Capítulo LVII
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- %Tah%, tem certeza que você só vai viajar por três dias? – Louis ajudava Zayn a carregar o carro com as minhas malas. Sim, malas. No plural.
- Eu sei, eu sei, posso ter exagerado um pouco... – Até que eu gostaria de ajudá-los, mas estava muito ocupada curtindo os últimos momentos com o meu filho. – Mas sou uma garota. Prefiro levar coisas demais do que deixar algo pra trás e precisar.
- Deixa ela, Louis. – Zayn piscou na minha direção e conseguiu encaixar a minha nécessaire entre a própria mala e a minha outra.
Comparando as nossas malas, Zayn não ficava muito atrás. Ele era tão vaidoso quanto eu, por isso tinha uma mala igualmente grande. O único porém dessa história é que eu estava levando uma nécessaire para comportar meus produtos mais delicados (como shampoo, sabonete, cremes para o corpo, perfume e maquiagem) e uma bolsa para guardar o iPad que ganhei de natal, carregadores de celular, secador de cabelo e outras coisas básicas que eram grandes ou volumosas demais para ir na minha bolsa de mão. Nada muito fora do comum, como podem ver! Se %Abi% estivesse viajando conosco, aposto que levaria o triplo das minhas coisas.
Meu namorado não reclamou da minha bagagem e estava só sorrisos a manhã inteira. Ao menos ele estava tão animado quanto eu para passar esse tempo o meu lado. Ao mesmo tempo em que eu estava muito tranquila em passar três dias em uma casa apenas com Zayn, estava ansiosa pelas coisas que poderiam acontecer. Justamente por causa disso é que eu passara horas a fio pendurada no telefone com a minha melhor amiga, escutando conselhos e discutindo outras coisas constrangedoras que não vale a pena serem mencionadas agora. “Eu estou pronta, Abi”, lembro-me claramente de afirmar. E naquele momento, às sete horas da manhã, eu ainda não mudara de ideia. Sei que o convite de Zayn não foi tão intencional assim, e com isso esperava surpreendê-lo. Ainda não sabia como fazer a minha aproximação sutil, porém, do jeito que Zayn e eu éramos ao estar juntos, tinha certeza que tudo aconteceria naturalmente.
- Você vai sentir falta da mummy? – Falei para %Patch% em meu colo enquanto acariciava o pelo em seu pescoço. – Claro que vai! Não me olha assim, Bo... O tio Lou vai cuidar muito bem de você! Não vai? Louis!
- Ah, está falando comigo? – Lou riu e se virou na minha direção assim que a mala do carro foi fechada. – Depois que você ganhou esse cachorro eu não sei mais se está falando com ele ou se ficou louca de vez e fala sozinha.
- Acho que falar com um cachorro e falar sozinha não tem muita diferença, né? – Liam escutou a nossa conversa enquanto descia os degraus da varanda. O menino sorria.
- Bom dia, Leeyum! – O cumprimentei. – Achei que não fosse acordar antes de eu ir embora!
- Claro que não! – Abriu os braços para que eu o abraçasse e assim o fiz, fazendo %Patch% ficar no meio de nós dois. – Eu tinha que te desejar uma boa viagem.
- Acho que já podemos ir... – Zayn tinha aberto a porta do passageiro onde eu deveria me sentar.
- Estou dividida! – Fiz um bico enorme ao me separar de Liam. Queria ir com Zayn, mas também queria ficar com %Patch%.
- Vamos, babe... Vai ser divertido. – Zayn andou até onde eu estava e tocou o meu rosto com uma mão. – Nós dois em um chalé...
- Não podemos ser três em um chalé? – Tentei, mas já sabia a resposta. – Tudo bem, Malik. Você venceu.
- Vem pro papai... – Zayn pegou %Patch% dos meus braços e o acariciou antes de entregá-lo à Liam. – Cuide bem do meu filho, Liam.
- Pode deixar. – Li riu e mal esperou nos afastarmos para começar a brincar com o pequeno. – Vamos nos divertir muito enquanto a mamãe está fora!
- Não preciso dar as recomendações de novo, certo? – Olhei séria para o meu irmão. No dia anterior, tínhamos conversado sobre o que %Patch% poderia ou não fazer durante a minha ausência; como por exemplo, passear todos os dias e nunca ser solto da coleira.
- Não se preocupe, %Star%! – Lou rolou os olhos e me puxou para um abraço rápido. – Vai ficar tudo bem. Aproveite.
- Pode deixar! – Dei um pulinho sem sair do lugar e Zayn riu atrás de mim. – Cuide bem do Haz, ok? Diga que eu mandei um beijo e espero que ele melhore do resfriado!
- Ah, é! Ele pediu pra avisar que deseja uma boa viagem. – Liam acrescentou.
- Até o ano que vem, lads! – Acenei. – Tchau, %Patch%!
Por incrível que pareça, assim que dei tchau para o cachorro, ele respondeu. Não com palavras de verdade, mas latiu. O que era quase a mesma coisa se pararmos pra pensar. Ri e coloquei as mãos sobre o peito, achando tudo aquilo fofo demais. Será que ele já começava a entender que seu nome era %Patch%? Eu torcia para que sim! Teria corrido para beijar o filhote se Zayn não me arrastasse para dentro do carro. Aquela foi a coisa mais sensata a se fazer, caso contrário demoraríamos mais uma hora pra conseguir sair de casa. O garoto fechou a porta depois de me colocar no Volto e eu me acomodei enquanto ele dava a volta para se sentar ao meu lado.
Segundo o motorista, a nossa viagem não demoraria mais que duas horas, mas ainda assim era tempo demais pra se estar dentro de um carro. Ao menos eu estava com uma roupa super confortável e já tirei os sapatos assim que Zayn deu a partida. Ele não se importou com a minha folga, muito pelo contrário. Apenas sorriu e ligou o rádio. Uma música desconhecida começou a tocar, mas nenhum de nós prestou muita atenção. Mantivemos o volume baixo para que ainda pudéssemos conversar sem ter que acabar gritando ou coisa parecida.
- Como é Wiltshire, baby? – Subi os pés para o banco e mantive os joelhos dobrados. Não dei a mínima atenção ao que passava pelas janelas, já que a paisagem mais bonita estava bem na minha frente.
- Wiltshire é um distrito, na verdade. Onde vamos ficar se chama Castle Combe. – Explicou revezando os olhares entre mim e a estrada. – É um vilarejo de quase dois séculos e os moradores conservam a mesma arquitetura até hoje. Você vai adorar! O chalé fica um pouco distante da cidade, mas Castle é tão pequena que acaba sendo perto.
- Lá deve ser lindo!
- E é! Já faz alguns anos que não vou a casa, mas pelo que me lembro é bem legal também. É cercada por uma floresta e um lago passa por perto...
- Já estamos chegando?! – Perguntei olhando em volta, mas não havíamos chegado nem ao centro de Londres ainda.
- Calma, babe... Vamos chegar logo. – Tocou a minha perna com a mão que não estava no volante e fez carinho com o polegar.
- Sei disso, é só que estou ansiosa! E pelo que você falou, o lugar deve ser muito divertido. – Suspirei e coloquei a minha mão sob a dele. – Estou precisando entrar em contato com a natureza.
- Falando assim você parece hippie! – Riu de forma gostosa, jogando a cabeça pra trás. – Está passando muito tempo com a Liv?
- Pior que estou! – Também ri ao me tocar que começava a captar algumas das características dela. – Mas tenho que admitir que Liv é uma boa companhia, sabia?
- Não deixe %Abi% ouvir você falar isso...
- Deus me livre! – Falei rápido demais, como se pedisse pra ele não contar nada daquele assunto pra ela. – %Abi% e Liv são opostos completos! Eu amo a ruiva, mas Olivia me trás uma calmaria tremenda. Então é bom equilibrar.
- Vocês são como as Meninas Super Poderosas. – Parando pra pensar naquilo, até que ele tinha razão.
- Por que eu tenho que ser a Docinho? Ela é a mais estressada! – Cruzei os braços. Minha MSP preferida sempre foi a Lindinha porque ela era a mais adorável. Agora eu teria que ser a Docinho só por causa da cor do cabelo?
- Assim como você quando acorda. – Zayn disparou, me fazendo encará-lo descrente.
- Malik! – O empurrei de leve. – Quem vai ter que acordar do meu lado durante esses dias é você mesmo. Então boa sorte em me deixar mais estressada ainda
- Eu te desestresso rapidinho. – Fomos obrigados a parar em um sinal vermelho e me tornei o centro das atenções do outro. v - Boa sorte com isso! – Ri.
- Não preciso de sorte. – Com isso, Zayn se inclinou levemente na minha direção e roubou um beijo.
- Não mesmo. – Mordi o lábio inferior sabendo que ele tinha razão. – Deve ser horrível ser você.
Eu e Zayn acabamos rindo e fiz uma lista de todas as coisas que ele podia usar para conseguir o que quisesse. Não só de mim, mas de qualquer pessoa. Pois é, era muito difícil ser ele! Super convencido, o menino concordou com tudo que eu falei, fazendo-me rir mais ainda. Assim que saímos de Londres e chegamos à estrada, me acomodei ainda mais no banco. De vez em quando olhava para Zayn com um sorriso, mas deixamos a música que tocava no rádio encher os nossos ouvidos. Além de ter ido dormir tarde por causa da conversa com %Abi%, ainda acordei cedo para poder viajar. Não fiquei espantada quando o balanço do carro se tornou algo extremamente embalador e uma sonolência tomou conta de mim. Tentei me manter de olhos abertos e mal percebi que adormecera.
+++ - Babe? Chegamos... – Uma voz um pouco distante falava comigo e eu me mexi um pouco até me situar de onde estava.
- O que aconteceu? – Pisquei os olhos meio preocupada, lutando contra o sono e a preguiça.
- Você apagou durante a viagem inteira. – Zayn sorria pra mim, já com o carro desligado. – Não quer ir conhecer a casa?
- Chegamos! – Sorri um pouco lerda e calcei meus sapatos novamente para saltar do carro.
- Vamos levar as coisas pra dentro e depois podemos voltar à cidade pra almoçar. – Também desceu do carro e já foi para a parte de trás, jogando um molho de chaves na minha direção primeiro. – Vá em frente!
- Não demore! – Sorri e corri em direção ao chalé em minha frente.
Zayn tinha razão ao falar que a casa era cercada por uma floresta, mas eu não conseguia ver o lago. “Uma coisa de cada vez, %Star%, uma coisa de cada vez.” Olhei para o chalé e não pude deixar de me sentir curiosa para explorar o lado de dentro. Pelo que percebi por essa primeira impressão, a casa era basicamente construída por uma madeira escura e antiga, mas ainda parecia segura. As acomodações iam até um segundo andar, mas esse parecia menor que o primeiro. Fiquei feliz por não haver mais nada além daquela casa de campo pelos arredores, pois algumas das janelas iam do chão até o teto, o que tornaria a privacidade impossível de se ter caso casas vizinhas dividissem aquele espaço. Claro que cortinas pesadas e escuras impossibilitavam de ver o lado de dentro, então teria que esperar pra ver.
Parei de correr ao chegar na porta e girei a chave na fechadura. Por mais que Zayn afirmasse que mais ninguém estaria usando aquela casa durante a nossa estadia, preferi entrar com cuidado e gritar um “Olá?” que avisaria a minha chegada. Como não obtive resposta, abri mais a porta e finalmente entrei. A primeira coisa que encontrei foi uma sala de estar com direito a um sofá branco e algumas almofadas pretas de frente à uma parede onde uma lareira de verdade dava o charme que toda casa de campo devia ter. Em cima dela também encontrei uma TV embutida na parede, mas duvidei que fosse desperdiçar algum tempo assistindo-a.
Segui para a direita até passar por um arco na parede que substituía portas e cheguei à sala de jantar que era ligada à cozinha. O lugar era bem amplo e espaçoso, com móveis de madeira e utensílios em prateleiras e armários elevados. Não saí abrindo a geladeira ou qualquer outro compartimento, mas sabia que estavam vazios. Provavelmente Zayn e eu teríamos que comprar mantimentos para esses três dias que passaríamos ali, principalmente porque a cidade ficava um pouco distante e não seria legal termos que pegar o carro toda vez que sentíssemos fome. Depois da cozinha/sala de jantar encontrei três portas. A primeira era um pequeno banheiro, a segunda um quarto com uma cama de solteiro e um beliche, e a última levava ao lado de fora, onde uma pequena varanda estava montada com mobílias de jardim.
Voltei para a sala e vi que as minhas malas já estavam por ali, mas Zayn ainda devia estar trazendo as dele. Não o esperei se juntar a mim e subi a escada rente à parede do fundo da sala de estar, indo me aventurar pelo segundo andar. A primeira porta que encontrei estava bem na minha frente e levava à uma outra varanda. Diferente da do primeiro andar, aquela era toda fechada por janelas de vidro transparente que me permitia ver a belíssima vista. Árvores, árvores, algumas montanhas ao longe e mais árvores. Os móveis também eram arrumados, sofisticados e com um toque vintage por causa da madeira. Não encontrei poeira em quase canto nenhum, o que estranhei bastante. Ou aquela casa fora recentemente usada, ou alguma fada madrinha andou limpando tudo antes da nossa chegada.
Saí daquele cômodo e fui até a última porta que havia naquele andar, sem deixar de notar os porta-retratos pendurados nas paredes do corredor. Vi fotos de Zayn quando era pequeno e também das suas irmãs; até mesmo de pessoas que eu não conhecia, entretanto, por causa da semelhança, deduzi que eram da família. Ao abrir a última porta, encontrei o que devia ser o quarto principal. Uma cama de casal com lençóis brancos e grossos foi a primeira coisa que eu vi, me rendendo um arrepio gostoso. Um guarda-roupa tomava conta de uma das paredes e a oposta a essa tinha uma mesa para duas pessoas e cadeiras rústicas.
O banheiro da suíte era simplesmente uma graça! A porta que o separava do quarto principal era de correr e particularmente pesada, o que me deu um pouco de trabalho no começo, mas foi só desemperrar a roda que consegui entrar no cômodo. Mais para o fundo e embaixo de uma janela cinza estava uma banheira majestosa de cerâmica branca. Na lateral também encontrei um Box de chuveiro, privada e uma bancada enorme de madeira onde a pia era colocada. Acima dessa bancada também havia um espelho igualmente grandioso. Acabei voltando para o quarto e olhei mais uma vez para a cama. Tantas coisas se passaram pela minha cabeça e eu prendi a respiração por um momento. Deixei a minha bolsa sobre o colchão alto e toquei o edredom com a ponta dos dedos.
- Vejo que encontrou o meu lugar preferido da casa. – Zayn estava encostado à porta de entrada do quarto, com as mãos nos bolsos e o sorriso levemente torto brincando nos lábios.
- É um lugar... Confortável. – Sorri pra ele. – Mas acho que ainda prefiro aquela varanda ali do outro lado do corredor.
- Posso fazer você mudar de ideia. – Arqueou uma sobrancelha levemente sugestivo e me fez cruzar os braços.
- Quero vê-lo tentar. – O desafiei com uma mordida discreta no lábio.
- Eu adoro um desafio. – Caminhou na minha direção e me fez descruzar os braços pra que ele pudesse segurar minhas mãos. – Está com fome?
- O desafio é me fazer comer? – Entrelacei os dedos aos dele e acabei rindo. – Vou ganhar almoço na cama?
- Talvez amanhã, quando tivermos alguma comida em casa pra que eu possa cozinhar pra você. – Fez uma expressão engraçada e eu não conseguia tirar os olhos dele por hipótese alguma. – Mas por agora... Vamos à cidade?
- Vamos! Eu estou louca pra conhecer Castle Combe!
Soltei uma das mãos dele para poder pegar a minha bolsa em cima da cama, mas antes que eu pudesse alcançá-la, Zayn me puxou novamente. Mais uma vez me senti uma bonequinha pra ele, pois sempre era puxada, girada, levantada e derivados. Claro que não me importava com isso, contanto que não ficasse tonta. Dessa vez, Zayn me abraçou pelas costelas e o envolvi pelos ombros, já sabendo o que iria acontecer. Nossos lábios se chocaram com delicadeza, mas bastante vontade. O beijo que trocamos não se aprofundou tanto quanto poderia, mas seria o suficiente por agora.
- Você poderia ter visto a cidade no caminho pra cá. – Não soltou o abraço ainda, me segurando perto. – Mas dormiu a viagem inteira!
- Hey! – Fiz bico como se não tivesse culpa alguma. – Foi sem querer.
- Eu sei, babe, estou brincando. – Beijou a minha bochecha e finalmente me deixou ir pegar a minha bolsa. – E você ronca.
- Não ronco não! – Que maluquice era aquela? Pelo riso de Zayn, soube que ele estava brincando. Mas dois podiam jogar esse jogo... – Ao menos ninguém que dormiu comigo reclamou.
- Como é? – A graça desapareceu de seu rosto e deu lugar ao ciúme. Eu simplesmente passei por ele porta a fora. – Quem poderia reclamar, %Star%?
- Tantas pessoas! – Fui irônica. Como se ele não soubesse a resposta, né? - Você sabe que é brincadeira, idiota. Não faz essa cara!
- Não estou fazendo cara nenhuma. – Deu de ombros, mas vi de soslaio que ele fizera uma careta.
- Aham, claro que não. – Ri e parei no topo da escada, esticando a mão na direção dele. – Podemos ir?
- Cuidado com essa escada. Quando Brie veio aqui, ela quase caiu. – Zayn falou de um jeito que deixava claro que era uma provocação. Talvez uma vingança por eu ter feito ciúmes primeiro.
- Ah, é? Pena que ela não quebrou o pescoço! – Cruzei os braços e desci a escada, furiosa.
- Ei, espera por mim! – Tentou me seguir, mas fui mais rápida.
- Pede para a Brie te esperar. – Rolei os olhos e não olhei pra trás.
Um lado de mim sabia que ele só falara de sua ex-namorada para que eu sentisse ciúmes, mas o outro sentia muita raiva por que a minha única inimiga já estivera naquela casa. Comecei a imaginar o que os dois poderiam ter feito ali e me senti enjoada. Atravessei a sala como um furacão e abri a porta de entrada da mesma forma, quase correndo pela grama.
- %Star%, onde você está indo? – Zayn gritou atrás de mim.
- Pra longe de você! – Rebati. Eu podia não saber o caminho, mas estava indo para algum lugar.
- Você não é a única que consegue brincar, sabia? – Pelo tom da sua voz, eu sentia que ele estava se aproximando. – %Star%!
- Sai! – Não precisei olhar pra trás pra saber que ele estava correndo e fiz o mesmo. Passei direto pelo Volvo, avistando uma estrada de terra que provavelmente levaria até a cidade.
- Eu nunca trouxe a Brigitte aqui, %Star%. – Gritou mais uma vez e me fez diminuir o ritmo dos meus passos minimamente. – Você é a primeira e sabe disso! Agora dá pra parar de correr?
- Por que você tem que brincar assim? – Parei de correr e me virei na direção de Zayn; que estava mais perto do que eu imaginava.
- Porque gosto quando você fica brava. – Lá vinha aquele sorriso torto mais uma vez. Com dois passos ele já estava na minha frente, mas não chegou a encostar em mim.
- E eu não gosto quando fala dela. – Cruzei os braços.
- Até quando vai ter esse ciúme idiota? – Enrolou as mãos nas pontas do meu cachecol e mal me mexi. Eu conhecia os efeitos daquela aproximação. Sabia que não sustentaria a minha raiva por tanto tempo assim. – Vou ter que repetir que amo você?
- É um começo. – Dei de ombros, mas acabei soltando um sorrisinho frouxo. – Não esquece da parte que fala que é meu.
- Eu sou seu, Anjo. – Me puxou pelo cachecol e pressionou os lábios nos meus, deixando alguns selinhos lentos. – E é você que eu amo.
- Agora promete que não vai mais tocar no nome dessa oxigenada. – Eu já estava bem mais calma.
- Prometido. – Sorriu. – Podemos voltar para o carro agora? A não ser que queira ir a pé...
- Por mais que eu queira entrar em contato com a natureza... – Entortei o nariz em uma careta engraçada.
+++ - Esse sorvete de alpiste é bom? – Perguntei enquanto andávamos pela calçada da praça do centro da cidade (a única, por sinal). Havíamos acabado de almoçar em um restaurante super fofo e resolvemos dar uma volta pela cidade enquanto desfrutávamos sorvetes em casquinha. O meu era tradicional de chocolate e o dele de alpiste.
- É pistache, %Tah%. – Me corrigiu enquanto apertava seu braço em volta de mim. – Quer provar?
- Mas você tem que concordar que parece alpiste. – Parei de frente pra ele e apontei para o sorvete do mesmo. – Tá vendo? Tem até esses negocinhos...
- Quer provar ou não? – Perguntou meio impaciente, tentando não rir das minhas palhaçadas.
- Quero! – Sorri e esperei ele me passar a própria casquinha, ou me deixar dar uma lambida.
- Aqui. – Parecendo uma criança de cinco anos, Zayn encostou o sorvete no meu queixo de propósito.
- Zayn! – Gargalhei na minha tentativa de brigar com ele. Acabei limpando o meu queixo com o polegar e em seguida o levei à boca. – Hm, nada mal.
- Eu disse que é bom.
- E está certo. – Comi um pouco do meu próprio sorvete e o passei pelos lábios como se fosse um batom. – Quer provar o meu?
- Você faz ser muito difícil dizer não... – Zayn segurou na minha nuca com a mão livre e começou “limpar” os meus lábios; dando pequenas sugadas ou lambidas. O problema era que ele fazia isso de forma desengonçada de propósito, o que acabou me fazendo rir.
- Você está me babando toda! – O empurrei de leve e voltei para o seu lado para que pudéssemos voltar a andar.
- Desde quando tem nojo da minha baba? – Me acompanhou com passos lentos.
- Desde que a sua língua começou a parecer com uma lesma andando no meu rosto! – Tudo bem que essa comparação não era das melhores, mas foi o que eu consegui pensar.
- Blaaaaahr. – Abriu a boca e mexeu a língua verde por causa do sorvete. Eu não sabia se ria ou se me escondia.
- Ew!
Não havia tantas pessoas assim na rua, mas ainda fiquei preocupada com o que pensariam se vissem aquela cena. Nunca morei em cidades pequenas, mas sabia como tudo funcionava em uma. Todos se conhecem e opinam sobre as vidas um dos outros. Castle Combe não chegava nem a ser uma cidade direito, com as suas cinco ruas, então eu imaginava que se um casal fosse visto perturbando a ordem de um vilarejo histórico, no dia seguinte todos saberiam. Zayn reconheceu alguns moradores no restaurante e vice-versa, não chegando a trocar mais de duas palavras. Só aquele pequeno encontro já me fez ver que a família Malik, que tinha uma casa nos arredores, era bem popular. Não gostaria que da próxima vez que a minha sogra resolvesse usufruir de sua casa de campo, ficasse sabendo do que o seu filho aprontou.
- Lembra quando me disse que nós não tempos muitas fotos juntos? – Perguntei assim que nos sentamos em um banco de pedra para terminar nossos sorvetes.
- Uhum. – Respondeu com a boca cheia de alpiste. Quero dizer, pistache. – O que tem?
- Eu trouxe a minha câmera. – Sorri e tirei o objeto da bolsa. – Quero ver você reclamar agora!
- Eu reclamava porque tinha razão! – Franziu o cenho. – Quero fotos suas pra espalhar pelo meu quarto.
- Já estou vendo tudo... – Balancei a cabeça, séria. – Você vai ser um daqueles caras obcecados pela namorada que colocam uma foto do rosto dela estampado nos travesseiros e como papel de parede.
- Pelo menos é uma foto! – Pareceu mais sério ainda. – Agradeça enquanto eu não coloco o seu rosto na almofada! E faço um risoto com o que sobrar.
- Acho que você está assistindo muito à Hannibal.
- Qual é? Você é gostosa, %Tah%. – Sei que não devia ter ficado corada com esse comentário, mas o sorriso travesso de Zayn tornava difícil resistir.
- Vamos tirar as fotos ou não? – Mudei de assunto.
- Vamos sim!
Dizendo isso, Zayn tirou a câmera da minha mão e começou a mexer em alguns dos botões. Não sei bem se ele entendia alguma coisa dos mecanismos fotográficos, mas também não me importei. Ao menos assim eu teria um tempo para terminar o meu sorvete. A bola de sorvete já havia ido embora há minutos atrás, mas ainda tinha a casquinha de biscoito pra poder me deliciar. Alguns farelos caíram na minha roupa, mas não liguei. Apenas umas batidinhas seriam capazes de me deixar limpa novamente. Dei uma mordidinha na ponta mais alta da casquinha e escutei um clic bem silencioso. Olhei para o lado e era Zayn que mirava a câmera na minha direção.
- O que você está fazendo?! – Perguntei com a boca cheia enquanto os clics continuavam. – Zayn!
- Você disse pra tirarmos fotos! – Riu enquanto olhava as últimas fotos que tirara. – Só estou fazendo isso.
- Eu disse pra tirarmos fotos juntos. – Consegui engolir e desisti de comer a casquinha. A joguei no lixo ao lado do banco e recuperei a câmera. – Chega mais perto.
- Assim? – Zayn escorregou pelo banco até estar bem grudado em mim.
- Não tanto! – Balancei a cabeça, mas até que apreciei aquela proximidade toda.
Cansado de fazer palhaçada, ele se afastou apenas alguns centímetros e começamos a tirar fotos. Qualquer um que passasse por nós pensaria que éramos dois bobos e teriam razão. Na primeira foto nós dois sorrimos para a máquina fotográfica como pessoas normais, mas isso logo mudou. Fizemos caretas, poses estranhas, bicos, estiramos a língua, rimos, nos entreolhamos... Foi uma experiência bem divertida, mas me senti frustrada com o fato de Zayn ser tão incrivelmente bonito. Não chegamos a ficar estranhos um ao lado do outro, entretanto, a diferença ainda era exorbitante.
Levantamos do banco para dar mais uma volta na praça e eu pedi para que Zayn posasse pra mim. Mudei as funções da câmera para que a tela digital apagasse e eu o focalizasse pelo quadradinho – como nas máquinas analógicas. O menino fazia algumas poses de vez em quando, mas na maioria ele só estava parado e olhava para o lado ou para a câmera. Bem simples, certo? Não! Era como se ele virasse um modelo profissional. Não sei como explicar, mas Zayn era simplesmente fotogênico. Os paparazzis ganhariam na loteria com ele, porque não consigo imaginá-lo “feio” em uma fotografia. Pra falar a verdade, não consigo imaginá-lo feio em nenhuma situação. Diferente de mim. Vamos ser sinceros aqui, sei que não sou uma pessoa de aparência ruim, mas também sou uma Miss Inglaterra. Ou Miss França, no meu caso. Mudaria uma coisa aqui ou ali, mas me aceitava como era. Não que eu tivesse outra escolha, claro.
- Você não cansa? – Perguntei ao bater uma última foto antes de guardar a câmera.
- De que? – Bagunçou os cabelos, comprovando o meu ponto.
- De ser tão lindo assim! – Cerrei os olhos e me sentei ao seu lado na borda de algo que deveria ter sido uma fonte há séculos atrás.
- Preferia ter um namorado feio? – Arqueou uma sobrancelha.
- Quero ter você como namorado. Não me importaria com a sua aparência. – Passei o braço pelo dele e encostei a cabeça em seu ombro. – Mas é claro que eu não me importo em você ser o homem mais bonito do mundo. Só não me importaria de te acompanhar...
- Do que você está falando, %Star%? – Sentia seu olhar em cima de mim. – Você é linda.
- Eu sei que você acha isso e é o suficiente pra mim. – Dei de ombros querendo encerrar aquele assunto.
Não me importava em parecer fraca na frente dele, mas era de mim mesma que eu tinha vergonha. Sempre quis ser aquele tipo de pessoa que se ama por inteiro e que não se sente insegura com a aparência, mas desde pequena tenho algumas dessas crises de mulher. Apesar disso, repetia para mim mesma que não iria demonstrar. Olhei pra frente, fitando aquela rua de pedras por onde nenhum carro passava. Na verdade, não sei dizer se qualquer um dos moradores daquele vilarejo possuía um carro. Tudo era próximo demais, então eles poderiam simplesmente caminhar até o seu destino ou chamar por telefone um transporte que os levasse até a cidade mais próxima.
- Essa cidade me lembra Verona. – Falei ao abraçar Zayn ainda mais. – Uma Verona mais antiga, claro.
- Verona é a cidade Romeu e Julieta, não é?
- É sim... – Sorri. – Eu nunca estive lá, mas acho uma cidade linda.
- Vou te levar lá um dia. – Aquele comentário me fez olhar pra ele. – Por que está me olhando assim?
- Porque eu te conheço! – Balancei a cabeça em reprovação. – Sei que você é bem capaz de aparecer amanhã com duas viagens para a Itália.
- O que há de errado em querer levar a minha Julieta para conhecer o mundo? – Riu porque sabia que eu estava certa. – Como anda com o texto, aliás? Ainda está tendo dificuldade?
- Ouço barulho! Preciso andar depressa... Oh! Sê bem vindo, punhal. Tua bainha é aqui. Repousa aí quieto e deixa-me morrer. – Recitei a minha última fala e sorri orgulhosa de mim mesma. – Estou melhorando! Ainda tenho algumas frases pra decorar, mas já sei pelo menos a metade!
- Wow! Queria conseguir decorar com tanta facilidade assim. – Zayn sorriu surpreso e eu acabei fazendo o mesmo. – Pelo menos tenho menos falas que você. Já que sou só o Páris...
- Hey! Você não é “só o Páris”. – Não gostava de ver Zayn se sentindo mal por ter um papel pequeno na peça. – Vai ser o melhor Páris que essa cidade já viu!
- E eu vou morrer também! Além de poder brigar com o Nicholas. – Comemorou como se fosse uma cosa boa. – Na peça, claro...
- Mesmo que você fosse adorar brigar com ele na vida real. – O soltei para poder cruzar os braços e parecer séria.
- Eu iria adorar defender o que é meu, isso é verdade. – Colocou uma mexa dos meus cabelos pra trás da minha orelha. – Andei ensaiando a minha cena de morte. Quer ver?
- Claro que quero! – Aquilo ia ser bom!
- Não queria estragar o suspense, mas como você vai estar de olhos fechados, não poderá ver a cena. – Zayn explicou e se levantou.
O menino foi para a minha frente e se preparou. Eu cruzei as pernas e fiquei esperando-o encenar o que quer que estivesse planejando, acreditando que ele falava sério. Não sabia se Zayn começaria a cantar como em musicais ou simplesmente... Morrer. Mantive a minha atenção centrada no menino quando ele começou. Primeiro fingiu levar uma punhalada no peito e em seguida olhou o sangue invisível em suas mãos. Então começou a cambalear e fraquejar, terminando por cair de joelhos no chão e xingar os céus em silêncio. Eu só esperava que ele estivesse brincando e aquela não fosse realmente a sua cena de morte. Quando Zayn caiu no chão e teve alguns espasmos, foi impossível segurar o riso.
- Ok, baby, muito bom! – Levantei e fui até ele, esticando a mão para ajudá-lo a sair do chão. – Você devia ganhar um Oscar!
- Devia mesmo, né? – Zayn segurou a minha mão, mas acabou levantando por conta própria. Ele estava orgulhoso de si mesmo e preferi deixá-lo ser feliz e pensar que a sua encenação foi boa de verdade.
+++ Após fazer algumas compras no mercadinho local, Zayn e eu voltamos para casa às 15h30min da tarde e o Sol já começava a dar indícios de começar a se por. Os dias de inverno estavam ficando cada vez mais curtos e isso ainda me era um tanto estranho. Estacionamos o carro perto da entrada da casa, mas quando fiz menção de ir até a porta, Zayn me impediu e disse que queria me mostrar algo. Já sabendo que ele não me daria nenhuma informação além daquela, resolvi segui-lo sem reclamar. A única coisa que pode me dar alguma dica foi vê-lo tirar do porta-luvas do Volvo duas lanternas. Desconfiei que houvesse alguma caverna escondida naquela floresta e o menino estivesse pensando em explorá-la. Há alguns meses atrás eu teria concordado com isso sem nem questionar, mas depois dos acontecimentos da festa surpresa do meu irmão, comecei a ter um pé atrás de entrar em florestas que eu não conhecia. Ao menos nesse dia eu não estava sob o efeito de nada ilícito e muito menos sozinha.
- Baby, o que você está aprontando dessa vez? – Me encolhi dentro do suéter e ajeitei o cachecol em meu pescoço por causa do frio.
- Apenas confie em mim, ok? – Ele sorriu ao estender a mão pra mim. – Sei o que estou fazendo.
- Eu confio em você. – Admiti, mas demorei alguns segundos para segurar a sua mão. – Só não sei se confio no seu senso de direção.
- Tá brincando? – Riu e demos alguns passos na direção da floresta que cercava a casa. – Eu conheço esse lugar como a palma da minha mão. Já perdi a conta de quantas vezes fiquei perdido aí dentro quando era criança.
- Isso devia me confortar? – Entrelacei os dedos nos dele a fim de me sentir mais segura e estudei a floresta.
Até que não era tão assustadora assim, pra falar a verdade. As árvores eram longas e altas e seus troncos eram retos. As raízes não saiam tortas do chão e isso dificultava qualquer tropeço. A grama estava em um tom que variava do verde escuro para o marrom e algumas flores e vegetação local ainda arriscavam desabrochar apesar do tempo frio. O Sol ia abaixando na nossa frente e os poucos raios que penetravam a floresta eram o suficiente para nos guiar pelo caminho. De repente senti uma tranquilidade tremenda e todo o receio foi embora.
- Eu estou aqui pra te confortar. – Acariciou a minha mão com o polegar e eu sorri. – Vou te manter segura.
- Meu super herói! – Soltei a mão de Zayn pra poder abraçá-lo de lado e continuamos andando. – Super Zayn!
- Sempre achei que seu tivesse um nome de super herói seria algo mais divertido eu isso. – Comentou entretido, indicando o lado que deveríamos seguir.
- Como qual? – Dobramos à direita e chegamos a uma espécie de trilha de terra estreita ladeada pelas árvores.
- Vas happening man! – Disse mais animado do que deveria e me fez rir.
- Ok, esse bem mais legal... – Fui irônica, mas Zayn não gostou e acabou abaixando a minha touca até cobrir os meus olhos. – Já entendi, já entendi! Sem fazer brincadeiras com o Vas happening man!
- Aprendeu rápido. – Riu enquanto eu tinha muito trabalho para voltar a arrumar meus cabelos e a touca.
- Existem animais por aqui? – Finalmente consegui me ajeitar e olhei para Zayn com curiosidade.
- Animais? Do tipo leões e elefantes?
- Na verdade, eu estava pensando mais em alces, ou veados... – Dei de ombros. – Mas se quiser ir com elefantes ou leões tudo bem pra mim.
- Só algumas corujas e pássaros. Ah, e um lince das montanhas, mas nada que nos preocupe. – Ao ver a minha cara de espantada, Zayn tratou de se desmentir. – Foi uma piada, %Tah%.
- Eu sabia disso! – Não sabia não. – Só não sou muito fã de imaginar que há um animal selvagem me observando.
- RAWR. – Imitou um rugido de um tigre ou algo do tipo e acabou me assustando.
- Malik! – Me soltei de seus braços e o empurrei. Não estava zangada, apenas não amei a brincadeira, mas terminei rindo. – Idiota.
- Me chamando de idiota com um sorriso desses, eu não consigo ficar bravo. – Se reaproximou e passou o dedo mindinho pelo meu, prendendo-o ali.
- Você não consegue ficar bravo comigo e ponto final. – Sorri ainda mais e continuamos andando em frente. – É uma rua de duas mãos.
- Pode até ser, mas você bem que tenta. – Riu baixo afirmando com a cabeça.
- Só quando você fala de quem não deve. – Franzi o cenho como se perguntasse “você quer mesmo falar sobre isso?” e ele se calou.
- Já estamos chegando. – Fez uma careta engraçada ao mudar de assunto.
Zayn não mentiu ao falar que estávamos chegando, pois logo avistei a saída da floresta. Demos mais uns dez passos e meus olhos foram atingidos pela claridade. Não que estivesse extremamente claro, apenas mais claro que dentro da floresta. Assim que meus olhos se acostumaram com aquela nova lucidez, fitei a campina ao meu redor. O lugar era simplesmente enorme e minhas íris se perdiam no horizonte. Consegui enxergar várias montanhas nos ladeando e algumas casinhas bem pequenas por conta da distância. O chão ainda era coberto por grama, mas intercalava-se com tufos de capim que batiam na altura dos meus joelhos e flores brancas.
- Isso aqui lindo demais! – Sorri encantada, adentrando mais ao campo. Apontei para uma construção ao longe. – Aquilo é um castelo?
- Costumava ser. Hoje em dia é um hotel. – Passou por mim e se sentou em uma parte de gama baixa e se sentou. – Foi ele que nomeou a cidade.
- Eu só precisava de um vestido pra me sentir uma princesa. – Fui até ele e me sentei ao seu lado, tirando os sapatos e esticando as pernas na minha frente.
- Uma princesa também precisa de uma coroa. – Ao falar isso, Zayn gentilmente tirou a touca dos meus cabelos e começou a arrancar algumas das pequenas flores brancas.
- O que você está fazendo? – Minha pergunta foi respondida assim que ele começou a enfeitar meu cabelo com as flores.
- Arrumando o seu cabelo, vossa majestade. – Brincou.
- Me deixe bem bonita, por favor. – Ri e coloquei para trás as mexas que caíam para frente do meu corpo. – Tenho um compromisso muito importante hoje à noite.
- Seria ousadia de minha parte perguntar qual compromisso? – Podia sentir os cabos das flores se prendendo em meus cabelos na medida em que Zayn os enfeitava.
- Claro que não. – O olhei de esguelha. – Tenho um encontro com o príncipe de Bradford. Vamos jantar juntos.
- Ouvi falar muito bem desse jovem. Dizem pelo reino que ele é muito bonito e muito talentoso. – Nada modesto, por sinal. – O que você acha?
- Já vi melhores. – Dei de ombros.
- Estraga prazeres. – Riu e terminou com o meu cabelo. Desejei ter um espelho pra ver como eu estava. – Agora temos que ficar bem quietos.
- Por que? – O olhei sem entender. Estava tentando me mandar calar a boca?
- Você vai ver. – Sorriu travesso e eu entendi que teria que esperar pra ver.
Decidi obedecer Zayn e prestar atenção ao pôr-do-sol que acontecia bem diante dos meus olhos. Algumas nuvens brincavam no céu enquanto ele ganhava uma cor arroxeada com um toque de laranja. Os últimos raios do Sol se despediam e beijavam a superfície das colinas, deixando tudo com um toque de ouro. O vento se divertia com os meus cabelos e balançava os fios, assoprando a minha franja bagunçada para trás. Olhei para Zayn ao meu lado e ele também prestava atenção naquele milagre da natureza que acontece todos os dias, mas muitas vezes passava despercebido.
Foi impossível não lembrar do primeiro pôr-do-sol que assistimos juntos, naquele dia no centro de Londres. Tanto havia mudado... Zayn e eu crescemos um dentro do outro, dividimos nossos medos mais íntimos, nossos segredos mais embaraçosos e conseguíamos nos entender com uma simples troca de olhares. Eu o amava e sentia isso em cada fibra do meu corpo. Não havia espaço para dúvidas, incertezas ou inseguranças. Ele era o meu porto seguro, minha wonderwall. Eu sabia que seria capaz de fazer qualquer coisa por ele, pois Zayn era a coisa mais importante na minha vida. Também sabia que se falasse isso pra alguém, diriam que eu ainda era muito nova pra saber o que é amor de verdade ou pra afirmar algo assim, mas não me importava. Devemos manter próximo a nós aquilo que nos faz feliz e quem me fazia incondicionalmente feliz era ele; em todos os sentidos da palavra.
Logo a coloração alaranjada deu espaço ao azul turquesa de começo de noite em plenas 17hrs. Continuei bem quieta e abracei as pernas, encostando o queixo em meus joelhos. Zayn estava bem próximo e beijou o meu ombro como se me pedisse paciência. Eu o olhei mais uma vez e sorri. Antes que pudesse procurar os seus lábios com os meus, algo chamou a minha atenção pelo canto do meu olho. “Agora eu estou ficando louca? Podia jurar que vi...” Voltei a olhar para frente para ter certeza que não era nada. Ao contrário do que eu pensava – e felizmente -, não estava ficando louca. Uma pequena luz esverdeada se acendeu há alguns metros na nossa frente e foi seguida por outra e outra e outra... Logo estávamos cercados por pontinhos brilhantes que começavam a flutuar. Meu queixo caiu sem que eu percebesse e fiquei de pé. Os bichinhos não pararam de voar com o meu movimento e isso me fez sorrir.
- São vaga-lumes. – Zayn confirmou o que o que eu já desconfiava.
- Você não cansa de me surpreender? – Sussurrei com medo de espantar os vaga-lumes. – Eles estão me chamando pra dançar!
- E eu estou te chamando pra ficar comigo. – Levantou da grama e me abraçou pela cintura.
- Dança com a gente! – Pedi envolvendo-o pelo pescoço.
- Eu...
- Eu não danço, %Tah%. – O interrompi já sabendo o que falaria. – Vai começar com isso de novo?
- É a verdade... – Fez um pequeno bico.
- Não é nada! – Fiquei na ponta dos pés e beijei o bico dele. – Você já dançou comigo antes.
- E você sabe muito bem como foi desastroso. – É, nesse caso ele tinha razão.
- Poxa. – Foi a minha vez de fazer bico e voltei a pisar com os calcanhares no chão. – Pode ao menos me ver dançar?
- Isso eu posso fazer... – Sorriu torto e roubou mais um selinho antes de se sentar na grama mais uma vez.
Eu não estava em um palco, mas me sentia em um espetáculo. Os vaga-lumes eram meus companheiros, a Lua meu holofote e Zayn minha plateia. Não me importei de pisar na grama e no capim com os meus pés descalços, e comecei a dançar um ballet delicado. Fiquei na ponta dos pés e girei por aí, com meu cabelo flutuando durante os rodopios e algumas flores brancas se soltando. Meus braços faziam movimentos precisos e suaves acima da minha cabeça enquanto meus pés programavam alguns passos pra lá e pra cá. Era impossível não sorrir enquanto coreografava, já que eu estava fazendo uma das coisas que mais amava e era rodeada por algo mágico. Os vaga-lumes não tinham medo de mim e alguns até pousaram sobre a minha mão e meus braços, me fazendo rir.
- Eles gostam de você. – Zayn riu.
- Eu também gosto deles! – Parei de dançar quando minha mão direita foi atacada por pelo menos dez insetos. Eles não me morderam ou me feriram, apenas ficaram passeando e piscando por ali. – Sempre quis caçar vaga-lumes, mas nunca visitei um lugar assim.
- Caçar vaga-lumes? – Arqueou as sobrancelhas e levantou. – Eu não consigo imaginar você caçando nada.
- Sou uma pessoa da paz, isso é verdade. – Sacudi a mão para afastar os bichos e encostei-me ao corpo de Zayn, ficando de costas pra ele para poder observar a paisagem à nossa frente. – Estava imaginando %Patch% aqui.
- Droga! – Zayn exclamou atrás de mim ao passar os braços pelas minhas costelas.
- O que houve?
- Fiz uma aposta com Liam pra ver quanto tempo você ficaria sem falar em %Patch%. – Pelo olhar de decepção de Zayn, presumi que ele havia perdido a aposta. – Eu apostei que você aguentaria vinte e quatro horas.
- Desculpa, baby. – Ri. – Se dividir o prêmio comigo, eu finjo que não falei nada e deixo você ganhar.
- Temos um trato. – Beijou a minha bochecha. – Você já está com saudades do pequeno, não está?
- Estou! – Choraminguei. – Quando voltarmos para o chalé eu vou ligar pra os meninos e perguntar como ele está. Também quero saber do Hazza, porque ele estava muito mal quando saímos de casa.
- Quer voltar agora? Está começando a esfriar... – Me apertou contra o seu corpo e beijou o meu pescoço. Dei sorte de estar com um suéter de mangas compridas, caso contrário o meu arrepio teria sido mais do que óbvio.
- Está com as lanternas aí, certo?
- Tem medo do escuro?
+++ Depois do jantar, fomos para a sala e passamos duas horas conversando sobre qualquer coisa sem importância e descansando no sofá. Eu já ligara para Louis e recebera um relatório completo sobre tudo que acontecia em casa. %Patch% estava muito bem, mas não gostava de ficar em qualquer lugar que não fosse embaixo da minha cama. Aquilo me alegrou e me fez pensar que ele podia estar sentindo a minha falta tanto quanto eu sentia a dele. A mãe de Zayn também ligou para saber como o filho estava e até falou comigo, querendo saber se a casa estava em ordem e me falando pra ficar confortável como se fosse minha também. Agradeci a minha sogra preferida e mandei um beijo para as outras meninas. Dony tentou falar comigo, mas o irmão dela não permitiu. Ele alegou que fofocaríamos a noite inteira e que a última coisa que ele queria ouvir era duas meninas falando sobre Tom Fletcher.
- Acho que vou tomar banho... – Comentei enquanto encarava o teto, com as pernas em cima das dele e bem deitada no sofá.
- Está precisando. – Zayn concordou com a cabeça, acariciando as minhas canelas.
- Hey! – Ri colocando a mão sobre a barriga. – Você não deveria falar isso quando as minhas pernas estão tão próximas às suas partes preciosas.
- Isso é uma ameaça? – Segurou as minhas mãos com firmeza e me puxou para o seu colo.
- É um aviso. – O segurei pelo pescoço e me ajeitei em cima de suas pernas. – Pra você ter cuidado comigo.
- Uhh, estou com medo... – Desdenhou com aquele sorrisinho torto que me tirava do sério.
- E deveria! – O apertei mais um pouco no pescoço, mas não o suficiente para sufocá-lo. Aproximei nossos rostos e capturei o lábio inferior do menino com os dentes e o puxei pra mim.
- Essa doeu! – Reclamou assim que o soltei e pude sorrir satisfeita.
- É pra você aprender a ter cuidado comigo! – Falei ameaçadora, mas nem eu mesma comprei aquele peixe. Juntei nossos lábios mais uma vez, deixando um beijo lento em carinhoso por ali. – Falando sério... Preciso de um banho! – Comecei a brincar com a gola da camisa de Zayn. – Posso ir?
- Vá lá em cima, no quarto principal. – Apertou as minhas coxas com carinho. – Vou tomar banho aqui em baixo mesmo e te encontro depois.
- Ok! Te vejo daqui a pouco. – Roubei um beijo antes de me levantar.
Peguei meu sapato e bolsa que estavam por ali e rumei para as escadas no fundo da sala. Eu já conseguia andar pela casa sem me perder e me sentia muito bem no clima rústico que todos os cômodos de madeira proporcionavam. Vi que Zayn me fitava subir para o andar de cima até que me perdeu de vista. Foi só atravessar o corredor do segundo andar e entrar no quarto principal que senti um frio tremendo na barriga. Talvez por saber que passaria a noite com meu namorado ali, ou talvez por ter certeza que faríamos mais que simplesmente dormir. Respirei fundo repetindo várias vezes dentro da minha cabeça que não era hora de ficar paranoica, pois eu não tinha com o que me preocupar. “Uma coisa de cada vez. Primeiro passo: Tomar banho.”
A desculpa de tomar banho que usei para me preparar não foi tão falsa assim, afinal, eu realmente precisava me lavar. Estar com aquelas roupas desde que saí de Londres não era a sensação mais higiênica do mundo. As minhas malas ainda estavam onde as deixara mais cedo naquele dia e foi até ali que eu me dirigi. Deitei o objeto no chão e abri o zíper, me deparando com a montanha de coisas que eu conseguira enfiar ali dentro. “O que se deve usar em uma ocasião dessas?” Rolei os olhos desejando que %Abi% estivesse ali pra me aconselhar. “Celulares existem, sabia?” Minha própria consciência me irritava às vezes. Levantei do chão e peguei a minha bolsa, levando-a e a nécessaire comigo para dentro do banheiro, onde me tranquei. Derramei todo o conteúdo da bolsa sobre o balcão da pia, com pressa demais para procurar o iPhone com calma. Disquei o número de %Abigail% e torci para que ela atendesse rápido.
- Atende, atende, atende... – Após o que pareceram dez mil bipes, %Abi% atendeu.
- Pode falar, minha nega. – Sua voz carinhosa me acalmou como um balde de água fria nos nervos.
- Estou no banheiro de Zayn... – Falei sem saber muito se aquela frase teria algum sentido.
- Hmm, nice! – A escutei gargalhar. – Estava se sentindo... Suja? Teve um dia... Interessante?
- Ainda bem que você me entende. – Ri em uma mistura de embaraçamento com alivio. – Mas não. A noite é que vai ser interessante. É por isso que estou te ligando.
- Quer saber algumas posições legais? Deixa eu pegar o meu livro aqui, só um minuto... – Antes que eu pudesse negar, senti que %Abi% afastou o telefone do ouvido e começou a falar com outra pessoa. – Nialler, pega o Kama Sutra lá no quarto, por favor?
- %Abigail%! O Niall está aí? Sai de perto dele agora! – Minhas bochechas queimaram instantaneamente. – Não quero uma posição! Quero uma conversa normal com a minha melhor amiga antes de fazer sexo pela primeira vez com o meu namorado. E estou te colocando no viva-voz, então não grite.
- Falar em voz alta e direta já é um bom começo, %Tah%, está no caminho certo. – Pelos ruídos do telefone, senti que ela realmente se afastou do próprio namorado. – O que te preocupa?
- Não acho que algo me preocupe... – Comecei a tirar as roupas para entrar no chuveiro e cometi o erro de me olhar assim no espelho. – Ok, retiro o que eu disse. Ele vai me ver pelada!
- Não me diga que você está preocupada com isso. – Riu como se estivesse ouvindo uma piada. – Eu já te vi de biquíni e sei que o seu corpo é bonito. A não ser que você tenha um polvo lá embaixo, vai se sair bem. Por falar em polvo... Está depilada?
- Sou uma bailarina, %Abi%, não posso me dar ao luxo de usar um collant sem estar depilada. – Terminei de me despir e aproveitei para retirar algumas das flores que resistiram e continuaram presas aos meus cabelos. – Que roupa devo usar?
- %Tah%, minha querida... Eu sei que faz muito tempo que você não se diverte, mas sexo geralmente é feito sem roupas. Essa é justamente a parte divertida.
- Dessa parte eu ainda me lembro, ok? – Acabei rindo contra a minha vontade e liguei o chuveiro. Poderia ter optado pela banheira, mas temi a vontade de me afogar. – Mas não posso aparecer pelada lá na sala e chamar ele para o quarto!
- Por que não?! É assim que eu faço. – Comentou casualmente, mas eu preferia ser poupada de certos detalhes. Enquanto ela falava, entrei no chuveiro para começar o meu banho. – Você tem razão. Ache uma camisolinha na sua mala... De preferência com alguma cor clara. Adoro simbolismos e vai ser como se você estivesse deixando a sua pureza de lado e se tornando uma mulher! Vá lá, Julieta. Se divirta com o seu Romeu.
- Ainda não estou pronta pra desligar! Preciso tirar algumas dúvidas. – Molhei os cabelos com cuidado para deixar qualquer sujeira escorrer pelo ralo. – Mas você tem que prometer que não vai rir.
- Prometido! Manda.
- E se... Doer? – Suspirei ao colocar um pouco de shampoo na palma da mão. – Sei que não sou virgem, mas só fiz a coisa uma vez. E se o treco não rompeu direito?
- O treco e a coisa? Voltamos a usar eufemismos? Tudo bem. – Ela também suspirou. – O treco pode não ter rompido direito mesmo e o coiso de Zayn, se for como eu imagino, será grande demais. Então, para todos os casos... O que você tem que fazer é simplesmente relaxar. Assim tudo vai ocorrer como nos conformes vai ser bom para os dois.
- Se você resolver abandonar a carreira de bailarina, fique a vontade pra se tornar ginecologista. – Ri. – Ou psicóloga.
- Sou boa mesmo, não sou? – Se gabou. – Agora vamos desligar e termine o seu banho. Você precisa de um tempo só seu para poder se concentrar.
- Tudo bem, %Abi%... Muito obrigada. – Sorri em agradecimento mesmo que ela não pudesse vê-lo.
- Imagine, minha flor do campo. Estou aqui pra isso. – Eu sabia que ela também sorria. – E, %Tah%? Tudo vai dar certo. Vocês se amam e não há com o que se preocupar.
+++ {N/A: Essa cena contém elementos impróprios para menores. ps: É sexo mesmo. Se não gosta, pode pular para a próxima parte. Mas a quem estamos querendo enganar, não é mesmo? Enjoy. :3}
Depois de um banho bem relaxante e mais vinte minutos de preparação, eu estava pronta e com os cabelos secos artificialmente. Ou seja, usei um secador para dar um ar mais arrumado e ao mesmo tempo simples ao meu cabelo. Não exagerei muito, pois não queria que parecesse ter acabado de sair do salão, mas fiz um bom trabalho. Usei um hidratante corporal para dar um toque mais macio à minha pele e finalmente me senti bem relaxada. Desliguei o meu aparelho celular para ter certeza que nada nos interromperia e torcia para que Zayn esquecesse o dele no andar de baixo. Abri completamente as cortinas na janela, mas não cheguei a abrir o vidro. Dessa forma, o quarto seria iluminado apenas o necessário, o que era muito bom pra mim. Fui até a cama e a arrumei desarrumando-a; tirei o edredom grosso e o dobrei até a ponta, deixando a cama o mais convidativa e confortável possível. “É isso aí, %Tah%... Vamos fazer isso.” Sorri sozinha. Destranquei a porta do quarto e saí para o corredor, parando no topo da escada.
- Baby? – O chamei na esperança de ouvir uma resposta.
- Estou aqui, babe, o que houve? – Escutei a sua voz e senti um frio gostoso na barriga.
- Você pode vir aqui um instante? – Pedi com a voz mais inocente que consegui fazer.
- Estou subindo!
Ouvir aquilo foi a minha deixa para voltar para o quarto. Deixei a porta entreaberta para que não houvesse a necessidade de bater para entrar e parei perto da cama. Sempre achei engraçado quando as pessoas tentam encontrar uma posição sedutora para aguardar o companheiro ou a companheira em filmes, mas na vida real era um tanto desesperador. O pior? Eu não tinha tanto tempo assim para avaliar as minhas opções. Eu deveria deitar na cama? Ficar de joelhos sobre ela? Ficar de pé? Resolvi me sentar na ponta superior da cama, perto dos travesseiros. Apoiei uma das mãos no colchão e arrumei meus cabelos para que eles seguissem essa mesma direção. Mordi o lábio inferior inconscientemente, aguardando o momento que Zayn me veria assim. Passos pesados se aproximaram e o menino abriu a porta. Ele estava descalço e com uma bermuda preta e uma camiseta qualquer. Seus cabelos ainda estavam molhados por causa do banho e seu olhar pareceu me estudar da mesma forma que eu acabara de fazer.
- Anjo... – Aparentou estar estupefato, o que era bem a reação que eu esperava. – Você...
- Shhh...
Com aquele pedido de silêncio e um sorriso que dizia muitas coisas, caminhei até Zayn e o segurei pelas laterais do rosto. Fiz questão de encostar os nossos corpos o máximo que consegui para deixar bem claro o que queria. Encostei os lábios em seu maxilar, pois era onde eu alcançava sem ficar na ponta dos pés, e arrastei-os até os lábios quentes do garoto. Ele, por sua vez, pousou as mãos nas laterais do meu quadril, ainda sem muita reação com o que estava acontecendo. O cheiro de sabão estava em sua pele e o gosto da pasta de dente ainda brincava em seu hálito. Uma combinação perfeita com os odores amadeirados daquele quarto. Zayn retribuiu o curto beijo que trocamos e foi o suficiente para que eu entendesse que ele queria aquilo tanto quanto eu.
Dei um pequeno passo para trás e me dirigi de costas até a cama, trazendo-o junto comigo ao segurar sua mão direita. Só cheguei a soltá-lo para me ajoelhar no centro da cama. Zayn fez o mesmo e ficou de frente pra mim. Passou a ponta dos dedos pela lateral do meu rosto e afastou a franja que caía em meus olhos. Acabei sorrindo por ele estar sendo tão extremamente delicado e incrivelmente bonito. A luz penetrava o quarto e nos banhava, batendo diretamente e de um jeito muito mágico nos olhos cor de avelã que ganharam um brilho ainda mais intenso que o normal. O abracei pelo pescoço e inclinei o rosto para o lado assim que os lábios dele se apoderaram do meu. Zayn arrastou os lábios pelo meu ombro, fazendo uma das alças da minha baby-doll escorregar. Mordi o lábio para evitar um suspiro, mas não entendi esse meu objetivo, já que eu não conseguiria me segurar por muito tempo.
Enquanto o garoto passeava as mãos pelas minhas costas, me puxando para si cada vez mais e cobrindo o meu pescoço de beijos macios, segurei a barra de sua camisa e aventurei as minhas mãos por dentro dela. Zayn se arrepiou ao meu toque e aproveitei aquela reação para continuar subindo as mãos pelo abdômen e sentindo os músculos se contraírem embaixo de meus dedos. Se afastou um pouco para me ajudar a acabar com aquela provocação e tirou a própria camisa, jogando-a em qualquer canto do quarto. Em seguida, apoiou as minhas costas novamente e me fez deitar na cama com a cabeça no travesseiro. Zayn queria que eu ficasse o mais confortável possível e era impossível não ficar encantada com qualquer movimento que fazia. Ele não me atacou ou pareceu querer forçar nada. Nossos movimentos eram naturais e ambos estávamos saboreando o momento.
Zayn se inclinou levemente sobre mim e parou por uns segundos que pareceram minutos. Apenas ficamos nos olhando e analisando a perfeição que cada um tinha nos olhos do outro, porque era isso o que eu sentia; me sentia perfeita através do olhar dele e essa era uma das melhores sensações que eu presenciara até ali. Arrastei a mão pelo centro do tronco do outro de baixo para cima, dedilhando as tatuagens em seu peito e ombros até envolvê-lo pela nuca e trazê-lo para perto. Zayn fechou os olhos assim que sentiu meus lábios contra os dele e segurou a lateral do meu corpo. Modelei os lábios dele com os meus e senti o seu corpo começando a fazer certo peso sobre o meu. O moreno encaixou uma das pernas entre as minhas, causando um primeiro contato mais íntimo que me fez arfar de uma forma gostosa.
Com isso, prendi uma das mãos em seus cabelos úmidos e os acariciei sem puxar. Nossas línguas se chocavam com veracidade e calma ao mesmo tempo, fazendo nossos lábios serem pressionados cada vez mais e nossas cabeças tombarem para lados opostos. Usando a mão livre, percorri as costas de Zayn até onde alcançava, fazendo-o investir contra o meu corpo e irradiar o seu calor por todo o cômodo. Ele desceu as mãos pelas minhas pernas e parou no meio das coxas, acariciando com o polegar e apertando de leve. Me fez envolver a sua cintura com uma delas e aumentar a fricção em sua própria perna que continuou entre as minhas. Aquele movimento mais ousado acabou arrancando de mim um gemido curto que interrompeu o beijo, mas foi muito bem vindo. Zayn me soltou e apoiou as mãos no colchão ao meu lado para tirar o seu peso de cima de mim. Ele roubou alguns selinhos demorados antes de se afastar e abaixar o corpo até a altura dos meus joelhos.
Me acomodei mais na cama e minha respiração pesou quando começou a beijar por ali e fazer um caminho de beijos pelas minhas pernas, intercalando entre uma e outra. Fechei os olhos para me concentrar, mas não consegui pensar em absolutamente nada além de como os lábios dele eram extremamente macios contra a minha pele quente. Zayn subiu até as minhas coxas e começou a levantar a camisola de seda branca até a metade da minha barriga, onde também beijou com todo carinho. Arqueei as costas contra a cama em um ato inconsciente, suspirando alto. Eu deixava-o fazer absolutamente tudo que quisesse, pois cada toque, cada movimento era agradável. Levantei os braços para deixá-lo terminar de tirar aquela peça de roupa e senti as bochechas queimarem por só estar de calcinha. Zayn se deitou ao meu lado, virado pra mim e com o corpo apoiado na sua lateral. O olhei com uma nova mordida nos lábios e ele sorria.
Deslizou dois dedos pela minha barriga, desde abaixo do meu umbigo, passando por entre o meu busto e seguindo pelo meu pescoço até o queixo. Aquele traçado me lembrou muito o toque de um pincel, como se eu fosse a tela e ele o pintor que estava centrado e apaixonado pela sua obra de arte. Também deitei de lado e encostei-me à ele, juntando nossos troncos naquele contato íntimo e tive quase certeza de que meu coração acelerado seria sentido por ele através do meu peito. Zayn dedilhou a minha coluna e brincou com as covinhas no seu fim, tocando perigosamente o cós da minha roupa de baixo. Acabei por envolvê-lo novamente com a perna e dessa vez consegui sentir mais diretamente o contato da parte dele na minha. Duvidei até que estivesse vestindo algo por baixo da bermuda preta e aquilo me agradou mais do que eu achei que poderia.
Mais uma vez nossos lábios se chocaram e toquei as costelas de Zayn com as unhas, descendo pelo desenho de sua lateral. Não consigo pensar em uma parte dele que não fosse perfeitamente esculpida e firme abaixo de meus dedos. Também sei que depois daquela noite eu nunca conseguiria olhá-lo da mesma forma e me sentia confortável com isso. Nós estávamos dando mais um passo no nosso relacionamento, mas pra mim era mais que isso. Eu estava conseguindo me entregar completamente mais uma vez, mesmo depois de tantos anos achando que nunca seria capaz de fazer isso. Zayn me mostrava todos os dias que era digno de confiança e um homem bom. Até mesmo chegava a pensar que ele merecia muito mais do que tudo aquilo que eu podia lhe dar, mas estava feliz em ser a sua escolha, até quando ele me deixasse ser.
Voltei a deitar com as costas na cama e o trouxe pra cima de mim, deixando-o entre as minhas pernas. As mãos de Zayn me tocaram por inteiro, deslizando por cada centímetro do meu corpo e eu fiz o mesmo com o dele. Nos explorávamos e nos conhecíamos ainda mais. Interrompi o beijo para escorregar a boca até a orelha do mesmo e sussurrar de forma embargada que o queria por inteiro e que desejava ser totalmente dele. Com isso, Zayn me olhou tão profundamente que senti que ele olhava dentro da minha alma e descobria coisas sobre mim que nem eu mesma tinha conhecimento. Lentamente foi se colocando de joelhos sem sair do lugar e voltou a tocar a lateral do meu corpo até chegar no cós da minha calcinha, onde segurou com cuidado e a arrastou para baixo das minhas pernas. Seu olhar fez o mesmo caminho e me fez ferver.
Sem esperar a minha ajuda, Zayn se livrou da própria bermuda e meu palpite anterior esta correto. Senti a minha respiração pesar mais uma vez e respirei com dificuldade ao vê-lo daquela forma; completamente nu. Ao menos estávamos quites. Continuei deitada ali enquanto ele saiu da cama e foi até a sua própria mala, pegando alguma coisa que foi fácil deduzir que era um preservativo. Sinceramente não sei como ele se lembrou daquele detalhe, porque eu com certeza não lembraria. Zayn voltou para a cama, já devidamente ‘arrumado’, com tanta rapidez que culpei o imã que nos mantinha grudados o tempo inteiro. Suspirei com um sorriso que queria dizer “eu estou pronta” e olhar dele me pedia pra confiar que ele teria cuidado. Senti um pouco de vontade de rir por causa do nervosismo, mas foi só ter meus dedos presos aos dele que a vontade se foi.
Colocando-se em cima de mim novamente, Zayn usou os dedos para tocar a minha intimidade e se posicionar ali. Arfei mais uma fez com aquela provocação necessária e tive a minha bochecha beijada da forma mais carinhosa possível. Prendeu a minha mão entrelaçada à sua acima da minha cabeça, mas só o que senti com aquele ato foi uma segurança tremenda. Zayn encostou a testa na minha para que pudéssemos nos olhar enquanto dava a primeira investida lenta e tranquila para se encaixar em mim. Eu estava certa no banheiro, pois doeu. Não foi uma dor enorme ou impossível de aguentar, apenas um desconforto momentâneo até que eu me adequasse a ele. A minha pequena careta me denunciou e Zayn me olhou preocupado, parando seus movimentos até ter certeza que eu estava bem. Usei a minha mão solta para acariciar a lateral de seu rosto e avançar contra a sua boca, indicando que ele deveria continuar.
Não fiquei apenas parada na cama e mexi o quadril em sincronia com o dele até que seu membro estivesse completamente em mim. Zayn voltou a tirá-lo até a metade e em seguida encaixou-se mais uma vez. Cada vez que esse movimento era repetido, cada parte do meu corpo ficava mais e mais entorpecida, fazendo a dor ir embora e deixar apenas o prazer. Por mais que o moreno tentasse se controlar, acabava soltando suspiros nos meus lábios e eu mesma já desistira de controlar meus gemidos. Posso afirmar com toda certeza que nunca senti algo tão bom em todos meus 19 anos de existência e a única coisa que passou pela minha cabeça e ainda tinha algum sentido era: “Era isso o que eu estava perdendo? Ahh, se eu soubesse antes...” Mas agora que sabia, não iria esquecer.
Os nossos movimentos gradualmente foram ficando mais rápidos e até um pouco bagunçados, mas acabávamos nos entendendo. Ao escutar meus gemidos mais longos e agudos, Zayn acabava se empolgando e aumentando de velocidade, me fazendo delirar, literalmente. Fiquei tranquila por não ter mais ninguém na casa, então não me importei em ser um pouco barulhenta. Só me importava com Zayn e em ser tão boa pra ele quanto ele estava sendo pra mim. Naquela noite nós nos tornamos um só, conectados emocional e fisicamente. Nosso amor se provou ser maior do que eu já acreditava que era e a nossa primeira vez estava sendo perfeita. Éramos homem e mulher. Éramos um do outro.