Capítulo LXVII
Tempo estimado de leitura: 25 minutos
- Bom dia, %Tah%!
Um Nicholas meio sorridente me esperava na porta do auditório. Naquela quarta-feira eu havia sido informada de que teria que chegar mais cedo para resolver uns últimos detalhes técnicos da peça de fim de semestre. Por um lado isso era muito ruim, pois eu estava super sonolenta e ainda um pouco lerda (tente acordar às seis horas da manhã depois de ter ido dormir as duas –escutando seus amigos falando sobre como foi a primeira entrevista como banda- e vai saber do que estou falando), mas por outro, isso me impedia de encontrar qualquer pessoa indesejada pelos corredores. Ou, no caso, desejadas até demais. Eu ainda não vira Zayn depois da nossa conversa definitiva e preferia que continuasse assim até que o meu coração e meu cérebro entrassem em sincronia. Meu lado emocional estava um verdadeiro caco, pois era incrível como tudo e absolutamente TUDO me lembrava dele. Já o meu lado racional, sabia que o certo a se fazer era me manter distante.
Forcei um sorriso para o meu Romeu e acenei um “olá” entre um bocejo ou outro. O menino riu, divertindo-se do meu sono, e passou um braço pelos meus ombros para que pudéssemos entrar no auditório. Ele sussurrou algo como “a bruxa está aí”, mas só entendi o que quis dizer quando vi uma figura curvada e... Antiga em uma das primeiras fileiras de cadeira. Margot, a figurinista. Tinha que ser! Ao lado dela havia algumas araras com cabides e roupas das mais coloridas e distintas, que julguei serem algumas das fantasias que usaríamos na peça. Tentei sorrir com mais força, curiosa para ver as minhas próprias roupas, mas me impedi de tal ato ao lembrar do meu primeiro encontro desastroso e tenso com aquela mesma mulher.
- Não faça essa cara, %Star%. – Nick sussurrou com outra risada. É, ele estava se divertindo muito às minhas custas. – É só uma costureira...
- Fácil pra você falar, porque ela te ama! – Finalmente abri a boca pra falar alguma coisa enquanto descíamos o caminho até a frente do palco.
- E ela fala! – Riu pela milésima vez e me soltou. – Vem, eles tem algumas novidades pra gente.
- Novidades? Que tipo de novidades?
Minha pergunta ficou sem resposta, pois o diretor Colin saiu de trás das coxias com o celular preso à orelha. Não o celular literalmente, mas aqueles aparelhos tecnológicos auditivos, que parecem fones de ouvido sem fio. Ele acenou para mim e Nick sem parar de falar com quem quer que estivesse do outro lado da linha e eu finalmente notei o pequeno estúdio fotográfico que havia sido montado ali em cima. Não era nada muito elaborado, apenas uma espécie de cúpula côncava de cor branca, que serviria de cenário, uma câmera sobre um tripé e aquelas coisas cinzentas/de alumínio ou algo assim, que são usadas para focalizar a luz. Ao menos é isso o que eu acho que elas fazem... Mas enfim. Mesmo contra a minha vontade, fomos até lado de Margot e meu companheiro foi o primeiro a cumprimentá-la.
- Bom dia, Margot. – Ele sorriu galanteador. – Qual é o seu segredo? Você parece mais jovem a cada dia.
- Puxa saco. – Pensei alto, mas não o suficiente para ser escutada. Enquanto a minha presença não era notada, deixei a minha mochila em cima de uma cadeira qualquer e fui bisbilhotar as fantasias.
- Oh, Nicky, você é sempre tão gentil! – A mais velha riu e eu fiz uma careta.
- %Star%, venha falar com a nossa figurinista! – O moreno me chamou. O que aconteceu com o termo “costureira”?
- Uh, bom dia, Margot. – Sorri o mais simpática que consegui e acenei de longe mesmo, ainda entretida com as roupas. – São todos os figurinos?
- Bom dia, senhorita. – Levantou-se com a ajuda de Nicholas e deu alguns passos na minha direção. – Não terminei todos os personagens, mas os seus figurinos estão todos aí sim.
- São lindos. – Suspirei, encantada com o tecido esvoaçante de um dos vestidos. Todas as peças pareciam extremamente fluidas e leves, o que daria um ótimo efeito ao dançar. – Você fe um ótimo trabalho!
- Que bom que gostou, querida. – “Querida”? Então é só elogiar que ela fica mansa? – Vamos fazer uma prova hoje, porque ainda dá tempo de fazer qualquer ajuste maior... Mas creio que não terá problema algum.
- Eu confio no seu talento, Margot. – Nicholas veio para o meu lado e rolei os olhos para que só ele visse, o que o fez rir.
- Bondade sua! – Margot não notou nada e olhou em volta. – Só vamos esperar...
- Dave Morgan! – Colin a interrompeu, pulando do palco e apontando para alguém que acabara de entrar ali. – Já não era sem tempo.
- Bom dia, Wall. Desculpe o atraso, eu estava falando com o pessoal da gráfica. – O tal de Dave correu o resto do caminho em direção ao diretor e apenas acenou para mim, Margot e Nick. – Vejo que já montaram o meu set.
- Seu ajudante está com Donna. Não sei onde eles foram... Ora, lá estão eles! – Mais duas pessoas entraram no auditório, com a mesma pressa que Dave. – Ótimo. Como dizia, Dave, tem noticias da gráfica?
- Conseguimos passar na frente dos outros pedidos e se conseguimos entregar essas fotos até o meio dia, a partir de amanhã os convites já podem começar a ser vendidos. – O fotógrafo sorriu orgulhoso de sua competência e Colin só faltou dar um pulo de emoção.
- Brilhante! Então vamos, porque não temos a perder! Venha, vou te apresentar aos nossos protagonistas. – Colin chamou os três profissionais que acabavam de chegar.
- É com a gente. – Puxei Nick pelo pulso e o arrastei pelo resto do caminho até que estivéssemos de frente às outras quatro pessoas. Margot preferiu ficar pra trás. – Olá...
- Aqui está a nossa Julieta! – O diretor segurou o meu ombro e praticamente me empurrou pra cima dos seus companheiros. – E o nosso Romeu!
- Dave. Sou o fotógrafo que vai fazer as fotos para o cartaz e convite do espetáculo. – Dave Morgan se apresentou, beijando as costas da minha mão e em seguida cumprimentando Nick. – Essa é Donna, a maquiadora, e Ashton, meu ajudante.
- É um prazer. – Apertei a mão dos outros dois. – Fotos do cartaz e convite?
- Bem, sim... Colin não contou que você terá o seu rosto estampado pela cidade inteira? – Dave perguntou, animado demais pro meu gosto.
- Me-eu rosto? – Gaguejei, mas tratei de me recompor. – Não me falaram nada...
- Na verdade, o rosto de vocês dois, mas entende o propósito. – O fotógrafo continuou, andando até o palco e fazendo com que os seguíssemos. – E, claro, nos 2.300 convites...
- Dois mil? – Repeti. Não caberiam duas mil pessoas naquele auditório. Olhei em volta tentando imaginar que espécie de mágica eles fariam e a risada de Nick chamou a minha atenção. – Porque só eu pareço... Surpresa? Pra não dizer “espantada”.
- Você não sabe onde será o espetáculo, sabe? – Franziu o sonho com uma expressão engraçada.
- Não... – Respondi meio desconfiada.
- Já esteve na Opera House, %Star%? – Foi Colin quem prendeu a minha vigilância dessa vez.
- Sim... – É claro que eu já estivera lá e a fotografia de Nick e eu em jornais da semana passava provava isso. Essa lembrança apertou o meu coração como uma mão gelada, mas me mantive centrada.
- Quero dizer... Já esteve no palco da Opera House? – Se corrigiu, com o sorriso de quem apronta algo.
- Shut up! – Cobri meus lábios com as mãos, espantada. Eu tinha entendido o que achava que tinha entendido? – Nick!
- Eu sei! – Nicholas balançou os meus ombros, não tão surpreso quanto eu, e sussurrou as últimas palavras: - Holly me falou isso há duas semanas. Acredite, minha reação foi a mesma.
- E você não pensou em me falar nada?!
- Surpresa!
+++ Já eram dez horas da manhã quando fui liberada para um pequeno intervalo. Todo o processo de prova de roupas fora registrado por Dave e preciso dizer que era como se o fotógrafo nem estivesse lá! Todos os figurinos caíram como uma luva e isso foi capaz de me deixar momentaneamente mais tranquila após a grande descoberta que eu havia feito aquela manhã. Senti muita vontade de bater em Nicholas por ele não ter me contado que iríamos nos apresentar na Opera House, mas provavelmente a culpada era Holly. A mulher devia ter sido coagida a divulgar aquilo para o namorado e eu temia os tipos de chantagem que ele poderia ter usado. Após essa etapa, o diretor Colin escolheu o vestido que eu deveria usar para fazer as fotos com Nicholas e esse último também teve seu figurino escolhido.
O processo da seção de fotos foi bem parecido com a dos meninos, na Models One, a única diferença é que dessa vez eu estava na frente das câmeras e não por trás. Fizemos várias fotos, tanto juntos quanto individuais. Não cheguei a ver a escolhida, mas tinha uma leve intuição de que já sabia qual era: Uma das primeiras que tiramos, onde Nick e eu nos olhávamos “apaixonadamente” e “próximos demais”. Ou pelo menos essas foram as instruções de Dave. Fora o frio na barriga que eu sentia a cada segundo, tudo ocorreu na mais perfeita paz.
- %Abi%, eu não consigo... – Ambas estávamos andando lado a lado no corredor, a caminho da saída da Academy; onde Niall devia esperar por nós.
- %Tah%, eu já falei que Zayn não veio hoje. É só o Nialler... – Tentou me acalmar.
- Não é disso que eu estou falando. Eu não consigo... Me apresentar na frente de tantas pessoas assim. – É claro que contei tudo para ela no mesmo instante em que nos encontramos, na esperança de ser acalmada. – Eu achei que seria algo menor... Tipo uma apresentação de escola.
- Às vezes você esquece que essa é a melhor academia de artes do país... – Pareceu falar sozinha, sem me deixar nem um pouco mais calma. – %Tah%, esse espetáculo é esperado há muito tempo. É claro que teria que ser em algum lugar grande... Sem falar que ouvi uma conversa que no próximo semestre não haverá outra peça, só ano que vem. Porque querem se concentrar apenas nessa...
- Eu devia me sentir melhor com isso? – Arfei, enfiando as mãos no bolso do meu casaco. – %Abi%, eu estou pirando aqui!
- Como a minha professora de teatro fala... Inspira, espira, não pira! – A ruiva viu, mas ao ver que eu não via a graça, parou. – Só o que eu acho é que, se você não fosse se sair bem, ninguém teria te escalado pra esse papel. Todo mundo por aqui já sabe o quanto você é boa. É só assistir os seus ensaios que dá pra ver o quanto você é profissional.
- Duas mil pessoas... – Repeti pelo que parecia a décima vez naquela manhã.
- Ainda acho pouco! – Passou o braço pelo meu. – O mundo inteiro deveria te assistir.
Eu sabia que %Abi% só estava sendo uma boa amiga e falava aquelas coisas para me acalmar, então sorri de canto, passando uma mecha de cabelo para trás da orelha. Só torcia pra que ela estivesse certa e preferi ignorar o frio que crescia na minha barriga. “Oito dias. Eu só tenho mais oito dias antes do espetáculo...” Vários pensamentos bombardeavam a minha cabeça, mas esse era o que mais me assustava. Como é que o semestre havia passado tão rápido assim? Era como se aquela ainda fosse a minha primeira semana e por um momento desejei que fosse mesmo. Mas não era; não podia ser. Nada voltaria a ser o que era antes...
- E esse tal de Dave... É bonito? – %Abi% me tirou de meus devaneios e eu não soube se devia rir ou bater nela.
- %Abigail%, quantas vezes tenho que te lembrar que você tem namorado? – Acabei rindo mesmo. – Que, aliás, estamos indo encontrar agora!
- Não é pra mim, sua besta! É que agora que você está solteira, sabe como é...
Aquele comentário teria me feito brigar com ela ou pelo menos me fazer sentir aquele aperto no peito que já se tornava costumeiro, mas nem ao menos a escutei terminar me falar; meus pensamentos em um lugar mais à frente. Brigitte apareceu no corredor a alguns metros na nossa frente, arrastando um garoto igualmente loiro. A semelhança dos dois era impressionante, o que mostrava que deveriam ser parentes. Irmãos? Talvez. A escutei falar alguma coisa do tipo “você não devia estar aqui” e congelei no mesmo lugar enquanto ela o empurrava para fora da Academy. Não foi a semelhança entre os dois que me espantou, e sim o sentimento de “eu já o vi antes” que me invadiu. %Abi% continuou falando ao meu lado até perceber que não era escutada. Seguiu então o meu olhar e fingiu uma tosse.
- Eu sei que está difícil achar um homem decente hoje em dia, mas não precisa apelar pra família Jones. – Razoou ao meu lado, apontando com a cabeça para a nova direção que Brigitte tomava. Depois de expulsar o menino da academia, ela rumava para o que parecia ser o banheiro feminino daquele andar.
- Você o conhece? – Perguntei ainda sem sair do lugar.
- Só de vista. Parece que são primos. – Deu de ombros.
- Tem que ser ele... – Falei sozinha, correndo até a porta de saída para tentar dar mais uma olhada no garoto loiro.
- Sua alma gêmea? – %Abi% correu atrás de mim, sem entender a seriedade daquilo. – %Tah%, espera! Quem é ele?
- O cara que me entregou o copo com a droga... No aniversário do Louis! Eu tenho certeza! – Despejei a minha desconfiança, olhando na direção que Brigitte sumira. – Não consegue se lembrar?
- Eu estava muito bêbada pra lembrar de qualquer coisa, mas acredito em você... – Parou de rir, olhando para Niall, que agora subia as escadas; preocupado com as nossas caras de espanto. – %Star%, onde você está indo?
- Atrás dela. – Falei entre dentes, seguindo pelo corredor com pressa.
- O que você vai fazer? – Veio atrás de mim, deixando o namorado pra trás.
- Algo que eu já devia ter feito há muito tempo. – Quase rosnei, a raiva tomando conta de mim.
- Me diz que você vai bater nela, por favor me diz que você vai bater nela! – Vibrou atrás de mim quando parei na porta do banheiro.
- Se for preciso. Só não deixa ninguém entrar, ok?
Ela afirmou que sim com a cabeça e foi a minha deixa para empurrar a porta de madeira do banheiro. Duas meninas desconhecidas passaram por mim na direção oposta e tive certeza que estava sozinha naquele cômodo com a oxigenada. Brigitte estava dentro de um dos boxes e me encostei à bancada da pia, decidida a esperar o tempo que fosse preciso. Um turbilhão de coisas se encaixava rapidamente na minha cabeça e eu me senti muito burra por não ter feito aquelas conexões antes. Mas é claro! Tudo de ruim que acontecia, todas brigas e desconfianças... Tudo aquilo terminava sempre em uma direção só; apontando para Brigitte. Agora eu estava mais certa do que nunca; aquele garoto que ela tentava tirar da Academy com tanta pressa era o mesmo que me entregara o copo batizado com a droga que me fez passar pela pior experiência da minha vida. Eu poda ver o seu rosto vívido na minha memória. O barulho da descarga sendo soada me avisou que a menina estava saindo. Aquele não era o lugar mais higiênico para se ter uma conversa, mas era o único onde ela não teria escapatória.
- O que é isso? Está me seguindo agora? – A menina pareceu surpresa a me ver, mas se esforçou para se recompor e caminhou até uma das torneiras.
- Estou aqui pra conversar com você, Brigitte. – Falei calmamente. %Abi% ficaria decepcionada, mas bater nela não era a minha primeira opção. – Só quero que me responda... O que foi que eu te fiz? Porque você faz tudo que está ao seu alcance pra infernizar a minha vida?
- Ai, meu Deus, que drama... Não estou infernizando a sua vida, %Star%. – Revirou os olhos enquanto se olhava no espelho e retocava o batom, já depois de ter lavado as mãos. Soltou uma risada antes de continuar: – Só estou me divertindo um pouco. Não tenho culpa se é legal implicar com você.
- Legal? – Repeti, sentindo o meu peito subir e descer na medida que minha respiração acelerava. Apoiei uma mão sobre a bancada de madeira, encarando-a descrente. – Você acha divertido quase ter me matado?
- O-kay, agora você está ficando maluca. – Guardou o batom rosa de volta na bolsa e também se virou pra mim. – Do que você está falando?
- Você sabe exatamente do que eu estou falando, Brigitte. Você mandou o seu primo ou seu lá o que colocar algo na minha bebida. – Ao escutar as minhas palavras, a sua postura se tornou mais rígida. – Ele me drogou porque você pediu.
- Era pra ser só uma brincadeira. – Novamente veio com aquele tom de desdém, como se não tivesse importância.
- Eu fiquei inconsciente por doze horas. Caí de um buraco de quase seis metros e não consigo lembrar de quase nada que aconteceu aquela noite. Só lembro de estar muito assustada... – Me interrompi, não querendo mais recordar esse pesadelo. – Não com sei que tipo de brincadeiras você está acostumada, mas pra mim isso é algo muito sério.
- Eu não sabia... – Ficou quase estupefata por alguns instantes, provavelmente pensando nas consequências que ela mesma teria se aquela história chegasse até os ouvidos da diretora.
- E o pior é que você tentou incriminar Zayn... Me fazendo pensar que ele teria colocado a droga na minha bebida. Mas essa não foi a primeira vez que você tentou me colocar contra ele, não é? Apareceu na casa dele no meio da noite e depois inventou ter perdido um colar por lá, sabendo que eu pensaria besteira ao saber disso. – Minha voz saia mais dura na medida que as minhas revelações eram admitidas em voz alta. – Você devia saber que eu não acreditaria em nada que viesse de você.
- Pena que não pode falar o mesmo sobre o seu namoradinho, não é? Ou melhor... Ex-namoradinho. – Gargalhou como uma vilã de desenhos animados e meu desprezo por ela aumentou. – Imagine a minha surpresa ao descobrir que ele era o elo fraco do relacionamento e não você. Não sabe o quanto foi fácil fazê-lo acreditar em tudo que eu tinha pra contar.
- Eu não sabia que você podia ser tão baixa assim... – Falei com nojo.
- Pode falar que sou baixa, mas eu chamo isso de saber o que eu quero e ir atrás até conseguir. – Jogou os cabelos para o lado e deu alguns passos em direção a saída.
- Engraçado... – Meu tom de deboche a fez parar e mais uma vez estávamos de frente uma para a outra. Àquela altura eu já me preparava pra falar tudo que estava entalado na minha garganta há muito tempo. – Porque eu não acho que você tenha conseguido o que queria. Mesmo não estando mais comigo, Zayn também não está com você. Ele te despreza, Brigitte. E eu posso estar errada em muita coisa, mas disso tenho certeza... Zayn nunca será seu. Não importa o que você faça, ele merece coisa melhor do que uma vadia qualquer. E sabe disso.
- Escuta aqui, garota! – Ameaçou vir pra cima de mim, mas a batida que dei na madeira da bancada da pia a fez parar e se calar.
- Escuta aqui você. – Me impus sobre ela, mostrando que não tinha medo. Minha voz não estava contida e tive quase certeza que podia ser escutada do lado de fora. – Eu estou cansada de você. Então pra mim chega! Preste bem atenção no que vou falar agora, Brigitte, porque é o único aviso que eu vou te dar. Você vai me deixar em paz. Nunca mais vai chegar perto de mim ou dos meus amigos, ou eu juro que vai se arrepender.
- Oh, estou com tanto medo... – Ela podia negar, mas estava com medo sim. Talvez por nunca ter me visto daquela forma, não sabia muito bem como reagir.
- Então faça o teste. – Sorri ameaçadoramente.
Vendo que a loira ainda estava absorvendo as minhas palavras, dei as costas pra ela e me retirei do banheiro. %Abi% e algumas pessoas estavam reunidas na porta, mas ao verem que alguém estava saindo, tentaram se dispersar. Como eu desconfiara, nossa conversa pode sim ser escutada do lado de fora e o sorriso da minha melhor amiga mostrava que ela estava muito orgulhosa de mim. Puxei ela e Niall para longe daquele lugar e paramos perto de algumas salas, sem de fato entrar em nenhuma delas. O irlandês me olhava um pouco surpreso, mas também sorria. Assim que nós três estávamos distantes da aglomeração de curiosos, também sorri; minha respiração ainda um pouco descompassada.
- Quem é você? – Niall perguntou retoricamente, ainda sorrindo.
- Acho que é hora de mudar de atitude. – Falei ao respirar fundo. – Cansei de aguentar tudo calada.
- Não sei quem é você ou o que fez com a minha %Star%, mas estou gostando... – %Abi% riu e me abraçou. – A coisas que você falou pra Brigitte... Uaaaau!
- Vocês escutaram?
- Yeah! E foi incrível. – Niall gargalhou daquele jeito escandaloso. – Ainda não acredito que você a chamou de vadia.
- E se ela for reclamar com a diretora? – A ruiva franziu o cenho.
- Que vá. – Dei de ombros. – Quero ver o que a diretora vai dizer ao descobrir o que Brigitte e o priminho dela fizeram. Aí vamos ver quem sai por cima de quem.
Até que eu estava gostando dessa minha nova atitude e não pretendia parar por aí. Podia estar me escondendo atrás de uma postura forte, mas que fosse! No fundo eu sabia que era uma forma de proteção dos meus sentimentos, de não querer mostrar o quanto realmente estava magoada. O caso é que eu tinha duas opções: Ficar triste pelos cantos, pensando em como as coisas poderiam ter sido diferentes e encontrando mais pessoas pra culpar... Ou poderia ligar o foda-se e parar de me importar. Eu estava cansada de mim, de ser a boa aluna, a boa menina, a boa bailarina... Só queria fugir de mim mesma; ao menos por um canto.
- Vocês querem fazer alguma coisa? – Perguntei, arrumando a mochila em cima do meu ombro direito.
- %Tah%, você não tem ensaio agora? – %Abi% arqueou as sobrancelhas. De fato eu tinha, mas não me importava.
- Talvez... – Dei de ombros e tirei o celular do bolso da minha calça jeans, digitando uma mensagem rápida para Nick: “Estou passando mal, preciso ir pra casa.” E mostrei o celular para os outros dois. – Não tenho mais.
- O que vamos fazer? – Niall foi o primeiro a aceitar o meu convite.
- O que quisermos. – Mordi meu lábio inferior, sorrindo travessa.
+++ - %Star%, o que você está fazendo?! – %Abi% gritava na minha direção, me fazendo rir mais ainda.
- Nada! – Respondi inocentemente, me apoiando em uma parte de pedra que me serviria de apoio. – Só quero ver melhor...
Depois que saímos da Academy, ficando rodando pouco mais de uma hora pelas ruas de Londres, decidindo o que poderíamos fazer. É claro que o transito me irritava bastante, então vez ou outra eu simplesmente colocava a cabeça pra fora da janela e gritava coisas em francês que ninguém mais entendia. %Abi% veio no mesmo carro que eu e Niall nos seguia com o próprio, já que não pode largá-lo no estacionamento da academia. O engraçado é que quando eu tentava despistar o garoto ou apostar corrida, %Abigail% reclamava, falando que a pista estava lisa demais por causa da neve. Desde quando ela é chata assim? Digo... Sempre foi um pouco chata, claro, mas a ruiva costumava ser a primeira a querer fazer loucuras. Porque quando EU queria ser um pouco imprudente ela reclamava?
No final das contas, acabamos chegando à Trafalgar Square, mais precisamente no monumento gigantesco que tinha no centro dela. Muitos turistas tiravam fotos por ali e alguns grupinhos de amigos passeavam de um lado para o outro. Eu, por outro lado, queria fazer mais que apreciar aquele pedaço de cultura inglesa. Um leão de cobre bem grande chamou a minha atenção desde que estacionamos, então eu não perdi a primeira oportunidade que tive para correr até ele. %Abigail% e Niall me seguiram, claro, mas era a minha amiga que estava tentando me impedir de subir no animal de pedra.
- Você quer é nos fazer ser presos! – Reclamou mais uma vez, mas era tarde demais.
- Pra de reclamar e vem também! – Me impulsionei para cima da plataforma e sentei em cima do leão. – Vou partir sem vocês.
- Pra onde vamos? – Niall também não escutou a namorada e subiu ali também, com uma facilidade bem maior.
- Niall Horan!
- Acho que a cerejinha está brava. – Cochichei para Ni e ri. – Estamos indo para Nárnia! Avante, Aslan!
- Vocês dois estão loucos. – A ruiva colocou uma mão na cintura e apontou para a placa de onde se lia “Proibido subir” com a outra.
- É só uma regra boba, %Abi%. Ninguém obedece. – Tentei.
- Diga isso para aqueles policiais! – Apontou para dois homens fardados que corriam na nossa direção.
- E agora, o que a gente faz? – Niall me perguntou. Os homens ainda estavam um pouco distantes, mas isso logo mudaria.
- Agora a gente corre! – Gargalhei e escorreguei para o chão novamente.
- Não vou correr. Não fiz nada de errado. – %Abi% cruzou os braços, mas a agarrei pelo pulso em seguida.
- Você é cúmplice!
É fácil imaginar a quantidade de olhares que atraímos ao sair correndo no meio das pessoas. Eu já não segurava mais %Abi%, já que ela só estava me atrasando. Ao invés disso, deixei Niall puxar a namorada e fui na frente para abrir caminho. De vez em quando olhava para trás e via pessoas entrando no caminho dos policiais, nos ajudando a ganhar tempo para despistá-los. Não acreditava que nos prenderiam se nos alcançassem, mas nossa brincadeira poderia ser vista como depredação de um lugar público; o que nos obrigaria a pagar uma multa um tanto alta. Por mais séria que a situação fosse, eu não conseguia parar de rir. Essas risadas misturadas à falta de ar causada pelo ar frio me faziam arfar, mas não parei de correr.
Mesmo sem saber para onde estava indo, puxei meus dois amigos para uma espécie de beco vazio. Outro dia que fosse eu teria ficado com medo de entrar ali, mas naquele momento simplesmente não me importava. Me abaixei atrás de uma lixeira alta e larga, avisando para o outro casal fazer a mesma coisa. %Abi% resmungava coisas sem sentido, preocupada com o que a mãe dela falaria se a policia telefonasse para ela. O irlandês, por outro lado, se divertia tanto quanto eu; ou quase isso.
- Isso foi tão legal! – Ri, já começando a respirar normalmente. – Podemos fazer de novo?
- Você está maluca de vez. Acho que Brigitte bateu a sua cabeça contra a privada. – %Abi% voltou a reclamar. Eu já estava ficando irritada com isso.
- Acho que a %Tah% quebrou... – Niall comentou com a namorada.
- Vocês é que são uns chatos! – Os reprovei com a cabeça e levantei. – Acho que despistamos eles...
- Que lugar é esse? – %Abi% olhava na direção contrária da minha, o que me obrigou a dar uma volta. – Acho melhor irmos logo.
- Parece um bar. – Ni explicou. – Sinuca, essas coisas...
- Eu gosto de jogar... – Menti. Nunca havia segurado um taco de sinuca na vida.
- Não, não, não... – Minha amiga tentou me impedir, mas fui mais rápida.
- Podem ir embora se quiserem. – Avisei antes de abrir a porta preta e ser intoxicada pelo cheiro de suor masculino + charutos.