Capítulo LXIV
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A melhor coisa sobre dormir, é que você esquece da realidade por um tempo. Tudo some. Todas as preocupações, os medos, os receios... Tudo vai embora e só o que resta é o nada. Você só fica deitada lá. Sem consciência. A pior coisa sobre dormir é que você tem que acordar. E a manhã chega como um tapa na cara, trazendo todas as dores que pareciam distantes algum tempo atrás. Em segundo tudo está bem, mas no seguinte é como se o mundo parasse de girar. Foi bem assim o que aconteceu comigo naquela manhã de sexta-feira.
Acordei com um sorriso depois de me espreguiçar devagar, mas foi só abrir os olhos para que ele sumisse. Eu não estava no meu quarto e não estava na minha cama. “O que estou fazendo no quarto do Harry?” Apertei os olhos para me situar e desejei não ter feito isso.
Eu lembrei. Lembrei do olhar machucado de Zayn ao abrir o envelope pardo, das suas palavras me sufocando, do desespero em meu peito ao não conseguir encontrar uma forma de me explicar... Lembrei de me trancar em uma cabine telefônica e escorregar devagar até estar sentada no chão frio por não conseguir me sustentar em pé. Lembrei de Harry me carregando para fora de lá e me deitando no banco de trás de seu carro, coberta por seu casaco de lã. Lembrei de voltar para casa e não querer ficar sozinha no meu quarto. Lembrei de contar para o meu melhor amigo sobre tudo que havia acontecido, deixando de fora o segredo que ainda carregava só pra mim. Eu continuava mantendo a minha promessa de não contar para ninguém sobre o relacionamento secreto professora/aluno; fardo que parecia pesar cada vez mais.
Eu estava sem Zayn... A ficha demorava pra cair, mas aos poucos consegui assimilar tudo que havia acontecido na noite anterior. Nossa última briga por causa de ciúmes terminou sendo a definitiva. Tentei me mexer na cama em busca de conforto, mas me senti paralisada e sem força alguma. Era como se um tijolo estivesse colado ao meu peito e a cada minuto que passava ia ficando mais e mais pesado, deixando um desconforto e uma dificuldade de respirar agonizante. Eu só queria conseguir me livrar desse tijolo, mas era impossível e eu sabia bem disso. Só desejava entender... Como tantas memórias podiam ser ignoradas tão facilmente. Como Zayn podia ser tão forte assim pra me mandar embora de sua vida sem nem pensar duas vezes? E o pior, por causa de uma mentira.
- Olha quem acordou... – O dono daquele quarto entrava pela porta e falava devagar, do jeito que se trata uma criança assustada.
- Harry... – Falei, mas a minha voz saiu esganiçada. O olhei com os olhos marejados, sem nem me importar em tentar sorrir. – Você não devia estar no trabalho?
- Me dei o dia de folga. – Colocou o objeto azul em sua mão em cima da mesinha e meu olhar o seguiu. Aquela era a coleira de %Patch%, mas não foi isso o que me prendeu. Ao lado dessa mesma mesinha estava a minha mochila... A mesma que eu deixara na casa de Zayn quando corri de lá.
- Ele trouxe aqui? – Perguntei em um misto de confusões. Acho que ainda tinha a esperança de que ele tivesse caído em si e visto o quanto fora idiota ao duvidar de mim. Torci para que Harry respondesse que sim e que ele estava no andar de baixo, me esperando para que pudéssemos conversar.
- Não... – Sua negação me fez apertar ao peito o lençol que me cobria. Harry deixou que o cachorro entrasse no quarto antes de fechar a porta e escorregar para a cama ao meu lado. – Niall trouxe aqui essa manhã, %Tah%... Eu sinto muito.
- Ele sabe? – Parte de mim desejava que Niall colocasse juízo na cabeça do amigo, mas era meio óbvio que Zayn não escutaria ninguém. %Patch% logo pulou na cama e se aninhou em minhas costelas.
- Sabe. E também concorda comigo, achando que essa história toda é um mal entendido idiota. – Puxou parte do cobertor para cima de si mesmo e deitou de lado, me observando. – Mas você sabe... Ele não pode escolher um lado.
- Sendo que ele já escolheu. – Suspirei. É obvio que ficaria ao lado do seu melhor amigo. – E os outros meninos? Você contou pra eles?
- Eles sabem que há algo errado, mas estão respeitando o seu espaço. Eu não contei nada, porque não sabia o que você gostaria de dizer. – Continuou mantendo a calma em seu discurso, acariciando meus cabelos de leve.
- Melhor assim. – Acenei levemente com a cabeça, puxando %Patch% mais pra perto e beijando o topo de sua cabeça. – Não quero que me olhem com pena...
- Ninguém vai te olhar assim, %Tah%. – Harry prosseguiu com os seus carinhos mesmo que eu não o olhasse. Vendo que eu não falaria mais nada, perguntou: - Você ainda está com medo dele?
- Não... Eu só sinto falta dele. Demais. – Admiti, juntando todas as minhas forças para sentar na cama e encostar na cabeceira. – Mas eu sei que ele não me machucaria.
- %Tah%... Você não viu o seu braço, viu? – Aquele questionamento me pegou de surpresa. O que o meu braço tinha a ver com qualquer coisa?
- Por que? – Algo me dizia que eu já desconfiava do que ele estava falando e levantei a manga direita do meu suéter, gemendo ao ver as marcas de dedos levemente avermelhadas no meu pulso, onde Zayn apertara com força durante nosso conflito.
- Ele é um idiota por fazer isso com você e estou me segurando pra não ir atrás dele. – Harry bufou, a raiva começando a transparecer.
- E-ele não quis fazer isso... Não estava pensando... – Abaixei a manga rapidamente. – Foi s-sem querer.
- Por que você está defendendo-o depois do que ele te fez? – Tentava não se alterar, mas eu sabia que ele não gostava da atitude que eu estava tendo. – %Star%, ele te tratou como... Não sei nem o que! E você ainda o defende?
- Por que eu o amo, Harry. Com todo o meu coração. – Meus olhos azuis encontraram os seus verdes, uma pequena lágrima molhando o meu rosto enquanto fungava. – Eu quero odiá-lo. Eu quero ficar com raiva dele, porque sei que tenho esse direito... Quero dizer que não sentirei falta do seu toque, do seu cheiro... Todos os dias. Mas eu não consigo. Porque eu sei que vou. Vai ser difícil olhar pra ele e não ser dele. Essa foi uma escolha dele e eu tenho que aceitar, porque é a minha única opção, mas só por isso. Talvez um dia eu possa esquecer...
- Eu vou te ajudar, ok? – Envolveu a minha mão com a sua.
- Eu sei que vai. – Forcei um sorriso, mas ele se parecia com qualquer coisa menos com o que deveria ser.
- Falo sério. – Apertou minha mão. – Lembra aquele verão em que Caroline e eu terminamos? Você esteve lá por mim. Durante três meses, você não saiu do meu lado. Agora é a minha vez.
- Harry... – Neguei com a cabeça, sabendo o que ele tinha em mente.
- Não me venha com essa de “Harry”. Está combinado. Eu serei seu diretor de reabilitação. – Dessa vez foi ele quem sorriu.
- Mas...
- Shhhh! – Me interrompeu. – Fique aqui e eu vou pegar o sorvete e podemos chorar.
- Eu achei que você ia me ajudar a superar! – Tentei falar enquanto ele se afastava com pressa, mas duvido que tivesse me escutado.
Harry devia estar planejando várias atividades para tirar a minha mente do término do namoro e eu sabia que a sua intenção era boa. O único problema disso é que eu não queria. Por mais masoquista que isso fosse, não queria “superar”, não queria esquecer. O amor que eu sentia por Zayn era muito forte e eu me apegara a ele mais do que qualquer coisa no mundo. Não queria ter que ouvir: “Vai ficar tudo bem.” Ou “Essa dor vai passar”, porque eu sabia de tudo isso. Com o tempo acabaria esquecendo de tudo... E sabia que aconteceria a mesma coisa com ele. Zayn me esqueceria e me deixaria para trás. Nós nos tornaríamos estranhos e isso me assustava. Lágrimas voltaram a rolar do meu rosto, as paredes começaram a apertar em volta de mim e o quarto se tornava cada vez menor. “Tenho que sair daqui.”
Sabendo que ninguém me deixaria sair sozinha no estado emocional em que eu me encontrava, teria que fugir. Pois é, fugas estão se tornando mais familiares do que eu desejava. Pensei em ir até o meu quarto para trocar de roupa, mas não arriscaria entrar lá e dar de cara com todas as lembranças que meu refugio guardava. Levantei da cama com um impulso, temendo que Harry voltasse antes que eu tivesse a chance de escapulir. Fui até o guarda roupa do menino e procurei algo que poderia servir em mim, acabando por escolher uma camisa branca com a frase “Hipsta Please”, um par de jeans preto que teria que caber em mim e dei muita sorte de achar um de meus antigos Converse perdidos entre os sapatos dele. Meu casaco vermelho devia estar dentro da bolsa que Niall trouxe e isso me protegeria do frio.
Ao terminar de trocar de roupa, um aperto tomou conta do meu coração. Aquele casaco vermelho estava encharcado com o perfume de Zayn. Todos os abraços que trocamos enquanto eu o usava o fez de esponja, sugando aquela lembrança dolorosa de que eu provavelmente nunca o teria tão perto de mim novamente. Passos ao lado de fora do corredor me apressaram. %Patch% estava de pé sobre a cama, balançando o rabo pra mim. Dei-lhe um abraço rápido, desejando levá-lo comigo. “Não conta pra ninguém, tá?” Sussurrei para que ele guardasse o meu segredo e dei meia volta, indo até a janela. Não era a passagem mais segura, mas teria que servir.
+++ Nunca gostei de ficar sozinha, mas naquele momento os meus pensamentos eram a minha melhor companhia. Meu celular vibrava dentro do meu casaco e eu o ignorava da mesma forma que fizera nos últimos quarenta minutos. Após sair escondida do condomínio, continuei a pé até o ponto de ônibus mais próximo, escolhendo o primeiro que passou para me levar a qualquer lugar. Olhei para o lado de fora durante a viagem inteira, sem prestar atenção em nada. Apenas desci quando algo em meu interior me avisou para fazer isso. Ao contrário do que eu desejava, sabia perfeitamente onde estava. O apartamento de %Abi% ficava há alguns quarteirões dali. Meu inconsciente devia ter me levado até aquele bairro porque sabia o que eu precisava mais do que o meu consciente. Ainda desejava ficar sozinha comigo mesma, mas talvez pudesse ficar “sozinha” com a minha melhor amiga.
Um pensamento irritante me impediu de ir diretamente até a portaria e chamar por ela. E se Niall estivesse lá? E se Zayn estivesse lá com eles? Eu não conseguiria olhá-lo, não ainda. A ferida ainda estava muito fresca e se ele aparecesse na minha frente, 99% das chances estavam voltadas para que eu me jogasse em seus pés e pedisse para voltar. Pois é, eu seria capaz de fazer isso, já que parecia a única alternativa que apagaria a dor em meu peito. Terminei ficando na esquina, encostada a um poste de luz que começava a acender. Não tinha ideia de que horas eram, mas o céu parecia querer começar a escurecer. Respirei fundo e tirei o celular do bolso, me sentindo mal por ver todas as chamadas e mensagens de Harry que eu tão deliberadamente ignorara. Ele só estava tentando me ajudar e era isso que eu fazia? Eu era uma pessoa terrível.
“Haz, desculpa ter fugido. Só precisava de um tempo sozinha. Estou bem, não se preocupe. Logo volto pra casa, ok? Love you. xx” O respondi sem nem ao menos ler as mensagens anteriores, sabendo que elas me deixariam com a consciência mais pesada do que já estava. Em seguida digitei uma mensagem para %Abi%:
“Está em casa?”
“Pelo menos você fala comigo! Estou em casa sim. Pode me explicar o que está acontecendo? Niall está me ignorando e nem me fale do seu namorado!” Recebi uma resposta segundos depois de enviar a minha pergunta. Pelo visto ela não sabia o que tinha acontecido, o que significava que eu teria que contar. Eu teria que falar em voz alta mais uma vez. Respirei fundo, segurando as lágrimas que emergiram ao ler as palavras “seu namorado”. Em qualquer outra situação eu teria rido do que os dois estavam aprontando com ela, mas aquele dia era diferente.
“Posso ir aí? Estou bem perto.”
“Hm, parece séria... Vou avisar na portaria que você vai subir.”
“Obrigada.” Por mais que eu tentasse parecer simpática com o porteiro de %Abi% quando ele abriu a porta para que eu pudesse passar, meus olhos avermelhados e rosto inchado denunciaram que eu não estava bem. Ele até mesmo perguntou se eu precisava de ajuda com alguma coisa ou se queria esperar um pouco antes de pegar o elevador. Devia estar com medo que eu desmaiasse lá dentro ou coisa parecida. Agradeci com um sorriso fraco, mas disse que conseguiria chegar até lá sã e salva.
Uma vez dentro do elevador, me encarei no espelho; minha aparência pior do que eu imaginava. Meus cabelos pareciam não ver uma escova há dias, olhos fundos e com olheiras de dois metros, nariz vermelho por conta do choro constante, roupas amassadas e tortas... Eu estava acabada. Antes que as portas se fechassem, uma garota morena entrou para me fazer companhia. Apertei o andar que queria ir e ela fez o mesmo. A diferença entre nós era gritante e me encolhi em um canto como se a minha presença pudesse incomodá-la. A menina parecia ter acabado de sair do salão de beleza enquanto eu parecia ter caído do caminhão de lixo. Pois era assim que eu me sentia, tanto pelo lado de dentro quanto de fora.
Para a minha sorte, meu andar chegou primeiro e pude sair de lá antes que o pouco da autoestima que eu guardava fosse embora pelo ralo. Toquei a campainha do apartamento e torci para que a minha amiga abrisse a porta. Se o pai ou a mãe dela atendessem, poderiam achar que eu era uma mendiga que conseguiu entrar escondida no prédio e escolhera aquele lar para assaltar. Uma sombra parou atrás da porta e a chave foi girada na porta. Olhei para os meus próprios pés e a voz feminina me fez congelar.
- Uhn... Sim? – A mãe de %Abi% segurava a porta aberta.
- Boa tarde, senhora %Dashwood%... – Ou seria boa noite? – %Abi% me disse que eu podia subir...
- %Star%, dear! É você, quase não a reconheci. – Sorriu envergonhada e deixou que eu adentrasse ao apartamento. – Ela está no quarto, pode se sentir a vontade.
- Obrigada... – Os cantos de meus lábios foram levantados, mas ainda não parecia um sorriso.
Passei pela sala daquele apartamento e vi Félix, o gatinho persa da minha amiga, brincando com uma sacola plástica. Ninguém parecia se importar com aquele bichinho, então ele continuava a encher a sala de pedacinhos de plástico rasgado. “Sortudo.” Para eu estar achando um gato sortudo, algo muito errado estava tomando conta da minha cabeça. Como já conhecia bem o caminho para o quarto de %Abi%, não esperei a mãe dela me acompanhar e também não bati na porta para entrar. A minha amiga estava na frente da mesinha do seu computador, mexendo em algum site que não me importei saber qual era. Assim que fechei a porta atrás de mim, ela olhou na minha direção e o seu sorriso logo desapareceu.
- Você está horrível! – Foi a primeira coisa que ela falou.
- Eu me sinto horrível. – Dei de ombros, não sendo capaz de segurar as novas lágrimas.
- %Tah%... O que aconteceu? – Correu na minha direção e me abraçou com força, me deixando esconder o rosto em seu ombro e chorar o quanto quisesse.
- Acabou, %Abi%... – Falei com a voz chorosa, apertando-a ainda mais. – Eu e Zayn... Nós terminamos.
- Não... – Sussurrou, claramente surpresa. – Senta aqui, %Tah%, me conta o que aconteceu.
- A Brigitte aconteceu. – Funguei ao ser guiada para a cama dela. Antes de me sentar, tirei o meu casaco e sapatos. %Abi% então sentou de joelhos no meio do colchão e me fez sentar de frente pra ela. – Não sei se consigo explicar...
- Pode contar a versão curta dos fatos, não quero que fique lembrando disso... – Como se lesse meus pensamentos, %Abi% me confortou com um toque em meu ombro.
- Ela encontrou uma matéria de jornal que dizia que Nick e eu éramos namorados. Claro que jornais mentem e esse entendeu tudo errado! O problema é que Brigitte vinha enchendo a cabeça dele de coisas e... – Funguei com mais força, quase soluçando. – Ele preferiu acreditar nela.
- Olha, agora o Zayn se superou! O que tem na cabeça daquele menino? Acho que de tanto fumar um beck os neurônios foram todos reduzidos. – Balançou a cabeça, com a mesma raiva que Harry ficara ao escutar a mesma história. Ela entrelaçou nossos dedos em um carinho calmo e chiou ao ver as marcas no meu pulso. – Me diz que não foi ele que fez isso.
- %Abi%... Foi sem querer... – Puxei o braço de volta e escondi as marcas com a minha própria mão.
- Sem querer ou por querer, ele não tinha o direito de encostar um dedo em você!
- Podemos não falar sobre isso? – Limpei as lágrimas que atrapalhavam a minha visão e a outra me entregou uma caixinha de lenços.
- Claro, claro. – Aceitou mudar de assunto, mas algo me dizia que ela não esquecia. – Como você está se sentindo?
- Como um nada. Literalmente, um nada! Sinto que não sou boa o suficiente e que talvez Zayn esteja certo em não me querer. Quero dizer, olha pra ele e olha pra mim... Essa confusão toda foi só uma chance que ele teve pra se livrar de mim. – Solucei quase sem ar após falar tudo aquilo.
- Você não podia estar mais errada, %Tah%. – %Abi% indicou o seu colo para que eu me deitasse sobre ele. Ela ainda parecia um pouco alterada, mas tentava se concentrar em mim. – Não pode ficar achando que você é a culpada ou que não é boa pra ele, porque acredite... Você é a melhor cosa que apareceu na vida do Zayn e ele só é estúpido o bastante pra não ver isso.
- Ele está cego. As mentiras que Brigitte pôs na cabeça dele o cegaram... – Deitei naquela cama e encostei a cabeça nas pernas dela.
- Dê um tempo e ele vai perceber o que fez... – Começou a desembaraçar os meus cabelos com cuidado. – E aí vocês poderão conversar direito, com calma. Antes que perceba, já vão estar juntos e novo...
- Acha mesmo? – %Abi% costumava estar certa, então me agarrei àquela pequena luz no fim do túnel.
- Ele te ama, %Tah%. Isso ninguém pode negar, nem ele mesmo. O orgulho dele está magoado, porque querendo ou não, qualquer um que ler aquele jornal vai pensar que você é do Nicholas e não dele. – Eu não tinha pensado por aquele lado e senti um aperto. Zayn sempre foi possessivo e protetor quando se tratava de mim. Pensar em milhares de pessoas achando que eu pertencia a outro... – Zayn pode ser tudo, mas ele não teria te dado esse anel se não fosse sincero com suas promessas.
- Eu tinha esquecido que estava usando esse anel... – Olhei a pedrinha brincando entre os meus dedos. – Acho que já me acostumei com ele.
- E ele fica lindo em você, não me entenda mal... Mas você sabe que tem o direito de ficar com raiva do Zayn, certo? Pode ficar magoada também, afinal... Ele foi um idiota.
- Sei sim. – Afirmei com a cabeça. Entre saber disso e realmente ficar com raiva dele havia um precipício infinito. – Mas também não quero falar mais disso.
- Então não vamos mais falar sobre isso! – %Abi% deu uma batidinha no meu ombro para que eu me levantasse. – Você vai dormir aqui em casa hoje e teremos uma noite do pijama. Vou pedir pra minha mãe fazer cookies e faremos coisas de meninas!
- Da última vez que você falou isso, acabei pintando o cabelo. – Forcei um sorriso, gostando muito daquela ideia.
- E viu como ficou linda?! – Riu. – Por falar nisso, temos que dar um jeito na sua aparência. Vá tomar um banho e eu vou pegar algumas roupas pra você. Parece até que assaltou o guarda-roupa do Harry!
+++
Após meia hora tomando um banho quente e me aproveitando dos milhares de cremes e produtos que %Abi% tinha, vesti um pijama muito fofo que ela separara pra mim. Uma camisa de mangas compridas de um tecido que parecia escorregar na minha pele e um short de algodão com desenhos de muffins ingleses. O corredor já estava cheirando a cookies e supus que a mãe dela tinha mesmo atendido ao pedido da filha. Eu não vou dizer que já tinha superado o término e que estava 100% inteira, mas o banho e a conversa com a minha amiga foram o bastante para que eu parasse de chorar a todo instante. Parei na porta do quarto de %Abi% ao escutar que ela conversava com alguém; provavelmente pelo celular. Não quis ficar escutando a conversa dos outros, mas foi mais forte que eu.
- Niall, me diga que você não concorda com essa história toda! (...) Ah, pelo menos você tem mais de dois neurônios. (...) Não! (...) Eu sei, ela está no banho agora. (...) Como acha que ela está?! Diga pra ele que vai ter que se entender comigo pelo que fez no braço dela! (...) Como assim o que? Ah, faça-me o favor, Zayn! (...) Ah, oi, Niall. (...) Eu não me importo se ele está bebendo. (...) Vá atrás dele, ué! (...)
- %Abi%? – Abri a porta finalmente.
- Tenho que ir. Te ligo depois. – E desligou a chamada. – Oi, %Tah%! Viu como o banho te fez bem?
- Quem era no telefone? – Perguntei apesar de já saber a resposta.
- Ninguém importante. – Largou o aparelho em cima de uma prateleira baixa e me olhou. – Pronta para uma noite de garotas?
- Como ele está? – Sentei na ponta da cama, abraçando um dos joelhos.
- Você ouviu, né? - Bufou pela sua falta de discrição e sentou na cadeira do computador. – Ele está... Mal. Segundo o Niall, não parou de beber desde essa manhã. O perigo agora é que ele está querendo pegar o carro...
- Não preciso saber mais. – Pedi encarando o chão. – O pior é que Brigitte é a culpada por tudo isso e agora ela deve estar na casa dela, feliz da vida!
- Quer ir até lá? – %Abi% perguntou animada demais. – Acho que sei onde ela mora e podemos jogar alguns ovos na porta... Ou tocar a campainha e dar uns tapas bem dados naquela cara de pata choca! Particularmente gosto dessa segunda opção.
- Eu também gosto. – Uma risadinha frouxa deixou os meus lábios e me surpreendi. – Mas não podemos sujar as nossas mãos com ela.
- Mas podemos sujar as nossas mãos com chocolate, certo? – %Abi% sorriu assim que a mãe dela entrou no quarto com um prato de biscoito e dois copos de leite.
- Obrigada, senhora %Dashwood%. – Agradeci ao receber um dos copos.
- Me chame de Lucy, querida. – Sorriu. – Bem, qualquer coisa eu estarei no quarto, sim?
- Obrigada, mum. – %Abi% falou de boca cheia, o que fez Lucy revirar os olhos. – Ela me ama.
- Não tenho dúvidas. – Fui um pouco sarcástica e dei um gole na minha bebida.
- Já está até fazendo piadinhas. – %Abigail% riu, terminando seu primeiro cookie. Ela me passou o prato e se virou para mexer no computador mais uma vez. – Acho que vou até te contar a novidade.
- Qual novidade? – Apesar do cheiro maravilhoso e de não ter comido nada desde a noite anterior, deixei o prato de lado, me concentrando apenas no leite.
- Quando foi a última vez que você entrou no Twitter da banda?
- Ontem de manhã... Por que? – Arqueei uma sobrancelha. Twitter da banda. Banda do meu ex-namorado.
- Viu quem é o novo seguidor?
- %Abi%, eles tem muitos seguidores novos diariamente. Como vou saber?
- Achei que você saberia se o senhor Tom Fletcher começasse a seguir também... – Falou casualmente e me espiou por cima do ombro com aquele sorrisinho sapeca.
- Se você estiver brincando comigo, eu juro que te mato. – Puxei um pufe roxo e me sentei ao lado dela para olhar a tela do computador. – E no estado de espírito que estou, falo sério.
- Então olhe aqui a prova. – %Abi% deu alguns cliques com o mouse e quando fui ver, era verdade. - “Tom Fletcher follows you.”
- Holly... – Segurei um xingamento. – DM! DM! DM!
- Ok, ok, não precisa gritar! – Riu e me obedeceu, abrindo a caixinha de mensagens diretas. – O que eu falo?!
- Eu estive sonhando com esse momento a minha vida inteira... – Pensei alto, mas a garota começou a digitar aquilo. – %ABI%, NÃO!
- O QUE? Não é isso que é pra digitar? – Fez uma careta e apagou tudo. – “É uma honra sermos seguidos por tamanho ídolo.” Que tal?
- Brega. – Franzi o cenho. – Não sei o que falar...
- “Hey, Tom, aqui quem fala é a %Star%, uma das “empresárias” da banda. Sou uma grande fã do seu trabalho desde 2006 e preciso dizer que é uma honra estar falando com você agora.” – Leu o que ia digitando.
- Melhorou... – Ainda não perecia a primeira frase ideal, mas senti um frio gostoso na barriga. – Será que ele vai responder?
- Acho que ele já respondeu. – Apontou para a tela, mas tive medo de olhar. – “Nesse caso, é um prazer conhecê-la, %Star%. Como vai?”
- Ele falou isso mesmo? – Levantei o rosto e quase gritei. – Tom Fletcher sabe o meu nome... Tom Fletcher quer saber como eu estou...
- “Terminei com o amor da minha vida, então estou bem ruim. Mas e você, senhor covinha?” – A menina só podia estar brincando com a minha cara.
- Você não vai mandar isso! – Tentei tirar a mão dela do mouse, mas acabei apertando para enviar. – Shit! Senhor covinha, %Abi%?!
- Ops... – Riu. – Mas olha, ele está respondendo... “Sinto muito em saber disso, de verdade. Eu estou bem... Se importa se eu lhe der um conselho?”
- Sai, sai, sai! – Empurrei a cadeira de rodinhas dela para o lado e fiquei na frente do teclado, deixando meu copo de lado.
“Claro que não me importo! Qualquer conselho seu seria muito bem vindo.”
“Everyday should be a new day to make you smile and find a new way of falling in love.”
“Ei, essa frase é de uma música!”
“Então você é mesmo fã.”
“Estava me testando, Fletcher?”
“Li essa frase com um som ameaçador. Devia ter medo?”
“Do or do not, there is no try.”
“E agora você citou Yoda.”
“Eu estava te testando. Como saberia se você é o verdadeiro Tom ou não?”
“Tem razão. Eu posso ser um impostor.”
“Exatamente. Só poderei saber se você é o verdadeiro Tom se tivermos algum código secreto.”
“Gosto de onde isso está indo... Continue.”
“Quando nos vermos algum dia, fale: “Eu gosto do seu cadarço.” Isso provará que estou falando com o verdadeiro.”
“E como vou saber que você é você mesma?”
“Também preciso de um código...”
“Já sei! Responda: “Obrigada, eu os roubei da rainha.”
“É bom que você seja você mesmo, porque se eu for detida por suspeita de roubo, alguém precisará pagar a minha fiança.”
“Feito.”
- A %Star% tem um encontro com Tom Fletcheeeeeeer. – %Abi% cantarolou, me fazendo rir. Aquela pequena conversa com um de meus ídolos me distraiu bastante.
- Cala a boca, %Abi%! – Estirei a língua pra ela. – Ele é casado.
- É uma pena. – Cuspiu farelos de cookie na minha direção enquanto falava.
- Ew, ew! Epa, você não deixou cookie nenhum pra mim?