Capítulo Três
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%Mia%’s POV:
Caminhávamos em direção à casa, cada um segurando uma das minhas malas, quando de repente parei, e ele se virou para mim com um olhar confuso.
— Espera! — exclamei, sentindo um calafrio subir pela espinha. — Eu nem sei o seu nome, nem conheço você. Como posso saber que você não é um psicopata ou algo do tipo?
Ele ergueu uma sobrancelha, claramente surpreso com a acusação.
— Claro que eu não sou nada disso, %Mia%! — respondeu, tentando manter o tom calmo.
— É exatamente o que um psicopata diria — murmurei, cruzando os braços e encarando-o com suspeita.
Ele soltou um suspiro exasperado, deixando minha mala no chão de uma vez.
— Ok! Faça o que você quiser, %Mia%. Se quiser, pode dormir no seu carro ou ir embora, tanto faz. Eu desisto! — disse ele, virando-se e marchando de volta para a cozinha sem olhar para trás.
Fiquei ali, parada e pensativa, olhando para a mala largada no chão. Eu sabia que minha reação talvez tivesse sido um pouco exagerada, mas era difícil confiar em alguém que eu acabara de conhecer. Mesmo assim, ele parecia genuíno — e, sinceramente, eu estava cansada demais para continuar com aquela desconfiança.
Respirei fundo, decidindo que talvez fosse hora de diminuir a tensão. Caminhei até a cozinha, parando ao lado do balcão que dividia os dois ambientes. Ele estava de costas, mexendo em alguma coisa na pia, mas percebi pelo jeito que os ombros dele caíram que ele havia me notado ali.
— Ei… — murmurei, pigarreando antes de continuar. — Desculpa pela cena. É só que… essa situação toda é um pouco estranha, sabe? Acho que fiquei na defensiva.
Ele parou o que estava fazendo e se virou para mim, com uma expressão mais suave no rosto.
— Tudo bem, eu entendo. — Ele me lançou um sorriso leve, que quase me desarmou. — Eu me chamo
%Jongho%.
Assenti, sorrindo timidamente enquanto finalmente conseguia relaxar um pouco.
— %Mia%. — Estendi a mão para ele, numa tentativa de selar a paz entre nós.
Ele apertou minha mão rapidamente e assentiu, ainda com um leve sorriso no rosto.
— Pronto, agora você já sabe meu nome. E posso garantir, não sou psicopata.
Não consegui evitar uma risada leve, sentindo a tensão aos poucos se dissipar.
%Jongho% se recostou no balcão, cruzando os braços enquanto me observava com um ar curioso.
— Então, quais eram os seus planos para a virada do ano? — perguntou, com um tom leve de interesse.
Suspirei, desviando o olhar para a janela, onde a vista da praia parecia se estender até o horizonte. A ideia de passar a noite de Ano Novo ali, sozinha e em paz, tinha sido o motivo principal para eu escolher aquele lugar.
— Nada muito especial, na verdade — respondi, dando de ombros. — Eu só queria um tempo para mim, sabe? A ideia era ficar sozinha, aproveitar a piscina, ver os fogos de artifício à distância e… pensar um pouco na vida.
Ele assentiu, e eu percebi que havia um entendimento silencioso em seu olhar, como se ele compreendesse exatamente o que eu queria dizer.
— Então, você também veio para fugir? — ele perguntou, um leve sorriso surgindo em seus lábios.
Sorri de volta, me sentindo um pouco mais à vontade.
Nossos olhares se encontraram por um momento, e senti uma onda estranha de curiosidade e algo mais indefinido passando por mim. %Jongho% também parecia estar me avaliando, mas não de um jeito invasivo; havia um toque de gentileza em seus olhos. Foi o suficiente para me deixar um pouco desconfortável, então fui a primeira a desviar o olhar, disfarçando com uma risada leve.
— Bom, você provavelmente já se instalou no quarto principal, né? — comentei, tentando soar casual enquanto olhava para o lado. — Então, acho que vou ter que me contentar com o quarto de hóspedes… pelo menos por essa noite.
%Jongho% deu de ombros, o semblante relaxado.
— É… faz sentido. Mas, se precisar de alguma coisa, é só avisar, ok? Não quero ser um
“companheiro de casa” ruim — disse ele, num tom brincalhão.
Assenti, tentando conter o sorriso que ameaçava surgir. Ele parecia mais fácil de lidar do que eu tinha imaginado no começo, e talvez essa estadia forçada não fosse tão ruim assim…
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%Jongho%’s POV:
Eu a ajudei a subir com suas malas para o andar de cima e ela se instalou no pequeno - mas nada modesto - quarto de hóspedes e enquanto ela se preparava para tomar um banho, eu, claro, desci de volta para a cozinha.
Resolvi preparar um macarrão ao molho quatro queijos parecia uma boa ideia — simples, mas gostoso e reconfortante. Comecei a organizar tudo no balcão, separando os queijos, creme de leite, macarrão e temperos.
Enquanto cortava o queijo em cubos, uma ideia me veio à mente. Já que %Mia% também ficaria aqui esta noite, por que não fazer um pouco mais e dividir com ela? Afinal, estávamos numa situação inusitada, e talvez compartilhar uma refeição ajudasse a quebrar o gelo. Eu não tinha nenhum compromisso para a virada, e, pelo que ela disse, ela também planejava uma noite tranquila. Nada melhor do que um bom prato de massa para acompanhar.
Liguei o fogo e comecei a derreter os queijos na panela, mexendo para formar um molho cremoso. O aroma tomou conta da cozinha, e imaginei que ela pudesse sentir o cheiro lá de cima. Era quase um convite involuntário para ela descer. Preparei uma porção generosa de macarrão, calculando o suficiente para duas pessoas, e fui ajustando o sal e a pimenta enquanto o molho engrossava.
Enquanto terminava de misturar o molho ao macarrão, ouvi os passos de %Mia% descendo as escadas. Tentei não olhar imediatamente, mas acabei espiando de canto de olho. Ela tinha trocado de roupa, agora usando um short de tecido leve e uma blusa branca que marcava um pouco mais suas curvas. Parecia relaxada, mas havia algo de calculado na forma como ela caminhava até o sofá.
Sem dizer uma palavra, %Mia% se acomodou, jogando as pernas para cima do móvel e ligando a TV. Na mão, um pacote de salgadinhos, que ela abriu com calma, como se ignorar o cheiro delicioso do macarrão fosse parte de uma estratégia. Eu observei de relance enquanto ela fingia não me notar, focando nos clipes que passavam na tela.
Dei um sorriso discreto. Era óbvio que ela estava se fazendo de difícil, mas também era meio engraçado. O cheiro do molho quatro queijos era praticamente irresistível, e eu sabia que ela estava ciente disso.
— Parece que alguém veio bem preparada — comentei casualmente, colocando o macarrão em dois pratos, sem nem esperar que ela reagisse.
Ela finalmente olhou na minha direção, arqueando uma sobrancelha enquanto dava uma mordida no salgadinho.
— Não gosto de incomodar ninguém — respondeu, num tom provocador.
Ri baixo, aproximando-me com os pratos.
— Não parece ser o caso aqui. Fiz o suficiente para dois. Claro, se você quiser continuar com os salgadinhos, tudo bem. Mais para mim. — Coloquei um prato na mesa de centro ao lado dela e me sentei com o meu na poltrona próxima.
Ela lançou um olhar hesitante para o prato, depois para mim, mas não disse nada. Afinal, o cheiro falava por si.
Dei uma garfada generosa no macarrão e suspirei dramaticamente, como se estivesse experimentando a melhor refeição da minha vida.
— Hum… perfeito. O molho está no ponto. Cremoso, com a mistura exata de queijos. — Fiz uma pausa, olhando para ela. — Ah, mas claro, você não precisa disso. Salgadinhos são sempre uma escolha tão…
sofisticada.
Ela manteve os olhos grudados na TV, mas percebi um leve erguer de sobrancelhas. %Mia% mastigou lentamente, como se estivesse provando um caviar imaginário, e deu de ombros.
— Não é sobre o que você come, e sim sobre a companhia, não é? — retrucou, seca, sem me encarar.
Sorri, apreciando o desafio. Peguei outra garfada, dessa vez com mais exagero, deixando o cheiro do molho invadir o ambiente.
— Tem razão, a companhia faz toda a diferença. É uma pena que a sua seja só um pacote de salgadinhos. — Inclinei-me levemente para frente, colocando o prato mais perto dela na mesa de centro. — Se mudar de ideia, sabe onde encontrar algo que não seja ultraprocessado.
Ela virou os olhos na minha direção por um breve momento, depois voltou a encarar a TV. O jogo dela estava forte, mas eu podia ver como ela mordia de leve o canto do lábio, talvez tentando ignorar o estômago que provavelmente já dava sinais de rendição.
— Estou muito bem assim, obrigada — respondeu, com um tom quase convincente.
Apenas sorri e dei de ombros.
— Tudo bem, então. Mais para mim. — Dei outra garfada, saboreando lentamente, enquanto ela fingia não me notar.
Eu tinha paciência, e a batalha estava longe de terminar.
Terminei de mastigar mais uma garfada e olhei para %Mia%, que agora se mexia um pouco no sofá, como se estivesse desconfortável. Ela abriu mais uma vez o pacote de salgadinhos, mas o barulho plástico parecia mais uma forma de preencher o silêncio do que uma necessidade real de comer.
— Sabe, %Mia%, eu li em algum lugar que salgadinhos podem causar ressaca alimentar. Muito sódio, pouco sabor real. — Comentei casualmente, fingindo estar mais interessado no meu prato do que nela.
Ela riu sem humor, ainda encarando a TV.
— E eu li que provocar alguém que só quer ficar em paz pode ser um sinal de carência. Tá tudo bem aí? Quer desabafar? — respondeu, enfiando mais um salgadinho na boca e mastigando com uma calma calculada.
Sorri, adorando o desafio.
— Só estou preocupado com você, claro. Não quero que perca a chance de experimentar algo que não precise ser conservado por cinquenta anos.
Dessa vez, ela desviou os olhos da tela para me encarar diretamente, apoiando o pacote de salgadinhos no colo.
— Olha,
chef de cozinha, eu já disse que estou bem. Não preciso de um prato cheio de queijo para sobreviver à noite, obrigada.
— Ah, eu percebi — retruquei, inclinando-me um pouco para frente. — Mas sabe o que dizem? Quem desdenha… — Dei uma pausa, apontando para o prato ainda intocado na mesa de centro.
Ela arqueou uma sobrancelha, desafiadora.
— …costuma ter bom senso para não aceitar qualquer coisa que venha de um estranho — completou, mantendo o tom afiado.
Cruzei os braços, rindo baixo.
— Claro, claro. Porque um pacote de salgadinhos de uma prateleira de mercado é muito mais confiável. Quem sabe o que colocam dentro?
Ela me lançou um olhar estreito, mas agora havia um brilho divertido nos olhos dela.
— Pelo menos eu sei que eles não têm
segundas intenções — retrucou, inclinando-se levemente para trás no sofá, como se estivesse muito à vontade.
Inclinei-me para a mesa, pegando meu prato e recostando-me na poltrona.
— Você está dizendo que eu tenho? — perguntei, com um tom quase inocente, mas carregado de provocação.
%Mia% deu uma risada curta, balançando a cabeça.
— Não, %Jongho%, claro que não. Você só parece do tipo que faz um macarrão quatro queijos
perfeito para dividir com uma total estranha porque… é altruísta, certo?
Dei um sorriso satisfeito, saboreando outra garfada enquanto a observava. Ela estava começando a entrar no jogo, e eu adorava cada segundo disso.
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