Capítulo LXIII
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Nos últimos dois dias as coisas escalaram regularmente rápido. Se Niall e Zayn já eram populares na Academy, após o X Factor eles se tornaram o centro das atenções. Não só na Academy propriamente dita, mas em todos os lugares que eles passavam – o que incluía o resto dos meninos da banda – alguém acabava reconhecendo-os. Pobre Harry, mal tinha sossego na padaria em que trabalhava, mas pelo menos as vendas dobraram, o que fez a dona do lugar ficar bem feliz. Eu também acabava sendo reconhecida por consequência, especialmente em minhas visitas casuais à Starbucks, e era o mais simpática possível. Claro, depois que o momento de “é comigo mesmo?!” passava. Ainda não havia me acostumado completamente com os meus novos seguidores no Twitter, mas culpo os meninos, que ficaram fazendo propaganda e agradecendo a %Abi% e a mim por ter mandado o vídeo para o concurso e ter dado a eles aquela chance. Algumas meninas também nos agradeceram por ter “levado os cinco meninos para as vidas delas”. Não tive ciúmes nem dos pedidos de casamento que Zayn recebeu, pois eu entendia. Mais uma vez o fato de eu ser uma fangirl vinha a calhar e me fazia observar as cosas pela perspectiva delas.
Deixando esse mundo de glamour e fama de lado, era hora de me concentrar na realidade e encarar o longo trabalho que eu tinha pela frente. Já passavam das nove horas da manhã de quinta-feira e isso queria dizer que eu estava há duas horas e meia seguidas presa em uma das salas da academia, com a presença do diretor Colin – diretor da peça e não diretor da escola - e a queridíssima professora Holly. O homem estava sentado em uma cadeira de madeira e só nos observava de longe enquanto a professora me passava os passos da minha primeira coreografia. Ela seria um tipo de apresentação á personagem Julieta, quando a menina está correndo pelo casarão dos Capuleto e foge da sua Ama como brincadeira. A música que preenchia a sala era rápida e ao mesmo tempo calma; uma coisa que não sei como explicar, mas chegava a fazer sentido. Eu trotava pela sala, atravessando de um lado para o outro em cima da ponta dos pés. Só pra mudar um pouco, meu uniforme de ballet aquele dia estava mais... Fluido e composto que o de costume, o que também me protegia do frio.
- E um, dois, três... Pula! – Holly me seguia enquanto eu atravessava a sala e batia palmas ao contar. – Um, dois, três, vai.
Fiz como ela mandou e saltei no “três”, elevando os braços e trocando um pé pelo outro, pousando no chão com a maior graça que consegui, o que não me era tão difícil assim. Cof Cof. A professora sorriu como encorajamento e continuou a contar enquanto eu dançava pela sala. Colin gritou “expressão facial”, o que era algo que nós já havíamos conversado antes. Ele gostava de me lembrar constantemente que eu também estava interpretando; que agora era uma atriz. E por isso devia sempre lembrar de sorrir e agir como se fosse a verdadeira Julieta. “Lembre-se, %Tah%... Você está brincando de se esconder da sua babá.” Com esse pensamento, repeti a minha última sequência de gestos e olhei para os lados com uma risadinha, tendo certeza de que não seria encontrada.
- Essa menina é uma profissional! – Colin brincou, finalmente se levantando da cadeira e caminhando até mim.
- Onde está o meu Oscar? – Parei de girar um pouco para recuperar a respiração e limpei gotas solitárias de suor na minha testa enquanto ria.
- Vai receber um após o espetáculo, tenho certeza. – O diretor ticou o meu nariz com o indicador e fiz uma careta. – Vamos repetir?
- Tudo de novo? – Holly parou ao meu lado, falando o que eu não consegui. – Essa menina não aguenta. Estamos exigindo dela desde as seis horas da manhã.
- Sei e meia... – Colin a corrigiu. – O que me diz, %Star%?
- Ahn... Acho que podemos repetir mais uma vez... – Não era bem o que eu queria, já que meu corpo pedia dez minutos de descanso.
- Essa é a minha garota. – Fez sinal de “ok” com os dedos e fez Holly bufar.
- Da última vez que eu chequei, a professora responsável por essa aluna ainda era eu! – Bateu o pé. – Vamos tirar meia hora de intervalo e voltamos aqui depois.
- Eu concordo com isso também. – Ri, alongando uma perna e depois a outra.
- Girl Power? – Colin fez uma careta, mas acabou afirmando com a cabeça. – Meia hora. Nem mais nem menos.
- Nick não vai ensaiar comigo hoje? – Perguntei ao caminhar até as minhas coisas no banco oposto da sala.
- Vocês vão ensaiar juntos amanhã. – Holly disfarçou um sorriso ao falar do namorado secreto. – Estarão sozinhos, então podem usar qualquer sala que estiver vazia.
- Obrigada, professora. – Sorri pela informação recebida e me esforcei para chamá-la de “professora” ao invés de “Holl”. Peguei a minha mochila e a pendurei em cima do ombro após vestir o meu casaco estofado. Não pretendia deixar os corredores aquecidos da Academy, então não iria congelar. – Volto em meia hora. Nem mais nem menos.
Os dois acenaram pra mim enquanto corri para fora da sala, parando encostada na parede do lado de fora para trocar as sapatilhas por botas de chuva – daquelas estilo jardineira, que eu também usava na neve ou em tempos mais frios. Continuei o meu caminho pelo corredor do terceiro andar, procurando qualquer sinal de vida que pudesse me fazer companhia. Com o meu novo horário de ensaios, minhas aulas ficavam em tempos completamente diferentes de todos os meus amigos, o que me deixava um pouco solitária durante os intervalos. Quando eu estava ocupada, eles estavam livres e quando eu estava livre... Bem, acho que já dá pra entender a lógica da coisa. Me aproximei da janela daquele andar e pude ter uma visão mínima das janelas dos outros andares no interior daquele mesmo prédio.
No andar abaixo do meu, avistei Jade e Emily, que eu sabia ser do terceiro semestre, mas nunca trocamos mais que cinco palavras. Ir até ela para passar o tempo estava fora de questão. Continuei abaixando o olhar até o primeiro, observando Agnes conversar com alguém animadamente. Por incrível que pareça, a diretora estava sorrindo. Não um sorriso enorme e natural, mas era o máximo que ela conseguia fazer. Prossegui observando-a até que descobri que a pessoa que a acompanhava era Brigitte, o que tornou a cena ainda mais estranha. Balancei a cabeça negativamente e me afastei de costas, sem esperar que alguém estivesse atrás de mim.
- Opa. – Uma voz masculina, seguida de papeis sendo derrubados soou quando minhas costas esbarraram em algo.
- Me desculpa! – Me virei assustada, já sentindo as bochechas corarem levemente por ser tão desastrada. Antes mesmo de olhar quem era, me abaixei e comecei a juntar alguns dos papeis derrubados.
- Se você não fosse namorada do meu amigo, eu acharia isso bem romântico. – Um ruivo com sardas nas bochechas se ajoelhou na minha frente para me ajudar.
- Eddy! – Sorri tranquila ao ver que era apenas o professor Sheeran. – Não está dando aula aos meninos?
- Eu não sou o único professor deles, %Star%. – Riu ao terminar de recolher as partituras que eu derrubara.
- Mas você é o único que eu conheço, então perdoe o meu erro! – Levantei, espiando as partituras e cifras que ele segurava. – Músicas novas?
- Certamente. – Sorriu com aqueles olhinhos verdes piscando em animação. – Quer aprender uma?
- Aprender? Mas eu não sei tocar! – O olhei como se o achasse louco. – E nem sou uma cantora.
- Não... Mas é uma artista. Você consegue contar histórias usando o seu corpo, porque não tentar fazer isso usando a voz e os dedos? – Tentou me convencer e eu comecei a cogitar a possibilidade de aceitar. – Então, o que me diz?
- Consegue me ensinar em vinte minutos?
- Posso tentar.
+++
“Tah, você ainda vai demorar?” Foi a terceira mensagem de Zayn que recebi nos últimos cinco minutos. Eu já estava livre de aulas e ensaios naquele dia e poderia ir pra casa, mas o menino parecia me querer ao seu lado naquele exato momento. Eu também desejava isso com todas as minhas forças, o problema é que eu pretendia ao menos trocar de roupa antes de sair da Academy e congelar. A temperatura caiu consideravelmente naquele dia de janeiro e já não havia mais nenhuma superfície sem ao menos um pouco de gelo. Vários caminhões corriam as ruas de Londres diariamente para retirar a neve do asfalto e prevenir acidentes, mas nas ruas mais afastadas isso causava pequenas montanhas de neve na calçada, o que dificultava a vida dos pedestres. Felizmente eu estava com a minha bota que ia até a metade das minhas canelas e se precisasse andar, seria protegida por elas.
Me olhei no espelho do banheiro conferindo se tudo estava no lugar certo. Além de quentinha, eu estava adorável com aquelas roupas e acabei rindo com esse pensamento. Digitei uma resposta para Zayn falando que estava a caminho antes de guardar tudo dentro da minha mochila e vestir as luvas que afastariam o frio dos meus dedos já levemente avermelhados. Parecendo uma esquimó, deixei o banheiro para trás enquanto duas meninas ocupavam o meu lugar anterior. Elas estavam empacotadas assim como eu e pequenos flocos de neve enfeitavam seus cabelos, confirmando as minhas suspeitas sobre a situação do lado de fora da Academy. Por sorte escolhi o banheiro mais próximo da entrada/saída, o que me fez chegar as escadarias em apenas alguns passos.
Com o chão mais frio do que nossos corpos aguentariam, ninguém conseguia sentar nos degraus da escada, por isso encontrei %Abi%, Niall e Zayn parados no fim dela. O casal conversava animadamente, mas meu namorado digitava algo em seu próprio celular; provavelmente me apressando mais uma vez. Sinceramente não sei o que ele queria tratar comigo que era tão urgente assim, mas também não o faria esperar mais. Puxei o capuz do meu casaco para cima da minha cabeça na esperança de proteger minhas orelhas e bochechas do frio e desci as escadas com todo cuidado para não acabar escorregando. Niall foi o primeiro a me ver e eu coloquei o dedo indicador sobre os lábios, pedindo para que ele não me denunciasse. %Abi% também notou isso, mas não foi tão discreta quanto o namorado e seu sorriso acabou me entregando.
- O que foi, %Abi%? – Zayn se virou para trás e deu de cara comigo tentando assustá-lo. – O que estava tentando fazer, babe?
- Nada! – Rolei os olhos do sorriso divertido que o menino ganhou ao estragar meus planos malignos. – Muito obrigada, %Abi%!
- Não tenho culpa, eu juro! Você sabe que eu não consigo me segurar de coisas assim. – %Abi% levantou as mãos como se estivesse se rendendo e a deixei pra lá.
- Eu acho que supero. – Sorri vendo a fumaça sair de meus lábios enquanto falava e abracei Zayn pelo pescoço. Com a quantidade de roupas que nos cobria era meio difícil sentir o toque um do outro, mas ainda era bom me sentir em seus braços. – Você parecia desesperado pra me ver! Aconteceu algo?
- Mais ou menos. – Passou a ponta do nariz sobre o meu, o que nos aqueceu levemente. – Posso ver a chave do seu carro?
- Claro... – Arqueei uma sobrancelha desconfiada, mas tirei a chave que guardava no meu bolso e a entreguei a ele.
- Obrigado. – Beijou a minha testa e em seguida virou para %Abigail%, atirando a minha chave para que ela pegasse. – Cuide bem desse carro. Não quero nenhum arranhão.
- Espera, por que você deu a minha chave pra ela? – Olhei para os três e era a única que parecia não entender.
- Porque eu estou te sequestrando, oras. – Zayn sorriu, mostrando todos os seus dentes brancos e entrelaçou os dedos nos meus.
- Se importaria de explicar as condições desse sequestro? – Sorri de canto.
- Te levarei para a minha casa, onde te manterei em cativeiro por tempo indeterminado. Refeições e atividades extracurriculares estão incluídas na programação. – Pelo sorriso torto de Zayn eu soube exatamente o que ele queria dizer com “atividades extracurriculares”.
- Sua mãe e as meninas ainda não voltaram? – Ponderei, mesmo sabendo que aquilo não o impediria de me levar até a sua casa.
- Ela só voltam no fim da semana. Talvez sexta ou sábado...
- Elas tem que voltar pelo menos no sábado! – Franzi o cenho.
- O quem no sábado? – Niall perguntou, completamente esquecido.
- No sábado nada. – Respondi ao loiro e olhei para Zayn, que sorria por saber do que eu falava. – No domingo, por outro lado... É o aniversário do meu bebê.
- %Patch% já vai fazer aniversário? – O outro menino continuou sem entender e fez %Abi% rolar os olhos.
- Meu outro bebê. – Ri e abracei Zayn pelas costelas, apertando-o contra mim. – Meu bebê maior que vai fazer vinte anos.
- Então... – Ni ia tentar falar outra besteira, mas %Abigail% se estressou.
- Oh, for God’s sake, Niall! – Reclamou, mandando-o calar a boca. – É o aniversário do seu melhor amigo e você não lembra?
- Já? Mas você não teve um aniversário no ano passado? – Sério, Niall havia começado a beber cedo naquele dia.
- Esse é o bom de aniversários, Niall. Acontecem todo ano. – Zayn envolveu meu corpo em um abraço e beijou o topo da minha cabeça.
- Quando é o seu, %Tah%? Acho que nunca perguntei isso... – O irlandês ignorou as caretas da namorada e acabei rindo dos dois.
- O meu aniversário foi semana passada, Horan. – O olhei com desapontamento, mas o coitado pareceu tão assustado que preferi me desmentir de uma vez. – Estou brincando! Meu aniversário só em julho, Nialler.
- Que alivio. – Sorriu.
- Ei, eu achei que isso era um sequestro... – Olhei para o garoto em meus braços com uma sobrancelha levantada.
- Tem razão. – Riu de forma gostosa e o vapor de seu hálito fresco se misturou com o meu. Zayn soltou o abraço em meus ombros e logo agarrou meu quadril e me jogou por cima do ombro como se eu fosse um saco de batatas. Ou um saco de plumas, devido a facilidade que ele teve. – Tchau pra vocês que ficam.
- Malik! – Reclamei ao ficar de cabeça para baixo. – Se você me derrubar...
- %Star%, não acredito que mesmo depois de todas as vezes que eu te carreguei, você ainda acha que vou te derrubar.
- Ok, acho que você tem razão... – Dei a ele aquele voto de confiança e resolvi admirar a vista que tive da parte de trás daquele garoto. – Tchau, lads!
+++ - %Star%, você não teve infância? – Zayn gargalhava ao fazer corpo mole, o que dificultava o meu trabalho de puxá-lo para fora de casa. – Acabamos de almoçar! Não temos que esperar uma hora antes de fazer esse tipo de coisa?
- Não vamos nadar, porque (a), você não pode. E (b), a sua piscina está congelada! – O soltei depois de ver que minha força não seria o suficiente para trazê-lo comigo até o quintal, mas fiquei surpresa quando ele me acompanhou de boa vontade. – Só vamos brincar na neve e pra isso não precisamos esperar uma hora depois de comer.
- Valeu a tentativa. – Suspirou com um sorriso que me fez rolar os olhos. Até sendo chato ele conseguia ser terrivelmente charmoso.
- Boris não vai vir? – Olhei por cima do ombro enquanto enfiava as botas na neve espalhada pelo quintal enquanto andava e vi o cachorro preto nos observando de dentro da casa, protegido por um vidro.
- Ele não é muito chegado em frio e essas coisas. – Seguiu o meu olhar com o próprio e fitou o animal. – Espere só até você encontrar uma namorada que mande em você, aí quero ver se vai ficar aí dentro!
- Então eu mando em você?! – Parei de andar quando chegamos em um lugar apropriado para as nossas atividades e cruzei os braços. Realmente gostando daquela história de mandar em Zayn.
- Claro que não! – Tentou se corrigir, mas já era tarde demais.
- Vem logo, Malik! – Pedi mandona e me ajoelhei na neve, sentindo um novo frio tomar conta dos meus joelhos, mas não o suficiente pra me fazer levantar. – Vamos fazer um boneco de neve! Você faz a base e eu farei a parte do meio, ok?
- Você é que manda. – Zayn piscou.
No fundo de seu olhar, eu podia ver que não mandava em porcaria nenhuma. Primeiro porque ele era bem maior e muito mais forte do que eu, o que acabaria me dando uma desvantagem e me obrigaria a fazer qualquer coisa que ele realmente quisesse que eu fizesse e, em segundo lugar, o ego do meu namorado era grande demais pra que ele me deixasse comandar na relação onde ele era o “alfa”. Meninos... Tsc. Complicado com eles, pior sem eles. O mais engraçado é que Zayn parecia gostar da minha felicidade ao “pensar que mandava” e “dar ordens” para que ele obedecesse, então acabava me deixando aproveitar e não começava uma discussão.
Deixei meus devaneios de lado e me concentrei na minha missão. Eu tive infância sim e já fizera muitos bonecos de neve durante a minha vida, o problema é que eu sempre ficava com a parte mais fácil; a de enfeitar o homenzinho com gravetos, pedras, cenouras e etc. Portanto, apresentei um pouco de dificuldade para começar a juntar a neve em um montinho. Fiz algumas caretas durante o processo, mas não desisti. Minhas mãos ainda estavam protegidas pelas luvas, o que me ajudou um pouco. Senti o olhar de Zayn sobre mim, me estudando e tentando decifrar o que se passava na minha cabeça, porém, ao notar que era descoberto, desviava o olhar e dava uma risadinha quase tímida. Ficamos naquela brincadeira de jardim de infância até que quebrei o silêncio para contar algo que realmente achei interessante mencionar.
- Tive uma aula com o Ed hoje. – Comentei, cansando de ficar de joelhos e sentando de uma vez sobre a neve úmida. – Ou algo perto disso. Ele tem muitas músicas bonitas, sabia?
- Claro que eu sei disso, %Tah%. Ele é meu professor, lembra? – Riu sem me olhar, concentrado na base do boneco de neve.
- Não precisa ficar com ciúmes! – Brinquei, arrumando um punhado de neve sobre o meu bolo deformado. – Ele está me tentando me ensinar a cantar.
- Para a peça? – Levantou o olhar na minha direção finalmente.
- Não necessariamente. Só vou ter que cantar um trecho na peça, graças aos deuses do teatro, mas acho que ele está tentando me transformar em uma artista completa. – Expliquei com um balanço suave de cabeça. – Do tipo que dança, canta e interpreta. Posso ir para a Brodway quando terminar o curso!
- Você daria uma ótima Christine de O Fantasma da Ópera. – Duvidava que ele falasse sério, mas aquele elogio me agradou. – Canta pra mim?
- Eu já vou cantar pra você no domingo! Não exagere. – Tentei escapar usando aquela desculpa.
- Não quero que você cante Parabéns Pra Você! – Negou e continuou me encarando com tanta intensidade que pensei que a neve ao meu redor fosse derreter. – Quero que cante uma música de verdade.
- Baby, você é o cantor do nosso relacionamento e eu sou a dançarina. Não vamos trocar de papeis. – Não sustentei o olhar dele com o meu, pois estava certa de que seria hipnotizada a fazer o que quer que ele pedisse.
- Lembrarei disso na próxima vez eu você me pedir pra dançar com você. – Deu de ombros casualmente.
- Está me chantageando, Malik? – Aquela minha pergunta fez um sorriso torto surgir no rosto dele e fui respondida. – Ugh, promete que não vai rir?
- De coração cruzado. – Fez um X sobre o peito e parou tudo que estava fazendo pra poder me observar. – Ou seja lá como se fala isso...
- Of all the money that I had, I spent it in good company. / And all the harm that I've done, alas it was to none but me. / And all I've done for want of wit, to memory now I can't recall… - Comecei a cantar, apesar de toda a minha vergonha. Evitei olhar para qualquer lugar que não fosse as minhas próprias mãos. Na medida que a minha voz suave continuava a quase sussurrar as palavras, Zayn se tornava mais atraído e mais preso. Quase como se eu fosse uma sereia que o encantasse com minha serenata. - So fill to me the parting glass. Goodnight and joy be with you all. / Of all the comrades that I had, they're sorry for my going away… / And all the sweethearts that I had, They would wish me one more day to stay. / But since it falls unto my lot that I should rise and you should not.
- I'll gently rise and I'll softly call, "goodnight and joy be with you all!” - Zayn continuou aquele meu trecho e o olhei com um sorriso. Sua voz era tão mais bonita que a minha que parecia até um crime eu cantar perto dele. – The Parting Glass é uma música linda. Entendo porque Ed está te ensinando ela.
- Fica mais linda ainda na sua voz. – Sorri por estar sendo sincera. Em seguida, olhei para a minha parte do boneco de neve e bufei em desistência. – É oficial, fazer um boneco de neve é mais difícil do que parece! Isso aqui tá mais pra um quadrado do que pra uma barriga.
- Não é todo mundo que tem uma habilidade e construir bonecos de neve. – Zayn se gabou porque levou o mesmo tempo que eu para fazer uma base relativamente grande e firme. Juntei um punhado em minha mão sem que ele notasse e atirei a bola de neve na sua direção. – HEY!
- Minha mira é boa, pelo menos. – Ri enquanto ele se limpava dos flocos de neve que explodiram a se chocar contra seu ombro.
- Quero ver se a sua corrida é boa também.
Não precisei de mais nada para entender aquilo como uma ameaça. Zayn sabia que eu estava brincando, mas isso não o impediria de se vingar. Levantei do chão abandonando o meu pseudo boneco de neve e me pus a correr na direção contrária a do meu namorado. Ambos sabíamos que eu era mais lenta que ele e por isso foi um cavalheiro ao me deixar ter uma pequena vantagem. Como estava de costas pra ele, não vi a bola chegando em minha direção e fui atingida na lateral do quadril, o que me fez cambalear e parar de correr. Minha fuga não adiantaria de nada, pois Zayn aparentemente também era bom de mira. O lancei um olhar fulminante, mesmo sabendo que não surtiria efeito nenhum no meu oponente. Me curvei para formar outra de bola de neve em minhas mãos e fui surpreendida por outro ataque que acabou batendo bem no topo da minha cabeça; me fazendo cair de bunda na neve. Não fui a única a rir da minha cena patética quando a gargalhada de Zayn chegou até os meus ouvidos.
Ele se levantara e começava a andar na minha direção, amassando uma nova arma de gelo para atirar em mim. Fiz uma careta com receio e enfiei as duas mãos na neve ao lado do meu corpo, retirando punhados da forma que eu conseguia. Era tarde demais para me preocupar em arrumá-las em forma de bola e atirei do jeito que pude. A primeira passou longe de Zayn e ele riu mais uma vez. A segunda, terceira e quarta, porém, foram atiradas de forma tão desengonçada que acabaram causando uma chuva de neve em cima do menino e o fez errar a própria tacada. Pensei ter escutando-o gritar que se rendia, mas só parei com minhas investidas assim que ele se jogou na neve ao meu lado, fingindo ter sido ferido em batalha.
- Você venceu, você venceu! – Ele riu protegendo o rosto com os braços. – Diga aos meus filhos que eu morri depois de lutar bravamente.
- Por que você mesmo não fala? – Parei de atacá-lo e rir, colocando a mão sobre a barriga e olhando significativamente. Minha atuação foi tão convincente que Zayn ficou pálido.
- O que? Você... %Tah%... É se-sério? – Gaguejou, coisa que nunca acontecia com Zayn-Malik-todo-seguro-de-si.
- Claro que não, seu idiota! – Caí na risada e o empurrei contra neve até que ele ficasse completamente deitado sobre ela. – Mas obrigada por me chamar de gorda!
- É que, você sabe, com todas essas camadas aí, a gente acaba imaginando... – Segurou meus pulsos com as mãos e me puxou para cima dele. – Quem sabe se você estivesse com menos roupas...
- Boa tentativa! – Me sentei sobre o quadril masculino, mas bani suas mãos assim que elas tentaram se apoderar dos botões do meu casaco. – E se fosse verdade? E se eu estivesse grávida?
- O que qualquer homem faria... – Envolveu a minha cintura, me fazendo curvar o corpo sobre o dele. – Fugir e nunca mais aparecer por aqui.
- Malik! – Briguei com ele, mesmo rindo por saber que era brincadeira. – Muito descente da sua parte!
- Se você estivesse grávida, eu faria você e essa criança as pessoas mais felizes do mundo. – Aquela declaração me pegou de surpresa e toda a graça desapareceu.
- Você já me faz a pessoa mais feliz do mundo. – Sussurrei, forçando o ar a deixar os meus lábios em forma de vapor.
Zayn sorriu, envolvendo a minha nuca com a sua luva gelada, mas não me importei com aquele frio repentino em contato com a minha pele. Fechei os olhos e me deixei guiar por ele, urgentemente invadindo a sua boca com a minha língua em busca de conforto, de carinho. Ele me envolveu com os braços ainda mais, de forma protetora. Minhas mãos continuaram espalmadas em seu torço coberto pelo casaco cinza enquanto nossos rostos tombavam para lados opostos. Meus lábios estavam frios e secos, mas foi só Zayn cuidar deles com toda a vontade que trazia engarrafada dentro de si que eles se tornaram quentes e úmidos, me dando um conforto enorme. Me mexi sobre o corpo dele devagar, recebendo um gemido rouco que escapou de sua garganta. Fui pega de surpresa ao notar que aquele meu movimento foi de encontro à protuberância que começava a surgir na parte inferior do corpo abaixo do meu.
- Anjo... – Ele sussurrou sobre os meus lábios.
- Eu fiz algo errado? – Perguntei quase com medo da resposta.
- Não... – Sorriu da minha preocupação, o que me tranquilizou. – É só que está frio aqui. E eu não posso ter uma performance tão boa...
- Entendi. – Ri ao tirar o corpo de cima do dele. – Vamos entrar então.
+++{+ 18}
Entramos e também subimos as escadas em direção ao quarto de Zayn. Boris nos seguiu achando que teria companhia, mas o seu dono logo o impediu e o deixou do lado de fora quando fechou a porta. Tive um pouco de pena, o que logo mudou assim que o menino na minha frente tirou os sapatos sujos de neve e também se livrou dos dois casacos que usava, incluindo a camisa branca à lista de coisas que foram parar no chão. Tirei o meu casaco pesado e também as minhas botas, seguindo para as meias. Só consegui ir até aí, pois meu olhar foi preso ao torso firme de Zayn, levemente bronzeado apesar de ser inverno. Estudei os ossos de seu pescoço delicadamente definidos, descendo por todas as tatuagens que ele possuía espalhadas pela parte superior, continuando no abdômen de músculos firme de pele macia que em breve estaria completamente coberto pelas minhas impressões digitais. Minhas orbes azuis só pararam ao encontrar os centímetros da boxer preta que escapava do cós da calça jeans que ele usava. Recuperei os sentidos após aqueles segundos que pareceram minutos quando Zayn deu mais um passo na minha direção. Ameacei tirar o meu sweater que ia até a metade das coxas, mas a voz de Zayn me impediu.
- Não. – Levantou o meu queixo com uma das mãos e usou a outra para entrelaçar nossos dedos. – Eu quero tirar.
Fechei os olhos inconscientemente quando Zayn tracejou a linha do meu maxilar com os lábios, inclinando o pescoço para que ele pudesse ter mais liberdade. Lentamente meu rosto e mão foram soltos e os dedos ágeis e brincalhões do menino agarraram o tecido do meu suéter, levantando-o agonizantemente devagar. Os toques que esbarravam na minha pele recém descoberta me causavam arrepios e calafrios gostosos. Todo o frio que eu sentira do lado de fora da casa tinha ido embora completamente e a temperatura continuava a subir na medida que minha peça de cima foi arrancada e jogada para o lado. Minha lingerie de renda preta chamou a atenção do homem que segurava a minha cintura com firmeza e seus olhos antes claros e brilhantes se tornaram cheio de luxuria e desejo.
Segurei meu lábio inferior entre os dentes enquanto o observava marcar a minha pele momentaneamente com mordidinhas que seguiram até o vale entre os meus seios. Zayn me mantinha perto dele com a mão direita enquanto a esquerda envolvia e brincava com o meu busto ainda coberto, obrigando pequenos murmúrios a largarem meus lábios entre abertos. Não percebi que estivera apertando os ombros de Zayn com tanta força até que ele reclamou de dor, mas não me fez parar. Olhei rapidamente para a marca que meus dedos deixaram e gostei daquela sensação.
- %Star%... – Meu nome nunca fora pronunciado de forma tão profana antes, nem mesmo por Zayn. Ele escorregou as mãos pelas minhas costas e parou na parte inferior da mesma, me prendendo contra ele e fazendo-me perceber novamente a rigidez dentro de sua calça.
- Hm... – Resmunguei sem confiar na minha voz.
- Eu quero fazer você se sentir bem...
Meus joelhos amoleceram, me fazendo procurar apoio contra o corpo dele. Aquela reação da minha parte o agradou bastante, por isso escutei sua risada arrastada brincando em meu ouvido. Aproveitando a minha pouca altura comparada à dele, beijei a base de seu pescoço como se pedisse para que ele continuasse, querendo que ele me fizesse sentir aquilo que eu mais desejava no momento. Zayn era gentil, mesmo que suas ações estivessem sendo mais diretas agora. Apoderando-se de ambos os lados da minha cintura, ele me levantou do chão, me obrigando a prender minhas pernas em torno de si. Caminhou até a cama com o meu corpo bem enlaçado ao seu e ambos deitamos no colchão confortável, sobre os lençóis brancos perfeitamente arrumados. O menino forçou seu corpo por cima do meu enquanto lutava pra abrir o fecho do meu sutiã fazendo o mínimo de peso possível.
Assim que aquela próxima peça de roupa deixou o meu corpo, afrouxei meu aperto em sua cintura para que ele pudesse descer o próprio corpo sobre o meu e fazer com que seus lábios encontrassem um de meus seios, envolvendo o bico levemente rígido, língua brincando travessamente com ele enquanto o outro era apertado entre o polegar e indicador. Arqueei as costas sem perceber e fechei os olhos após fitar o teto. Alguns suspiros eram arrastados pela minha garganta enquanto aquela sensação só fazia crescer e irradiar pelo meu corpo inteiro.
- Olhe pra mim. – Pediu e eu logo o obedeci, voltando minhas íris em sua direção.
Um muxoxo de reclamação veio a tona assim que meu busto foi deixado de lado quando Zayn levantou seu tronco até estar sentado entre as minhas pernas. Passei as mãos desajeitadamente pelos meus cabelos já bastante bagunçados enquanto especulava internamente qual seria o próximo movimento do outro. Um sorriso tímido brincou em meus lábios assim que ele segurou a lateral da minha legging, arrastando-a para baixo do meu quadril e continuando pelas minhas pernas até que eu estivesse apenas em minha calcinha. A pequena peça mal parecia conter tudo que precisava devido à sua renda delicada que combinava com o sutiã previamente tirado de mim. O observei enquanto o fogo irradiava de suas orbes amendoadas e apreciava a peça que mantinha minha intimidade completamente coberta.
Meus joelhos foram afastados de forma igualmente gentil e já não consegui mais manter os olhos abertos. Agarrei o lençol da cama quando lábios quentes e macios me provocaram com beijos na parte interna da minha coxa, subindo perigosamente perto da virilha. Um gemido mais claro encheu o quarto e chegou igualmente rápido aos ouvidos de Zayn, que mordiscou minha pele em resposta.
- Zayn... P-por favor... – Praticamente implorei que ele continuasse e apertei o lençol com mais força.
- O que você quer? – Provocou mesmo que já soubesse a minha resposta, querendo escutá-la em voz alta.
- M-me toque... – Sussurrei sem conseguir manter a foz firme.
- Boa menina.
Com aquelas duas palavras, Zayn usou o dedo indicador para afastar a renda para o lado e se apoiou com os cotovelos na cama. A próxima coisa senti foram os lábios habilidosos do menino se aproximando do meu centro e a língua quente do mesmo brincando por ali. Meu peito subia e descia na medida em que minha respiração ficava mais descompassada. Suas mãos continuaram em minhas pernas, mantendo-as afastadas para que ele pudesse prosseguir. Zayn logo tratou de envolver o ‘botão’ levemente inchado em minha intimidade e usou os lábios para estimular enquanto sugava de forma alternada, mas sempre mantendo o cuidado de não me causar nenhum desconforto. Minha mão direita procurou os cabelos macios e levemente molhados por causa da neve que derretera ali e se entrelaçou nos fios, puxando. Aquela foi a minha forma de pedir mais.
Meu pedido foi atendido prontamente, meu namorado usando os lábios e a língua juntos para o meu prazer. Nada se passava pela minha cabeça naquele momento. Mesmo que eu quisesse pensar, não conseguia. Só sentia o calor crescendo incessantemente enquanto era invadida e revirei os olhos, arriscando levantar o pescoço para observá-lo se deliciar com o meu gosto. Uma das mãos dele largou a minha coxa para que o dedo do meio pudesse acariciar a minha entrada em movimentos circulares e logo forçar seu caminho pra dentro devagar. Os lábios novamente pressionados contra o meu clitóris enquanto ele chupava como se a sua vida dependesse disso. Meus gemidos já eram completamente descontrolados enquanto chamava o nome dele para quem quisesse ouvir, virando o rosto para o outro lado, sem força nenhuma sobre as minhas próprias ações.
Zayn saiu de onde estava e se deitou ao meu lado, mas com o indicador ainda brincando dentro de mim enquanto se acomodava de uma forma que ficasse confortável para nós dois. Encostei as costas em seu peito e beijos foram distribuídos por toda a minha nuca, fazendo novos arrepios percorrerem o meu corpo inteiro. Meus pés entrelaçaram-se aos de Zayn e reclamei baixinho quando a mão dele deixou a minha intimidade. O olhei como quem pede por mais e o sorriso torto subiu até os seus lábios brincalhões. Para a minha felicidade, o homem só havia feito aquele pequeno intervalo para que dessa vez pudesse invadir a minha peça de roupa rendada por cima e assim tivesse um contato mais abrangente comigo. Seu polegar se posicionou sobre a minha área mais sensível enquanto esfregava devagar em círculos. Dois dedos forçaram sua entrada no meu meio sem pedir ou avisar, o que me fez arfar e mexer o quadril contra o dele, mais uma vez esbarrando no volume – consequentemente provocando outro gemido rouco da parte dele.
- Mais rápido... – Pedi.
Meus pedidos estavam sendo tratados como ordens e logo eram atendidos pelo garoto que levava a frase “se sentir bem” ao pé da letra, pois só o que eu sentia era o prazer que aquele ato tão íntimo provocava em ambos. Zayn sabia que ninguém nunca havia me tocado assim antes e isso o agradava. Nós havíamos feito sexo algumas vezes antes, durante a nossa viagem a Castle Combe, mas os dias que passamos distantes depois de retornar a Londres pareciam ter aflorado nossos desejos e escondido o pudor tão fundo que não conseguiria ser encontrado nem tão cedo. Continuei mexendo o quadril para que, além de provocá-lo, suas investidas pudessem continuar aumentando de velocidade e intensidade até que eu não aguentasse mais. Em poucos segundos chegaria ao ápice e Zayn percebeu quando as minhas paredes se tencionaram em volta de seus dedos; ainda assim não o impedindo de últimas investidas. Um som arrastado deixou a minha garganta para trás enquanto eu chamava o nome daquele homem que acabara de me dar um orgasmo em poucos minutos, usando apenas os dedos e a boca.
- Hmmm... – Meu corpo relaxou e eu mal me mexia, tamanho entorpecimento que me fora causado.
- Fuck... – Xingou contra a pele do meu pescoço.
+++ Horas depois do nosso momento no quarto, descemos para a sala e permitimos que Boris nos acompanhasse. Eu estava nas nuvens e duvidava que qualquer coisa pudesse me aborrecer minimamente durante o resto da noite. O relógio marcava oito horas enquanto ficávamos esparramados no sofá em frente à televisão. Zayn ainda sem camisa e vestindo uma bermuda confortável embaixo de mim e eu por cima dele; usando apenas o meu suéter que continha a parte superior de meu corpo e metade da de baixo. Enquanto assistíamos a um filme qualquer, meu corpo pequeno em relação ao do meu namorado subia e descia conforme a sua respiração.
- Sobre o que é esse filme mesmo? – Perguntei enquanto meus cílios longos se arrastavam pelo peito de Zayn enquanto piscava.
- É uma história sobre coragem e esperança, provando que você deve tentar seguir seus sonhos mesmo que todas as chances estejam contra você. – Explicou como se já tivesse assistido àquele filme milhões de vezes.
- Já pensou em ser treinador motivacional? – Ri, me aninhando ainda mais nos braços dele. – Você poderia viajar o país inteiro dando palestras e tal...
- Só se eu pudesse te levar junto. – Brincou com os meus cabelos e beijou o topo da minha cabeça.
O sentimento que eu tinha ao estar tão perto assim de Zayn era indescritível. Mesmo quando paramos de conversar para assistir o filme, eu ainda me concentrei mais nos batimentos de seu coração do que na televisão propriamente dita. Poderia adormecer ali e ficar para sempre. Ao lado de Zayn eu sentia que nada podia me atingir ou me machucar. Estava segura, onde deveria estar. Ele continuou acariciando os meus cabelos enquanto meus pés brincavam com os dele, como se aquela pequena troca de carinhos fosse tudo que precisássemos.
O som as campainha tocando me fez levantar o olhar. Quem poderia ser àquela altura? A primeira coisa que se passou pela minha cabeça foi a mãe de Zayn chegando mais cedo de viagem para surpreender o filho, mas ela não tocaria na porta, tocaria? Niall e %Abi% também poderiam ser, pois eles tinham mania de ir entrando de uma vez ou ao menos ter uma chegada mais... Escandalosa. Zayn riu ao tentar sair de baixo de mim, mas não conseguiu, pois eu fiz corpo mole e o prendi ainda mais em meu corpo. Uma sensação estranha percorreu a minha espinha e eu me vi com medo de deixá-lo ir. Como se nunca mais fosse tê-lo pra mim novamente. Me assegurando de que não demoraria, nos virou no sofá para que eu caísse deitada de lado e se esquivou do meu toque. Trocamos um selinho demorado e ele caminhou preguiçosamente até a porta de entrada.
Me coloquei de joelhos sobre o estofado para poder observá-lo abrir a porta. Sua fisionomia ficou tensa e assisti enquanto alguém o entregou um envelope pardo. Mais uma vez aquela sensação ruim me causou calafrios não tão bons quanto os de antes e Zayn fechou a porta, aproveitando para passar a chave. Seu olhar curioso encontrou o meu preocupado quando fez o seu caminho de volta até a sala. Quem quer que fosse na porta, havia partido e isso era um bom sinal, certo? Era o que eu esperava. O menino se sentou ao meu lado enquanto abria a entrega e meu sangue congelou assim que vi a única coisa escrita do lado de fora do envelope: “Eu tentei te avisar.” Aquilo quase soava com uma ameaça.
- O que tem aí dentro, Zayn? – Perguntei enquanto ele tirava o primeiro papel de dentro do envelope.
- Parece uma matéria de jornal. – Respondeu e seu maxilar foi tencionado. Espiei por cima de seu ombro e congelei ainda mais ao ver que era uma foto minha ao lado de Nick; a mesma que tiramos durante o Bolshoi, pouco antes de termos que fugir. – Porque diz aqui que ele é o seu namorado, %Star%?
- Deve ser algum engano... – Franzi o cenho ao receber o papel. Li algumas palavras onde o meu olhar bateu e, pelo que entendi, Agnes falava o quanto estava orgulhosa do casal de namorados de também eram seus melhores alunos na Academy. Eu teria apreciado o elogio se um balde de água fria não tivesse sido jogado sobre mim, figurativamente.
- Por favor, me diz que é mentira. – Deixei de encarar o pedaço de jornal e meu coração apertou ao ver a dor nos olhos de Zayn. O menino se levantou do sofá, passando as mãos desesperadamente pelos cabelos – Como você pôde, %Star%?
- É claro que é mentira! – Coloquei as mãos na lateral do meu rosto apoiei os cotovelos no joelho. O que estava acontecendo? Não sabia dizer. – Você não acha mesmo que...
- Eu não sei o que eu acho! – Me interrompeu. Seus olhos estavam escuros, quase negros de raiva. Ele me olhava com desprezo, o que foi a mesma coisa de enfiar uma faca na minha barriga e girar. Me preparei para me defender, mas fui impedida por mais acusações que Zayn derramou em cima de mim. – Você me traiu! E quando eu falava que não gostava desse filho da puta você o defendia. Agora eu vejo o porquê! Há quanto tempo ele está te fodendo?
- Não acredito que você está falando isso... – Fiquei em choque, sem conseguir assimilar aquelas palavras atiradas em mim. Queria explicar o que aconteceu na noite do Bolshoi, mas como poderia fazer isso sem entregar o segredo dos meus amigos e acabar com suas vidas?
- Eu é que não posso acreditar em mais nada do que você fala! – Se aproximou como um furacão e eu achei que fosse levantar a mão na minha direção, o medo percorrendo a minha alma. Cheguei para trás por impulso e ele arrancou a folha de jornal da minha mão. Olhou linha por linha como se estivesse se auto castigando. – Bem que Brigitte me avisou, mas não quis escutar. Já tenho ouvido falar que esse Nicholas anda se escondendo por aí com uma menina que ninguém sabe quem é, mas agora já está bem claro! Seu plano teria sido perfeito se não tivesse sido flagrada por esse jornal.
- Brigitte? – Repeti. Tudo começou a fazer sentido. Ela tinha armado aquilo pra mim e, pela reação instantânea de Zayn, já devia estar plantando coisas na cabeça dele há um bom tempo. – Você vai mesmo acreditar na palavra dela sobre a minha?! Zayn, se eu pudesse explicar...
- Então explique! – Gritou e pegou um vaso de cerâmica em cima da mesa de centro e o jogou na parede, espatifando em milhares de pedacinhos. Tremi com o estrondo causado e lágrimas encheram os meus olhos. Lágrimas de medo.
- E-eu... Eu n-ão posso... – Gaguejei sem conseguir olhá-lo por muito tempo. Não tinha explicação. Ou eu contava tudo, o que incluía Holly e Nick, ou não contava nada. E não podia contar sobre os dois. Não seria capaz de quebrar sua confiança assim.
– Você mentiu pra mim esse tempo todo. Como foi capaz de olhar na minha cara e dizer que me amava?
- Por que eu te amo... Isso é verdade! Eu nunca tive nada com o Nicholas... – Minhas palavras se embolaram no choro que estava começando a subir na minha garganta. Zayn tinha que acreditar. Ele precisava enxergar. – Zayn, me escuta...
Por mais que eu pedisse uma chance para me explicar, ele me deu as costas e andou até o canto da sala. Fui atrás sem ter muita certeza do que falar. Ele tinha que confiar em mim. Essa era a minha única esperança de parar com aquela briga e esquecer esse mal entendido todo. Ele estava magoado e eu via em seus olhos que estava acreditando na matéria de jornal. Consegui pegar o papel novamente e dei mais uma olhada. A matéria falava claramente que éramos namorados e que “estávamos muito felizes em acompanhar a nossa diretora durante aquele espetáculo”. Óbvio que alguém distorcera os fatos para causar um impacto maior, sem nem se importar com as consequências que suas palavras poderiam causar.
- Zayn... – Cometi o erro de tocá-lo no ombro direito e meu pulso foi detido no mesmo instante
- Não me toque. – Sua voz se tornou áspera, como se tivesse nojo de mim. Apesar disso, ele continuou segurando o meu pulso com força, me jogando de encontro com a parede. Minhas costas estremeceram com o choque e eu tive que ter muito cuidado para não pisar nos cacos da cerâmica quebrada. – Nunca mais me toque.
- Você está me machucando... – Gemi com o choro. Zayn deve ter achado que eu me referia a dor emocional, pois gargalhou com sarcasmo e apertou ainda mais meu pulso relativamente pequeno comparado à sua mão forte.
Àquela altura eu já estava completamente desesperada, ciente de que Zayn poderia e provavelmente iria me machucar se eu continuasse parada ali. Esse era um lado dele que eu nem imaginava existir, mas infelizmente estava conhecendo de camarote. Quase senti como se fosse outra pessoa ali na minha frente e não o garoto por quem eu me apaixonei. Como ele podia não acreditar em mim? Devia estar bêbado de raiva, perdido em todas as mentiras que Brigitte devia ter contado no passar dos dias. Ela deixou bem claro que o tiraria de mim e parecia ter finalmente sucedido. O mais estranho era que a dor em meu peito não era direcionada a ela, e sim a menino que acabava de jogar fora todos os momentos que passamos juntos nos últimos meses. Nossos sonhos, nossos segredos, nós. Era ele que deveria acreditar em mim, me defender e ficar ao meu lado. Era ele que prometera todas aquelas coisas e que jurara me proteger de tudo. Contradizendo as suas palavras, era justamente esse mesmo menino que quebrava todas as suas promessas sem nem ao menos me dar um voto de confiança. A única pessoa que eu julgava impossível me machucar era aquela que amedrontava.
As lágrimas rolavam pelo meu rosto, visivelmente acabada com aquilo que estava se apoderando do meu namorado. “Ex-namorado.” Me corrigi internamente com um soluço. Não aguentava mais ficar ali escutando acusações que deixavam a boca que me beijara tão docemente horas atrás e corri. Minha atitude o fez soltar o meu braço e o apertei contra o peito. Não pensei duas vezes em correr até a porta, girando a chave de qualquer jeito na fechadura e fugindo daquela casa que costumava ser um refúgio pra mim.
- Não volte mais. – Foi a última coisa que ouvi.
+++ Certamente não pensei nas consequências de sair correndo pela neve sem proteção alguma. Após vinte minutos de corrida em disparada da casa de Zayn é que os efeitos do frio começaram a ser maiores que a adrenalina que bombeava sangue pelo meu corpo. Meus pés começaram a afundar na neve, chegando até um pouco acima do tornozelo. Aquilo doía e queimava a sola do meu pé, mas ao menos me obrigava a continuar com a minha caminhada, já que a falta de ar me impossibilitava de retomar a minha corrida. Como Zayn morava há quilômetros de outras pessoas, me vi apavorada ao não encontrar nenhum carro na rua; muito menos taxis ou ônibus. Minhas pernas começavam a falhar e meus braços se mantiveram presos ao meu corpo. Precisava achar uma solução rápida, ou então cairia ali mesmo e ninguém sabe o que poderia acontecer comigo.
Minha visão ficou turva enquanto os danos emocionais causados ao meu psicológico se chocavam com os efeitos climáticos. Eu já havia participado de términos dolorosos antes, tanto como telespectadora ou passando por isso em primeira pessoa – quando Anttonie e eu nos separamos -, mas nada foi nem de perto tão devastador quando ver o sofrimento de Zayn. Ele realmente acreditara que tinha sido traído e isso acabava comigo, pois eu sabia como ele estava magoado. Ao mesmo tempo, tentei ter raiva. Raiva por saber que eu não tinha culpa daquilo, pois não fizera nada. Raiva de Brigitte por infernizar a minha vida até conseguir o que tanto queria. Quase como um milagre, encontrei um objeto vermelho e um tanto estreito há metros na minha frente. “Uma cabine telefônica...” Pisquei os olhos esperando aquela miragem desaparecer como no deserto, mas puxei o ar com mais força ao descobrir que ela continuava ali, se aproximando na medida em que meus pés se arrastavam pelo gelo.
Uma vez dentro da cabine, me tranquei ali e encostei o corpo ao vidro. Não é como se a cabine estivesse aquecida, mas pude me proteger um pouco das rajadas de vento que bagunçaram os meus cabelos e cortaram as minhas pernas descobertas. Respirei fundo para levar oxigênio aos meus pulmões, o que se provou uma tarefa muito difícil. Fechei os olhos sentindo os meus cílios endurecerem enquanto tentava pensar no que fazer. Com a baixa oxigenação em meu corpo, achei muito difícil achar uma solução para o meu problema. “Ajuda. Preciso de ajuda.” Pensei ao colocar a mão sobre o gancho do telefone na minha frente. Nem mesmo os três dígitos da policia eu conseguia recordar, de tão em choque que estava. Minha única alternativa foi confiar nos meus instintos e deixar que meus dedos discassem o único de número de telefone que me vinha em mente, mesmo que nenhum nome fosse ligado à ele.
- Alou? – Uma voz um tanto sonolenta atendeu a ligação a cobrar.
- Harry? – Solucei, feliz por escutar a voz dele depois que toda a minha esperança de continuar consciente por mais de cinco minutos foi embora. – Eu preciso de ajuda...
- %Tah%? %Star%, onde você está? O que aconteceu? – Barulhos de cobertas sendo jogadas para o alto e de uma cama rangendo me fizeram imaginá-lo saindo do quarto.
- Harry, vem me buscar... – Pedi sem conseguir distinguir as minhas respostas das perguntas dele. Minha cabeça estava uma confusão e meu corpo fraquejava. – Eu não sei onde estou... Meu celular não tá comigo... Estou com frio...
- %Star%, eu vou te buscar, mas preciso que me diga onde está. Você me ligou de um telefone público, não foi? – Aquelas palavras se embaralharam, por mais que eu tentasse prestar atenção. – Preciso que você me faça um favor. Por favor, %Star%, eu já estou saindo daqui, só preciso que me diga os números que estão na etiqueta de metal do telefone, perto do painel de discagem. Se você conseguir olhar isso pra mim, eu posso te localizar...
- Harry... – Gemi sentindo a pouca consciência se esvair entre meus dedos. Eu estava assustada e sabia que ele também, principalmente por não saber o que acontecera comigo pra me deixar naquele estado. – S02784.
- Fique aí e me espere chegar... %Star%, por favor.
- Logo...