×

ATENÇÃO!

História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

O Espaço Criativo não se responsabiliza pelo conteúdo das histórias hospedadas na sessão restrita ou apontadas pelo(a) autor(a) como não próprias para pessoas sensíveis.

Arco 1 - A Vilã da Casa Bellerose

Escrita porLiv
Revisada por Lelen

– The Villainess Of The House Bellerose –


Capítulo 6

Tempo estimado de leitura: 16 minutos

Na minha vida passada tive vários empregos de meio período e um deles foi em uma academia recém-aberta, onde tinha aulas de vários tipos de luta e os empregados ganhavam aulas de cortesia; se gostássemos, poderíamos participar das sessões por um preço mais em conta nos dias promocionais — três vezes na semana. Foi um dos lugares que mais passei o meu tempo mesmo depois de ter saído do trabalho, era uma forma de terapia e de aprender autodefesa — e claro, de como lutar — já que alguns homens iam incomodar Yoko por causa de seus inquilinos, o que dificilmente terminava em briga, contudo, acontecia.
  A primeira ocorrência durante minha estadia em seu prédio me enfureceu de uma forma sem igual; no segundo seguinte, peguei impulsivamente o vaso de flores da recepção e parti para cima do homem que segurava a senhoria pelo seu colarinho. O atingi bem mal, mas não continuamos a brigar por conta dos moradores que nos afastaram um do outro e apartaram a briga. Isso não foi o bastante para impedir as suas futuras visitas, então decidi estudar o básico de luta para saber lidar com essas situações, o que me levou à academia.
  Coincidência ou não, o local estava contratando e fiquei trabalhando lá por tempo o bastante até me tornar aluna da turma intermediária, o que me ajudou muito ao lidar com as demais situações que vieram a ocorrer. Felizmente, após um período, os homens pararam de ir aos apartamentos e as confusões que alguns moradores violentos arrumavam eram resolvidas por mim. Por ser um prédio com aluguel mais em conta e em uma área um tanto perigosa, esses inquilinos só deixavam de importunar os vizinhos ao serem tratados igualmente ameaçados.
  A minha única preocupação é a segurança das quatro crianças que dependiam de mim; encarei os homens com certo desinteresse, afinal, já estava acostumada com esse tipo e não tinha paciência alguma para eles. O meu problema é não saber como esse corpo vai aguentar os impactos, além do fato de que não tenho conhecimentos para manusear uma espada, sendo deixada apenas com os meus conhecimentos da vida passada. Desvantagem? Temos! Entretanto, se os deuses estiverem do lado dessa querida protagonista, tenho fé que serei abençoada e ganharei uma forcinha. São nesses momentos que o sangue dos soldados mais importantes do reino deve fazer efeito, certo?
  Entrelacei meus dedos por trás da minha cintura, indo em suas direções calmamente e analisando brevemente um por um. Seus perfis não são nada que eu nunca tenha lidado anteriormente, vendo que o meu maior problema seria com o da direita.
  Respirei fundo e soltei o ar, alongando o meu pescoço enquanto eles resmungavam alguma coisa desinteressante. O do meio optou em vir ao meu encontro, parando a míseros centímetros do meu rosto.
  — Ha! Olhem para ela, querendo o mínimo de atenção. Seu marido não te ensinou os bons modos? Tudo bem, nós ensinaremos a você... — o da esquerda falou e começou a seguir o seu amigo, me fazendo revirar os olhos.
  — Isso mesmo, vamos mostrar quem é que…
  — Vocês falam demais, sabia?
  Dei o sinal para a menina correr e, quando ela saiu do meu campo de visão, pude me concentrar totalmente no trio. Com a distração causada por conta da criança, aproveitei e me deliciei com um soco certeiro em seu maxilar — esse vai para você, meu ex-professor de luta, que me ensinou tudo o que sei hoje —, fazendo com que o do meio apagasse imediatamente. Suas feições surpresas são um deleite para mim, que não medi esforços em chutar a costela do seu colega da esquerda, e dei outro no meio das suas pernas, observando seu corpo caindo para frente em sinal de dor. Levei o meu punho na boca de seu estômago e segurei seu rosto, dando joelhadas até ver o sangue saindo de seu nariz; limpei o sangue que escorria pelos meus braços dos arranhões que ele fez e encarei o que restou: o da direita, a minha maior ameaça.
  Ele é maior que os dois e mais forte, contudo, o que mais me incomoda é a adaga em sua mão. Seu objetivo é claro e se eu não encontrasse uma abertura logo, sua lâmina me tiraria de jogo. Recuei um pouco a fim de fazer as minhas considerações sobre o seu perfil, mas antes que eu pudesse pensar, ele veio correndo para cima de mim, na tentativa de acertar o meu rosto. O golpe foi de raspão e suficiente para provocar um corte, dando espaço para o líquido avermelhado escorrer pela minha bochecha. Em vez de usar a adaga novamente, ele a pôs em seu bolso e iniciou uma sequência de socos rápidos e fortes; seu ataque parecia de um colega de academia de Akira que dizia preferir agir no impulso e gastar toda a sua força do que controlá-la e a direcionar para cada golpe. Assim como esse colega, o homem possui uma defesa fraca, e é só uma questão de tempo até eu achar uma brecha. Com a adrenalina no comando, não sinto dor e mesmo agora, com meu lábio e supercílio abertos, só focava em uma maneira de contra-atacar.
  — Parece que acabou para você. — Ele usufruiu da minha distração para posicionar a adaga próxima ao meu pescoço, me segurando por trás. — Últimas palavras?
  — Vocês falam demais… E para você, é senhorita.
  Meus dedos envolveram a lâmina e com dificuldade a afastei o mínimo para que eu conseguisse dar uma cabeçada em seu queixo, agarrando o seu pulso e o torcendo com a minha mão livre. A adaga caiu no chão e eu a peguei, enfiando o objeto na sua perna e o vi cambaleando, ainda tentando vir na minha direção.
  — Quem você acha que é? — O homem cravou suas unhas no meu braço, arrastando-as pesadamente por toda a pele.
  Segurei sua a gola de sua camisa e lhe dei outra cabeçada, acertando o seu nariz e alternei entre socos e chutes em seu estômago o necessário para sentir o seu corpo caindo em cima do meu. Me afastei e observei os três estirados no chão:
  — Agora, creio que você vai ficar quietinho, certo? Interessante, acho que já te vi em algum lugar… porém, hoje estou muito boazinha! Vamos ver com qual família esses merdas mexeram.
  Caminhei até as caixas e limpei o máximo do sangue que consegui, não queria assustar as crianças mais do que já estavam; para a minha surpresa, encontrei quatro crianças com suas bochechas sujas de glacê e duas delas estavam chorando: o menino e Thoni. Nell e a menina estão com os olhos marejados, todavia, continuavam comendo os doces e acalmando os seus respectivos irmãos, empurrando as tortas e bolos em suas bocas como se isso fosse, de fato, acalmá-los. Sorri com a cena e ao perceberem a minha presença, vieram ao meu encontro, me abraçando apertadamente e eu retribuí. Parece que fui promovida a titia Arabella, a professora número um de uma creche que é a preferida de seus alunos — talvez na minha terceira vida?
  Olhei mais precisamente para os irmãos e percebi que seus rostos são praticamente idênticos, sendo gêmeos que nem os meus e com a mesma idade, o que seria ótimo para Anthoni e Antonella, já que não tinham amigos. Os observei por mais alguns segundos, tendo a sensação de que eu os conhecia de algum lugar. Porém, antes de confirmar as suspeitas, escutamos várias vozes aos gritos no final da rua:
  — Pequenos lordes! — Há no mínimo cinco pessoas correndo em nosso sentido, visivelmente desesperadas e aos prantos. — Vocês estão bem?
  — Senhor Lion e senhorita Serene!
  Eles correram para os braços dos dois, recebendo afagos e mais afagos da mulher que aparentava ser sua babá. A mulher não passava dos trinta; seus longos fios castanhos estavam presos em um coque perfeitamente arrumado, além de usar um vestido verde musgo que realçava os seus olhos verdes com castanho.
  — O que eles fizeram com vocês?! Quando eu pôr a minha mão neles… — A moça foi interrompida por um dos soldados.
  — Serene, se acalme, nossos chefes saberão lidar muito bem com a situação. Não tem motivo para assustar ainda mais os pequenos lordes, não é? — Ela assentiu a contragosto, apertando as crianças em seu braço.
  — Senhorita? — Lion se aproximou cautelosamente. — Poderia nos informar sobre o cenário atual?
  — Senhor Lion! — A menina se posicionou na minha frente, abrindo seus braços de modo que o impedisse de dar algum passo. — Nossa irmã mais velha nos ajudou! Ela me protegeu e fez pow, pow, pow nos sequestradores! — Tentou encenar os socos, atraindo risadas dos demais que a escutavam.
  — É tudo verdade! Irmã mais velha não hesitou em m-me seguir até a rua. — O outro ficou ao lado da sua gêmea, repetindo seus gestos. — M-meus amigos nos deram bolo também. — Apontou para as minhas crianças que se esconderam atrás das minhas pernas.
  — Kieran, Kira, não causarei nenhum mal à senhorita, apenas quero entender a ocorrência. É observável que ela os defendeu. — Ele me analisou precisamente. — Tudo bem se falarmos a sós?
  — Anthoni, Antonella, por que vocês não oferecem o restante dos doces para todos? Depois esse moço gentil comprará mais, tudo bem? — O vi contestar, mas já era tarde; os gêmeos já tinham abertoas embalagens e anunciado os bolos para os presentes.
  — Enquanto me fala o que aconteceu, posso cuidar de seus ferimentos? Se doer, é só me comunicar — concordei, respirando fundo e sentando em um dos degraus na entrada de um dos bares. — A multidão do centro se aglomerou velozmente e, como estávamos no meio, acabamos sendo separados… Por mais que eu ache que foi algo articulado, não tenho provas suficientes no momento. — Eu não podia revelar sobre o grupo, afinal, seria muito suspeito se eu falasse suas fichas completas, entretanto, não posso simplesmente deixar essas pessoas no escuro. Suspirei outra vez, o encarando com uma atenção maior.
  — Talvez tenha sido. Há rumores circulando pela cidade sobre uma organização criminosa — pausei, encostando a cabeça na porta do bar. — Aparentemente seus alvos são crianças nobres que podem dar altos retornos financeiros. Por mais que os que tentaram sequestrar as crianças sejam destreinados, não me aparenta ser algo recente, esse grupo. — O vi ponderar, mesmo que suas suspeitas ainda não fossem 100% confirmadas, é notável que ele acredita e deve estar movendo os seus pauzinhos sobre elas; contudo, não revelaria tão facilmente para uma estranha como eu.
  Senhor Lion finalizou o enfaixamento e entregou um paninho para que eu terminasse de limpar o sangue que escorria pela bochecha e também pela minha boca. O acompanhei para a rua sem saída, tendo a satisfatória imagem dos três homens deitados no chão diante dos meus olhos, grunhindo de dor e com receio que chegássemos perto. A vontade de fazer isso com o marquês e com sua corja suja é tão almejado, mas, infelizmente, se eu tentasse algo contra alguém com o seu status e que é casado com uma das soldadas da ordem, resultaria na minha própria cova, como Anna já tinha me alertado. Com ele, teria que ser tudo muito bem pensado e organizado para que eu possa retribuir os anos de sofrimento na mesma intensidade.
  — É impressão minha ou a senhorita está quase babando? — Lion perguntou com um leve tom de brincadeira, me acordando do meu sonho de vingança. — Bem, a senhorita deve ter os seus motivos.
  — Por favor, me chame de Arabella — pus as mãos na cintura —, não há a necessidade de ser formal comigo, é provável termos a mesma idade.
  — Como desejar, Arabella. — Abaixou a cabeça em um breve cumprimento. — Solicito, então, que me chame de Lion ou de Leonard, de acordo com sua preferência.
  — Lion — me aproximei dos criminosos, inspecionando suas atuais condições —, se pretende interrogá-los, sugiro que adiante o processo antes que fiquem inconscientes.
  — Realmente… — O rapaz os analisou, fazendo suas anotações como se fosse um policial. — Por que um deles está com uma adaga na perna?
  — Deve ter escorregado. — Assobiei, fingindo que não sabia de nada. Se eu matasse eles antes de descobrirem pistas da organização, independentemente de ser grato por ter salvado a vida de suas crianças, não adiantaria de muita coisa o meu grande feito.
  — Senhor Leonard — uma mulher vestida em sua roupa de soldada o chamou, vindo com mais cinco pessoas —, as carruagens estão prontas e os mestres à sua espera. Quais são as ordens?
  — Leve-os para o castelo e os deixem nas celas. Cuide dos ferimentos para que não desmaiem ao serem questionados. Assim que chegarmos, entregue o relatório para a comandante. — Assentiram e a moça sussurrou algo para o rapaz, que logo compreendeu. —Arabella. Em um gesto de agradecimento, nossos mestres gostariam que viesse conosco para que possam conhecer a salvadora de seus filhos e discutirem a recompensa.
  Se eu recusar, há chances de me acharem suspeita, visto que ninguém recusaria uma boa quantia em dinheiro na minha situação. E não é todo dia que uma jovem sem ser treinada sai em uma briga por causa de pessoas que ela nunca viu.
  — Tudo bem, Lion. — Abanei minha mão rapidamente para que ele levantasse de seu reverenciamento e pude perceber um sorriso vitorioso em seu rosto.
  A alegria dos quatro é evidente ao entrar na carruagem e durante o trajeto não pararam de conversar como se conhecessem por muito tempo. Meu coração se aquece ao ver tal cena, entretanto, as possibilidades de não se verem mais é grande. Com a nossa expulsão, não podíamos dar as caras em algum evento que os outros dois comparecessem; o nosso título está em uma corda bamba e nas mãos do marquês, que não deve estar medindo esforços para inventar desculpas para a falta de presença nos eventos sociais de seus filhos. Agora somos apenas pessoas comuns tentando sobreviver e eu preciso protegê-los dos que podem querer se aproveitar da realidade que estamos.
  Troquei palavras com Serene e logo engatamos uma discussão sobre modos de bater mais ainda nos sequestradores, mas, só de imaginarmos o olhar reprovador de Leonard, nos contemos. Não que o rapaz não queira fazer alguma coisa contra os homens, porém, quem lidaria com essa questão seriam seus chefes, os quais eu estava curiosa para conhecer.
  Parando para pensar, Lion também não me é estranho.
  Quando o vi correndo em sua roupa de mordomo, notei que seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo e a tonalidade é a mesma de Giovanna. Por trás de seus óculos redondos, ele possui uma pinta próxima a sua linha d’água e a coloração de seus olhos são castanhos. Se compararmos as alturas, diria que o Leonard tem 1,78cm e uma postura bem certinha de causar inveja na minha eu da vida passada, que vivia com dores na coluna por ficar toda torta ao usar o computador. Listando as suas características e com sua imagem na mente, meus cansados neurônios iam interligando as informações até eu chegar a uma constatação.
  — Serene?
  — Sim? — Recebi o seu sorriso gentil.
  — Senhor Lion não me deu muitas informações — cocei a cabeça meio desconcertada —, mas como seus chefes são?
  No momento que perguntei, a carruagem parou e Lion veio nos receber. Segurei em sua mão e desci, dando de cara com um corredor de cavaleiros e, no final, aos pés da escada, três pessoas paradas com suas expressões indecifráveis.
  — Bem-vindos ao castelo Bellerose. O duque, a duquesa e seu filho estão à sua espera. — Fomos reverenciados por uma mulher que aparentava ser também uma mordoma.
  Oh, merda.
  Como não os reconheci logo de cara?

0 0 votos
Classificação do artigo
Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários
Todos os comentários (45)
×

Comentários

Você não pode copiar o conteúdo desta página

0
Adoraria saber sua opinião, comente.x