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História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

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Arco 1 - A Vilã da Casa Bellerose

Escrita porLiv
Revisada por Lelen

– The Villainess Of The House Bellerose –


Capítulo 8

Tempo estimado de leitura: 18 minutos

— Então é assim que se tem um sonho de princesa?
  Espreguicei o corpo e bocejei demoradamente, aproveitando o meu despertar para enrolar por mais alguns minutinhos nessa confortável cama king size. Trouxe a coberta para mais perto, ainda sem coragem de deixar os travesseiros tão macios que permitiram que eu desfrutasse da única boa noite de sono desde que cheguei nesse mundo. Não sei se é culpa também dos remédios, mas posso sentir a energia correndo pelas veias, como se eu tivesse ingerido dois copos de café sem açúcar — uma bebida que não gosto, contudo, se fazia necessária na minha antiga realidade de trabalhadora universitária. Todo o sentimento de invencibilidade sumiu ao recordar que na próxima hora eu e a duquesa teríamos a tão decisiva conversa, dando espaço somente para a irritante ansiedade que não me dava paz.
  Sem tempo a perder, tomei um banho e vesti sem dificuldade o vestido quadriculado preto por cima da blusa vermelha de mangas longas, ajeitando as abotoaduras e a gola. Dei um giro para analisar o movimento da roupa, ficando satisfeita ao ver o meu reflexo no espelho assim que prendi o cabelo em um rabo de cavalo e os fios soltos com grampos.
  Sentei na beirada da cama, observando os gêmeos dormindo pacificamente e apertei de leve suas bochechas, na tentativa de acordá-los.
  — Vamos acordar, gatinhos? O café será servido em breve.
  — Bom dia, Bella — eles responderam preguiçosamente.
  — Bom dia, dormiram bem? — Thoni assentiu com um sorriso e Nell coçou os olhos, murmurando que sim. — Após o banho, os dois farão a refeição com Serene, Kira e Kieran, tudo bem? Os irmãos pediram para mostrar o castelo a vocês.
  — Bella não vai comer com a gente? — Antonella questionou sonolenta, se acomodando nos meus braços.
  — Preciso resolver algumas coisas do ocorrido de ontem — afaguei sua cabeça —, entretanto, o que acham de termos um piquenique no almoço com todos?
  Os vi concordarem animados, finalmente despertados e não demorei para arrumá-los, encontrando Rin a nossa espera ao sairmos do quarto e caminhamos para a primeira parada. Cumprimentei os pequenos e a babá, vendo que as crianças estavam ansiosas para o seu dia juntas e voltei para o lado da empregada, que me guiou até o escritório da duquesa.
  O nervosismo que tentei esconder se sobressaiu ao escutar o meu nome sendo anunciado, provocando as batidas aceleradas do meu coração; ao dar um passo para dentro de sua sala, tive a sensação de que o meu corpo estremeceria a qualquer momento e as palmas das minhas mãos estavam úmidas. Tentei focar a atenção na decoração do ambiente arejado, que possui uma ótima entrada de luz solar por conta de suas janelas e os objetos são com a coloração característica de sua casa.
  Atrás da mesa extremamente organizada, Viviene Bellerose se encontrava com os dedos entrelaçados e apoiando o seu queixo neles, lendo alguns papéis. Vestida com seu uniforme de instrutora, seu cabelo está preso em duas tranças que caem por cima do seu ombro esquerdo, de modo que seus olhos azuis fiquem em destaque — dando um charme a mais para a sua aura que exalava poder.
  Todas as suas aparições no manhwa me deixavam boquiabertas, não só por sua beleza que devo dizer que é ainda mais estonteante pessoalmente, mas por ser exatamente como retratada: a sua presença é forte e por si só já dizia muita coisa. Ela me aguardava com uma feição suave em seu rosto e um sorriso acolhedor conforme eu me aproximava, solicitando que eu sentasse na poltrona a sua frente.
  — Senhorita Arabella Fiore, espero que a sua estadia e a de seus irmãos tenha sido confortável. — Confortável? Foi o melhor descanso desde que adentrei este mundo, duquesa.
   Graças à hospitalidade de Sua Graça e de sua família, desfrutamos de um esplêndido descanso. — Contive os meus pensamentos ao lhe responder. — Agradeço profundamente por ter disponibilizado uma empregada para cuidar da nossa estadia, não era necessário tanto trabalho por nós.
  — Se a senhorita gostou da Rin — Viviene pausou, olhando fixamente para mim de forma que lesse a minha alta, causando mais nervosismo —, por que não a mantém como sua emprega pessoal?
  — Perdão?
  A encarei sem compreender a sua fala, imaginando que o motivo de seu riso contido tenha sido esse meu desentendimento muito aparente. Na probabilidade dessa situação, pensei que as chances de ser recusada no castelo eram maiores do que as de ser aceita, todavia, parecia que os deuses estavam ao meu favor.
  — Nós concluímos que o seu pedido é genuíno e, sendo sincera, a senhorita me intrigou. Não só a mim, claro. Meu esposo ficou encantado com os seus irmãos e, como pode observar, se eu permitisse, pelo Giovanni nós teríamos no mínimo, seis filhos. — A vi massagear a têmpora, suspirando pesadamente. — E Killian parece ter gostado da sua presença, além do efeito que causou em Kira e Kieran, que não paravam de falar de como queria que a senhorita brincasse com eles. Mas, mais do que essas razões, algo me diz que o seu futuro é promissor... — É porque a senhora não sabe que se eu não fizesse nada, provavelmente esse futuro promissor teria a minha cabeça rolando pela cidade daqui alguns meses.
  — Agradeço a generosidade, Sua Graça… — Senti um alívio ao não ser questionada, no entanto, sei que preciso dar um resumo da situação para que eu não precise mentir futuramente.
  — Arabella — chamou a minha atenção, pondo sua mão por cima da minha —, caso não se sinta confortável, não tem a necessidade de contar o que houve ou de falar formalmente. — Ela é uma pessoa incrível e também consegue ler mentes?
  — Compreendo, obrigada pelas palavras gentis. Todavia, para estabelecer uma relação de confiança que viso com a duquesa, compartilharei os meus motivos. — Após respirar fundo, prossegui com a história do que passei na casa do marquês, deixando de fora — óbvio — o fato de eu ser de outro mundo e ter reencarnado como a Arabella. — Bom, resumidamente, é isso.
  — Não satisfeito em ser ganancioso e egocêntrico, esse homem tem a coragem de agir assim com seus filhos? — O sorriso de Viviene é tão macabro quanto o seu ato de quebrar a alça da xícara, cortando o seu dedo. — Não consigo acreditar que seus avós acharam uma boa ideia casar Celine com ele, duvido que ela…
  — Duquesa — segurei sua mão de volta —, por favor, não informe mamãe e nem ao rei sobre isso. É uma questão que eu desejo resolver particularmente e a mesma não possui noção do que acontecenaquela casa. Enquanto eu organizo o meu plano, gostaria de pedir que mantenha a minha identidade e a dos meus irmãos em segredo; dificilmente as pessoas me reconhecerão, já que eu não participei de muitos eventos. E aposto que o marquês deve ter arrumado alguma desculpa caso perguntem o meu paradeiro.
  — Arabella Fiore — a mais velha levantou abruptamente e veio na minha direção, entrelaçando nossos dedos —, não temerás mais! Agora que a senhorita mora conosco, terás tudo o que desejar e a nossa proteção — é impressão minha ou a duquesa está mais animada do que qualquer um? —, afinal, os filhos da minha tão adorada amiga são minha responsabilidade! — Então, não é só o duque que é apaixonado por crianças, não é?
  — A esposa que tanto admiro tem razão: o que vocês precisarem, é só solicitar. — Giovanni surgiu despretensiosamente com um sorriso inocente, como se não tivesse escutado a conversa por trás da porta. — Sobre suas identidades, pensamos em introduzi-la como uma soldada enviada pelo reino, por enquanto. Ninguém questionará ou te reconhecerá, entretanto, há chances disso acontecer quando decidir ir à cidade. — Independente de não frequentar os eventos da sociedade, ainda há indivíduos que me conhecem por frequentarem a casa do marquês, sendo um ponto que eu precisaria ter um cuidado a mais. — Por isso…
  — Por isso, minha adorável Arabella — Viviene o interrompeu, lançando um olhar reprovador para o seu marido —, é que entra a nossa solução: sua mãe, vendo o seu interesse por combate, pediu para que eu treinasse a sua filha, herdeira direta da Ordem. — Analisando os dois, é nítido que eles pensaram em tudo nesse meio tempo e leram muito bem a situação sem ter tantas informações sobre mim. — Com medo de que achassem que a senhorita recebesse um favoritismo por culpa dela, Celine solicitou que não falássemos a sua origem.
  — Mamãe é bastante conhecida?
  — Tanto quanto Viviene, senhorita. Ela é um exemplo para vários aspirantes do nosso exército, com a diferença que Celine sempre preferiu ficar longe dos holofotes. — Escutar pela primeira vez alguém falar de mamãe dessa forma é…diferente.
  — Já nos estendemos bastante, os detalhes finais vão ser conversados ao longo do dia. Acredito que a senhorita tenha que buscar seus pertences, certo? — Assenti. — Ótimo! Caroline, peça que Killian venha me ver e notifique Rin para que ela acompanhe Arabella.
  — Rápido como sempre, Killian. — Seu pai ergueu a xícara em sua direção, recebendo um sorriso de volta.
  — Killian, você acompanhará Arabella em sua ida à cidade. Aproveite e a leve para tirar suas medidas e comprar o que mais ela e as crianças necessitem. Caso esteja de acordo com a senhorita, senhor Leonard arrumará o seu cabelo assim que retornarem e o seu treinamento será na parte da tarde, depois do almoço. Adoraria acompanhar vocês, porém, o trabalho de uma duquesa não para nunca, e já que o meu queridíssimo esposo aparenta ter bastante tempo livre…
  — Com licença, meus amados pais. — O primogênito colocou a mão no meu ombro, me puxando para perto. Sem esperar a resposta dos dois, ele me encaminhou para o corredor, estendendo seu braço e eu encaixei o meu no dele, sentindo uma sensação estranha.
  Estranhamente confortável.
  — Se continuássemos lá, você não seria poupada do sermão da duquesa.
  — É tão ruim assim? — questionei aos risos, achando a situação um tanto engraçada. — Eles parecem gostar muito um do outro.
  — Tão ruim quanto o sermão do doutor Lúcio. Ah, realmente, é bem notável que ambos se apreciam. — o tom de ironia que Killian utilizou capturou a minha curiosidade, provocando um desentendimento em mim sobre o relacionamento de Viviene e Giovanni.

*

  O trajeto até o centro ocorreu tranquilamente, sendo recheado de compartilhamentos banais entre eu e Killian, variando de comidas favoritas à qual roupa é melhor para cavalgar no inverno. Antes de sairmos do castelo, avisei aos meus irmãos e combinei com Serene o piquenique, tendo uma resposta positiva e que eu não precisava me incomodar com os detalhes. Fiquei aliviada por saber que a babá cuidaria do almoço, não tenho noção de quantas horas passaria na cidade, mas, prometi que retornaria com doces da confeitaria.
  A carruagem que estávamos é mais simples e sem qualquer vestígio de que pertencesse aos Bellerose, mesmo que de longe fosse perceptível a boa qualidade do veículo. Exceto Rin, o resto de nós tinha uma capa, de forma que não corrêssemos riscos de sermos reconhecidos — mais Killian do que eu, sinceramente. Chegamos à pensão sem problemas e cumprimentei a amiga de Anna, que prontamente entregou a carta dela e eu lhe dei outra, pedindo que encaminhasse à Giovanna o mais rápido o possível. Caminhei para o meu quarto e peguei as malas, sendo seguida por Killian que nem um cachorro atrás de seu dono. Ele segurou as bagagens e me despedi da dona, indo para a próxima parada: alfaiataria, novamente.
  Nem é necessário dizer o quão jogada de lado fui ao entrarmos na loja, já que os meus acompanhantes usufruíram da visita para brincarem de boneca comigo, sem nem me dar míseros minutos para respirar calmamente. Por não sair muito, Arabella vivia com as mesmas roupas, sem mordomia alguma de comprar mais de duas opções para cada estação. A nobreza é acostumada a possuir minimamente dez trajes diferentes para as estações, além das vestes das diferentes ocasiões, como trajes para passeios e afins.
  Quando comprei roupas com os gêmeos, me dei o luxo de levar três peças, julgando ser o suficiente, visto que não podíamos gastar tanto sem planejamento, razão a qual fomos em uma loja onde a qualidade é boa e o preço é em conta. Contudo, eu perdi a conta de quantas roupas eles me fizeram experimentar, e a minha cabeça começava a doer com todo o falatório.
  — Arabella — Killian surgiu com duas opções de vestidos –, qual você mais gostou?
  — Ah, não sei, ambos são belos.
  — Senhor, levaremos os dois — pulei da poltrona, assustada com a sua decisão.
  — Você está fora de si? Sabe quanto custa cada traje?! — sussurrei perplexa para ele. A costureira é uma das mais caras do reino, designando figurinos para a alta nobreza e a família real.
  — Oh, meu amor, a senhorita esqueceu de qual família nós somos. Não tem problema no mundo que o dinheiro não ajude a resolver.
  — E isso deveria ser uma desculpa para você gastar tanto dinheiro assim comigo e com meus irmãos, meu amor? — Percebi que havia uma intenção por trás do jeito que se dirigiu a mim, então, optei por revidar, vendo a sua feição surpresa se tornar um sorriso satisfeito em segundos.
  — Se for para o meu sol, não meço esforços para agradá-la — o rapaz beijou a minha mão e a pôs em sua bochecha. — É por esse motivo, senhor, que levarei todas as roupas da nova coleção, e não se esqueça de adicionar os uniformes de soldada, por favor. Envie para este endereço as compras, espero que tenha um bom dia.
  — C-claro. Agradecemos a sua visita e a da senhorita.
  Killian me guiou para fora, incapaz de manter sua gargalhada no segundo que sentamos na carruagem, provocando a mesma reação em mim. Puxar sua orelha por ter gastado tanto dinheiro não adiantaria, diferente da minha realidade, durante os seus dezoito anos nunca lhe faltou nada e algo me dizia que ele é do tipo que gosta de mimar as pessoas — seus pais também, obviamente. Aposto que meus irmãos vão amar a quantidade de presentes, creio que se uníssemos os que já ganhamos nesses anos, daria um total de… 20? Nossa mãe enviava um a cada aniversário, todavia, depois de algum tempo paramos de vê-los e a nossa esperança de termos um brinquedo dentro daquela casa ia desaparecendo junto. Se as minhas colegas da faculdade vissem a quantidade de coisa que me foi comprada, elas diriam que eu arranjei um sugar daddy e falariam sobre isso o restante da manhã, com suas piadinhas e pedidos de fotos. Pensar nessa possibilidade é engraçado, essas imagens não tão nítidas das situações que passamos na faculdade e o sentimento de melancolia brotou, trazendo perguntas que eu não saberia mais a resposta.
  Com o intuito de espairecer, decidi analisar o Bellerose. Killian herdou os longos cabelos pretos de sua mãe e os olhos vermelhos de seu pai; não satisfeito com seus fios soltos, ele os penteou para trás e descansou sua cabeça em seu punho fechado, retribuindo o meu olhar com a mesma intensidade. Suas duas orelhas são furadas e há um colar rente ao seu pescoço, lembrando uma choker e o meu coração chegou até a errar uma batida. Sua aparência me fez relembrar dos outros personagens de manhwa que eu gostava e é um fato que Killian Bellerose faz parte desse combo que eu sou completamente rendida, pondo a minha existência em um beco sem saída.
  Ele é absolutamente o meu tipo.
  E eu sou péssima para esconder isso.
  — Se quiser, posso pedir que ponham em seu quarto um quadro meu.
  — Não será necessário para mim, afinal, nos veremos todos os dias — argumentei confiante, embarcando na sua provocação.
  — Para mim, seria. Eu adoraria ter um quadro seu na minha escrivaninha. — Quase engasguei pela segunda vez na manhã. Ele não tem o direito de brincar com o meu coração.
  — Cuidado, ou acharei que está interessado em mim.
  — O que te faz pensar que não estou? — É, pessoal, não tem mais jeito: fui abatida na primeira fase.
  Boa sorte, Arabella. Fighting.
  — O que te faz pensar que eu acredito? — Quem eu queria enganar?
  — Não há problemas, Arabella. Temos tempo o bastante para eu te fazer acreditar que todas as minhas palavras são verdadeiras e sinceras.
  — Ahem. — Rin pigarreou. — Chegamos na confeitaria, senhorita. Se desejarem, podem continuar a conversa enquanto eu busco as encomendas da lista.
  — Obrigada, Rin. — Killian desceu primeiro, estendendo sua mão para auxiliar na descida. — Obrigada, Lian.
  — Lian?
  — Você fala informalmente comigo desde que entrei no castelo, é natural que passemos para a base dos apelidos, não? — Dei de ombros como se não tivesse sido ontem que nos conhecemos.
  — Como desejar, Bella.
  — Será que as crianças gostarão das sobremesas? — desconversei. — Nunca vim nessa loja, então não sei o gosto dos doces…
  Apesar do calor, um vento gelado passou pela gente e quase que o meu capuz saiu do lugar. O ajeitei rapidamente, continuando a conversa com Killian. Contudo, quando fui respondê-lo, uma voz ecoou atrás de mim, me fazendo ficar paralisada.
  — Arabella?
  Merda.

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