Capítulo LII
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Pelo que parecia ser a quarta vez eu conferia se os presentes que eu havia comprado na noite anterior estavam bem escondidos. Mais tarde naquele mesmo dia teria a festa surpresa de Louis e, mesmo que não fosse entregar o seu presente antes da data certa, preferi sair pra comprar o presente de natal de todos os meus amigos antes que as lojas e shoppings ficassem abarrotados de pessoas que se esqueceram desse pequeno grande detalhe assim como eu. Não me preocupei com o tamanho ou valor monetário dos presentes e sim com o valor sentimental. Fiz questão que fossem carinhosos e que mostrassem que eu realmente tirei um tempo para escolhê-los. O que não deixa de ser verdade, já que eu passei o dia inteiro fora de casa para encontrar tudo que queria. Por sorte, todos os pacotes embalados couberam dentro do closet, atrás dos meus vestidos longos. Eu poderia os ter colocado embaixo da árvore de natal, mas quem me garantia que os meninos não iriam espiar?!
Saí do closet assim que escutei um barulho no quarto e encontrei Harry olhando embaixo da cama. Ele não percebeu quando eu caminhei até o seu lado e cruzei os braços, esperando-o parar com o que quer que estivesse fazendo. Como o menino não parecia se tocar, eu tive que fazer alguma coisa. Me inclinei e o apertei na cintura, assustando-o mais do que esperava. Harry deu um pulo e acabou batendo a cabeça na madeira da cama.
- Hazza! Você está bem, sweetie? Desculpa! – Me ajoelhei no chão e o ajudei a se sentar.
- Outch, %Tah%! Porque fez isso? – Massageou o lugar machucado e eu me senti pior ainda.
- Desculpa, desculpa! Só estava tentando chamar a sua atenção! – O puxei devagar e enchi sua cabecinha cacheada de beijos, fazendo-o rir.
- Tudo bem, eu te desculpo! – Me afastou quando percebeu que eu comecei a bagunçar seus cabelos e ambos levantamos. – Eu estava procurando coisas legais pra levarmos hoje... Você sabe aonde.
- Sei sim! – Sorri em confidencia. – Mas estou a um passo na sua frente. Já separei tudo que encontrei dentro daquela mochila que está na cadeira.
- Eu sabia que podia contar com você, %Tah%. – Harry caminhou até onde eu indicara e espiou dentro da mochila. – Aliás, a Olivia já chegou e está te esperando lá embaixo.
- O Lou está conversando com ela? – Me acomodei sentada na cama e cruzei as pernas.
- Está sim. Por quê?
- Então daqui a vinte minutos nós voltamos lá pra baixo. – O fiz se sentar ao meu lado.
- Você está tentando fazer algo acontecer? – Isso porque falam que Harry é lerdo. Coitadinho.
- Sweetie, eu estou tentando fazer tudo acontecer. – Pisquei. – Por mais que goste de vocês dois como um casal, ainda quero um sobrinho. Se eles se derem bem, a Liv pode concordar em ser sua barriga de aluguel.
- Achei que fossemos adotar um bebê chinês. – Abraçou o travesseiro como se fosse um bebê de verdade.
- Podemos decidir isso depois! Não é importante agora. – Fiz um movimento exagerado com as mãos. – O que importa é que eu vou chamar a Liv para a festa, ok? Para a segunda parte.
- Por falar nisso, quem vai com a gente para a primeira parte?
- Vamos repassar, então. Pra que não haja dúvidas. – Cruzei as pernas como um índio em cima da cama e numerei com os dedos. – Primeiro você e o Liam vão para o local combinado, onde os convidados vão chegar. Já falei com meu pai e meus tios e todos confirmaram. Zayn também vai pra lá, aliás. Enquanto isso, %Abi% e Niall já vão estar organizando a segunda parte. Estou pensando em mandar a Olivia pra lá também, mas não sei se é seguro colocar ela e a ruiva no mesmo lugar sem supervisão.
- Acho que você está certa. – Harry começou a brincar com uma bolinha daquelas de apertar que eu tinha ao lado da minha cama. – Fala pra ela que nós ligamos assim que estivermos indo. A distância é a mesma, então vamos chegar quase ao mesmo tempo.
- Por falar em distância, você conhece o caminho, certo? Não quero ficar perdida no meio do nada!
- Confie em mim, %Tah%. Vai dar tudo certo. – Sorriu confiante e eu acabei acreditando.
- Bem, então eu vou indo. Não quero que a Liv pense que os franceses tem má pontualidade. – Levantei com um salto e peguei minhas chaves e celular em cima da mesinha de cabeceira, também tirando um cardigan solto no braço da cadeira e o jogando sobre o ombro. – Volto logo!
- Aonde vocês vão? – Harry me seguiu para fora do quarto.
- Vamos até a casa dela. Acho que uma boa oportunidade para darmos mais um passo na nossa amizade. – Comentei descendo as escadas.
- Só não perca a hora! – Parou no meio do caminho e foi para o próprio quarto, me deixando descer sozinha.
- Aí está ela! – Louis se levantou do sofá onde estivera conversando com Olivia e a menina fez o mesmo.
- Oi, %Tah%! Você demorou. – Até mesmo aquilo não pareceu uma reclamação em sua voz de tão simpática que era. – Podemos ir?
- Podemos sim! E me desculpe pela demora. Fiquei meio presa com algumas coisas...
- Sem problemas!
+++ O quarto de Liv era simplesmente legal demais. Ficava no sótão e por isso tinha o teto rebaixado na diagonal e a cama ficava abaixo da parte rebaixada e um pega-pesadelos colorido enfeitava o espaço sob o colchão. Perto da janela havia um daqueles colchões bem fofos que servem para se apreciar o lado de fora da forma mais confortável possível. O chão era de uma madeira clara e alguns tapetes floridos o enfeitavam. Do lado oposto encontrei uma daquelas cadeiras suspensas que parecia uma bolha de sabão. Na parede, uma estante cheia de livros me fez pensar se ela teria algum pra me emprestar. Talvez pudéssemos trocar! Gostei de tudo naquele quarto e naquela casa. A mãe de Olivia também era super adorável. Sem falar em Scott, o caçula da família, de doze anos. Uma coisinha pequena atravessou o quarto correndo e eu me assustei.
- Liv, cuidado! Tem um rato ali! – Apontei para onde eu tinha visto, mas o bicho correu para dentro de uma casinha de bonecas que estava no canto. – Eu juto que vi!
- Um rato?! Não, %Tah%... É só o Bob. – Riu e caminhou tranquilamente até a casinha que, depois de prestar bem atenção, não era uma casinha de “bonecas”.
- Você tem um rato chamado Bob? – Eu sabia o que tinha visto e era grande demais pra ser um hamster amigável.
- Não é um rato! É um porco-espinho. – Se virou na minha direção com o bichinho em mãos e eu teria me assustado se Bob não fosse tão adoravelmente fofo.
- E ele não é perigoso? – Mexi o dedo indicador perto do focinho dele e o pequeno quase ficou tonto, me fazendo rir. – Oi, little Bob.
- Só é perigoso se você pisar nele por acidente. – Liv deu de ombros e fez carinho nele. – Quer segurar?
- Posso? – Estiquei as mãos em forma de concha para que a minha nova amiga pudesse colocá-lo dentro dela. – Ele é pesado!
- É meu gordinho! – Fez carinho em Bob mais uma vez e foi até a própria cama, se jogando nela. – Pode se sentir bem à vontade, viu?
- Eu já estou bem à vontade. – Era verdade. Ainda segurando Bob, tirei os sapatos e deixei em um cantinho. – Ele fica solto pela casa?
- Pelo meu quarto. – Explicou. – Seria perigoso deixá-lo correndo por aí, então eu o deixo aqui, mas de vez em quando o levo pra passear.
- Liam tem duas tartarugas e às vezes eu também as levo pra passear pela casa. – Me abaixei para colocar o porco-espinho no chão e olhei em volta mais uma vez. – Seu quarto é muito legal, sabia?
- Obrigada. – Se sentou e sorriu como se o meu simples elogio significasse o mundo. – Aqui costumava ser um depósito de tralha, mas papai me deixou transformar em um quarto.
- Você fez um belo trabalho! – Não me senti enxerida em estar olhando tudo, pois já me sentia em casa. Estudando a prateleira de livros, bati os olhos em algo que não era uma obra literária e sim uma coroa de flores. – Nossa, sabe em quem essa coroa ficaria linda?
- Naquela sua amiga %Abi%? Se quiser pode levar pra ela! – Liv ofereceu assim tão facilmente que fiquei espantada. – Tenho várias dessa.
- Eu ia falar do Harry, mas posso levar pra ele mesmo assim? – Peguei o enfeite com cuidado. Não queria abusar da menina, mas podia devolver depois, certo?
- Claro que sim, %Tah%. Fique a vontade.
- Obrigada, Liv. – A coloquei na minha própria cabeça para usá-la até chegar em casa. Se fosse deixá-la em qualquer outro lugar, acabaria esquecendo. – Aliás, tenho um convite a te fazer.
- Um convite?
- Sim! – Me sentei ao seu lado na cama. – Hoje nós vamos dar uma festa surpresa para o Lou! E eu adoraria que você fosse!
- Hoje? Assim, em cima da hora? Eu nem comprei um presente...
- Não se preocupe com isso, ok? O importante é que você vá! – Não a deixaria negar aquele convite de jeito nenhum. – Eu te passo o endereço e o horário por mensagem.
- Sendo assim, eu aceito. – Passou a mão pelos cabelos loiros eu a invejei por ter fios tão comportados. – Todos do One Direction vão estar lá?
- Vão sim! Todos e... Espera, como você sabe?
- Não me ache estranha, por favor! – Escondeu o rosto nas mãos. – É só que eu assisto X Factor e vi o resultado do concurso. Na mesma hora reconheci o Louis e o Harry, então passei a acompanhar. Até os sigo no Twitter e votei por eles várias vezes.
- Então como comandante oficial do fã clube 1D, eu te dou as boas vindas ao nosso exercito! – Bati continência. – E como membro honorário, sua primeira missão é encontrar novas Directioners!
- Directioners? – Riu e fez uma caretinha.
- Acabei de inventar. – Dei de ombros. - Acho que é um bom nome pra nós.
- Eu gosto. É contagiante!
+++ Os únicos que ainda estavam em casa eram eu e Louis. Liam e Harry saíram horas atrás, usando a desculpa que Gemma os havia convidado para conhecer seu novo apartamento na faculdade, mas a verdade era que eles estavam indo para o restaurante reservado para a primeira parte da festa surpresa de meu irmão. Eu também precisava de uma desculpa para tirar o aniversariante de casa sem levantar suspeitas e já sabia exatamente o que falar. Todos os anos o hospital em que meu pai trabalha dá uma festa de fim de ano; como uma confraternização. Usei isso ao meu favor e Lou acreditou quando eu afirmei que papai requisitava a nossa presença na festa pontualmente às nove horas daquela noite.
Coloquei meu celular na bolsa de mão após ler uma mensagem de Zayn que confirmava a sua chegada no restaurante. Se posso citar seu comentário: O lugar estava bem enfeitado e o bolo faria Louis sorrir. Deixar tudo nas mãos de Harry foi a melhor decisão que qualquer um poderia tomar, já que o menino realmente se esforçava pra deixar tudo impecável.
Por falar em impecável, era bem assim que eu estava me sentindo em frente ao espelho. Meu reflexo sorria pra mim e quase falava: “Você está linda.” Minha escolha de roupa não poderia ter sido melhor e o vestidinho preto modelava as minhas curvas. A festa seria no estilo Black Tie e eu estava louca para ver os meninos de paletó e gravata! Saí do banheiro pressionando um lábio contra o outro para espalhar o batom vermelho e apaguei a luz do quarto ao atravessá-lo em direção à saída.
- Lou? Estou pronta. – Cheguei ao corredor olhando em volta. – Lou?
- Já estou aqui embaixo, %Tah%. – A voz dele veio da escada.
Obviamente Louis estava me esperando no primeiro andar e seu quarto já estava com as luzes apagadas assim como o meu. Desci os degraus com calma, pois – milagrosamente - não estávamos atrasados. Meu irmão já estava parado na porta e segurava a minha mochila em uma mão e a porta aberta com a outra, esperando que eu passasse para que pudéssemos ir. Ele estava lindo, mas isso não é novidade. Vestia preto dos pés à cabeça com uma camisa social que fazia jus à sua forma. Seu cabelo estava com o topete ondulado de sempre e desde o começo da escada eu já conseguia sentir o seu perfume.
- Alguém está bonito hoje. – Sorri e passei a mão pela lapela da camisa dele, tirando qualquer resquício de amassado.
- Você também está muito bonita, %Tah%. – Me olhou dos pés à cabeça e eu dei uma voltinha rápida sem sair do lugar. – Mas pra quê tem que levar essa mochila mesmo?
- São só alguns brinquedos antigos que quero levar pra Lux. – Menti e peguei a mochila antes que ele resolvesse abri-la e encontrar enfeites e coisas divertidas que não pareciam nada com brinquedos para crianças. Talvez a coroa de flores que eu estava levando para Harry entrasse nessa categoria, mas isso não vem ao caso. – Vou deixar na mala do carro por enquanto. Me empresta a chave?
- Aqui. – Tirou a chave do ranger do bolso e me entregou.
- Thanks, Boo.
Mandei um beijo no ar e saí caminhando pelo caminho de pedra até o carro estacionado na calçada. Louis se ocupou em trancar a casa e guardar o próprio chaveiro e eu o deixei para trás. Destravei o Ranger e fui direto para a sua traseira, abrindo o compartimento de porta malas. O lugar era tão espaçoso que duas pessoas poderiam sentar ali e ainda ficar bem confortáveis, o que facilitava muito um dos meus planos para aquela noite. Larguei a minha mochila em qualquer canto e fechei a porta do porta-malas. Dei meia volta no automóvel e entrei para me sentar no banco do passageiro. Lou não demorou muito a se juntar a mim e logo lhe devolvi a chave para que pudéssemos partir.
- Onde vai ser a confraternização mesmo? – Perguntou enquanto manobrava o carro e começava a descer a rua em direção à saída do condomínio.
- No The Dorchester. Parece que o ano foi bom para o hospital, pra terem reservado o restaurante do hotel. – Olhei para a janela. Minha mentira funcionaria melhor que eu não o olhasse nos olhos. – Tenho um mapa aqui. Conhece o caminho?
- Fica perto do Hyde, certo? – Acenou para o porteiro que abriu os portões de ferro.
- Yep! Pode pegar a Kings e entrar na Shaftesbury. – Apontei o caminho que deveríamos seguir, me sentindo muito bem por ter decorado o nome de algumas ruas de Londres.
- Achei que pela Wardour era mais rápido. – Acelerou para não ficar parado no sinal vermelho e eu tive que me segurar na porta.
- Seria se não existisse trânsito. Pela Shaftesbury não vamos ficar presos no tráfego e a Park Lane fica bem perto. – Dobramos à direita.
- Desde quando você é um GPS humano? – Louis me olhou pelo retrovisor e o seu sorriso mostrava que ele não desconfiava de nada.
- Você não sabe o quanto eu já me perdi por essas ruas! – Ri e me acomodei no banco, vendo as luzes passando tão rápido pelas janelas que se tornavam borrões coloridos. – Tive que aprender a me localizar da forma mais difícil.
Eu realmente estava certa quanto ao caminho escolhido, pois encontramos uma rua quase completamente deserta. A rua Shaftesbury estava vazia em comparação com as outras avenidas e desse jeito chegaríamos logo na festa. Há cada km rodado eu ficava mais ansiosa. Pelas minhas contas, quase cem pessoas estariam nos esperando no restaurante do hotel e Lou não fazia ideia! Eu queria muito ver a sua cara de surpresa e torcia pra que alguém registrasse tudo. Minha perna direita parecia não conseguir ficar quieta e subia e descia o tempo todo. Paramos em um sinal vermelho, mas eu sabia que já estávamos quase chegando.
- Tudo bem, %Tah%? Você parece nervosa. – Lou se virou na minha direção e eu congelei.
- Nervosa? Eu só estava pensando sobre o X Factor. Gostaria de saber se vocês já tem muitos votos. – Falei torcendo pra parecer natural. Eu devia ganhar um prêmio por encontrar desculpas tão rápido assim.
- Isso tem me deixado nervoso também. – Concordou e voltou a atenção para a rua, me tranquilizando. – Mas só saberemos no dia primeiro.
- Sei disso. – Suspirei. Minha preocupação com aquele assunto não era uma total mentira, pois eu pensava nesse concurso várias vezes ao dia revisando todas as possibilidades de resultado. – Ah, sabe quem é fã de vocês?
- Quem?
- Sua queridíssima Olivia. – Sorri sapeca, olhando-o de esguelha. – Ela disse que te reconheceu assim que o vídeo passou na TV e tem acompanhado a banda desde então.
- Pelo menos temos um voto. – Deu de ombros como se aquela noticia não fosse nada de mais, mas eu podia jurar ter visto um brilho diferente em seus olhos. – Porque está me olhando assim?
- Por nada, Louis. – Ri ao revirar os olhos. Ele me dava trabalho demais! Daqui a pouco eu teria que empurrar a menina pra cima dele.
- Acho que chegamos... – Mudou de assunto com um risinho que o entregou.
E realmente tínhamos chegado. O hotel cinco estrelas estava bem à nossa frente e um manobrista nos chamou para a rampa que ficava bem em frente à entrada. Lou dirigiu até lá e dois funcionários abriram as portas para que pudéssemos sair. Arrumei o meu vestido assim que fiquei de pé e respirei fundo, reprimindo uma risada de animação. Estávamos quase lá e eu não podia colocar tudo a perder por não conseguir conter a minha felicidade. Peguei o meu celular dentro da bolsa enquanto Lou ainda conversava com o manobrista e assinava um papel para poder retirar o carro na hora da saída. Eu devia avisar que estávamos entrando e por isso digitei uma rápida mensagem para Harry:
“Estamos no lobby. Tudo pronto?!”
“Podem vir! Estamos apagando as luzes.” Aquela era a resposta que eu precisava, então voltei a guardar o telefone antes que alguém percebesse. Atravessei a rampa até estar ao lado do meu irmão e passei o braço pelo dele, caminhando para as portas de vidro que foram abertas por outros funcionários uniformizados. Sempre fui muito fã de hotéis justamente por causa do luxo que eles exalavam. Era só entrar no lobby que eu já começava a me sentir sofisticada e parte da nata inglesa. Olhei em volta para achar alguma placa que indicasse a direção para o restaurante e segui para lá, trazendo o aniversariante comigo. Não precisamos pedir informações e ninguém nos parou para perguntar aonde estávamos indo, o que me tranquilizou bastante. Se alguém nos interrompesse, Louis responderia que estávamos indo para uma festa de fim de ano que não estava acontecendo de verdade e seria muito difícil explicar para o funcionário o que estava acontecendo sem estragar a surpresa.
Caminhamos pelo carpete avermelhado e subimos algumas escadas que levariam até o próximo andar, onde o bar e o restaurante principal estavam localizados. De vez em quando eu olhava para o mais velho e sorria. “Ele não faz ideia...” era o que eu pensava. Lou apenas arqueava a sobrancelha e balançava a cabeça negativamente, provavelmente me achando louca. Harry realmente falou sério ao dizer que ia apagar as luzes, pois a porta do restaurante estava aberta, mas lá dentro se encontrava um completo breu.
- Tem certeza que estamos no lugar certo? – Louis passou primeiro, olhando em volta e tentando enxergar qualquer coisa. Eu fiquei um pouco atrás, só esperando o que estava por vir.
- SURPRESA! – As luzes foram acesas e todos que estavam ali dentro gritaram em uma voz só, batendo palmas e assoviando.
- O que é isso? – Lou quase caiu pra trás com o susto, mas começou a rir assim que entendeu o que estava acontecendo.
- Feliz aniversário, Boo Bear! – Passei um braço em volta de seus ombros e o abracei de lado, finalmente podendo sorrir tanto quanto eu queria.
- Você sabia disso? – Me olhou com o rosto iluminado e ainda muito surpreso.
- Claro que sim! Mas ideia foi do Harry, então é a ele que você deve agradecer. – Apontei para Haz, que ria perto dos outros e nos olhava. – Vá falar com os seus convidados!
Com meu encorajamento, Louis foi até Harry e o abraçou tão intensamente que eu achei que fossem cair. Fiquei parada perto da entrada e olhei para todos que estavam ali: Toda a nossa família por parte de pai que morava em Londres tinha comparecido em peso. Uns três garotos conversavam com Liam e esperavam para também falar com Louis, me fazendo deduzir que eram da antiga agência fotografia onde eles trabalharam. Até mesmo Ed estava por ali, mas o que mais me fez sorrir foi ver que Stan, Fizzy e outros amigos de infância de Lou vieram diretamente de Doncaster para prestigiá-lo naquele dia. Acenei para eles em cumprimento e fiquei feliz por saber que se lembravam de mim mesmo que nunca tenhamos tido tanta intimidade assim. Continuei olhando a multidão na procura de uma pessoa em especial.
Senti um par de olhos amendoados em cima de mim e consegui encontrar o dono dele encostado à parede oposta a onde eu estava. Apesar do smoking preto e da gravada bem amarrada, seu sorriso era completamente travesso. Zayn estava com as mãos dentro do bolso e não tirava as íris de mim nem por um instante, convidando-me a me aproximar. Foi exatamente isso o que fiz, desfilando até ele e ignorando algumas pessoas que me chamavam. Não fiz isso por falta de educação, é só que o imã que me ligava a Zayn era mais forte que qualquer norma de etiqueta. Ele desgrudou da parede e esticou a mão na minha direção assim que cheguei perto o suficiente para alcançá-la. A segurei com a minha direita e o menino me fez girar, passando por baixo do seu braço e terminando com o corpo junto ao dele. Aquele movimento foi quase dançado e eu sorri surpresa com a sua desenvoltura.
- Bonsoir, mademoiselle. – Falou baixo e tocou a lateral do meu rosto com uma mão e segurou a minha cintura com a outra. Antes que eu pudesse responder, ele pressionou os lábios contra os meus, fazendo-me fechar os olhos.
- Uh la la. – Pisquei algumas vezes e suspirei com um sorriso. – Bonsoir, monsieur.
- Então eu falei certo? – Acariciou a minha bochecha e eu afirmei que sim com a cabeça.
- Certíssimo! – Ri baixo e dei um pequeno passo para trás, só pra poder olhar em volta. – Esse lugar está muito legal.
- Você tem que ver o bolo! – Já era a segunda vez que ele falava sobre o tal bolo e a minha curiosidade aumentou.
- Onde está?! Eu quero ver! – Estiquei o pescoço pra tentar achar a mesa de doces, mas muitas pessoas estavam na frente.
- Eu te mostro.
Zayn terminou de separar o abraço e segurou a minha mão de forma protetora, abrindo caminho entre convidados e sempre olhando pra trás e abrindo aquele sorriso que eu tanto amava. Era impossível não acabar sorrindo junto, por mais que isso me fizesse parecer muito boba. Enquanto andávamos, pude olhar em volta e reparar na decoração: Algumas bexigas de gás flutuavam soltas pelo teto e fitas coloridas pendiam delas, uma faixa de três metros estava pendurada no fundo do restaurante com a frase: “Feliz 21, Louis!” e abaixo dela estava a mesa do bolo. Assim que bati o olho no bolo entendi porque Zayn parecia tão animado. A obra de arte tinha três andares e incluía o nome e idade do aniversariante, mas essa não era a parte mais divertida. Literalmente sentado em cima do último andar havia um boneco que se assemelhava perfeitamente ao meu irmão. Metade dele estava com a calça vermelha e camisa listrada que eram peças chave do guarda roupa dele, e a outra metade era uma espécie de popstar.
- O que achou? – Zayn perguntou quando eu comecei a rir. – Legal, né?
- Muito legal! – Afirmei e olhei os doces que enfeitavam o resto da mesa. – Ainda é cedo pra roubar um desses?
- É sim! – Riu e me abraçou por trás, me puxando para longe da mesa.
- Só um... – Testei esticar as mãos para roubar um doce que fosse, mas Zayn era mais forte do que eu. – Poxa, Malik, você é um chato!
- Minha namorada tem três anos de idade. – Falou sozinho e riu na minha orelha, destruindo qualquer tipo de resistência.
- E você me ama mesmo assim. – Me encostei em seu corpo, dando pequenos passos por um caminho que era guiado por ele.
- Não. – Sua negação me fez encarar seu rosto preocupada, mas o sorriso que brincava por ali me tranquilizou um pouco. – Eu te amo por causa disso.
- Você me ama porque eu pareço ter três anos de idade? – Fiz uma careta. Eu sabia o que ele queria dizer, mas gostava de perturbar. – Isso é meio pedófilo, sabia?
- Você é tão engraçada, %Star%. – Foi irônico e me fez rir mais ainda.
- Senso de humor é a minha melhor qualidade! – Parei de andar e me virei de frente pra ele. – Onde estamos indo?
- Seu pai quer te ver. – Apontou com a cabeça para o nosso lado direito, onde estava a mesa da minha família.
- Eu me esqueci completamente! – Bati na própria testa por ter esquecido que mais pessoas queriam falar comigo, mas culpava Zayn por me distrair.
Me separei do meu namorado para me aproximar da mesa redonda onde meu pai e Rachel conversavam animadamente. Lux e Heidi estavam ali também, de pé, e dançavam ao som da música baixa que tocava. Zayn me acompanhou e ficou atrás de mim para me esperar cumprimentar meus familiares. O primeiro a me notar foi Mark, meu pai, que se levantou e sorriu carinhoso e cheio de saudades.
– Daddy! – Sorri de volta.
- Achei que não fosse falar comigo! – Papai abriu os braços e eu fui ao seu encontro, abraçando-o.
- É claro que eu vinha falar com vocês. – Prolonguei o carinho o máximo que eu pude e fechei os olhos, aproveitando a proteção que só um abraço de pai pode dar. – Eu sinto muita saudade.
- Nós também sentimos a sua, filha. – Acariciou os meus cabelos e eu o olhei. – Você com certeza fica mais bonita a cada vez que nos vemos.
- Sou um cara de sorte. – Zayn comentou. Eu não queria nem saber quais foram os assuntos da conversa que aqueles dois tiveram antes de eu chegar.
- %Star%, eu adorei o seu vestido! – Rachel foi a segunda a me abraçar, demorando bem menos que meu pai.
- Obrigada! É Chanel. – Joguei os cabelos por cima do ombro, me sentindo a própria modelo. Era bom ter alguém que gostasse tanto de moda quanto eu. – Onde está a minha pequena?
- Lux, olha quem chegou... – Minha madrasta chamou a atenção da filha, que parou o que estava fazendo para olhá-la.
- %Tah%! %Tah%! – Com seu vestido armado balançando, ela veio ao meu encontro.
- Baby girl, você parece uma princesa! – A segurei por baixo dos braços e a levantei até que estivesse em meu colo.
- Ela está crescendo tão rápido. – Zayn brincou com o lacinho vermelho que enfeitava seus cabelos loiros e ela riu. – Daqui a pouco vai estar maior que você, Anjo.
- Vai mesmo! – Deixei um beijo estalado na bochecha da menor e a coloquei no chão mais uma vez. – Oi, Deedee.
- Oi, %Tah%. – Minha prima mais nova sorriu e acenou. – Vem brincar?
- Agora não posso, pequena. – Fiz bico, torcendo para que ela me perdoasse. – Tenho que falar com os outros convidados. Quem sabe depois?
- Tá bem... – Fez uma carinha triste, mas ela e Lux logo voltaram a brincar.
- Pai, vou procurar os meninos, tá bem? – Avisei como despedida e ele voltou a sentar na mesa ao lado da esposa.
Foi a minha vez de segurar Zayn pela mão e sair andando. Eu pretendia encontrar Liam e Harry, porque tinha certeza que meu irmão estava ocupado demais pra me dar um pouco de atenção que fosse. Mas quem poderia culpá-lo? Era a sua festa. Por mais que Lou desejasse ser jovem para sempre e tivesse medo de crescer, ele estaria fazendo vinte e um anos em alguns dias e isso era motivo de comemoração. Em alguns países aquela é a maioridade, então algo de importante deve ter. Encontrei os meus dois procurados no centro do salão, com bebidas em mãos e conversando animadamente. Zayn me acompanhou até lá, sempre acariciando os meus dedos entrelaçados aos seus ou tocando o meu braço.
- Heeeeey, boys! – Acenei para eles com a mão livre e interrompi a conversa. – O que estão tomando?
- Sangria. – Harry sorriu com os dentes vermelhos por causa da bebida vermelha.
- Suco de uva. – Liam também respondeu, mas não parecia tão feliz quanto Haz.
- Vou pegar algo pra bebermos, tá? – Zayn beijou a minha bochecha e se afastou.
- Meninos, a festa está linda! Vocês estão de parabéns. – Olhei em volta mais uma vez, tentando pegar um balão que flutuava em cima da minha cabeça. – E estão lindos com essas roupas formais!
- Você acha que o Lou gostou? – Harry olhava para um ponto mais distante, onde Louis ria ao lado de Stan.
- Tá brincando? É óbvio que ele amou. – Liam tocou o ombro de Harry. – Nós fizemos um bom trabalho escondendo tudo.
- Deveríamos entrar para a Scotland Yard ou montar uma seita secreta. – Comentei de brincadeira, mas não seria má ideia.
- Uma taça de vinho branco para a minha francesa. – Zayn voltou mais rápido do que eu esperava e me entregou a bebida.
+++ Me joguei no sofá que ficava no canto do salão do restaurante e Zayn se sentou ao meu lado. Tomei apenas duas taças de vinho, mas o estômago vazio fez o álcool subir de vez. Eu não estava bêbada, é claro, só precisava de um tempinho sentada. Joguei a cabeça para trás rindo de alguma coisa que eu nem ao menos me lembrava o que era. Provavelmente tinha sido só uma piada sem graça que Zayn contou. Cruzei as pernas porque era uma moça de família e olhei para o meu namorado. Ele parecia estudar todos os cantos do meu rosto e eu desejei mais do que qualquer coisa saber o que se passava em sua mente.
- No que está pensando? – Me aproximei um pouco mais até que nossas pernas estivessem se encostando. Ele passou um braço por trás do meu ombro e me acomodei em seu corpo.
- Só estou pensando. – Respondeu como se não fosse importante e brincou com as pontas dos meus cabelos.
- Há algo errado? – Franzi o cenho e Zayn encostou a testa à minha.
- Claro que não, Anjo. – Ficamos nos olhando e ele foi o primeiro a sorrir.
- Gosto quando me chama assim... – Confessei desconectei os olhares; talvez por vergonha. Mantive as minhas mãos ocupadas com a gravata macia que enfeitava o pescoço do garoto.
- É? – Me olhava com cuidado, ainda acariciando os meus cabelos.
- Gosto de tudo que você faz. Gosto de como me olha e de como seus dedos deslizam pela minha pele. Gosto de como nossas mãos se encaixam e do sabor dos seus lábios. Gosto quando seus braços estão ao meu redor e quando você me protege. Gosto de pensar em você o dia inteiro e de sentir a sua falta mesmo depois de passar horas ao seu lado. Gosto de saber que nós dois somos verdade. – Falei todas aquelas coisas sem olhar pra Zayn com medo de gaguejar ou me perder, mas ele sabia que eu estava sendo sincera.
Quando nossos olhares finalmente se cruzaram, ele me envolveu ainda mais com o braço e tocou o meu queixo com a ponta dos dedos, levantando o meu rosto. Não precisei de uma resposta para sorrir. Ambos aproximamos nossos rostos ao mesmo tempo, parando a milímetros de distancia, prolongando aquele momento e sentindo o hálito quente um do outro. Fechei os olhos com força, querendo ficar ali pra sempre. Não me importei mais em estar no meio de uma festa onde meus familiares passeavam livremente. Só queria... Ser dele. Respirei fundo ofegando antes mesmo de começar o beijo. Nossos narizes se esbarraram devagar, pedindo uma aproximação ainda maior.
Acho que nenhum de nós aguentava mais adiar o inevitável, então o segurei delicadamente pelo pescoço e, como uma música chega ao ápice, transformamos nossas bocas em uma só. Ainda sem fazer muitos movimentos, apenas ficamos curtindo e aproveitando o contato um do outro. Gradualmente aumentamos a velocidade até que nossas línguas estivessem brincando e se perdendo. Arfei por impulso, tentando puxá-lo mais pra perto, mesmo que soubesse que pra isso acontecer eu teria que estar em seu colo. Nosso beijo durou pouco, mas foi o suficiente para me deixar sem ar.
- Sabe o que eu queria agora? – Zayn perguntou enquanto tocava meu lábio inferior com o polegar.
- O que? – Abri um pouco os olhos e sorri, já esperando que vinha por aí.
- Esquecer a segunda parte da surpresa e subir pra algum quarto. – O sorriso travesso voltou a aparecer.
- Já quer dormir, baby? – Me fiz de inocente e mordi a pontinha do seu dedo. – %Abi% nos mataria! Nem pense nisso.
- Chata. – Recostou-se ao sofá e cruzou os braços.
- Quem tem três anos agora? – Também cruzei os braços, mas gargalhei. – Mas você me lembrou de uma coisa importante...
- O que? – Não conseguiu fazer birra por muito tempo e me olhou curioso enquanto eu procurava algo dentro da bolsa.
- Preciso ligar pra ruiva. Sabe como está tudo por lá... – Peguei o meu aparelho de celular e disquei seu número de chamada rápida. – Só espero que ela não esteja muito bêbada...
- Já está querendo demais. – Zayn riu e eu sabia que ele estava certo.
- Digaê, meu amor! Não, Niall, é a %Tah%... – Ouvi seus gritos quando %Abi% atendeu e a música de fundo atrás dela estava exageradamente alta.
- Oi, coisa linda! – Ri daquela situação toda. – Como está tudo por aí?
- Bem animado! – A música começou a parecer mais distante, então ela devia estar se afastando da confusão. – Vocês estão perdendo a melhor festa.
- Acho que não vamos demorar muito por aqui... Vou tentar apressar as coisas. – Olhei para Zayn, que captou a mensagem na mesma hora e se levantou. – Chegamos aí em meia hora, ok? Tente não beber tudo antes.
- Não prometo nada, gatinha. Venha logo!
Desliguei a chamada assim que %Abi% voltou a gritar com Niall e a minha vontade de ir para a segunda parte da festa cresceu ainda mais. A proposta de Zayn havia sido tentadora, mas nós não podíamos simplesmente abandonar todos os planos e fugir. Levantei do sofá enquanto ainda guardava o iPhone na minha bolsa de mão e procurei algum dos meninos com o olhar. Os quatro estavam reunidos perto da mesa do bolo e eu vi que mais pessoas começaram a se aproximar. Atravessei o salão em passos rápidos. Zayn realmente tinha me entendido e adiantara as coisas. O aniversariante não podia sair sem cortar o bolo primeiro, correto?
- Vem, %Tah%. Vamos cantar os Parabéns! – Liam segurou a minha mão, guiando-me pelo caminho.
- Já não era sem tempo! – Saltitei até chegar na frente do semicírculo de pessoas que se aquecia para fazer as honras.
- %Star%! – Louis me chamou e eu olhei na sua direção. – Vem pra cá.
- Tem certeza? – Questionei, mas não fiquei parada. Fui para trás da mesa e fiquei ao lado dele.
- Claro que sim. – Me abraçou de lado. – Pelo menos dessa vez você não precisa de uma cadeira pra ficar de pé ao meu lado.
- Não é a hora de ficar lembrando a nossa infância, Lou. – Senti um aperto no coração, mas era um aperto bom. O puxei com cuidado e deixei um beijo estalado em sua bochecha. – Feliz aniversário, big brother.
- Então vamos lá... – Papai também tinha se aproximado e acendeu as velas do bolo. Alguém também diminuiu as luzes para que pudéssemos começar a cantar.
Happy birthday to you.
Happy birthday to you.
Happy birthday, dear Louis.
Happy birthday to you. A canção era curta demais, por isso a repetimos duas vezes. Todos batiam palmas e cantavam a plenos pulmões, deixando Louis no centro de todas as atenções. Essa parte do aniversário pode ser um tanto constrangedora se você não sabe o que fazer. O certo é bater palmas e cantar pra você mesmo? Ou se deve ficar parado e apenas sorrir? Meu irmão não tinha esse problema, porque fez uma dança desengonçada e engraçada enquanto cantávamos pra ele, o que me fez rir. Podia não ser o dia oficial do aniversário, mas querendo ou não ele estava envelhecendo. Nós estávamos envelhecendo. Não éramos mais as criancinhas que tinham que se equilibrar em bancos para alcançar o topo do bolo e nossos pais não estavam mais tão perto para nos impedir de cair. Louis faria vinte e um anos em breve, o que o tornava um adulto completo, mesmo com a sua personalidade de criança. Por um momento me peguei com lágrimas nos olhos, tratando de afastá-las antes que alguém percebesse.
- Não esqueça de fazer um pedido... – Sussurrei para ele assim que a música acabou.
- Eu não esqueceria da melhor parte! – Sussurrou de volta e se inclinou para assoprar as velas em forma de estrela.
- %Tah%! – Harry estava me chamando e eu o procurei no meio da multidão. – Vem cá!
- Já vou... – Assim que o avistei, deixei Louis cortando o bolo e me esquivei de alguns convidados que entravam na frente. – Temos que ir, né?
- Você está com a sua chave aí? – Passou o braço pelo meu e nos afastamos um pouco mais da aglomeração. – Eu falei com a Rachel e ela concordou em levar os presentes e o que sobrar do bolo lá pra casa.
- Ótimo... – Olhei para a minha madrasta que nos seguia. Abri a minha bolsa e tirei o meu chaveiro com um pingente da Torre Eiffel. – Obrigada, Rach.
- Será um prazer! – Ela guardou a chave na própria bolsa. – E pode deixar que eu encerro tudo por aqui...
- Você é a melhor! – A abracei rapidamente em agradecimento e me virei para Harry. – Onde estão os outros?
- Liam foi pegar o carro. Stan e os outros nos encontram lá. – Olhou em volta vendo o que ainda faltava e eu o imitei. – Só falta o Louis e o...
- Zayn! – Acenei para meu namorado que parecia me procurar no meio da multidão e ele correu até o nosso encontro.
- O que está acontecendo?! – Louis o seguiu e mais uma vez parecia confuso. – Onde estamos indo?
- Louis, sweetheart... Você não achou mesmo que seria só isso aqui, certo? – Mordi o lábio tentando conter a minha animação. – Estamos indo para a festa de verdade.
Mesmo sem entender direito, ele concordou em nos seguir. Ninguém precisava correr até a saída do restaurante, mas a nossa vontade de chegar logo à segunda etapa era grande demais. Sem falar que as chances de alguém nos interromper era bem menor. Segurei Zayn por uma mão e Louis por outra, seguindo Haz que guiava o caminho. Gostaria de ter me despedido direito da minha irmãzinha, mas não tínhamos tempo. Alguns dos adultos ainda acenaram para nós e, felizmente, não puxaram um assunto maior.
Já no lobby tivemos que parar de correr. Não seria adequado “perturbar a paz de quem estava hospedado em um hotel cinco estrelas”, segundo um funcionário que nos advertiu. Mas por favor, né? Era quase meia noite! Quem poderia estar acordado e passeando pela recepção? Sinceramente não sei. Ao menos não demoramos muito para encontrar Liam do lado de fora. Ele já estava trás do volante e Louis entrou ao seu lado. Harry e Zayn foram no banco de trás, sem saber porque eu não os segui. Lembra de quando eu comentei sobre os meus planos mais cedo? Estava na hora de colocá-los em pratica. Abri a porta do porta-malas e pulei pra dentro, fechando atrás de mim. Fiz sinal de positivo para Liam pelo retrovisor e ele deu partida.
- %Star%, o que você está fazendo? – Louis se curvou sobre o banco para poder olhar pra trás.
- É mais fácil trocar de roupa aqui atrás. – Expliquei e sentei no “chão” do porta-malas. A minha mochila estava onde eu a deixara e logo tratei de abrir o zíper pra tirar o que tinha ali dentro.
- Trocar de roupa, é? – Zayn também tinha se interessado pelo que eu estava fazendo e se debruçou sobre o banco pra ficar de olho em todos os meus atos.
- Você não achou que eu fosse continuar usando esse vestido, achou? Também trouxe camisas mais leves pra todos vocês. – Ri e despejei todo o conteúdo da mochila na minha frente. – E pode tratar de olhar pra lá!
Mais uma vez Zayn fez birra, mas eu consegui obrigá-lo a não espiar. Já seria complicado o suficiente ter que trocar de roupa em um carro em movimento para ainda ter que me preocupar em ser flagrada sem roupas. A primeira coisa que fiz foi atirar as camisas masculinas que trouxe para os meninos: Uma preta com gola em V para Harry, uma branca com estrelas pretas para Liam e Lou ganhou uma camisa cinza com mangas pretas que iam até a altura do cotovelo. Para Zayn, acabei roubando uma camisa emprestada de Liam – já que o tipo físico dos dois era semelhante – e também empacotei um de seus suéters que acidentalmente foram parar na última gaveta do meu closet. Acidentalmente. Claro.
Todos se ocuparam em vestir as próprias roupas, menos o motorista, o que me deu uns minutos de segurança para me despir em paz. Tirei os saltos e já senti meus pés relaxarem. Em seguida, me inclinei para trás o máximo que pude e coloquei as pernas para cima, passando um short jeans por baixo do vestido. Seria mais apropriado tirá-lo depois que a minha calcinha de renda preta estivesse protegida. Me pegado de surpresa enquanto eu abria o zíper lateral do meu vestido, o carro fez uma volta um tanto brusca, me fazendo cair de lado e desatar a rir. Zayn olhou para trás, checando se eu estava bem, e também começou a rir da minha falta de equilíbrio. Me recuperei após alguns segundos e xingamentos que pediam para Liam ter mais cuidado e continuei com a minha troca de roupas.
Já livre do tubinho preto e do blazer, minha mobilidade se tornou maior. Tratei de enfiar um top curto que substituiria o sutiã e joguei por cima um suéter escuro e super confortável. Calcei meias e um par de tênis, amarrando o cabelo em um rabo de cavalo para finalizar. Não estava vestida para uma balada ou festa de gala, mas para o meu próximo compromisso da noite eu estava perfeita. Os meninos também ficaram prontos na mesma hora e me arrependi de não ter tentado espiá-los. Ah, por favor, né? Não é como se eu fosse uma tarada ou coisa parecida.
- Harry, tenho uma coisa pra você! – O cutuquei no ombro para chamar sua atenção.
- O que é? – Sorriu curioso e olhou para as coisas que ainda estavam espalhadas pelo porta malas.
- Ta dahhh... – Encontrei a coroa de flores que ganhei de Liv e coloquei sob os cachinhos bagunçados de Hazza. – Ficou lindo!
- Yaaaaay! – Riu e olhou o próprio reflexo no retrovisor do carro. – Sou um Flower!Child.
- Você é um Flower!Child, o Lou é um punk rocker cheio de tatuagens e eu... – Revirei minhas tralhas mais uma vez até achar uma tiara de orelhinhas. – Sou uma gatinha! Meooooow.
- Eu quero ser alguma coisa também... – Zayn se virou até ficar de joelhos no banco e procurou no porta-malas qualquer coisa que ele pudesse usar de enfeite.
- Awn, baby! – Fiz um biquinho por não ter trazido nada pra ele. Eu só não achei que ele fosse ficar interessado... – Eu já sei o que você pode ser.
- O que? – Parou de procurar e me olhou também ficar de joelhos para tentar igualar nossas alturas, mas mesmo assim ele ainda ficou um pouco mais elevado.
- Você é o meu badboy! – O envolvi pelo pescoço e beijei o seu queixo, já que era onde a minha boca alcançava.
- Gostei disso. – Riu e inclinou o rosto, juntando os lábios aos meus.
+++ Acho que todo adolescente que se preze já frequentou alguma festa na floresta com direito a fogueiras crepitantes e música indie, mas eu não sabia o que esperar de uma. Vinte minutos depois da hora que eu falei para %Abi% que iríamos chegar, nós finalmente pulamos do Ranger negro e eu pude olhar em volta e ficar novamente encantava com o que estava diante dos meus olhos. A área de campo em que nós estávamos era completamente cercada por uma floresta densa digna de filmes de terror, mas não era hora de ficar com medo. Mais à frente, um lago tranquilo que me lembrava muito do Lago Negro de Hogwarts era perturbado por jovens pra lá de animados que tentavam fazer pedrinhas de cascalho pular sobre a superfície. A uns três metros da margem, a fogueira poderosa aquecia uns ou outros e ainda servia de forno para quem tentava cozinhar algum lanche mais prático. Do lado esquerdo, uma caminhonete com a parte de trás aberta servia de “palco” para as caixas de som ligadas a um notebook de onde saia a música animada que embalava a festa. Estávamos muito longe da civilização e isso trazia uma sensação de liberdade que fazia qualquer um querer arriscar e ir um pouco mais longe.
Um grupinho de meninas estava sentado na grama e ria de qualquer coisa. Eu as reconheci no mesmo instante como sendo colegas da Academy, mesmo que não pudesse dizer seus nomes naquele momento. Elas também me reconheceram e trataram de acenar para mim e para os meninos que vieram logo atrás. Não se como, mas os amigos de Louis que vieram de Doncaster já estavam por ali e aparentavam ter chegado mais rápido que nós. “Eu disse para Liam que estávamos pegando o caminho mais longo!” Reclamei interiormente, mas já era tarde demais pra me preocupar com aquilo. Estávamos ali e era o que importava. Caminhei pela grama tentando encontrar mais rostos conhecidos e quase fiquei paralisada ao ver uma cena que nem nos meus maiores sonhos eu esperava ver: Uma ruiva e uma loira conversavam e gesticulavam como se fossem amigas há anos e a primeira até tocava o braço da outra de vez em quando. Ver %Abi% e Liv tão felizes juntas me fez fazer uma careta. Não por ciúmes ou coisa parecida, mas porque eu achava que elas não seriam capazes de se dar bem assim.
Balancei a cabeça negativamente para retomar poder sobre as minhas pernas e me obriguei a dar passos largos até as minhas amigas. Esqueci completamente de Zayn, que me chamava, porém, era por uma boa causa. Eu precisava ver aquele milagre de perto. Com toda certeza ele me perdoaria por estar sentindo falta de uma companhia feminina, então não me importei. A iluminação no campo era quase nenhuma, se resumindo apenas à luz da Lua cheia que brilhava no céu e à fogueira, e ainda assim eu conseguia ver claramente os modelitos das duas garotas. Liv vestia uma saia de cintura alta colorida que ia até os tornozelos, uma blusa customizada com um laço amarrado na cintura, e um cardigan solto que a protegia do frio. %Abi% tinha uma legging de couro sintético e uma bata azul que ia até a metade da coxa, com um desenho de uma caveira mexicana. A junção das duas era realmente... Improvável.
- Atrapalho alguma coisa? – Cheguei perto delas com as mãos nos bolsos, como quem não quer nada.
- %Tah%! – %Abi% foi a primeira a pular no meu pescoço e me abraçar. – Minha flor de jabuticaba, você chegou!
- Cheguei, meu pedacinho de morango. – Ri e a abracei de volta, olhando para Liv por cima do ombro da ruiva. – Nós temos muitos apelidos carinhosos.
- Entendi! – Liv sorriu.
- Ainda bem que você veio! – Soltei a minha melhor amiga para abraçar Olivia, mas não de uma forma tão íntima.
- Não resisto a estar perto da natureza. – Seu perfume era amadeirado, por isso desconfiei do quanto ela realmente gostava de estar perto da natureza.
- O local está ótimo mesmo. – Olhei em volta e todos pareciam estar se divertindo. – O Ni fez um ótimo trabalho em achar esse lugar.
- Tinha que ser meu pudincup! – %Abigail% fez uma cara apaixonada e Liv me olhou com uma sobrancelha arqueada.
- Não pergunte. – Respondi simplesmente. – Como vocês duas se conheceram, aliás?
- A %Abi% me encontrou. – Olivia sorriu.
- Eu vi essa jovem chegando e estava completamente sozinha. E você sabe como eu não gosto de ver ninguém deslocada, então tive que me aproximar. – %Abi% mexia os braços ao contar aquela história como se fosse algo realmente divertido. – Acabamos nos dando muito bem e não nos separamos desde então!
- Que fofas. – Ri. – Fico feliz que tenham se dado bem.
- Está brincando? – %Abi% abraçou Liv de lado. – Essa guria tem um porco espinho! Sabe o quanto isso é legal?
- É muito legal! Eu conheci o Bob. – Cruzei os braços. Agora sim o ciúme estava começando a nascer.
- Você quer dizer o Rob? – A ruiva fez uma careta ao achar que EU errei o nome do bichinho.
- É Bob mesmo. – Liv a corrigiu meio sem graça e cochichou na minha direção: - Eu repeti isso mil vezes, mas acho que a bebida não deixa algumas informações ficarem na cabeça dela por muito tempo...
- Sei como é... – Cochichei de volta com outra risada.
- Bebida? Alguém falou em bebida? – Os olhos da semi-bêbada brilharam e ela olhou em volta. – %Star%! Você ainda está sóbria! Temos que dar um jeito nisso! Liv, vá roubar uma garrafa de tequila e te encontramos... Bem, aqui mesmo.
- Por mais divertido que isso pareça, acho que preciso comer alguma coisa antes. – Falei antes que Olivia pudesse se mexer. – Vou tentar encontrar um desses cachorros quentes que o pessoal está comendo e acho vocês depois, pode ser?
- Eu fico de olho nela. – Mais uma vez Liv falou só para eu ouvir.
- E traga a tequila! – %Abigail% gritou na minha direção quando comecei a me afastar.
Ela realmente estava mais pra lá do que pra cá e eu teria me preocupado em sair de perto dela se não estivesse em boas mãos. Pensei em ir até a fogueira e perguntar onde encontraram as salsichas que estavam assando, mas preferi procurar por uma pessoa que com certeza poderia me ajudar. Zayn e Liam estavam conversando mais à frente, Harry e Louis dançavam com outros amigos ao som de We R Who We R da Ke$ha, mas só fui encontrar a minha vítima quando vi um ser saltitando pela grama como se não tivesse problema algum no mundo inteiro. E não devia ter mesmo, já que é de Niall Horan que estamos falando aqui. Levei a mão a testa, gargalhando por causa daquele duende loiro irlandês e me pus a ir atrás dele antes que pudesse perdê-lo de vista.
Assim que Niall me viu, parou de dançar e fingiu estar dançando pra mim e me seduzindo. Teria sido uma cena bem sensual se os movimentos dele não fossem tão exagerados. O menino balançava os braços na minha direção e me chamava com o dedo indicador, mexendo o quadril pra frente e pra trás, sem falar na sua risada que era – no mínimo – escandalosa. Continuei rindo e também dancei no caminho até ele, só que bem menos explicita. Assim que estávamos próximos o suficiente, abri os braços e Niall pareceu não entender o meu pedido por um abraço de pessoas normais. Ele se curvou na altura do meu quadril e me abraçou por ali, levantando-me consideravelmente do chão.
- NIALL! – Exclamei com o susto, tento que me segurar firme em seus ombros para não cair.
- %STAR%! – Imitou meu tom de voz e achou aquilo mais engraçado do que realmente era.
- Você e a %Abi% são almas gêmeas mesmo! – Balancei a cabeça, mas foi um comentário mais pra mim do que pra ele. – Me põe no chão!
- Não gosta de ser alta? – Além de estar me carregando pelas coxas, Niall ainda começou a girar. Logo ele ficaria tonto e acabaria caindo, eu só esperava não estar mais em seus braços quando isso acontecesse. – Weeee.
- Niall, é sério! – Não consegui ficar séria, mas ainda estava desesperada pra tocar o chão novamente. Resolvi tomar medidas drásticas: - Onde está a comida?!
- Achei que não ia perguntar! – Parou de girar como se eu tivesse falado a palavra mágica e me soltou de uma vez. Quase me desequilibrei ao tocar o chão, porém meus anos de ballet me ensinaram a dobrar os joelhos na hora certa. – Vem comigo.
- Eu vou, só não me carregue de novo. – Pedi, duvidando que fosse adiantar de alguma coisa. – Estou morrendo de fome!
- Não tinha comida no restaurante? – Ni fez um caminho pela lateral do campo, quase próximo a uma das entradas da floresta.
- Até que tinha, mas não deu pra comer muito por lá. – Dei de ombros e continuei seguindo-o. – Eu queria os doces, mas Zayn não me deixou comer nenhum antes de cantarmos Parabéns! E depois não deu tempo.
- Aqui não tem essas frescuras. Você pode comer o que quiser, na hora que quiser. – Eu duvidava que pudesse ter uma grande variedade de alimentos por ali, mas dei o braço a torcer. Niall foi em frente até chegarmos na lateral da caminhonete de onde a música vinha.
- Como eu não vi isso aqui antes? – Fiquei chocada por ser tão lerda. Uma tenda havia sido posta ali e embaixo dela pude ver uma mesa, varias caixas empilhadas e latões térmicos para manter as bebidas geladas.
- Como na terra do nunca, você tem que acreditar pra poder ver. – Niall levantou as mãos e voltou a abaixar devagar mexendo os dedos e eu quase vi gliter caindo deles. – O que quer comer? Cachorro quente? Pão? Salsicha? Temos muitas opções.
- Fico com um cachorro quente.
Muitas opções? Tá bem. Niall fez sinal de positivo com a cabeça e deu a volta na mesa, pegando algumas coisas nas caixas. Quando voltou, estava com uma salsicha crua enfiada em um palito e um pão partido ao meio em cima de um guardanapo. A higiene do local podia ser um pouco questionável, mas a minha comida parecia limpa. O que os olhos não vêem o coração não sente, certo? Recebi a comida com uma expressão no rosto que podia ser traduzida como: “O que eu devo fazer com isso?” e Ni explicou que eu deveria ir até o fogo e assar a salsicha. Isso eu já desconfiava, mas como saberia que ela estava pronta? Era a minha primeira vez fazendo jantar em uma fogueira, mas acho que eu teria que esperar pra ver.
Me despedi de Niall falando que %Abi% estava esperando por uma garrafa de tequila e o menino se animou. Em parte eu me arrependi de ter falado aquilo, já que Liv ganharia mais um pra ficar de babá. Querendo fugir da responsabilidade, rumei para a fogueira que parecia dançar. O vento tinha dado uma maneirada, então as chamas não balançavam por todos os lados. Só de começar a me aproximar já pude sentir o meu corpo se aquecer, principalmente as minhas pernas descobertas. Ninguém que eu conhecia estava ali por perto e todos os outros já pareciam ter acabado de comer e foram se distrair com outras atividades. Escolhi um ponto na areia e me sentei, sem me importar em ficar suja ou não. Minha maior preocupação naquele momento era assar a minha salsicha! E sim, eu sei que se eu fosse um homem essa frase seria muito estranha.
Equilibrei o pão em cima da perna e estiquei o braço para juntar a salsicha ao fogo. Não sabia se deveria deixar as chamas tocarem nela de fato, ou se o calor em volta da fogueira seria suficiente, mas acabei indo com a primeira opção mesmo. Meu olhar divagou pelas águas calmas do lago agora que ninguém mais atirava pedras contra elas. Cheguei muito perto de suspirar, mas uma sombra cruzou a minha lateral por alguns segundos e voltou a se esconder na escuridão, me causando uma sensação horrível como se fosse um mau pressentimento. Olhei em volta procurando quem pudesse ser o dono ou a dona dessa sombra, torcendo pra encontrar o rosto alegre de algum dos meus amigos, mas foi em vão. Não tinha ninguém perto de mim.
“A não ser que...” A sensação ruim voltou a me perturbar quando olhei em direção a floresta escura e estranhamente calma. Podia jurar que vi uma movimentação entre os troncos, mas me neguei a acreditar que pudesse ser qualquer coisa. “É impressão sua! Você levou um susto e por isso sua cabeça está inventando coisas. Não há com o que se preocupar.” Tentei acalmar a mim mesma e voltei a atenção para a minha salsicha. Era melhor me atentar a ela, porque algumas manchas pretas começavam a cobri-la. Seu eu demorasse um pouco mais, estaria toda queimada. Afastei o palito do fogo e usei o pão para segurar a salsicha e terminar de montar o meu cachorro quente. Dei alguns sopros de leve para não acabar queimando a boca e dei a primeira mordida.
Para a minha primeira vez assando algo em uma fogueira, eu estava de parabéns. Não tinha torrado a comida e nem deixado-a crua demais. O sabor também não estava ruim, mas sabia que não poderia levar crédito por essa parte. Niall e %Abi% se empenharam bastante para fazer a segunda parte da surpresa de Louis e também estavam de parabéns. Tinha certeza que meu irmão não se esqueceria nunca desse aniversário. Continuei comendo tranquila, desejando ter trazido um copo de refrigerante ou água pra me ajudar a engolir. Escutei passos pela grama atrás de mim e fiquei com medo de me virar para olhar, mesmo que a má sensação não acompanhasse mais a presença.
- Posso te fazer companhia? – Respirei aliviada ao ver Liam se sentar ao meu lado.
- Uhum. – Murmurei com a boca cheia de cachorro quente.
- Por que você está isolada aqui, %Tah%? – Brincava com um palito parecido com o que eu tinha antes, mas na ponta dele existiam dois marshmallows.
- Não estou isolada! – Respondi depois de engolir. – %Abi% está com a ideia de me embebedar, então me sinto mais segura estando com o estomago forrado.
- Ela está como o Niall? – Gargalhou e algo me dizia que sua experiência com o irlandês não havia sido tão diferente da minha.
- Acho que ainda consegue estar pior. – Afirmei com a cabeça ao dar uma nova mordida no cachorro quente. – Aceita?
- Você precisa mais dele do que eu. – Negou minha oferta de dividir o cachorro quente e dei de ombros.
- Mais pra mim! – Brinquei. – Está uma delicia.
- Eu imagino. – Liam sorriu, me olhando com aqueles olhos castanhos e quase sem piscar, como se fazer isso fosse o fazer perder qualquer movimento meu.
- Li... Você passou por aqui alguns minutos atrás? – Tentei me manter natural, mas torci para escutar um sim.
- Não, %Tah%. Acabei de chegar. – Desconfiou e olhou em volta. – Por que?
- Por nada não. É besteira. – Menti e terminei de comer o cachorro quente. – Onde estão os outros?
- Louis e Harry estavam com aquele Stan montando os fogos de artifício, Niall estava preparando shots de tequila e... Bem, o Zayn estava te procurando, mas eu te achei primeiro. – Li aproximou o espeto de marshmallow do fogo. Eu pensei em olhar em volta e procurar Zayn com o olhar, mas me sentiria mal por Liam. Ele claramente queria um tempo comigo, caso contrário teria avisado ao meu namorado que me encontrou.
- Agora eu estou me sentindo em um filme americano. – Apontei para o que ele estava fazendo e sorri, abraçando os joelhos junto ao peito.
- Acredita que eu nunca acertei? – Rolou os olhos de si mesmo. – Sempre ficam queimados demais.
- É porque você está fazendo errado... – Me arrastei pela areia até estar mais próxima dele e coloquei minha mão sobre a sua, afastando um pouco mais o espeto do fogo. – E também não pode ficar aí por tanto tempo.
- Quando... Quando sei que está pronto? – Demorou um pouco para formular a frase e, mesmo que eu estivesse olhando para a fogueira, sentia que ele olhava para o meu rosto.
- Quando o marshmallow ficar assim. – Retirei o espeto do fogo e soltei sua mão. – Prontinho.
- Mas ele está queimado... – Olhou para o doce e eu bufei.
- Isso é normal. Deixa eu te mostrar. Primeiro você tem que tirar essa casquinha... – Assoprei de leve o marshmallow quente fazendo um biquinho e em seguida usei a ponta dos dedos para puxar a casquinha e revelar o doce derretido que ficava por baixo. – Agora pode comer.
- Isso é incrível! – Liam ficou surpreso com a minha demonstração e tratou de comer enquanto eu lambia os meus dedos sujos com o pouco de marshmallow que havia me sujado.
- Achei vocês! – Um Harry ofegante apareceu perto da fogueira e se ajoelhou ao nosso lado.
- Estava correndo, Hazza? – Dei espaço para ele se sentar entre nós, mas o menino negou.
- Liam, estão te chamando... – Harry começou a explicar. – Nós vamos cantar!
- Uma apresentação do One Direction?! – Comemorei e já fui me levantando e batendo a areia pra fora da minha perna. – Era tudo que eu podia pedir!
- Então vamos! – Liam também se levantou e Harry fez o mesmo.
Eu podia não estar bêbada, mas estava tão animada com aquela noticia que imitei Niall ao começar a saltitar. Os meninos correram para poder me acompanhar e eu já avistei o local para onde deveríamos ir. Eu sabia que os cinco ensaiaram algumas músicas juntos e já se sentiam como uma banda, por isso estava louca pra ver o quanto eles tinham melhorado desde a última vez em que eu os vira cantar Torn no Pub. Lembra da caminhonete onde as caixas de som estavam? Agora quem estava ali em cima eram: Niall, Zayn e Louis. Niall estava sentado em cima de uma caixa preta, afinando seu violão. Louis estava de pé e falava algo que eu não podia escutar. Por último estava Zayn, sentado no chão da traseira do carro e balançando os pés pra fora. Ao redor deles era formado um semi-circulo e Harry me ajudou a passar até ficar na frente. Assim que Zayn me viu, ele pulou para a grama e veio na minha direção.
- Onde você estava? – Perguntou ao segurar minhas mãos.
- Perto da fogueira, comendo um cachorro quente. – Sorri de canto para amenizar o meu “sumiço”. – Liam me achou e disse que você estava me procurando.
- Sim, porque eu preciso de um beijo de boa sorte. – Os cantos de seus lábios levantaram em um sorriso.
- Só de boa sorte? – O segurei pelo queixo e roubei um selinho rápido. – Boa sorte!
- Assim não... – Zayn enlaçou a minha cintura e me fez dar meia volta, parando inclinada em seus braços. Se não fosse pelo seu aperto forte, eu teria parado no chão. Ele estava inclinado sobre mim e parecia uma daquelas cenas de filme quando o homem deita a mulher em seus braços para terem o primeiro beijo. Não perdi tempo e passei os braços em volta do seu pescoço, juntando nossos lábios em seguida. Escutei alguns gritinhos de comemoração e foi essa falta de privacidade que nos fez não aprofundar o beijo.
- Isso é que eu chamo de beijo de boa sorte. – %Abi% devia estar em algum lugar atrás de mim.
- Você não precisa de sorte. – Sorri divertida quando nos separamos e Zayn voltou a me levantar.
- Não queria arriscar. – Fez uma pequena carícia no meu rosto antes de beijar a minha testa e voltar para o seu lugar de origem.
- Não acredito que vou ver eles se apresentarem ao vivo! – Ouvi Liv comentar enquanto me recompunha. Já tinha esquecido que ela era fã dos meninos. – A melhor decisão que eu tomei foi vir nessa festa.
- Viu só? Eu falei pra você vir! – Fiquei entre ela e %Abi% enquanto os meninos trocavam as últimas informações.
- Aliás, você nunca que me disse que seu namorado está na banda também! – Olivia me olhou feio, mas eu não tinha culpa. Não via Zayn como “parte da banda”, via ele como “meu Zayn”.
- Em minha defesa, não sabia que você os conhecia até essa tarde! – Levantei as mãos na altura do ombro.
- Boa noite, pessoal! Obrigado por virem aqui está noite. – Liam não precisou de um microfone para impor a sua voz. – Agora vamos cantar uma música especialmente dedicada ao homem da noite... Uma salva de palmas para nosso querido Louis!
- Arrasa, Boo bear! – Gritei enquanto batia palmas e, apesar dos outros gritos e assovios, sei que ele me escutou.
- Essa música se chama... Forever Young. – Zayn, que continuou sentado na caminhonete, anunciou a música e deu o sinal que Niall precisava para começar a tocar.
Let's dance in style, let’s dance for a while.
(Vamos dançar com estilo, vamos dançar por um tempo)
Heaven can wait, we're only watching the skies.
(O paraíso pode esperar, estamos apenas assistindo os céus)
Hoping for the best, but expecting the worst.
(Torcendo para o melhor, mas esperando o pior)
Are you gonna drop the bomb or not?
(Você vai soltar a bomba ou não?) Liam foi o primeiro a começar a cantar e se sentou sobre uma caixa de som que estava por ali. Eu adorava aquela música, porque, além de ser um clássico, tinha uma mensagem muito forte que sempre acabava me deixando arrepiada. Os outros meninos se entreolhavam com sorrisos que mostrava o quanto eles estavam felizes por estarem juntos e eu não sabia pra quem olhar primeiro.
Let us die young or let us live forever.
(Nos deixe morrer jovens ou nos deixe viver para sempre)
We don't have the power but we never say never.
(Não temos o poder, mas nunca dizemos nunca)
Sitting in a sandpit, life is a short trip.
(Sentandos em uma caixa de areia, a vida é uma viagem rápida)
The music's for the sad men…
(A música é para os homens tristes) Harry foi o segundo, saindo de onde estava “escondido” na caminhonete e foi para a frente, cantando para os céus com os braços abertos. Eu ri da carinha fofa que ele acabou fazendo, mas aquele arrepio que eu comentei anteriormente apareceu quando a voz rouca do menino alcançou a última nota. Olhei em volta e todo mundo que estava naquela festa parou qualquer coisa que estivesse fazendo pra prestar atenção nos cinco meninos que cantavam com a alma. Naquele momento a música nos conectava e todos eram um só.
Some are like water, some are like the heat
(Alguns são como água, alguns são como o calor)
Some are a melody and some are the beat.
(Alguns são a meodia e alguns são o ritmo)
Sooner or later they all will be gone.
(Mais cedo ou mais tarde tudo vai ter ido embora)
Why don't they stay young?
(Porque não ficamos jovens?) Foi só Haz ir para o lado de Liam e também se sentar na caixa de som desligada que Niall começou a sua parte. O loiro não parou de tocar e até se empolgou um pouco mais, piscando para %Abi%. A ruiva, que estava do meu lado direito, mandou um beijo assoprado em resposta e eu podia jurar que vi um brilho em seus olhos. Mas um brilho no sentido figurado... Ela estava quase chorando. E eu entendia. Passei um braço em volta dos ombros dela a abracei de lado. %Abi% me envolveu pela cintura com um braço e encostou a cabeça no meu ombro, sem desgrudar os olhos do namorado.
It's so hard to get old without a cause.
(É tão dificil envelhecer sem uma razão)
I don't want to perish like a fading horse
(Eu não quero perecer como um cavalo enfraquecido)
Youth lis ike diamonds in the sun…
(Juventude é como diamantes ao sol)
And diamonds are forever.
(E diamantes são para sempre) Mesmo a homenagem sendo pra ele, Louis não ficou pra trás e cantou com tanta intensidade que as veias em seu pescoço saltaram um pouco. Mais uma vez fiquei arrepiada ao ver o meu irmãozinho cantando sobre ser jovem para sempre. Eu não queria voltar àquele assunto e ficar deprimida, mas não deixei de pensar mais uma vez que não éramos mais criancinhas... E isso me assustava. Eu queria ser jovem pra sempre. Eu queria me sentir inabalável, eu queria viver intensamente para o resto da minha vida e permanecer jovem... Ao menos por uma noite.
Forever young, I want to be forever young.
(Jovem para sempre, eu quero ser jovem para sempre)
Do you really want to live forever? Forever or never.
(Você realmente quer ser jovem para sempre? Para sempre, ou nunca)
Forever young, I want to be forever young.
(Jovem para sempre, eu quero ser jovem para sempre)
Do you really want to live forever? Forever, or never
(Você realmente quer ser jovem para sempre? Para sempre, ou nunca) A canção inteira estava com um nível emocional realmente alto, mas o refrão ganhou de longe. Além de os cinco meninos se juntarem em um coro harmonizado, todos que estavam assistindo também entraram na onda e começaram a cantar. O que incluía Liv, %Abi% e até mesmo eu. Levantamos os braços livres pra poder balançar de um lado para o outro no ritmo da música. Ninguém além de quem estava naquele campo poderia nos escutar, mas cantamos a plenos pulmões, como se Forever Young fosse um hino de liberdade ou um grito de guerra. A pouca luminosidade só tornou o momento mais íntimo e quem estava quase chorando agora era eu.
So many adventures couldn't happen today.
(Tantas aventuras não puderam acontecer hoje)
So many songs we forgot to play.
(Tantas músicas nós esquecemos de tocar)
So many dreams swinging out of the blue.
(Tantos sonhos balançando do nada)
We let them come true…
(Deixamos que eles virem realidade) Zayn encerrou a música e eu não consegui tirar os olhos dele do começo até o fim do trecho. Sorri cheia de orgulho por poder falar que o meu namorado era o dono se uma das vozes mais bonitas que esse mundo já escutara. Não me importo em ser suspeita pra falar isso, porque era o que eu achava. Principalmente assim, sem nenhum acompanhamento de instrumento, já que Niall parou de tocar e deixou o amigo cantar a cappella. Liam deu um tapinha no ombro de Zayn e os dois sorriram um para o outro. %Abi% olhou pra mim e o seu olhar falava algo mais ou menos assim: “Os dois estão muito amigos agora e você está ferrada.” Já a minha resposta se pareceu muito com isso: “Cala a boca!”
Forever young, I want to be forever young.
(Jovem para sempre, eu quero ser jovem para sempre)
Do you really want to live forever? Forever or never.
(Você realmente quer ser jovem para sempre? Para sempre, ou nunca)
Forever young, I want to be forever young.
(Jovem para sempre, eu quero ser jovem para sempre)
Do you really want to live forever? Forever, or never
(Você realmente quer ser jovem para sempre? Para sempre, ou nunca) Os meninos já haviam parado de cantar, mas nós que estávamos assistindo repetimos o refrão. Era como se a nossa vida dependesse disso. Todos os cinco sorriram com a resposta positiva que receberam da sua apresentação e só teria sido melhor se a música fosse uma original deles. O que, aliás, eu estava louca para ouvir! Comecei uma salva de palmas que foi acompanhada e até alguns gritinhos de comemoração foram ouvidos. Os cinco começaram a descer da caminhonete e o primeiro a chegar ao chão foi Zayn, já que ele estivera sentado na parte mais baixa dela.
- Baby, isso foi lindo! – Sorri de canto a canto e abri os braços pra que Zayn pudesse me abraçar.
- Espere até estarmos no palco do X Factor! – Passou os braços ao meu redor em um abraço apertado.
- Ora, ora, alguém está bem confiante! – Ri baixo e escondi o rosto no pescoço dele, deixando um beijo por ali.
- Não é você que diz que temos que permanecer confiantes?
- E tem mesmo! – O olhei. – Vocês já ganharam.
- Eu não podia concordar mais. – Liam se auto-convidou para entrar no abraço e quando fui perceber estava entre os dois garotos em uma espécie de sanduíche.
- Detesto atrapalhar um momento de carinho entre um triangulo amoroso... – %Abi% me puxou por entre os meninos e eu quase fui ao chão. – Mas estão chamando vocês dois pra carregar o resto das caixas...
- Que caixas são essas? – Olhei pra onde a minha amiga estava apontando, mesmo sabendo que não era comigo que ela falara.
- São os fogos de artifício. – Liam andou até a lateral do carro e pegou uma caixa de papelão grande. – Quer ajudar?
- Uma princesa não pode carregar caixas pesadas! – Zayn beijou a minha testa antes de ir pegar a sua própria caixa.
- Então ainda bem que ela não é uma princesa. – %Abi% seguiu os meninos e pegou uma caixa bem menor do que as outras. – Faz alguma coisa, %Star%!
- Ihh, alguém chegou na fase dois da bebedeira. – Liam cochichou ao passar por mim.
- Nem me fale. – Rolei os olhos.
%Abi% tinha três fases quando ficava bêbada: Na primeira, ela ficava super alegre e completamente louca e sem limites. Gostava de sair por aí gritando e girando com os cabelos ao vento. Na segunda fase, começava o pesadelo. Começava a ficar mandona e reclamava com todo mundo sobre as coisas mais bestas. Já a terceira e última fase era a que antecedia o blackout. Ela meio que se arrependia da fase número dois e ficava um tanto... Deprimida. Pedia desculpas, quase se afogava nas próprias lágrimas e, claro, amava todo mundo. Para evitar ser xingada ou coisa parecida, resolvi deixar de drama e também ajudar com as caixas.
Zayn seguiu Liam pelo campo na direção do lago e eu fiz o mesmo, carregando aquela caixa menor que %Abi% me entregara. Ela mesma só estava carregando uma caixa de fósforos e um isqueiro. Eu poderia muito bem ter falado pra ela “fazer alguma coisa”, mas tinha certeza que receberia uma resposta mal educada que provavelmente não saberia como responder. Preferi deixar de lado e me preocupar em não tropeçar em alguma pedra e cair por causa do escuro. Era fácil distinguir as silhuetas próximas ao fogo e sorri inconscientemente ao ver Louis e Olivia conversando próximos às águas do lago. Niall foi quem nos recebeu e indicou onde deveríamos deixar as nossas caixas empilhadas.
- Vamos nos preparar para o show! – Zayn sorriu e segurou a minha mão, atravessando pela areia até encontrar um bom lugar para ficarmos.
- ‘Cause, baby, you’re a firework! – Cantei enquanto saltitava pela areia para segui-lo. Zayn me olhou com uma cara engraçada. – O que?! Ah, por favor, eu tinha que cantar essa música!
- Tudo bem, não vou falar nada. – Se fez de inocente, mas eu sabia bem o que ele estava pensando. – Senta aqui.
- Isso me lembrou de uma coisa que eu queria te perguntar! – Observei Zayn se sentar na areia primeiro e me acomodei entre as suas pernas, ficando com as costas apoiadas em seu peito. – Está tudo certo para a festa de natal lá em casa, né?
- Está sim. – Passou os braços em volta do meu ombro e eu me aninhei ainda mais. – Falei com a minha mãe hoje de manhã.
- E ela ficou muito chateada? – Tudo que eu menos queria era a minha sogra com raiva de mim!
- Um pouco... Mas disse que já imaginava que eu fosse querer passar o feriado com você. – Olhava para mim com um sorriso que dizia que eu não devia me preocupar.
- Se quiser, pode passar o natal com a sua mãe e no dia seguinte vai lá pra casa pra podermos abrir os presentes... – Aquela não era uma opção muito boa, mas era melhor do que Trisha ficar chateada por culpa minha. Devia ser difícil para uma mãe passar o primeiro natal sem o único filho homem. – Eu já falei com o Ni e a %Abi% e os dois vão dormir lá pra poder ficar até a manhã de natal.
- Você acha mesmo que eu vou perder a oportunidade de dormir na sua casa? – Sorriu mais malicioso do que devia e o reprovei com o olhar. – Além do mais, minha mãe e as meninas vão pra Bradford. Se eu fosse com elas, só voltaria ano que vem.
- Ano que vem? Eu não posso ficar duas semanas sem você! – Fiz bico e segurei seus braços ao meu redor, impedindo-o de me soltar. – Já viu o quanto o ano está passando rápido?! A véspera de natal já é essa terça-feira.
- Nosso primeiro natal juntos. – Zayn beijou a minha bochecha e eu suspirei, olhando para o lago e para as pessoas que se divertiam na nossa frente.
- O primeiro de muitos! – Sorri. – Sabe o que seria bom?
- O que? – Perguntou baixo.
- Neve! – Respondi com uma risada ao ver o primeiro rastro de fogos de artifício partindo o céu escuro.
- Agora? – Arqueou uma sobrancelha como se eu estivesse falando algo estranho.
- Não, idiota. – Rolei os olhos, mas queria dizer aquilo de forma carinhosa. – No natal... Eu me lembro de um ano que estava nevando no natal, mas já faz tanto tempo que eu sinto saudade.
- Pena que aqui em Londres só neva nos meados de janeiro e fevereiro...
- Sei disso. – Eu poderia ter ficado emburrada, já que realmente queria um pouco de neve no meu natal, mas de que adiantaria? – Eu queria ir pra New York. Lá sempre neva no natal...
- Quer fugir comigo pra New York, Anjo? – A voz dele era tão séria que eu me perguntei se ele falava sério.
- Agora?
- Depois dos fogos. – Piscou.
Até que fugir para um aeroporto sem nada além da roupa do corpo parecia uma aventura ótima. Se não fosse o pequeno detalhe do passaporte e visto para os EUA, tenho quase certeza de que seríamos capazes de fazer essa loucura e sumir sem mais nem menos, sem avisar a ninguém, e só aparecer de novo depois do Ano Novo. Encerramos aquele e qualquer assunto para prestar atenção na queima de fogos que acontecia bem em cima das nossas cabeças. Explosões de todas as cores enfeitavam a noite escura e o reflexo das luzes batia sobre as nossas peles, também nos colorindo. Era impossível não sorrir. O espetáculo não tinha uma ordem de tamanho ou de “espécies” de foguetes, até porque quem estava disparando-os não era nenhum tipo de profissional e sim apenas garotos, porém, ainda era um encanto para os olhos.
Terminei olhando em volta quando Zayn me abraçou mais. Todos pareciam estar acompanhados... Stan e Fizzy (os amigos de Doncaster) pareciam bem mais íntimos do que eu recordava, %Abi% e Niall estavam abraçados de uma forma fofa e engraçada, Louis e Olivia estavam sentados lado a lado, Harry estava ocupado demais acendendo os fogos e Liam... Bem, Liam estava sentado sozinho na areia, com o olhar perdido, alguns metros atrás de Zayn e eu. Tenho certeza que de vez em quando ele olhava para nós, o que me deixou bem triste. Me doía vê-lo assim, principalmente por ser um cara legal e que merecia uma namorada tão boa quanto ele. Cheguei até mesmo a pensar em Candice, mas lembrei do ditado “Antes só do que mal acompanhado.”
- Zayn... – O chamei baixo, em tom de confissão. Ele me olhou e continuei: - Acho que precisamos achar uma garota para o Li.
- Eu concordo com você. – Olhou para trás, na direção de Liam, e depois voltou a sussurrar. – Deve ser ruim ficar sozinho assim. Já tem alguém em mente?
- Pior que não... Parece que não conheço ninguém interessante!
- E a Olivia? – Apontou com a cabeça na direção da garota.
- Já tenho outros planos pra ela. – Apontei discretamente para meu irmão.
- E alguém da Academy? Talvez a sua amiga Jess?
- Ew, não! – Balancei a cabeça. Eu gostava da menina e tal, mas ela não era garota pra Liam. – Eu não acho que ela seja o tipo dele.
- E qual é o tipo dele?
- Não sei. – “Eu”, pensei em responder.
+++ - Baby, olha o que eu faço pra você! – Gritei para Zayn enquanto mexia a “varinha” (na falta de um nome melhor) que tinha em mãos até formar um coração.
Na caixa pequena que eu carreguei para perto do lago tinha vários sparklers, daqueles que a gente acende e ele começa a brilhar. Todos pegaram vários e começaram a acender de um por um, correndo pelo campo e dançando ao som da música que voltou a tocar. O meu em especial soltava muita fumaça, por isso me permitia criar vários desenhos no ar, incluindo aquele coração que fiz pra Zayn. Ele riu em resposta e tentou me imitar, mas seu coração parecia mais uma bola deformada. É claro que eu mandei um beijo pra ele e disse que amei, mas não precisava saber da verdade, certo?
- Weeeeeee... – Abri os braços e girei sem sair do lugar, fazendo um circulo de fumaça me envolver.
- Olha como o meu é lindo, %Tah%! – %Abi% estava há alguns metros de distância, mas naquele momento ninguém estava perto de ninguém.
- É lindo sim! – Parei de girar pra ver o desenho de ondas que ela fazia com a sua varinha. – Mas o meu é melhor!
- Exibida! – Estirou a língua enquanto eu desenhava no ar uma estrela perfeita.
Zayn podia ser um ótimo desenhista no papel, mas com aquele negócio prateado ele era um desastre! O coitado não conseguia definir os seus desenhos, mas a culpa não era sua. Eu sabia que ele estava tentando caprichar e por isso demorava demais pra terminar um movimento, o que atrapalhava tudo. O segredo era ser rápido! Tentei explicar pra ele, mas ficava meio difícil no meio de toda a fumaça que nos cercava. Era um tumulto muito grande, entretanto, até bonito ver todas aquelas luzes piscando e todas as pessoas felizes correndo e gritando por aí. Eu sentia que nada de ruim poderia me atingir. Mesmo com as faíscas que saiam da segunda varinha que acendi com um isqueiro, nada poderia me machucar.
- Eu desisto! – Zayn jogou fora o sparkle que segurava e cruzou os braços.
- Awn, tem alguém que não sabe brincar? – Fui até ele e balancei o meu próprio em sua frente.
- Tem alguém que não sabe brincar? – Fez careta e puxou o sparkle da minha mão, também jogando-o no chão.
- Malik! – Foi a minha vez de cruzar os braços e ficar emburrada.
- Não fica assim, %Tah%. – Riu da minha criancice e segurou meu rosto com as duas mãos. – Já vai começar a parecer uma criança de três anos?
- E se eu for? – Continuei com os braços cruzados e um bico nos lábios.
- Aí eu não vou poder fazer isso... – Aproximou o rosto do meu ainda mais e roçou nossos lábios.
- Só isso? É muito pouco. – Reprimi um sorriso.
- E isso? – Mordeu meu lábio inferior e o puxou com os dentes.
- Ainda é muito pouco... – Descruzei os braços e agarrei a barra da minha camisa, pois, caso contrário, teria agarrado-o de uma vez.
- Ahh, você é muito difícil! – Riu e me soltou, dando alguns passos pra trás. – Vou procurar alguém mais fácil!
- Pode ir! Aposto que ninguém vai te querer. – Olhei para as minhas unhas, como se não ligasse a mínima para as ameaças do outro.
- Quer apostar? – Parou de andar quando já estava há pelo menos dez passos de mim.
Eu não queria apostar em algo que com toda certeza perderia. Quem seria capaz de dizer não pra Zayn? Nem eu mesma consegui! E olha que eu tentei bastante... Mas era difícil demais resistir à todo aquele charme. O garoto continuou lá parado, esperando a minha resposta. Eu não acreditava que ele fosse de fato procurar alguém “mais fácil”, mas era um risco que eu não pretendia correr. Acabei deixando um sorriso sapeca escapar e me pus a correr na direção do meu namorado. Ele apenas ficou lá me esperando, com um sorriso igual ao meu. Assim que cheguei perto o suficiente, me joguei em seus braços e o envolvi pelo pescoço. Zayn me segurou firme pela cintura e me fez levantar as pernas e prendê-las em volta da sua cintura.
Sem esperar mais nada, o puxei para um beijo apaixonado. Com os meus lábios colados aos dele e nossos corpos entrelaçados eu me sentia a mulher mais feliz do mundo. Zayn me deixava completa, inteira. Era como se todos os pedacinhos do meu ser voltassem ao lugar. Por incrível que pareça, eu sempre queria mais, eu não conseguia me cansar do toque que a sua língua fazia na minha, ou de como nossos lábios chegavam a doer com o tamanho da nossa intensidade. Assim que Zayn investia contra a minha boca e inclinava um rosto para um lado, eu o imitava e inclinava para o outro. Continuamos naquela brincadeira até eu começar a desprender as minhas pernas e voltar a pisar no chão.
- Não vai atrás de outra... – Pedi com a testa ainda encostada à dele.
- Nunca. – Sorriu. Eu podia sentir seus dedos acariciando a minha pele por baixo do meu sweater.
- Eu te amo, Zayn. – Fiquei na ponta dos pés e o abracei de novo, dessa vez permanecendo assim por bem mais tempo. – Tanto que isso até me deixa louca!
- Eu te amo, minha pequena. – Me apertou com força contra si, abrigando o rosto na curva do meu pescoço.
Ficamos parados naquele abraço, deixando nossos amigos correr a nossa volta, bebendo, comendo, ainda se divertindo com os sparkles e curtindo a noite. Devia passar das três horas da manhã, mas nós dois não podíamos querer estar em nenhum outro lugar. O sentimento que eu nutria por aquele garoto conseguia ser maior que amor; se é que existe algo assim. Era impossível colocar em palavras uma coisa que consumia, dilacerava e tomava conta de cada centímetro de mim. Eu seria capaz de ficar louca se não pudesse tê-lo perto, se não pudesse sentir o seu cheiro grudado na pele. Zayn tinha total controle sobre mim e todo o mundo podia ver.
- Eu vou até o banheiro, tá bem? – Nos separamos e eu afirmei que sim com a cabeça.
- Volte logo! – Pedi e acenei enquanto ele se afastava.
- Meu amor! – %Abi% chegou tão rápido que eu mal vi.
- Geez, %Abigail%! – Balancei a cabeça. – Quer me matar?
- Ihh, tá assustadinha, é? – Ela riu e deu um gole no copo vermelho que segurava como se fosse a coisa mais importante da sua vida.
- Quantos desse você já tomou? – Perguntei, mas já sabia a resposta: Vários.
- Só alguns. – Riu escandalosamente como faria após ouvir uma piada realmente engraçada. – Eu já disse que te amo muito, %Star%? Sério mesmo. Você mora no coração.
- Fase três, aí vamos nós. – Falei pra mim mesma e ri do esforço que %Abi% fazia pra formular frases.
- Com licença... – Um garoto loiro de olhos verdes e aparência bem simpática chamou a nossa atenção. – Você é %Star%?
- Sou eu sim... – Sorri na tentativa de descobrir se eu o conhecia, mas a minha mente estava em branco.
- Seu namorado me pediu pra te entregar isso aqui. – Estendeu um copo igual ao de %Abi%.
- Ah, obrigada! – Peguei o copo e dei o primeiro gole ao ver o entregador se afastar.
- Finalmente você está bebendo alguma coisa! – %Abi% bateu palmas. – Vamos virar! Não quero nem saber. No 3... 3!
- O que?! Me espera! – Gargalhei, mas entrei na brincadeira e derramei o líquido na minha boca, engolindo tudo o mais rápido que consegui.
- Ganhei! – A ruiva terminou primeiro e amassou o copo em seguida, jogando-o no chão.
- Não vale, porque você começou antes. – Fiz uma careta por causa do gosto ruim que a bebida deixou na minha boca.
- Para de fazer careta, %Tah%. Seja forte. – Balançou a minha cabeça até quase me deixar tonta, mas consegui afastar suas mãos a tempo. – Espera aqui, tá bem?
- Pra onde você vai?
- Pegar mais algumas doses pra gente! – Não escutou meus chamados e já foi dançando e rebolando em alguma parte do campo.
Alguém devia estar mexendo nos aparelhos de som, porque o volume da música aumentou consideravelmente. Tapei os ouvidos quando meus tímpanos começaram a arder e me curvei, olhando para os lados na tentativa de encontrar alguém que pudesse diminuir um pouco esse barulho que começava a me deixar louca. Eu precisava sair de perto, precisava ir para um lugar mais calmo. “Desde quando eu estou com dor de cabeça?” Me perguntei, mas não consegui encontrar uma resposta. Comecei a arrastar meus pés pela grama, sem conseguir identificar a direção em que estava indo. Olhei para o chão abrindo e fechando os olhos quando a minha visão começou a ficar turva. Eu sabia que havia algo errado, mas não conseguia identificar o que era.
Ao menos a música tinha diminuído... Assim como qualquer outro barulho ou qualquer fonte de luz. Olhei em volta e tudo que consegui ver foram troncos tortos de árvores e folhas podres que cobriam o chão. De uma coisa eu tive certeza... Não estava mais no campo e sim na floresta. “O que eu estou fazendo aqui?” Estiquei a mão e consegui me apoiar em um pinheiro, respirando fundo e tentando afastar o bolo que começava a se formar na minha garganta. Sempre que eu levantava o olhar, ficava tonta e tinha que encarar o chão novamente. Minha cabeça estava uma completa bagunça, pois eu sabia que estava perdida, mas não fazia ideia de como isso era possível. Em um segundo eu estava conversando com %Abi% e no outro... Eu estava ali; no meio do nada.
Coloquei a mão no peito, tentando acalmar o meu coração que batia descontroladamente, se esforçando para bombear sangue pelas minhas veias. Dei alguns passos sem tropeçar e minhas pernas pediram arrego. Eu sentia como se tivesse acabado de correr uma maratona e a minha boca estava seca. Eu precisava sentar. Para a minha sorte, consegui avistar um toco de madeira que devia ter sido uma árvore antes de ser arrancada e fui até ele, fazendo um esforço enorme para me sentar. Assim que o fiz, o tronco se mexeu. Se mexeu não... Correu de mim, me fazendo cair com tudo no chão até estar completamente deitada na terra suja, encarando o céu.
Devia ser algum tipo de fenômeno da natureza, pois milhões de estrelas cadentes passaram ali, bem em cima da minha cabeça. A terra também começou a girar rápido demais, me obrigando a tapar os olhos e choramingar. Eu precisava continuar, precisava voltar a andar e achar um caminho... Eu só não sabia como, mas tinha que me mexer. Juntei todas as minhas forças para me colocar de quarto e engatinhar para frente, já que a única noção de direção que eu conseguia ter era “pra frente” e “pra trás”. Usei as mangas do meu sweater para proteger as palmas das minhas mãos de possíveis arranhões, mas os meus joelhos não tinham a mesma sorte. Minha tentativa de gritar foi impedida por uma lufada de ar que escapou dos meus pulmões, me deixando momentaneamente sufocada. Lutei para puxar o oxigênio e era como se quanto mais eu tentasse, mais eu falhava. Cogitei a possibilidade de estar me afogando, mas sabia que não estava na água, pois podia sentir as folhas se quebrando embaixo de meus dedos enquanto eu me arrastava.
Fuja! Uma voz, que ao mesmo tempo em que parecia um sussurro gritava pra mim, me fez parar. Busquei alguma coisa nas sombras até onde o meu olhar alcançava, mas não consegui ver nada. Só não sabia se isso era bom ou ruim. Disse para mim mesma que não podia parar e voltei a me mexer mais uma vez, desesperada por alguma luz. Fique de pé, agora. E corra. A voz voltou a me assombrar e por um momento eu achei que a conhecesse. Achei não... Eu tive quase certeza. Mas não podia ser... Existia algo de traiçoeiro naquela voz, algo em que eu não sabia se podia confiar ou não. “Eu não consigo!” respondi, mas sabia que a resposta fora apenas em minha cabeça. Corra! Corra! Corra!
A voz crescia e repetia a mesma coisa, me fazendo tampar os ouvidos para encontrar um pouco mais de alívio. De alguma forma consegui me colocar de pé e caminhar. A sensação de estar sendo observada me invadiu e, como se já não bastasse, me desesperei ainda mais. Com as mãos junto ao corpo – na tentativa de me proteger - comecei a correr; ou o mais perto disso que consegui. Obedecendo apenas ao meu instinto, dobrei a direita e depois a esquerda, sem conseguir diferenciar absolutamente nada na vegetação. “Zayn!” chamei, sabendo que ele não me ouviria. “Onde está você, Zayn?!” Continuei correndo e tropeçando em algumas raízes mais altas, mas sem nunca parar. Só percebi que estava chorando quando senti o gosto salgado das lágrimas preencher a minha boca. Continue. Vamos, %Star%, continue. Você está quase lá... Infelizmente não era a voz de Zayn que eu escutava e me pedia pra continuar.
Espiei ao meu redor, mas ainda não conseguia ver mais que um palmo em frente ao meu rosto. Parei de correr quando algo passou pela minha mente... “Como você sabe o meu nome?” Exigi saber, dando voltas sem sair do lugar e esperando qualquer coisa sair das sombras e me atacar. As dores em meu corpo me provavam que eu não estava sonhando. Aquilo era pior que um pesadelo, pois era real. “Eu perguntei como você sabe o meu nome?” Urrei com raiva e frustração, mas a resposta não veio. Ela nunca viria. Meus olhos ardiam por conta das lágrimas e eu já não sabia mais de que lado tinha vindo e por onde deveria ir. Dava passos sem nexo e sem direção certa. %Star%. A voz estava ainda mais hostil que antes e assoprou perto da minha orelha. Me virei na direção do som com o medo me consumindo de dentro pra fora.
A próxima coisa que senti foi a terra embaixo de meus pés se mexendo, derrapando. E então eu estava caindo. Até tentei me segurar em alguma coisa, mas foi inútil. Gritei, fiquei sem ar, quis vomitar. Uma confusão de sentimentos terríveis me acompanhou enquanto a gravidade me engolia. O chão chegou rápido demais e não foi nada gracioso com o meu corpo, me fazendo bater em cheio com as costas e cotovelos. A cabeça e as pernas vieram depois, permanecendo imóveis por mais que eu quisesse sair dali. Mais uma vez tudo girou e continuaria assim. Meus olhos começaram a pesar e fechar. Eu iria perder a consciência e sabia que não demoraria pra estar completamente apagada. Tenha calma agora... Já acabou.