As Duas Faces

Escrita porNatashia Kitamura
Editada por Natashia Kitamura

CAPÍTULO 1

Tempo estimado de leitura: 13 minutos

  %Arthur% e eu nos conhecemos na época do colégio. Eu, uma garota arrumada, considerada inteligente pelos meus amigos, mesmo tendo pessoas mais “nerds” na sala; era bastante querida pelos professores e dificilmente dava problema para meus pais. %Arthur%, por outro lado, gostava de fama que o precedia: a de um garoto rebelde, mas muito bonito. Ele poderia ter quem ele quisesse, para ser sincera. Qualquer garota. Nerd, não nerd, patricinha, não patricinha, emo, gótica, skatista… para ser sincera, tenho certeza que ele ficou com todos os tipos de garotas na época do colégio.
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  Um hábito de antes, eram os alunos arriscarem ir para a mesma universidade, o que levou nossa turma a continuar, em sua maioria, junta. Os mesmos rostos que vi durante todo o ginásio e colegial, acabei vendo também na faculdade.
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  Foi nessa época que eu e %Arthur% nos aproximamos. Uma tarde que poderia ser como outra qualquer, acabou sendo o exato momento em que eu o vi como um homem e ele me viu como uma mulher. Bastou um papo mais cabeça sobre uma das matérias que estávamos tendo no curso de administração, e a vontade de voltarmos a nos encontrar e ter mais papos cabeças cresceu.
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  Um mês depois, nós estávamos em um rolo, que demorou outros quatro para evoluir para um namoro oficial. Foi uma surpresa não só para todo mundo que nos conhecia, como para nós mesmos. Mas o que poderia ser feito? Nós já nos amávamos.
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  Diferente do que muita gente veio comentar comigo, nunca duvidei da fidelidade do %Arthur%. Apesar do passado dele, confiava no homem que ele era comigo. Se eu vivesse na insegurança de achar que ele não mudou, não viveria um bom relacionamento com ele; e essa não era a visão de namoro que eu tinha em mente.
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  Depois de completarmos 4 anos de namoro, as pessoas ao nosso redor começaram a mudar seus argumentos de “você realmente ama ele, para confiar tanto assim num cara com o histórico que ele tem”, para “olha o que o amor faz com as pessoas, hein, %Arthur%”. Ninguém nunca me deu credibilidade pela fidelidade dele. Ninguém nunca percebeu a diferença entre eu e todas as outras mulheres que não conseguiram chamar a atenção do %Arthur%. Após terminarmos a faculdade, foi ainda pior. Achei que a fase da fama de infiel dele havia passado, mas não.
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  — Você devia sair com alguns caras aqui, o %Arthur% não precisa saber.
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  Revirei os olhos e fingi não ouvir o que Sara havia acabado de falar. Ela não era a primeira, e tinha certeza que não seria a última a me dar aquela sugestão.
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  %Arthur% veio de uma família de poderes, e os pais achavam que era bom para ele ter experiência de vida no exterior. Era só outra desculpa para o %Arthur% aproveitar mais a vida jovem e fazer o que queria, antes de tomar conta da empresa de transportadora que já era dele antes mesmo de nascer.
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  Foram dois anos de ele me visitando a cada seis meses e os outros dias de vídeo conferências pelo Skype. Nunca o traí. Ele me disse que também nunca me traiu. Como sempre, decidi confiar porque ele nunca havia me dado motivo para não o fazer.
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  Assim que voltou e começou a trabalhar na empresa do pai como coordenador de uma equipe de inovação, não demorou muito para subir de cargo e receber o respeito dos colegas de trabalho. %Arthur% sempre foi um cara simpático, difícil de ser odiado — mesmo sendo o filho do dono da empresa. No entanto, isso garantiu que seu salário fosse bom o suficiente para comprar um apartamento legal nos Jardins, um dos bairros mais nobres de São Paulo. Como uma sugestão de sua mãe, me chamou para morar com ele, para termos uma ideia do que era ser casado. Sabia que era só uma maneira dela nos fazer casar logo. Nunca soube o que é pior, ter uma sogra que te odeia e faz o possível para te evitar e tentar separá-la do filho; ou uma sogra que te ama ao ponto de querer, a todo momento, interferir na sua vida e da do filho, achando que está fazendo o melhor pelos dois. No fim, cedi. Me mudei para a casa dele com a condição de que ajudaria com as despesas. Não era uma questão de orgulho, apenas uma maneira de mostrar para mim mesma que aquela casa também era minha e que eu era uma pessoa melhor quando me via sendo independente.
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  — Vamos nos casar — ele um dia comentou, quando estávamos deitados na praia do Rio de Janeiro, alguns dias antes do ano novo. Estávamos juntos há pouco mais de 9 anos, o que nos fazia um dos casais mais esperados pelo casamento, em nossas roda de amigos. A diferença é que eu não estava preparada para casar. 27 anos não é uma péssima idade. O problema mesmo era que eu ainda não estava preparada para me dedicar a uma família.
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  %Arthur%, por outro lado, estava mais do que preparado. Eu sabia disso. Estava me preparando para o momento em que ele abordasse o assunto. Eu só não esperava que ele fosse ser tão… direto.
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  — Quanto tempo você haja razoável ficarmos noivos? — perguntei.
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  — Um ano?
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  — Hum… então… talvez… ano que vem?
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  — Estamos a alguns dias do ano que vem. — Ele sorri, me abraçando em seguida. Limpo a garganta, desejando não ter dito exatamente o ano que vem.
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  — Você sabe. Sem ser esse que está entrando, né…
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  — E por que não esse ano? Você terá um bom tempo para se preparar. E eu também!
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  — %Arthur%…
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  — Você não me ama? — Ele afastou seu tronco de mim, uma sobrancelha erguida. Ah, quando ele fazia essa cara, era exatamente o mesmo %Arthur% que eu conheci lá atrás… o rosto, apesar de másculo, tinha um olhar de moleque. A boca não era pequena, mas proporcional ao tamanho do rosto. Suas sobrancelhas eram grossas e ele possuía uma leve pinta um pouco acima do lábio, do lado direito. Era um charme.
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  — Ai, mas que pergunta boba, %Arthur%, é claro que eu te amo. Você namorou esse tempo todo comigo sem saber disso?
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  — Então por que não quer casar comigo?
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  — Não é você o problema. É só que não quero casar agora. Com ninguém.
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  — %Tati%, olha só. Só falta isso para minha vida ser perfeita. Só você como minha esposa.
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  — Nossa, me ter como namorada não é o suficiente? — Ergui as sobrancelhas também e ele apertou os lábios em uma careta de quem não estava com paciência para brincadeiras. — Olha, não é que eu não quero me casar — repeti — eu só gostaria de casar quando eu tivesse numa posição melhor na empresa. Não quero ser gerente. Quero coordenar. Falta tão pouco. Será que você não pode esperar mais um ano?
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  %Arthur% não me respondeu e não insistiu mais no assunto.
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  Pensei que devido a esse comportamento, ele houvesse entendido e só não queria ceder para mim.
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  Entretanto, as coisas começaram a ficar esquisitas cerca de cinco meses depois do ano novo.
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  Era quinta-feira e eu voltava do trabalho. Estava exausta, mas sabia que %Arthur% curtia sair em happy hour com a turma da faculdade, e principalmente amava quando eu surgia para lhe fazer companhia e também às namoradas que estavam por lá. Por isso, liguei para ele assim que achei um assento milagroso dentro do ônibus.
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  — Amor, o Guto e a Ju terminaram, então hoje vamos ficar só os rapazes.
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  O estranho não era os homens se unirem para beberem. Era eu ver nas redes sociais da Ju, um presente que havia acabado de ganhar do Guto. Mandei uma mensagem privada para ela perguntando se estava bem. Ela logo me respondeu que sim. Ainda estranhado, perguntei o que ela achava de nós sairmos para almoçar no final de semana em casal; eu, %Arthur%, ela e o Guto. Ela logo topou e disse que estava louca para conhecer um restaurante perto da nossa casa. Respirei fundo, tentando entender qual era a do %Arthur%.
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  Na sexta, saí mais cedo do trabalho e decidi fazer um jantar para o %Arthur%. Se ele estava de interesse em outra pessoa ou chateado comigo o suficiente para fazê-lo ir para outro lugar e inventar uma mentira, então eu talvez devesse fazer a minha parte e tentar mudar a situação. Liguei para ele no almoço e disse que estava afim de fazer um jantar legal para nós dois. Ele logo topou, o que era comum. %Arthur% raramente mostrava desinteresse quando eu queria fazer algo por nós dois. Fiquei animada. Usei o restante da hora do almoço para preparar um menu super e ir correndo para o mercado após o expediente.
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  Olhei no relógio de pulso e então para o de parede. Enchi outra taça de vinho e percebi que a garrafa já havia passado da metade. Olhei para os pratos vazios, pois queria esperar a chegada de %Arthur% para prepará-los e ele ter uma visão da comida fresca. Mas de fresco, só o ar que entrava pela janela.
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  Eu havia ligado para %Arthur% há uma hora e meia perguntando aonde ele estava, e ele disse que estava a caminho, que chegaria em vinte minutos.
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  22h30. 22h45. 23h.
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  Tentei ligar para ele novamente, mas dessa vez não deu em nada.
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  Ao sentir o choro chegar à garganta, levantei e fui tomar um banho. Ao sair, esperava ouvir %Arthur%, mas nada. Completo silêncio.
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  De repente, as vozes das pessoas que falaram sobre a infidelidade de %Arthur% no passado começaram a ressurgir. Balancei a cabeça, afim de espantar todos os pensamentos e me joguei na cama, dormindo em minutos.
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  No dia seguinte, senti o braço de %Arthur% rodeando minha cintura.
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  Me levantei na surdina e olhei para ele, apenas vestindo um calção. Ele adorava dormir de boxer, mesmo no inverno. Respirei fundo e catei as roupas jogadas no chão e saí do quarto para já deixá-las na lavanderia, já que sábado era dia de eu lavar a roupa e o %Arthur% levar o carro para lavar e fazer as compras do supermercado. Eu odiava ir ao mercado, e o %Arthur% não se importava de fazer para mim tudo o que eu odiava, então as regras ficaram assim. Eu lavava as roupas e ele ia ao mercado.
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  Olhei a comida intacta no fogão. Ele nem ao menos guardou na geladeira. Aquilo que ainda era comestível, guardei em potes e coloquei na geladeira. Limpei a cozinha, tomei um café e fui logo começar a lavar as roupas. O relógio apontava quase 10h. Com sorte, eu terminaria antes do 12h e haveria tempo para tomar uma ducha antes de sair para me encontrar com a Julia. Inventei uma desculpa qualquer para informar que o %Arthur% não podia ir, e se poderia transformar nosso almoço de casal, em um almoço de amigas. Chamei mais 3 amigas nossas e combinamos de nos encontrarmos às 13h no restaurante perto de casa.
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  — Desculpe. — Uma voz rouca surgiu em meu ouvido, ao mesmo tempo que mãos envolviam minha cintura. Senti um beijo estalado em meu ombro nu. — Meu pai me ligou e tive que ir correndo resolver-
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  — Você poderia ter me ligado ou mandado uma mensagem.
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  — Foi uma emergência, %Tati%.
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  — Não é por nada, %Arthur%, mas mandar um áudio no WhatsApp não leva nem 1 minuto.
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  Ele rapidamente se afastou e bufou.
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  — Eu estou aqui pedindo desculpas…
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  — Você quer ser perdoado, mas não quer ouvir? — Olhei para ele, magoada. — Eu me esforcei para-
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  — Eu sei, %Tati%, você sempre se esforça. Você sempre é a que mais se esforça, inclusive.
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  — Eu não gosto de sarcasmo, %Arthur%.
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  Recebi um olhar que parecia dizer “é mesmo?” de uma forma bem sarcástica, e então ele me deu suas costas e fechou a porta do nosso quarto.
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  Apertei os lábios e fui até a lavanderia cuidar da roupa. Essa era uma boa maneira de desestressar. Eu distraía minha mente com outras coisas e sentia o aroma delicioso do meu amaciante favorito.
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  Mas o que era para ser uma terapia, se tornou mais uma cena do meu pesadelo.
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  Olhei a camisa de %Arthur% da noite anterior. Mas olhei bem de perto. Era batom. Eu sabia que era. Uma mulher sabe quando é batom. Senti o cheiro. Tinha cheiro. Tinta geralmente não tem cheiro, e se tem, não cheira a batom.
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  Era isso.
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  Se antes eu confiava nele por não ter me dado nenhum motivo para isso, agora era outra história.
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CAPÍTULO 1
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