As Duas Faces

Escrita porNatashia Kitamura
Editada por Natashia Kitamura

CAPÍTULO 2

Tempo estimado de leitura: 16 minutos

  — ‘Cê tá brincando, né? — Mariana perguntou, abestada.
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  Eu estava com minhas amigas do trabalho, pessoas que não tinham nenhuma relação com o %Arthur% e que poderiam julgá-lo da maneira como elas quisessem.
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  — Você tentou falar com ele? — Caroline, outra integrante do grupo, perguntou.
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  — Estamos brigados. Mas não por isso, óbvio. Eu só acho que ele é sempre assim, relaxado demais. E agora tem mais essa. Não quero acreditar, mas está difícil lutar contra.
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  — São muitas provas — Mariana concordou. — Mas acho que a maneira mais fácil de resolver isso, é através do diálogo.
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  Com Caroline consentindo, aceitei que elas tinham razão. %Arthur% sempre gostou de conversar sobre nós, a fim de não termos diferenças demais. Sabíamos dos defeitos um do outro e era por isso que nos dávamos tão bem. Nós sabíamos nos respeitar. Contudo, essa era uma outra história.
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  Cheguei em casa decidida a ter uma conversa com ele. Durante o caminho de volta do trabalho, pensei em N caminhos que a conversa poderia seguir, e maneiras eficazes de terminarmos sem problema. Assim, no momento em que ouvi o bater da porta, fui até a porta da cozinha, aonde estava preparando o nosso jantar, e o vi.
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  Minha boca abriu.
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  Seus cabelos estavam cortados. O cabelo que eu amava já não estava mais ali.
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  — Por que cortou?
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  Ele não se mostrou interessado em ver minha reação. Afrouxou o nó da gravata e jogou a mochila e o paletó na poltrona, vindo em minha direção, mas passando direto por mim, entrando na cozinha para beber um copo d’água.
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  — Eu gostava do outro corte — comentei, mas novamente não recebi nenhuma resposta. Ele espiou o que havia dentro das panelas e respirou fundo, antes de voltar a passar por mim, fazendo um leve carinho na minha cintura, e indo para o quarto.
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  — Vou tomar um banho.
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  Ao passar, pude sentir.
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  Fechei meus olhos e engoli o choro.
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  Não era só o cabelo que estava diferente.
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  %Arthur% já não tinha o mesmo aroma de homem que eu gostava.
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  Agora, ele cheirava a perfume caro de marca internacional.
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  Durante noites fiquei acordada, pensando em maneiras de conversar com ele sobre tudo o que estava acontecendo. Durante dias fiquei observando cada nuance de mudança que estava ocorrendo em %Arthur% e ao redor dele. Seus happy hours agora eram com a turma da empresa, o dia do mercado havia mudado para domingo e agora, às terças, ele ia jogar futebol com os amigos do trabalho. Eu nem sabia que ele tinha amigos no trabalho. Um ou outro colega, mas não amigos.
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  Sem perceber, paramos de ir aos encontros com a nossa turma. Devido à agenda de %Arthur%, agora eu ia sozinha para alguns jantares mensais que ocorriam na casa de alguns amigos do colégio e da faculdade, mas aos poucos fui parando de ir, porque não era legal ser a única pessoa sem parceiro E ser o alvo de perguntas sobre o que ele andava fazendo.
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  Além disso, não havia mais carinho entre nós dois. Parecíamos companheiros de quarto. Dormíamos em horários diferenciados e diminuímos as vezes que fazíamos nossas refeições juntos. Eu não cozinhava mais para dois e comecei a frequentar mais o mercado, porque domingo era tarde demais para eu elaborar e preparar as refeições que eu congelaria para levar no serviço durante a semana.
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  E então chegou nosso aniversário de namoro. 10 anos. Doía mais do que trazia alegria. E eu sabia que se estava assim, era porque algo precisava ser feito. Eu só não queria, porque amava %Arthur%. Não posso dizer que não tentei entender o que estava acontecendo. Houveram, durante todo o tempo, algumas tentativas de diálogo. Ele desconversava.
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  — O que quer dizer com o que fiz ontem? O de sempre, fui no futebol. Falando nisso, o que você acha de começarmos a ir numa academia antes do serviço?
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  Tudo o que ele queria fazer envolvendo nós dois, eu fiz. Fiz academia, fiz boxe, fiz crossfit, fiz até um curso idiota de como controlar suas finanças. Nada. Nada fez com que nossa relação melhorasse.
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  Decidi tentar uma última vez no nosso aniversário. Deveria dar certo. Certo, no quesito de “não vou ficar mais vivendo nessa merda de relação”.
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  — Que tal um jantar lá naquele restaurante que nós amamos…
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  — Ah, já está tão ultrapassado — ele me cortou.
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  Era a noite anterior do nosso dia, e nós ainda não havíamos decidido o que fazer. Mandei alguns e-mails para ele durante a semana, com ideias do que poderíamos fazer. Para nossa sorte, o dia caía numa sexta, o que dava para programar um final de semana de comemoração, mas ele logo vetou, dizendo que precisava fechar um projeto até segunda. Compreendi, esses projetos realmente existiam e eu sabia como era o pai dele e a vontade dele de sempre querer provar para o mais velho que era digno da posição de presidente.
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  Decidi, então, preparar um jantar. Como da outra vez não havia dado certo e nós não andávamos tendo refeições juntos, poderia conseguir algo romântico, pelo menos.
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  — Só se você fizer aquele gratinado.
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  — É claro. — Sorri, satisfeita.
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  No dia seguinte, no entanto, parecia ter sido uma reprise da novela anterior.
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  22h30 e nada de %Arthur%.
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  Com o coração na boca, aceitei que era o fim. Era o fim daquela palhaçada. Era o fim da idiota da %Tatiane% que continuava esperando uma reação do %Arthur%.
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  Pesquisei alguns apartamentos mais perto do meu trabalho na Faria Lima e achei um legal no Itaim. Enviei na hora um e-mail pedindo para fazer uma visita no local. Se tivesse sorte, o local seria bem agradável e eu poderia fechar negócio na próxima semana mesmo.
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  %Arthur% não voltou naquela noite, o que me fez cair em prantos quando percebi que 10 anos da minha vida havia acabado. Me permiti chorar durante toda a noite e um pouco de manhã também. Chorei pelas coisas que não fiz. Chorei pelas coisas que fiz. Em um momento, me arrependi de não ter dito ‘sim’ quando ele disse para nos casarmos. Por outro lado, achei quão incrível a vida era, por nos fazer realizar as coisas exatamente da maneira como têm de ser.
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  Assim que me levantei e tomei um banho, saí uma nova mulher. Eram quase 11h e %Arthur% não havia chego, nem mandado mensagem. Por outro lado, a imobiliária do apartamento do Itaim havia me ligado e disse que eu poderia fazer uma visita na hora do almoço. Aceitei de pronto e saí após tomar um café apressado. As roupas seriam lavadas no domingo essa semana.
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  Voltei outra mulher para casa naquele sábado. Sorridente. Confiante. Animada.
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  Havia fechado o contrato de locação do apartamento, que era melhor do que eu imaginava, para um ano. Após isso eu poderia renegociar o contrato do aluguel, mas se tudo desse certo, eu só teria que renovar.
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  Ao entrar em casa, %Arthur% ainda não havia chego. Não me preocupei em olhar as mensagens. Estava me sentindo vitoriosa. Não precisaria mais pensar em solução para um caso que já estava perdido fazia muito tempo.
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  Lembrei que precisava comprar algumas caixas de papelão. Havia um depósito no quarteirão do lado, que com certeza teria tudo o que eu precisasse para a mudança.
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  Na volta, tomei um susto.
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  Na frente da portaria, estava estacionado um carro cinza chumbo. Dentro dele, uma mulher linda na direção. No lado do passageiro, %Arthur%, sorridente.
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  Sem pensar, saquei meu celular do bolso e gravei. Gravei o sorriso entre os dois. A proximidade em que eles estavam. Gravei quando ela levou a mão à gravada amassada dele e quando fez carinho no cabelo que ele havia cortado.
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  Passei pelo carro e não fui percebida, tamanha era a atenção que eles haviam um no outro. Subi para nosso apartamento com o coração na boca. A vontade de gritar e de chorar preso na garganta. Com raiva, mandei o vídeo para todos os grupos de amigos meus e de %Arthur%. Na legenda, uma simples explicação: “o motivo do meu término com %Arthur%”.
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  Quase que imediatamente dezenas de mensagens e chamadas começaram a bombardear meu celular. Desliguei e o deixei na mesa enquanto começava a abrir as caixas de papelão. Não demorou 10 minutos até %Arthur% entrar vermelho dentro de casa.
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  — Você está maluca??? Que merda você acabou de fazer?
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  — Se tem alguém que fez merda aqui, %Arthur%, definitivamente não fui eu.
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  — Por que diabos você não veio conversar comigo?
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  — Foi o que eu mais tentei fazer nas últimas semanas, mas você estava ocupado demais com seus “jogos de futebol”, “happy hour com o pessoal do trabalho”, “programação misteriosa de sábado” — falei, fazendo aspas com cada palavra que deveria ser interpretada como ironia. — Eu tentei sair com você, tentei fazer com que seus amigos chamassem você para sair, tentei agradar você. Mas não. Você estava ocupado demais com “trabalho”.
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  — O-o que… %Tatiane%!
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  Abri um pequeno sorriso de satisfação. Não sei o que mais me agradava agora, se o olhar surpreso dele, me encarando com a boca aberta, ou a sensação de saber que eu sou uma mulher vingada.
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  — Você gostou, %Arthur%? Gostou do meu presentinho?
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  — Você é maluca? Como pode ter me exposto dessa maneira? — O tom de sua voz aumentava, de acordo com que ele percebia a gravidade de sua punição.
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  Soltei uma alta gargalhada.
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  — Eu? Te exposto? Acho que você entendeu tudo errado. — Balancei meu dedo indicador, mostrando que era ele o errado dali. — Foi você quem provocou tudo isso, %Arthur%. Você não conhece aquela lei que dita que “para toda ação, existe uma reação”? Eu não fiz nada do que você não merecesse.
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  — E o que diabos eu fiz-
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  — Ah, você não deve começar com esse papo hipócrita — o cortei, erguendo minha mão direita. — Eu sei o que você tem feito pelas minhas costas. Todo esse tempo, você achava que eu era boba, que caía no seu papo falso… mas deixa eu te contar uma novidade, %Arthur%. — Olhei para ele, séria, e esperei o momento certo para dizer: — Eu sempre soube de tudo.
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  — Que tudo, %Tatiane%? Isso o que você está insinuando não é-
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  Pacientemente, peguei meu celular e enviei as fotos das marcas de batom na camisa e dos perfumes de marca que ele começou a usar.
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  Ao ver as imagens, seus olhos se arregalaram.
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  — Você pode inventar N desculpas, %Arthur%, mas não minta. Não seja hipócrita assim. Durante todos os anos ouvi, pacientemente, todos os seus amigos e meus amigos falarem para mim sobre sua “fama” de galinha. Ouvi questionarem minha inteligência, quando dizia que confiava em você. Eles achavam que eu era idiota. Bem, talvez eu seja mesmo. Acabei de provar para eles que estavam certos, e eu, errada.
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  — %Tati%, vamos conversar.
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  — Ah, agora você quer conversar? — Ri. — Bem, agora quem não quer conversar sou eu. — O olhei séria. — Eu disse, não disse? Traição não tem perdão.
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  — Eu não te trai!
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  — É? E vai provar como? Vai trazer aquela mulher para dentro de casa? Quer dizer, a casa é sua, você pode trazer quem quiser.
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  — %Tatiane%, você sabe muito bem que a casa é nossa…
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  — Não, %Arthur%, ela não é minha. A minha casa está afastada daqui, em um outro bairro. É isso mesmo o que ouviu — disse, quando ele estava prestes a perguntar o que estava acontecendo —, estou saindo. Mudo na terça, então você poderá trazer para a sua casa, quem você quiser. Até lá, você dorme no sofá. — Virei-lhe as costas e fui para o quarto com algumas caixas já abertas.
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  %Arthur% tentou falar comigo, o que me fez sentir muito melhor. Ele quis se explicar e até tentou, por detrás da porta que permaneceu fechada o dia inteiro. Não ouvi uma palavra, pois coloquei os fones de ouvido. Eu sabia da possibilidade de aceitar suas desculpas e voltar para ele, mas eu precisava de um tempo para mim. Precisava me encontrar e entender que o que eu fiz foi o melhor para o meu futuro.
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  No domingo, %Arthur% tentou novamente conversar.
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  — Liga para os seus pais, vamos contar para eles juntos.
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  — O quê?
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  — Não vou falar do motivo. Posso falar que é uma decisão minha. Pelo menos não vai ser uma mentira.
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  — %Tati%, pelo amor de Deus, me ouve. Essas-
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  — %Arthur%, você não está entendendo nada, não é? Você está focado nessa questão de infidelidade, porque deve, sei lá, estar com um peso na consciência — disse. — Sei que deve ter agido de algumas formas porque disse que não queria noivar esse ano. Mas sabe, você poderia ter conversado comigo. Eu sempre estive aqui. Essa situação toda está servindo para eu enxergar que o que eu fiz foi certo, e você enxergar que existem certas coisas que devem ser respeitadas.
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  — Eu amo você.
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  — E eu você — respondi. — E é por isso que esse término está sendo uma merda.
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  — Não vamos terminar.
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  — Nós já terminamos faz tempo, %Arthur%. No dia que você deixou de vir para o nosso jantar e apareceu com a marca de batom… foi esse o dia do nosso término. O que veio depois foi só uma prova de como você não precisa de mim, e eu não preciso de você para ser feliz.
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  — É claro que eu preciso de você para ser feliz. Por que você está sendo tão racional?
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  — Porque eu tive muito tempo para pensar nisso. — Sorri de maneira amarga. — Foram noites e dias pensando o porquê de eu estar passando por isso, em como melhorar a situação, em como fazer com que você se abrisse comigo. Mas, pelo amor de Deus, estamos a 10 anos junto. Não deveríamos estar pisando em ovos um com o outro.
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  — %Tati%…
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  Ergui a mão.
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  — Se você não quer piorar a situação, irá parar agora. É a sua vez de ponderar sobre os últimos anos.
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  Dei-lhe as costas e, com um aperto no peito, mas uma animação que há muito eu não lembrava sentir, voltei a olhar para o meu futuro, que ainda era muito promissor.
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  — Você vai casar comigo — ele murmurou, antes de eu fechar a porta.
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  — Então é bom estar preparado para implorar. — Sorri. — E muito.
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Fim

CAPÍTULO 2
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