CAPÍTULO SEIS
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%Jongho%'s POV:
Eu a observei nadar pela piscina com uma tranquilidade quase ensaiada, como se tentasse desesperadamente fingir que eu não estava ali. E, francamente, era engraçado. %Mia% tinha essa habilidade de transmitir um ar de indiferença, mas os pequenos detalhes — o jeito que desviava o olhar ou como seus ombros ficavam tensos quando eu falava — diziam muito mais.
Ela nadou até a borda oposta, apoiando-se ali, de frente para mim. Seu cabelo úmido brilhava sob a luz suave do ambiente, e por um momento, tudo pareceu mais calmo. Mas a calma durou pouco; havia algo nela que me fazia querer provocá-la, testar seus limites.
Terminei o último gole da minha cerveja, percebendo que a garrafa estava vazia. Coloquei-a de lado e, com um tom casual, quebrei o silêncio:
— Minha cerveja acabou. Vou buscar outra. Quer uma também?
Ela ergueu os olhos para mim, hesitando por um segundo antes de responder.
— Por que não? — respondeu, tentando soar desinteressada, mas havia algo em sua expressão que me fez sorrir.
Levantei-me, sentindo o olhar dela me seguir por um momento, embora ela tentasse disfarçar.
— Já volto. Não fuja enquanto eu estiver fora — provoquei, piscando de leve antes de sair da piscina.
Enquanto caminhava em direção à casa, molhando o caminho mais uma vez, pensei em como essa noite estava se tornando muito mais interessante do que eu havia planejado.
Voltei para a piscina com duas cervejas nas mãos, o som das minhas sandálias molhadas ecoando pelo quintal silencioso. Quando cheguei à beirada, %Mia% ainda estava no mesmo lugar, apoiada contra a borda, mas parecia mais relaxada agora, a água deslizando suavemente ao redor dela.
Desci devagar os degraus da piscina, sentindo a água fria novamente me envolver, e fui direto até onde ela estava. Sem pedir licença ou perguntar, acomodei-me ao lado dela, deixando as duas garrafas sobre a borda.
— Aqui está sua cerveja, senhorita
“não vou dividir a casa com você” — provoquei, entregando-lhe uma das garrafas com um leve sorriso.
Ela me lançou um olhar irritado, mas pegou a cerveja mesmo assim, girando a tampa e dando um gole longo. Não pude evitar reparar no jeito que seus lábios se moviam ao redor da garrafa, e desviei o olhar antes que ela percebesse.
Ficamos em silêncio por um momento, o som da água e o distante eco de uma música vindo de alguma casa próxima preenchendo o espaço. Resolvi quebrar o gelo:
— Então, isso aqui está dentro do que você imaginava para sua noite de Ano Novo?
Ela bufou levemente, virando-se para mim.
Sorri, me recostando na borda, com a cerveja na mão.
— Bom, eu não sou tão ruim assim para companhia, vai...
Ela riu, mas não respondeu de imediato. Fiquei observando-a pelo canto do olho, curioso para saber o que estava passando em sua mente. Alguma coisa me dizia que, apesar de todo o jogo duro, ela estava gostando tanto quanto eu dessa confusão.
Dei mais um gole na minha cerveja, deixando o silêncio entre nós se estender por alguns instantes. Ela parecia pensativa, os olhos fixos na garrafa que segurava, como se as respostas para qualquer dilema estivessem ali.
Resolvi perguntar, minha curiosidade crescendo a cada momento que passávamos juntos:
— Então, %Mia%... do que você está fugindo?
Ela ergueu uma sobrancelha e me encarou, como se eu tivesse invadido algum território proibido. Mas não recuou, nem pareceu ofendida. Apenas suspirou.
— Fugindo? Quem disse que eu estou fugindo?
Sorri de canto, apoiando os cotovelos na borda da piscina enquanto a encarava.
— Vamos lá, ninguém aluga uma casa isolada na praia, na véspera de Ano Novo, só porque quer um momento tranquilo. Tem mais coisa aí.
Ela deu uma risada seca, balançando a cabeça.
— E você? Está aqui sozinho, fazendo macarrão para duas pessoas e relaxando na piscina. Quer mesmo falar sobre fugir de alguma coisa?
Toque certeiro. Mas não era sobre mim, pelo menos não ainda.
—
Touche. Mas eu perguntei primeiro.
Ela virou o rosto para o céu por um instante, como se procurando paciência.
— Tá bom, senhor curioso. Não estou fugindo, estou... me dando um tempo.
— Um tempo? — ecoei, intrigado.
— Sim, um tempo das pessoas, das expectativas... — ela pausou, olhando para mim, como se avaliasse se deveria continuar. — Só queria passar uma virada de ano sem barulho, sem ninguém me cobrando planos, sem perguntas sobre minha vida amorosa ou carreira. Só... eu.
Havia algo na maneira como ela falou que me deixou mais atento. Uma vulnerabilidade que contrastava com a persona irritada e sarcástica que vinha mostrando.
— Entendi. Mas parece que não deu muito certo, considerando que agora tem um intruso na sua casa alugada. — Apontei para mim mesmo, tentando aliviar o clima.
Ela sorriu, embora seus olhos ainda carregassem algo mais profundo.
— É, parece que meu plano foi por água abaixo.
Quis perguntar mais, mas resolvi esperar. Em vez disso, brinquei:
— Pelo menos você ganhou um bom macarrão no processo.
Ela revirou os olhos, mas sorriu de verdade dessa vez.
O silêncio voltou, mas dessa vez era confortável. Dei um gole na cerveja e decidi que talvez fosse minha vez de abrir o jogo. Afinal, por que não?
Eu a observei por um momento antes de soltar um suspiro leve, sentindo que, talvez, fosse justo compartilhar um pouco mais sobre mim também.
— Sabe, %Mia%, eu meio que entendo isso de querer um tempo. — Minha voz saiu mais suave do que eu pretendia, quase como se fosse um desabafo.
Ela ergueu o olhar, surpresa com o tom. Não disse nada, mas o jeito como inclinou a cabeça levemente me incentivou a continuar.
— Minha vida tem sido um pouco... intensa demais ultimamente. Entre trabalho, expectativas e o barulho constante de tudo ao meu redor, eu só precisava de um lugar para desligar, mesmo que por um dia.
— Então, você também está fugindo? — perguntou, um sorriso leve brincando em seus lábios.
— Talvez. — Dei de ombros, dando mais um gole na cerveja antes de encará-la novamente. — Mas, ao contrário de você, não fiz promessas de silêncio e solidão.
Ela riu, o som ecoando suavemente pela piscina, e eu me senti um pouco mais leve.
— Bem, parece que estamos no mesmo barco... ou melhor, na mesma casa. — Ela ergueu a garrafa de cerveja como se brindasse à ironia.
— Parece que sim. — Toquei minha garrafa na dela, deixando um sorriso surgir no canto dos lábios.
A conversa parecia fluir naturalmente, como se a tensão inicial tivesse se dissipado com as palavras. Cada detalhe dela me intrigava mais — a maneira como gesticulava enquanto falava, como ria com sinceridade, e até o jeito determinado que tinha quando me provocava.
Mas, antes que pudesse me perder em pensamentos novamente, ela quebrou o silêncio:
— Ok, agora é minha vez de perguntar. O que você faz?
Sorri, já esperando a pergunta.
Ela estreitou os olhos, desconfiada.
— Certo... e como é que eu nunca ouvi falar de você?
— Talvez porque você viva em uma bolha bem específica. — Sorri de canto, me divertindo com sua reação. — Mas não é algo tão incomum. Não espero que todos saibam quem eu sou.
Ela pareceu ponderar, balançando a cabeça.
— Ok, mas não pense que isso vai me impressionar.
— Não estava tentando. — Ergui as mãos em rendição, mas meu sorriso entregava o quanto eu gostava da resistência dela.
O silêncio voltou por alguns instantes, mas dessa vez havia algo mais no ar. Ela apoiou os braços na borda da piscina, olhando para a água como se refletisse sobre algo.
E, honestamente, eu esperava que essa noite tivesse mais surpresas guardadas. Afinal, %Mia% era um mistério que eu definitivamente estava começando a gostar de desvendar.
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%Mia%'s POV:
%Jongho% parecia genuinamente confortável ao meu lado, algo que eu não esperava. Talvez fosse o efeito da cerveja, ou o fato de que a noite estava surpreendentemente tranquila. Quando ele começou a falar da própria vida, algo em mim se desarmou. Não era comum alguém se abrir tão espontaneamente, ainda mais alguém que, aparentemente, vivia sob os holofotes.
Eu o observei enquanto ele falava sobre sua necessidade de silêncio e sobre escapar das expectativas. Apesar do tom descontraído, havia algo ali que eu reconhecia. Essa coisa de carregar um peso invisível, algo que só você sente, mas que não sabe como dividir com os outros.
Quando ele terminou, deixando a conversa cair em um silêncio confortável, decidi que talvez fosse justo compartilhar um pouco mais também. Afinal, estávamos aqui, dividindo a mesma casa, a mesma piscina... e, de certa forma, talvez também as mesmas dúvidas.
— Bom, já que estamos nessa troca de confissões espontâneas... acho que posso te contar algo também. — Falei, meio hesitante, enquanto olhava para a água.
Ele virou o rosto na minha direção, encorajando-me com um sorriso leve, mas sem pressa.
— Eu sou publicitária. — Comecei, sentindo as palavras pesarem na língua. — Ou pelo menos tento ser.
— Tenta? — Ele perguntou, com uma sobrancelha arqueada.
Assenti, soltando uma risada sem humor.
— É. Parece que, com o tempo, essa profissão deixou de fazer sentido pra mim.
Respirei fundo, tentando organizar os pensamentos antes de continuar.
— Quando eu comecei, achava que estava no caminho certo. Criar, inovar, trazer ideias novas para o mundo... tudo parecia tão incrível. Mas agora... — dei de ombros, encarando a borda da piscina — parece que estou apenas girando em círculos. Os dias passam, e eu sinto que não estou indo a lugar nenhum.
— E isso te incomoda? — Ele perguntou, sem julgamentos, apenas curiosidade.
Soltei uma risada amarga.
— Muito. Eu estou quase nos 30, sabe? E às vezes sinto que não fiz nada significativo. Minha carreira parece um grande vazio. E pra ajudar... — pausei, mordendo o lábio.
— O quê? — Ele incentivou, inclinando a cabeça de leve.
— Bem, tive um término recente. — Confessei, finalmente levantando o olhar para encará-lo. — Um namoro de anos, que eu achava que ia dar certo. E agora... agora eu me sinto um completo fracasso.
%Jongho% não disse nada de imediato, mas o olhar dele era tudo o que eu precisava. Não era pena, nem curiosidade mórbida, apenas uma presença tranquila, como se dissesse que estava tudo bem me sentir assim.
— Então, é por isso que você está aqui? Fugindo um pouco de tudo? — Ele perguntou suavemente.
Assenti, soltando um suspiro pesado.
— Acho que sim. Achei que passar o Ano Novo sozinha, longe de tudo e de todos, pudesse me ajudar a clarear a mente.
Ele deu um gole na cerveja, pensativo, antes de me olhar novamente.
— Bom, pelo menos agora você sabe que não está sozinha.
Soltei uma risada leve, surpresa com a simplicidade da resposta. Talvez ele estivesse certo. Mesmo que essa não fosse a virada que eu havia planejado, havia algo na companhia dele que, de alguma forma, fazia o peso diminuir um pouco.
Ele parecia tão tranquilo, recostado na borda da piscina, que me perguntei como alguém com aquele ar confiante e um sorriso fácil podia estar lidando com o peso das expectativas. Mas, ao mesmo tempo, sua presença parecia tão genuína que me deu coragem para perguntar.
— E você? — Quebrei o silêncio, olhando diretamente para ele. — Por que você disse que precisava fugir? Está infeliz com sua carreira?
%Jongho% ergueu uma sobrancelha, surpreso pela minha pergunta direta, mas não pareceu incomodado. Ele ponderou por um momento antes de responder, como se estivesse organizando as palavras.
— Não é bem isso. — Disse por fim, olhando para o horizonte antes de voltar a me encarar. — Não estou infeliz com a minha carreira em si. Eu amo o que faço. Amo cantar, amo estar no palco, amo os fãs.
— Então o que é? — Insisti, curiosa.
Ele suspirou, balançando a cabeça levemente.
— É mais o que vem com isso tudo. A pressão, as expectativas... as pessoas acham que você tem que ser perfeito o tempo todo, sabe? Sempre disponível, sempre sorrindo, sempre no controle.
Eu assenti, entendendo perfeitamente o que ele queria dizer. Ele continuou:
— Não importa o quanto você se dedique, parece que nunca é o suficiente. Sempre tem alguém esperando mais, cobrando mais. E às vezes, tudo o que você quer é... sumir um pouco.
— Sumir? — Perguntei, intrigada.
Ele riu baixinho, um som que parecia misturar cansaço e alívio.
— É, sumir. Respirar. Ter um momento só seu, sem ninguém te dizendo o que fazer ou o que esperar de você.
Fiquei quieta por um instante, refletindo sobre suas palavras. Eu sabia como era se sentir sufocada pelas expectativas, mas imaginava que, no caso dele, a pressão devia ser mil vezes maior.
— Deve ser difícil. — Comentei, meu tom mais suave agora.
Ele me olhou com um sorriso pequeno, mas genuíno.
— É. Mas acho que todo mundo carrega seu próprio peso, não é? Você também está fugindo, pelo que parece.
Soltei uma risada curta, olhando para a água.
— Parece que sim. Mas pelo menos, por enquanto, acho que não estou fugindo sozinha.
%Jongho% deu um gole na cerveja, um brilho divertido nos olhos.
— Bem, eu diria que tem companhia pior por aí.
Sorri de volta, e pela primeira vez em muito tempo, me senti... compreendida.
O som repentino dos fogos estourando no céu cortou o momento tranquilo como uma lâmina. Meu corpo reagiu antes que eu pudesse processar, e me recostei instintivamente em %Jongho%. O susto foi mútuo; senti quando ele também se encolheu levemente, mas seus braços logo envolveram minha cintura, me puxando para mais perto.
Antes que pudesse racionalizar o que estava acontecendo, meus braços encontraram o caminho ao redor do seu pescoço, em um gesto tão natural que quase me assustou mais que os próprios fogos.
O silêncio entre nós pareceu gritar mais alto que o estouro dos fogos no céu. Senti seu peito subir e descer lentamente contra o meu, e, quando finalmente tomei coragem para olhar para ele, me deparei com seus olhos ainda fechados, como se estivesse tentando recuperar o controle.
Meu olhar vagou pelo seu rosto. As feições fortes, mas suaves ao mesmo tempo, a linha do maxilar que parecia desenhada à mão, os lábios que, por algum motivo, chamavam mais atenção do que eu gostaria de admitir. Tudo parecia mais intenso sob o brilho intermitente das luzes coloridas que iluminavam o céu.
E então, ele abriu os olhos.
O contato visual foi como um raio, me atingindo em cheio. Havia algo naquele olhar — uma mistura de surpresa e algo que eu não conseguia decifrar. Um calor inexplicável subiu pelo meu corpo, me fazendo perceber o quão próximos estávamos.
"Isso vai dar problema." Foi o único pensamento que consegui formar antes de agir por impulso e me afastar rapidamente.
— Ok, ok, isso foi... inesperado. — Soltei, tentando soar casual, embora minha voz estivesse um pouco mais alta do que o normal.
%Jongho% arqueou uma sobrancelha, e um pequeno sorriso curvou seus lábios.
— Está com medo de fogos agora? Ou será que só queria uma desculpa para pular no meu colo?
Revirei os olhos, cruzando os braços e tentando ignorar o calor no meu rosto.
— Ah, claro, porque você é tão irresistível, não é?
Ele deu uma risada baixa, claramente se divertindo.
— Não precisa admitir agora, %Mia%. Eu posso esperar.
— Esperar sentado, de preferência. — Retruquei, fingindo irritação enquanto voltava a encarar a água.
Mas, mesmo enquanto tentava retomar o controle da situação, a sensação do seu toque e aquele olhar intenso continuavam a me perseguir. Definitivamente, isso ia dar problema.
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