dentro do carro.
- Apple & Pears. – Respondi ao olhar pela janela. – Chegamos?
- Eu disse que era esquerda-direita. – Lou sorriu daquele jeito “sou melhor que você” e começou a diminuir a velocidade do carro.
- Eu disse que era esquerda-direita. – O imitei com a voz mais irritante que consegui forçar, fazendo os outros meninos rirem.
- Muito maduro, %Star%. – Liam ainda gargalhava ao meu lado.
- Muito maduro, %Star%. – Continuei com as minhas imitações, mas dessa vez acabei rindo junto.
Paramos de discutir e rir assim que meu irmão estacionou o carro em uma vaga que acabara de ficar livre na esquina do café. Londres se mostrava maior a cada dia, pois eu tenho certeza que nunca estivera naquela parte da cidade antes. Não existiam prédios naquele bairro, apenas pequenos estabelecimentos. O mais vintage de todos foi sem dúvida a cafeteria para onde estávamos nos dirigindo. O lado de fora era bem arrumadinho, mesmo que a madeira das paredes que não eram cobertas por janelas fosse meio envelhecida. Ok, pode ser que esse tenha sido o verdadeiro charme do lugar. Ao entrarmos na loja, um pequeno sino soou, mas duvidei que ele pudesse ser ouvido no fundo. Ninguém veio nos atender, portando entramos sozinhos e começamos a procurar algum lugar pra sentar.
Todas as mesas eram arredondadas e ficavam espalhadas pelo salão. No lado direito ficava o balcão extenso onde os pedidos eram feitos e mais para o canto encontrei o que parecia ser uma área de convivência, com algumas poltronas, mesinhas de centro e uma estante de livros realmente cheia. Com certeza eu daria uma passadinha lá antes de ir embora. Harry segurou a minha mão para que eu pudesse acompanhá-los quando encontraram uma mesa livre. Segui o menino, mas não parei de observar o lugar. Um palco baixo fora montado na ponta oposta do balcão, quase no canto da cafeteria, onde dois bancos de madeira, dois pedestais de microfone e dois violões estavam dispostos para quem quer que quisesse se aventurar.
Me senti em um cenário de filme de romance, onde a menina vai tomar uma xícara de café e acaba conhecendo o grande amor de sua vida. A noite de microfone aberto não parecia estar fazendo tanto sucesso quando eu esperava, pois o lugar não estava tão cheio quanto poderia ficar. Ao mesmo tempo me peguei pensando que talvez aquela fosse a clientela regular da cafeteria... Um lugarzinho pequeno e aconchegante para aqueles que apreciam a tranquilidade enquanto aproveitam um bom café. Antes de sentar na cadeira que Harry puxou pra mim, tirei o meu casaco pesado e o pendurei nas costas do assento. Procurei Ed com os olhos, pois ele já deveria estar por ali, considerando o horário.
- %Abi% está ali... – Lou apontou para a menina ruiva que carregava dois copos até uma mesa um pouco mais atrás da nossa. – Niall também.
- E o... – Liam se interrompeu antes de falar o nome do meu ex-namorado, mas eu já havia notado a sua presença. – Desculpa, %Tah%.
- Não se desculpe por isso, Liam! – Forcei um riso como se estivesse tudo bem. Enquanto encarei aquele menino que costumava ser meu, os segundos pareceram se arrastar. Zayn estava lindo, isso eu não podia negar. Usava uma camisa xadrez vermelha por cima de uma branca; o cabelo perfeitamente alto como de costume.
- Será que devemos ir lá dar um oi? – Harry perguntou.
- Pode ir, Haz... – Informei que não sairia do lugar. – Você também, Li. Tenho certeza que está louco pra ir falar com o seu amigo.
- Voltamos logo, tá bem? – Li se levantou e chamou Harry com uma batida em seu ombro.
- Eu vou ficar aqui também. – Lou pulou uma cadeira até estar sentado ao meu lado.
- Lou, não precisa... – Tentei mostrar que ficaria bem sozinha, mas não teve jeito.
- Só estou com preguiça de andar. – Deu de ombros com aquela mentira e trocamos um sorriso.
Não olhei enquanto Liam e Harry se afastavam por estar com medo que os meus olhos azuis cruzassem os amendoados que eu tanto sofria pra evitar. Lou segurou a minha mão por baixo da mesa como se lesse os meus pensamentos e eu sorri para o meu irmão mais velho em agradecimento. Aproveitei que estávamos próximos e encostei a cabeça em seu ombro, fechando os olhos e relaxando ali. Boo bear cuidaria de mim, não importa o que acontecesse; nós estaríamos juntos e ele nunca me deixaria. Recebi um beijo na testa e voltei a enxergar o menino ao meu lado. Imaginei o quanto devia ser horrível pra ele quando era pequeno e tinha que me acalmar durante os meus ataques de pânico. Querendo ou não, quando meus pais começaram a brigar muito, ele era quem tinha que cuidar de mim. Eu podia me lembrar de todas as vezes que papai passava o dia inteiro no plantão e nossa mãe trancada no estúdio... Mesmo com Dorota lá em casa, quem cuidava e tinha responsabilidade sobre mim era meu irmão. Esse era um fardo muito pesado para um menino de sete anos.
- Como o amor de irmãos é lindo! – Uma garota se sentou na cadeira do meu outro lado. – Não fala mais com as amigas, %Star%?
- Hey, %Abi%. – Soltei o meu irmão com um sorriso discreto e puxei a ruiva para beijar-lhe a bochecha.
- Não me babe! – Fez careta e eu ri. – Você está linda. Toda indie...
- Estou vestida para a ocasião. – Pisquei. – Mas você também está.
- Como sempre, né? – Jogou os cabelos ruivos para um lado só, fazendo charme. – Aliás, vamos ter que nos dividir em duas mesas mesmo?
- Eu não me importo de ficar aqui sozinha. – Cortei qualquer ideia que %Abi% pudesse ter de me fazer sentar na mesma que Zayn estava. – Pretendo aproveitar essa noite e não ficar em um clima estranho.
- E eu te faço companhia. – Louis, que estivera lendo o cardápio desde que %Abi% se sentou, falou para nós duas. – Oi, %Abi%.
- Tudo bem, Lou? – Acenou para o menino. – Ok, podemos nos separar em grupinhos e depois revezar. Não tem o menor problema! Só foi uma sugestão.
- Por que não me sugere algo pra beber ao invés disso? – Peguei o outro “cardápio” que estava em cima da mesa.
- Só mais uma coisa... – %Abi% se inclinou na minha direção. – Zayn pediu pra perguntar se ele pode vir aqui te cumprimentar.
- Se ele tem que perguntar, é porque já sabe a resposta. – Eu mesma quase não entendera minha charada.
- Isso foi um sim ou um não? – Começava a se aborrecer.
- Acho que vou pedir esse Cappuccino número três... Com o dobro de chocolate! – Sorri ao imaginar a minha bebida. – O que acha?
- Ótima pedida. – Não foi nem Lou e nem %Abi% quem me respondeu. Um ruivo sentou-se na minha frente, com a cadeira ao contrário.
- Eddy! – Sorri ao ver o professor.
- Eu vou pedir o seu café. – %Abigail% bufou enquanto levantava para ir até o balcão.
- Achei que a minha parceira ia me abandonar hoje. – Ed esticou a mão para receber a minha.
- Eu nunca faria isso! – Segurei a mão dele e o homem beijou as costas da minha. – Estou um pouco ansiosa, mas é normal...
- Sua irmã é uma cantora, sabia? – O ruivo comentou com o meu irmão, que gargalhou um tanto alto.
- Hey! – Empurrei o risadinha pelo ombro.
- Desculpa, %Tah%, mas essa eu só acredito vendo. – Lou se controlou, mas ainda ria. – Ou ouvindo.
- Pois vai ouvir! – Comentei. – Acho que essa noite vai ser inesquecível pra você.
- Claro que vai. – Balançou a cabeça, mas ele não fazia ideia do que eu estava falando.
- Ah, eu não tive oportunidade de te dar os parabéns pela sua apresentação essa manhã, %Tah%. Você foi a melhor, com certeza. – Ed me parabenizou e eu sorri com um leve corar nas bochechas. – Na verdade, acho que foi uma das apresentações mais tocantes que eu já assisti naquela academia.
- Não seja exagerado! Mas obrigada. De verdade. – Mantive o sorriso até que um movimento no palco prendeu o meu olhar.
Uma menina que aparentava ser ainda mais nova do que eu havia subido ao palco. Ela usava um vestido florido e um chapéu preto na cabeça; muito fofo, diga-se de passagem. Trazia consigo um violão marrom e se ajeitou sobre o banco, puxando um dos microfones mais pra perto. Se apresentou, falando que seu nome era Dalia e logo começou a dedicar uma melodia calma que logo reconheci ser um cover de uma música da Rihanna, com a pequena exceção de que era bem mais lenta que a versão original. A voz daquela menina era uma coisa de outro mundo. Se eu pudesse comparar com alguma seria com um pedacinho de algodão, pois era bem o que me lembrava.
%Abi% logo voltou com quatro bebidas nas mãos. Não sei como ela não derrubou tudo no meio do caminho, mas enfim. Recebi o meu cappuccino ainda sem conseguir tirar os olhos de Dalia. Eu quase não piscava, pra ser bem sincera. Comecei a me sentir um pouco arrependida de ter aceitado o convite de cantar com Ed, pois sabia que nunca chegaria nem a sola do sapato daquela menina. Não podia mais desistir, então iria cumprir a minha promessa de qualquer jeito, é só que me senti um pouco amedrontada.
- Meow. – Louis literalmente miou ao meu lado e me fez olhá-lo. – A sua xícara...
- O que tem a minha... Que gracinha! – Olhei para o meu copo e vi do que ele estava falando. Um gatinho havia sido desenhado na espuma e sorri. – Como vou beber isso agora? Estou com pena de destruir! Só vou comer esse pedacinho de chocolate...
- Você tem que colocar o chocolate dentro do cappuccino. E aí ele vai derreter. – Ed explicou. – É muito gostoso.
- Acho que posso provar um pouco... – Fui convencida facilmente e peguei o pedaço de chocolate em forma de colher e o usei para mexer o café.
- Isso mesmo. – O ruivo bebeu do próprio copo e se virou para Louis. – Como vai a banda?
- Estamos recebendo algum convite de colaborações, acredita? – Meu irmão comentou animado. – E temos gravado algumas demos em um estúdio improvisado que Zayn montou na casa dele, mas ainda não sabemos o que fazer com elas.
- Salvem todas em um CD e levem em gravadoras... – Falei ao lembrar de algo que meu amigo Tom, cof cof, me falou. – Com a quantidade fãs pela internet que vocês já tem, vão ser loucos se não quiserem assinar um contrato com vocês.
- Ela está certa, Louis. E eu tenho alguns contatos também, então posso falar de vocês...
- Faria isso, Ed? – Lou perguntou.
- Óbvio que sim. – Afirmou com a cabeça. – Também acho que seja legal gravarem alguns vídeos pra colocar no Youtube... Hoje em dia essa coisa de internet está bem maior do que no meu tempo.
- No seu tempo, Ed? – Ri depois de limpar um pequeno bigode de espuma que se formou acima do meu lábio superior. – Você só tem vinte e dois anos.
- Mas a minha alma é velha, %Tah%. – Até que ele podia ter razão, porque alguém que escrevia músicas como Ed, não podia ter só vinte e dois anos.
- Ei, %Tah%... – %Abi% tocou o meu braço ao me chamar. – Aquela garota ali não é aquela dançarina do X Factor?
- Tem um cabelo grande e bem cacheado? – Perguntei sem arriscar olhar pra trás. – É a Dani. Ela tem saído com Liam desde aquele dia...
- Mas parece que trouxe o namorado! – Cochichou e eu tive que olhar pra ver o que estava acontecendo. – E ele está olhando pra você.
- Esse não é o namorado dela! – Voltei a olhar pra frente de uma vez, não estando muito certa do que fazer.
- Aquele não é o cara da festa? – Lou perguntou com uma risada divertida.
- %Star%, o que você aprontou?! – %Abigail% também se divertia com a minha situação. – Deixa pra lá, ele está vindo aqui. É melhor você se levantar.
Mesmo se eu não tivesse levantado de onde estava, meu irmão e %Abi% teriam me feito passar vergonha do mesmo jeito. Arrumei disfarçadamente a minha saia antes de virar para o menino de olhos cinzentos que realmente vinha na minha direção. O que ele podia estar fazendo ali? Era óbvio que Dani o convidara, mas uma cafeteria como aquela não parecia ser muito o estilo de Joshua. Caminhei até o outro para encurtar a caminhada dele e parei exatamente no meio entre a minha mesa e a mesa onde Liam e Harry estavam. O engraçado é que eu sabia que estava sendo observada dos dois lados.
- %Star%. – Joshua pronunciou o meu nome de forma calma, como se cantarolasse uma bela melodia.
- Joshua. – O imitei, mas não fui tão musical.
- Você está... Diferente. – Acho que o que ele quis dizer foi “não vestida como uma vadia”.
- Uh, é... Na primeira vez que você me viu eu estava passando por uma fase difícil. – Ri, torcendo para que ele compreendesse.
- Deixe-me adivinhar... Terminou um namoro recentemente com aquele garoto de vermelho na outra mesa? – Deu um passo na minha direção pra que pudesse comentar sem ser ouvido por alguém que não fosse eu.
- Como sabe? – Estreitei os olhos.
- É que ele não para de olhar pra cá e quase me xingou quando perguntei onde você estava. – Joshua continuou falando perto demais e comecei a achar que ele estava se divertindo em passar ciúmes em Zayn.
- Então talvez devêssemos sair dessa área de observação. – Passei o braço pelo dele, não me importando em estar ganhando intimidade rápido demais. – Vamos pegar algo pra você beber.
O mais alto também não se importou com o meu toque e logo passou o braço que eu segurara para trás da minha cintura. Não olhei pra trás pra ver a reação de Zayn, mas sabia que ele não iria gostar. Nunca fui daquelas que gostava de ficar fazendo ciuminhos de propósito, mas não vou negar que gostei da sensação. Ambos caminhamos até o balcão dos pedidos e ele estava quase vazio, por isso não precisamos esperar na fila. Josh se distraia olhando os nomes das bebidas em um pseudo cardápio gigante preso à parede e eu passeei o olhar pelo palco onde agora dois meninos cantavam uma música original.
- Quer alguma coisa? – O menino ao meu lado perguntou após fazer o próprio pedido; que, aliás, eu não escutara o que era.
- Não, obrigada. Já tenho uma bebida na mesa. – Afirmei e fomos para a área de espera, onde o barman prepararia os pedidos.
- Não vale pedir pra eu dividir, hein?! – Riu e se apoiou sobre a madeira, mas olhando pra mim. – Você sumiu na sexta. Não consegui mais te encontrar...
- Você é que é um péssimo detetive! – Razoei divertida, cruzando os braços. – Não que eu fosse me lembrar se você realmente tivesse me encontrado...
- Bebeu tanto assim? – Gargalhou mais alto enquanto eu afirmava com a cabeça. – Acredite, ninguém se esquece do Joshy aqui.
- Tenho certeza que não... Joshy. – Foi a minha vez de achar graça.
- Era pra ser sexy! – Bagunçou os cabelos com a mão direita, o que me fez parar de rir e morder o lábio.
- Isso sim foi sexy. – Admiti.
- Aqui, mate. – O bartender bonitinho entregou uma taça para o meu acompanhante e logo voltei a rir.
- Você vem em uma cafeteria pra tomar Milk Shake? – Entortei o nariz. – Durante o inverno?
- Obrigado, cara. – Josh agradeceu e deu um longo gole no doce antes de se virar pra mim mais uma vez. – O que posso dizer? Gosto das minhas bebidas como gosto das minhas mulheres... Doces e geladas.
- E eu gosto do meu chá como gosto dos meus homens. – Também entrei na brincadeira. – Quentes e britânicos.
- Touché. – Tirou o copo do balcão e se virou para as mesas. – Podemos sentar?
- Você quer sentar comigo ou com a Dani? – Olhei na direção das duas mesas. Todos que estavam sentados comigo anteriormente se mudaram para a mesa onde os outros estavam.
- Por mais que eu fosse adorar provocar o seu ex, prefiro sentar com você.
- Ótimo.
Então estava decidido. Nós dois caminhamos pelas mesas vazias e ocupadas por pessoas que chegavam cada vez mais rápido. Retiro o que disse anteriormente, pois a cafeteria começava a encher. Uma vez na nossa mesa, sentei no meu lugar de origem e Josh sentou ao meu lado; onde Louis sentara inicialmente. Bebi o meu cappuccino novamente, que estava um pouco mais frio, mas ainda era bebível. Eu gostava da companhia de Joshua e sabia que era invejada por meninas que possivelmente queriam estar no meu lugar. Ele era bonito sim, até demais, mas ainda não conseguia me sentir atraída por ele. Peguei um pedaço de papel que devia ter sido posto em cima da mesa quando saímos, pois não me lembrava de tê-lo visto lá. Corri os olhos rapidamente, constatando que se tratava de um quiz. Um passatempo para entreter os clientes. Vários poemas e citações estavam escritos para que definíssemos os autores de cada um.
- Isso aqui parece legal. – Coloquei a minha xícara no pratinho que a acompanhava e li a primeira linha: - “Seja a mudança que quer ver no mundo.”
- Gandhi. – Josh respondeu com a boca cheia de Milk Shake, quase babando, tamanha a sua pressa em responder.
- Esse foi fácil! – Ri, escolhendo um mais difícil: - “Não foi na minha orelha que você sussurrou, e sim no meu coração. Não foram meus lábios que beijaste, e sim a minha alma.”
- Mais fácil ainda! – Afirmou. – Judy Garland. Gosto de alguns poemas dela.
- Não acredito que você conhece poemas! – Nos dias de hoje era muito raro encontrar alguém que gostasse de poemas, quem diria um menino.
- Gosto de qualquer tipo de literatura. – Sorriu com a minha surpresa, provavelmente acostumado a receber muitas reações como a minha. – Quer ouvir um?
- É claro que sim! – Deixei o papel de lado e me apoiei na mesa, prestando atenção em Josh.
- Ouço-te na angustia de teus passos,/ no silêncio de teus lábios,/ na ausência de teus gritos,/ na solidão de teu cansaço./ Compreendo-te na mensagem de teus olhos/ ao contestar mentiras/ na confusão de teus sentidos/ a sondar meu infinito. – Joshua também deixou a própria bebida de lado para recitar aquele poema como se fizesse uma confissão. Escutei atentamente, presa pelos olhos cinzentos e quase prateados do menino. – Vejo-te nos hábitos,/ nos costumes,/ nos valores emergentes,/ tão sutis e diferentes,/ de tantos que já vi.
- Isso foi lindo... – Suspirei, ainda pensando naquelas palavras. – Você tem que escrever esse poema pra eu guardar!
- Ou se me der o seu telefone, eu posso te passar por mensagem esse e outros.
- Que ótimo jeito de pedir o meu número. – Ri baixo, entendendo a indireta dele.
- Também achei que fosse. – Deixou uma risada rouca escapar seus lábios e voltou a bagunçar o cabelo, rebelde.
- %Tah%, vamos? – Ed interrompeu no momento exato que deveria e esticou a mão na minha direção.
- Já vai embora? – Josh questionou após sorrir educado para Ed.
- Não... Vou testar um de meus muitos talentos. – Avisei e aceitei o gesto do ruivo, colocando a minha mão na dele.
O homem que estivera cantando anteriormente recebeu os seus aplausos e então deixou o palco para trás. Bem a tempo, Ed me guiou até lá, perguntando se eu estava tranquila e etc. Respondi que sim com um aceno de cabeça, dando a ele um voto de confiança. Além de ser meu amigo, ele era um professor prestigiado, então devia saber o que fazia. Nunca fui do tipo cantora, mas as noites de karaokê e os ensaios de canto na Academy deviam ter servido para alguma coisa. Edward pegou o segundo banco e o colocou ao lado do dele, indicando que eu deveria me sentar. O obedeci, claro, e arrumei a minha saia comprida para que ela ficasse no lugar certo. Cruzei as pernas e apoiei um dos pés na pequena barra de madeira do banco, visto que não alcançava o chão ali de cima.
O meu parceiro logo arrumou a altura do meu microfone e fez o mesmo com o dele, sentando-se ao meu lado. A diferença entre nós é que ele estava com um violão no colo. Olhei pra frente, colocando a minha trança para o lado esquerdo do pescoço. %Abi% acenava na minha direção, animada. Louis ria de algo que Harry falara, mas os dois estavam do meu lado. Liam também me estudava atentamente e Dani prestava mais atenção nele do que em qualquer coisa. Niall conversava com Zayn, mas não arrisquei olhar para esse último. Finalmente voltei a encarar Joshua, que levantou o seu Milk Shake na minha direção, como uma espécie de brinde. Balancei a cabeça negativamente, rindo em resposta.
- Está pronta? – Ed perguntou com um sorriso animado no rosto e eu afirmei que sim com a cabeça, dando-o a deixa que precisava pra começar a dedilhar as cordas do instrumento.
All I knew this morning when I woke…
(Tudo que eu soube essa manhã quando acordei)
Is I know something now,
(É que eu sei ago agora)
Know something now I didn't before.
(Sei algo agora que não sabia antes)
And all I've seen since eighteen hours ago…
(E tudo que eu vi, desde dezessete horas atrás)
Is green eyes and freckles and your smile.
(São olhos verdes e sardas e o seu sorriso)
In the back of my mind making me feel like…
(No fundo da minha mente, me fazendo sentir como…) Respirei fundo e simplesmente deixei que as palavras deixassem a minha boca. Me inclinei levemente sobre o microfone e nem percebi quando meu pé começou a se mexer no mesmo ritmo da música. Comecei olhando pra baixo, ainda um pouco sem jeito, em seguida olhando para Ed, buscando alguma aprovação ou reprovação. O homem sorria orgulhoso do que me ensinara e acabei rindo um pouco sem parar de cantar. Aquilo podia ser divertido... Fitei a plateia na minha frente. Não eram todos que me olhavam, mas a porção atenta estava sendo agradada pelo que ouvia.
I just want to know you better, know you better, know you better now… {4x}
(Eu só quero te conhecer melhor, te conhecer melhor, te conhecer melhor agora)
'Cause all I know is we said "hello".
(Porque tudo que eu sei é que dissemos “olá”)
And your eyes look like coming home.
(E os seus olhos parecem com ir pra casa)
All I know is a simple name…
(Tudo que eu sei é um simples nome)
Everything has changed.
(Tudo mudou)
All I know is you held the door.
(Tudo que eu sei é que você segurou a porta)
You'll be mine and I'll be yours.
(Eu serei seu e você será meu)
All I know since yesterday…
(Tudo que eu sei desde ontem)
Is everything has changed.
(É que tudo mudou) Nos juntamos para cantar aquele refrão e a nossa voz se juntou em uma melodia natural. Lembro que Ed falou -durante um de nossos ensaios- que eu tinha mania de esconder a minha voz quando a dele entrava na música, então devia prestar atenção nisso. Pude sorrir mais uma vez por não ter sobreposto e nem escondido a minha voz, mantendo as duas no mesmo volume. Minhas orbes teimosas foram diretamente para a pessoa que eu vinha evitando olhar quase a noite inteira. Zayn. Ele estava cabisbaixo, como se sentisse uma dor muito grande ao me escutar. Aquilo me incomodou. %Abi% percebeu que eu estava encarando-o e deu uma pequena cutucada só pra que o menino pudesse me olhar de volta. Pensei em olhar para qualquer outro lugar, mas mais uma vez meus olhos não me obedeceram. Cantei as últimas linhas do refrão com o olhar conectado ao dele. Zayn abriu um sorriso calmo e eu sabia exatamente o que ele queria me falar. Mesmo depois de tanto tempo separados ainda conseguíamos nos entender por olhares e sorrisos. Em resposta, dei o braço a torcer e sorri de volta.
And all my walls stood tall, painted blue.
(Todas as minhas paredes se manteram altas, pintadas de azul)
I'll take 'em down, take 'em down
(Eu vou abaixá-las, vou abaixá-las pra você)
And open up the door for you.
(E abrir a porta pra você)
And all I feel in my stomach is butterflies, the beautiful kind,
(E tudo que eu sinto no estômago são borboletas, do tipo bonito)
Makin' up for lost time, taking flight making me feel like.
(Fazendo contar pelo tempo perdido, tomando vôo, me fazendo sentir como... Foi a vez do solo de Ed e apenas fiquei olhando enquanto ele cantava. A sua voz era realmente bonita e eu estava feliz em ter sido escolhida para cantar ao seu lado naquela noite. Continuei movendo o pé, com as mãos apoiadas em meu colo. Não havia necessidade alguma de segurar o microfone, pois ele estava bem colocado na minha frente. Um assovio chamou a minha atenção; era Josh. Ninguém reclamou daquele chamado e nem foi alto tão alto assim, capaz de atrapalhar a nossa apresentação. Ele balançou um guardanapo com algo escrito, mas não consegui ler do que se tratava. Colocou-o no bolso do meu casaco que ainda estava pendurado na cadeira e eu fiz uma expressão meio confusa, o que o divertiu ainda mais.
Come back and tell me why…
(Volte e me diga porque)
I'm feeling like I've missed you all this time.
(Eu sinto como se sentisse sua falta esse tempo todo)
And meet me there tonight,
(E me encontre lá esta noite)
Let me know that it's not all in my mind…
(Me deixe saber que não é tudo da minha mente)
I just want to know you better, know you better
(Eu só quero te conhecer melhor, te conhecer melhor)
Know you better now...
(Te conhecer melhor agora)
+++ - Eu já volto, tá bem? – Pedi licença a quem estava na mesa junto comigo.
Deixei Louis e Joshua conversando animadamente enquanto %Abi% se levantava para ir até a mesa do próprio namorado. Eu havia bebido mais duas xícaras de café além do meu cappuccino, então não suportava mais ficar sentada sem fazer nada. Ninguém me impediu quando saí costurando entre as mesas e cheguei naquela parte ao lado do balcão onde ficavam os livros e poltronas. Fui direto para a estante, sorrindo com uma placa que dizia: “Esses livros precisam de um novo lar.” Ou seja, eu poderia escolher qualquer um deles para levar pra casa, assim, sem pagar nada. Outra coisa engraçada é que todos eles estavam embalados com um papel grosso que não nos deixava ver o conteúdo. A única coisa que me dava dicas sobre o conteúdo das peças literárias eram os comentários que os antigos donos deixavam escritos naquele mesmo papel. “Romance”, “Só leia se quiser chorar” e “Mudou a minha vida” são alguns exemplos.
- Escolhendo algo pra ler? – Eu sabia exatamente quem era aquela pessoa que se aproximara sorrateiramente.
- Sempre. – Respondi com um sorriso educado, sem me virar para encará-lo. – Só está difícil escolher.
- Posso recomendar um? – Zayn perguntou, ficando ao meu lado, e eu só afirmei que sim com a cabeça. – Esse aqui.
- Não é justo... – Segurei o livro que me foi entregue e antes mesmo de ler o que estava escrito, reconheci a caligrafia. Era a mesma que estava marcada permanentemente na minha pele; a letra de Zayn. – Você já sabe que livro é esse!
- Por isso mesmo! Acho que vai gostar dele. – Afirmou sem tirar os olhos de mim. – O cara não morre no final.
- Não sei se ainda confio nos seus spoilers. – Acabei rindo daquele comentário e o olhei. Duas pessoas podem conversar civilizadamente, certo?
- Vai ter que ler pra descobrir. – Seu sorriso parecia ainda mais lindo do que eu me lembrava. Ao ver que eu não sabia mais o que falar, Zayn continuou. – Quem é aquele cara que está sentado com você?
- Um amigo. O conheci em uma festa sexta-feira. – Comentei sem muita emoção, olhando para Josh ao longe. – A festa era dele, na verdade.
- Hm, sei... – Enfiou as mãos nos bolsos, visivelmente enciumado. – E vocês...
- Não, não... – O corrigi com mais pressa do que deveria. – Só estamos nos conhecendo.
- Eu assisti o seu teste hoje... – Mudou de assunto, atraindo o meu olhar novamente. – Você estava linda.
- Você gosta de me ver dançar. – Sorri verdadeiramente. Alerta vermelho! Minhas paredes começavam a ser abaixadas...
- Gosto. – Sorriu da mesma forma. Pelo que eu conhecia dele, devia estar sendo difícil não me tocar.
- E eu gosto de te ouvir cantar. – Se ele entendesse o que eu queria dizer, saberia que gostei da “homenagem” de mais cedo. – Tenho que ir... O Harry vai cantar.
Zayn só afirmou com a cabeça e eu dei as costas pra ele. Não sei exatamente o que o menino fez assim que afastei, mas sabia que estava feliz. Talvez com um pouco de esperança... Mas não era o que eu queria. Tivemos nossa primeira conversa civilizada, mas era só isso. Uma conversa de colegas. Com o livro que ganhara embaixo do braço, voltei para a mesa a tempo de ver Harry subindo ao palco. Louis estava ao meu lado novamente e perguntou com o olhar se eu sabia o que estava acontecendo. Mesmo sabendo exatamente o que Harry faria, neguei. O menino de olhos verdes parecia meio tímido ao pegar o violão e se sentar em um dos bancos que continuavam ali em cima.
- Boa noite... Meu nome é Harry Styles. – Hazza se apresentou daquele jeito calmo de sempre. – Uhn, eu precisava de um jeito pra contar à pessoa que eu gosto sobre os meus sentimentos... E uma amiga me deu a ideia de cantar tudo aquilo que eu não consigo falar. Ok... Lá vai...
Now you are standing there right in front of me.
(Agora você está parado aí, bem na minha frente)
I hold on, it's getting harder to breathe.
(Eu me seguro, está ficando dificil pra respirar)
All of the suddenly these lights are blinding me.
(De repente essas luzes estão me cegando)
I never noticed how bright they would be…
(Eu nunca notei o quão brilhantes elas seriam)
I saw in the corner, there's a photograph.
(Eu vi no canto, há uma fotografia)
No doubt in my mind it's a picture of you.
(Não há dúvidas na minha mente, é uma foto sua)
That lies there alone in its bed broken glass.
(Que descansa lá sozinha, na sua cama de vidro quebrado)
This bed was never made for two…
(Essa cama nunca foi feita pra dois)
I'll keep my eyes wide open…
(Eu manterei meus olhos bem abertos)
I'll keep my arms wide open…
(Eu manterei beus braços bem abertos) Desde a primeira palavra daquele verso até a última me senti arrepiada. Harry dedilhava devagar, quase não tirando som algum do violão. Parecia que a cafeteria inteira tinha parado o que estava fazendo só pra prestar atenção nele. Mesmo que não tivesse nenhum holofote ou luz focalizada exatamente em cima de Haz, eu podia ver seus olhos verdes brilhando. Ele estava apaixonado e estava cansado de esconder. Tinha mais é que gritar pro mundo inteiro ouvir! Eu sabia que estar gostando de um garoto ainda o assustava um pouco, mas todos que o amavam não o tratariam diferente por causa disso. Eu com certeza não mudaria. Mordi o meu polegar tamanha era a minha animação. Olhei para Lou, que parecia ter esquecido de respirar. Ele sabia que aquilo era pra ele.
I promised one day that I'd bring you back a %Star%.
(Um dia eu te prometi que traria de volta uma estrela)
I caught one and it burned a hole in my hand.
(Eu peguei uma e ela queimou um buraco em minha mão)
Seems like these days I watch you from afar.
(Parece que nesses dias eu te vejo ao longe)
Just trying to make you understand.
(Apenas tentando te fazer entender)
I'll keep my eyes wide open…
(Eu deixarei meus olhos bem abertos)
Don't let me…
(Não me deixe)
Don't let me…
(Não me deixe)
Don't let me go.
(Não me deixe ir)
Cause I'm tired of feeling alone.
(Porque estou cansado de me sentir sozinho)
Don't let me…
(Não me deixe)
Don't let me go.
(Não me deixe ir)
Cause I'm tired of sleeping alone.
(Porque estou cansado de dormir sozinho)