Capítulo LXVIII
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Admito que estar em cima do palco enorme da Opera House foi mais gostoso do que eu esperava. É claro que o lugar estava vazio – se ignorarmos os outros alunos que também passeavam por ali – e o cenário ainda não estava totalmente montado, mas isso são detalhes que podemos ignorar. Naquela sexta-feira, a diretora Agnes e Colin organizaram uma espécie de excursão para que nós pudéssemos nos familiarizar com o lugar onde estaríamos nos apresentando dali a exatamente uma semana. Todos os participantes da peça foram divididos em grupos e cada um teria o seu próprio horário para conhecer as instalações do local, para que não houvesse bagunça caso fossemos todos de uma vez. Devo dizer que fui particularmente sortuda em ter sido escalada para o horário da tarde, o que me rendeu preciosas horas de sono durante a manhã. No meu grupo estavam também: %Abi%, Niall, Zayn, Nick, Sean, Gwen, Kim, Matthew e Brigitte. Os quatro penúltimos já tiveram alguns ensaios comigo, mas nosso relacionamento era estritamente profissional.
Tivemos um período de quinze minutos para conhecermos o local inteiro, mas isso só me manteve entretida durante os cinco primeiros. Enquanto Nick sumiu por aí com a professora/namorada, não me senti a vontade para passear pelo backstage ao lado de %Abi%, Niall e Zayn. Eu e esse último estávamos nos falando, mas não saia do básico. Eu preferia ignorar os olhares que ele lançava na minha direção e geralmente respondia suas perguntas com sim ou não. Em outra época eu teria segurado as lágrimas ao olhar pra ele e praticamente desmoronado com o mero toque de nossos braços, mas naquele dia estava sendo bem diferente. Pois é, eu continuava com a minha atitude de “não ligo pra nada” – ou quase nada – e me apegava a ela cada vez mais. Decidindo ficar sozinha mesmo, sentei na segunda fileira de cadeiras, com os pés apoiados na cadeira na minha frente e o fone de ouvido enfiado nas minhas orelhas. Enquanto escutava uma música relativamente alta e gritante, senti alguém cutucando o meu ombro.
- É melhor ser importante. – Bufei, tirando um dos fones da minha orelha.
- Receio que seja. Preciso dar os últimos retoques daquela menina ruiva e dos outros dois que estão com ela... – Era Margot que me perturbava. – Como você não está fazendo nada, poderia chamá-los pra mim, por favor?
- Tenho mesmo? – Respirei fundo entediada. A velha, digo, senhora, afirmou que sim com a cabeça e deu meia volta. – Ok, ok!
Desliguei a minha música e enfiei o pequeno iPod de qualquer jeito na mochila, deixando-a jogada no banco mesmo. Eu já tinha que ir atrás de três pessoas em um lugar ENORME, o que menos queria era ainda ter que carregar peso. Com preguiça de ter que dar a volta na fileira de cadeiras, resolvi pular por cima do banco em minha frente, sem me importar de pisar no estofado delicado e avermelhado que parecia tão limpo antes de receber a sola dos meus sapatos. Notei que algumas pessoas por ali observavam a minha falta de zelo, mas o meu olhar duro fez com que ninguém se aproximasse para reclamar. “Melhor assim.”
Passei pelo caminho que levava até a porta escondida do backstage e passei sem pedir licença. Sean, que faria o papel do meu pai na peça, me informou que vira os meus três amigos na direção dos camarins e foi pra lá que eu rumei. A parte de trás do palco era bem maior do que eu poderia imaginar. Havia salas e mais salas, um segundo andar, escadas que desciam e subiam... Era uma verdadeira bagunça, mas pelo menos tudo era bem sinalizado e placas mostravam o caminho que eu queria seguir. Algumas tábuas frouxas rangiam baixo enquanto eu passava, mas não dei muita importância. O resto do assoalho em geral era bem firme e encerado; um verdadeiro luxo. Cheguei na área dos camarins mais rápido do que eu esperava. Dois deles estavam abertos e vazios, o que me mostrava que meus amigos só poderiam estar no terceiro. Girei a maçaneta, mas parei ao escutar o meu nome. Eles deviam estar falando sobre mim lá dentro, por isso abri apenas uma fresta para que eu pudesse escutar.
- Ed me disse que a %Star% estava doente, mas ela não parece... – Zayn comentou.
- Isso é porque ela realmente não está doente. Só disse isso pra fugir dos ensaios. – %Abi% me entregou e fiz uma careta de tédio.
- O que está acontecendo com ela? – Zayn mais uma vez questionou.
- Ela está agindo assim desde que conversou com Brigitte. – Niall foi quem explicou e dessa vez sorri com orgulho de mim mesma.
- Como é que é? Ela conversou com Brigitte? – O moreno era surdo ou o que?!
- “Conversar” não é bem o termo. – %Abi% riu. – Digamos que a oxigenada venha merecendo escutar umas verdades há um tempo e a %Tah% falou tudo que nenhum de nós nunca falou.
- Você devia ter visto, Zayn, a %Star% foi incrível. – Foi a vez do loiro de rir. – Tirando a parte que ela quase nos fez ir para a cadeia!
- Cadeia? – Zayn repetiu. Sério, alguém dá um cotonete pra esse menino.
- Ugh, nem me lembre disso! – %Abi% arfou e eu segurei uma risada. – E depois ainda fomos expulsos de um bar de sinuca. Você tem noção do quão louca a pessoa precisa ser pra ser expulsa de um bar desses?!
- Pff. – Bufei baixo, ainda sem ser notada espiando atrás da porta. Fala sério, eu não tinha feito nada demais! Só por ter atrapalhado alguns jogos, quebrado uma garrafa de whisky com mais de cinquenta anos de idade e discutido com uma garçonete eu sou louca?!
- Aliás, onde você estava ontem? Sumiu o dia inteiro. – Ni o questionou.
- Uh, eu só... Ando ocupado... Tem algumas coisas que eu preciso resolver. – Não vou mentir e dizer que não fiquei minimamente curiosa, mas logo deixei isso pra lá. Eu não tinha mais nada a ver com os afazeres do meu ex-namorado.
- Você ainda vai fazer o que disse na entrevista? – %Abigail% suspirou.
- O que? Quando falei que vou fazer de tudo pra tê-la de volta? – Perguntou, e %Abi% deve ter afirmado com a cabeça, pois ele logo continuou: - Vou sim. Agora mais do que nunca.
Nesse instante eu parei de ouvir e me virei para ir embora. Não queria mais escutar aquela conversa e também não fiz questão de avisar a eles que Margot os esperava. De repente senti um pouco de raiva de Zayn. Quem ele achava que era pra pensar que poderia me ter de volta assim tão fácil? Que eu soubesse, ele não estava fazendo grande coisa para conseguir as minhas desculpas. A verdade é que eu não queria que ele me tivesse de volta. Eu não queria voltar, porque isso significaria ter que sentir, pensar, me preocupar com todas as coisas que eu deixara pra trás desde a discussão com Brigitte. E, acredite, não me importar doía bem menos.
No meu trajeto de volta para o salão foi um tanto apressado. Sean me perguntou se eu havia encontrado quem procurava, mas não lhe dei atenção suficiente para formular uma resposta. Apenas segui em passos longos até estar novamente passando pela porta que me levaria à frente do anfiteatro. Eu não ficara ausente por mais de dez minutos, mas o cenário do palco estava consideravelmente diferente. Onde antes estava uma fonte que era mais leve do que aparentava, agora estava a tão famosa sacada de Romeu e Julieta. É claro que o elemento cenográfico não era de pedra como o original, mas aparentava ser tão alto quanto. A pintura, por outro lado, fazia jus aos mínimos detalhes; o que também incluía algumas plantas artificiais e a trepadeira pela qual Nick teria que escalar.
- E então? – Margot me tirou das minhas observações.
- Não encontrei nenhum dos três. – Menti com um aceno de ombros. Eu estava me tornando convincente.
- %Star%! %Star%, venha cá... – Colin estalou os dedos três vezes enquanto me chamava.
- Já vou! – Mas será possível?! Uma pessoa não pode ter um minuto de calma? Respirei fundo e fui em direção ao palco, procurando uma escada ou qualquer coisa que pudesse me ajudar a atravessar o “buraco” onde a orquestra ficaria durante o espetáculo. Apenas encontrei uma tábua de madeira e tratei de me equilibrar sobre ela.
- %Tah%, você vai cair... – Nick me esperava na outra ponta da tábua, com as mãos estendidas para me receber.
- Oh, Romeu! Não me deixas cair, meu Romeu. – Parei no meio da tábua, dramatizando e encostando as costas da mão direita à testa.
- Dê-me vossa santa mão, Julieta. E deixa-vos cair, nunca irei! – Sorriu e esticou mais a mão, até que eu caminhasse até ele e nossos dedos se encostassem.
- Tu me salvaste! – Disse assim que fui praticamente levitada até o centro do palco, pois Nicholas demonstrou a sua força ao segurar a minha cintura com a mão que estava livre e me carregar até ali.
- Eu sentirei saudade de vocês dois. – Colin nos observava e parecia um tanto melancólico. – Mas não é a hora para despedidas. Ainda. Bem, vamos ao que interessa. %Star%, pode subir na sua varanda.
Obedeci aquele comando com muito agrado, pois estava curiosa para ver como era tudo ali em cima. Enquanto o diretor e Nick conversavam alguma coisa que eu já não podia mais escutar, me perdi atrás das cortinas da lateral direita do palco. Ali atrás, nas coxias, não foi difícil encontrar a escada improvisada que levava até o cenário da varanda. Chegando lá em cima, me senti levemente zonza. O lugar era quase da mesma altura que o segundo andar da minha casa, mas era algo que eu havia de me acostumar. A sacada em si tinha pouco mais de dois metros de comprimento, o que me dava bastante espaço para caminhar.
Me movimentei e dei alguns giros, simplesmente para me divertir; sem falar que estava me sentindo a verdadeira Julieta. Nick estava vestindo uma calça jeans, mas os pés estavam calados com uma sapatilha preta, por isso ele se movia pelo palco enquanto dançava o seu solo. Colin o vigiava e Holly assistia tudo de uma cadeira na plateia, gritando de lá mesmo algumas dicas ou lembretes do que o aluno/namorado deveria fazer para melhorar o seu desempenho. Minha atenção foi puxada para um ponto do anfiteatro – mais precisamente naquela bendita porta escondida que levava até o backstage. Uma garota ruiva com um vestido que parecia ter o dobro do peso dela, um loiro e um moreno com calças de lycra e uma camisa de mangas compridas entraram ali. Tive que rir, porque Niall parecia realmente incomodado com aquele seu figurino.
- Eu tenho mesmo que usar essa meia calça? – Ele fazia caretas, puxando o tecido e em seguida soltando-o.
- Não fique assim, Nialler! – Fui até a ponta da sacada, me inclinando para olhá-los. – Essa calça deixa a sua bunda maior!
- Muito obrigado, %Star%. – Olhou para os lados com os braços cruzados, mas, ao não conseguir me achar, acabei rindo. – %Star%?
- Aqui em cima, idiota. – Avisei. %Abi% já tinha me visto e eu desconfiava que Zayn também, mas não olhei pra ele em busca de confirmação.
- Como você chegou aí em cima? – O loiro fazia jus à sua coloração de cabelo e %Abi% o deu um tapa na parte de trás da cabeça. – Outch, o que é?!
- Ela subiu pela escada, Niall. – Zayn abriu a boca e meu olhar acabou encontrando o dele.
- Pelo menos alguém tinha que ter mais de dois neurônios. – Sorri de canto. Mas não um sorriso que dizia que éramos melhores amigos, apenas um sorriso que fazia jus a minha piada. – Ou quase isso.
- Psiu. – Um chamado atrás de mim me fez virar sem esperar a resposta. Era Nick, que já havia escalado a trepadeira artificial. – Você ainda é minha.
- Romeu ciumento! – Ri e fui até ele, deixando meus amigos para trás. – Oi.
- Temos que beijar agora. – Nick piscou; ato que só eu consegui ver.
- Assim? Nem um jantar antes? Ou um cortejo, no caso? – Ri, começando a me inclinar sobre ele. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde teríamos que trocar um beijo, já que nos outros ensaios, o diretor gritava “corta” bem no momento em que nossos lábios estavam prestes a se encostar. Naquele dia, porém, eu me encontrava bem mais acostumada a essa ideia. – Ou talvez em um lugar mais vazio?
- Você quer dizer um lugar onde o seu ex-namorado não esteja assistindo? – Nick cochichou com um sorriso provocador.
- Ele está olhando? – Perguntei no mesmo tom.
- Não tira os olhos daqui desde que eu te chamei. – Olhou para a plateia de soslaio, mas não fiz o mesmo.
- Ótimo! – E com essa última palavra, segurei Nick pelas laterais do rosto e o puxei para um beijo. Não foi nada mais que um toque leve de lábios, mas sabia que seria o suficiente para incomodar Zayn.
+++ - Porque ele está preso? – Harry apareceu na varanda de casa, completamente coberto dos pés a cabeça. Pelo menos quando estava nevando ele evitava ficar andando pelado por aí.
- Ele não está preso! – Eu estava sentada na neve onde costumava ser o gramado da minha casa, com %Patch% pulando na minha frente e rolando no gelo até que seu pelo ficasse cheio de flocos de neve. – Só está na coleira, porque eu acho perigoso soltar...
- Mas ele não fugiria. – O menino alto se sentou ao meu lado, quase tombando para trás, o que me fez rir. – Fugiria, %Patch%?
- Não quero fazer o teste. – Respondi calmamente enquanto o cachorro corria para pular em cima das pernas de Haz. Eu até podia estar em uma fase “não ligo pra porra nenhuma”, mas arriscaria o meu filhote; de jeito nenhum.
- Por favor, %Tah%? Deixa ele correr por aí... Ser livre! – Brincava com o animal, tentando pegar as patinhas dele.
- Harry, %Patch% é muito independente. Sem falar que é bem mais rápido que a gente. Se soltarmos ele, nunca mais o pegamos. – Expliquei enquanto fazia um montinho de neve na minha frente. – Ele pode nos seguir pela casa, mas já tentou chamá-lo contra a vontade dele? É uma missão impossível.
- Eu prometo que consigo pegar ele de volta... – Parecia não querer deixar essa ideia de lado até que eu concordasse. Rolei os olhos e o encarei. Aqueles olhos verdes bem abertos, tentando me convencer.
- Tudo bem, Hazza... Mas você pega ele! – Bufei baixo, me dando por vencida. Acabei rindo com a felicidade de %Patch% ao ser libertado da correia.
- Viu? Nada de ruim está acontecendo... – Sorriu orgulhoso da sua ideia, mas essa felicidade toda pareceu não durar muito. – %Patch%, onde você está indo?
- Ele vai correr! Não faça movimentos bruscos! – Tudo aconteceu tão rápido que nem tive tempo de falar “eu avisei”. Harry não me obedeceu e se levantou.
O cachorro entendeu aquilo como uma brincadeira de perseguição, como se ele devesse correr e Harry fosse atrás dele. %Patch% então correu em disparada, dobrando na calçada e quase sumindo do meu campo de visão. Haz foi atrás do pequeno e eu não fiquei para trás. Os dois corriam bem mais rápido que eu, mas isso não me impediu de pelo menos tentar. Eu não devia ter entrado naquela onda e nunca devia ter aceitado soltá-lo da coleira. Apesar de estar ganhando tamanho e peso, %Patch% ainda era um filhote e por isso as suas ideias e atitudes eram de uma criança de cinco anos. Ele não conhecia os perigos de correr para o meio da rua e ser atropelado por um carro. A sorte é que aquele fim de tarde de sexta-feira estava calmo.
Por mais que Harry gritasse, o cachorro não o obedecia e continuou correndo até dobrar a esquina. Pensei em ligar para Liv, pois aquele era o caminho da casa dela e, se fosse o suficientemente rápida, poderia entrar na frente e pegá-lo antes que pudesse fugir de novo. Entretanto, duvidei que tivéssemos tempo pra isso. A falta de ar logo apertou os meus pulmões quando o vento gelado tinha trabalho para entrar pelas minhas narinas. Eu precisava arrumar uma forma de pará-lo. Parei de correr, respirando fundo e juntando todas as minhas forças em uma coisa só.
- %Patch%! – Gritei. No meu tom havia mais que um chamado; aquilo era uma ordem. Por mais incrível que pareça, o cachorro parou onde estava e olhou pra mim. – Aqui!
- Você viu isso? – Harry perguntou, claramente divertido. – Ele parou! E agora está vindo pra cá...
- Bom menino. – Sorri ainda sem acreditar e me ajoelhei, batendo no chão para que ele viesse ao meu encontro.
- Mas eu também o chamei! – Encurtou a distância entre nós assim que o cachorro já estava em meus braços. – Por que ele não me obedeceu?
- Acho que ele sabe quem manda nessa casa. – Ri, apertando o filhote contra mim. Seu nariz gelado tocou a pele do meu pescoço, causando um pequeno calafrio. Eu estava mais tranquila agora que o tinha perto. – E você... Nunca mais invente uma coisa assim!
- Desculpa... Eu achei que ele não fosse correr. – Passou a mão pelos cachos castanhos e os empurrou para trás; o que não durou muito, já que os fios rebeldes logo voltaram para o lugar.
- Não tem problema, mas da próxima vez escute o que eu estou falando, ok? – O puxei pelo braço para que pudéssemos andar de volta para casa.
- Claro que sim. – Me envolveu pelos ombros, nossas alturas ficando mais diferentes agora que estávamos lado a lado. – Você não contou como foi lá na Opera House...
- Foi bem legal, Harry! – Sorri, olhando para o chão na nossa frente. – Os cenários são magníficos! E terminei de ver os meus figurinos hoje... AH! O Niall vai ter que usar aquelas meias-calças coladas, sabe? Todos vão, na verdade... Mas ele ficou bem engraçado.
- Você tirou alguma foto? – Ouvi sua gargalhada rouca e o olhei. – Eu preciso ver isso!
- Infelizmente não! – Também ri, fazendo carinho no pelo de %Patch% e tirando algumas sujeiras. – Mas você vai poder ver no dia da peça. Vai assistir, né?
- Não perderia por nada. Eu e os meninos já compramos os nossos ingressos, só falta esperar chegarem pelo correio.
- Yay!
O meu nervosismo logo desapareceria quando eu me concentrasse em todas as pessoas queridas que estariam na plateia, me assistindo. Meu pai e Rachel também compraram seus ingressos, mas preferiram ir até a bilheteria mesmo. Quanto a meus tios e avós, eu achava mais difícil que fossem me assistir, mas não duvidava nada que papai tivesse comprado ingressos para a família inteira. Também havia convidado Dan, minha mãe e nana, mas não podia esperar que eles largassem tudo em Paris só pra vir assistir uma apresentação de ballet, por maior que fosse.
Terminamos o caminho até a nossa casa conversando sobre mais coisas que me alegravam, mas que confundiam Harry. Ter que explicar a diferença entre três sapatilhas de ponta não foi a tarefa mais fácil do mundo, mas fiz o que pude. Eu sabia que ele não estava nem um pouco interessado nesse assunto, mas me deixava falar simplesmente porque sabia a importância que tinha pra mim. Harry me observava enquanto eu explicava tudo e me olhava como se eu fosse a pessoa mais importante do mundo. Esse era um dos motivos que eu mais gostava de conversar com ele, pois Haz se entregava inteiramente ao momento e você tinha certeza que ele não pensava em mais nada que não fosse aquele assunto do momento.
- Aí estão vocês! – Liam nos esperava na porta, mas não arriscou sair de casa. Suas roupas não eram tão grossas assim, então ele estaria mais protegido ali dentro mesmo.
- Tem algo errado? – Questionei com uma sobrancelha levantada, observando-o guardar o celular de volta no bolso. Eu tinha um pouco de trauma com ligações misteriosas e noticias ruins.
- Não, não... – Li sorriu, suas bochechas corando levemente. – Dani ligou e...
- Dani ligou? Hmmmmmmmmmmmmm. – Brinquei. – Então vocês estão se dando bem, huh?
- Ela é bem legal, %Tah%. Mas nada aconteceu! – Riu ainda envergonhado e nos deixou entrar na casa. – Ainda...
- %Star%, deixa o menino falar! – Lou me interrompeu, descendo as escadas.
- Falar o que? – Coloquei %Patch% no chão e me voltei para o menino.
- Dani nos convidou para uma festa hoje, na casa de um amigo dela. – Liam informou. – Estão afim?
- Eu topo! – Fui a primeira a levantar a mão. Era disso que eu precisava... Uma boa festa.
+++ Harry foi o nosso motorista àquela noite. Eu estava ao seu lado esquerdo e os meninos no banco de trás, como se fossem as nossas crianças. Dani enviou o endereço da casa do amigo dela por mensagem e Harry afirmou saber onde ficava. No começo eu duvidei um pouco daquilo, mas assim que o Range preto foi estacionado entre tantos outros carros na frente de uma casa gigantesca, dei uma chance ao curly e acreditei no que ele falava. Aquela casa não ficava em um condomínio, mas tinha pelo menos o dobro do tamanho da minha. Ninguém estava nos jardins da frente por causa do frio e o interior parecia estar bombando. Luzes piscavam nos três andares do estabelecimento e as pessoas que eu conseguia ver pelas janelas pareciam mais pra lá do que pra cá.
Sorri animada, querendo correr para a festa de uma vez e me jogar na pista, nas bebidas e nas pessoas. Não necessariamente nessa ordem. Haz riu ao meu lado depois de ver a minha animação e eu só consegui balançar a cabeça. Não precisei esperar muito para descer do veículo e logo estávamos os quatro atravessando a rua para chegar no caminho sem neve que nos levaria até a entrada da casa. Vi que Liam digitou alguma coisa em seu celular, provavelmente avisando a possível-futura-namorada que havíamos chegado, e a menina de cabelos cacheados logo apareceu pelo mesmo lugar onde deveríamos entrar.
A primeira coisa que Danielle fez foi abraçar Liam. Eu teria ficado com um pouco de ciúmes, mas preferi não me importar. Em seguida passou para Haz e Lou, que estavam lado a lado. Ela foi muito simpática com todos e por último falou comigo, me abraçando como se nos conhecêssemos há anos. Sorri simpática quando ela explicou onde deveríamos deixar os nossos casacos, já que o interior da casa era bem aquecido e nós não precisaríamos nos preocupar em passar frio. Também dei um jeito de enfiar a minha bolsa de mão ali dentro, pois não estava afim de me preocupar com nada naquela noite, muito menos em perder o meu celular e todas as coisas que trouxera ali dentro. Por fim, eu estava apenas com o meu vestido vermelho e já começava a mexer o corpo disfarçadamente no ritmo da música contagiante que embalava todos os cantos da casa.
- Você está linda, Dani. – Sorri mais uma vez, olhando-a em seu vestido preto.
- Ei, eu ia falar isso agora mesmo! – Liam reclamou com um sorriso ainda maior que o meu.
- Obrigada vocês dois. – A menina agradeceu, mas é óbvio que gostou mais do elogio de Li do que do meu. Ao perceber que o encarava por muito tempo, se virou pra mim. – Não trouxe o seu namorado, %Tah%? Zayn, certo?
- Nós não estamos mais juntos! – Falei o mais naturalmente que pude.
- Sinto muito... Mas nesse caso, posso te apresentar a alguns amigos que eu tenho aqui. – Ela piscou. – Tenho certeza que adorariam e conhecer...
- Obrigada, mas vou passar! – Ri olhando em volta. Com toda certeza mais da maioria daquelas pessoas trabalhava no ramo da dança, pois era muito difícil ver alguém parado ou fazendo passos simples. – Quero me afastar de envolvimentos por um tempo. Só quero me divertir!
- Caso mude de ideia, é só me avisar. – Afirmou e segurou a mão de Liam. – Quero te apresentar a uns amigos...
- Vamos lá, então! – Ele entrelaçou os dedos aos dela e se virou brevemente na direção daqueles que ficavam: - Vejo vocês mais tarde?
- Aproveitem a festa! – Acenei enquanto ele e a menina se afastavam.
- Bem, isso foi estranho... – Harry riu.
- Nem me fale. – Suspirei, focando a minha atenção no meu irmão e em Haz.
- O que querem fazer agora? – Lou perguntou mais para Harry do que pra mim e senti a indireta.
- Porque não vão andar por aí e ver se encontram algo de bom? – Sugeri. – Eu vou procurar algo louco pra fazer...
- %Tah%! – O mais alto me repreendeu, mas Lou apenas riu. – Se cuide, ok?
- Cuidado é o meu nome do meio. – Pisquei e acenei para os dois antes de me perder na multidão.
Eu não sabia se Lou estava planejando levar Harry para um canto afastado e dar uns pegas por ali, mas não queria ficar no meio de nenhum plano que meu irmão tivesse para com o meu possível-futuro-cunhado. “É... Parece que todos estão se arrumando e eu aqui...” Sacudi a cabeça para afastar aqueles pensamentos sem sentido e comecei a andar em uma direção qualquer. Como não conhecia aquela casa, era meio difícil encontrar um bar ou algo do tipo, mas não desisti de encontrar alguma bebida. Dobrei a esquerda depois de andar por uns dois minutos e comecei a ver cada vez mais pessoas com copos avermelhados nas mãos. “Bingo!” Me aproximei de uma garota loira que segurava dois copos de vidro com um líquido dourado.
- Oi! Hey... – Tive que falar alto para ser ouvida por cima da música e a garota me olhou com um sorriso, fazendo-me continuar. – Onde você conseguiu essa bebida?
- Na cozinha! É por ali. – Apontou o caminho e quase derrubou um dos copos. – Opa! Oh, estão fazendo shots!
- Obrigada!
Agradeci com uma risada, realmente achando graça da falta de coordenação motora da menina, mas parei ao pensar que eu mesma não estaria tão diferente dela dali algumas horas. Segui pelo caminho que me foi indicado e me surpreendi ao achar tão rapidamente assim a tal cozinha. As portas não eram portas comuns, e sim daquelas de vai e vem, estilo bar de faroeste. Tive que me esquivar de algumas pessoas risonhas que saiam de qualquer jeito e segurei uma das “abas” da porta, impedindo-a de bater na pessoa que vinha atrás. Para não ficar de porteira, passei pra dentro na primeira oportunidade que tive e me surpreendi a ver a mesa colocada no centro da cozinha. Não era uma mesa comum, e sim de pingue-pongue. Algumas garrafas estavam espalhadas por ali, assim como copos e taças dos mais variados tamanhos. Um homem que devia ser no máximo três anos mais velho que eu estava preparando algumas doses de tequila e foi até ele que eu andei.
- O que uma garota tem que fazer pra conseguir uma bebida aqui? – Perguntei dissimulada, colocando uma mão na cintura.
- Se a garota for como você, só precisa pedir. – Não demorou nem cinco segundos pra responder e a escaneada que ele me deu teria me deixado tímida, mas só serviu pra aumentar o meu ego.
- Então eu gostaria de uma dessas, por favor. – Mordi o meu lábio inferior após o pedido e o observei arrastar um copinho até deixá-lo na minha frente.
- Quer limão e... – Não o deixei terminar de oferecer limão e sal e virei a bebida pura mesmo. – Sal.
- Eu acho que estou bem. – Ri e depositei o copo na mesa.
- E então? – Sorriu mais para a esquerda do que para a direita, ato que achei extremamente sexy.
- Bem... – Parei pra pensar um pouco, ainda saboreando a queimação na minha garganta. – Ainda estou pensando direito, então acho que preciso de outra.
- Você é das minhas. – Gargalhou e passou as mãos pelos cabelos extremamente negros; um contraste com seus olhos acinzentados. Ele logo me passou mais um copo e tomou outro em sua mão. – Um brinde?
- A essa poção mágica! – Levantei a minha taça e bati na dele; levando-a aos meus lábios em seguida.
- Você é dançarina? – Perguntou após virar a sua bebida do mesmo jeito que virei a minha. Notei que ele me olhava dos pés à cabeça. – Você tem pernas de dançarina.
- Bailarina. – O corrigi com um sorriso e voltei a abaixar o copo.
- Então não. – Levantou uma sobrancelha como se soubesse que eu levaria aquilo como uma provocação.
- O que quer dizer com isso? – Cruzei os braços.
- Ah, você sabe... Bailarinas são meio... – Por não encontrar uma palavra melhor para definir, o menino balançou os braços devagar como se dançasse uma música clássica. – Nós dançarinos temos mais gingado.
- Eu adoraria provar que você está errado. – Não recuei quando ele me “ofendeu” e entendi aquilo como algo pessoal.
- Quando quiser. – Piscou, se divertindo as minhas custas.
- Agora. – Puxei mais um copinho com o líquido dourado como outro e o virei de uma vez, dessa vez fazendo uma careta.
- Depois de você. – Indicou a porta com o braço.
Ok, eu não estava naquela festa há nem vinte minutos direito e já tinha arrumado um par pra dançar? É, essa noite prometia. Passei pela porta de vai-e-vem e não me importei de segurá-la para o outro passar. Escutei a sua risada atrás de mim ao quase ser atingido e só me virei para esperá-lo chegar ao meu lado. Eu teria saído andando, mas não conhecia muito bem aquela casa, então tive medo de acabar chegando em algum quarto por acidente e o estranho entendesse aquilo como um convite. Ele logo tocou as minhas costas com a mão espalmada e me guiou entre as pessoas que acenavam e sorriam em sua direção. A pista de dança ficava no centro da casa, mesmo que a música alta pudesse ser desfrutada de qualquer lugar. Não havia DJ ou coisa do tipo, mas um equipamento de som, conectado a um computador MAC quebravam o galho muito bem. Muitas pessoas abriram caminho quando passamos e ficamos bem no centro da pseudo-pista. Um globo de espelhos girava sob nós e vários raios de luz eram refletidos por ele, iluminando a sala inteira.
“Prove”, foi a palavra que li nos lábios daquele menino na minha frente. Apesar de estar usando salto alto, ele conseguia ser mais alto que eu; talvez até maior que Harry e olhe que isso é alguma coisa. Aceitei aquela provocação como um desafio e ele ficou me observando começar a mexer o corpo no ritmo da música. Mesmo sem nunca ter participado de uma “batalha” na pista de dança, já assistira filmes o suficiente para saber como funcionavam. Comecei mexendo o quadril de um lado para o outro, usando os braços pra fazer movimentos de ondas. Acredite, é mais legal do que soa. O garoto riu de mim, como se perguntasse se era só aquilo que eu sabia. Foi a minha vez de piscar, então comecei com uma série de movimentos seguidos. Lembrei das minhas aulas de técnica corporal e não me restringi ao plano central. Dei um giro que seria considerado de ballet, mas aumentei a velocidade e fiz meu salto escorregar pelo chão liso. As três doses de bebida que tomei anteriormente subiram a minha cabeça de uma vez, me deixando levemente tonta, mas ignorei isso e dobrei os joelhos, parando no chão enquanto arqueava as costas para trás.
Algumas pessoas a nossa volta pararam o que faziam para olhar pra mim. Uns ou outros comemoraram o meu passo ousado e logo tratei de levantar sem encostar as mãos no chão, jogando o quadril levemente para a direita. Sorri satisfeita para aquele menino que eu ainda não sabia o nome e joguei os cabelos por cima do ombro, como se me gabasse. Ele fingiu bocejar e começou com a própria dança enquanto eu o assistia. Deus dois passos na minha direção e parou, me encarando nos olhos poucos e segundos depois desmoronou. Não literalmente, é claro. É só que o menino de cabelos negros fingiu cair no chão e em seguida usou os pés intercalados para levantar o corpo inteiro com a maior facilidade do mundo. Por um minuto achei que ele não tivesse ossos, pois sua dança fluía como um sopro de vento. Tentei manter a minha expressão de “não estou impressionada”, mas foi meio difícil quando tive a minha cintura envolvida.
Uma coisa tenho que admitir, por mais irritante que o garoto fosse, ele era bom. Começamos a dançar juntos, deixando a nossa pequena batalha de lado. Acho que ambos havíamos provado um para o outro do que éramos capazes e foi o suficiente. Nossos corpos ficaram muito próximos e eu jogava a cabeça para trás enquanto ele segurava firme a minha cintura, o que me permitia arquear as costas para trás até que meu cabelo solto quase se arrastasse no chão. Depois disso, voltei a ficar ereta e passei os braços em volta do pescoço do menino. Por mais que eu quisesse, não conseguia me sentir atraída por ele. Sabia que era bonito, claro, mas não tinha vontade de fazer algo além de dançar. Maldito Zayn que não saia da minha cabeça! Me proibindo de continuar pensando no meu ex, aproximei os lábios da orelha daquele menino que me distraia tão bem.
- Eu nem sei o seu nome... – Falei alto para poder ser escutada.
- E precisa? – Continuou dançando e riu da cara de reprovação que eu fiz ao escutá-lo. – Joshua Brand.
- %Star% Tomlinson. – Me apresentei mesmo sem ter sido questionada. – Você conhece o dono da casa?
- Conheço sim... Ele é um cara muito incrível. – Fomos saindo da pista de dança e deduzi que fosse ser apresentada ao tal dono da casa. – Não o conhece?
- Não! Mas não estou aqui de penetra, caso ache isso. – Ri ao ter que me explicar. – A Dani me convidou.
- Danielle? Ela falou mesmo que traria amigos... – Paramos em um canto da sala, onde podíamos conversar melhor. – Ah, olha o dono da casa ali!
- Onde? – Olhei para onde Joshua apontava e dei de cara com os nossos reflexos. Demorei mais que o normal para entender que era um espelho e que o menino sorria e acenava pra mim. – É você?! Meu Deus, que vergonha!
- Não fique com vergonha, afinal, você não está aqui de penetra. – Gargalhou e acenou para alguém atrás de mim. – Tenho que ir falar com os outros convidados... Me espera aqui? - Acha mesmo que eu vou ficar aqui plantada te esperando? – Questionei com a sobrancelha arqueada.
- Espero que não. – Deu um passo na minha direção e sussurrou na minha orelha as próximas palavras: - Assim vai ser mais divertido te procurar.
+++ Conforme a madrugada foi caindo, garrafas e mais garrafas foram sendo acumuladas pelos cantos da casa e tenho certeza que pelo menos metade de uma delas era mérito meu. Não digo que meu pai ficaria orgulhoso se me visse naquele momento, mas eu só estava querendo me divertir um pouco! Não encontrara Louis, Liam ou Harry desde o momento que chegamos naquela casa, então precisei encontrar uma forma de me distrair sozinha mesmo. Não tenho culpa se a única atividade que me parecia tentadora era dançar em cima de uma mesa de madeira em uma das salas de convivência. Ao menos me encontrava acompanhada por mais duas garotas que dançavam ao meu lado. Com exceção os garotos luxuriosos que não tiravam os olhos das minhas pernas, mais ninguém parecia prestar atenção em mim, o que me mostrava que eu não estava fazendo mal a ninguém. Joshua foi outro que sumiu das minhas vistas, mesmo que eu não tivesse ficado procurando-o por aí.
- TODO MUNDO PRA PISCINA! – Algum bêbado gritou na outra sala. O sujo falando do mal lavado, eu sei.
As pessoas ao meu redor começaram a correr e a gritar enquanto pulavam na direção da tal piscina. Eu é que não ia ficar de fora dessa e tratei de descer da mesa. Acabei tropeçando nos meus próprios pés e fui ao chão, caindo sentada. Minha primeira reação foi rir de mim mesma enquanto tentava levantar, mas meu salto não deixava. O mundo girou mais rápido ao meu redor e juntei toda a noção de tempo e espaço que ainda me restava para arrancar os sapatos dos pés e me levantar com muito esforço. Não tenho muita certeza, mas acho que alguém também me ajudou a sair dali e me juntar a multidão que aparentava estar tão sóbria quando eu.
Passei duas vezes pelo mesmo lugar antes de perceber que estava andando em círculos e tomei um caminho diferente, chegando até a tal área da piscina. Algumas pessoas apenas molhavam os pés na beirada e outras mergulhavam de roupa e tudo. Antes que você pense que estávamos todos ficando loucos, tenho que informar que tudo aquilo era coberto e a densa fumaça que saía da superfície da água provava que era aquecida. Procurei algum rosto conhecido, mas mais uma vez falhei em encontrar qualquer pessoa. Os três deviam estar se agarrando por aí e eu só torcia para que não me deixassem para trás ao irem embora. Caminhei até a única cadeira de praia que encontrei e coloquei os meus sapatos ali em cima. Em seguida, olhei para mim mesma, tentando decidir o que fazer.
Como meu pudor fora embora completamente após a quinta dose de tequila, tateei as minhas costas em busca do zíper do meu vestido; abaixando-o até o final do fecho assim que o encontrei. Depois disso foi fácil deixar o tecido vermelho escorregar pelas minhas pernas. Não fiquei completamente nua, é claro, mas quase isso. A minha lingerie igualmente vermelha me protegia de olhares mais curiosos que tentavam enxergar embaixo da renda. Não fiquei muito tempo ali parada, pois logo me pus a correr e pulei com as pernas abraçadas ao peito. O barulho a minha volta estava tão alto que senti uma paz tremenda ao mergulhar até o fundo da piscina e sentir o meu corpo sendo movimentado apenas pelo empuxo que logo me levaria de volta à superfície.
Já que a maioria das pessoas estava no lado fundo, nadei até o raso, mas parei quando o nível da água bateu no meu busto. Fiquei mergulhado e batendo na água como se fosse uma criança de cinco anos quando vai na piscina sozinha pela primeira vez. Ri de mim mesma e senti duas mãos segurando o meu quadril por trás. Me assustei e girei na mesma hora, dando de cara com dois olhos castanhos e um sorriso alegre. Era Liam e isso me acalmou. Na verdade, fez mais que isso. Sem pensar, o envolvi pela cintura com as pernas e usei os braços para fazer o mesmo em seu pescoço. Por mais que meu abraço o tenha pegado de surpresa, Li também me envolveu pela cintura. Deixando os meus instintos comandarem as minhas ações – ou talvez a bebida – puxei a nuca dele na minha direção até que os nossos lábios estivessem encaixados.
O beijo que trocamos começou de forma meio bagunçada e urgente, mas fomos encontrando o nosso ritmo. Era como se Liam estivesse aguardando aquele momento há muito tempo, pois me apertava contra si com certa necessidade. Eu retribuía a cada investida de sua língua e passeava as mãos pelos ombros nus do menino, descobrindo então que ele estava sem camisa. Não me atrevi a descer as mãos mais do que no nível do abdômen extremamente definido do outro e aos poucos senti que estávamos nos mexendo dentro da água. Senti as minhas costas baterem contra algo duro e logo entendi ser a borda da piscina, Liam estava me prendendo entre ele e o concreto, com medo que eu fosse fugir.
Apesar de bom, tinha algo de errado naquilo. De repente eu me senti mal, porque aquele beijo significava mais para Liam do que pra mim. Enquanto a parte de mim que estava bêbada demais para se importar gritava: “Continue, aproveite”, a parte mais ajuizada e que – não importa quantas mudanças de atitude eu viesse a ter – se importava completamente com aquele menino nos meus braços pedia: “Pare. Se não parar por você, pare por ele.” Resolvi escutar essa última voz e interrompi o beijo da mesma forma que o comecei. Liam pareceu meio desnorteado, mas feliz. Aquilo apertou o meu coração.
- M-me desculpa, Li... Eu não devia... – Tentei me desculpar e desfiz o enlace de minhas pernas na cintura alheia.
- Não se desculpe, %Tah%, eu gostei. – Sorriu.
- Liam, não... Não faz isso. Eu não consigo... – Minhas palavras saiam embaralhadas, mas eu tentava fazer algum sentido. – Não posso fazer isso agora...
- Por você eu posso esperar. – Desgrudou alguns fios molhados da minha testa e os colocou pra trás.
- Não é justo. Não é justo com você e não é justo comigo, e... Ai, meu Deus, a Dani... – Escondi o rosto nas mãos por uns instantes até voltar a falar. – Vá atrás dela, Liam. Ela realmente gosta de você. Eu queria estar pronta pra você, mas não estou. A Dani está...
- %Star%... – Tentou me chamar, mas era tarde. Eu já estava nadando para longe dele.