Ballet Shoes


Escrita porElla Souza
Editada por Isabelle Castro


Capítulo III

Tempo estimado de leitura: 25 minutos

  - %Star%, querida? Levante, está na hora... – A voz ainda era distante, mas eu sabia que era a minha avó Jolene tentando me acordar.
  - Só mais cinco minutinhos, nana. – Pedi com manha, puxando o cobertor para cima da minha cabeça. Senti ela se mexer na cama e passar a mão na minha perna por cima o cobertor.
  - O almoço já está pronto e você não pode demorar muito. Hoje é o grande dia! – Ela me balançou devagar, encorajando-me a levantar.
  - Tudo bem, nana, já estou indo. – Descobri o rosto e a olhei com os olhos semicerrados, ainda me acostumando com a claridade.
  Minha avó sorriu abertamente e me deixou sozinha no quarto. Aos poucos fui me levantando e esticando os braços para me espreguiçar. Finalmente eu estaria viajando para Londres e começando uma nova etapa da minha vida. Eu havia passando a noite inteira e boa parte da madrugada anterior terminando de arrumar as coisas que eu levaria. Como alguns ursinhos de pelúcia, um álbum de fotografias com as minhas imagens preferidas, meus perfumes, maquiagem, carregadores, notebook e dois livros que ainda estava lendo. Na minha bolsa de mão estava levando a câmera fotográfica, iPod, carteira, documentos necessários para viajar, celular e mais aquelas coisinhas que toda mulher precisa ter em caso de emergências. Com toda essa arrumação já deve dar pra perceber que eu estava caindo de sono e cheia de dores no corpo de tanto carregar caixas pra cima e pra baixo. Pelo menos as coisas já estavam dentro do carro e prontas pra partir.
  Assim que finalmente levantei da cama, senti tudo girar. Me apoiei na parede para não cair no chão e esperei a minha vista clarear novamente. Sempre odiei quando isso acontecia. Segui para fora do quarto e entrei direto no banheiro. Minhas coisas não estavam mais lá, o que era estranho de certa forma. E a toalha de Louis não estava jogada no chão, o que era mais estranho ainda. Engraçado como a gente acaba se acostumando com a rotina e nem percebe. Assim como todas as manhãs, fiz a minha higiene e desci para a cozinha em silêncio, ainda de pijamas. Pude escutar Charles falando algo para a minha avó, mas não conseguia entender o que era. Curiosa como sou, me aproximei mais um pouco da porta, torcendo para não ser notada. Infelizmente o ranger do piso de madeira me delatou e fez o assunto na cozinha morrer.
  - Aí está ela! – Vovô me cumprimentou, puxando a cadeira ao seu lado para que eu me sentasse.
  - Bom dia. – Sorri para ele e me sentei. – O cheiro está maravilhoso, nana. O que é?
  - Não achou que eu fosse deixar você partir sem uma última refeição francesa, não é? – Ela sorriu daquele jeito infantil que me lembrava a minha mãe. Abaixou-se em direção ao fogão e usou aquelas luvas térmicas para tirar o prato principal do forno. Minha boca salivou assim que eu vi as codornas recheadas, rodeadas por batatas assadas cobertas por queijo.
  - Não acredito! – Quase caí da cadeira, o que fez os outros dois rirem.
  - Pode se servir, querida. – Jolene apontou para a travessa com as codornas e eu comecei a me servir. Praticamente enchi o prato de batatas e metade de uma codorna.
  - Está divino! – Exclamei com a boca cheia ao morder um pedaço da comida.
Nessas horas eu não parecia a bailarina disciplinada que era; não quando tinha comida em jogo.
  - Que bom que você gostou, %Tah%. Mas coma devagar, pra aproveitar. Já que não estarei lá pra cozinhar seus pratos preferidos pra você. – Logo ela e meu avô também se serviram, mas comeram bem menos que eu.
  - Estou pensando seriamente em te levar pra Londres comigo, vó. – Dessa vez já estava com a boca vazia e cortava um pedaço de batata com queijo para levá-lo até a boca.
  O almoço seguiu tranquilo e nós três conversamos como se fosse uma quinta feira normal. Eu repeti o prato e ainda comi dois pedaços da torta de maçã com canela que vovó fizera para sobremesa. Eu estava me sentindo muito gorda pela quantidade de comida que ingeri naquele almoço, mas tinha uma boa desculpa. Como provavelmente passaria fome em Londres por não saber cozinhar (e muito menos meu irmão), me alimentei o melhor que pude; pelo menos assim eu demoraria mais pra entrar em desnutrição. E, de alguma forma, aquilo fazia muito sentido na minha cabeça. Depois de ajudar vovó a lavar os pratos e arrumar a cozinha, eu segui para o banheiro e tomei um banho rápido. Em aproximadamente meia hora já estava arrumada para ir embora. A única maquiagem em meu rosto era o lápis preto e o rímel forte que usei para marcar meus cílios longos. Meus cabelos ainda estavam um pouco úmidos, por isso os deixei cair sobre as minhas costas, se desenrolando em pequenas ondulações nas pontas.
  - %Star%? Está pronta? Temos que ir. – A cabecinha branca do meu avô apareceu na porta e eu olhei mais uma vez para o quarto que havia sido meu nos últimos sete anos. Assim como o banheiro, o quarto já não tinha mais as minhas coisas. A não ser por alguns brinquedos que eu deixara na prateleira, ou pelos cobertores e travesseiros bagunçados sobre a cama que permaneceriam com o meu cheiro por algum tempo.
  - Estou pronta sim. Só precisava me despedir. – Sorri com certo aperto no coração. Peguei a minha bolsa e a pendurei no ombro esquerdo.
  - Esse ainda vai ser o seu quarto, %Tah%. – Ele me esperou sair para fechar a porta atrás de nós.
  - Sei disso, papa. – Sorri mais uma vez e ele passou o braço em volta dos meus ombros.
  Entrei no banco e trás do carro de meu avô, sem escutar direito o que a minha avó estava falando. Os dois conversavam animadamente no banco da frente e eu só conseguia observar a casa que havia sido o meu lar se afastar cada vez mais na medida em que o carro acelerava. Meu trem saía as 17hrs em ponto, então eu só tinha mais quarenta minutos aproximadamente pra chegar à estação. Para a minha sorte, vovô conhecia um caminho que não estava tão engarrafado, então rapidamente chegamos até o local. Um funcionário logo veio ajudar a descarregar o carro e tenho certeza que ele ficou espantado com a minha quantidade de bagagem, mas não falou nada por educação. Ele e Charles seguiram para o guichê onde deveriam despachar as malas e minha avó e eu seguimos em busca do meu trem.
  “Plataforma 9¾” era o que dizia na minha passagem. Faltavam vinte minutos para as 17hrs e finalmente encontrei o meu trem. Ele era daqueles que a gente vê nos filmes, enormes e cheios de janelas que me permitiam ver o que acontecia do lado de dentro. Vovô logo se juntou a nós e começamos as despedidas.
  - Se cuide, meu amor. E não se esqueça de comer. Ou de se cuidar. – Vovó falou enquanto me abraçava com força. – E nos avise assim que chegar lá.
  - Pode deixar, nana. – A abracei de volta, querendo guardar na memória o seu cheiro amendoado e o toque que seus cabelos brancos faziam em meu rosto. – Fiquem bem. Vocês dois! – Me separei dela e parti para o meu avô.
  - Nós vamos ficar bem sim, não se preocupe. E fique de olho no seu irmão, porque você sabe como ele é. – Nós dois rimos e nos abraçamos. – Eu me lembro de quando você precisava ficar na ponta dos pés para me abraçar assim. – Ele falou baixinho e eu apertei ainda mais o abraço, fechando os olhos por uns segundos. Sentiria muita falta daquele abraço; nós dois sentiríamos.
  - Tenho que ir... – Suspirei e parti o abraço ao escutar a última chamada para o meu trem. Peguei a minha passagem na bolsa e meu avô me entregou um embrulho com um laço vermelho no topo. – O que é isso, papa?
  - Apenas uma lembrancinha que eu e a sua avó achamos que você vai gostar. – Meu sorriso era claro, ainda mais com a minha curiosidade crescendo. – Agora vá! Boa viagem, %Tah%.
  Dei mais um beijo em cada um e guardei o presente em minha bolsa. Vovô me fez prometer que só o abriria depois que o trem saísse da estação. Não discuti, mesmo que estivesse morrendo pra saber o que era. Nunca fui boa em despedidas, então só assoprei um beijo para os dois e sorri visivelmente feliz. Saltei para dentro do trem e a porta de ferro se fechou com força atrás de mim. A partir daquele momento, a minha vida mudava completamente. Eu deixava de ser uma garota e começava a me tornar uma mulher. O funcionário do trem me guiou até a minha cabine e eu me acomodei. A cabine particular possuía duas fileiras de banco, uma em frente à outra. Parecia bastante com a cabine do expresso de Hogwarts; o que mudava era a climatização e as cores, já que os bancos eram azuis e as ‘paredes’ acinzentadas. Eu também recebi um controle remoto para adaptar a luz e a temperatura do ambiente de acordo com o meu gosto. Achei tudo impressionante, principalmente por ser uma estrutura enorme para apenas duas horas e meia de viagem. Sentei em um dos bancos e tirei minhas sapatilhas. Para ficar ainda mais confortável, estiquei as pernas no banco da frente. Assisti o trem deixar a estação para trás e mergulhar em um túnel escuro. Meus olhos foram se fechando e sem me dar conta eu adormeci.

+++

  Um apito alto me despertou de meu sono e com o susto quase fui ao chão. Abri os olhos com desespero, me perguntando onde estava e o que estava acontecendo. Foi então que a realidade bateu. Eu havia dormido a viagem inteira e já estava em Londres. Meu irmão estaria me esperando em algum lugar do saguão e a minha aventura estava começando. Levantei rápido demais, mais uma vez, e senti o mundo girar ao meu redor. “Damn it! Eu tenho que parar de fazer isso.” Pensei sozinha, procurando meus sapatos. Como eles haviam sumido assim? Sem demora descobri seu paradeiro e os calcei. Com a mesma rapidez, me pus para fora da cabine e segui o fluxo de pessoas que se apertava pelos corredores para sair do trem.
  Quando finalmente pude respirar o ar londrino, um sorriso até então desconhecido apareceu em meus lábios. Era um sorriso de esperança, animação e nervosismo combinados em um só. Meus olhos correram pelas pessoas que estavam por ali, procurando um rosto conhecido. Andei de um lado para o outro por aproximadamente quinze minutos e nada do meu irmão aparecer. Pra piorar? Ele não atendia as minhas ligações. Eu já estava com a minha montanha de coisas empilhadas em dois carrinhos e estava sendo impossível me mover entre os passageiros que embarcavam e desembarcavam por ali.
  - Com licença... – Senti um toque em meu ombro e me virei para encarar aqueles olhos castanhos que me deixaram paralisada por uns segundos. – Você é a %Star%?
  - Sou eu sim... – Respondi ao retomar a minha consciência, já imaginando que tinha derrubado algum documento e esse adorável londrino o achou e me procurou para devolver.
  - Ainda bem. Você é a quarta garota que eu pergunto isso e não estava afim de ser olhado como um louco de novo. – Ele bagunçou os cabelos e coçou a nuca, ainda sem me fazer entender completamente o que estava acontecendo.
  - Não quero parecer mal educada, mas você seria...? – Mordi meu lábio inferior, esperando que o menino estranho, e terrivelmente charmoso se é que posso acrescentar, se apresentasse.
  - Sou Liam, Liam Payne. Seu irmão não avisou que eu viria te buscar? – Mais uma vez ele pareceu nervoso, mas já foi para o meu lado e pegou um dos carrinhos, me deixando com o mais vazio.
  - Liam! É claro! – Eu sabia que conhecia a voz dele de algum lugar, mas achava que fosse de algum sonho, ou coisa parecida. Nunca me lembraria de uma voz que escutei ao fundo em uma ligação com o meu irmão. – Não, o Louis não avisou. Aquele estrupício. – Arranquei uma risada de Liam e desejei ser engraçada só pra escutar o seu riso mais uma vez.
  - Ele terminou se enrolando no último ensaio e me ligou pedindo pra vir te buscar. – Explicou enquanto caminhávamos até o estacionamento. – Imagine a minha frustração por não saber quem procurar. Ele nem ao menos quis me mostrar uma foto sua. E agora eu imagino o por quê. – A sua última frase saiu mais como um sussurro que eu provavelmente não deveria ter escutado. Eu senti as minhas bochechas queimarem, ainda mais pela forma que ele me encarou em seguida.
  - O Lou não tem jeito mesmo. Imagine dezenove anos convivendo com isso. – Foi a minha vez de rir e ele me acompanhou. Chegamos a um Ranger preto e Liam tratou de abrir o porta-malas e começar a colocar as minhas coisas lá dentro. Eu tentei ajudar, mas ele me olhou com cara feia fazendo-me apenas esperar ele carregar o carro.
  - Acho que podemos ir agora. – Ele sorriu enquanto abria a porta do passageiro para que eu entrasse.
  - Você sabe onde eu vou morar? Meu irmão está fazendo mistério desde que chegou aqui. – Esperei Liam dar a volta e entrar no carro para lhe perguntar. Talvez pudesse me dar mais informações do que as que eu já tinha.
  - Sinto muito, %Tah%, mas ele me fez prometer que eu não contaria. – Como assim ele já veio me chamando pelo meu apelido? – Você vai ver assim que chegarmos lá. É um pouco longe, então pode ligar o rádio se quiser.
  - Poxa. Não pode me contar nadinha? – Me virei na sua direção e fiz o meu melhor biquinho.
  - Não adianta! Não vou nem te olhar. – Liam riu e olhou firmemente para a estrada a nossa frente. Dei de ombros e comecei a mexer nos botões do rádio, procurando uma estação. – Tente a 121.3.
  - 121.3, vamos ver... – Atendi o seu conselho e girei o botão até sintonizar. A voz do locutor anunciou algum quadro da programação e eu aguardei a nova música começar.
  - Eu amo essa música! – Ele começou a batucar os polegares no volante quando a música Thousand Miles da Vanessa Carlton começou a tocar. – Making my way downtown, walking fast. Faces passed and I’m home bound. (Fazendo meu caminho para o centro da cidade, andando rápido, rostos passaram e eu estou perto de casa.) – Ele começou a cantar e eu não agüentei segurar o riso. – Eu sei que você conhece essa música, %Star%. Cante comigo!
  - Staring blankly ahead, just making my way, making my way through the crowd... (Olhando para frente sem expressão, fazendo o meu caminho, fazendo meu caminho pela multidão) – Me rendi e entrei na brincadeira. Nessa primeira parte ele me deixou cantar sozinha. Mas logo me acompanhou com uma empolgação que me fez rir mais ainda: - But you know I’d walk a thousand miles if I could just... (Mas você sabe que eu andaria mil milhas se eu pudesse apenas...)
  - See youuuuuuuu... TONIGHT. (Te ver essa noite)
  No final da música nós estávamos rindo como dois idiotas e conversamos durante o resto do caminho todo. Liam parecia sério no começo, mas logo percebi que ele era um palhaço. E mesmo passando aquela imagem de responsável e centrado, ele conseguia ser muito divertido até quando falava besteira ou fazia brincadeirinhas que eu não acharia graça se fosse outra pessoa em seu lugar.
  Não vimos o tempo passar e eu só notei que havíamos chegado quando Liam parou o carro em frente a um enorme portão de ferro. Ele falou algo com o porteiro que nos deixou entrar em seguida. Eu o olhei sem entender nada e ele só riu pra mim, ainda sem explicar nada. Eu olhei pela janela, e notei que estávamos entrando em um condomínio fechado muito luxuoso. A noite já havia caído, então eu não conseguia ver direito as fachadas das mansões, mas tinha certeza que uma era mais bonita que a outra. Continuamos andando até Liam virar à direita e entrar numa rua um pouco mais afastada. Ele estacionou o carro em frente a uma casa de dois andares e, pelo que deu pra perceber, as paredes do lado de fora possuíam um tom que variava entre o marrom e o bege. Um caminho de cimento, que ligava a calçada até as escadas que levavam até a pequena varanda de entrada, dividia uma espécie de jardim. O poste aceso iluminava boa parte da grama verde e mostrava algumas flores que estavam se fechando. O lugar era tão lindo que me fez imaginar o que me esperava lá dentro. Nem percebi Liam saindo do carro e andando até o meu lado para abrir a minha porta.
  - Você mora aqui? – Perguntei ao descer do carro, ainda encantada com tudo. Ele deveria ser muito rico pra morar em um lugar daqueles.
  - Eu não, mas você sim. – Liam sorriu divertido, achando graça da minha cara de espanto.
  - Eu?! Como assim, eu? – Ainda não conseguia acreditar, mas até que fazia sentido se eu fosse levar em conta todo o mistério que os meninos fizeram em torno da minha nova casa.
  - Acho que o Louis já está lá dentro. Pode ir conhecer o lugar enquanto eu pego as suas coisas. – Não sabia se todos os ingleses eram tão cavalheiros assim, ou se Liam era realmente educado. Eu poderia ter tirado as coisas do carro e o ajudado a levar tudo pra dentro, mas ele não deixou novamente.
  O agradeci com um sorriso e praticamente corri até a porta de entrada. Aparentemente aquela era a minha casa, mas eu ainda estava preparada para abrir a porta e entrar, então toquei a campainha e escutei as risadas que soavam do lado de dentro pararem instantaneamente. A próxima coisa que ouvi foram passos vindos em minha direção e aguardei a porta abrir.
  - %Star%! – Meu irmão gritou e eu me joguei em seus braços, literalmente me pendurando em seus ombros. Ele me abraçou pela cintura e me girou no ar. – Que saudade, pirralha.
  - Loooooooooooou, nem acredito que finalmente cheguei. – O apertei e escolhi ignorar o pseudo xingamento. A viagem fora rápida, mas ainda assim tinha me cansado. Sei que posso parecer uma preguiçosa, já que dormi o trajeto inteiro, mas se levarmos em consideração os acontecimentos anteriores, eu tinha motivos reais para estar cansada. – Você tem tanta coisa pra me explicar! De onde saiu essa casa? Ganhou na loteria, por acaso?
  - Wow, wow, calma, ok? Temos tempo, %Tah%. Porque não curte um pouco o lugar? – Meu irmão me colocou no chão e eu olhei em volta. A casa era ainda mais incrível por dentro. – Antes de começar o tour, tem alguém aqui que estava louco pra te ver. – Louis olhou para alguém atrás de mim e eu logo me virei na direção do seu olhar.
  Um menino relativamente mais alto que eu estava parado na entrada da sala, com as mãos dentro dos bolsos da calça jeans e seus olhos verdes me fitavam com curiosidade. Seu cabelo cacheado estava maior e mais bagunçado do que eu costumava me lembrar, mas Harry continuava o mesmo. Aquele rosto de bebê e o sorriso que derretia qualquer um...
  - Bem vinda, %Tah%. – Ele disse simplesmente, me fazendo sorrir. Fui até onde ele estava e o abracei pela cintura. Como era mais alto que eu, me envolveu pelo pescoço e eu me escondi em seu peito. Ficamos naquela espécie de abraço de urso até Louis interromper.
  - Odeio atrapalhar o reencontro de amigos de infância, mas Liam e eu precisamos de uma ajudinha. – Ele começou, fazendo Harry me soltar. – Isso porque eu falei pra trazer apenas o necessário.
  - Você nunca para de reclamar, Lou? Vai ficar velho cedo desse jeito. – Eu brinquei, fazendo Harry e Liam rirem, já que este último tinha acabado de entrar em casa arrastando a mala que continha as minhas roupas.
  - Só vá conhecer a casa, ok? – Meu irmão fez uma careta e puxou Harry pelo braço, guiando-o para fora.
  Fui deixada sozinha em frente à porta de entrada da casa e olhei em volta novamente, dessa vez prestando mais atenção aos detalhes. Todo o piso do primeiro andar era coberto por uma madeira escura, o que dava um toque sofisticado ao lugar. Em frente à porta ficava um pequeno hall que levava à escada que daria no andar de cima. À direita do hall principal se encontrava a sala: Era um cômodo espaçoso e aconchegante. Uma parede era dominada completamente por um sofá em forma de “L” que parecia mais confortável até que a minha antiga cama. Em frente a ele, encontrei uma mesinha de centro trabalhada em uma madeira clara com um tampo de vidro. Na parede oposta ao sofá estava a estante onde uma TV de tela plana chamava a atenção e uma série de CDs e DVDs estavam organizados em uma parte de vidro. À esquerda do hall estava a sala de jantar e mais adiante a cozinha perfeitamente equipada com todos os utensílios que um chef gastronômico usaria para desenvolver as suas receitas mais complicadas. Aquele último cômodo me surpreendeu um pouco, já que eu duvidava que alguém estaria realmente cozinhando algo mais complicado que ovos mexidos e miojo.
  Subi correndo para o segundo andar e me deparei com cinco portas. A primeira porta da esquerda deveria ser o quarto de Louis, por causa do pôster do Busted que ocupava metade do espaço. A porta seguinte era uma espécie de quarto de hóspedes que parecia estar sendo ocupado no momento, o que explicava as malas atrás da porta e a cama bagunçada. Provavelmente Harry ou Liam estavam ficando por ali. A terceira porta ficava de frente para a escada e era um banheiro. Ao lado direito, a primeira porta levava a um quarto totalmente bagunçado. Não era exatamente o quarto de uma pessoa, e sim um “guarda tralhas”. Dei de ombros e segui meu passeio, parando em frente à última porta.
  Algo me dizia que aquele era o meu quarto; claro, algo além da estrela prateada que estava pendurada na porta. Segurei firme na maçaneta e a girei, me preparando para o que poderia estar ali dentro. Nem todos os suspiros do mundo fariam jus ao que estava escondido atrás daquela porta de madeira branca. O quarto era simplesmente maravilhoso. Tinha pelo menos o dobro do tamanho do meu em Paris e a decoração era a minha cara. As paredes tinham um tom azul bem claro, lembrando o céu. Diferente do resto da casa, o chão não era coberto por madeira, e sim por um carpete macio. O teto era branco e a luminária que pendia dele parecia um lustre de castelos de contos de fadas. Minha cama de casal ficava no centro do quarto, com a cabeceira encostada na parede. Ela parecia uma montanha de travesseiros e eu mal podia esperar pra me jogar no meio de todos eles. Em frente à cama encontrei um closet. Sim, um closet! Ele tinha mais espaço do que eu tinha roupas, mas isso poderia ser resolvido em uma tarde na Oxford Street, a melhor rua para compras em Londres. No quarto eu também encontrei uma escrivaninha e uma cadeira próxima a ela. Prateleiras vazias também esperavam pra ser preenchidas pelas coisas que ainda estavam empacotadas. A porta ao lado do closet escondia um banheiro de tamanho médio que seria só meu. Meus olhos brilhavam ao olhar tudo aquilo e eu não sabia o que fazer primeiro. Deixei a minha bolsa e o cardigan que usava dentro do closet e assim que voltei para o quarto encontrei os três garotos espremidos na porta.
Cada um sorria mais que o outro e eu só consegui rir daquela cena.
  - E então, gostou? – Louis parecia ansioso pela minha resposta.
  - Eu amei. É o quarto perfeito. – Suspirei e sentei na minha cama. Meu irmão se aproximou e se sentou ao meu lado. Harry fez o mesmo, ocupando o outro lado. Liam continuou parado na porta, apenas nos observando.
  - Você deve agradecer à Rachel. A casa foi um presente do Mark, mas foi ela quem decorou tudo. – Ainda achava estranho meu irmão se referir ao nosso pai pelo nome.
  - Eu sabia que você não tinha feito tudo isso sozinho. – O soquei no braço e me virei para Harry. – Mas achei que você tinha ajudado.
  - Na verdade, quem achou essa casa pra vender fui eu. Então de certa forma eu ajudei sim. – Ele sorriu daquele jeito que eu tanto amava e encostou a cabeça no meu ombro, relaxando seu corpo em cima de mim e nós dois quase caímos.
  - Hazza, isso faz cócegas! – O empurrei com toda a minha força e gargalhei. Acabei caindo pra trás, com as costas deitadas na cama.
  - Louis, você está pensando no mesmo que eu? – Harry e meu irmão trocaram olhares e eu tinha medo do que estava por vir.
  - Em nome dos velhos tempos. – Ele pareceu dar de ombros, mas três segundos depois eu só senti quatro mãos me atacando. Ele e Harry começaram a fazer cócegas nas minhas costelas e eu só consegui gritar.
  - PAREM, VOCÊS DOIS! – Berrei em meio a gargalhadas histéricas. Eu me debatia, tentando me livrar das mãos ligeiras daqueles garotos. Aquilo até parecia um dejavu, me fazendo lembrar na minha pré-adolescência. Harry e eu nos conhecemos há alguns anos atrás, quando ainda éramos praticamente crianças, em uma das viagens que fiz para visitar meu pai. Desde então, sempre que eu ia para a Inglaterra ou ele para a França, nós nos encontrávamos e era como se não tivéssemos ficados separados por meses. Ele, meu irmão e eu éramos os três mosqueteiros; melhores amigos e praticamente inseparáveis. Os dois tinham essa mania irritante de me fazer cócegas. Talvez por eu ser meio sensível com essas coisas e sempre acabar rolando no chão com os dois em cima de mim. – EU... SEM AR...
  - VOCÊ SABE O QUE FAZER PRA GENTE PARAR! – Louis exclamou, também rindo muito.
  - NUNCA. – Eu não me renderia. Ainda tinha esperanças de me livrar deles quando comecei a tentar sair da cama. Harry percebeu isso e prendeu as minhas mãos contra o colchão, as segurando acima da minha cabeça. Não podia me defender, já que ele era bem mais forte que eu, então Louis tinha o caminho livre.
  - DESISTA! – Foi a vez de Harry falar, apertando ainda mais os meus pulsos sem me machucar.
  - OK, OK! – Tentei retomar o fôlego, já não aguentando mais rir. – Louis, o magnífico e Harry, o maravilhoso são os reis do mundo! – Falei o mais rápido que pude, não sabendo se ria das últimas cócegas ou da frase ridícula que eu era obrigada a falar sempre que algo assim acontecia.
  - Eu não escutei isso. – Liam se pronunciou ainda parado na porta do quarto. Os outros dois meninos estavam rindo e ele balançava a cabeça em negação.
  - Também acho isso ridículo! – Me defendi, voltando a sentar na cama e arrumar a minha roupa, já que a minha blusa parecia ter subido até o pescoço.
  Fomos interrompidos pelo som da campainha tocando. Era o entregador da pizza que os meninos haviam pedido. Eu estava com tanta fome que poderia comer uma inteira sozinha. Nós quatro descemos juntos e eu aproveitei para conhecer melhor a cozinha, descobrindo onde os copos e pratos ficavam guardados. Comemos as três pizzas e os meninos deixaram o último pedaço pra mim, o que eu achei muito fofo. Eles me chamaram pra assistir um filme, mas eu estava cansada demais. Me despedi de cada um e subi para o meu quarto. Tomei um banho demorado no MEU banheiro e coloquei o primeiro pijama que consegui tirar da mala. Não estava afim de arrumar todas as minhas coisas naquele momento, muito menos bagunçar a mala procurando um pijama bonitinho. Optei por uma calça cinza de moletom e uma regata branca. Deitei na cama e nem me dei ao trabalho de puxar o cobertor; apenas me joguei em cima dela e cinco minutos depois caí em um sono profundo.

Capítulo III
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