Ballet Shoes


Escrita porElla Souza
Editada por Isabelle Castro


Capítulo LVIII

Tempo estimado de leitura: 46 minutos

  Acordar na manhã seguinte foi mais fácil do que eu imaginava. Talvez por ter dormido muito bem depois de uma noite cansativa ou então devido à companhia que adormeceu ao meu lado. O que importa é que, assim que os primeiros raios de Sol banharam o meu rosto descoberto, sorri ao despertar com um humor tão maravilhosamente leve que eu até desconfiei se ainda era eu mesma. Ao abrir os olhos, notei que estava virada na direção da janela, na ponta da cama. Era coberta pelo edredom de lã, mas não precisei me olhar para saber que ainda estava pelada. Um sorriso surgiu em meus lábios ao lembrar da noite anterior e de todos os momentos bons que eu vivera pela primeira vez. “Eu te amo tanto, %Star%...” Era a última coisa que eu lembrava de escutar antes de adormecer como uma pedra. Mas uma pedra feliz.
  Me virei na direção contrária na cama, na esperança de dar de cara com um anjo dormindo, mas o lugar que Zayn deveria estar ocupando se encontrava vazio. Com certeza ele deveria ter acordado e arrumado algo bem importante pra fazer, pois era a única explicação que eu conseguia encontrar para ter sido deixada para acordar sozinha. Me estiquei no meio da cama de forma preguiçosa, criando coragem para ir procurá-lo. Minha mão foi para o seu travesseiro e acabou esbarrando em um pedaço de papel de caderno, de onde logo reconheci a caligrafia fina de Zayn:

“Se você está lendo isso, significa que meu plano de te levar café da manhã na cama falhou. Estou na cozinha e já sinto a sua falta. – Zayn”

  Sorri enquanto cogitava a possibilidade de continuar na cama e fingir não ter acordado, só pra que Zayn me trouxesse o café na cama. A verdade era que eu também sentia a sua falta e não aguentaria esperar que ele voltasse, pois – conhecendo seus dotes culinários – aquilo poderia levar muito tempo. Me pus sentada na cama e me levantei dela devagar, evitando tonturas desagradáveis. Procurei a minha calcinha pelo chão e ri ao encontrá-la perto da porta do banheiro. Aproveitei que estava por ali e fiz uma rápida higiene matinal para voltar ao quarto e vestir a blusa de Zayn que também estava largada pelo chão. Não me importei em estar com poucas roupas, mas depois da noite anterior isso não seria mais um problema.
  Deixei o quarto para trás e pensei em ir até a varanda daquele andar para apreciar a vista que deveria estar incrível durante a manhã, mas sabia que uma vista mais bonita ainda estava me esperando na cozinha. Desci as escadas e já pude sentir um cheiro gostoso que eu não conseguia decifrar o que era. Atravessei o cômodo e vi um baú de madeira em cima do sofá que não estava lá na noite anterior. Suprimi a minha curiosidade e caminhei até o arco que separava a sala da cozinha e me deparei com Zayn sem camisa, de costas pra mim. Ele não notou a minha chegada, o que me deu alguns minutos para observá-lo. Eu sabia vira muito mais que aquilo apenas horas antes, mas com a luz do dia, seus músculos e traços estavam bem mais definidos, o que era um convite e tanto.
  - Bom dia! – Desisti de ficar olhando de longe e caminhei até ele, abraçando-o pelas costelas e ficando na ponta dos pés para poder apoiar o queixo em seu ombro.
  - Bom dia, beautiful! – Ele sorriu abertamente, feliz em me ver. – Cuidado, não quero te queimar...
  - O que está cozinhando? – Dei um beijo na bochecha dele e me afastei alguns passos, encostando na bancada e o olhando-o de lado. – O cheiro está ótimo.
  - Ovos Benedict. – Respondeu todo cheio de si e dei uma espiada na panela que ele mexia. – Também conhecido como ovos mexidos com bacon!
  - Delicioso! – Sorri. – Quer ajuda?
  - Já estou acabando por aqui, mas pode ir colocando a mesa se quiser. – Indicou com o ombro alguns pratos ao meu lado.
  - Prefiro colocar minhas mãos em outra coisa. – Acabei rindo com o duplo sentido daquela frase e voltei a ficar atrás de Zayn. – Alguém já te disse que você tem ombros lindos?
  - A minha mãe costuma dizer isso. – Comentou enquanto eu o massageava perto da nuca. – Mas ela fala que eu sou lindo por inteiro. Coisas de mãe.
  - Ela não está mentindo. – O beijei ali e dedilhei a linha que dividia suas costas antes de me afastar e pegar os pratos. – O que é aquele baú que está no sofá?
  - Ei, eu preferia que você continuasse me ajudando daquela outra forma... – Ele riu ao me ver andar na direção da mesa. – Bonitas pernas. E essa camisa ficou melhor em você do que em mim.
  - Também concordo que você fica melhor sem camisa do que com ela. – O olhei por cima do ombro em um charme e arrumei um prato em frente ao outro. – Mas você não respondeu a minha pergunta. O baú?
  - Ah, é. Achei umas coisas que podemos usar na festa de ano novo... A maioria era das minhas irmãs, mas aposto que elas nem lembram mais. – Colocou os ovos mexidos em um prato mais fundo e também o levou para a mesa, passando por mim quando me dirigi até a geladeira.
  - Você não me disse que estamos indo há uma festa... – Peguei a garrafa de suco de laranja que era uma das poucas coisas que estava ali dentro. – Achei que passaríamos a virada do ano aqui... Sozinhos...
  - Depois que prova, não quer saber de outra coisa. – Zayn se gabou retoricamente e senti seus braços me abraçando por trás. – Podemos ficar se você quiser.
  - Agora eu quero ir pra essa festa! – Andamos abraçados até a mesa e eu coloquei o que segurava ali em cima, me virando de frente para ele em seguida. – Não sabia que uma cidade tão pequena comemorava o Ano Novo com uma festa.
  - Na verdade, a festa não é na cidade. É no Manor House. – Explicou como se aquilo devesse fazer algum sentido pra mim. – O hotel...
  - O que parece um castelo? – Sorri animada e dei um impulso no chão para ficar sentada sobre a mesa.
  - Esse mesmo. – Afastou meus cabelos do pescoço e segurou meu queixo para que eu o olhasse. – A senhorita recebeu um convite do príncipe para acompanhá-lo até o baile.
  - Bem, então você terá que dizer a ele que eu agradeço o convite, mas recuso. – Pousei minhas mãos sobre seus ombros. – Estou de olho em outro acompanhante.
  - É? Posso saber quem? – Afastou os meus joelhos e se colocou entre as minhas pernas, nos aproximando ainda mais.
  - O cozinheiro. – Sorri, envolvendo-o pelo pescoço com os meus braços. – Mas acho que tenho que provar a comida primeiro, só pra ter certeza que é uma boa troca.
  - Você pareceu bem satisfeita ontem a noite, provando outra coisa. – Sorriu maroto e encostou os lábios aos meus.
  - Você é terrível! – Ri e escondi o rosto em seu pescoço para que ele não visse que aquele comentário me fez corar. – E eu estou com fome!
  - Então vamos comer. – Beijou o topo da minha cabeça e se afastou para que eu pudesse descer.
  - Vamos! – Desci da mesa e me sentei novamente, dessa vez em uma cadeira. Zayn sentou-se à minha frente e pegou uma colher para se servir de ovos “Benedict”. Eu peguei uma fatia de bacon com a mão mesmo e o levei à boca. – O bacon está bem crocante...
  - Minha especialidade de café da manhã! Bacon frito e ovos. – Comeu uma garfada dos seus ovos. – Para o almoço teremos a minha outra especialidade...
  - Macarrão! – O interrompi por já saber a resposta. – O que também é a especialidade de jantar... Porque é o que jantamos ontem.
  - Talvez seja melhor você cozinhar nossas próximas refeições...
  - É uma boa ideia. – Ri e me servi de mais bacon e ovos.
  - Hm, a Abi ligou. – Falou depois de engolir o que mastigava. – Ela disse que não consegue ligar no seu celular, então ligou no meu...
  - Esqueci o celular desligado ontem. – E não teria lembrado se Zayn não comentasse aquilo. – O que ela queria?
  - Detalhes. – Me olhou significativamente e me arrependi de ter perguntado. – Mas já contei tudo que ela precisa saber.
  - O que você falou? – Arregalei os olhos. – Deixa pra lá, não quero saber!
  - Apenas confirme se ela perguntar algo. – Piscou. – Isso serve pro Niall também.
  - Niall ligou?! – A situação só fazia piorar. Ao menos eu estava longe dos dois e não precisava escutar as piadinhas de %Abigail% o dia inteiro.
  - Os dois ligaram juntos, na verdade. – Zayn estava tranquilo demais para o meu gosto, então talvez eu não precisasse me preocupar tanto. – Foi tipo uma conferência.
  - Ainda bem que eu estava dormindo! – Resolvi deixar aquele assunto constrangedor de lado e me concentrar nos ovos em meu prato.
  Até que o nosso café da manhã não foi de todo ruim. Zayn podia não ser um mestre cuca, mas era bom com temperos, o que não deixou os ovos salgados demais e nem sem gosto. Como já falei antes, o bacon estava crocante no ponto certo. Não conversamos mais sobre nossos amigos e nem sobre a noite anterior, mas era fácil nos pegar encarando um ao outro como se trocássemos indiretas. O clima geral estava muito leve e divertido. Fui a primeira a terminar de comer, já que não estava tão faminta quanto imaginava. E como a cozinha e a sala de jantar eram praticamente embutidas, me levantei com o meu prato e copo sujos para adiantar a limpeza de tudo. Zayn ainda se demorou um pouco mais e sua refeição, mas logo me deu o resto das louças para que eu pudesse terminar de lavar.
  - Onde está o pano? – Procurei algo para secar as minhas mãos, mas não encontrei nada.
  - Pano? Que pano? – Zayn estava encostado ao arco de entrada, me esperando terminar.
  - Pano de prato? Toalha? Qualquer coisa pra secar as minhas mãos... – Me virei em sua direção, mas a expressão que ele ganhou me dizia que não havia pano algum.
  - Quer que eu vá pegar uma toalha no banheiro? – Coçou a nuca.
  - Não precisa, eu seco em outro lugar. – Sorri inocente e fui até ele. Zayn desconfiou das minhas intenções, mas isso não me impediu de passar as mãos por seu peito e “enxugá-las”. – Na falta de uma toalha melhor...
  - Ei, essa água está gelada! – Reclamou com uma risada e me agarrou para se secar na minha camisa (que na verdade era dele).
  - Malik, para! – Gargalhei tentando me soltar. – Agora eu vou ficar molhada!
  - Tem razão, acho melhor tirar a camisa... – Me largou e olhou-me com seriedade, querendo que eu realmente fizesse o que ele aconselhara.
  - Boa tentativa. – O empurrei de leve pelo ombro. – Podemos ir ver o baú agora?
  - Você é mesmo curiosa, né? – Indicou o arco para que eu pudesse passar.
  - Nos conhecemos há tanto tempo e você ainda não aprendeu isso?
  Passei por ele e fui até a sala sabendo que seria seguida. Também sabia que Zayn estava quase babando pelas minhas pernas, mas isso não vem ao caso agora. Como se eu morasse naquele chalé há anos e pudesse me sentir em casa, pulei pelo encosto do sofá e me sentei no braço do objeto. Não esperei o outro me acompanhar e já abri o baú de madeira, bem parecido com o que eu tinha escondido em meu closet, mas esse era quadrado e um pouco maior. Como não tinha um cadeado ou coisa parecida, a única dificuldade que se pôs em meu caminho foi o peso da tampa, porém, não brigamos por muito tempo. Ali dentro encontrei várias coisas que não soube identificar de primeira. Tirei alguns lenços coloridos que deviam ser echarpes que fizeram sucesso há algumas décadas atrás, seguida por papeis envelhecidos com um cheiro forte de café.
  - Baby, você e as suas irmãs costumavam brincar de caça ao tesouro?
  - VOCÊ ACHOU O MAPA? – Ele quase pulou em cima de mim pra poder pegar o papel em minha mão e me fez rir. – Eu não acredito que estava aqui esse tempo todo.
  - Pode me explicar? – Arqueei uma sobrancelha. Pra que tanta emoção por um pedaço de papel velho?
  - No último verão que meus pais vieram juntos pra essa casa, eu e as meninas pedimos pra brincar de caça ao tesouro, então eles concordaram em esconder algumas coisas e depois fizeram esse mapa. Já estavam separados, mas ainda tentavam fazer coisas juntos por causa da gente... – Zayn não tirava os olhos do mapa enquanto explicava e eu sentia em sua voz que era algo delicado. – Mas enfim. No meio do jogo, eu e Waly acabamos brigando e a brincadeira foi suspensa. Depois disso perdemos o mapa e nunca mais recuperamos as coisas que eles esconderam.
  - E você sabe o que eram essas coisas? – Coloquei a mão sobre o ombro dele, querendo encorajá-lo a falar mais sobre os pais e esses tempos felizes de quando a família inteira estava reunida.
  - Não faço ideia. – Tirou os olhos do papel com uma risada. – Mas já devem ter sido encontradas por outras pessoas mesmo, não tem importância.
  - Como você pode ter certeza? – Peguei o papel quando Zayn o soltou dentro do baú. – Eu acho que devemos terminar a brincadeira.
  - %Tah%, fazem mais de sete anos... Mesmo se ninguém achou, as coisas já devem ter apodrecido. – Deu de ombros, mas eu não deixaria aquilo barato.
  - O que é que custa? – Levantei do sofá e estendi a mão para que ele me seguisse. – Não temos nada pra fazer mesmo. Vamos trocar de roupa e ir recuperar as suas coisas perdidas!
  - Não acredito que estou fazendo isso. – Rolou os olhos, porém, acabou concordando.

+++

  - Tem certeza que sabe pra onde estamos indo? – Perguntei ao quase tropeçar em um galho.
  Zayn e eu seguíamos o mapa do tesouro que acabou nos levanto para a floresta. Diferentemente do dia anterior, nós não estávamos seguindo uma trilha previamente criada, e sim nos aventuramos pelo centro da mata. Não que meu senso de tempo e direção fossem tão afiados quanto gostaria, mas podia jurar que estávamos andando em círculos há uns bons quinze minutos. Eu segurava uma pá de jardim em uma mão e me apoiava no braço de Zayn com a outra. Quanto menos perigo nós corrêssemos, melhor. O dia também amanhecera frio; mas bem frio mesmo! O que nos fez agasalhar cada pedacinho de corpo com blusas de mangas compridas, casacos pesados e tênis ou bota – no meu caso.
  - Você tem que perguntar isso a cada três minutos? – Zayn parou de andar para que eu recuperasse o equilíbrio e me passou o mapa.
  - Ora, me desculpe se eu sou um pouco cética quanto a andar em uma floresta que eu não conheço! – Apertei os olhos e voltei a minha atenção para o mapa. – Seus pais fizeram um trabalho muito bom com isso aqui...
  - Eles achavam que tinham que compensar o divórcio de alguma maneira, então se esforçavam bastante. – Me ajudou a passar por cima de um tronco para que pudéssemos continuar o “passeio”. – E “cética”? Tem um dicionário escondido aí?
  - Não preciso de um dicionário! – Afastei as suas mãos quando ele tentou checar no meu casaco se eu escondia algo, o que acabaria me causando cócegas. – Conheço palavras difíceis, ok?
  - Minha namorada é uma nerd. – Riu, me fazendo rolar os olhos. – Para onde devemos ir agora, Einstein?
  - Vinte passos por essa direção... – Apontei para frente. – Se você não errou o caminho, devemos sair no rio.
  - Não seria mais fácil só andarmos até o rio? Não quero ter que contar passos!
  - Zayn, você tira toda a diversão da coisa, sabia? – O olhei com uma falsa braveza e me afastei enquanto contava os passos na minha mente. – Além do mais, se não seguirmos as instruções corretamente, não vamos encontrar o tesouro!
  - O tesouro que não está mais lá, você quer dizer? – Me seguiu, mas eu duvidava que ele estivesse contando os passos também.
  - Meu namorado é um chato. – Fingi pensar alto e olhei para trás, descobrindo que Zayn não estava mais lá. – Baby? Isso não tem graça!
  Por um minuto pensei que Zayn tivesse se perdido, mas ele não podia ser tão lerdo assim. Podia? E a não ser que uma coruja gigante o tivesse capturado, nenhum animal poderia ter causado o seu sumiço. Voltei alguns passos e analisei o chão a procura de algum buraco em o menino poderia ter caído e não achei nada. Bem, isso só podia indicar que ele estava se escondendo de mim. “Correção: Meu namorado é uma criança.” Rolei os olhos pelo que parecia ser a quinta vez em menos de meia hora e cruzei os braços.
  - Eu vou continuar sem você, hein? – Ameacei sacudindo o mapa, sabendo que era observada. – Tudo bem, já entendi! Não te chamo mais de chato. Prometo.
  - É bom mesmo. – Dois braços me envolveram por trás e eu sorri.
  - Só isso? – O olhei de lado. – Você desistiu rápido demais!
  - Quer que eu me esconda de novo? – Ameaçou me soltar, mas foi só o suficiente para que virássemos de frente um para o outro. – Além do mais, escondido eu não poderia fazer isso...
  Zayn me abraçou ainda mais e procurou os meus lábios. Acabei me inclinando um pouco para trás, até que minhas costas encontraram o tronco de uma árvore. O menino percebeu que havia me encurralado e aproveitou a situação para me prender anda mais entre o tronco e o seu corpo. A minha preocupação de terminar com um lagarto entrando do meu casaco foi embora assim que a língua quente de Zayn pediu passagem. O beijo dele faria qualquer coisa valer a pena. O envolvi pela nuca, puxando seu rosto ainda mais pra perto do meu. Investimos um contra o lábio do outro com tanta força que chegou a doer.
  - Não sabia que as instruções do mapa incluíam pegação na floresta. – Ri me sentindo muito boba por falar aquilo e Zayn fez o mesmo.
  - Tudo deveria incluir pegação. – Encostou nossas bocas mais uma vez, mas dessa vez não demorou tanto. – Pena que já vamos embora amanhã, porque tem vários lugares que eu gostaria de te mostrar...
  - É verdade, já vamos voltar amanhã... – Fiz um biquinho, desejando poder aproveitar o chalé e Zayn por mais tempo. – Por que mesmo? Nossas aulas não começam até a semana que vem...
  - O resultado do X Factor sai amanhã, babe. Esqueceu? – Roubou mais um selinho antes de se afastar e segurar a minha mão para que continuássemos o caminho.
  - Holy shit, é verdade! – Como eu podia ter me esquecido disso? – E é claro que temos que voltar! One Direction precisa estar reunida para ver o resultado...
  - Exatamente. – Por mais incrível que pareça, Zayn começou a contar os passos.
  - Mas vamos mudar de assunto antes que eu fique mais ansiosa do que já estou! – O deixei contar e apenas o segui até que o chão gramado se transformou em cascalhos. – Isso porque eu nem estou na banda...
  - Acho que estamos chegando perto... – Olhou para o mapa e apontou para o tronco de uma árvore quebrada que parecia estar ali há muito tempo. – Não acredito que essa árvore ainda está aqui.
  - É embaixo dela que temos que cavar? – Saltitei alguns passos para me adiantar e Zayn me seguiu. Eu poderia ter me atentado à vista, mas estava mais preocupada em encontrar o tesouro.
  - “Embaixo do tronco mágico devem cavar, se o tesouro almejam encontrar.” – Leu o que estava escrito no mapa e eu sorri. – Você vai demorar um pouco pra encontrar, já que não tem nada aí.
  - Você vai ver só! – Estava cansada de Zayn duvidando de mim, mas não iria começar uma discussão.
  - Ou não vou ver nada. – Me acompanhou até o tronco caído e se sentou em uma das pontas.
  Preferi não responder e guardar o direito de falar “bem que eu avisei” para mais tarde. Como só havia uma parte do tronco que não encostava no chão de pedras, eu sabia bem onde cavar. Retirei a pá que trouxera do chalé do meu bolso de trás e me abaixei para começar a cavar. Tudo bem que aquele chão não era o lugar mais confortável do mundo, mas era tudo que eu tinha. Sabia que cavaria bastante, então o mínimo que eu podia querer era estar sentada. Só torcia para que a minha calça não estragasse ou se rasgasse. Afastei as primeiras pedras com as mãos para facilitar meu trabalho e escutei Zayn rindo. O olhei e ele estava com os braços cruzados. Apenas fiz uma careta em sua direção e continuei com o meu trabalho, resmungando coisas que nem eu mesma entendia.
  “Ele vai ver só. Quando eu encontrar o tesouro, não vou dividir!” Pensei em quanto fazia caretas. Sim, eu parecia ter perdido todo o juízo. Zayn só fez rir mais ainda da minha cara e continuei a ignorá-lo. Finquei a pá na terra e comecei a cavar. Ao menos com todo aquele exercício eu espantaria o frio e me manteria aquecida. O ruim era que não tinha muito espaço para jogar a terra fora, então eu tinha que puxá-la para perto de mim e acabava derramando alguns grãos na minha roupa. Já tinha ido longe demais pra desistir agora, portanto, continuaria a cavar nem eu chegasse ao centro da terra! Para exagerar um pouco mais, digamos que eu não me importaria de chegar à China.
  - Vamos, babe... Desista... – Depois de alguns minutos, Zayn pareceu cansar de me esperar. – Venha apreciar essa vista.
  - Eu jurava que ia... Achar? – Enfiei a pá um pouco mais fundo e acabei atingindo algo mais sólido que terra. – Baby...
  - Encontrou? – Saiu do tronco e se ajoelhou ao meu lado. – Tem certeza eu não é um esqueleto de animal?
  - Só se esse animal for quadrado... – Enfiei a mão no buraco e tive certeza de que encontrara algo importante. Puxei um objeto azul que parecia um saco de supermercado, envolvendo uma caixa. – Viu só?
  - Não acredito que você realmente achou! – Zayn sorriu e me ajudou a levantar. – Vamos abrir!
  - Você devia abrir, baby. Afinal, são coisas suas. – Nos sentamos no tronco e me preocupei em limpar minha calça.
  - Então vamos abrir juntos.
  Até que era uma boa solução, afinal, eu tinha feito o trabalho duro! Zayn arrancou a sacola azulada e a deixou de lado, me passando a caixa quadrada de madeira que era o verdadeiro tesouro. Hesitei um pouco, já que não sabia o que podia encontrar ao abrir aquela caixa. Segundo Zayn, ela estivera abandonada por mais de sete anos e isso era tempo mais que suficiente para que bichinhos desagradáveis (como larvas ou minhocas) entrassem ali. “Ew.” Ao perceber a minha demora, o menino encostou no meu joelho com o próprio e sorriu. Assenti em resposta e abri a caixa finalmente, suspirando aliviada por não ter encontrado baratas ou qualquer coisa do gênero. Na verdade, as coisas pareciam estar em bom estado. Esquecidas pelo tempo, claro... Mas ainda em bom estado. A caixa em si parecia um pouco úmida, mas fora isso tudo estava seco.
  - Que gracinha! – Tirei um pequeno espelho da Hello Kitty e me olhei no reflexo. – Espero que seja das suas irmãs...
  - Claro que esse espelho é meu! – Brincou e arrumou o topete enquanto se olhava no objeto. – O que mais tem aí?
  - Um par de abotoaduras... Uhh, parece ouro! Algumas moedas, um chaveiro de ursinho... – Fui pegando as coisas com cuidado e entregando-as a Zayn. – O que é isso aqui?
  - O que? – Perguntou, mas continuou olhando para as coisas em sua mão enquanto eu ainda estudava a caixa.
  - Um papel. – Retirei com cuidado a folha levemente amarelada do fundo da caixa. – É uma carta, Zayn...
  - Quer ler?
  - Não. A carta é sua, então acho que você devia ler. – Não cheguei a abri-la, mas pude ler no envelope que aquele papel vinha de “Papai”.
  Deduzi que era importante, ainda mais pelas coisas que Zayn me contara. Ele sentia falta de seus pais juntos, mais até do que eu sentia dos meus. Apesar dos muitos anos que já haviam passado, o menino não parecia superar ou ao menos aceitar; claro que não tinha outra escolha além daquela, mas fazia o que podia. Peguei o espelho, o chaveiro e as outras coisas e coloquei tudo dentro da caixinha mais uma vez. Equilibrei-a dobre o tronco e entreguei o papel para Zayn. Ele me olhou como se falasse que eu não precisava me afastar, entretanto, eu não obedeci àquele pedido. Apenas beijei-lhe os lábios e me virei na direção do lago.
  Agora sim eu podia prestar atenção na paisagem ao meu redor. Castle Combe não parava de me surpreender e eu me perguntava se algum diretor de cinema já descobrira aquele lugar. Além de um campo maravilhoso, eu descobria um lago extenso cercado por outras montanhas e pinheiros altos. O mar de cascalhos continuava até às margens do rio esverdeado que se mexia tranquilamente com as rajadas de vento. Não cheguei a tocar na água, mas sabia que ela estava, perdoe a minha redundância, gelada como gelo. Arrisquei chegar mais perto e parei aí. Apertei meu casaco contra o corpo e passei a língua pelos lábios para umedecê-los. Dei uma pequena olhada para trás, querendo saber se estava tudo bem com Zayn ou se eu precisaria me aproximar imediatamente. A parte ruim de não ter lido a carta primeiro é que eu não sabia se Zayn estava pronto para lê-la. Não que eu pudesse impedi-lo de qualquer coisa, apenas gostaria de protegê-lo o quanto pudesse.
  O menino estava curvado e apoiado nos joelhos com os cotovelos. Uma de suas mãos segurava a carta e a outra tampava a boca. Pensei ter visto-o tremer um pouco, mas preferi achar que era fruto da minha imaginação. Algo vibrando no bolso do meu casaco me fez voltar a olhar para frente e pegar o meu celular. Era uma mensagem de Harry:

“Mommy, sinto a sua falta. (x)”
“Awwn, assim você me mata, Hazza!”
“Todos aqui sentem a sua falta, na verdade. ):”
“Eu também sinto... Como está tudo? Você está melhor?”
“Lou mal me deixa sair da cama! É meio irritante, mas pelo menos estou melhorando e tenho um companheiro peludo. Liam também está bem. Mande lembranças a Zayn.”
“Mandarei, sweety. Agora tenho que ir, porque ele está vindo pra cá. Ligo pra vocês depois da meia noite, mas feliz ano novo. xx”

  Escutei passos pelo cascalho e guardei o celular no bolso novamente. Me virei na direção de Zayn, que caminhava até onde eu estava parada e ainda tinha a carta em mãos, dobrada. Os olhos dele estavam um pouco marejados e o nariz avermelhado, o que me preocupou. A primeira coisa que fiz foi abrir os braços para que ele pudesse se enterrar ali e então o envolvi carinhosamente. O senti fungar baixinho, mas sabia que não desabaria em lágrimas; apenas estava um pouco abalado. Beijei seu rosto com ternura e ele escondeu o rosto na divisão entre o meu pescoço e ombro.
  - Obrigado, %Tah%... – Falou contra a minha pele, me abraçando com força. – Por me fazer vir até aqui.
  - É claro... – Lhe acariciei os cabelos. – O que dizia a carta?
  - Meu pai... Pedia desculpas por ter ido embora e nos deixado. Prometia que sempre faria de tudo pra não perder nada e que sempre estaria por perto. – Levantou o rosto para me explicar e eu senti que ele se segurava.
  - E ele cumpriu isso, não foi? – Toquei seu rosto com uma mão e o acariciei com o polegar. – Mesmo sem vocês encontrarem essa carta.
  - Ele disse que ainda era apaixonado pela minha mãe. E que ela era o grande amor de sua vida... – Repuxou os lábios em um meio sorriso. – Mas que as vezes isso não é o suficiente.
  - Essas coisas acontecem, baby... Não significa que é sempre assim. – Sorri o mais confiante que consegui e passei os lábios pelos dele. – O que importa é que tudo está bem.
  - Eu te amo, Anjo.
  - Eu amo você.

+++

  - %Tah%, você está linda. – Zayn parou na porta aberta do banheiro e me olhou dos pés à cabeça. – Mas não vai... Congelar?
  - Provavelmente, mas isso é só um detalhe. – Ri enquanto terminava de me maquiar. – Não se preocupe, você não vai ter que andar por aí com uma mulher roxa. Vou usar um sobretudo bem quentinho. A festa não vai ser ao ar livre, certo?
  - Não totalmente... Pelo que li no iPad, a festa é no salão, mas o campo de golfe vai estar aberto. – Deu meia volta e foi se sentar na cama.
  - Você realmente gostou do meu iPad, não foi? – O olhei sem precisar sair do banheiro e coloquei os brincos nas orelhas. – Baby, você não está fazendo isso certo...
  - Disso eu sei, mas é o melhor que eu consigo! – Tentava amarrar uma gravata preta em volta de seu pescoço e não tinha muito sucesso com isso. – Ajuda?
  - Claro! – Mesmo tendo certeza que não teria muito mais sucesso que ele, voltei para o quarto. – É só passar essa ponta por aqui... E dá a volta...
  - Você não tem ideia do que está fazendo, né? – Riu enquanto brincava com a barra do meu vestido e eu tentada arrumar a sua gravata.
  - Nem umazinha. – Acabei rindo também e tirei aquela fita preta de seu pescoço. – Acho que você devia ir sem gravata mesmo. É mais casual.
  - É a única opção... – Levantou assim que eu me afastei e voltei para o espelho do banheiro. – O que você está procurando?
  - A minha coroa. – Fiz um bico enquanto juntava as minhas coisas espalhadas sob a bancada de madeira.
  Depois de voltarmos para casa àquela manhã, terminei de olhar as coisas do baú enquanto Zayn foi ligar para o pai. Me mantive bem entretida com a variedade de coisas que encontrei naquela caixa, sendo que eu não conseguia identificar a metade delas. Laços de cabeça, aqueles turbantes de seda e alguns pingentes que deduzi serem usados na testa eram algumas das coisas que mais me interessaram. O menino disse que poderíamos usá-los para a festa de Ano Novo no Hotel, mas duvidei muito que fosse ser uma festa à fantasia. Além do que, todos os óculos e tiaras comemorativas tinham a data de 2012 e estávamos entrando em 2013, o que, a não ser que encontrássemos um portal para o passado, seria... Cronologicamente equivocado. A única coisa que realmente prendeu a minha atenção foi uma coroa de prata que estava perdida pelo fundo. Quem sabe eu não poderia brincar de Duquesa mais uma vez?
  - A sua coroa está aqui, %Tah%. – Zayn apareceu no banheiro com o objeto em mãos. – Esqueceu que a deixou na cama?
  - Ah, é verdade! – Sorri aliviada e peguei o objeto para colocá-lo sobre a cabeça. – Mas ninguém pode me culpar... Quando subimos para o quarto, você estava muito interessado em tomar banho.
  - Quem pode me culpar? – Sorriu travesso e parou ao meu lado; ambos olhando os nossos reflexos no espelho. – Não é todo dia que eu recebo um convite pra tomar banho com a realeza.
  - Idiota. – Ri baixo conferindo os últimos detalhes do meu look. – Mas de uma coisa você tem razão... Foi um bom banho.
  - Temos que repetir. – Beijou meu ombro nu e me fez sorrir.
  - Com toda certeza. – O olhei com uma sobrancelha levantada. – Podemos ir antes que eu desista dessa festa?
  - Vou pegar nossos casacos!

+++

  Zayn estacionou o carro próximo à entrada do hotel e me ajudou a descer. Não havia nenhum manobrista na porta, mas aquilo não me surpreendeu. Como já cheguei a comentar anteriormente, Castle Combe não parecia ser o tipo de cidade onde os moradores andam de carro para cima e para baixo, então gastar dinheiro com um manobrista para o hotel parecia desnecessário. Além do que, o estacionamento não era tão distante assim, então não morreríamos por caminhar alguns metros. Só de sair do carro já senti as minhas pernas tremerem de frio e agradeci por elas serem a única parte do meu corpo eu estava descoberta. Zayn, por outro lado, estava elegante e quentinho: Usava uma calça jeans preta, camisa branca de linho, blazer preto e, por cima de tudo, um meio sobretudo cinza. Ainda estava sem a gravata, mas ela não fazia falta alguma.
  Agradeci mentalmente quando entramos no lobby do hotel e fomos atendidos pelo próprio dono. Pelo visto o Manor House Hotel gostava de se manter próximo aos seus convidados, por isso o senhor meio careca nos acompanhou cordialmente até o salão de baile. Bem, até o salão de festas, mas prefiro chamar de salão de baile. O lugar não chegava a ser extremamente grande, mas era o suficiente para conter as duzentas pessoas que comemorariam a virada do ano ali. Em um canto do salão estava uma banda de cordas que tocava alguma música sem graça para que ninguém dançasse, no lado oposto encontravam-se algumas mesas redondas de dois ou quatro lugares, e mais ao fundo estava a porta de vidro que levava ao lado de fora. Pelo que pude observar pelas janelas, o exterior do hotel estava iluminado e movimentado, mas como não estava afim de passar frio mais uma vez, preferi evitar a nossa saída o máximo possível.
  - Espero que gostem da festa! – O senhor careca sorriu. – Naquela mesa temos alguns papeis e uma urna, onde estaremos sorteando um final de semana em nossas acomodações. Só o que precisam fazer é escrever o que esperam do próximo ano ou as suas resoluções e depois da meia noite daremos o resultado.
  - Obrigado, Geroge. – Zayn o chamou pelo nome, o que me fez pensar que os dois já se conheciam.
  - Tenham uma boa noite. – Sorriu para nós dois e se afastou para cumprimentar novos convidados que entravam no salão.
  - Eu nem tinha pensado nisso! – Falei meio que para mim mesma e Zayn tocou as minhas costas com a mão.
  - No que? – Perguntou enquanto andávamos até a mesa da urna.
  - Em resoluções para o ano que vem! – Expliquei. – Geralmente eu sou muito animada com essas coisas no começo, mas desisto delas antes do meio do ano.
  - Eu sempre cumpro as minhas resoluções. – Sorriu convencido, mas eu duvidei muito que ele falasse sério.
  - Ah, é? Então qual foi a sua promessa pra esse ano? – Cruzei os braços em desafio.
  - Conhecer uma garota bonita e fazê-la feliz. – Respondeu o mais galanteador possível.
  - Brega! – Gargalhei um tanto alto e descruzei os braços. – Mas valeu a tentativa.
  - Eu tentei. - Também riu e balançou os ombros, pegando um papel e uma caneta de cima da mesa. – O que vai escrever aí?
  - Não tenho certeza... – O imitei e fiquei olhando paras linhas em branco. Eu poderia escolher tanta coisa... – “Ser uma princesa.”
  - Porque você gostaria de ser uma princesa quando já é uma rainha?
  - Baby, você está pegando fogo hoje! – Sorri um tanto balançada por aquele elogio que, com toda certeza, foi melhor que o “conhecer uma garota bonita” e blábláblá. – Então me ajude. O que devo mudar?
  - Não é algo que você deve mudar, literalmente, mas... – Zayn parou um pouco para me observar e esperei pelo resto de sua resposta. – Acho que você deveria acreditar mais em si mesma.
  - Como assim?
  - É só que você é sempre a primeira a acreditar nos outros. Você acreditava que eu e os meninos daríamos uma boa banda e acredita que vamos ganhar o concurso. Acredita que Abi vai ser uma ótima atriz e que aquele Nicholas vai ter uma carreira ao se formar... – Começou como se tivesse medindo as palavras para não me magoar. – Mas quando se trata de você... Não é bem assim. E você é incrível, %Star%. Eu sinceramente não acredito que exista algo no mundo que você não seja capaz de fazer. Só queria que você visse isso também.
  - Você realmente pensa assim, né? – Sorri sem nem ao menos perceber e balancei a cabeça. – É uma boa resolução.
  - Sua vez! – Piscou esperando que eu devolvesse o favor. – O que deve ser a minha resolução de ano novo?
  - Acho que você devia ser mais ousado. Tentar coisas novas... Sair da sua zona de conforto, sem se preocupar com o que os outros pensam sobre isso. – Falei naturalmente, não como se o criticasse. – Você não sabe as coisas que pode descobrir se tentar!
  - Ser mais ousado... – Cochichou enquanto rabiscava em seu papel. – O que acha de começar pulando de paraquedas?
  - Hey, essa resolução é sua, não minha! – Ri e também escrevi no meu papel para depositá-lo na urna. – Mas por que não começa com algo mais simples?
  - Você vai me chamar pra dançar, não é? – Leu os meus pensamentos. – A banda nem está tão animada assim...
  - Me conhece tão bem! – Suspirei e o peguei pela mão. – E você mesmo me ensinou que nem precisamos de música pra dançar.
  - Mas, babe... – Resmungou já sabendo que eu não o daria ouvido.
  - Já esqueceu da sua resolução?
  - Achei que essas resoluções só teriam efeito a partir do ano que vem. - Fez careta e me seguiu para longe da mesa com a urna.
  - Não tem problema se adiantarmos algumas horinhas.
  Dei de ombros e levei Zayn até uma mesa de dois lugares que ficava na diagonal da pista de dança que ainda estava completamente vazia. Mas quem podia culpar os convidados? Ou aquela banda era realmente ruim, ou só estavam esperando que o primeiro casal fizesse as honras. Olhei em volta enquanto desabotoava o meu sobretudo, notando que eu e meu acompanhante éramos os mais novos em todo o recinto. Claro que algumas pessoas aparentavam ter entre vinte e cinco e trinta anos, mas não passava daí. Talvez por isso ninguém estava dançando... Porque adultos tem essa mania chata de esquecer o quanto é bom mexer o esqueleto como se mais ninguém estivesse olhando. Isso não aconteceria comigo... De jeito nenhum.
  Pendurei meu casaco no braço de uma das cadeiras da mesa e fiquei bem feliz pelo salão estar com a temperatura mais elevada que no lado de fora. Assim eu podia exibir o meu vestido brilhante e felpudo para qualquer um que quisesse ver. Zayn me imitou e tirou o próprio casaco, deixando-o na própria cadeira. Arrumei a coroa em minha cabeça para que ela não caísse enquanto eu dançava e estiquei a mão na direção do meu namorado. Ele estava um pouco relutante em aceitar o meu convite, mas me conhecia o suficiente para saber que eu não o deixaria em paz. O lado ruim de namorar uma bailarina é que nós sempre queremos dançar em todas as oportunidades que temos. Zayn entrelaçou os dedos aos meus e nos guiei até a pista de dança, ficando razoavelmente perto da banda.
  - Então podemos começar essa festa?! – O líder da banda surgiu e falou ao microfone.
  - Tá vendo só? – Cochichei para Zayn. – Estavam esperando alguém criar coragem!
  - Chama isso de coragem? – Cochichou de volta e passou um braço pela minha cintura, nos aproximando. – Eu chamo de loucura.
  - O que tem em sermos um pouco loucos de vez em quando? – Fiz uma careta engraçada para provar o meu ponto e Zayn só riu. Me virei na direção da banda e gritei: - Bota pra quebrar!
  - “Bota pra quebrar”, %Star%? – Riu mais ainda, me reprovando com o olhar. – Estamos quase em 2013, mas parece que você parou em 1998.
  - Cala a boca e dança comigo! – Dei um passo para trás, segurando suas mãos com as minhas.
  - Vamos começar a noite com alguns clássicos para lembrar que os anos passam, mas algumas coisas são eternas. – Depois de falar com a banda, o vocalista se apoderou do microfone para anunciar a música. – Essa primeira música será uma homenagem ao meu grande amigo... Bruce Springsteen!
  - Você acha que ele conhece o Bruce? – Perguntei como brincadeira assim que a música começou a tocar.
  Não esperei uma resposta de Zayn para começar a dançar. Eu dava um passo para um lado e depois para o outro, ainda segurando-o pela mão e fazendo-o me imitar. Aquela música era completamente dançante e isso me animava mais do que devia. Fechei os olhos para absorver a letra e a melodia. Acabei soltando o menino assim que ele começou a rir de mim, mas preferi ignorar. Me mexi pelo salão, balançando as mãos de forma desengonçada, com as palmas voltadas para cima. Terminei rindo também e abrindo os olhos novamente para fitar meu acompanhante. Fui surpreendida quando vi que ele também dançava e se entregava à música. Não sei se deveria culpar Bruce ou a sua nova resolução de fim de ano, mas aquilo era o que eu chamava de mexer o esqueleto. Ele meio que balançava o quadril de um lado para o outro pra frente e pra trás enquanto suas mãos estavam fechadas em punho próximas ao seu peito.
  - Me diga mais uma vez por que você não dança? – Coloquei as mãos na minha própria cintura e parei uns segundos para assisti-lo.
  - Você me disse pra ousar, não foi? – Notei que suas bochechas ficaram um pouco vermelhas e sorri.
  - E você está seguindo ao pé da letra! – Fiz sinal de positivo com a mão e voltei a me mexer, dessa vez rodeando-o ao dançar. – Muito bem, Malik!
  Zayn sorriu e começou a se sentir mais confiante para se soltar ainda mais. Enquanto eu balançava os braços em cima da cabeça e rodopiava devagar, ele arriscou alguns movimentos estilo Michael Jackson que não tinham nada a ver com Bruce Springsteen, mas a intenção era o que contava. Além do que, ele estava tão sexy e parecia se divertir tanto que não me atreveria a falar nada além de “parabéns” ou “você está ótimo”. Algumas pessoas se sentiram encorajadas e se juntaram a nós na pista de dança. Uma senhora de olhos claros e vestido florido trouxe o marido dela para o meio do salão e os dois começaram a se embalar e dançar. Os dois deviam estar juntos desde sua juventude e foi fácil imaginá-los dançando aquela mesma balada há trinta anos. Me impedindo de continuar a olhar aquele casal adorável, Zayn segurou a minha mão direita e guiou até seus braços para que ficássemos mais próximos.
  - Pensando nos seus avós? – Segurou a minha cintura com uma mão e entrelaçou nossos dedos com a outra. Apontou com a cabeça para o casal de velhinhos e eu entendi do que estava falando.
  - Estava pensando em nós dois, na verdade. – Sorri e pousei minha mão livre em seu ombro.
  - Somos tão ruins assim? – Sussurrou na minha orelha e beijou a minha bochecha em seguida.
  - Não é isso, besta! – Ri e voltei a olhar os dois. – Será que vamos ficar velhinhos juntos? Essa cosa de primeiro amor que dura pra sempre, sabe? Olha pra eles! Não parecem apaixonados?
  - Prefiro olhar pra você. – Zayn capturou o meu olhar e sorriu. – Não... Prefiro beijar você.
  Com essa última frase ambos paramos de dançar e nos olhamos por segundos até que nossos olhos pesassem e fossem fechados. O envolvi pelo pescoço e tive a minha cintura enlaçada. Cada um deitou a cabeça para um lado e nossos lábios se encontraram com calma. Como em cenas de filmes de romance, levantei um de meus pés do chão, dobrando o joelho. Me senti boba com aquilo e acabei rindo baixo entre o beijo. Zayn abriu os olhos e me olhou com curiosidade, mas não interpretou aquilo como algo ruim. Apenas passou o polegar no canto da minha boca, limpando o borrado em meu batom. Balancei a cabeça negativamente querendo dizer que não era nada e ele aceitou a minha resposta. Ainda explorando a década de 80, o vocalista deu inicio à próxima música; que reconheci ser: Time Of My Life – Bill Medley.
  - Eu já volto, ok? – Zayn beijou as costas da minha mão. – Vou pegar algo pra bebermos.
  - Não demore! – Sorri e acenei com a cabeça que ele poderia ir. – Espero aqui!
  - Não dance com mais ninguém. – Ameaçou com o cenho franzido e se afastou.
  - Ele é um bom partido! – A senhora de vestido floral falou na minha direção e eu nem percebera que ela e o marido estavam nos observando.
  - Eu sei! – Continuei observando Zayn andar até um garçom e depois me virei para o outro casal. – Mas o seu também é um bom partido!
  - Agora que eu o coloquei na linha, é sim. – A moça riu simpática e marido olhou para os lados como se não soubesse do que ela estava falando.
  - Há quanto tempo estão juntos? – Me aproximei do casal para que não precisasse gritar. – Se não se incomodam com a minha curiosidade...
  - Uma vida inteira, pra ser bem exata. – A senhora olhou para o marido com um sorriso doce.
  - Mais de setenta anos... – O homem a olhou da mesma forma.
  - Nossa, isso é muito tempo! Qual o segredo?
  - Persistência. – O senhor respondeu. E eu que achava que eles iam responder “amor”. – As vezes os tempos são difíceis, porque não é tudo um mar de flores...
  - Mas no fim persistimos e tudo dá certo. – A mulher o completou. – Vocês ainda são jovens, criança. Aproveitem.
  - Aproveitaremos sim! – Zayn havia voltado e me entregou uma das taças que segurava. – Se me dão licença, gostaria de roubar a minha rainha por uns instantes.
  - Vão se divertir! Ninguém quer ficar falando com dois velhos. – A mais velha acenou um “tchau”.
  - Quem você está chamando de velho? – O marido dela rebateu.
  Zayn e eu nos entreolhamos e preferimos nos afastar. Com certeza não seria muito legal ficar assistindo os dois discutirem a relação. Dei um primeiro gole no meu champanhe e as bolhas fizeram cócegas na minha língua. Mais uma vez eu estava tomando espumante... Aquilo poderia virar um hábito. Quase não notei a pequena framboesa que flutuava dentro da taça. O cavalheiro que me escoltava até a nossa mesa, puxou a cadeira para que eu pudesse me sentar e seguiu para a própria.
  - O último brinde de 2012? – Levantou a taça com um sorriso impecável.
  - À um 2013 ainda melhor!

+++

  - Vem logo, Zayn! – Eu estava de salto, mas era ele quem corria devagar.
  - Ainda temos tempo, %Tah%! – Me seguia pelo campo até a aglomeração de pessoas que se reuniam ao redor de um coreto. – Faltam cinco minutos até a meia noite!
  - Cinco minutos passam muito rápido, sabia? – Parei de correr e me virei na direção dele, tirando as mãos do bolso do meu casaco para apressá-lo com gestos.
  - Estou indo! – Riu e correu até o meu encontro, me abraçando pela cintura e tirando-me do chão.
  - O que você está fazendo? – Acabei dobrando os joelhos e rindo ao me segurar nos ombros de Zayn para não cair.
  - Cinco minutos passam rápido! – Me imitou e continuou me carregando até entrarmos no coreto.
  - Que sem graça, Malik. – O reprovei depois que já estava pisando sobre meus próprios pés.
  - Eu gosto de te carregar. – Deu de ombros e sorriu travesso.
  - Disso eu já sei, baby! – Ri e olhei para os lados. Aquele coreto estava enfeitado com rosas brancas para dar boa sorte e todos ao nosso redor pareciam tão ansiosos pela virada do ano quanto eu. – Pronto para dar adeus ao ano velho?
  - Pronto pra dizer olá ao ano novo. – Segurou as minhas mãos, me puxando mais pra perto. – Últimas palavras?
  - Claro que sim! – O abracei com um sorriso e limpei a garganta para continuar: - Felicidade pode ser encontrada até nos tempos mais difíceis, só precisamos lembrar de acender a luz.
  - Você está citando Albus Dumbledore? – Zayn riu jogando a cabeça pra trás.
  - Você sabe que eu estou citando Albus Dumbledore? – Sorri orgulhosa pelo namorado que tinha. – Mas não importa! Sua vez.
  - Feche os olhos e aproveite a montanha russa que é a vida. – Fez a sua expressão mais concentrada.
  - Sábias palavras, Zayn Malik. Sábias palavras. – Bati palmas devagar, impressionada com aquela frase.
  - CONTAGEM REGRESSIVA! – Alguém gritou atrás de nós e me fez dar um pulinho sem sair do lugar. – Dez, nove, oito...
  - Está quase na hora! – Comemorei com uma risada.
  - Cinco, quatro, três... – Zayn me encarou profundamente e encostou a testa à minha. – Dois...
  Não chegamos a terminar a contagem, pois eu o envolvi pela nuca e o puxei para um beijo. Midnight kiss, literalmente. Não consegui pensar em uma forma melhor de acabar o ano e começar o próximo. Era ali que eu queria ficar, que eu precisava ficar. Nos braços dele. Zayn também pareceu gostar muito daquela minha atitude, pois me apertou como se não fosse soltar nunca mais. Várias pessoas começaram a gritar e a pular ao nosso redor, mas tudo se tornou uma filmagem em câmera lenta. Senti que alguns confetes foram lançados ao ar e caiam lentamente sobre os nossos rostos e nem isso foi o suficiente para nos atrapalhar.
  - Feliz ano novo, baby! – Comemorei, puxando-o para um selinho.
  - Feliz ano novo, Anjo. – Sorriu ao tirar alguns papeis prateados da minha cabeça.
  - Aqui, oh... – Arranquei um botão de rosa do enfeite mais próximo e o entreguei à Zayn. – Pra te dar sucesso nesse novo ano!
  - É isso o que uma rosa branca representa? – Cheirou o meu presente em seguida colocou-o no bolso do casaco.
  - Provavelmente não. – Balancei a cabeça com uma risada. – Deus, eu não consigo parar de rir! Isso porque só tomei uma taça...
  - Você só está feliz! – Zayn tocou o meu queixo com o dedo indicador. – E eu acho lindo.
  - É você que está me fazendo feliz, sabia? Olha pra esse lugar incrível que você me trouxe! E é mais que isso... É tudo que você faz todos os dias! Eu tenho sorte em ser sua namorada, Zayn.
  - A sorte é toda minha, acredite. – Soltou a minha cintura e começou a procurar algo no bolso do blazer. – E também tenho algo pra você.
  - Tem? O que é? – Mordi o lábio curiosa e quase engasguei com o vento ao ver a caixinha preta e aveludada que ele segurava. – Zayn...
  - Não é um anel de noivado, antes que você me chame de louco e saia correndo! – Explicou com um riso e eu respirei aliviada. Abriu a caixinha e revelou o anel antes de começar a falar: – Mas eu quero me casar com você um dia. E se você aceitar esse anel, ele vai simbolizar a minha promessa de ser verdadeiro a você. De não te forçar a fazer nada que você não queira e de sempre te entender até nos momentos de silêncio. De falar quando você tem comida presa ao seu dente, ou sujeira no canto do olho. De aparecer na sua cada às duas horas da manhã quando você estiver se sentindo sozinha, principalmente com um pote do seu sorvete preferido. Prometo dividir os meus sonhos e te apoiar nos seus. Eu prometo te deixar orgulhosa de falar: “Esse cara é o meu namorado.” Eu prometo fazer todas essas coisas sem esperar nada em troca. Eu realmente me importo com você, %Star%. E quero continuar te chamando de minha.
  - Eu te amo tanto! – Foi só o que eu consegui falar, pois me segurava pra não começar a chorar a qualquer instante.
  - Isso quer dizer que você aceita? – Segurou a minha mão direita, que tremia um pouco, para colocar o anel no meu dedo anelar.
  - É claro que sim...

Capítulo LVIII
0 0 votos
Classificação do artigo
Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários
Todos os comentários (6)
×

Comentários

×

ATENÇÃO!

História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

O Espaço Criativo não se responsabiliza pelo conteúdo das histórias hospedadas na sessão restrita ou apontadas pelo(a) autor(a) como não próprias para pessoas sensíveis.

Você não pode copiar o conteúdo desta página

0
Adoraria saber sua opinião, comente.x