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História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

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Arco 1 - A Vilã da Casa Bellerose

Escrita porLiv
Revisada por Lelen

– The Villainess Of The House Bellerose –


Capítulo 7

Tempo estimado de leitura: 24 minutos

Contando com cinco integrantes, a família Bellerose é uma das mais respeitadas de todo o reino e são conhecidos por serem o braço direito do rei por incontáveis séculos. O castelo do duque é o berço de Giovanni e Viviene Bellerose, o casal mais comentado em todas as regiões; descendentes diretos da ordem e frutos de um casamento arranjado, eles começaram a governar as questões relacionadas as suas funções assim que o casório foi realizado — aos seus 21 e 18 anos, respectivamente. A tarefa não era fácil, contudo, com suas altas habilidades sociais, os dois não mediam esforços para manter tudo nos trilhos e sempre tiveram o apoio do rei e, consequentemente, do público.
  O trabalho árduo que gostam e exercem é admirado por muitos e invejado por outros — na maioria das vezes, pelos próprios nobres — que em diversas situações se aglomeravam na esperança de que o reinado do casal mais desejado terminasse, mas, essas pessoas se esqueciam quem realmente o duque e a duquesa são. De um lado, um estrategista sem igual e que é ótimo nas tarefas de casa; noutro, a comandante do exército do norte — que assumiu a posição ao se casar — e que tem habilidades incríveis de culinária.
  Um time que muitos queriam, entretanto, ninguém chegava perto de suas conquistas e status por uma razão bem clara.
  O terceiro membro é o seu primogênito de 18 anos, que vários consideravam ser uma incógnita: Killian Bellerose, o futuro duque e um dos melhores cavalheiros e feiticeiros de Bellary. Prodígio em combate e portador da magia do fogo — elemento da sua região —, foi um dos alunos exemplares da academia por cinco anos até o nascimento de seus irmãos. Além de seu carisma, o sorriso que distribuía cordialmente é o que encantava o seu povo desde mais novo, caindo em suas graças da mesma forma que seus pais; para os inimigos, as qualidades do rapaz são os motivos que os levam a se afundarem em confusões, sem saber se ele iria matá-los ou ter o mínimo de misericórdia nas situações. No entanto, Killian analisa atentamente os casos que lhe são encaminhados e tende a ser justo, estudando as inúmeras possibilidades para agir da melhor maneira. A única exceção, para os três, é quando a sua família é envolvida e se tem uma frase que os define é “mexeu com um, mexeu com todos”. Gerações vem e vão, mas o laço que compartilham é inquebrável e permanece firme, sendo o bem mais sagrado para os Bellerose. Eles não se limitam ao sangue e consideram quem está sob os seus cuidados como família, criando uma bonita e imensamente acolhedora atmosfera para os diversos residentes do castelo.
  Ser recebida por um corredor de cavalheiros e empregados é a prova de que quem vive aqui se importa verdadeiramente com o seu próximo, e se tratando da chegada dos mascotes do lugar, não deixariam de recepcioná-los pessoalmente. Com a combinação do cabelo branco de seu pai e dos olhos azuis de sua mãe, Kira e Kieran Bellerose são os gêmeos mais adorados e mimados pelos integrantes do local, que tem os seus corações derretidos por suas fofuras. Enquanto Kira é extrovertida e observadora, Kieran é mais introvertido e falador com quem tem intimidade, compondo um duo simpático e preocupado com o bem-estar de todos, que nem o restante de seus parentes.
  De qualquer maneira, tenho a certeza que a tentativa de sequestro não era para ter acontecido e muito menos a minha aparição na hora, me levando a pensar que o plot original estava sofrendo alterações. Os protagonistas — Killian, Arabella e a heroína — não possuem conexão entre si a não ser na época em que os eventos trágicos de Bella ocorrem; fugindo do enredo onde a vilã atrapalha o romance dos mocinhos por amar o futuro duque, o manhwa trouxe uma narrativa de três indivíduos com vivências distintas e em como os acontecimentos impactam suas vidas. Claro, existem muitos outros elementos que me fizeram gostar da história, todavia, o que chamou minha atenção foi a quebra de expectativas que a sinopse e o prólogo te fazem ter, para depois te fazer pensar horas e horas sobre a leitura. Um dos pontos que eu e vários leitores ficamos sem entender na reta final foi a razão pela qual os irmãos de Arabella foram atrás de Killian — eles entregam a joia que Bella lhes deu — e da heroína para solicitarem ajuda, ainda mais quando Killian e Arabella interagiram pouquíssimas vezes ao decorrer do manhwa. Talvez por saberem que os Bellerose prezam a família, concluíram que seriam uma boa escolha, já que ninguém estava ao lado de sua irmã em seus últimos momentos.
  Alterando muito ou não, simplesmente penso que os deuses estão ao meu lado, me abençoando com essa segunda chance, e o melhor jeito de retribuí-los é eu aproveitar essa mudança de caminhos!
  Afinal, qual é o melhor aliado senão a família Bellerose?
  — Mamãe, papai, irmão! — Kira e Kieran correram para seus braços, sendo levantados animadamente.
  — Que bom que vocês estão bem, joaninhas. — Killian afagou suas cabeças com um sorriso aliviado, os abraçando juntamente de seus pais, causando uma sensação estranha em todo o meu corpo ao ver a cena.
  Então isso é ter pais que te amam de verdade?
  Meus filhos! — A duquesa os apertou e ganhou um beijo em cada bochecha; é notável como sua postura muda ao estar na presença dos gêmeos e o seu olhar se torna doce e terno. — Sentimos tanta saudade!
  — Duquesa — a mordoma dispensou os empregados e cavaleiros para os seus postos —, o chá está servido na sala de estar.
  Por mais que não fosse o ideal, peguei os meus irmãos no colo e tirei vantagem de não estar sofrendo com as dores dos golpes que recebi. Eles são leves demais para crianças em fase de crescimento, o que me preocupa bastante. Lion chamou o meu nome e nos guiou até o espaço designado, e não consegui esconder a minha expressão surpresa ao analisar uma parte da residência. Se eu já achava a casa Fiore grande, só essa sala de estar dava duas da sala normal que tínhamos e possivelmente cobriria meu ex-quarto também.
  — Sintam-se à vontade — o duque falou de modo gentil, mostrando o sofá para nós três.
  — Obrigada pela hospitalidade. — Os reverenciamos cordialmente. — É um prazer conhecê-los.
  — O prazer é nosso, senhorita.
  — Primeiro, gostaríamos de prestar nossos agradecimentos. Quando soubemos que Kira e Kieran estavam seguros por causa da senhorita, desejamos ter um encontro com você o mais rápido possível. Muito obrigada por ter cuidado dos meus filhos — a duquesa disse com um sorriso aliviado.
  Se vocês acham que o diabo trabalha rápido, é porque não conheciam os informantes dos Bellerose.
  — Não há necessidade de agradecer, Sua Graça. Fiz o que qualquer um faria — mentira, ninguém seria tão impulsivo quanto eu sem ao menos saber no que estava se metendo — e meus irmãos também ajudaram, não é, Antonella e Anthoni? — Os vi assentir timidamente ainda sujos de glacê. — Espero que não tenha problema em ter dado bolo para as crianças, essa é a forma deles tentarem acalmar as pessoas. — Ri brevemente, limpando suas bochechas delicadamente
  — Conhecendo esses dois — o duque apontou para os gêmeos —, é capaz de terem pedido sem serem oferecidos.
  — Mamãe! — Kira pulou de seu colo eufórica. — A senhora tinha que ter visto! A irmã mais velha fez pow, pow, pow que nem a mamãe! Não é, irmão? — Ela me imitou novamente.
  — Sim! Foi m-muito legal! — Eles deram as mãos extremamente animados.
  — Eu diria que foi um pouco de sorte. — Cocei a nuca envergonhada e os três me observaram com certa curiosidade, me fazendo ficar desconcertada.
  — Interessante... — Viviene ponderou. — Serene?
  — Sim, duquesa?
  — Por que não mostra o jardim para as crianças, se estiver tudo bem com a nossa convidada. — Nem precisei responder, meus gêmeos não conseguiam esconder a animação. A babá se retirou com o seu pequeno grupo que já estavam de mãos dadas e conversando.
  — Lion, qual o relatório? — Giovanni questionou com um tom sério.
  — Aparentemente, há uma organização criminosa que tem como alvo os filhos de nobres para obter uma alta quantia de dinheiro. De acordo com minhas investigações — como eu imaginava, eles já suspeitavam desse grupo —, quando as crianças são de origem mais humilde, elas são vendidas para outras regiões. Provavelmente, com Kira e Kieran, o grupo pensou que enriqueceriam da noite para o dia, por isso, tentou raptá-los.
  — Hum… — murmurei. — É uma possibilidade, mas…
  — Gostaria de expor os seus pensamentos, senhorita? — Giovanni me analisou com curiosidade, esperando que eu compartilhasse o que quer que fosse.
  — Se me permitem. — Ajeitei minha postura. — Não creio que a hipótese do senhor Leonard esteja incorreta, entretanto, acredito que seus filhos não eram os alvos da organização. Por ser a quinzena que a cidade recebe os mercadores, a aglomeração, de certo modo, facilita a aproximação dos criminosos com sua vítima, ao mesmo tempo que afasta. Se Kira e Kieran fossem seu alvo, eles não mandariam pessoas despreparadas para a função — mesmo com esse corpo sem treinamento, lidar com aqueles homens não foi tão difícil —, acredito que as informações que receberam foram simplórias e que ao verem crianças com roupas de qualidade e com seus cavaleiros, julgaram ser as que receberam ordens para raptar. Suspeito também que eles não sejam do norte.
  Killian cruzou os braços na altura de seu peito e permaneceu com a expressão neutra, encostando o ombro na lareira que está apagada. Era o único que havia decidido não se sentar e, se me recordo bem, isso se devia por não gostar do aroma do chá.
  — Por quê? — o primogênito perguntou, provavelmente já sabendo a resposta.
  — A cor de seus cabelos. Todos possuem uma tonalidade distinta de roxo, características da região oeste. Também há esse folheto. — Peguei o pedaço do jornal que havia recebido na minha estadia da pensão e mostrei.
  — “Procura-se rapazes para trabalho manual. Pagamento de até 5 moedas Bellary” — Giovanni leu em voz alta, pondo sua mão em seu queixo.
  — Um pagamento alto para um trabalho manual — Killian pontuou.
  Nesse reino, sua forma de pagamento é por meio de moedas e cada uma tem o seu valor, sendo a moeda bellary sozinha equivalente a um mês e meio do salário que eu ganhava como Akira sendo uma caixa de meio período. Com a promessa de 5 vezes essa quantia, é suficiente para uma família se manter financeiramente sem preocupações por um longo período.
  — Se eu estivesse saindo da minha terra natal sem nada e achasse uma oferta tão afortunada, não pensaria em ignorá-la. — Ironicamente, é quase como se eu estivesse falando de mim mesma. — É mais fácil usar pessoas ingênuas e fracas, dando o incentivo que elas querem para efetuar o trabalho sujo, e depois descartá-las. Ninguém procurará por eles. — Suspirei, quase sentindo algum resquício de pena por eles.
  Arabella foi usada para os propósitos de seu pai e teve o seu fim trágico sem ninguém para salvá-la. Mesmo sentindo muita raiva dos homens, parte de mim compreende que eles são peões de pessoas maiores, o que não tira suas parcelas de culpa da situação. Viviene e sua família se entreolharam e começaram a conversar em um tom baixo assim que Lion veio verificar comigo se eu estava sentindo algum incômodo por causa dos ferimentos. Neguei, para nossas surpresas, e voltamos nossas atenções aos outros que terminaram com a sua conversa particular.
  — A senhorita possui um grande conhecimento. — A duquesa pôs seu chá na mesa, cruzando as pernas e depositando suas mãos nelas. — Obrigada pela contribuição e por tudo que fez pela nossa família. Agora, vamos discutir a sua recompensa?
  O meu coração está acelerado, contudo, não é hora de desistir. Essa chance é uma em um milhão e eu vou aproveitá-la da melhor forma. Na pior das hipóteses, sairemos daqui com uma quantia em dinheiro bem volumosa, não sendo uma opção ruim, se pensar bem…
  — O que a senhorita deseja? Terras, título, joias? O que decidir irá junto com a quantia em dinheiro que separamos para você. —Ah, como é bom ser rico!
  — Obrigada pelas ótimas opções, Sua Graça. Temo que um título não será necessário, tampouco terras- Peço desculpas pela minha grosseria de não ter me apresentado desde o início. — Seus olhos me fitavam com expectativa assim que me levantei. Enrijeci a postura, os visualizando com a cabeça erguida e tirei o capuz. — Meu nome é Arabella Fiore, filha da soldada da Ordem e marquesa Celine Fiore e do marquês, Perci Fiore. É um prazer estar na presença de figuras tão importantes do reino. — Os reverenciei. — Meu único desejo é a proteção dos meus irmãos enquanto não podemos voltar para casa.
  O silêncio se fez presente em todos os cantos da sala; o som afastado dos passarinhos é abafado pela tensão que ficou após a minha fala, provocando uma sensação de nervosismo que percorreu o meu corpo, fazendo com que a palma da minha mão fique úmida. A brisa que adentrava o lugar pelas enormes janelas é um pouco gelada, dando espaço para o anoitecer fresco que vinha sem mais delongas. Margareth acendeu a lareira e trouxe mais chá, mas nem sua figura foi capaz de distrair a minha mente dos pensamentos que surgiam incessantemente. Levei aos lábios a xícara e saboreei o frescor da hortelã, analisando o conjunto em que foi servido e perdi a atenção nos seus detalhes. As bordas são douradas e finas, assim como a do pires, e sua alça se encaixa perfeitamente no design, sendo ótimo de se segurar. A mesa de centro é preta e tem uma toalha vermelha a cobrindo, bordada com o brasão da família de forma discreta e ainda assim trazendo um ar elegante para o espaço. As chamas da lareira iam consumindo a madeira gradativamente e eu me concentrei no ruído que elas faziam, quase perdendo o timing da fala da duquesa.
  — Arabella — fiquei de pé —, nós discutiremos o seu pedido amanhã cedo, todavia, gostaríamos que ficasse para o jantar e que passe a noite aqui, já que está tarde.
  — Agradeço pelo convite, Sua Graça, Duquesa Bellerose — respondi tentando conter a animação.
  — Leonard mostrará o seu quarto e pedirá a uma das empregadas que prepare um banho para a senhorita e seus irmãos. Nosso médico cuidará dos seus ferimentos assim que estiver pronta. — Ela sorriu.
  — Não tomaremos mais o seu tempo, Arabella. — Giovanni riu. — Leonard, por favor, guie nossa hóspede para os seus aposentos. Até o jantar, senhorita.
  Agradeci novamente, seguindo Lion pela escadaria no final do corredor.
  — Esse é o seu quarto e de seus irmãos, espero que esteja ao seu gosto e de todos.
  — Bella! — Vi suas silhuetas correrem na minha direção.
  — Gatinhos! Se divertiram com seus novos amigos?
  — Sim! A senhorita Serene é tão legal — Antonella respondeu prontamente.
  — Senhorita, o banho está pronto. Deixei as mudas de roupa no local — a empregada informou, nos levando para o banheiro. — Meu nome é Rin, estarei aos seus cuidados durante a sua estadia.
  — Obrigada, Rin. Por favor, cuide de nós também! — A observei assentir com a cabeça e a dispensei.
  A sensação da água morna na minha pele causa um alívio instantâneo, relaxando os vários músculos tensionados e cansados, abrindo espaço para breves minutos indolores. Encostei a nuca na beirada da banheira e soltei o ar, relembrando os acontecimentos recentes no período de 24 horas, o que resultou em uma pontada um tanto forte na cabeça. Meu corpo está exausto e a minha mente continua trabalhando, entregando informações atrás de informações sem uma mísera pausa para que eu consiga respirar livremente.
  No momento antes de cortar o meu cabelo, a memória que eu recebi se tornou mais clara após sair da casa, o que me leva a pensar que as lembranças de Arabella estão vindo para mim aos poucos, trazendo uma dor de cabeça um tanto insuportável. É como se eu tivesse sofrendo de amnésia; os fatos que sei desse mundo são os que li enquanto Akira, mas toda vez que eu tentava forçar a lembrar de algo como Arabella, era em vão. Então, cheguei à conclusão que das pequenas situações que me recordo atualmente, 99% são dos acontecimentos que a machucaram tanto fisicamente como psicologicamente. Quando acordei em seu corpo, não foi complicado assimilar a razão pela qual eu estava totalmente molhada: havia sido mais um episódio de agressão do marquês, o qual Arabella já estava no seu limite.
  É inevitável segurar as lágrimas ao encarar o espelho nas diversas vezes que eu precisava me trocar; as marcas se iniciavam abaixo do pescoço, onde os vestidos escondiam perfeitamente os vestígios do rastro violento de Perci Fiore, que se divertia ao ver o sofrimento de sua filha. Na presença dos gêmeos e de Anna, manter uma feição de quem não se importa é uma tarefa difícil, e mesmo sabendo que minha amiga tem noção que a minha atuação que é uma farsa, ela não diria nada por causa dos meus irmãos. Por mais que sejam mais novos e curiosos, eles não perguntavam sobre os machucados, pois tinham uma ideia do quão doloroso seria para Arabella ter conhecimento que eles ouviam a sua irmã sendo agredida — culpa da babá que fazia questão de usá-la como exemplo para disciplinar os dois.
  Os dois estão brincando com as bolhas da banheira e, quando percebi, o chão estava todo molhado e os seus dedos já estavam ficando enrugados de tanto tempo que passamos na água. Ri com a cena e logo tratei de vesti-los, penteando seus cabelos calmamente e fazendo o penteado que me pediram.
  — Prontinhos! — Decidi partir ao meio, enrolar e prender as duas partes da minha franja com o broche que eu tinha comprado mais cedo. — Isso deve dar, mas… — falei mais baixo — vou precisar cortar o meu cabelo direito, talvez Rin saiba onde tem uma tesoura. De qualquer forma, vou chamá-la para ajudar a fechar o vestido.
  — Bella! — Os gêmeos pararam na minha frente. — Nós te ajudamos!
  — Oh, que ótimo. Mas vocês são um pouquinho — apertei suas bochechas — só um pouquinho pequenos para alcançarem, não acham?
  — É pra isso que temos — os esperei ansiosamente para ver seu plano — esse banquinho!
  — E se vocês caírem?
  — Vou segurar a Nell, ela não vai cair, Bella. — Anthoni sorriu abertamente se sentindo orgulhoso de ser um irmão mais novo responsável. Suspirei, tendo a noção do porquê eles estavam agindo desse jeito.
  — Gatinhos, está tudo bem — afirmei. — Obrigada por se importarem comigo, mas não tenho vergonha de que outras pessoas vejam. — Parcialmente, é uma mentira essa fala. Anna é a única que me viu assim e, se fosse necessário, eu mostraria a quem quer que fosse essas marcas, mesmo que só de imaginar me incomode. Na minha atual situação, infelizmente, eu não tinha o luxo de ter um momento para me preparar psicologicamente para momentos desse tipo.
  — Bella — Antonella me chamou com uma expressão séria —, pode virar de costas que Nell está pronta. — Sorriu alegremente no final.
  — Tudo bem, tudo bem. — Me dei por vencida e aguardei que ela terminasse o nó. — O que eu faria sem vocês? — A desci do banquinho e os abracei.
  É, Arabella, seus irmãos sabem mais do que você imaginava.
  A visita do médico levou cerca de vinte minutos e, além de receitar alguns medicamentos para dor, descobri que ele não é apenas um feiticeiro e herbalista, mas é ótimo em dar sermões extremamente demorados. Ao final da consulta, meus ouvidos não aguentavam mais palavras como “cuidado” e “remédio” e eu me senti como se o homem fosse o meu avô da vida passada — suas idades são próximas e ambos usam óculos na ponta do nariz. Agradeci por seu serviço e massageei as têmporas assim que o vi fechar a porta, tentando me aprontar mentalmente para comparecer ao jantar que seria servido em breve. Organizei os frascos por horário na penteadeira e chamei os gêmeos para descermos, vendo os dois darem as mãos e correrem para o corredor. Rin nos acompanhou, comentando sobre os cômodos que passávamos de forma rápida e entendível para os mais novos. Traduzindo: onde podemos ou não entrar.
  Os quadros pendurados nas paredes são de pinturas abstratas e acredito que sejam do mesmo pintor; suas cores complementavam uns aos outros e o traço é semelhante, como se ao juntar as pinturas elas formassem um desenho. Acho que na história original há a citação de um jovem artista que viajava as quatro regiões — que nem Olívio, o confeiteiro — e vendia sua arte para alguns clientes selecionados, os que o rapaz julgava que realmente apreciariam o seu trabalho.
  Pondo de lado esse tópico, a sala de jantar me fez ficar boquiaberta com a longa mesa farta, cheia de pratos que nunca sonharia em comer em nenhuma das minhas vidas.
  — Boa noite, Arabella, Anthoni, Antonella. Os três podem se sentar onde desejarem. — A duquesa sorriu durante o seu cumprimento.
  — Boa noite — retribuímos. — Obrigada pelo convite, o jantar aparenta estar maravilhoso.
  — Nosso chefe ficará contente em ouvir as suas palavras, senhorita. — Giovanni acenou para as crianças. — Não sabíamos do que gostavam, então solicitamos um pouco de tudo. Por favor, sintam-se à vontade. —Ah, se eu fosse uma menina rica…
  Tecnicamente, era para eu ser.
  — Como foi a consulta? — Terminei de ajudar os gêmeos a se acomodarem quando ouvi a pergunta de Killian, estranhamente interessado no assunto com a sua mão no seu queixo e uma expressão tranquila.
  — Senhor Lúcio é um excelente médico — disse ao pôr a salada no meu prato, servindo o frango também para Nell e Thoni.
  — Pode ser sincera, senhorita — o duque bebeu o seu vinho, segurando o riso —, o velhote te deu um belo sermão, não é?
  — Sim. — Suspirei. — Até as crianças ficaram cansadas.
  — É que você não viu as vezes que voltamos de algum treinamento mais pesado — Killian falava informalmente, como se fôssemos amigos há anos. — Acho que os cavaleiros temem mais o senhor Lúcio do que um possível confronto no reino.
  — Agora que comentou — seu pai apontou para ele com o garfo —, será que eles sentem mais medo da sua mãe ou do herbalista?
  — Quer apostar? — O primogênito se animou.
  — Minha família não consegue se comportar na frente dos convidados? — Viviene limpou os lábios e lhes deu o seu famoso “calem a boca” em forma de sorriso, todavia, não deixou de soltar um risinho abafado com suas reações.
  O jantar fluiu agradavelmente e retornamos aos nossos aposentos, nos preparando para dormir. A cama é grande o suficiente para os três, e antes que eu caísse no sono, fiquei pensando na reunião que eu teria com a duquesa.

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