CAPÍTULO UM
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%Mia%’s POV:
– Nunca subestime o poder de uma mulher na
fossa querendo se isolar do mundo na noite da virada.
Eu revirei os olhos ao ouvir %Selena% rir com %Adele% enquanto eu fechava o notebook da empresa pronta para ir embora.
– Sério, gente? – Cruzei os braços, encarando %Selena% e %Adele% com uma mistura de impaciência e incredulidade. – Eu só quero um pouco de paz e silêncio, e vocês duas ficam aí, me zoando como se eu estivesse cometendo algum crime ao me isolar por algumas noites. Qual o problema?
– Ah, para, vai! – %Adele% respondeu, lançando um olhar cúmplice para %Selena%. – O
"problema" é que você está fazendo muito drama para alguém que poderia muito bem estar aproveitando a virada em uma festa incrível. Em vez disso, vai se entocar sozinha numa praia!
%Selena% assentiu, rindo e pegando uma taça de vinho.
– E, convenhamos, você se isolando? Logo você, a mais sociável do grupo?
– Bom, as coisas mudam – revirei os olhos de novo. – Quem disse que eu não posso tirar um tempo só pra mim?
Elas se entreolharam com aquele sorriso típico de quem já estava pronta para me desafiar.
– Tá bom, tá bom – respirei fundo. – Mas se eu não responder mensagens, nem adianta insistirem, ok? Nada de vídeos, chamadas ou
“surpresinhas de última hora” que, por acaso, envolvem aparecerem do nada na praia da cidade que eu vou, entenderam?
%Adele% levantou as mãos, como se se rendesse.
– Tá bom, tá bom, senhorita reclusa!
%Selena% piscou para mim, claramente se divertindo.
– A gente só quer garantir que você não se afunde na fossa mais do que o necessário. Afinal, nada cura um coração partido como uma boa festa ou... quem sabe,
o destino. – Eu posso muito bem cuidar do meu próprio destino, obrigada! – respondi, segurando o riso. Mas no fundo, sabia que elas não iam desistir tão fácil.
Desci até o estacionamento com %Selena% e %Adele% tagarelando atrás de mim, ambas insistindo até o último segundo para que eu mudasse de ideia. Quando finalmente chegamos aos carros, me virei para elas com um suspiro, tentando manter a paciência.
– Olha, foi ótimo, meninas – comecei, tentando não revirar os olhos de novo –, mas vou aproveitar esse tempo pra mim, ok? Nada de festa, nada de gente... só eu, a praia e o silêncio.
%Adele% me puxou para um abraço, exageradamente dramática.
– Tudo bem, mas se você não responder à primeira mensagem do ano saiba que vamos aparecer lá, para te resgatar da solidão.
– Prometo responder só pra evitar isso – respondi com uma risada.
%Selena% acenou, ainda sorrindo.
– Só vai. E se cuide, viu? Nada de encontrar com
desconhecidos suspeitos por aí.
– Cuidar de mim é tudo o que planejo, acreditem – lancei—lhes um último olhar de despedida e entrei no carro.
Assim que fechei a porta, soltei um suspiro aliviado. Liguei o motor e, ao sair do estacionamento, deixei a música baixa me envolver, já imaginando como seria aquele tempo longe de tudo e de todos. O trânsito estava tranquilo, mas minha cabeça já estava a quilômetros dali, perdida nas imagens da casa de praia que eu havia alugado.
Era o retiro perfeito: um chalé isolado, com uma banheira espaçosa que eu mal podia esperar para usar, uma piscina que parecia quase deserta na vista das fotos e, claro, a praia logo ali, apenas alguns passos de distância. Pensei na paz que aquilo traria. Sem barulho, sem trabalho, sem conversas forçadas... apenas eu, o som das ondas e a liberdade de não ter que fazer nada além de relaxar.
Era exatamente disso que eu precisava depois de tanto tempo.
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%Jongho%’s POV:
%Mingi%, %San% e Wooyoung deram alguns tapinhas nas minhas costas enquanto elogiavam a minha escolha. Era o jeito deles de mostrar apoio, mesmo quando minhas escolhas pareciam um pouco fora do comum para eles.
– Cara, você realmente vai passar a virada sozinho? – Wooyoung perguntou, com uma mistura de surpresa e respeito. – Quer dizer, a gente sabe que não é muito a sua cara, mas, se é isso que você quer…
– Eu preciso de um tempo pra pensar – respondi, tentando encontrar as palavras certas para explicar sem soar dramático. – Esse ano foi meio...
confuso. Quero um tempo só meu, pra colocar as coisas em ordem, sabe? Refletir sobre o que eu quero pro próximo ano, as metas que deixei de lado.
%Mingi% assentiu, compreensivo.
– Todo mundo precisa disso de vez em quando. E, olha, se alguém entende querer espaço e tempo pra si mesmo, sou eu.
%San% sorriu de lado e deu mais um tapinha em meu ombro.
– %Jongho%, se esse é o seu jeito de começar o ano, então a gente apoia. E te conhecendo, sei que não tomaria essa decisão se não tivesse uma razão boa.
Wooyoung concordou, com um brilho de admiração nos olhos.
– E talvez você até inspire alguns de nós. Tem algo meio...
zen, sei lá, nessa sua decisão. Quem sabe ano que vem a gente não acaba copiando?
– Vocês nunca conseguiriam ficar uma virada inteira em silêncio e sozinhos.
– Verdade, talvez não – Wooyoung admitiu, rindo também. – Mas isso só prova o quanto te respeitamos por conseguir. E qualquer coisa... estamos a uma chamada de distância, ok?
Assenti, sentindo o apoio deles. Sabia que essa escolha podia parecer solitária para alguns, mas, com os amigos certos, mesmo uma virada de ano solitária ainda parecia repleta de companheirismo…
Assim que cheguei em casa, senti o familiar aroma do ensopado que minha mãe sempre fazia em datas especiais. Ela estava na cozinha, mexendo a panela enquanto cantarolava baixinho, imersa na preparação. Coloquei minha mochila no chão e fui até ela, encostando de leve para que ela percebesse minha presença.
– Oi, mãe – murmurei, inclinando—me para deixar um beijo em sua testa. Ela sorriu, surpresa, e me abraçou com carinho.
– Oi, meu filho! – disse ela, com aquele tom acolhedor de sempre. – Pensei que você fosse direto para a festa com seus amigos. As comemorações da sua empresa não começam hoje?
Respirei fundo, hesitando por um segundo antes de responder.
– Então… eu tomei uma decisão diferente este ano. Vou passar a virada sozinho, numa casa de praia que aluguei. Quero um tempo para mim, pra pensar e… e entrar no novo ano com a cabeça no lugar.
Ela me olhou com certa surpresa, mas logo sua expressão suavizou, e ela assentiu, compreensiva.
– Entendo, %Jongho%. Às vezes, é mesmo importante a gente se afastar um pouco, dar espaço para refletir. Acho bonito você querer isso, de verdade.
– Eu sabia que você entenderia – sorri, sentindo—me mais leve com seu apoio. – Sabe como o ano foi complicado pra mim. Parece que... que preciso de uma virada que seja minha, sabe? Sem festa, sem barulho.
Ela passou a mão pelo meu cabelo, o carinho familiar que sempre me acalmava.
– Está certo, meu filho. A gente passa a vida correndo, e nem sempre dá pra parar e olhar para dentro. Se é isso que você precisa, vá em frente. Mas me promete que vai cuidar de si e que vai me ligar à meia noite?
– Prometo – respondi, rindo um pouco. – E, se eu não responder de imediato, é porque talvez eu esteja dormindo antes mesmo dos fogos.
Ela riu, apertando meu ombro.
– Ah, meu menino especial… Boa sorte, e aproveite seu momento. Você merece esse tempo só pra você.
Com um abraço longo e silencioso, senti que não precisava de mais nada para seguir com minha decisão.
Subi para o quarto, sentindo um misto de calma e expectativa. Minha decisão parecia mais concreta agora, especialmente depois de conversar com a minha mãe. Peguei minha mala, já parcialmente pronta, e comecei a acrescentar as últimas coisas: algumas roupas confortáveis, um casaco para as noites frescas, meu caderno de anotações e, claro, um bom livro para me fazer companhia.
Ao fechar a mala, respirei fundo, observando o quarto. Esse espaço tão familiar que, por algum motivo, agora parecia mais um lembrete de tudo que eu queria deixar para trás, ao menos por uns dias. Peguei minha mochila com alguns itens essenciais, desliguei as luzes e desci as escadas em silêncio.
Minha mãe estava na sala, me esperando para a despedida. Ela sorriu, acenando e me desejando boa viagem mais uma vez. Com um último abraço, parti.
Entrei no carro, ajeitei a mala no banco de trás e liguei o motor. A estrada até a praia era relativamente longa, cerca de três horas de viagem. A primeira hora passou tranquilamente, com a cidade aos poucos ficando para trás. Conforme avançava, as paisagens urbanas começaram a dar lugar a estradas ladeadas por árvores e montanhas, e o ar já parecia diferente, mais puro e fresco.
O rádio tocava baixinho, mas meus pensamentos estavam longe, imersos na ideia do que essa virada representava para mim. Não sabia exatamente o que esperava encontrar nesse tempo sozinho, mas sentia que precisava desse momento de silêncio para reavaliar as coisas, refletir sobre o ano que passou e o que eu realmente queria para o próximo.
Depois de algumas paradas na estrada, avistei finalmente a placa que indicava a entrada da cidade costeira. A adrenalina começou a tomar conta, aquele misto de liberdade e tranquilidade que sempre vinha ao ver o mar. Sabia que essa seria uma viagem solitária, mas, de alguma forma, isso me trazia um conforto que eu não sentia há tempos.
Com um sorriso discreto, acelerei, ansioso para finalmente chegar na casa de praia e aproveitar cada momento da minha própria companhia.
Enquanto dirigia pela estrada sinuosa, o mar começou a aparecer no horizonte, e minha ansiedade se transformou em puro encantamento. A água refletia os últimos raios do sol da tarde, tingindo o céu de tons de laranja, rosa e dourado. As ondas quebravam suavemente na praia quase deserta, criando uma cena que parecia saída de um cartão—postal. Sorri sozinho, feliz por ter tomado essa decisão.
Finalmente, avistei a casa de praia que tinha alugado. Era uma construção charmosa, com janelas amplas e uma varanda de madeira que parecia convidativa para passar as noites olhando as estrelas. Estacionei o carro em frente à casa e desci, sentindo o ar fresco e salgado que vinha do mar.
Fui até a porta de entrada, lembrando—me do que o proprietário havia instruído. Levantei o grande tapete e encontrei o molho de chaves conforme combinado. Porém, notei que havia um segundo molho de chaves ali também. Franzi o cenho por um instante, mas logo relaxei – era comum que as casas de aluguel tivessem chaves extras para emergências, talvez para um caseiro ou para o próprio proprietário.
Com isso, destranquei a porta e entrei, deixando minha bagagem no chão da entrada para explorar o lugar.
A casa era exatamente como nas fotos, e talvez até melhor. O ambiente era acolhedor, com móveis de madeira clara e grandes janelas que deixavam a luz natural invadir cada canto. Havia uma sala de estar confortável, com um sofá macio e uma lareira ao lado – perfeita para uma noite tranquila.
Passei pela cozinha, compacta mas bem equipada, e subi as escadas até o quarto principal. Uma cama grande ocupava o centro do cômodo, e as janelas ofereciam uma vista privilegiada do mar. Eu já podia imaginar a tranquilidade de acordar com o som das ondas.
Desci novamente e fui até a varanda nos fundos, onde uma pequena piscina parecia quase escondida pela vegetação ao redor. Sorri, já imaginando as horas de paz que teria ali.
Saí novamente para buscar as malas no carro, que estava estacionado na rua, bem em frente à casa. Peguei a mochila e a mala do banco de trás e, enquanto trancava o carro, olhei mais uma vez ao redor. A paisagem era realmente perfeita. A rua estava quase deserta, cercada por outras casas de veraneio, mas nenhuma com tanta gente – parecia que todos já estavam na praia, preparando—se para a virada. Suspirei, contente por ter encontrado um lugar tão tranquilo.
Levei as malas para dentro e as deixei próximas à escada, pensando que, mais tarde, organizaria tudo com calma. A princípio, só queria sentir o lugar e me acomodar.
Comecei tirando o essencial da mala: um par de roupas leves e o livro que trouxera para ler à beira da piscina. Coloquei o livro sobre a mesinha da sala e fui até a cozinha, guardando algumas das poucas coisas que havia trazido. Na geladeira, deixei algumas bebidas e snacks para os próximos dias.
Subi para o quarto, coloquei minha mochila em uma cadeira e aproveitei para abrir a janela. A brisa fresca do mar entrou, preenchendo o ambiente com um cheiro que só as cidades costeiras têm – algo misto de sal, areia e liberdade.
Finalmente, me sentei na cama, respirando fundo. Eu mal tinha acabado de chegar, mas já sentia que aquele seria o refúgio que tanto precisava.
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